EDUCAÇÃO FINANCEIRA INFANTOJUVENIL: JOGOS EDUCATIVOS, METODOLOGIAS INOVADORAS E POLÍTICAS PÚBLICAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202507101442


Luan Antenor Mangabeira de Souza1
Bartolomeu Miranda Pereira2
Bruno Matsui de Paula3
Leonor Bernadete Aleixo dos Santos4
Márcio Marques Gonçalves5


RESUMO 

O consumo moderno, impulsionado pelos avanços tecnológicos e pela facilidade de acesso ao crédito, tem gerado desafios significativos, como o aumento da inadimplência e a desorganização financeira. Este artigo destaca a importância da educação financeira desde a infância como ferramenta essencial para fomentar o consumo consciente e a gestão responsável dos recursos. Através de metodologias inovadoras, como jogos educativos e programas como o “Aprender Valor”, crianças e adolescentes têm a oportunidade de aprender conceitos fundamentais de planejamento, poupança e uso do crédito. O estudo também analisa experiências internacionais, como as implementadas na Finlândia, no Canadá e em Singapura, onde a educação financeira integrada ao currículo escolar resultou em melhor desempenho acadêmico e decisões financeiras mais conscientes. No contexto brasileiro, a adoção de políticas públicas e estratégias educacionais é fundamental para reverter o quadro de endividamento e inadimplência. A educação financeira desde a infância não apenas prepara os jovens para os desafios financeiros futuros, mas também contribui para o desenvolvimento econômico e social do país, promovendo uma relação mais saudável e sustentável com o dinheiro. 

Palavras-chave: gestão econômica, metodologias educativas, administração financeira. 

RESUME 

Modern consumption, driven by technological advancements and easy access to credit, has led to significant challenges, such as increased default rates and financial disorganization. This article highlights the importance of financial education from early childhood as an essential tool to foster cônscios consumption and responsible resource management. Through innovative methodologies, such as educational games and programs like “Aprender Valor,” children and adolescents have the opportunity to learn fundamental concepts of planning, saving, and credit use. The study also analyzes international experiences, such as those implemented in Finland, Canada, and Singapore, where integrating financial education into the school curriculum resulted in better academic performance and more conscious financial decisions. In the Brazilian context, the adoption of public policies and educational strategies is essential to reverse the scenario of debt and default. Financial education from an early age not only prepares young people for future financial challenges but also contributes to the country’s economic and social development by promoting a healthier and more sustainable relationship with money. 

Keywords: economic management, educational methodologies, financial administration. 

INTRODUÇÃO 

O consumo é uma prática intrínseca à sociedade moderna, influenciado por fatores econômicos, culturais e tecnológicos que moldam o comportamento dos indivíduos. No cenário atual, a exposição a produtos e serviços ocorre de maneira intensa e diversificada, seja por meio de propagandas virtuais, como comerciais em redes sociais e sites, ou por meio de interações presenciais, como vitrines e promoções em estabelecimentos físicos. Essa dinâmica de consumo, aliada à facilidade de acesso a diversas formas de pagamento, tem transformado a relação das pessoas com o dinheiro e o crédito, gerando tanto oportunidades quanto desafios. No entanto, a falta de educação financeira e o uso inadequado desses recursos podem levar a consequências negativas, como o endividamento e a inadimplência, impactando não apenas a vida dos indivíduos, mas também a economia como um todo. 

O ato de consumir um produto é apresentado às pessoas de forma virtual, por meio de comerciais de televisão, vídeos em sites e redes sociais, bem como de anúncios, e de forma presencial, com o contato direto entre o meio de anúncio e o consumidor em potencial (CAMILOTI et al., 2011). Esse consumo refere-se à aquisição de um objeto físico ou virtual por meio de sua compra, no entanto, essa compra pode ser realizada por qualquer indivíduo que possua o quantitativo monetário disponível, no formato de pagamento aceito (GRANJEIRO e SANTOS, 2017). Atos como esses, porém, podem ser prejudiciais a curto e longo prazo. 

Esse poder aquisitivo, nos tempos atuais, pode ser executado de várias formas, entre estas, os pagamentos conhecidos como crédito à vista e parcelado, com a utilização de cartões virtuais e físicos, crediário ou mais conhecido como carnê, boleto bancário, transferências, PIX e ainda o mais utilizado historicamente, dinheiro físico (LEÃO e SOTTO 2019). As formas de pagamento diferem-se basicamente, entre virtual e físico, as virtuais usualmente possuem um limite que depende de avaliação de poder aquisitivo do possuidor, realizada pelo banco (KASZNAR, 2015). 

Entretanto, embora exista um limite de crédito disponível para utilização, esse valor pode não refletir o poder aquisitivo do portador do cartão, tampouco seu nível de educação financeira (TIRYAKI et al., 2017). Dessa forma, é possível que ocorra o comprometimento do crédito, resultando em inadimplência devido à desorganização financeira do usuário. Quando não há recursos suficientes para o pagamento do valor utilizado, incidem multas aplicadas pelo provedor, somadas ao valor pendente. Esse cenário pode levar o usuário à condição de inadimplente em determinado período (MARQUES e FRADE, 2003). 

Situações como essa são frequentes no Brasil. De acordo com o Serasa (2024), houve um aumento significativo no número de inadimplentes entre 2023 e 2024. Até novembro de 2024, 45,51% da população brasileira encontrava-se inadimplente, sendo 35% composta por pessoas entre 41 e 60 anos, 33,8% por indivíduos entre 26 e 40 anos, 11,7% por pessoas com até 16 anos e 19,4% por indivíduos acima de 60 anos. Nesse contexto, observa-se que aproximadamente metade da população apresenta dificuldades na gestão financeira de seus consumos, gastos e investimentos. 

A administração financeira, e consequentemente a educação financeira, não são temas amplamente discutidos na sociedade, especialmente quando comparados à influência do consumo de produtos que, muitas vezes, são desnecessários (DOREA et al., 2018). 

A inadimplência abrange não apenas adultos e idosos, mas também adolescentes e jovens que, muitas vezes, têm acesso a um limite de crédito em instituições bancárias, mas não possuem fonte de renda própria para arcar com seus consumos (JIANG e DUNN, 2013). A apresentação de métodos de administração financeira para esse público influencia positivamente o seu cotidiano, especialmente durante a educação básica (BARROS et al., 2023). No Brasil e em outros países, crianças e jovens já podem ter acesso a aplicativos bancários e a crédito para a realização de compras, o que pode ser perigoso, considerando a possibilidade de ausência de monitoramento e orientação no uso dos recursos financeiros (LACHANCE, 2012). 

A educação financeira é fundamental para promover um efeito contínuo nas famílias brasileiras, por meio do incentivo ao consumo consciente e à administração financeira adaptada ao poder aquisitivo de cada indivíduo (GONÇALVES, 2022). Nesse contexto, este estudo tem como objetivo reunir metodologias de ensino de educação financeira voltadas para o público infantil, com o intuito de direcionar essa aprendizagem a um grupo que futuramente integrará a sociedade civil e adquirirá poder aquisitivo por meio de sua formação acadêmica e inserção no mercado de trabalho. A disseminação desses estudos contribui para ampliar o diálogo sobre o tema, promovendo maior visibilidade a um assunto de extrema relevância para a economia brasileira, ao garantir práticas de consumo e fluxo financeiro mais seguros para a população (APPLEYARD e ROWLINGSON, 2013). 

METODOLOGIAS, JOGOS E ESTRATÉGIAS PARA O LETRAMENTO FINANCEIRO INFANTIL 

No Brasil, considera-se criança o indivíduo com até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquele com idade entre 12 e 18 anos, conforme estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de julho de 1990) (BRASIL, 1990). De acordo com Allsop et al. (2020), indivíduos com menos de 18 anos são diretamente influenciados pelo comportamento parental ou pela figura responsável no que se refere à educação financeira, sendo a família um agente fundamental para a formação desse conhecimento. 

Para uma educação infantil que inclua o letramento financeiro, é fundamental tornar o ambiente de vivência do indivíduo consciente de sua importância, de forma que a aprendizagem ocorra em um espaço que favoreça tanto a assimilação do conteúdo quanto a prática (SILVA, 2016). O Banco Central do Brasil (BC) destaca que o letramento financeiro é essencial para o desenvolvimento do indivíduo, tanto no âmbito familiar quanto social. O BC é responsável por programas como o Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) (FORTE, 2020). O Aprender Valor, que faz parte do ENEF, é gratuito, possui participação voluntária e é voltado para redes de ensino, com o objetivo de introduzir a educação financeira no ensino fundamental. Até o momento, 24 mil escolas, em 56% dos municípios brasileiros, estão matriculadas no programa. 

No programa Aprender Valor, docentes e discentes aprendem a partir de um tripé de ensino denominado PLA-POU-CRÉ. O “PLA” refere-se ao planejamento do uso dos recursos, o “POU” aborda a ideia saudável de poupar, e o “CRÉ” orienta o uso consciente do crédito disponível, culminando em uma avaliação de aprendizagem. Além disso, há cursos voltados para o letramento financeiro relacionado a dívidas, com o objetivo de preveni-las e compreendê-las, como os cursos oferecidos na plataforma Meu Bolso em Dia, desenvolvida em parceria entre o Banco Central (BC) e a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN). 

A adoção de uma metodologia de educação financeira é benéfica para o bem-estar humano, uma vez que previne o estresse financeiro, frequentemente causado por situações preocupantes que induzem à ansiedade (KOSMINSKY et al., 2020). Nesse contexto, a educação financeira, desde os níveis básicos de ensino, deveria ser inserida de forma obrigatória na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com o objetivo de também promover a saúde psicológica dos estudantes, preparando-os para ingressar no mercado de trabalho, onde precisarão gerenciar sua vida financeira e a de suas respectivas famílias. 

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) avalia o desempenho dos estudantes em matemática, leitura e ciências. Até 2022, o Brasil apresentava uma média de 379 em matemática, abaixo da média geral dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que era de 489. Ressalta-se que a avaliação do PISA é realizada com estudantes de até 15 anos de idade. Nessa faixa etária, o ambiente em que o indivíduo está inserido é crucial para sua formação pessoal e profissional. A compreensão básica de matemática é, portanto, essencial para a administração financeira (SERIDO e DEENANATH, 2016). 

Jogos de tabuleiro e digitais também podem ser utilizados como ferramentas para o entendimento de tópicos financeiros de forma lúdica e interativa, permitindo que crianças aprendam sobre mercado e dinheiro, enquanto interagem com outras crianças, jovens e adultos (FIGUEIREDO e BEGOSSO, 2020). Os jogos são alternativas de aprendizado consideradas ideais para desafiar e envolver o jogador em um contexto, inserindo-o em uma narrativa em que ele é um dos personagens principais (MACEDO et al., 2005). Dessa forma, a combinação de jogos com aprendizado é eficaz para motivar e desenvolver habilidades como interação, administração do tempo, raciocínio lógico e conhecimento em diferentes faixas etárias (GIRAFFA et al., 2018). 

A inserção de jogos na educação é uma abordagem evidenciada para introduzir o tema financeiro. Essa experiência pode tornar o aprendizado mais acessível, ao contribuir também para o ensino de matemática, como demonstrado pelo jogo desenvolvido por Rosetti Junior et al. (2015), do Instituto Federal do Espírito Santo. Neste estudo, foi criado um jogo com a moeda e o dinheiro como tema, surgido da necessidade de abordar um tópico que não é obrigatório nas escolas brasileiras. O jogo é dividido em três etapas, completando um percurso de vinte casas com vinte e cinco perguntas sobre moeda, dinheiro, descontos, parcelamento e juros. 

Em outro jogo, Leite et al. (2020) apresentam um jogo virtual denominado No$$o Dinheiro, que utiliza figuras de cédulas e moedas. O jogador deve selecionar a opção que corresponde ao nome da cédula ou moeda apresentada. Em outras questões do jogo, é necessário somar as cédulas e moedas exibidas, além de combinar notas, como no caso de multiplicá-las para simular a aquisição de um produto. De acordo com o estudo, realizado com crianças do ensino fundamental I e II, à medida que o jogador avança nas fases, ele se sente mais desafiado, o que, em algumas situações, levou à necessidade de utilizar lápis e papel para resolver os cálculos matemáticos. 

Em um jogo virtual desenvolvido também pelo Instituto Federal do Espírito Santo, intitulado Finance Game, o jogador administra uma lanchonete, gerenciando as finanças por meio de compras e comparação de preços, sendo desafiado a tomar decisões que promovam o consumo consciente. O jogo inclui outros cenários, como a casa e o banco, nos quais o jogador deve comprar imóveis, alimentos, roupas e lidar com contas de água, luz e telefone, além de questões relacionadas a multas, juros e empréstimos. O jogo foi bem avaliado por discentes, com idades entre 12 e 15 anos, e por especialistas, com a intenção de disponibilizá-lo oficialmente em plataformas virtuais e dispositivos eletrônicos (TEIXEIRA JUNIOR et al., 2015). 

O jogo Pecunia, desenvolvido pela Universidade de Athabasca, no Canadá, insere o jogador na vida de um jovem adulto de 18 anos que está começando a vida adulta, sendo necessário tomar decisões corretas e erradas para adquirir informações. O objetivo do jogo é demonstrar as consequências das escolhas feitas durante o jogo, apresentando as decisões consideradas boas como o caminho para uma vida financeira estável (JONES et al., 2014). O jogo foi utilizado por crianças, adolescentes e adultos de até 55 anos, oferecendo uma alternativa que abrange uma faixa etária mais ampla, ao proporcionar também a interação entre diferentes idades. 

Jogos eletrônicos e educativos podem ter acesso facilitado ou dificultado, dependendo das circunstâncias. No entanto, ao considerar a realidade das escolas públicas brasileiras, o uso de jogos criativos e físicos se torna mais viável, uma vez que o acesso à tecnologia pode ser limitado ou obsoleto devido à falta de manutenção (BRAGA e DANTAS, 2019). Em uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília, foi desenvolvido o jogo Desafios Financeiros, destinado a escolas públicas para indivíduos entre 14 e 18 anos, com o objetivo de induzir o pensamento crítico e promover a conscientização sobre uma vida adulta e financeira saudável (CARVALHO et al., 2017). 

O Desafios Financeiros é composto por materiais físicos, como caixa, cartas e fichas, em um sistema para até seis jogadores. O jogo oferece a possibilidade de cada jogador assumir uma profissão, na qual ele deve pagar as despesas de uma residência fictícia, além de interagir com os demais jogadores e seus respectivos personagens. A avaliação do jogo pelos discentes participantes, assim como pelos docentes, foi positiva, especialmente quando os alunos já possuíam um conhecimento básico de educação financeira. Ademais, surgiu a sugestão de utilizar o jogo como parte do aprendizado formal em sala de aula, uma vez que ele contribui para o desenvolvimento de trabalho colaborativo entre os alunos. 

As técnicas criativas para a produção de jogos físicos são variadas. Em projetos da Universidade Federal de Campina Grande, foram realizadas atividades com cerca de 400 alunos, com idades entre 7 e 11 anos, na cidade de Sousa, na Paraíba. Entre os projetos desenvolvidos, destacam-se os que abordam o orçamento familiar, utilizando imagens de itens domésticos rotineiros, nos quais as crianças precisavam determinar o preço de cada item. O valor mais próximo ao real ganhava o jogo. Em outra atividade, as crianças tiveram a oportunidade de estudar o ato de economizar, distinguindo itens essenciais de itens desnecessários no momento das compras (VENTURA et al., 2018). 

Os jogos físicos ou virtuais são essenciais para o exercício lúdico da comunicação e do aprendizado infantil, ao promover o contato da criança e do adolescente com fontes de conhecimento que transcendem as salas de aula (AVELLAR, 2010). O aprendizado financeiro pode ser facilitado por conceitos matemáticos básicos, como soma, subtração e contagem, conforme abordado por Cascalho et al. (2013) em sua pesquisa, na qual foram desenvolvidos jogos para apresentar conceitos matemáticos, como a identificação de números, contagem e organização dos números em ordem crescente e decrescente. Nesse contexto, também foi proposto um exercício para que o aluno identificasse os números ausentes na sequência, o que estimula o pensamento lógico. Os jogos foram realizados com a participação de crianças de 4 a 10 anos, sendo adaptados à realidade de cada faixa etária. 

ABORDAGENS GLOBAIS PARA A EDUCAÇÃO FINANCEIRA E SEU IMPACTO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL  

Mundialmente, alguns dos países que ocupam as primeiras posições no PISA adotam a educação financeira como disciplina obrigatória desde o ensino infantil até o médio. Outros países, com altas colocações, implementaram programas de iniciativa própria voltados à educação financeira para o público infantil e juvenil. A Finlândia e o Canadá, que possuem disciplinas obrigatórias de educação financeira para crianças, ocuparam o segundo e terceiro lugares, respectivamente, na média de matemática no PISA 2018. Singapura, que ocupou o primeiro lugar, manteve essa posição na edição de 2022. 

Na Finlândia, o consumismo, a gestão financeira pessoal e familiar, incluindo o controle das contas domésticas, são abordados em disciplinas vinculadas aos estudos sociais. O Conselho Nacional de Educação do país (National Board of Education) inclui esses temas em seu escopo, tornando-os obrigatórios para a educação primária e secundária, pois são considerados cruciais para o desenvolvimento infantil (LUUKKANEN e UUSITALO, 2019). A integração da matemática com a educação financeira é promissora para o desenvolvimento educacional (TEZEL, 2015). No Canadá, a Agência de Consumo Financeiro (FINANCIAL CONSUMER AGENCY OF CANADA, 

2002) considera que o fornecimento de informações sobre educação financeira é essencial para a tomada de decisões corretas, desde que essas informações sejam fornecidas no momento adequado. 

Estudos no Canadá afirmam que o comportamento financeiro e a resolução de problemas devem ser o foco da educação financeira, a fim de ajudar o indivíduo a atingir objetivos que exigem investimentos financeiros para serem alcançados (MORRIS et al., 2022). Apesar de a educação financeira ser aplicada em nível nacional, o Canadá possui planos futuros para o desenvolvimento de um currículo escolar voltado para a educação do consumo, abordando conceitos de consumismo em sociedade, decisões sábias e mercado (MCGREGOR, 2018). O consumo também é tratado como algo influenciável, com o ambiente de vivência sendo uma variável importante, podendo ter efeitos positivos ou negativos sobre o indivíduo, sendo os pais ou responsáveis desempenhando um papel fundamental nesse processo (ARIFFIN et al., 2017). 

Os Estados Unidos da América, por meio da implementação de educação financeira no currículo escolar dos ensinos fundamental II e médio, apresentaram resultados considerados positivos, com avanços no aprendizado de matemática (SALAS-VELASCO et al., 2020). O letramento financeiro é altamente correlacionado com disciplinas de cunho matemático e econômico, desde o ensino fundamental até a educação superior. Sua ausência é considerada extremamente grave, especialmente para as minorias da sociedade (LUSARDI e MITCHELL, 2010). No país, estudos indicam que indivíduos com comportamentos financeiros adequados tendem a ser mais felizes, e pessoas mais felizes, por sua vez, tendem a tomar decisões financeiras mais racionais (KHAN et al., 2021). 

Singapura está entre os primeiros lugares nas avaliações da PISA, no que tange ao ensino e aprendizado de matemática. No país, estudos afirmam que a implementação de educação financeira é essencial para o desenvolvimento da compreensão do mundo financeiro, o que, por sua vez, permite tomadas de decisões racionais (BARUA et al., 2018). Estima-se que 40% da população de Singapura possua letramento financeiro, o que influencia escolhas de bons investimentos. No entanto, essa porcentagem é inferior em grupos como mulheres, pessoas com baixo nível educacional e desempregados (SCONTI e FERNANDEZ, 2023). 

PASSO INICIAL PARA O BRASIL 

É evidente que o Brasil enfrenta desafios significativos para garantir à população uma vida financeira segura e equilibrada. A educação financeira surge como um pilar essencial nesse processo, sendo fundamental sua implementação e prática de forma sistemática e acessível. Para que isso ocorra, é necessário que o governo e as instituições educacionais assumam um papel ativo, promovendo a educação financeira como parte integrante do currículo escolar, desde os anos iniciais do ensino fundamental. Essa prática não apenas contribui para a formação de cidadãos financeiramente conscientes, mas também influencia positivamente o contexto familiar, onde o comportamento financeiro dos pais e responsáveis pode servir de modelo para as crianças. 

Como primeiro passo, é imprescindível a inserção do letramento financeiro no sistema educacional brasileiro, de forma obrigatória e adaptada às diferentes realidades regionais. A utilização de metodologias inovadoras e o acesso à tecnologia são elementos-chave para o sucesso dessa iniciativa. A educação financeira pode ser aplicada em diversos níveis educacionais, com abordagens que evoluem em complexidade conforme a faixa etária e o desenvolvimento dos estudantes. No ensino fundamental, por exemplo, atividades lúdicas, como jogos com moedas e notas de papel, pinturas e recortes, podem ser utilizadas para introduzir conceitos básicos sobre o dinheiro e seu uso. Já no ensino médio, é possível abordar temas mais complexos, como planejamento financeiro, negociações, endividamento, juros e outros termos comuns no mundo financeiro. 

A experiência de outros países, como Finlândia, Canadá e Singapura, demonstra que a integração da educação financeira ao currículo escolar traz resultados positivos, não apenas no desempenho acadêmico, mas também na formação de indivíduos mais preparados para tomar decisões financeiras conscientes. No Brasil, a adoção dessas práticas pode transformar a relação da população com o dinheiro, promovendo hábitos saudáveis de consumo e gestão financeira. Ao combinar o aprendizado teórico com atividades dinâmicas e contextualizadas, o processo educacional se torna mais envolvente e eficaz, preparando os estudantes para os desafios financeiros que enfrentarão ao longo da vida. 

Portanto, a implementação da educação financeira nas escolas brasileiras não é apenas uma necessidade, mas uma oportunidade para construir uma sociedade mais consciente, equilibrada e preparada para o futuro. A educação financeira, quando praticada desde cedo, tem o potencial de transformar vidas, fortalecer famílias e contribuir para o desenvolvimento econômico do país. 

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1Graduando de Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Amazonas 
E-mail: luantenor@hotmail.com
2Mestre em Contabilidade e Controladoria, professor e orientador do Departamento de Contabilidade da Universidade Federal do Amazonas E-mail: bart_pereira@hotmail.com
3Especialista em Controladoria
Universidade Federal do Amazonas – UFAM
E-mail: bruno.matsui@ufam.edu.br
4Doutorado em Ciências Contábeis e Administração pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis – PPGCC – FURB. Blumenau, SC.
Universidade Federal do Amazonas – UFAM
E-mail: leonorbernadete@ufam.edu.br
5Bacharelado em Ciências Contábeis
Universidade Federal do Amazonas – UFAM
E-mail: marcio.goncalves@ufam.edu.br