Autores:
Marcos Antonio Campelo Lopes¹
Andressa Magalhães Sampaio da Silva²
¹Lattes: http://lattes.cnpq.br/4107598289809785
²Lattes: http://lattes.cnpq.br/6413431651333292
RESUMO:
A obesidade é uma realidade entre as pessoas de todo mundo e está presente em diferentes escalas em todas as nações existentes. As questões sociais e comportamentais como a cultura e o estilo de vida característicos de cada país interferem para que os índices de obesidade sejam mais baixos ou mais altos. Sendo assim, a busca pelo emagrecimento é contínua e muito antiga, a quantidade de informação disponível sobre o assunto causa grande confusão e muitas vezes faz com que as pessoas sigam atitudes erradas e que dificultam o seu processo de perda de peso. Ao longo dos anos diversas metodologias foram desenvolvidas em busca do corpo perfeito, desde dietas restritivas até cirurgias evasivas. Porém, o caminho para o emagrecimento saudável e definitivo está na completa reformulação das ideologias, comportamentos e crenças limitantes do indivíduo em questão. O objetivo geral do artigo em questão é demonstrar como a inteligência emocional pode ser a chave para o emagrecimento saudável aliada aos demais conceitos fundamentais: a prática esportiva e a nutrição alimentar correta. A metodologia se refere à revisão bibliográfica e foi capaz de direcionar a conclusão de que soluções rasas e imediatistas só levam ao emagrecimento de curto prazo, sendo necessário que a inteligência emocional do indivíduo seja desenvolvida através de técnicas de psicanálise, reprogramação cerebral, de hábitos, dentre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Obesidade. Emagrecimento. Inteligência Emocional.
INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018) um em cada oito adultos em todo o planeta é obeso. A projeção é de que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de indivíduos estejam com excesso de peso, sendo mais de 700 milhões com obesidade. Já o número de crianças com sobrepeso e obesidade pode chegar a 75 milhões, caso nada seja feito – incluindo 427 mil crianças com pré-diabetes, 1 milhão com hipertensão arterial e 1,4 milhão com aumento do acúmulo de gordura no fígado.
Apesar de a obesidade ser uma realidade entre os brasileiros, a mesma não é vista com comodismo, na maioria dos casos. A luta em busca da diminuição do peso e o retorno para um corpo dentro dos padrões recomendados é muito recorrente. Porém, é muito comum que as pessoas não saibam a forma correta de buscar esse emagrecimento e acabam escolhendo tomar atitudes e fazer uso de técnicas que não são favoráveis ao seu objetivo
Entretanto, é preciso pontuar o quanto o advento que corresponde a revolução tecnológica causou grandes impactos nesse meio. Isso porque a internet facilita o acesso a informações, bem como também facilita a postagem de informações para qualquer pessoa e em qualquer lugar do mundo. O fim de boa parte das limitações causadas pela distância física entre as pessoas alterou diversos tipos de interação humana.
Hoje, uma pessoa pode ter acesso a diversas formas de emagrecer, inúmeras dietas e muitos tipos diferentes de treinamentos físicos. Porém, em uma maioria esmagadora dos casos, essas informações não derivam de estudos científicos e não tiveram sua aplicabilidade testada em uma quantidade satisfatória de organismos diferentes para que possa de fato ser considerada adequada para ser seguida.
Por isso, é de extrema importância que se realizem estudos com base acadêmica e através de comprovação científica sobre esse tema que é de tanto interesse social e medicinal. É preciso garantir também que essa informação chegue a uma boa parte da população e que se instaure o costume de sempre procurar saber a procedência das informações recebidas antes de iniciar processos que podem ser prejudiciais à saúde de forma até mesmo irreversível.
O emagrecimento se trata de um processo e deve ser visto como tal, bem como exige dos indivíduos um conjunto de habilidades que não estão ligadas apenas a parte física como também a mente e o estado emocional dos mesmos. Logo, para que o processo de emagrecimento ocorra de modo saudável e possa ser duradouro, é preciso que a inteligência emocional dessa pessoa esteja fortalecida para que assim ela possa colocar em prática as atividades físicas e a nutrição alimentar necessárias ao processo.
O objetivo geral do presente trabalho é apresentar a inteligência emocional como o caminho para o tripé do emagrecimento que consiste no fortalecimento da mente, rotina de exercícios físicos e nutrição alimentar. Os objetivos específicos consistem em pontuar a problemática do sobrepeso, a necessidade de atividades físicas e alimentação correta, e o uso de técnicas de psicanálise e reprogramação cerebral com foco no emagrecimento saudável.
A metodologia escolhida para o desenvolvimento deste trabalho é descritiva e qualitativa e faz parte da classe das pesquisas bibliográficas. Bem como se apresentam todos os estudos caracterizados como revisões, este estudo foi elaborado através de uma pesquisa bibliográfica sobre o tema. Realizando a leitura, seleção e compreensão dos materiais acadêmicos encontrados nas plataformas como Scientific Electronic Library Oline (SCIELO), Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde (LILACS) e Public Medine or Publisher Medine (PUBMED), nos idiomas português e inglês.
OBESIDADE: BREVE CONTEXTO
A obesidade se tornou um caso de saúde pública nos últimos 30 anos, isso porque pela primeira vez na história da humanidade morrem mais pessoas devido a complicações causadas pela obesidade, do que por desnutrição. O problema se agrava mais ainda quando analisamos os fatos apresentados por Dias (2017), onde se constata que a obesidade vem aumentando seus níveis em todas as faixas etárias e em pessoas do sexo masculino e feminino, sendo ainda mais presente em pessoas com menor poder aquisitivo.
Muitos são os fatores envolvidos nesse aumento nas taxas de obesidade no Brasil, a má alimentação, a constante pressão para executar todas as funções do dia a dia e o ato de colocar a saúde financeira acima da saúde física podem ser descritos como as maiores causas dessa realidade. Para a Organização Mundial de Saúde, a obesidade é uma das maiores doenças do século XXI e os fatores socioculturais seguem fazendo com que essas taxas cresçam ainda mais (OMS, 2018).
Por ser uma doença que deriva também de atos exercidos em sociedade e até mesmo culturais, é obrigação do Estado desenvolver intervenções médicas que visem a disseminação de informações que conscientizem as pessoas sobre os riscos da obesidade em longo prazo. O ato de consumir alimentos orgânicos, menos industrializados, evitar frituras, doces sortidos e bebidas gasosas devem ser incentivados nas escolas, empresas e em todos os centros de grande acesso populacional (DANTAS, 2015).
É importante salientar que apesar de ser uma doença, a obesidade não deve ser tratada através de remédios e sim por meio de uma completa mudança de vida e de pensamentos. Obviamente, as demais anormalidades biológicas causadas pelo sobrepeso como a diabetes, pressão alta, problemas de articulações, dentro outros devem ser tratados através de remédios. Segundo Bertuol e Navarro (2015) a adoção de uma alimentação saudável e balanceada, rica em alimentos naturais e prática diária de exercícios físicos são atitudes que viabilizam o tratamento da obesidade e resultam no emagrecimento.
Sendo assim, no que diz respeito à alimentação, é de suma importância que o indivíduo procure a ajuda profissional especializada de um nutricionista, nutrólogo ou endocrinologista. Para que esse paciente possa ser submetido aos exames necessários que irão apresentar em que situação está a sua saúde e após isso definir as metodologias de ação para a reabilitação de uma boa qualidade de vida (DANTAS, 2015).
Para Dantas (2015) a frequente prática de exercícios físicos é o que define uma boa parte dos resultados de combate à obesidade e suas consequências, logo é preciso que esse paciente também procure um profissional especializado em séries de exercícios físicos que promovam a perda de gordura corpórea de forma saudável e respeitosa frente as suas limitações individuais.
O emagrecimento é um dos assuntos mais estudado e comentado em todos os meios relacionados à qualidade de vida, por isso existe uma infinidade gigantesca de conteúdos que tratam sobre o assunto. Porém, muitos deles não passam informações corretas e saudáveis sobre o ato de emagrecer e isso ocorre porque os autores de tais indicações não são munidos dos conhecimentos necessários para tratar de assuntos tão sérios (VIANA et. al, 2017).
Segundo Albuquerque (2016) as metodologias de treinamento físico devem ser elaboradas pelo profissional de acordo com as necessidades físicas e as limitações biológicas do paciente. Associações simples podem ser analisadas a partir disso, por exemplo: obviamente uma pessoa obesa precisa executar exercícios aeróbicos para iniciar seu processo de emagrecimento, porém esse paciente não pode ser submetido a longas e intensas corridas. Assim, se faz necessário a observação desses dois pontos para formular o tipo de treinamento físico que será utilizado com o paciente em questão.
Apesar da grande quantidade de informação, é possível separar essas técnicas de treinamento com foco em emagrecimento em dois grandes grupos: treinamentos contínuos e treinamentos intervalados. Ambos podem ser usados como base da construção do treino físico de todas as pessoas, sendo elas obesas ou não. Porém, no caso de indivíduos com excesso de peso corpóreo, há um tipo de treinamento mais indicado por apresentar melhores resultados (ALBUQUERQUE, 2016).
O primeiro passo a ser alcançado através dos exercícios físicos é a resistência física, isso porque pessoas que possuem um estilo de vida sedentário aliada ao sobrepeso corpóreo resulta em uma grande deficiência de resistência física. A definição mais ampla de resistência física é como sendo a tolerância à intensidade e duração de todos os tipos de exercícios físicos, no início de um plano de melhora física, essa resistência precisa ser trabalhada para que assim os treinos possam fluir da maneira correta (SPAGNOL, 2015).
A autora – Spagnol (2015) – enfatiza ainda que cabe ao profissional qualificado e licenciado, analisar o estilo de vida, o estado de saúde e as preferências de seu paciente, para que assim seja elaborado o melhor treino possível. Através da aplicação de uma metodologia de treinamento físico adequada ao biotipo de cada paciente, traz os resultados desejados em um menor período de tempo e de forma saudável.
Porém, nem todos os indivíduos conseguem emagrecer através de exercícios físicos e alimentação regrada, para Corrêa et. al. (2017) muitas são as causas para que não haja o emagrecimento esperado através das mudanças de hábitos propostas. Alguns pacientes são impossibilitados de realizar atividades físicas ou são portadores de alguma patologia que não permite a perda das calorias mediante o estímulo dado pela dieta e pelos exercícios.
Sendo assim, a cirurgia bariátrica se torna uma opção viável para esses pacientes que não conseguem diminuir o seu peso de outras formas menos evasivas. Entretanto, mesmo que o processo cirúrgico de uma bariátrica consista em reduzir o estômago, não é considerado um método irreversível no que se refere ao peso do paciente, já que o mesmo pode voltar a engordar durante sua vida (FLOR, 2015).
A obesidade pode acarretar uma perda considerável na capacidade física dos pacientes, isso porque o sobrepeso afeta a locomoção e a resistência dos indivíduos. Dessa forma, é extremamente comum que a obesidade esteja diretamente associada ao sedentarismo (SANTOS; RIBEIRO, 2016). Mesmo após a realização da cirurgia bariátrica, o paciente continua com a sua capacidade física limitada e a alteração dessa realidade consiste em um longo e assistido processo.
CAPACIDADE FÍSICA DOS INDIVÍDUOS E A PROBLEMÁTICA DO SEDENTARISMO
Segundo Santos e Ribeiro (2016) a definição correta de capacidade física seria as características pontuais e singulares de cada indivíduo em relação com o seu corpo físico, ou seja, as habilidades que possui em realizar atividades e exercícios físicos. Essas capacidades físicas são divididas em grupos, sendo eles: velocidade, resistência, equilíbrio, força e flexibilidade.
Determinados esportes ou exercícios físicos dependem dessas capacidades físicas para serem executados da maneira correta, o atletismo, por exemplo, exige que seu praticante esteja munido de capacidades físicas relacionadas a velocidade, força e resistência.
É importante ressaltar também que essas capacidades físicas não podem ser relacionadas a dons que já nascem com os indivíduos, se trata de muito treino e aperfeiçoamento. Ou seja, é preciso que o indivíduo faça exercícios ou pratique esportes de forma regular para que consiga se aprimorar e dominar as capacidades físicas que deseja (SANTOS; RIBEIRO, 2016).
O sedentarismo vem se tornando um caso de saúde pública, tal afirmação se valida pelo fato de que a adoção de um estilo de vida sedentário é extremamente prejudicial à saúde do indivíduo e contribui para o acúmulo de gordura, sobrepeso, obesidade e doenças cardiovasculares (FLOR, 2015).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um a cada quatro adultos são considerados sedentários e relatam não realizar nenhum tipo de atividade física durante a sua rotina. Isso inclui também atividades simples como descer e subir escadas, percorrer pequenas distâncias a pé ou até mesmo dançar nos fins de semana. Para Flor (2015) esses dados estão diretamente relacionados ao aumento dos índices de obesidade e sobrepeso já supracitados neste artigo.
No ano de 2018, a OMS publicou outro relatório que apresenta dados alarmantes: a América Latina é a região que concentra a maior quantidade de pessoas sedentárias no mundo, chegando a quase 40% da população total. O critério utilizado para nortear a pesquisa consiste em saber se as pessoas praticam exercícios físicos suficientes para serem consideradas saudáveis e o Brasil é o país da América Latina que menos atende a esse critério, ou seja, que concentra a maior população sedentária da região. O relatório mostra que 47% dos brasileiros não realizam nenhum tipo de atividade física durante o dia e segue ostentando hábitos não saudáveis e ingerindo alimentos sem valor nutricional.
O sedentarismo e hábitos alimentares errados correspondem à combinação mais prejudicial à saúde dos indivíduos e quando mantidos em longo prazo podem resultar na degradação da saúde do indivíduo, obesidade e doenças cardiovasculares graves. Sendo assim, os pacientes chegam a um nível onde a recomendação passa ser a intervenção cirúrgica: a bariátrica. Para que seja possível a prática de exercícios físicos e um período sem a ingestão de alimentos ricos em gorduras e pobres em nutrientes.
O ESTADO EMOCIONAL DEBILITADO E O DESENVOLVIMENTO DE COMPULSÕES ALIMENTARES
A Compulsão alimentar faz parte de um conjunto de transtornos chamados de “Transtornos do Comportamento Alimentar”. Os Transtornos do Comportamento Alimentar (TCA) são doenças mentais graves, marcadas por alterações no comportamento e atitudes relacionadas à ingestão de alimentos e pela intensa preocupação com o peso ou a forma do corpo. De acordo com o DSM-V (APA, 2015) os transtornos alimentares são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial.
Destaca-se que, a obesidade não está incluída no DSM-V como um transtorno mental. A obesidade (excesso de gordura corporal) resulta do excesso prolongado de ingestão energética em relação ao gasto energético. Uma gama de fatores genéticos, fisiológicos, comportamentais e ambientais que variam entre os indivíduos contribui para o desenvolvimento da obesidade; dessa forma, não é considerada um transtorno (SOUZA; PESSA, 2016).
Como bem colocam Souza e Pessa (2016), existem associações robustas entre obesidade e uma série de transtornos mentais (p. ex., transtorno de compulsão alimentar, transtornos depressivos e bipolares, esquizofrenia). Os efeitos colaterais de alguns medicamentos psicotrópicos contribuem de maneira importante para o desenvolvimento da obesidade, e esta pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de alguns transtornos mentais (p. ex., transtornos depressivos).
Segundo o Instituto Nacional da Saúde Mental, o TCA corresponde a uma doença que causa graves perturbações em sua dieta diária, tais como comer quantidades muito pequenas ou comer em excesso. Uma pessoa que tem um transtorno da alimentação pode ter começado por comer pequenas ou grandes quantidades de comida, mas o impulso de comer mais ou menos em algum momento disparou ficando fora de controle. Angústia severa ou preocupação pela forma ou peso do corpo também se podem caracterizar como um transtorno da alimentação (FORTES, 2015).
Os TA surgem com maior frequência durante a infância e adolescência. Segundo Fortes (2015) podemos dividir as alterações do comportamento alimentar neste período em dois grupos; primeiramente, aqueles transtornos que ocorrem precocemente na infância e que representam alterações da relação da criança com a alimentação.
Estas condições parecem não estar associadas a uma preocupação excessiva com o peso ou a imagem corporal. Aqui geralmente a criança desenvolve: o transtorno da alimentação na primeira infância, que leva ao emagrecimento e a dificuldade em ganhar peso corporal; a pica, ingestão de substâncias não nutritivas, como terra e alimentos crus; ou o transtorno da ruminação, episódios de remastigação da comida que não possui uma causa médica.
O segundo grupo de transtornos tem o seu aparecimento mais tardio e é constituído pelos TA propriamente ditos; a anorexia nervosa (AN), bulimia nervosa (BN), a compulsão alimentar (CA) e o distúrbio de distorção de imagem.
De especial interesse para os profissionais envolvidos com o atendimento de crianças e adolescentes são a anorexia e bulimia nervosa e a categoria diagnóstica denominada transtorno da compulsão alimentar (TCA). Neste contexto, o indivíduo possui muito interesse na temática da alimentação (embora tente evitá-la de alguma maneira) e muita preocupação com o ganho de peso e com sua imagem corporal.
Para Westmoreland et. al. (2016) postulam no seu artigo entre as doenças de etiologia desconhecida que se inter-relacionam estão a anorexia nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN). Ambas caracterizadas por padrões anormais de comportamento alimentar e controle de peso e por percepções alteradas sobre o próprio peso e corpo.
O Transtorno da Compulsão Alimentar (TCA) é uma nova entidade no DSM-V (2015) criada para responder às evidências empíricas que apontavam para sua existência, e que explica o comportamento alimentar das pessoas que não conseguem controlar o consumo de alimentos, que ingerem grande quantidade de alimentos em um período discreto de tempo, mas depois não realizam manobras como provocar vômitos para reduzir os efeitos do excesso de comida.
Segundo os parâmetros divulgados pelo CID (2018) os critérios diagnósticos do DSM-V (DSM-V (2015) para o TCA são:
A – Episódios de compulsão recorrentes. Um episódio de compulsão é caracterizado pelos seguintes dois eventos:
1 – Ingestão, em um determinado período (por exemplo, dentro de qualquer período de duas horas), de uma quantidade de alimentos claramente superior ao que a maioria das pessoas ingeriria em um período similar em circunstâncias semelhantes.
2 – Sentimentos de falta de controle sobre o que é ingerido durante o episódio (por exemplo, sensação de que você não pode parar de comer ou controlar o que é engolido ou a quantidade do que é engolido).
B – Os episódios de compulsão estão associados a três (ou mais) dos seguintes eventos:
1- Come muito mais rapidamente do que o habitual.
2- Come até se sentir desagradavelmente satisfeito.
3 – Come grandes quantidades de comida quando não se sentir fisicamente com fome.
4 – Come sozinho devido à vergonha sentida pela quantidade engolida.
5- Sentir-se deprimido ou muito envergonhado consigo mesmo.
C – Desconforto intenso com os episódios de compulsão alimentar.
D – A compulsão alimentar ocorre, em média, pelo menos uma vez por semana durante três meses.
E – A compulsão não está associada à presença recorrente de comportamento compensatório inadequado como na bulimia nervosa e não ocorre exclusivamente no curso da bulimia nervosa ou anorexia nervosa (CID, 2018, p. 25).
Especifique se também que: a) em remissão parcial: depois de ter atendido todos os critérios para a compulsão alimentar de antemão, a compulsão alimentar ocorre com uma frequência média inferior a um episódio semanal durante um período contínuo; b) em remissão total: depois de ter cumprido todos os critérios para compulsão alimentar antes, nenhum dos critérios foram atendidos durante um período contínuo.
O presente manual orienta o profissional a especificar a gravidade atual: suave, moderada, séria ou extrema de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC) para a faixa etária.
A CID-18 (2018) não inclui o TCA no capítulo Transtornos Comportamentais associados a disfunções fisiológicas e fatores somáticos, embora inclua Hiperfagia em outros transtornos psicológicos, que descreve como ingestão excessiva como reação a eventos estressantes (luto, acidentes, intervenções eventos cirúrgicos e emocionalmente estressantes) e que leva à obesidade. Esta descrição está muito longe da descrição feita pelo DSM, mas é a mais semelhante ao TCA.
Os critérios da CID-18 (2018) para hiperfagia em outros transtornos psicológicos:
A – ingestão excessiva como uma reação a eventos estressantes e que leva à obesidade. Duelos, acidentes, intervenções cirúrgicas e eventos emocionalmente estressantes podem levar à \”obesidade reativa\”, especialmente em pacientes predispostos ao ganho de peso.
B – Obesidade como causa de alterações psicológicas não deve ser codificada aqui. A obesidade pode fazer com que o paciente se sinta muito sensibilizado sobre sua aparência e desencadeie uma falta de confiança nas relações interpessoais.
C – A avaliação subjetiva das dimensões corporais pode ser exagerada (CID, 2018, p. 27).
Dessa forma, se torna necessário que os pais, responsáveis legais e todo e qualquer indivíduo que tenha contato direto com esse indivíduo esteja atento a todas as situações, comportamentos e ações executadas pelos mesmos, que levem a crer que estejam desenvolvendo distúrbios alimentares, como a compulsão alimentar, tratada no presente trabalho. Iniciando assim um tratamento psicológico e médico adequado para que esse adolescente volte a ser saudável e ter sua qualidade de vida.
A diversidade humana se aplica a todos os contextos e a todos os indivíduos humanos, isso é cada pessoa pode e costuma reagir de diferentes maneiras frente a determinadas situações. A Compulsão Alimentar deve ser diagnosticada através de uma bateria de exames e análises comportamentais e psicológicas que devem ser realizadas por especialistas na área, quanto mais cedo o diagnóstico for passado, mais rápido e mais eficaz é o tratamento.
A problemática que envolve a relação do indivíduo com distúrbio alimentar com a sua família começa já no recebimento da confirmação da existência do transtorno: o diagnóstico final que classifica o jovem como um compulsivo alimentar. Por ser um transtorno que afeta a parte cognitiva e em casos mais leves não apresenta sintomas físicos tão visíveis, é muito comum que pais e responsáveis legais desacreditem da existência da condição que afeta seus filhos (MELEK; MAIA, 2017).
É preciso que se compreenda que existe uma quebra de planos, ideias e certezas dos pais no momento em que o diagnóstico é confirmado. Isso porque os mesmos, assim como todas as famílias, haviam se planejado para darem a luz e criarem um filho que não apresentasse nenhum problema de saúde ou limitação social.
Segundo Melek e Maia (2017) é como se aquele filho imaginado pelos pais fosse embora após o diagnóstico, e os pais precisam conhecer, aprender a lidar e desenvolver uma relação de afeto com aquele novo indivíduo que se encontra com distúrbios alimentares. Isso faz com que o primeiro desafio desse paciente seja a inclusão dentro de sua própria casa e a aceitação de seus próprios familiares.
Segundo Cobelo (2019) o apoio familiar é fundamental para o desenvolvimento do tratamento do paciente com distúrbios alimentares, isso porque o convívio familiar pode ser o maior contato social na vida daquele indivíduo. Nessa etapa da adolescência, onde o diagnóstico ainda é uma novidade, é o momento onde o paciente toma consciência de que suas práticas não são saudáveis e que se encontra doente, sendo necessário que refaça todas as suas ideias de saúde e beleza.
Caso essa fase de reconhecimento, ainda no seio da família, seja conflituoso ou não consiga apresentar evolução, pode causar grandes atrasos no desenvolvimento social, emocional e físico desse indivíduo com distúrbios alimentares. Fazendo com que a construção de laços e a socialização fora de casa sejam ainda mais complicadas e traumáticas, dificultando a evolução do tratamento e a ressignificação do seu corpo e do ato de comer (COBELO, 2019).
Porém, existem ainda casos onde o desenvolvimento de compulsão alimentar e demais transtornos do gênero, são incentivados e motivados pelas famílias. Existem uma série de fatores que são nocivos para indivíduos que estão em processo de desenvolvimento ou são mais suscetíveis a distúrbios relacionados à alimentação.
Os fatores familiares estão associados à reprodução dos padrões de beleza, ou seja, a exclusão e a perseguição de um indivíduo da família que não segue, e não se esforça para seguir, os padrões de beleza impostos. Leonidas e Santos (2015) colocam que esses fatores são ainda mais extensos para meninas em idade de desenvolvimento com suas mães ou familiares próximas de sexo feminino.
Logo, é possível dizer que esses fatores estão altamente associados à ideia de posse, construída e empregada sobre as crianças e adolescentes ao longo das gerações, por parte de seus pais, responsáveis e da sociedade de forma geral. Essa ideologia coloca que esses indivíduos são posse de seus progenitores, e é construída de acordo com a forma como a criança e o adolescente eram vistos pela sociedade.
Sendo assim, é preciso que os pais ou responsáveis legais desse indivíduo, bem como todos aqueles sujeitos que fazem parte da família e do círculo social direto, não reproduzam padrões de beleza inalcançáveis e nem pressionem esses adolescentes para utilizarem seus corpos como um objeto a ser moldado. Apenas dessa forma ocorre a prevenção do desenvolvimento da compulsão alimentar e de outros distúrbios, da mesma forma que essa mudança de comportamento também pode ajudar no tratamento de pacientes já diagnosticados.
O DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL EM BUSCA DO EMAGRECIMENTO SAUDÁVEL
Apesar de os seres humanos serem categorizados como racionais, ainda contam com uma infinidade de emoções que são extremamente complexas e que podem motivar a execução de ações que nem sempre são benéficas para si e para aqueles que convivem com os mesmos.
Em busca de controlar essa situação, a inteligência emocional é um conceito desenvolvido dentro da psicologia que tem por definição o ensinamento da forma correta e saudável de lidar com as emoções. Como bem explica Shim (2018), a inteligência emocional não consiste no silenciamento de emoções, mas sim no desenvolvimento do controle das mesmas a fim de usá-las com objetivos individuais e coletivos benéficos.
Quando fortalecida, a inteligência emocional traz diversos benefícios para os indivíduos. Não apenas no tratamento de sofrimentos emocionais já consolidados, como também na prevenção do desenvolvimento de transtornos, distúrbios e até doenças psicológicas de natureza emocional. De modo que a convivência e a socialização são facilitadas através do autoconhecimento e da compreensão das sensações e emoções vividas por terceiros (SHIM, 2018).
Apesar das emoções serem completamente naturais à existência humana, muitas vezes não há um direcionamento correto da forma como essas emoções devem ser conduzidas. Para Goleman (2015) a maioria das pessoas que não desenvolvem a inteligência emocional passa a desenvolver uma valorização constante de emoções negativas e tóxicas ao seu desenvolvimento pessoal, profissional e até mesmo de suas relações sociais.
O foco da inteligência emocional é ajudar o indivíduo a controlar suas emoções e fazer com que as mesmas sejam utilizadas para que possa usar essa energia para atividades positivas e que promovam sua evolução em todos os aspectos de sua vida, incluindo o emagrecimento.
Farah e Castanho (2018) colocam que a psicanálise pode ser fundamental para a busca do desenvolvimento da inteligência emocional, inclusive quando o foco for o emagrecimento. Tal realidade se deve ao fato de que as sessões de psicanálise, quando aplicadas da forma correta, são capazes de fazer com que o paciente se conheça melhor, compreenda suas emoções, a origem de seus traumas e a construção dos seus comportamentos alimentares irregulares e incorretos.
Como já supracitado, o emagrecimento é um processo que exige muito esforço e habilidades diversas em todas as áreas de ação do indivíduo. A mente pode ser colocada como o ponto chave para o sucesso desse processo, visto que é através de seus comandos que ocorre a ingestão incorreta de alimentos bem como o desenvolvimento do sedentarismo.
Para Farah (2019) a psicanálise pode auxiliar o paciente na reprogramação das suas atividades cerebrais, na reformulação dos seus hábitos fazendo uso de técnicas como a hipnoterapia. Através da compreensão dos seus traumas e crenças limitantes, sanando- as por meio do desenvolvimento da inteligência emocional. Logo, o emagrecimento saudável passa a ser o resultado da reformulação completa dos hábitos alimentares e do combate ao sedentarismo com a realização de atividades físicas diárias.
METODOLOGIA
O presente artigo faz jus a uma metodologia exploratória, que segundo o autor Severino (2017, pg. 41), “Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses”. Destaca ainda, o envolvimento do levantamento bibliográfico, traz a relevância que a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos (SEVERINO, 2017).
Diante a essas especificações o presente estudo desenvolvido é de natureza qualitativa e descritiva, e também foi utilizado em pesquisas bibliográficas. A base dos dados utilizados foi encontrada e retirada de plataformas para pesquisas acadêmicas como ScientificElectronic Library Oline (SCIELO), Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde (LILACS) e Google Acadêmico, nos idiomas português e inglês.
O período de elaboração deste estudo iniciou-se em dezembro de 2019 com conclusão em janeiro de 2020. Foram utilizados para o desenvolvimento do presente estudo, descritores de pesquisa, sendo eles em português: Compulsão Alimentar, Obesidade, Inteligência Emocional; Comportamento Alimentar, Atividades Físicas, Psicanálise. Foram selecionados e revisados artigos que apresentassem relação com os descritores escolhidos, realizando a seleção e compreensão de informações importantes contidas em cada artigo.
O estudo foi organizado na seguinte sequência: em um primeiro momento se fez necessário a análise de artigos originais obedecendo aos descritores propostos, fazendo combinações com operadores como and, al not utilizando palavras chaves do tema, usando os filtros: base de dados, idiomas, ano de publicação e tipo de documentos. Já em
um segundo momento foi selecionado artigos através de leitura do resumo verificando assim aqueles com maior relevância para o estudo aqui apresentado, sendo excluídos os que fugiam da temática proposta e considerando os critérios de exclusão. Por fim, todos os artigos selecionados passaram por uma leitura e tradução na íntegra para determinar sua legibilidade, assim feito análise dos mesmos de forma criteriosa para a extração dos dados.
Os critérios de inclusão adotados consistem em artigos acadêmicos reconhecidos, que tenham sido escritos entre os anos de 2000 a 2019, nos idiomas inglês e português, e que tratem da inteligência emocional desenvolvida como o caminho para o emagrecimento saudável e concreto.
Foram excluídos dos referenciais bibliográficos aqueles artigos que não sejam academicamente reconhecidos, produzidos e publicados fora do período mencionado ou que estejam em outro idioma além dos supracitados. Os dados recolhidos através das pesquisas bibliográficas realizadas nas plataformas de artigos acadêmicos foram criteriosamente analisados e compreendidos para que fosse viabilizada a produção do presente trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante o conhecimento adquirido para que fosse viabilizada a produção textual do presente trabalho é possível concluir que a obesidade é um problema de saúde pública e extremamente silenciado em muitos âmbitos da sociedade. É preciso que o combate à incidência da obesidade seja uma prioridade para o Estado e que campanhas de conscientização e de incentivo ao esporte sejam adotadas.
É de suma importância que haja a plena compreensão de que medidas imediatistas e prejudiciais à saúde como dietas extremamente restritivas, cirurgias evasivas e desnecessárias ou o uso de medicamentos não regulamentados e prescritos, não correspondem ao caminho correto para o emagrecimento saudável e duradouro.
O desenvolvimento da inteligência emocional, através da psicanálise e da reprogramação cerebral, são formas adequadas para se atingir o emagrecimento pleno e saudável por meio da alimentação balanceada e da prática de atividades físicas regulares.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Lusyanny Parente et al. Relação da obesidade com o comportamento alimentar e o estilo de vida de escolares brasileiros. Nutrición clínica y dietética hospitalaria, v. 36, n. 1, p. 17-23, 2016.
BERTUOL, Camila Dias; NAVARRO, Antonio Coppi. Consumo Alimentar e prevalência de obesidade/emagrecimento em pré-escolares de uma escola infantil pública. RBONERevista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, v. 9, n. 52, p. 127-134, 2015.
COBELO, Alicia Weisz. A importância da inclusão da família no tratamento multidisciplinar dos transtornos alimentares na infância e adolescência. Transtornos alimentares na infância e na adolescência: Uma visão multidisciplinar, 2019.
CORRÊA, Janaína Domingues et al. Associação entre dislipidemia, dados sociodemográficos, hábitos sedentários e alimentação inadequada em escolares do sul do Brasil. Cinergis, v. 18, n. 2, p. 146-150, 2017.
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