ASSISTINDO AOS AMPUTADOS

Grupo de extensão  pioneiro na região dos Vales Rio Pardo e Taquari articulando teoria e prática no Curso de fisioterapia da UNISC

*Profª Ângela Cristina Ferreira da Silva
**Acd. Felipe Fonseca de Brito
***Acd. Ana Paula Weber
**** Acd. Ellen Henn
**** Acd. Gabrielle Dickow


A Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC – proporciona através do cumprimento de horas atividades aos seus professores a possibilidade de realização de projetos de pesquisa e/ou extensão extensivo aos acadêmicos dos cursos de graduação a participarem como bolsistas PROBEX (programa de bolsas de extensão) e PROVEX (programas de voluntários para extensão), tendo como premissa a regionalização associado à qualidade de vida de sua Comunidade Regional.
A atividade que queremos relatar acontece desde 2002 no Curso de Fisioterapia e que no ano de 2003 afirmou-se como uma atividade propositora de qualidade de vida aos indivíduos com necessidades especiais – os amputados.
No início do mês de março de 2002, formou-se pela primeira vez na Região dos Vales, um grupo de atendimento integral para pacientes amputados usuários ou não de órteses e/ou próteses na Clínica de Fisioterapia da Universidade de Santa Cruz do Sul – FisioUNISC. Foi um grupo pioneiro nesta Região do Estado do Rio Grande do Sul e deu continuidade ao Convênio de Concessão de Órteses e/ou Próteses estabelecido pela Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, em 2001. Não mais entregando dispositivos como até então mas, preparando os usuários para uma futura protetização e adaptação às próteses e/ou às órteses dependendo da necessidade individual de cada um.
Formatou-se então o projeto de extensão intitulado “O atendimento dos pacientes usuários de órteses e/ou prótese na FisioUNISC”.  A equipe   composta por 05 bolsistas além dos acadêmicos do 4º semestre da disciplina de Órteses e Próteses do curso de Fisioterapia, 01 professora coordenadora do projeto.
No período de abril a dezembro de 2003 realizaram-se semanalmente os  atendimentos aos pacientes inscritos no projeto pelos  bolsistas e pela professora Coordenadora. Muitos amputados  foram encaminhados pelos alunos do 8º semestre e seus supervisores da área hospitalar o que facilitava a recuperação, orientação e a mais rápida evolução clínica e físico-funcional e, precocemente os inseria no contexto dos atendimentos individuais e coletivos desse grupo.
A partir desta inserção formava-se o vínculo  entre todos os participantes: pacientes, bolsistas, discentes, docentes, coordenadora do projeto, o que comprova a bibliografia apontada por Carvalho,2003 da necessidade do trabalho em grupo tendo momentos de recreação e descontração entre todos os participantes.
Aspecto extremamente importante a ser apontado é a contribuição à aprendizagem neste campo de atuação  fisioterapêutica à medida que se constrói e se vivencia experiências profissionais, vencendo novos desafios e aprimorando suas relações interpessoais e profissionais. Contudo, para os pacientes percebe-se que há uma melhora em seus aspectos físicos-emocionais, psicológicos e sociais fazendo com que estes indivíduos tenham uma qualidade de vida mais adequada e eficiente.
Os objetivos propostos inicialmente foram atingidos como se mostram abaixo:

  • A criação de um banco de dados foi possível ao longo de dois anos de execução do  projeto, cujas variáveis comparativas foram: etiologias das amputações, idade, sexo e seus respectivos níveis, conforme mostra a TABELA 01.

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A maioria das amputações segundo Boccolini, 2000, são de causa vascular e associadas à desinformação sobre cuidados específicos e importantíssimos do dia-a-dia dos pacientes portadores de vasculopatias, e entre eles destaca-se  o Diabetes Mellitus e a Trombose Venosa Profunda. De acordo com o GRÁFICO 01,  observou-se que o Diabetes Mellitus é uma das principais causas de amputação, no entanto, a Trombose Venosa Profunda encontra-se atrás da etiologia traumática o que comprova a região industrializada de característica urbana daqueles que participaram deste projeto  comprovando a  abrangência de nossa Instituição de Ensino caracterizada  como Comunitária e de inserção na Região dos Vales Rio Pardo e Taquari,  conforme dados coletados no projeto e abaixo descriminados
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  • Formação do grupo de amputados e reunião mensal com os pacientes e seus familiares além dos docentes e discentes da Instituição e  outros convidados. Estas reuniões eram de extrema importância porque proporcionavam um momento de descontração, mas também de auto-ajuda e amizade. Os profissionais que participaram destas reuniões: acadêmicos do curso de nutrição, Coordenador do Curso de Engenharia de Produção, Professora  e Psicóloga do departamento de psicologia da UNISC e bolsistas acompanhados dos  alunos do 4º do Curso de Fisioterapia que prepararam  uma abordagem de orientações para o dia a dia através de lâminas e debates entre os integrantes do grupo.
  • Diminuição da sensação e/ou dor fantasma: este objetivo  trabalhado com técnicas de propriocepção é de suma importância porque estas intercorrências não permitem a sensação de liberdade e independência porque subjugam a consciência e a angústia dos pacientes amputados. Bolinhas de propriocepção, sementes, texturas diferentes eram trabalhas em todas as sessões com ênfase na desenssibilização do coto, em especial no coxim terminal, dependendo do grau encontrado desta intercorrência.



A  Metodologia selecionada e utilizada para realização deste projeto, sua coleta de dados, atendimentos e o alcance com sucesso dos objetivos propostos baseou-se na utilização da  ficha de avaliação fisioterapêutica utilizada na Clínica de Fisioterapia da UNISC – FisioUNISC  com algumas alterações em  itens importantes enfatizados por Carvalho, 2003.
Para realização das avaliações iniciais e reavaliações dos pacientes utilizou-se o goniômetro, fita métrica, estensiômetro, esfignomanômetro, estetoscópio, oxímetro de pulso, teste manual de força muscular e escala analógica da sensação fantasma. Com relação ao último quesito de avaliação, foi realizado em todas as sessões, antes e depois dos atendimentos. Os demais itens foram analisados a cada dez sessões.
Os atendimentos foram realizados nas dependências da FisioUNISC e também em área externa, própria para o atendimento, todas as terças-feiras à tarde das 13:30 horas às 18:30 horas.  As sessões tinham duração de 45 minutos, sendo cada paciente atendido de forma global, integral  e individual, previamente agendados. Quem os acolhia para o atendimento era o bolsista responsável por cada paciente. A seleção do paciente ao bolsista era aleatória após estudo com a coordenação do projeto e os demais acadêmicos bolsistas.
Para os atendimentos dos pacientes os bolsistas e alunos que participavam,  utilizaram os recursos fisioterápicos disponíveis, tais como: cinesioterapia (exercícios passivos, ativos-assistidos, ativos,  resistidos e alongamentos), massoterapia, eletroterapia (TENS, FES, Ultra-som, Corrente russa) hidroterapia (flutuadores, coletes, step, faixas elásticas, halteres, disco de propriocepção) e mecanoterapia (bola suíça, bastão, bolas de propriocepção, tensores elásticos das mais variadas texturas, espaldar, barra paralela, halteres, caneleiras…), conforme mostra as FIGURAS ABAIXO:
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No período de vigência deste projeto de extensão pode-se ter a certeza de que a missão da UNISC, como Universidade Comunitária, cujo tema é “produzir, sistematizar o conhecimento, visando à formação de indivíduos cidadãos livres e capazes, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade solidária” foi disseminada e esclarecida para todas as pessoas que direta ou indiretamente participaram da construção do projeto no ano de 2002 e principalmente a afirmação deste, no ano de 2003 e pode-se concluir que os resultados obtidos foram de grande importância e tiveram grande significado tanto para os pacientes como para os alunos e bolsistas.
A abordagem terapêutica que engloba a promoção, prevenção, reabilitação e treinamento dos usuários aos dispositivos mecânicos merecem destaque porque dos 22 pacientes do grupo 02 obtiveram alta com significativa adaptação, os outros estão aptos a receberem seus dispositivos tornando-se independentes no quesito deambulação, uma vez que conseguem na condição de usuário de multas e/ou cadeiras de rodas já terem certo grau de  independência.
As etiologia das amputações com maior incidência comprovou-se, o que preconiza a bibliografia da área; com 10 casos aponta o Diabetes Mellitus, seguida por traumas diversos (automobilístico, choque elétrico, motocicletas, fogos de artifício), com 08 casos e a  Trombose Venosa Profunda com 02 casos e 01 caso de Meningocepticemia Vascular conforme observamos no  GRÁFICO 01.
Com relação às amputações e sexo, percebe-se uma significativa vantagem de amputações em pacientes do sexo masculino do que em pacientes femininos, ou seja, de um total de 22 pacientes atendidos ao longo de dois anos, 18 deles são de sexo feminino e 04 são do sexo masculino conforme mostra o GRÁFICO 02.
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A força muscular, amplitude de movimento, coordenação, equilíbrio e diminuição da dor fantasma foram gradativamente obtendo melhoras significativas chegando a estar zerado a existência da sensação fantasma na maioria dos pacientes, em especial nos que participaram durante estes dois anos de projeto. A facilitação à marcha com órteses e/ou próteses foi evoluindo e tornando os pacientes independentes nas suas AVD\’s dando-lhes independência, melhorando desta forma sua qualidade de vida, um dos objetivos principais do projeto de do tratamento fisioterapêutico.
Conseguiu-se que durante estes dois anos de projeto de extensão pode-se realmente participar/relacionar com o ensino, a pesquisa com a participação efetiva da comunidade acadêmica (alunos, professores) mas inserido na comunidade regional.
Com o ensino mais especificamente, este projeto proporcionou um incremento significativo à disciplina de Órteses e Próteses do Curso de Fisioterapia da UNISC, porque semanalmente (terças-feiras) os alunos assistiam, avaliavam e atendiam os pacientes do projeto, associando assim a teoria, aprendida na sala de aula com o manuseio prático, efetivo com os pacientes. Após a avaliação eles elaboravam um plano de tratamento e/ou orientações para estes pacientes e colocavam em prática seus conhecimentos juntamente com os bolsistas do Projeto e com a professora da disciplina e coordenadora do projeto.
Esta experiência inovadora trouxe uma nova metodologia à disciplina supracitada e um aproveitamento e motivação acadêmica nunca antes desenvolvida, pois conseguiam antecipadamente e concomitantemente relacionar teoria e prática clínica ao mesmo tempo. Por estes fatores tão significativos de aprendizagem pode-se afirmar que o aproveitamento e avaliação da disciplina em relação a este projeto foram satisfatórios.
Já com a pesquisa, o projeto intitulado “O atendimento dos pacientes usuários de órteses e/ou prótese na FisioUNISC”, relaciona diretamente a teoria e a prática da abordagem fisioterapêutica nesta área. No entanto, a inexistência de dados estatísticos na 13ª Coordenadoria Regional de Saúde e/ou nas Secretarias de Saúde nos estimulou a pesquisar e a coletar dados para que se possa traçar e programar ações educativas e preventivas nos diferentes setores da comunidade. O que se  comprovou nas tabelas e gráficos acima demonstrados.
Fatores estes que nos levam a incrementar ainda mais o projeto para este ano de 2004 onde ações preventivas e interdisciplinares com mais ênfase farão parte da sistemática de trabalho e da abordagem clínica, física, funcional e recreativa  desses indivíduos com necessidades especiais, mas que com ações integradas e integradoras suprem suas necessidades e os re-colocam novamente em suas comunidades.
A grande e inovadora sistemática está na parceria realizada com os demais cursos da UNISC que farão parte deste projeto atendendo assim a reabilitação plena e integral ao paciente amputado de nossa Região, além de recomeçar a concessão de órteses e próteses via Governo do Estado de Rio Grande do Sul a partir do mês de maio de 2004.
Referências bibliográficas
BOCCOLINI, F. Reabilitação: amputados, amputações, próteses. São Paulo: Robe, 2000.
CARVALHO, J. A. Amputações de Membros Inferiores: em busca da plena reabilitação. São Paulo: Manole, 2003.
KOTTKE, F. J., Stillwell, G. K., LEHMAN, J F. KRUSEN: tratado de medicina física e reabilitação. Trad. Nelson Gomes de Oliveira. 3. ed. V. 1 – 2. São Paulo: Manole, 1984.
LIANZA, S. Medicina de reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995.
SULLIVAN, S. B.,  O´SCHMITZ, T. J. Fisioterapia Avaliação e Tratamento. 2. ed. São Paulo: Manole, 1998.
THOMSON, A. Fisioterapia de Tidy. São Paulo: Livraria Santos, 1994.

  • ·Profª Ângela Cristina Ferreira da Silva: Fisioterapeuta e Docente da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC.     Coordenadora do referido Projeto e Coordenadora do Curso da UNISC no período de março de 2000- março de 2004. Conselheira Suplente  do Crefito 5.  Sócia Fundadora Da Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia – ABENFISIO, atualmente pertence ao Conselho Fiscal desta Associação.
  • ·Acd: Felipe Fonseca de Brito.  Formando do Curso de Fisioterapia da UNISC.      Bolsista  PROBEX do projeto por 2 anos .
  • ·Acd. Ana Paula Weber. Formanda do Curso de Fisioterapia da UNISC.      Bolsista  PROVEX do projeto por 2 anos .
  • ·Acd. Ellen Henn: Acadêmica do sétimo semestre da UNISC. Bolsista PROVEX no ano de 2003 deste Projeto.
  • ·Acd. Gabrielle Dickow . Acadêmica do sétimo semestre da UNISC. Bolsista PROVEX no ano de 2003 deste Projeto.
  • ·Acd. Kassiele Ruschel. Acadêmica do sétimo semestre da UNISC. Bolsista PROVEX no 2º semestre de 2003 deste Projeto.
  • ·Autora Angela Cristina Ferreira da Silva
  • ·Rua Prof. Ivo Cláudio Weigel, 120 Santa Cruz do Sul – RS