APLICAÇÃO DE MÉTRICAS AMBIENTAIS NA GOVERNANÇA DE TIC PARA GARANTIR EFICIÊNCIA E INOVAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202507242142


Raimundo Celestino do Amaral Junior
Charlhes das Graças Vilhena do Nascimento
Orientador: Prof. Me. Gleisson Mendes Amaral


Resumo

A crescente preocupação com sustentabilidade tem impulsionado organizações a incorporar práticas ambientalmente responsáveis, inclusive no setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Este estudo investiga a aplicação de métricas ambientais na governança de TIC como forma de promover eficiência operacional e inovação sustentável. Por meio de revisão bibliográfica e análise qualitativa, mapeiam-se frameworks e indicadores verdes utilizados por empresas e instituições. Os resultados apontam para a necessidade de integração entre estratégias de TI e metas de sustentabilidade, propondo recomendações práticas para uma governança de TIC ambientalmente eficaz.

Palavras-chave: Governança de TIC, Sustentabilidade, Métricas Ambientais, TI Verde, Eficiência Energética.

1. Introdução

Nas últimas décadas, a ascensão da transformação digital remodelou de forma profunda os modos de produção, comunicação e organização social. Esse avanço, embora repleto de benefícios e inovações, também trouxe consigo desafios complexos e pouco visíveis à primeira vista, como o crescente impacto ambiental das infraestruturas tecnológicas. A produção em larga escala de dispositivos eletrônicos, o funcionamento contínuo de data centers e o consumo energético das redes digitais são hoje elementos centrais no debate sobre sustentabilidade no século XXI.

O modelo atual de desenvolvimento tecnológico, alicerçado na intensificação do uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), é responsável por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa e do consumo de recursos naturais não renováveis. Segundo dados recentes da International Energy Agency (IEA), os data centers e redes de transmissão podem responder por até 4% da demanda mundial de eletricidade. Esse cenário exige uma reavaliação crítica das práticas de gestão em TIC, que tradicionalmente priorizam a eficiência operacional, a segurança da informação e a competitividade estratégica.

Diante dessa realidade, emerge a necessidade de se repensar a governança de TIC a partir de uma perspectiva ambiental. A governança, entendida como o conjunto de estruturas, processos e mecanismos que garantem o alinhamento da tecnologia com os objetivos organizacionais, precisa incorporar variáveis ambientais que vão além da eficiência técnica e econômica. A inclusão de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) no planejamento e nas métricas de desempenho da TI institucional revela-se uma estratégia essencial para tornar as operações mais transparentes, responsáveis e sustentáveis.

Nesse sentido, a adoção de métricas ambientais aplicadas à governança de TIC desponta como um instrumento promissor. Indicadores como consumo energético, pegada de carbono, taxa de reciclagem de equipamentos, tempo de obsolescência e políticas de descarte sustentável podem oferecer subsídios importantes para a tomada de decisão, tanto no setor público quanto no privado. Esses indicadores possibilitam uma gestão mais consciente dos recursos tecnológicos e alinham as práticas de TIC com os compromissos globais em torno da sustentabilidade e da inovação verde.

Essa proposta se articula com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), especialmente os ODS 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura), ODS 12 (Consumo e Produção Responsáveis) e ODS 13 (Ação contra a Mudança Global do Clima). A incorporação desses princípios à governança de TIC representa uma resposta ética e estratégica às pressões ambientais contemporâneas, promovendo a chamada transformação digital verde, que busca compatibilizar progresso tecnológico com responsabilidade socioambiental.

Além disso, observa-se um movimento crescente de organizações que passam a considerar a sustentabilidade digital como diferencial competitivo e elemento central de sua reputação institucional. Universidades, governos, empresas e startups já começam a adotar práticas de Green IT, computação em nuvem eficiente, prolongamento do ciclo de vida de equipamentos e normativas de descarte ecológico. Tais iniciativas demonstram que é possível — e necessário — integrar os princípios da sustentabilidade à lógica de funcionamento das tecnologias digitais, transformando o setor de TIC em agente ativo de mitigação dos impactos ambientais.

Diante desse panorama, este trabalho tem como objetivo analisar a utilização de métricas ambientais como ferramentas de governança em TIC, avaliando sua contribuição para práticas mais sustentáveis e inovadoras no setor. A proposta visa também compreender como essas métricas podem ser incorporadas ao planejamento estratégico e à cultura organizacional, influenciando diretamente políticas de tecnologia e sustentabilidade. Ao fazê-lo, pretende-se contribuir para a construção de um modelo de governança que não apenas otimize os recursos tecnológicos, mas também respeite os limites ecológicos do planeta.

A metodologia adotada neste estudo é de natureza qualitativa, exploratória e descritiva, com base em revisão bibliográfica e análise documental. A abordagem qualitativa permite uma compreensão mais profunda das inter-relações entre governança, tecnologia e meio ambiente. A vertente exploratória justifica-se pela relativa novidade do tema no campo da governança de TIC, enquanto a dimensão descritiva visa sistematizar conceitos, práticas e métricas já utilizadas em contextos institucionais diversos. Espera-se, com isso, oferecer subsídios teóricos e práticos que fomentem políticas de sustentabilidade tecnológica mais efetivas e alinhadas aos desafios do século XXI.

Dessa forma, ao abordar a governança de TIC sob a ótica da sustentabilidade, este trabalho busca não apenas evidenciar a urgência de práticas mais responsáveis no uso das tecnologias, mas também oferecer caminhos viáveis para a integração de métricas ambientais no processo decisório institucional. Ao propor uma reflexão crítica e fundamentada sobre a incorporação de indicadores ambientais na gestão de TIC, espera-se contribuir para o fortalecimento de uma cultura organizacional mais ética, transparente e comprometida com o futuro do planeta — onde inovação e responsabilidade caminhem lado a lado.

2. Fundamentação Teórica

2.1 Governança de TIC

A Governança de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) representa um conjunto de diretrizes, processos e estruturas que visam assegurar o alinhamento estratégico da tecnologia com os objetivos organizacionais. Segundo Weill e Ross (2006), a governança de TI trata das decisões sobre investimentos em tecnologia, sua responsabilidade e a forma como essas decisões são implementadas. Essa abordagem é fundamental para garantir que os recursos tecnológicos contribuam efetivamente para os resultados da organização, evitando desperdícios e desalinhamentos.

Diversos frameworks têm sido amplamente utilizados para estruturar a governança de TIC nas organizações. O COBIT (Control Objectives for Information and Related Technologies), por exemplo, oferece um modelo de boas práticas para o controle e a governança da tecnologia, sendo reconhecido por sua abordagem orientada a processos e riscos. Já o ITIL (Information Technology Infrastructure Library) é voltado à gestão de serviços de TI, com foco na entrega de valor ao cliente. Complementarmente, a norma ISO/IEC 38500 estabelece princípios para uma boa governança de TI, recomendando que a alta administração assuma responsabilidade pelas decisões tecnológicas (ABNT, 2015).

Contudo, a crescente complexidade das questões ambientais e sociais tem exigido uma expansão do escopo tradicional da governança de TIC. Conforme destaca Calder (2009), a governança de TI não pode mais se limitar a critérios de eficiência operacional, sendo necessário incorporar preocupações éticas, sociais e ambientais nas decisões tecnológicas. Isso inclui desde o consumo de energia em data centers até políticas de descarte responsável de equipamentos eletrônicos.

A integração de critérios ambientais à governança de TIC insere-se na lógica dos princípios ESG (Environmental, Social and Governance), os quais têm ganhado destaque nas práticas corporativas sustentáveis. Segundo Oliveira e Oliveira (2020), “a adoção de métricas ambientais na governança de TIC não apenas fortalece o compromisso institucional com a sustentabilidade, como também contribui para a mitigação de riscos ambientais e reputacionais” (p. 77). Assim, a governança ambiental em TIC passa a ser compreendida como um diferencial competitivo e estratégico.

Além disso, a governança sustentável em TIC dialoga diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os que tratam de inovação, consumo responsável e combate às mudanças climáticas. Para Cruz et al. (2021), as organizações que incorporam os ODS à sua estrutura de governança tecnológica tendem a apresentar maior capacidade de adaptação às exigências regulatórias e sociais, além de se destacarem positivamente perante investidores e stakeholders.

Dessa maneira, é possível afirmar que a governança de TIC está em processo de transformação, deixando de ser uma função meramente técnica e passando a ocupar uma posição estratégica no cumprimento das metas ambientais organizacionais. Ao incorporar métricas ambientais e práticas sustentáveis aos seus processos, a governança tecnológica torna-se um pilar fundamental para a construção de um futuro digital mais ético, eficiente e alinhado às necessidades do planeta.

2.2 TI Verde e Sustentabilidade

A crescente digitalização da sociedade tem elevado significativamente o consumo de energia e a geração de resíduos eletrônicos, tornando a sustentabilidade um imperativo na área de Tecnologia da Informação (TI). Nesse contexto, surge o conceito de TI Verde (ou Green IT), que diz respeito à adoção de práticas e tecnologias que minimizem os impactos ambientais decorrentes do uso, produção e descarte de recursos computacionais. De acordo com Harmon, Demirkan e Raffo (2012), a TI Verde “visa tornar os sistemas de informação mais eficientes do ponto de vista energético e ambiental, sem comprometer a performance e os objetivos organizacionais” (p. 16).

As estratégias de TI Verde incluem ações como a virtualização de servidores, que reduz o número de equipamentos físicos em operação, e o uso de fontes de energia renovável nos data centers, responsáveis por grande parte do consumo energético das organizações. Conforme Murugesan (2008), a TI Verde envolve ainda o design sustentável de hardware e software, com foco na eficiência energética, além de políticas de descarte adequado de equipamentos eletrônicos, que visam reduzir a poluição por metais pesados e componentes tóxicos.

Outro aspecto fundamental da TI Verde é a otimização do ciclo de vida dos dispositivos tecnológicos, promovendo a reutilização, o reaproveitamento e a reciclagem de materiais. Segundo Cruz e Ferreira (2021), “as práticas de Green IT contribuem diretamente para o prolongamento da vida útil dos ativos de TI, além de gerar economias operacionais e ganhos de imagem institucional” (p. 59). Assim, as organizações que adotam essa abordagem tendem a ser mais bem vistas por seus públicos internos e externos, além de estarem melhor preparadas para atender exigências regulatórias ambientais.

A implementação de métricas ambientais em ambientes de TI permite monitorar e avaliar o desempenho ecológico das operações tecnológicas, servindo de base para ações corretivas e para a tomada de decisão estratégica. Indicadores como consumo de energia por servidor, emissão de CO₂, taxa de descarte adequado e índice de eficiência energética são exemplos utilizados para mensurar o impacto ambiental da TI. Para Barbosa e Melo (2022), “a mensuração é o primeiro passo para transformar a gestão ambiental da TI em um processo contínuo e estratégico, e não apenas em ações pontuais” (p. 41).

Além disso, a TI Verde está diretamente relacionada aos princípios da responsabilidade socioambiental e à agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os ODS 12 e 13, que tratam de consumo responsável e ação contra a mudança do clima. A sinergia entre Green IT e sustentabilidade corporativa é reforçada por iniciativas internacionais, como o Green Grid e o Energy Star, que estabelecem diretrizes para eficiência energética e gestão ambiental na área de TI (Murugesan, 2008).

Portanto, a adoção de práticas de TI Verde vai além da economia de recursos — ela representa uma mudança de paradigma na forma como as organizações utilizam e gerenciam a tecnologia. Ao integrar sustentabilidade ao núcleo da infraestrutura tecnológica, é possível não apenas reduzir custos e riscos, mas também agregar valor à marca e cumprir um papel ativo na preservação do meio ambiente. Essa abordagem torna a TI um agente transformador, capaz de impulsionar modelos de negócio mais éticos, inovadores e ambientalmente responsáveis.

2.3 Métricas Ambientais

A crescente demanda por práticas sustentáveis nas organizações tem levado à adoção de métricas ambientais específicas no campo da Tecnologia da Informação (TI). Essas métricas visam mensurar o impacto ambiental das operações digitais e orientar decisões estratégicas para redução de danos ecológicos. A mensuração é fundamental para transformar iniciativas isoladas em políticas consistentes e estruturadas de sustentabilidade digital. Como destacam Santos e Garcia (2021), “sem indicadores claros e objetivos, a gestão ambiental em TI se torna abstrata e de difícil aplicação prática” (p. 91).

Entre os principais indicadores utilizados na avaliação ambiental de infraestruturas de TI, destacam-se o PUE (Power Usage Effectiveness) e o DCiE (Data Center Infrastructure Efficiency). Esses dois indicadores, aplicados principalmente em data centers, mensuram a eficiência do uso de energia em relação ao consumo total do ambiente. O PUE, por exemplo, é obtido dividindo-se a energia total consumida pela instalação pela energia usada apenas pelos equipamentos de TI. Quanto mais próximo de 1, mais eficiente é o consumo energético (Silva et al., 2020).

Outra métrica amplamente utilizada é a pegada de carbono (Carbon Footprint), que avalia a quantidade de gases de efeito estufa emitidos em função das atividades computacionais, como uso de servidores, impressão, transporte de dados e descarte de equipamentos. Essa métrica é relevante por traduzir o impacto ambiental em termos que permitem comparações diretas com metas ambientais estabelecidas por órgãos reguladores e acordos internacionais, como o Acordo de Paris.

O consumo energético por usuário também tem ganhado destaque, especialmente em organizações que adotam o modelo de trabalho híbrido ou remoto. Esse indicador permite avaliar o uso de energia computacional por colaborador, considerando desde o uso de estações de trabalho até acessos à nuvem e redes privadas. De acordo com Vieira e Magalhães (2019), “a análise do consumo energético por usuário permite identificar padrões de desperdício e oportunidades de otimização nos hábitos digitais da organização” (p. 54).

Além desses, há métricas relacionadas ao tempo de obsolescência de equipamentos, à proporção de descarte sustentável e à taxa de reutilização de dispositivos tecnológicos, que ajudam a mensurar o comprometimento das organizações com a economia circular. A avaliação periódica desses indicadores contribui para o planejamento de compras, manutenção e descarte de forma mais eficiente e alinhada a princípios ecológicos.

Importante destacar que as métricas ambientais não devem ser utilizadas apenas como ferramentas de controle, mas também como instrumentos de inovação e transformação organizacional. A análise dessas métricas pode gerar insights valiosos para o redesenho de processos, adoção de tecnologias mais limpas e reconfiguração de políticas internas. Segundo Almeida e Pinheiro (2022), “as métricas sustentáveis, quando bem aplicadas, tornam-se aliadas da inovação, promovendo mudanças culturais e tecnológicas significativas nas instituições” (p. 113).

A consolidação dessas métricas no processo de governança de TIC exige o envolvimento de múltiplos setores da organização, incluindo áreas de tecnologia, meio ambiente, planejamento e recursos humanos. A integração entre essas áreas favorece uma abordagem holística, na qual a sustentabilidade não é um elemento acessório, mas um pilar estratégico. Como aponta o relatório do Centro de Estudos sobre Tecnologias Sustentáveis (CETES), publicado em 2021, “as métricas ambientais são essenciais para uma governança de TI comprometida com os desafios climáticos do presente e do futuro” (p. 38).

Portanto, a adoção e a gestão eficiente de métricas ambientais em TIC representam um passo fundamental para organizações que desejam alinhar sua atuação tecnológica com os princípios da responsabilidade socioambiental. Essas métricas não apenas favorecem a conformidade com legislações e padrões internacionais, como também fortalecem a reputação institucional e a resiliência organizacional frente às demandas da sociedade e do mercado.

3. Metodologia

Este estudo caracteriza-se por uma abordagem de natureza qualitativa, com caráter exploratório e descritivo, adequada à compreensão aprofundada de fenômenos complexos como a incorporação da sustentabilidade na governança de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). A pesquisa qualitativa busca interpretar significados e relações, permitindo a análise subjetiva de conceitos, práticas e diretrizes que compõem a governança verde no contexto das organizações. O caráter exploratório justifica-se pela relativa novidade da temática em ambientes corporativos e acadêmicos, enquanto o caráter descritivo está relacionado à necessidade de sistematizar e compreender as práticas já existentes sobre métricas ambientais aplicadas à TIC.

A estratégia metodológica adotada foi a pesquisa bibliográfica, com base em obras publicadas em livros, artigos científicos, dissertações, teses e relatórios técnicos. Essa escolha visa reunir e interpretar diferentes contribuições teóricas sobre governança de TIC, TI Verde, sustentabilidade tecnológica e uso de métricas ambientais, formando um panorama atualizado sobre o estado da arte da temática. De acordo com Gil (2019), a pesquisa bibliográfica “proporciona o exame de um tema a partir de material já elaborado, constituído principalmente por livros e artigos científicos” (p. 44), sendo essencial para embasar conceitualmente a investigação.

A coleta de dados foi realizada em bases acadêmicas de relevância nacional e internacional, como IEEE Xplore, Scopus, Periódicos CAPES, SciELO e Google Scholar. Foram utilizadas palavras-chave em português e inglês, tais como: “governança de TIC”, “TI Verde”, “sustentabilidade em TI”, “métricas ambientais”, “green IT governance” e “sustainable ICT”. A seleção dos materiais considerou publicações entre os anos de 2015 e 2024, com foco em estudos empíricos, revisões sistemáticas e documentos institucionais que apresentassem práticas, indicadores ou diretrizes voltadas à sustentabilidade digital.

A análise dos dados foi realizada a partir de um modelo categorial, com a identificação e organização dos principais temas recorrentes nas fontes consultadas. As categorias foram definidas com base em três eixos principais: (i) conceitos e fundamentos da governança de TIC sustentável; (ii) práticas e indicadores de TI Verde e métricas ambientais; e (iii) desafios e oportunidades na implementação de métricas sustentáveis em organizações públicas e privadas. Esta técnica permite uma análise sistemática e estruturada do conteúdo, facilitando a síntese das contribuições encontradas na literatura.

Por fim, ressalta-se que este estudo não envolve coleta de dados primários nem participação de seres humanos, estando, portanto, dispensado da submissão a comitês de ética. A proposta está centrada na compreensão crítica e sistematização de dados secundários disponíveis na literatura científica, com o intuito de oferecer uma contribuição teórica relevante à discussão sobre governança de TIC e sustentabilidade ambiental. A metodologia adotada visa garantir a rigorosidade acadêmica e a validade das conclusões, respeitando os princípios éticos e científicos da pesquisa bibliográfica.

4. Resultados e Discussão

A presente pesquisa, de cunho qualitativo e bibliográfico, permitiu identificar um crescente interesse pela temática da TI Verde e da sustentabilidade tecnológica. No entanto, constatou-se que a aplicação prática e sistemática de métricas ambientais na governança de TIC ainda é restrita e pouco consolidada em grande parte das organizações estudadas.

Palavra-chaveNúmero de Artigos encontradosNúmero de Artigos baixados
Governança de TIC2.50025
Sustentabilidade17.00016
TI Verde14.40018
Eficiência Energética16.60022
Métricas Ambientais13.10025
Fonte: Elaboração dos autores (2025).

A análise do material coletado revelou que, embora os conceitos relacionados à sustentabilidade e à responsabilidade socioambiental estejam cada vez mais presentes nos discursos corporativos, sua efetiva incorporação aos processos de governança tecnológica ainda enfrenta resistências e desafios estruturais. Muitos gestores de TI ainda priorizam fatores como custo, desempenho e segurança, em detrimento dos impactos ambientais associados às operações tecnológicas.

Por outro lado, organizações de referência, especialmente no setor bancário, educacional e de tecnologia da informação, têm avançado na integração de indicadores ambientais aos seus relatórios de governança corporativa. Esses indicadores abrangem aspectos como consumo energético de data centers, emissões de carbono associadas à operação de TI, volume de resíduos eletrônicos e percentual de reaproveitamento de equipamentos.

Entre as boas práticas identificadas na literatura, destacam-se a implementação de métricas de consumo energético em tempo real, por meio de sensores e sistemas de monitoramento inteligente. Essa prática permite um controle mais eficiente do uso de energia, contribuindo para a redução do desperdício e para a tomada de decisões mais sustentáveis no âmbito da infraestrutura tecnológica.

Outra prática recorrente é a inclusão de indicadores tecnológicos nos relatórios ESG (ambiental, social e governança), os quais representam uma tendência crescente no mercado financeiro e entre investidores. A presença de métricas relacionadas à eficiência energética, descarte de equipamentos eletrônicos e políticas de compras sustentáveis reforça o compromisso institucional com a sustentabilidade.

A adoção de frameworks específicos, como o Green IT Balanced Scorecard, também tem se mostrado eficiente na articulação entre desempenho tecnológico e responsabilidade ambiental. Esse modelo permite alinhar as metas de TI aos objetivos ambientais da organização, por meio de indicadores balanceados e integrados à estratégia corporativa.

Verificou-se que as organizações que incorporam essas práticas e métricas à sua governança de TIC relatam benefícios concretos. Entre os principais resultados observados estão a melhoria da eficiência energética, a redução de custos operacionais e o fortalecimento da reputação institucional, especialmente diante de stakeholders sensíveis às questões ambientais.

Além disso, a integração entre governança de TIC e sustentabilidade tem estimulado processos de inovação interna. A busca por soluções mais limpas e eficientes abre espaço para o desenvolvimento de softwares com menor consumo energético, virtualização de servidores e reconfiguração de infraestruturas com base em critérios ecológicos.

Esses achados reforçam a hipótese de que a sustentabilidade digital pode e deve ser um vetor de transformação organizacional. Quando bem implementada, a governança de TIC orientada por métricas ambientais não apenas reduz impactos negativos ao meio ambiente, mas também agrega valor competitivo à organização.

Em suma, a análise dos estudos aponta que, embora haja avanços pontuais, a aplicação de métricas ambientais na governança de TIC ainda é incipiente. A disseminação de boas práticas, o investimento em capacitação e o fortalecimento de políticas institucionais são medidas fundamentais para promover uma governança mais verde, transparente e alinhada com os desafios da transformação digital sustentável.

5. Conclusão

A evolução das tecnologias da informação e comunicação impõe às organizações o desafio de repensar suas práticas de governança, incorporando novos critérios que respondam às demandas ambientais contemporâneas. Neste sentido, a governança de TIC deve ultrapassar os limites tradicionais de gestão de riscos e alinhamento estratégico, adotando uma postura mais ampla, que contemple também a responsabilidade socioambiental como elemento central de sua atuação. A sustentabilidade digital, nesse contexto, não é apenas uma tendência, mas uma exigência para a perenidade e legitimidade institucional.

Os resultados deste estudo demonstram que a adoção de métricas ambientais no contexto da governança de TIC é um caminho viável e necessário para o fortalecimento de políticas organizacionais sustentáveis. Indicadores como PUE, DCiE, pegada de carbono e consumo energético por usuário permitem diagnosticar o impacto ambiental das operações tecnológicas e estabelecer metas claras de redução. Além disso, o uso de tais métricas facilita a transparência institucional, favorecendo a prestação de contas e a construção de uma imagem corporativa mais responsável.

Com base na análise bibliográfica realizada, recomenda-se a implementação de um painel institucional de métricas ambientais em TI, que possibilite o monitoramento contínuo e sistemático do desempenho ecológico da infraestrutura tecnológica. Sugere-se ainda que essas informações sejam integradas aos relatórios de governança corporativa, permitindo maior visibilidade e engajamento das partes interessadas, inclusive da alta administração. A transparência desses dados é essencial para a credibilidade das iniciativas sustentáveis e para a consolidação de uma cultura organizacional voltada à transformação verde.

Outro ponto fundamental identificado refere-se à capacitação de gestores e equipes técnicas para atuarem com foco em sustentabilidade digital. O fortalecimento de competências nessa área é indispensável para que as decisões tecnológicas estejam alinhadas aos princípios ESG (Environmental, Social and Governance), promovendo soluções inovadoras, éticas e sustentáveis. Assim, a governança de TIC deixa de ser apenas um campo técnico e passa a atuar de maneira integrada com os objetivos ambientais globais, como os estabelecidos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Conclui-se, portanto, que a governança de TIC sustentável representa uma oportunidade estratégica para as organizações enfrentarem os desafios da transição ecológica, contribuindo para um futuro digital mais equilibrado e consciente. Ao adotar práticas e métricas ambientais em suas rotinas de gestão, as instituições não apenas reduzem seu impacto ambiental, mas também agregam valor à sua atuação, posicionando-se de forma proativa diante das exigências sociais, regulatórias e de mercado. A construção de uma cultura digital sustentável depende, sobretudo, do comprometimento com a inovação responsável e da adoção de ferramentas que integrem desempenho tecnológico e sustentabilidade

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