EFEITOS DE TREINO MULTISSENSORIAL NO EQUILÍBRIO E QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE GERIÁTRICO- ESTUDO DE CASO

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Franciane da Silva Xavier Machado | fisiofranmachado@gmail.com

RESUMO

Objetivo: Avaliar o impacto de um treinamento multissensorial supervisionado no equilíbrio e na qualidade de vida da população idosa. Metodologia: Participou do programa de treinamento multissensorial, três vezes por semana, por doze semanas, uma idosa voluntária de 80 anos de idade. Para avaliação do equilíbrio utilizou-se: Escala de Berg (Berg Balance Scale) e da qualidade de vida foi aplicado o Questionário SF-36. Todas as variáveis relacionadas ao equilíbrio avaliadas apresentaram resultados positivos após o treino multissensorial. Em relação à avaliação da qualidade de vida, houve aumento significativo em todos os aspectos. Conclusão: este estudo evidenciou que a prática de um treino multissensorial é eficaz, e proporciona mudanças positivas no equilíbrio e qualidade de vida da população idosa.

PALAVRAS-CHAVE: Idoso. Equilíbrio. Qualidade de vida.

ABSTRACT

Objetive: to evaluate the impacto f supervised multisensory training on the balance and quality of lie of the elderly population. Methodology: Na 80-year-old elderly volunteer participated in the multisensory training program, three times a week for twelve weeks. To assess balance, the Berg Scale was used and he SF-36 Questionnaire was applied to quality of life. All variables related to balance evaluated positive result after multisensory training. Regarding the assessment of quality of life, there was significant increase in all aspects. Conclusion: this study showed that the practice of multisensory training is effective, and offers positive changes in the population.

Keywords: Elderly. Balance. Quality of life.

INTRODUÇÃO

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população idosa com mais de 60 anos ultrapassa os 29 milhões e a expectativa é que, até 2060, este número suba para 73 milhões. Diante do envelhecimento da população, a abordagem de temas relativos à terceira idade torna-se cada vez mais relevantes.

O envelhecimento é marcado por alterações fisiológicas, dentre as quais destacam-se a diminuição da flexibilidade, coordenação motora, mobilidade articular, agilidade, força muscular, capacidade aeróbica e equilíbrio. O equilíbrio é a capacidade de manter a posição do corpo sobre sua base de apoio, seja ela estacionária ou móvel. Denomina-se equilíbrio estático o controle da oscilação postural na posição imóvel e equilíbrio dinâmico o movimento do corpo de uma maneira controlada. Este sofre influência do sistema vestibular, da visão e da propriocepção, os quais também sofrem declíneos com o envelhecimento acarretando em prejuízos do equilíbrio corporal.

Os distúrbios de equilíbrio geram grande impacto para os idosos, levando à redução de sua autonomia, pela predisposição a quedas e fraturas, trazendo alterações físicas e psíquicas para este grupo. A qualidade de vida é diretamente influenciada pela capacidade de realizar movimentos corporais de forma eficiente, sendo significativamente comprometida pela dificuldade de locomoção para realização de atividades do cotidiano.

A literatura mostra que indivíduos submetidos a treinamentos multissensoriais supervisionados, contendo exercícios que envolvam resistência muscular, flexibilidade, coordenação motora, equilíbrio e propriocepção, são beneficiados com a melhora da qualidade de vida.

Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi analisar o efeito de 12 (doze) semanas de treinamento multissensorial no equilíbrio e na qualidade de vida de um paciente geriátrico.

MATERIAL E MÉTODOS

A voluntária deste estudo (sexo feminino, 80 (oitenta anos) foi escolhida aleatoriamente em um grupo de pacientes numa clínica de fisioterapia, no município de São Gonçalo/RJ, tendo como critério de inclusão a idade mínima (acima de 65 anos), condições clínicas e cognitivas mínimas para o entendimento e realização das atividades propostas, ter disponibilidade de horários para participação no estudo, não realizar de forma concomitante outro tipo de exercício físico, não ter doença neurológica e/ou musculoesquelética que comprometesse a deambulação e ter assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A idosa respondeu um questionário para coleta de dados. Depois a mesma foi instruída quanto ao programa de 12 semanas, e informada que seria reavaliada no último dia da intervenção.

Para avaliar a qualidade de vida foi utilizado o questionário SF-36, que é uma medida genérica do estado de saúde, incluindo 36 (trinta e seis) itens, os quais definem 8 (oito) dimensões: 1) Função Física; 2) Percepção de Dor Corporal; 3) Saúde Geral; 4) Vitalidade; 5) Função Social; 6) Limitações devido à Saúde Emocional; 7) Limitações devido à Saúde Física; e 8) Saúde Mental. Os “scores” em cada domínio variam entre 0 (zero) e 100 (cem), com o 0 (zero) representando o pior resultado e o 100 (cem) um estado de saúde perfeito.

O equilíbrio foi avaliado pela Escala de Berg (Berg Balance Scale) composta por 14 itens com atividades comuns da vida diária, com grau de dificuldade progressivo relacionadas à força, flexibilidade e equilíbrio dinâmico e estático. Cada item nesta escala é graduado de 0 a 4 pontos, sendo o escore total de 56 pontos. Os pontos devem ser subtraídos caso o tempo ou a distância não sejam atingidos, o sujeito necessite de supervisão para a execução da tarefa, ou se o sujeito apoia-se num suporte externo ou recebe ajuda do examinador. Assim, uma melhora do indivíduo é caracterizada por um aumento no escore total.

O programa consistiu em treinamento multissensorial no período de 12 (doze) semanas, com frequência de 2 (duas) sessões semanais com duração de 40 (quarenta) minutos cada, onde a participante realizou todo treinamento sob a supervisão da fisioterapeuta. O protocolo de treinamento está descrito no quadro 1. A pressão arterial e frequência cardíaca foram verificadas ao início e término e cada sessão.

Quadro 1

Treino multissensorial

Aquecimento e Flexibilidade (10 minutos)A voluntária realizou alongamentos para os grupamentos musculares, dos membros superiores, inferiores e tronco.


Fortalecimento (20 minutos)
A voluntária realizou exercícios de fortalecimento global, para membros superiores, inferiores, paravertebrais e abdominais. Tais como exercícios com bastão, agachamentos, exercícios com bolas, entre outros materiais.
Propriocepção (10 minutos)A voluntária realizou exercícios proprioceptivos, como marcha anterior cruzada, marcha lateral cruzada, marcha em zig-zag com obstáculos, apoio unipodal (bilateralmente) com apoio e sem apoio, em superfície estável e instável, com olhos abertos e fechados.

Após o treinamento a idosa foi reavaliada pelo mesmo examinador, seguindo os mesmos critérios metodológicos da avaliação inicial.

RESULTADOS

A análise dos dados revelou resultados significativamente positivos para ambos os parâmetros. Antes do treino multissensorial a voluntária apresentou um escore de 40(quarenta) pontos, na Escala de Berg, indicando risco moderado de queda, após o treino, apresentou um escore de 52 (cinquenta e dois) pontos, com risco mínimo de queda. Na avaliação de qualidade de vida, segundo o questionário SF-36, onde antes do treinamento a mesma apresentou um escore de 70(setenta) pontos, e após o treino, apresentou um escore de 97(noventa e sete) pontos (tabela 1). Evidenciando, a relação entre saúde e bem-estar psicossocial.


AntesDepois
Escala de Berg4052
Questionário SF – 367097
Tabela 1: Escores dos questionários aplicados antes e depois da intervenção

CONCLUSÃO

Tendo em vista os resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir a eficácia do treinamento multissensorial, com exercícios de mobilidade, flexibilidade, força e propriocepção, proporcionando benefícios em curto prazo, melhorando os padrões de equilíbrio e qualidade de vida da população idosa.

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