NURSING INTERVENTIONS IN POSTPARTUM DEPRESSION RELATED TO OBSTETRIC VIOLENCE: AN INTEGRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202506242013
Maria Eduarda Limeira Martins dos Santos1
Rodolfo José Vitor2
RESUMO
Introdução: A depressão pós-parto é uma condição psicológica que acomete uma parcela significativa das mulheres no período puerperal, estando muitas vezes associada a experiências negativas durante o parto, como a violência obstétrica. Objetivo: Descrever as intervenções de Enfermagem na depressão pós-parto relacionada à violência obstétrica. Metodologia: Revisão integrativa da literatura, com apuração de 8 artigos após aplicação do PICO e dos critérios de inclusão e exclusão publicados entre 2020 e 2024 nas bases DeCS, SciELO e no site do Ministério da Saúde. Resultados: Vivências de desrespeito e abuso durante o parto contribuem para o desenvolvimento de quadros depressivos no pós-parto. A enfermagem, ao adotar práticas acolhedoras e humanizadas, mostra-se fundamental para minimizar esses impactos. Conclusão: A atuação sensível e capacitada da equipe de enfermagem pode prevenir agravos à saúde mental da puérpera, promovendo uma assistência respeitosa e centrada na mulher.
Palavras-chave: Saúde da mulher. Depressão pós-parto. Violência no parto. Enfermagem. Cuidados humanizados.
ABSTRACT
Introduction: Postpartum depression is a psychological condition that affects a significant portion of women in the postpartum period, and is often associated with negative experiences during childbirth, such as obstetric violence. Objective: To demonstrate nursing interventions in postpartum depression resulting from obstetric violence. Methodology: Integrative literature review, with the collection of 8 articles after applying PICO and the inclusion and exclusion criteria published between 2020 and 2024 in the DeCS, SciELO and the Ministry of Health website. Results: Experiences of disrespect and abuse during childbirth contribute to the development of postpartum depression. Nursing, by adopting welcoming and humanized practices, proves to be essential to minimize these impacts. Conclusion: The sensitive and qualified performance of the nursing team can prevent mental health problems in the postpartum woman, promoting respectful and woman-centered care.
Keywords: Women’s health. Postpartum depression. Violence during childbirth. Nursing. Humanized care.
Introdução
De acordo com o Ministério da Saúde (2021), “a depressão pós-parto é uma condição caracterizada por profunda tristeza, desespero e falta de esperança, que ocorre logo após o parto. Ela se inicia em algum momento durante o primeiro ano pós-parto, com maior incidência entre a quarta e oitava semana.”
Segundo o Ministério da Saúde (2022), a depressão pós-parto é uma condição que não possuí causa específica, entretanto, pode estar relacionada a diversos fatores, como, histórico de transtornos mentais (Depressão, ansiedade, bipolaridade, Burnout e fatores emocionais devido ao desequilíbrio de hormônios em decorrência da gestação ou até mesmo fatores sociais).
Dentre as principais possíveis causas contribuintes para a depressão pós-parto estão: a violência obstétrica que a puérpera possa ter sofrido durante o parto, a privação de sono devido a demanda de cuidados de um recém-nascido, possível falta de apoio da família, parceiro ou amigos, estresse, problemas financeiros e falta de planejamento da gravidez. Em geral, os sintomas da depressão pós-parto se caracterizam pela desmotivação e falta de interesse ou prazer em atividades diárias, pensamentos suicidas, desejo de fazer mal ao bebê, rejeição ao recém-nascido, insônia, cansaço extremo, sentimento de indignação ou culpa e tristeza, acompanhada de desespero constante (Ministério da Saúde, 2022).
O diagnóstico é realizado de forma clínica, feito pelo psiquiatra, com observação nos sintomas e situações em específicas durante a avaliação clínica individual. Para ser considerada depressão pós-parto, os sintomas devem surgir em até quatro semanas após o nascimento da criança (Brasil, 2022).
O tratamento da depressão pós-parto é feito de acordo com as particularidades de cada paciente, com medicamentos antidepressivos que são combinados com psicoterapia, ele pode ser realizado de forma integral e gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), e também de forma paga em hospitais ou clínicas particulares. O apoio da família, parceiro(a) e amigos é fundamental, pois auxilia na eficácia do tratamento (Brasil, 2022).
Através dos Núcleos de apoio à Saúde da Família (NASF) ou através de outras equipes de Saúde Mental, as equipes de Saúde da Família podem solicitar apoio matricial aos profissionais, quando não são capacitados para identificação, no pré-natal, quanto aos sinais e fatores de risco que podem levar a gestante a desenvolver depressão pós-parto. Alguns casos considerados mais graves devem ser encaminhados aos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) ou outros serviços de referência Saúde Mental do município ou região (Ministério da Saúde, 2021).
O Senado Federal (2023) destaca que, nos últimos anos, o tema da depressão pós-parto tem ganhado crescente atenção na área da saúde, devido à alta porcentagem de casos. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revela que mais de 25% das mães no Brasil são afetadas por essa condição (Fiocruz 2023).
O Ministério da Saúde (2021) define que a violência obstétrica pode ocorrer durante a gestação, parto e pós-parto, configurando um desrespeito à mulher, à sua autonomia e aos seus processos reprodutivos. Essa violência pode se manifestar através de abusos verbais, físicos ou sexuais, bem como pela adoção de intervenções e procedimentos desnecessários ou sem respaldo científico. Ela afeta negativamente a qualidade de vida das mulheres, provocando traumas, dificuldades emocionais, depressão e até problemas na vida sexual. O desrespeito à mulher durante o processo de gestação, parto e pós-parto pode intensificar a sensação de impotência e vulnerabilidade, agravando a depressão pós-parto. Além disso, essa violência compromete a recuperação emocional da mulher, gerando traumas psicológicos que dificultam seu bem-estar. A falta de apoio durante esses períodos pode ainda afetar o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo da criança, gerando sequelas duradouras na infância e adolescência (Brasil, 2021; Fiocruz, 2023).
A assistência de enfermagem é essencial no cuidado à mulher no pós-parto, principalmente quando há situações de violência obstétrica. Profissionais de enfermagem, por estarem presentes ao longo da gestação, parto e pós-parto, têm a chance de oferecer apoio emocional, escuta ativa e acolhimento, o que ajuda na prevenção e no tratamento da depressão pós-parto. Além disso, essa assistência pode identificar de forma precoce sinais de sofrimento psicológico e orientar sobre o acesso a serviços de saúde mental através de acompanhamento com a equipe multidisciplinar em Unidades básicas de saúde (UBS), (Fiocruz, 2023).
A pesquisa se justifica pela necessidade de proporcionar informações e conhecimentos às gestantes, puérperas e aos profissionais da área da saúde, sobre causas relacionadas a depressão, sintomas, tratamento, prevenção e cuidados de enfermagem, assim, podendo auxiliar na diminuição de casos de depressão pós-parto ocasionada pela violência obstétrica.
O presente estudo tem como objetivo descrever as intervenções de Enfermagem na depressão pós-parto relacionada à violência obstétrica, buscando compreender a relação entre elas e como uma afeta a outra, baseando – se na seguinte questão norteadora “De que modo a violência obstétrica está relacionada à depressão pós-parto e como a assistência de enfermagem pode intervir?”
Metodologia
Este artigo refere-se a um estudo do tipo revisão integrativa, método este que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática através da combinação de dados teóricos e empíricos da literatura por meio de pesquisas, leituras e revisões de artigos. O método revisão integrativa, descrito por Mendes, Silveira e Galvão (2008), consiste na divisão em seis etapas:
Primeira etapa: identificação do tema elaborado pela seleção da hipótese e questão norteadora: “De que modo a violência obstétrica está relacionada depressão pós-parto e como a assistência de enfermagem pode intervir?”. De acordo com o tema e a estruturação da pergunta norteadora, foi escolhida a estratégia “PICO”, por ser a que mais se adequa a situação. Sendo assim, o “P” refere-se às gestantes e puérperas; o “I” corresponde à assistência de enfermagem; o “C” compara as violências contra a paciente que podem ocasionar na depressão pós-parto e o “O” refere-se à eficácia das intervenções que podem ser aplicadas diante de tal situação, avaliando a redução das taxas de violência obstétrica e redução dos casos de depressão pós parto.
Para cumprimento da Segunda etapa foi estabelecido de critérios para inclusão e exclusão de estudos/ amostragem ou busca na literatura. Para seleção dos artigos utilizados para pesquisa, foram definidos os seguintes critérios de inclusão: artigos completos, em língua portuguesa, disponíveis online, gratuitos, datados entre 2020 e 2024, que abordam o tema do estudo, seus objetivos, definições, causas e intervenções. Foram excluídos: artigos em língua estrangeira, artigos pagos, relatos de caso, bibliografias, resumos, artigos sem embasamento e publicações que não atendiam aos objetivos propostos.
Terceira etapa: definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/ categorização dos estudos. Nessa etapa foram reunidos os pontos chaves realizando uma coleta de dados, avaliando o nível de evidência e relevância das informações para serem adicionadas ao artigo e organizando – as para melhor compreensão do público-alvo a ser atingido pela pesquisa. Essa coleta de dados foi realizada mediante as bases de dados: Scielo (Scientific Electronic Library Online); (Ministério da saúde).
Quarta etapa: avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa, levando em consideração as análises de dados e os fatores que mostraram efeitos válidos para o artigo.
Quinta etapa: interpretação dos resultados. Essa etapa se faz da análise dos principais achados da pesquisa separando evidências de opiniões, com base na avaliação crítica dos estudos incluídos, são feitas conclusões e propostas apontando impactos na prática da enfermagem que podem auxiliar em conhecimentos para outras pesquisas.
Sexta etapa: apresentação da revisão/síntese do conhecimento. Essa fase foi dedicada à criação do documento final da pesquisa, onde foram descritas as etapas realizadas e os principais resultados encontrados na análise dos artigos. Essa atividade foi importante porque ajudou a ampliar o conhecimento sobre o tema estudado. Apesar da importância de divulgar os resultados, ainda houve dificuldades, como as exigências dos periódicos, o tempo e a dedicação necessárias e as normas a serem seguidas.
A estratégia de busca dos descritores em Ciências da Saúde (DeCS), envolveu o uso dos operadores booleanos AND e OR: (“Depression, Post-Partum” OR “Post Natal Depression”)AND(“ObstetricViolence”OR Violence) AND (NursingOR“NursingCare”OR“Nursing, Team”): 1) Depressão pós parto (“Depression, Post Partum” OR “Post Natal Depression”) Início com 3,804 artigos. Filtros aplicados: Texto completo livre, Idioma português, intervalo de 2020 a 2024, Gratuito. Redução para 2 artigos. 2)Violência obstétrica (“Obstetric Violence” OR Violence) Início com 1,229 artigos. Filtros aplicados: Idoma português, texto completo, gratuito, conjunto de dados, estudo clínico, 2020 a 2024, feminino, revisão de literatura. Redução para 3 artigos. 3)Enfermagem, cuidados de enfermagem (Nursing OR “Nursing Care” OR“ Nursing, Team”) Início com 207 artigos, Filtros aplicados: 2023 a 2024, Texto completo gratuito, Estudo clínico, conjunto de dados, enfermagem, parto Revisão no último 1 ano, Idioma português, Feminino. Redução para 3 artigos. Após e estratégia de busca utilizando os descritores nas bases de dados, a pesquisa utilizou 8 artigos (Figura 1).
Figura 1: Tratamento dos dados

Fonte: Adaptado do Fluxograma PRISMA, 2020
Resultados
Mulheres que sofreram violência obstétrica — como gritos, procedimentos sem explicação ou consentimento, e atitudes desrespeitosas por parte da equipe de saúde — ficaram emocionalmente abaladas após o parto. Essas experiências causam traumas e sentimentos de medo, angústia e rejeição, o que aumenta o risco de desenvolver depressão pós-parto (Fiocruz, 2023). Mulheres que passaram por esse tipo de violência apresentaram mais casos de depressão do que aquelas que não relataram esse tipo de experiência (Brasil, 2022).
Os sintomas mais comuns identificados nos estudos foram: tristeza profunda, dificuldade em se aproximar do bebê, desânimo, insônia e pensamentos negativos. Além disso, a depressão afetou o aleitamento materno, dificultou a recuperação da mãe após o parto e prejudicou o convívio com a família (Ministério da saúde, 2022). Também foi observado que a falta de apoio, tanto da equipe de saúde quanto da família, contribuiu para o agravamento do quadro e dificultou a busca por tratamento.
A literatura consultada destaca a importância da enfermagem durante toda a fase do pré natal até o pós-parto. Os profissionais de enfermagem, quando capacitados, são capazes de ouvir com atenção, identificar sinais de sofrimento emocional e encaminhar a mulher para acompanhamento especializado. A presença contínua desses profissionais nas unidades básicas de saúde ajuda a criar uma relação de confiança com as mulheres, facilitando o acolhimento e o cuidado. A formação contínua da equipe de enfermagem é essencial para que saibam lidar com situações de violência obstétrica e ofereçam um atendimento humanizado (Brasil, 2021).
A violência obstétrica envolve práticas desrespeitosas durante a gestação, o parto e o pós parto, comprometendo a dignidade da mulher. O quadro 1 apresenta exemplos dessas condutas e destaca como a enfermagem pode atuar de forma humanizada para garantir um cuidado seguro e respeitoso.
Quadro 1 – Tipos de violência obstétrica e a assistência de enfermagem diante dessas práticas
Autores /Ano | Tipos de violência Obstétrica | Assistência de Enfermagem |
Brasil, 2021 | Tratar a gestante ou parturiente de forma agressiva, não empática, grosseira, zombeteira, ou de qualquer outra forma que a faça se sentir mal pelo tratamento recebido; | ∙ Garantir um cuidado humanizado e empático à gestante, ∙ Evitar atitudes agressivas que caracterizam violência obstétrica e que podem causar danos emocionais. ∙ Atendimento respeitoso na abordagem e no acolhimento. |
Brasil, 2021 | Recriminar a parturiente por qualquer comportamento como gritar, chorar, ter medo, vergonha ou dúvidas; | ∙ Acolher essas manifestações com empatia, respeitando o momento de vulnerabilidade da mulher e oferecendo apoio contínuo e humanizado. |
Brasil, 2021 | Fazer a gestante ou parturiente acreditar que precisa de uma cesariana quando esta não se faz necessária, utilizando de riscos imaginários ou hipotéticos não comprovados e sem a devida explicação dos riscos que alcançam ela e o bebê; | ∙ Respeitar o direito da mulher à informação e à tomada de decisão sobre seu próprio corpo. ∙ Atuar garantindo orientações transparentes, baseadas em evidências científicas, ∙ Promover autonomia e segurança no processo do parto. |
Brasil, 2021 | Impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência durante todo o trabalho de parto; | ∙ Garantir a presença de um acompanhante por lei. ∙ Assegurar esse direito por meio da equipe de enfermagem. ∙ Promover um ambiente acolhedor e respeitoso. ∙ Evitar práticas que desumanizem o nascimento. |
Brasil, 2021 | Submeter a mulher a procedimentos dolorosos, desnecessários ou humilhantes, como lavagem intestinal, raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com portas abertas, exame de toque por mais de um profissional; | ∙ Evitar práticas que violem a dignidade da parturiente. ∙ Prevenir traumas físicos e emocionais. ∙ Atuar com base em boas práticas obstétricas. ∙ Respeitar a intimidade da mulher. ∙ Garantir o consentimento informado. ∙ Proporcionar conforto durante todo o parto. |
Brasil, 2021 | Deixar de aplicar anestesia na parturiente quando esta assim o requerer ou Proceder a episiotomia quando esta não é realmente imprescindível; | ∙ Assegurar o consentimento informado para todos os procedimentos. ∙ Basear os cuidados em evidências científicas. ∙ Priorizar o conforto da mulher durante o parto. ∙ Respeitar a autonomia da gestante. ∙ Garantir a segurança em todo o processo. |
Brasil, 2021 | Retirar da mulher, depois do parto, o direito de ter o bebê ao seu lado no Alojamento Conjunto e de amamentar em livre demanda, salvo se um deles, ou ambos necessitarem de cuidados especiais; | ∙ Prevenir interferências negativas na amamentação. ∙ Reconhecer a importância da amamentação para a saúde do bebê. ∙ Promover a humanização do atendimento. ∙ Respeitar as escolhas da mulher. ∙ Incentivar o cuidado conjunto entre mãe e bebê. |
Brasil, 2021 | Fazer qualquer procedimento sem, previamente, pedir permissão ou explicar, com palavras simples, a necessidade do que está sendo oferecido ou recomendado; | ∙ Garantir a explicação prévia de todos os procedimentos. ∙ Respeitar a autonomia da mulher. ∙ Assegurar o direito à informação. ∙ Promover escolhas informadas sobre o próprio corpo e saúde. |
Brasil, 2021 | Xingamentos, humilhações, comentários constrangedores em razão da cor, da raça, da etnia, da religião, da orientação sexual, da idade, da classe social, do número de filhos etc.; | ∙ Reduzir a vulnerabilidade emocional durante o parto. ∙ Proporcionar um ambiente seguro e respeitoso. ∙ Eliminar qualquer forma de discriminação. ∙ Garantir um atendimento ético e humanizado. |
Fonte: Autores da pesquisa.
Discussão
Os resultados desta revisão mostram que existe uma relação preocupante entre a violência obstétrica e o surgimento da depressão pós-parto. Isso reforça a necessidade urgente de medidas preventivas e de uma assistência qualificada, principalmente por parte da equipe de enfermagem.
A violência obstétrica, apesar de muitas vezes ser tratada como algo normal nos serviços de saúde, causa danos significativos à saúde emocional da mulher durante a gestação, o parto e o pós-parto. Esse tipo de violência afeta diretamente a autoestima, a sensação de segurança e a dignidade da gestante, o que pode gerar traumas psicológicos, dificuldade de criar vínculo com o bebê e quadros de depressão pós-parto (Fiocruz, 2023). Tais consequências confirmam os alertas anteriores de órgãos como a Fundação Oswaldo Cruz e o Ministério da Saúde sobre os efeitos de práticas desrespeitosas no cuidado obstétrico (Brasil, 2021).
Além disso, muitos profissionais da saúde ainda não estão preparados para identificar situações de violência obstétrica ou os primeiros sinais de sofrimento psíquico no pós-parto. Essa falta de capacitação compromete o atendimento adequado e dificulta o encaminhamento para suporte psicológico e psiquiátrico, o que pode prolongar ou agravar o quadro clínico das mulheres (Silva et al., 2022).
Nesse cenário, a enfermagem se destaca como uma profissão estratégica. Por estarem presentes em todos os momentos do ciclo gravídico-puerperal, os profissionais de enfermagem podem oferecer tanto cuidados técnicos quanto apoio emocional e acolhimento. Estudos demonstram que, quando há escuta ativa, respeito, orientação adequada e empatia, as mulheres se sentem mais seguras e menos propensas a desenvolver transtornos emocionais como a depressão (Costa; Oliveira; Nascimento, 2021).
A atuação da enfermagem nas Unidades Básicas de Saúde também é fundamental, pois permite um acompanhamento mais próximo e contínuo das gestantes e puérperas. Esse vínculo favorece a detecção precoce de dificuldades e possibilita ações mais direcionadas e eficazes. Esse tipo de cuidado é essencial para construir um modelo de assistência mais humanizado, que respeite os direitos das mulheres e minimize os impactos da violência obstétrica (Souza; Moura; Barbosa, 2020).
Por fim, esta revisão aponta para a importância de políticas públicas mais firmes no combate à violência obstétrica, bem como para a necessidade de formação ética, humanizada e baseada em evidências científicas para todos os profissionais de saúde. Garantir um atendimento de qualidade exige, além de habilidades técnicas, empatia, escuta sensível e respeito à autonomia da mulher (Brasil, 2021).
Considerações finais
A depressão pós-parto, quando associada à violência obstétrica, constitui um problema significativo de saúde pública, afetando não só a saúde mental da mulher, mas também prejudicando o vínculo materno-infantil, a dinâmica familiar e o desenvolvimento do recém nascido. O enfrentamento dessa realidade demanda ações coordenadas, que envolvem desde a qualificação dos profissionais até a implementação de políticas públicas que garantam o respeito aos direitos das mulheres durante a maternidade.
A enfermagem, enquanto profissão dedicada ao cuidado, desempenha um papel fundamental na construção de um atendimento que se baseie na empatia, no respeito e na valorização da autonomia da mulher. A atuação ativa e sensível da equipe de enfermagem tem o potencial de transformar a experiência do parto e do pós-parto, reduzindo riscos e promovendo a saúde integral da mulher e do bebê.
Assim, este estudo destaca a relevância da abordagem multiprofissional, do cuidado humanizado e da conduta ética na prática clínica. Espera-se que os resultados aqui apresentados sirvam como base para futuras pesquisas e para o aprofundamento das discussões sobre os impactos da violência obstétrica e as possíveis estratégias para sua superação.
Referências
Brasil. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Violência obstétrica. Brasília: Ebserh, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sul/hu ufsc/saude/maternidade/violencia-obstetrica.
Brasil. Ministério da Saúde. Depressão pós-parto. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/depressao-pos parto.
Brasil. Ministério da Saúde. Atenção humanizada ao parto e nascimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br.
Costa, M.; Oliveira, J.; Nascimento, C. O papel da enfermagem na prevenção da depressão pós-parto. Revista de Enfermagem Contemporânea, v. 10, n. 2, p. 120-130, 2021.
Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Violência Obstétrica: conceitos e evidências. Rio de Janeiro, 24 ago. 2023. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/violenciaobstetrica-conceitos-e-evidencias/>.
Mendes, Kátia Daniela Silva; Silveira, Rosely Cecilia Carvalho Pinto; Galvão, Cristina Maria. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 17, n. 4, p. 758–764, out./dez.. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tce/a/WKbD98LgJFRyVnFxKPB79By/?lang=pt.
Silva, M. J. et al. Violência obstétrica e saúde mental no puerpério: revisão integrativa da literatura. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 22, n. 4, p. 817–825, 2022.
Souza, C. F.; Moura, K. A.; Barbosa, R. A. Acolhimento e vínculo como estratégias de cuidado em saúde materna. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, supl. 1, p. e20200456, 2020.
1Graduanda do Curso de Enfermagem, Centro Universitário IESB, Ceilândia, DF, Brasil
2Docente do Curso de Enfermagem, Centro Universitário IESB, Ceilândia, DF, Brasil