REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202509161814
Letícia da Silva Santos Carvalho
RESUMO
As interações entre fármacos e nutrientes são cada vez mais relevantes na prática clínica, pois podem afetar a eficácia dos medicamentos e o estado nutricional dos pacientes. Essas interações ocorrem em diferentes etapas do processo de absorção, metabolismo e excreção. Por exemplo, o uso prolongado de antiácidos pode levar a deficiências nutricionais, enquanto certos alimentos podem alterar a biodisponibilidade dos medicamentos. A falta de nutrientes essenciais também pode comprometer o tratamento ou favorecer a recorrência da condição tratada. Portanto, a gestão adequada dessas interações exige uma abordagem multidisciplinar e individualizada, com atenção especial de profissionais de saúde, principalmente em pacientes com uso contínuo de múltiplos fármacos ou dietas restritivas.
Palavras-chave: fármacos, nutrientes, tratamento, dietas
1. INTRODUÇÃO
A interação entre fármacos e nutrientes tem ganhado destaque na prática clínica atual, exigindo um entendimento aprofundado das complexidades envolvidas na administração simultânea de medicamentos e uma alimentação equilibrada. Essas interações podem interferir nos processos de absorção, distribuição, metabolismo e excreção de fármacos e nutrientes, afetando diretamente a eficácia do tratamento, a segurança do paciente e sua qualidade de vida.
O aumento do uso de medicamentos como antiácidos e antibióticos, muitas vezes sem o devido conhecimento sobre seus efeitos na absorção de nutrientes, pode levar a deficiências nutricionais e consequências a longo prazo. Ao mesmo tempo, cresce a valorização da alimentação como ferramenta de promoção da saúde, o que reforça a necessidade de que os profissionais da saúde compreendam e considerem as possíveis interações entre alimentos e medicamentos.
Este trabalho tem como objetivo destacar a importância do nutricionista na prevenção e correção de deficiências nutricionais associadas ao uso de medicamentos, promovendo o bem-estar da população. A reposição adequada de nutrientes por meio da alimentação é essencial para manter o equilíbrio do organismo.
Com esta revisão, busca-se oferecer informações relevantes para a prática clínica, reforçando a necessidade da atuação conjunta entre nutricionistas e outros profissionais da saúde. Uma abordagem integrada e multidisciplinar é fundamental para garantir melhores resultados terapêuticos e preservar o estado nutricional dos pacientes
2. DESENVOLVIMENTO
Fato que toda vez que ingerimos um alimento ele possui seus valores nutricionais, e esse alimento passa por todo o trato digestório, composto pela boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso e com associação a esses órgãos, temos as glândulas acessórias, também chamadas de glândulas associadas, que são as glândulas salivares, o fígado e o pâncreas. A parte mais importante na absorção é o estômago e o intestino delgado. O estômago vai soltar o suco gástrico composto por ácido clorídrico e pepsina, o ácido clorídrico trabalha desdobrando as proteínas alimentares facilitando a ação das enzimas, e a pepsina trabalha quebrando as proteínas em polipeptídeos menores, tudo isso para que o alimento seja degradado para passar para o intestino. No intestino será absorvido gorduras, carboidratos, colesterol, vitaminas, minerais, proteínas e água, sendo ele de extrema importância, já que possui muitos neurônios. Mas todo esse processo pode ser atrapalhado pelo uso de medicamentos, dentre eles os antiácidos e os antibióticos (UFRGS, “livro de histologia”, capítulo 8)
Os antiácidos são usados para pessoas que estão sofrendo de azia, refluxo gastroesofágico e úlceras, muitas vezes esses antiácidos são prescritos e usados por longos períodos. Seu mecanismo de ação são: os antagonistas dos receptores de histamina-2 sendo bloqueadores de H2 e os inibidores da bomba de prótons, que consequentemente diminuem a secreção de ácido gástrico, sem o ácido gástrico a absorção de B12, ácido fólico, ferro e zinco, além de diminuir e a degradação de alimentos, o que consequentemente dificulta o trabalho para o intestino delgado. Os antibióticos são comumente usados para tratamento de infecções bacterianas, em alguns casos graves é necessário a internação para a eliminação das bactérias que estão em um estado avançado, o uso incorreto dos antibióticos pode chegar a acarretar o uso prolongado desse medicamento que levam a falta de nutrientes por dificultarem a absorção de alguns nutrientes essenciais para o corpo humano, Os antibióticos podem perturbar o equilíbrio da flora intestinal normal, matando bactérias benéficas juntamente com as bactérias patogênicas. Isso pode levar a uma condição chamada disbiose intestinal, na qual há um desequilíbrio entre as diferentes espécies bacterianas no intestino. Os antibióticos causam o desequilíbrio nas bactérias presentes no intestino, e por consequência não conseguem absorver as vitaminas do complexo B (B1, B2, B3, B5, B6, B12) e a vitamina K. Além disso, as fluoroquinolonas e todas as fluoroquinolonas, reduzem os níveis de cálcio e ferro. Tetraciclinas diminuem os níveis de cálcio e magnésio. Antibióticos que contêm trimetoprim diminuem os níveis de ácido fólico. Penicilinas diminuem os níveis de potássio. Aminoglicosídeos, como a gentamicina, podem causar desequilíbrios nos níveis de magnésio, cálcio e potássio. De fato, um estudo revelou que a gentamicina aumenta a excreção de cálcio em 5% e de magnésio em 8,4%. (Farmacêutico digital, “medicamentos que podem diminuir nutrientes”, julho de 2017).
A falta de certos componentes pode gerar doenças e problemas no corpo, como anemia megaloblástica, pela falta de vitamina B12, que ocorre por causa da pouca produção de ácido gástrico advindo do uso contínuo de antiácidos. A falta de ferro por uso de antibiótico causa anemia, sem o ferro a produção de hemoglobina, componente presente dentro das hemácias, não consegue ser produzido corretamente e na quantidade certa, tendo uma hemácia anormal, sendo ela microcítica e homocrômica. O uso de gentamicina aumenta a excreção de cálcio na urina, o que pode causar problemas no osso, porque na falta de cálcio o corpo tira o cálcio dos ossos, podendo causar a longo prazo osteoporose. (LINDER; TAMBOUE; CLEMENTS, 2017)
De fato, o uso de antiácidos e antibióticos são quase que indispensáveis para a saúde populacional, afinal um senhor de idade com hérnia de hiato não pode operar, então para manter a qualidade de vida faz o uso contínuo de antiácido para não sofrer com azias e refluxos gastroesofágicos, já os antibióticos são os únicos capazes de combater bactérias, por mais que atrapalhem a absorção de nutrientes, precisam ser usados para manter o paciente vivo e curá-lo. A grande questão é como usar esses medicamentos sem atrapalhar nos nutrientes que todo corpo precisa, já que eles dificultam sua absorção ou diminuem o nível desses nutrientes? (COSTA, C. M. F. N. et al. “Utilização de medicamentos pelos usuários da atenção primária do Sistema Único de Saúde”. 2017).
Com base nas informações discutidas, é possível concluir que o uso de antiácidos e antibióticos pode ocasionar alterações no estado nutricional dos pacientes, contribuindo para deficiências que, a longo prazo, podem desencadear novos problemas de saúde, mesmo após o término do tratamento. Nesse contexto, a atuação do nutricionista torna-se indispensável para a promoção da saúde e do bem-estar da população, tanto em ambientes hospitalares quanto para pacientes em tratamento domiciliar ou que já tenham feito uso prolongado desses medicamentos. Além disso, a orientação farmacêutica deve ocorrer de forma integrada com a equipe multiprofissional de saúde, garantindo que, ao final do tratamento, o paciente não venha a desenvolver outras complicações decorrentes de desequilíbrios nutricionais.
Em casos de tratamento em casa, é fundamental que o farmacêutico oriente o paciente a buscar acompanhamento nutricional, de forma que o nutricionista possa avaliar individualmente suas necessidades, elaborar planos alimentares adequados e monitorar periodicamente, por meio de exames, a recuperação do estado nutricional. (LINUS PAULING INSTITUTE, 2024)
3. METODOLOGIA
Neste trabalho, foi seguido o padrão da revisão de literatura, foram formuladas questões que implicavam na elaboração do trabalho e em seguida pesquisado e selecionado artigos e sites, de confiança, que sanassem essas questões e dúvidas que foram surgindo conforme a dissertação deste trabalho. Os artigos selecionados não podiam ter mais de dez anos de publicação, e os sites não podiam ter mais de 10 anos da última vez que foram atualizados e que não fosse qualquer um que pudesse inserir informações neles. Esses critérios foram seguidos porque as informações descritas são de extrema importância, e a área da saúde, principalmente, é uma área que sempre vem se atualizando e buscando novas informações.
Para começar o trabalho foi definido o tema, conforme vista a necessidade populacional em entender como antiácidos e antibiótico atrapalham na quantidade de nutrientes presentes no corpo. Em seguida foram pesquisados e revisados, artigos e sites, que explicassem como a absorção de nutrientes funciona e todo o processo, foram pesquisados como que antiácidos e antibióticos funcionam dentro do corpo, em seguida pesquisas sobre como a falta de cada nutriente, no nosso corpo, pode afetar a saúde, e para concluir, foram pesquisados artigos e sites que reforçassem a importância do papel do farmacêutico.
4. RESULTADO E DISCUSSÃO
Para iniciar a dissertação com base no tema “A Interação Entre Fármacos e Nutrientes: Necessidade de reposição nutricional após o uso de antiácidos e antibióticos”, foram reunidas informações sobre o funcionamento do sistema gastrointestinal, com ênfase no processo de absorção de nutrientes. Constatou-se que o estômago desempenha papel fundamental na degradação dos alimentos por meio da ação do ácido gástrico, facilitando a absorção adequada dos nutrientes no intestino. Contudo, mesmo em condições normais, o organismo humano apresenta certa dificuldade na absorção eficiente de todos os nutrientes necessários, e o uso de determinados medicamentos, como antiácidos e antibióticos, tende a agravar essa limitação.
Foram então analisados os efeitos específicos desses fármacos: os antiácidos, ao reduzirem a secreção do suco gástrico, prejudicam a digestão inicial dos alimentos, comprometendo a absorção subsequente no intestino; já os antibióticos alteram a microbiota intestinal ao eliminar não apenas bactérias patogênicas, mas também as benéficas, essenciais para o equilíbrio intestinal e a absorção de certos nutrientes. Essa interferência pode ocorrer tanto em pacientes hospitalizados quanto em uso domiciliar, sendo contínuo ou pontual. Ainda assim, vale destacar que, para muitos pacientes, o uso desses medicamentos é indispensável, representando um fator decisivo para a recuperação da saúde e, em casos mais graves, para a preservação da vida. (Farmacêutico Digital, julho de 2017)
Diante desse cenário, o papel do farmacêutico hospitalar torna-se essencial, não apenas na seleção e administração correta dos medicamentos, mas também no monitoramento das possíveis consequências nutricionais associadas à terapêutica medicamentosa. O farmacêutico, em conjunto com a equipe multiprofissional, deve avaliar individualmente cada paciente, observando como o organismo responde ao uso dos fármacos e identificando, por meio de exames laboratoriais, possíveis deficiências nutricionais resultantes desse processo.
Um dos grandes desafios enfrentados está relacionado à adesão do paciente à reposição nutricional. Muitas vezes, a alimentação recomendada não é seguida corretamente, seja por restrições alimentares, dificuldades socioeconômicas ou falta de entendimento sobre a importância dessa etapa. Nesses casos, cabe ao farmacêutico, como profissional capacitado no cuidado farmacoterapêutico, atuar de forma ativa na educação em saúde, promovendo orientações claras sobre os impactos da medicação na absorção de nutrientes e a importância de um acompanhamento contínuo, com exames periódicos e reavaliações constantes.
Portanto, a atuação do farmacêutico hospitalar vai além da gestão de medicamentos. Ele desempenha papel fundamental na promoção da saúde integral do paciente, sendo peça-chave na identificação precoce de riscos nutricionais associados à farmacoterapia e na implementação de estratégias que visem à recuperação completa, não apenas da doença, mas também do estado nutricional e da qualidade de vida. (LINUS PAULING INSTITUTE, 2024)
5. CONCLUSÃO
O objetivo deste trabalho foi demonstrar como os antiácidos e os antibióticos impactam a absorção de nutrientes no organismo. A partir da análise realizada, foi possível concluir que os antiácidos reduzem a secreção de ácido gástrico, comprometendo a digestão adequada dos alimentos no estômago. Como consequência, o intestino delgado, principal local de absorção de nutrientes, encontra dificuldades para absorver corretamente os componentes alimentares. Já os antibióticos afetam diretamente a microbiota intestinal, reduzindo a presença de bactérias benéficas, fundamentais para a degradação de substâncias e a absorção eficiente de diversos nutrientes.
Embora o uso desses medicamentos muitas vezes seja indispensável no tratamento de doenças e na manutenção da saúde, é essencial que haja uma estratégia paralela de monitoramento e reposição nutricional. Nesse contexto, o papel do farmacêutico hospitalar é fundamental, não apenas no acompanhamento do uso racional de medicamentos, mas também na identificação dos possíveis impactos nutricionais associados à farmacoterapia.
Cabe ao farmacêutico, em conjunto com a equipe multidisciplinar, avaliar o histórico medicamentoso do paciente, solicitar exames laboratoriais que identifiquem possíveis carências nutricionais e colaborar na definição de estratégias de reposição, seja por meio de suplementação oral, intravenosa ou ajustes alimentares. O acompanhamento deve se estender ao longo do tratamento e também no período pós terapêutico, garantindo que o paciente recupere seu equilíbrio nutricional de forma segura e eficaz.
Além disso, é responsabilidade do farmacêutico orientar o paciente sobre a importância das avaliações periódicas em ambiente hospitalar ou ambulatorial, com foco na eficácia do plano nutricional e na adesão às recomendações prescritas. O olhar clínico ampliado e proativo do farmacêutico é, portanto, essencial para assegurar que o tratamento medicamentoso não comprometa a saúde nutricional e a qualidade de vida do paciente.
6. REFERÊNCIAS
LINUS PAULING INSTITUTE. Drug-nutrient interactions: Antacids and gastric acid suppressants. Oregon State University, 2024.
Farmacêutico digital, “medicamentos que podem diminuir nutrientes”, Julho de 2017.
COSTA, C. M. F. N. et al. Utilização de medicamentos pelos usuários da atenção primária do Sistema Único de Saúde. Rev Saúde Pública. 51 Supl 2:18s. 2017.
PEREIRA, Tatane Nunes; MONTEIRO, Renata Alves; SANTOS, Leonor Maria Pacheco. Alimentación y nutrición en atención primaria en Brasil. Gaceta Sanitária, Barcelona, v. 32, n. 3, p. 297–303, 2018
ELSEVIER. Nutritional foundations and clinical applications: a nursing approach. 7. ed. St. Louis: Elsevier, 2020. Cap. 11 – Drug–nutrient interactions.
GUGLIELMI, G. Underfeeding and antibiotics alter the gut microbiota and impair nutrient absorption. MicrobiomePost, 21 jul. 2020.
LINDER, L.; TAMBOUE, C.; CLEMENTS, J. N. Drug-Induced Vitamin B₁₂ Deficiency: A Focus on Proton Pump Inhibitors and Histamine-2 Antagonists.Journal of Pharmacy Practice, v. 30, n. 6, p. 639-642, dez. 2017. DOI: 10.1177/0897190016663092.