Physiotherapeutic actuation in Alzheimer´s Disease: study of case in demential fase
Vivianne Lins de Holanda Coêlho *, Roselene Ferreira de Alencar **, Fábia de Souza Rocha ***
*Fisiterapeuta, Graduada no Centro Universitário de João Pessoa- UNIPÊ e Pós- graduanda em Fisioterapia Neuro- funcional na Universidade Norte do Paraná- UNOPAR, ** Fisioterapeuta, Professora Mestre do Centro Universitário de João Pessoa- UNIPÊ, *** Fisioterapeuta, Professora do Centro Universitário de João Pessoa- UNIPÊ.
Resumo
O Mal de Alzheimer trata-se de uma patologia neurodegenerativa progressiva, heterogênea nos seus aspectos etiológico, clínico e neuropatológico, sendo a mais comum das várias formas de demência. Acomete ambos os sexos, geralmente a partir dos 60 anos, cujos fatores de risco incluem, além da idade avançada, a história familiar, educação formal e traumatismos cranioencefálicos. A sintomatologia na fase demencial, característica mais duradoura, exibe: dificuldade em reconhecer familiares e para tomar decisões, alteração da percepção, perda da coordenação, dificuldade na marcha e na linguagem. A fisioterapia, nesta fase, tem como objetivo ampliar o tempo de lucidez e de funcionalidade do paciente, fazendo com que exista uma melhor qualidade de vida, tanto deste quanto do seu cuidador, através de técnicas que busquem a reeducação psicomotora e melhorem as condições respiratórias, proporcionando o maior tempo de independência possível. A pesquisa foi realizada através do método dedutivo, onde adotou-se como procedimento para a coleta dos dados o estudo de caso no período de 52 dias, através da observação direta intensiva. Expondo a importância da orientação familiar e os benefícios da intervenção fisioterapêutica em um paciente vítima do Mal de Alzheimer, onde foi possível através do emprego dos recursos fisioterapêuticos obter a estabilização do quadro sintomatológico.
Palavras- chave: Demência. Fisioterapia. Qualidade de vida. Mal de Alzheimer.
The Alzheimer´s disease is about a progressive neurodegerative pathology, that is heterogeneous on its etiologycal, clinical and neuropathological aspects; being the most commom between the many other forms of dementia. It can attempts both sexes, generally since 60 years old, whose risk elements includes, besides the avanced age, the history of the family, the formal education and the cranioencefalic traumatism. The demential fase, the most enduring caracteristic, shows: difficult in recognize familiar people and to make decisions, alteration of perception, loss of coordination, difficulties in the march and in the language . The physiotheraphy, in this fase, has the objective of amplify the time of lucidity and functioning of the patient, possibiliting a better quality of life to the person that is caring and also to the person that cares for him/her, through techniques that looks for a psicomotor reeducation and better respiratory conditions, proportioning the biggest time of independence that is possible. This work was did through the deductive method, where it was adopt as a procediment to the collect of facts, a study of case in 52 days, through the intensive direct observation. Exposing the importance of the family orientation and the benefits of physiotheraphy in a person with Alzheimer´s disease, that using physiotherapeutics resorts, got the stabilization of symptoms.
Key- Words: Dementia. Physiotheraphy. Life quality. Alzheimer´s disease.
Introdução
O Mal de Alzheimer ou Doença de Alzheimer (DA) é uma síndrome que ocorre com decréscimo da função cognitiva, manifestando-se através dos déficits de memória e de outras funções corticais superiores como linguagem, julgamento entre outras. Acarreta em uma combinação de mudanças neuropatológicas e perda da capacidade do indivíduo de se adaptar à sua nova condição de vida [1].
Esta patologia não é uma forma de “esclerose”, ao contrário do que popularmente se acredita, porque não possui relação com a circulação e sim com a atrofia e lesões cerebrais [2]. Está inserida no grupo das demências, estas possuem quatro categorias principais que são: doenças degenerativas (que inclui a DA), vasculares, infecciosas e metabólicas [3].
A DA é descrita como sendo um distúrbio cerebral de etiologia desconhecida caracterizada por uma perda progressiva e irreversível da função intelectual, tendo como início um declínio insidioso e progressivo da memória, assim como apresentação de desorientação têmporo- espacial, confabulação, labilidade afetiva e falso reconhecimento [4]. Ela acomete ambos os sexos (com ocorrência esporádica), todavia cerca de 10% dos casos são hereditários, geralmente a partir dos 60 anos de idade e raramente a partir dos 40 anos (quando é dado o nome de pré- senil) [5,6].
O Mal de Alzheimer atinge aproximadamente 17 a 25 milhões de pessoas no mundo inteiro, sendo sua prevalência 1- 1,5% entre os 60 e 65 anos de idade e 45% após os 95 anos. Estima-se que no Brasil tenhamos aproximadamente 1.200.000 pessoas com possível Mal de Alzheimer, e poucas são as pessoas que estão preparadas para cuidar de um portador da doença. O impacto do diagnóstico para uma família é extremamente desalentador, devido o desconhecimento da patologia, de como agir e entender a pessoa afetada e seus sentimentos, além de não saber que através de tratamentos clínico e fisioterapêutico pode-se retardar a progressão da patologia, colaborando com a manutenção das funções cognitivas através do treinamento físico e mental. A forma senil do Mal de Alzheimer geralmente tem uma progressão mais lenta, sendo considerada uma patologia crônica. Devido a difícil percepção dos sinais e sintomas da doença pelos familiares, confundido com o processo de envelhecimento normal, fazendo com que este seja encaminhado tardiamente ao médico. Já a forma pré- senil tem uma evolução mais agressiva com o comprometimento rápido e intenso [5].
Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença de Alzheimer incluem idade mais avançada, história familiar e traumatismos cranioencefálicos. Além destes fatores, pesquisadores complementam que dentre os fatores de risco para o desenvolvimento da demência inclui o ser mulher [7,8].Várias hipóteses têm sido equacionadas na etiopatogenia da doença: tóxica, infecciosa, neuroquímica, genética, liberação de radicais livres, vascular, mitocondrial e metabólica. Provavelmente ocorre interação destes fatores no mecanismo da DA, sendo o mais provável que a causa primária seja mesmo genética [9].O estilo de vida pode contribuir para o mal de Alzheimer, de modo que cientistas alertam para o controle da obesidade. Alimentação saudável, exercícios físicos e boa forma podem reduzir o risco de desenvolver doenças cardíacas, assim como evitar a DA. A alimentação é parte fundamental para qualquer tratamento, mesmo sem evidências científicas de que possa melhorar ou controlar os sintomas da DA, pois é uma necessidade básica do homem [10].
O Mal de Alzheimer apresenta um número variado de alterações anatomopatológicas que levam a atrofia cerebral difusa. É caracterizado por placas senis, emaranhados neurofibrilares, e perda neuronal no hipocampo e córtex cerebral. Apesar de alguns estudos afirmarem a presença de placas senis no envelhecimento normal, outros sugerem que a formação difusa de placas realmente pode representar o início da doença [11,3]. Alterações importantes são vistas no cérebro de um paciente portador da DA como: os giros estreitam-se, os sulcos alargam-se e a atrofia cortical torna-se aparente tanto na tomografia computadorizada como na autópsia. Neurônios e processos neuríticos são perdidos durante todo o curso da doença. Quando a atrofia está presente, geralmente se dá de forma tipicamente bilateral e simétrica com a distribuição predominantemente frontal e temporal [12,13].
A DA é uma doença bastante variável, de difícil determinação cronológica, principalmente no início das manifestações. Seus sintomas evoluem em taxas diferentes e em padrões diferentes. Sendo assim, um paciente pode começar a ter problema com a coordenação muscular mais cedo que outro, ou reter algumas memórias por mais tempo [14,6]. A progressão dos sintomas na descrição do curso típico da doença pode sofrer grandes alterações. Porém, existe uma grande variabilidade na velocidade de progressão da doença, desde períodos tão curtos quanto 2 anos até tão longos quanto 20 anos [15].
A sintomatologia da doença pode ser descrita utilizando-se três estágios: a fase amnésica ou estágio leve (primeiro estágio), fase demencial ou estágio moderado (segundo estágio) e a fase terminal também chamada de estágio severo (terceiro estágio). De acordo com a progressão da patologia, algumas vezes elas superpõem-se [16]. A fase amnésica dura em torno de 2 a 4 anos, sendo caracterizada por sintomas vagos e difusos que se desenvolvem insidiosamente. A fase demencial, estágio mais longo, varia em média de 2 a 10 anos depois do diagnóstico, tendo uma deterioração mais acentuada da memória (dificuldade na realização de cálculos, abstrações, resolução de problemas e planejamento de tarefas) assim como o aparecimento de sintomas focais. Na fase terminal, a duração média gira em torno de 1 a 3 anos, sendo todas as funções cognitivas gravemente comprometidas [15,16].
Esse mal pode predispor o surgimento de complicações como: comportamentais (hostilidade, agitação, raiva, frustração, caminhar sem rumo principalmente durante à noite, sendo este fenômeno chamado de sundowning, não cooperativo); metabólicos (desidratação, intoxicação por remédios); psiquiátricos (depressão, ansiedade); além de quedas, incontinências e infecções [17].
A Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) reconhece que o diagnóstico precoce pode propiciar futuros “arranjos” na vida, manejar questões financeiras e legais além de obter uma rede de suporte ao paciente, e relata que na atualidade há maior probabilidade de acerto em 95% dos casos prováveis de Mal de Alzheimer. Portanto, trata-se de um diagnóstico de certeza e não de exclusão. A ABRAz relata que para um melhor diagnóstico são necessários as seguintes etapas: 1) avaliação clínica realizada com o paciente e um familiar (história da doença atual (HDA), história pregressa (HP), história familiar (HF)); aplicação do Exame de Estado Minimental. 2) exames complementares (exames laboratoriais, de modo que afastem a possibilidade de uma outra doença com quadro semelhante). 3) exames de neuroimagem (especialmente a tomografia computadorizada do cérebro e a ressonância nuclear magnética do cérebro, ou ainda menos disponível, o SPECT que é um exame funcional do cérebro) [18].
Não há, ainda, cura para a patologia e nenhuma droga alterou a progressão da DA. Existem formas pelas quais os responsáveis pelo atendimento podem amenizar as manifestações da doença [19]. O tratamento disponível, no momento, para portadores de Alzheimer restringe-se ao tratamento paliativo ou sintomático. Desta forma, subentende-se por drogas sintomáticas aquelas capazes de propiciar efeitos benéficos nos aspectos cognitivo, comportamental e funcional, mesmo que esses efeitos não sejam mantidos por longo prazo [15].
Dentre as técnicas de reabilitação cognitiva estão presentes: “orientação para a realidade”, “treinamento da memória”, “reminiscência”, técnicas de estimulação através da arte e outras terapias ocupacionais, sociais e de recreação, como a dança, exercícios físicos e musicoterapia. Apesar da eficácia dessas modalidades ser questionada por vários autores, devido à escassez de estudos científicos que comprovem os seus resultados, o seu uso tem sido difundido progressivamente em nosso meio [15].Um dos itens mais importantes será o da escolha do tipo mais apropriado de assistência a que o paciente com Mal de Alzheimer terá, dentre os vários anteriormente citados. De acordo com o estágio da doença, a assistência pode variar de visitas diárias a cuidados ininterruptos. Primeiramente, deve-se determinar o grau necessário de assistência, e então, decidir qual a melhor maneira de obtê-las [20].
A manutenção da independência funcional do paciente, a longo prazo, é requisito indispensável para melhora da qualidade de vida e auto- estima. Pesquisas visam tornar mais lenta a perda da independência de forma que diminua o estresse para o cônjuge, filhos ou outros cuidadores. Pacientes que fazem exercícios físicos ou mentais mostram melhora em comparação a um grupo de controle [21]. Mesmo pesquisas da área da saúde, que como o avanço tecnológico anunciam freqüentemente novidades extraordinárias, as pessoas são capazes de serem surpreendidas pela simplicidade de tratamentos. Pessoas, do mundo inteiro, que têm o hábito de resolver palavras cruzadas podem até nem saber, mas estão utilizando uma “arma da medicina” contra o Mal de Alzheimer [22].
O grupo de apoio é uma opção válida para promover o bem estar dos familiares e cuidadores; para informar e orientar a respeito de como manejar o paciente; propicia trocas de informações, dicas e experiências; capacita novos cuidadores; divulga experiências e estudos científicos; estimula a difusão do conhecimento sobre a DA e a necessidade de se cuidarem, tanto os familiares quanto cuidadores [15].
O objetivo da prática fisioterapêutica na Geriatria implica em dar ênfase na promoção da condição funcional do paciente através de uma abordagem eficaz por meio de um trabalho em equipe interdisciplinar, proporcionando ao idoso um ambiente com maior qualidade de estímulos, que visem a possível independência, funcionalidade e autonomia, revendo vantagens e desvantagens de cada intervenção [23]. No Mal de Alzheimer as dificuldades para movimentar-se irão aparecendo com o avançar da doença, no entanto, não devemos esquecer que a maioria dos portadores de DA são idosos. Com o avanço da idade, os músculos vão enfraquecendo, têm pouca resistência e flexibilidade, as articulações tornam-se rígidas, as reações e o andar se tornam mais lentos e o equilíbrio diminui. Tudo isso, somando à inatividade, pode trazer complicações desastrosas [24].
A conduta proposta, durante a fase demencial do Mal de Alzheimer, envolve os seguintes procedimentos da fisioterapia motora: exercícios cinesioterapêuticos (alongamentos, mobilizações articulares, exercícios passivo, ativo- assistido e ativo- livre); Conceito Bobath; FNP; exercícios de Frenkel; treinamento da memória; trabalho da cognição e treinamento funcional; exercícios de sensibilidade; reeducação postural e treino de marcha; posicionamento, mudanças de decúbito e trabalhos em grupo [25].
Além das mudanças fisiológicas que acontecem com o idoso, à medida que o Mal de Alzheimer progride, o indivíduo involui até ficar totalmente dependente de terceiros (fase terminal) para executar atividades básicas. Fica acamado e a morte sobrevem em conseqüência de complicações respiratórias, como a pneumonia, desidratação ou sepse. Devendo-se enfatizar a fisioterapia respiratória na fase demencial, devido na próxima etapa o paciente apresentar transtornos cardio- respiratórios e vasculares, em conseqüência à restrição ao leito [1].
Materiais e Métodos
A pesquisa caracteriza-se como descritiva- exploratória, devido a preocupação com a prática fisioterapêutica, com a descrição das características do caso e com a identificação dos fatores que determinaram e contribuíram para a ocorrência do mesmo. O método de abordagem é o dedutivo, pois utilizou-se um método geral e um caso particular. Quanto ao método de procedimento adotado para a coleta de dados foi o estudo de caso, com análise qualitativa por ter descrito a evolução clínica de um paciente com 68 anos e diagnóstico de Mal de Alzheimer, na fase demencial, há aproximadamente 3 anos.
A pesquisa teve objetivos descritivos, pois fez-se a descrição das características do paciente, a partir de um protocolo de avaliação; e também exploratório, uma vez que objetivou maior familiaridade com o problema através do levantamento bibliográfico e da proximidade com os cuidadores do paciente, de forma que fossem discutidos os problemas da evolução clínica da doença e analisados, estimulando o trabalho de cuidados gerais destes em casa para com o paciente, havendo uma maior compreensão.
A técnica para coleta de dados foi a de observação direta intensiva, pois ela utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade, possibilitando examinar os fatos que se deseja estudar e através da história de vida que tenta obter dados relativos à “experiência íntima” de alguém que tenha significado importante para o conhecimento do objeto do trabalho [27]. Além disso foi feito uma revisão bibliográfica sobre a patologia, e para a realização do trabalho houve a autorização da responsável pelo paciente, sendo assinado um termo de consentimento livre e esclarecido, anexado à uma carta de informação contendo os “Direitos humanos dos indivíduos em experiências médicas”, conforme a Resolução 196/96 do CNS.
A pesquisa foi realizada na Clínica Escola do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, cujo início se deu no dia dois de Julho de 2003 (02/07/2003) com realização da avaliação física e funcional do paciente e início do tratamento fisioterapêutico. O paciente foi submetido a uma freqüência de tratamento de duas sessões semanais, com média de uma hora, totalizando 52 atendimentos (38 em 2003, e 14 em 2004) , sendo realizadas três reavaliação nos dias: 03/09/2003, 03/03/2004 (após recesso de férias da clínica escola) e 23/04/04.
O tratamento teve como objetivo: retardar os efeitos limitantes da doença; prevenir complicações e deformidades; manter habilidades funcionais do paciente o maior tempo possível; melhorar o padrão respiratório; proporcionar um nível de consciência; melhorar o padrão da marcha; e proporcionar uma reeducação psicomotora visando esquema corporal e relação espaço temporal.
Discussão e resultados
A avaliação e programação fisioterapêutica abordará o caso do paciente A. V. de S., 68 anos, sexo masculino, peso de 71 kg, cor branca, casado, escrivão de polícia aposentado, admitido na Clínica Escola do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ no dia dois de julho de 2003 (02/07/2003). A cada reavaliação anexavam-se informações que serviram de base para a manutenção do programa fisioterapêutico.
Através da investigação da queixa principal, que segundo sua responsável era “a lucidez diminuindo aos poucos”, e da história pregressa constatou-se que em 1998 o paciente apresentou os primeiros sinais, tendo sido diagnosticado o Mal de Alzheimer a aproximadamente quatro anos. Inicialmente, a doença foi percebida por seus familiares devido aos comportamentos estranhos apresentados e perda de certas atividades rotineiras, como dirigir.
O paciente apresenta o nível de consciência confuso, estado emocional subjetivo de alegria (apresentando o riso constante) e ocasionalmente irritado. É atento, curioso, tranqüilo e bem- relacionado, necessitando de cuidados. Verificou-se uma média para os sinais vitais de: PA= 120×80 mmHg; FC= 85 bpm; FR= 20 irpm.
Analisando a função respiratória observou-se que durante o período correspondente a avaliação e terceira reavaliação permaneceu estável, apresentando na ausculta pulmonar o murmúrio vesicular diminuído em bases de ambos hemi- tórax, sem ruídos adventícios; padrão respiratório misto; expansibilidade e elasticidade pulmonar diminuídos; ritmo respiratório regular e tosse ineficiente.
Ao avaliar a pele do paciente observou-se bem hidratada, avermelhada e com manchas da idade. Durante a 2ª reavaliação encontrava- se ressecada e com edema nas extremidades. Com a prática de exercícios houve diminuição do edema, apresentado na 3ª reavaliação. Não foram encontradas alterações de tônus, trofismo, da avaliação postural, da sensibilidade e motricidade.
Através do QUADRO comparativo, logo abaixo, da avaliação com as três reavaliações, pode-se observar que:
- Os problemas associados aumentaram na 2ª reavaliação (realizada após o recesso de férias da clínica escola), onde o paciente passou a apresentar uma afasia global, falta de controle esficteriano, constipação intestinal e problemas osteoarticulares. Na 3ª reavaliação, devido a problemas nutricionais, o paciente se encontrava com 62kg.
- O nível cognitivo também modificou após as férias, tendo um aumento do déficit cognitivo, com dificuldades na atenção e labilidade emocional presente. Com o retorno dos atendimentos houve uma melhora da atenção e do humor.
- A higiene pessoa e a alimentação que eram independentes passaram a ser dependentes na 2ª reavaliação, todavia na 3ª reavaliação observou-se que a alimentação era independente e a higiene pessoal mais o vestuário parcialmente dependentes.
- Quanto aos reflexos, mostraram-se diminuídos na 3ª reavaliação.
- Pode-se perceber que após o período de recesso da clínica- escola a mobilidade articular diminuiu, fazendo com que os exercícios se tornassem mais passivos. Na 3ª reavaliação observou-se o aumento da rigidez nas articulações mais proximais.
- O equilíbrio em bipedestação diminuiu durante a 3ª reavaliação, assim como a coordenação, apesar de ter incentivado aos exercícios. A marcha durante a 3ª reavaliação encontrava-se lentificada com diminuição da oscilação dos membros superiores.
A leitura manteve-se preservada durante os nove meses de atendimento, porém a escrita tornou-se menos legível na avaliação final.
Inicialmente, no tratamento fisioterapêutico foram utilizados alongamentos preparando o paciente para exercícios posteriores, onde o método utilizado era o passivo. Realizavam-se constate e globalmente de forma a prevenir contraturas e deformidades, pois como mostra a literatura, nesta fase surge a rigidez flexora. Os exercícios de mobilização articular foram efetuados na forma ativo- livre e ativo- assistido, com o objetivo de: melhorar o sono, diminuir a agitação, melhorar a constipação intestinal, melhora da circulação sangüínea e também de prevenir a rigidez articular. Eram realizados exercícios com a bola Suíça, enfocando a simetria do corpo através de movimentos, primeiramente, guiados e realizados de forma ativo- assistida, proporcionando o máximo de incentivo e aprendizagem. O método Kabat também foi explorado visando a promoção do movimento funcional. Para a melhora da coordenação utilizaram-se os exercícios de Frenkel (em decúbito dorsal, sedestação e bipedestação), de forma lenta e procurando ao máximo fixar a atenção do paciente, através de movimentos suaves, compassados e com contagem em voz alta. Em bipedestação, os exercícios de Frenkel foram bem aceitos quando realizados nas barras paralelas, onde já eram trabalhados a marcha e a reeducação postural (andar lateralmente, frente- trás com ou sem auxílio de demarcações, atividades de elevação como passar por cima de obstáculos, subir- descer escadas ou rampas). Para trabalhar a memória, era avaliado a extensão das dificuldades do paciente e depois estimulado o trabalho com: jogos de encaixe, figuras coloridas, recortes com nomes simples do dia-a-dia, brinquedos variados, além do lápis e papel.
A escrita também foi trabalhada com sucesso, frisando atividades com números, letras e desenhos geométricos (estes, expostos anteriormente, e em seguida solicitados para que cobrisse os pontos ou repetisse o escrito). Devido a dor no ombro esquerdo, decorrente ao aumento da rigidez articular, foi iniciada a termoterapia através do ultra-som objetivando o aumento do fluxo sangüíneo, aumento da extensibilidade do tecido e redução da dor, através da alteração da condução nervosa e das alterações da membrana celular. A fisioterapia respiratória também foi realizada com o paciente, objetivando oferecer a reexpansão pulmonar, através da manobra de compressão- descompressão, visto que o murmúrio vesicular estava presente porém diminuído em ambos hemi- tórax. E reeducar a respiração, através da propriocepção diafragmática, juntamente com o método RTA.
.Conclusão
Este trabalho científico surgiu com o intuito de que fossem explanados os benefícios que a fisioterapia traz, quando realizada o mais precocemente possível. Exibiu-se todo acompanhamento de um paciente, na fase demencial do Mal de Alzheimer, observando os ganhos consideráveis que se pôde conseguir, mesmo com a patologia sendo de caráter progressivo, onde acarreta deterioração completa do indivíduo.
Constatou-se que, durante o período de 52 dias, apesar das dificuldades enfrentadas, ao realizar as avaliações (seguidas pelo protocolo elaborado), alterações favoráveis e significativas foram percebidas. Os recursos fisioterapêuticos necessários foram selecionados, com base no que os autores ressaltam na literatura, adaptando às necessidades individuais do paciente.
Apesar de conhecer o sofrimento que os familiares enfrentam durante os anos subseqüentes ao diagnóstico, adaptando-se às novas tarefas e responsabilidades que a patologia impõe, é necessário trabalhar o propósito de informar, e até mesmo, encontrar algumas soluções que minimizem a dor do paciente e de seus familiares. Então, foi entregue (após a avaliação inicial) algumas informações sobre cuidados gerais para os familiares do paciente, com base em várias obras pesquisadas, sendo um programa de cuidados bem projetado para que a execução fosse da melhor forma possível. As dúvidas quando surgiam, por parte dos cuidadores, eram sempre esclarecidas à base de excelentes diálogos. Percebeu-se que, um cuidador bem orientado contribui bastante com o tratamento, realizando as atividades que lhes foram indicadas, demonstrando o carinho e a atenção pelo paciente.
Esse estudo científico foi concentrado nas habilidades ainda presentes do paciente e não nas limitações, permitindo ao mesmo trabalhar os exercícios da forma mais ativa possível, embora com um gasto maior de tempo e considerando sempre o ambiente, o período do dia e a presença ou não de pessoas.
Essa pesquisa é mais uma contribuição para a sociedade, e um incentivo para que os profissionais da área procurem abordar ainda mais essa temática, principalmente em função do crescimento da população de idosos. É preciso que se destaque a importância de ampliar a visão de todo aspecto patológico, assim como, apresentar uma proposta terapêutica.
Trabalhar com um portador de Mal de Alzheimer é gratificante, porque embora a doença ainda não tenha a cura, o tratamento fisioterapêutico proporcionará uma melhor qualidade de vida. Com a prática de exercícios o paciente tem uma vida mais tranqüila, retardando as limitações que a sintomatologia impõe normalmente à vítima, evitando uma série de complicações da saúde e fazendo melhor o seu dia-a-dia e das pessoas que o cercam.
Referências
- LUDERS, S. L. A; STORANI, M. S. B. Demência: Impacto para a Família e a Sociedade. In: PAPALÉU NETTO, M. Gerontologia: A Velhice e o Envelhecimento em Visão Globalizada. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte: Atheneu; 2000. p. 146-159.
- VIEIRA, E. B. Manual de Gerontologia: Um guia teórico-prático para profissionais, cuidadores e familiares. Rio de Janeiro: Revinter;1996. p.13-14.
- SMALL, S. A.; MAYEUX, R. Doença de Alzheimer e demências relacionadas. In: ROWLAND, L. P. Merrit: Tratado de Neurologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 550- 553.
- FOX, C. M.; ALDER, R. N. Mecanismos Neurais do Envelhecimento. Traduzido por: Stella M. T. Coelho. In: COHEN, H. Neurociência para Fisioterapeutas. 2. ed. São Paulo: Manole; 2001. p.401-417.
- CANINEU, P. R.; BASTOS, A. Transtornos Cognitivos Leves. In: FREITAS, E. V. de; PY, L.; Neri, A. L.; CANÇADO, F. A. X; GORZONI, M.L.; ROCHA, S. M. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p.128-132.
- PORTO, C. C. Semiologia Médica. 4. ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 2001.
- COLLINS, R. C. Neurologia. Traduzido por: Fernando Diniz Mundim. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.p. 184-193.
- KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J.; GREEB, J. A. Compêndio de Psiquiatria: Ciência do comportamento e psiquiatria clínica. Traduzido por: Dayse Batista. 7. ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997. p. 332-334.
- SANVITO, W. L. Síndromes Neurológicas. 2. ed. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte: Atheneu; 1997. p. 10- 15.
- NAJAS, M. Existe uma alimentação adequada? In: CAOVILLA, V. P.; CANINEU, P. R. Você não está sozinho. São Paulo: ABRAZ; 2002, p. 41- 48.
- ROZMAN, C. Compêndio de Medicina Interna. São Paulo: Manole; 1999, p. 466-469.
- BUSSE, E. W.; BLAZER, D. G. Psiquiatria Geriátrica. Traduzido por: Maria Rita Secco Hofmeister; Dayse Batista. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p. 79- 82.
- LENT, R. Cem bilhões de neurônios: Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Atheneu; 2001.
- MARQUES, P. R. B. Demência tipo Alzheimer: diagnóstico, tratamento e aspectos sociais. Recife: Universidade de Pernambuco Faculdade de Ciência Médica; 1997.
- MACHADO, J.C. B. Doença de Alzheimer. In: FREITAS, E. V. de; PY, L.; Neri, A. L.; CANÇADO, F. A. X; GORZONI, M.L.; ROCHA, S. M. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p.133-147.
- GWYTHER, L. P. Cuidados com portadores da doença de Alzheimer: um manual para cuidadores e casas especializadas. Traduzido por: Lílian Alick. São Paulo: Novartis Neurociências; [199_].
- BUTLER, R. N. Demência Senil do Tipo Alzheimer. In: ABRAMS, W.; BERKOW, R. Manual Merk de Geriatria. São Paulo: Roca; 1994. p. 997- 1003.
- ABRAZ. Ativação cerebral. Disponível em: <http://icones.com.br/abrazpe/ > Acesso em: 005/01/2004.
- DAMASIO, A. R., Doença de Alzheimer e demências relacionadas. In: BENNET; PLUN; GILL; KOKKO; MANDELL; OCKNER; SMITH. Cecil Tratado de Medicina Interna. 20. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. v. 2. p. 2200-2203.
- BALLONE, G.J. Doença de Alzheimer. Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/geriat/alzh.html> Acesso em: 18/08/2003.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFORMAÇÕES DE PATOLOGIAS MÉDICAS. Doença de Alzheimer. NeuroPsicoNews. 1999, no. 11.
- JORNAL NACIONAL. Ginástica para o cérebro. A semana. Disponível em:<http://jornalnacional.globo.com/semana.jsp?id=31937&mais=1#> Acesso em: 04/02/2004.
- GARBELLINI, D. Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas. In: REBELLATO, J. R.; MORELLI, J. G. S. Fisioterapia Geriátrica: A prática da assistência ao idoso. São Paulo: Manole; 2004. p. 215- 247.
- PERRACINI, M. R. Estimulando a mobilidade, evitando complicações. In: CAOVILLA, V. P.; CANINEU, P. R. Você não está sozinho. São Paulo: ABRAZ; 2002. p. 69-79.
- UMPHRED, D. A. Fisioterapia Neurológica. 2. ed., São Paulo: Manole; 1994.
Autora: Dra. Vivianne Lins de Holanda Coêlho
Fisioterapeuta, graduada pela UNIPÊ, pós- graduanda em Fisioterapia Neurofuncional, pela UNOPAR.
Orientadoras: Dra. Roselene Ferreira de Alencar *, Dra. Fábia de Souza Rocha **
* Fisioterapeuta, Professora Mestre do Centro Universitário de João Pessoa- UNIPÊ, ** Fisioterapeuta, Professora do Centro Universitário de João Pessoa- UNIPÊ.
Qual a data de envio ?