ECONOMY AND ITS IMPACTS ON LARANJALENSE MIGRATION TO OTHER BRAZILIAN STATES
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506261643
Derlison Rufino Rodrigues1
Rayan Silva Sousa2
Edilon Mendes Nunes3
RESUMO
O presente artigo analisa os impactos econômicos e estruturais da migração de moradores de Laranjal do Jari para outros estados brasileiros. A partir de dados documentais e estatísticos, examinam-se as causas da migração, incluindo limitações econômicas e falta de infraestrutura, bem como os efeitos negativos no consumo local, arrecadação fiscal e setor de serviços, que representam 17,8% do PIB local. A pesquisa evidencia lacunas na retenção populacional e sugere políticas públicas baseadas no keynesianismo, como investimentos em infraestrutura e diversificação econômica, para mitigar o fluxo migratório.
Palavras-chave: Migração. Economia. Laranjal do Jari. Políticas públicas. Impactos econômicos.
ABSTRACT
This article analyzes the economic and structural impacts of the migration of residents from Laranjal do Jari to other Brazilian states. Based on documentary and statistical data, it examines the causes of migration, including economic limitations and lack of infrastructure, as well as the negative effects on local consumption, tax revenue, and the service sector, which represents 17.8% of the local GDP. The research highlights gaps in population retention and suggests public policies inspired by Keynesianism, such as investments in infrastructure and economic diversification, to mitigate migratory flows.
Keywords: Migration. Economy. Laranjal do Jari. Public policies. Economic impacts.
1. INTRODUÇÃO
A economia, enquanto ciência social aplicada, exerce papel fundamental na compreensão das dinâmicas que moldam os movimentos populacionais, sobretudo em contextos de migração. A mobilidade geográfica de indivíduos está fortemente associada à busca por melhores condições de vida, acesso a oportunidades e qualidade nos serviços públicos. Neste contexto, a migração de moradores de Laranjal do Jari para outros estados brasileiros configura-se como fenômeno sintomático de uma crise estrutural multifacetada, refletindo tanto a ausência de um dinamismo econômico local quanto a fragilidade dos mecanismos de retenção populacional.
A problemática desta pesquisa concentra-se na análise de como a escassez de oportunidades econômicas, a precariedade da infraestrutura urbana e a baixa diversificação produtiva contribuem diretamente para o êxodo de parte significativa da população laranjalense. Tal dinâmica acarreta efeitos colaterais em cadeia: perda de capital humano, redução da base de arrecadação tributária, retração do consumo local e enfraquecimento do setor de serviços — responsável por 17,8% do PIB municipal. Além disso, a dependência de transferências intergovernamentais e a ausência de uma base produtiva sólida agravam a vulnerabilidade fiscal do município e comprometem seu desenvolvimento sustentável.
Para avaliar essas relações com precisão técnica, o estudo incorpora uma abordagem econométrica fundamentada na aplicação de um modelo de regressão polinomial de segundo grau, construído com dados do Censo Demográfico (1991, 2000, 2010 e 2022), fornecidos pelo IBGE. O modelo foi utilizado para projetar cenários futuros de retração ou estagnação populacional, com base na variação histórica da população e sua correlação com indicadores econômicos locais. Complementarmente, foi aplicado um modelo de regressão linear simples, com base no arcabouço de Gujarati (2011), para estimar o impacto da variação populacional sobre variáveis como consumo no setor de serviços e arrecadação fiscal, utilizando a fórmula ΔYs = β₀ + β₁ΔP + ε, onde ΔYs representa a variação na receita do setor de serviços, ΔP a mudança populacional (migração líquida negativa), e β₁ a estimativa do consumo per capita perdido com a saída de habitantes. Além do tratamento quantitativo, o estudo ancora-se nas abordagens teóricas de Sartori (1994), no uso do método comparativo, e de Keynes, cuja teoria sobre a intervenção estatal em contextos de desequilíbrio fundamenta as recomendações de políticas públicas voltadas à retenção populacional.
Dessa forma, o objetivo geral do artigo é analisar os impactos econômicos e estruturais da migração laranjalense para outros estados, considerando causas, consequências e possíveis soluções para esse processo. Especificamente, busca-se: (i) identificar os fatores econômicos e geográficos que impulsionam a migração; (ii) mensurar os efeitos desse deslocamento sobre o consumo, o emprego e a arrecadação municipal; (iii) projetar cenários demográficos futuros com base em modelos estatísticos; e (iv) propor estratégias de políticas públicas voltadas à diversificação econômica, qualificação profissional, infraestrutura urbana e melhoria dos serviços essenciais. Com isso, pretende-se oferecer uma contribuição prática e analítica à discussão sobre sustentabilidade econômica e retenção populacional em municípios periféricos da Amazônia brasileira, como Laranjal do Jari.
2. METODOLOGIA
O presente artigo fundamenta-se na pesquisa documental, com enfoque interdisciplinar no município de Laranjal do Jari, no estado do Amapá. A estrutura metodológica da pesquisa compreende inicialmente uma revisão bibliográfica, com o intuito de embasar teoricamente os conceitos de economia, conforme preconizado por autores como Gil (2008), que destaca a relevância da revisão bibliográfica na construção de referenciais teóricos robustos.
Na análise documental, foram empregadas técnicas de leitura e tratamento de dados quantitativos, como a análise estatística descritiva e aplicação de modelo de regressão polinomial de segundo grau, visando à identificação de padrões migratórios e projeções de impacto socioeconômico e populacional. Essa abordagem encontra respaldo na literatura científica, como demonstrado por Marconi e Lakatos (2003), ao tratarem da importância da sistematização dos dados documentais para fins analíticos.
A regressão polinomial de segundo grau foi utilizada neste estudo como técnica estatística clássica de ajuste de curva, adequada para representar relações não lineares entre variáveis quantitativas. No caso em análise, a variável independente (ano) e a variável dependente (população) demonstram comportamento curvilíneo com crescimento e posterior declínio, justificando a aplicação de um modelo quadrático. Essa metodologia é amplamente reconhecida na literatura estatística aplicada à economia e às ciências sociais por sua capacidade de representar inflexões em séries temporais (GUJARATI, 2011).
Para a elaboração do quadro 1, utilizou-se um modelo econométrico para analisar essa relação:
ΔYs=β0+β1ΔP+ϵ\Delta Y_s = \beta_0 + \beta_1 \Delta P + \epsilon ΔYs=β0+β1ΔP+ϵ, onde ΔYs\Delta Y_sΔYs representa a variação na receita do setor de serviços, ΔP=−4.828\Delta P = – 4.828ΔP=−4.828 é a mudança na população, e β1=5.000\beta_1 = 5.000β1=5.000 é o coeficiente que relaciona a perda populacional ao impacto na receita. Esse modelo sugere que a redução de 4.828 habitantes resultaria diretamente em uma diminuição de R$24.140.000 na receita do setor de serviços, destacando a necessidade de políticas públicas que mitiguem os efeitos da migração e incentivem a retenção populacional em Laranjal do Jari.
A fim de abordar as causas da migração de forma comparativa, foi adotado o método comparativo, conforme delineado por Sartori (1994), que defende sua eficácia na identificação de semelhanças e diferenças entre contextos sociais e regionais distintos. Para isso, compararam-se dados dos municípios de São Paulo – SP e Rio do Sul – SC com os de Laranjal do Jari – AP. A escolha dessas cidades se justifica por dois critérios principais: (i) São Paulo representa um grande centro urbano e econômico nacional, frequentemente apontado como destino migratório por oferecer maior oferta de emprego, infraestrutura e serviços públicos; e (ii) Rio do Sul, cidade de porte médio no Sul do Brasil, foi selecionada pelo fato de, segundo dados do Censo Demográfico, o município apresentar crescimento populacional contínuo, em contraste com a retração observada em Laranjal do Jari, o que reforça sua relevância como polo atrativo no contexto migratório recente. Essa comparação permite avaliar, de forma multiescalar, como a presença ou ausência de políticas públicas eficazes, oportunidades econômicas e infraestrutura urbana pode influenciar diretamente os fluxos migratórios e acentuar as desigualdades regionais no Brasil.
Além disso, foi incorporada uma perspectiva hermenêutico-histórico-cultural à análise, utilizada comumente por teóricos da religião e das ciências humanas, como Gadamer (1997), para compreender fenômenos históricos a partir da interpretação contextual. Esta abordagem contribui para a compreensão das dinâmicas sociais e econômicas que moldaram o surgimento e a evolução do município de Laranjal do Jari, permitindo uma leitura mais densa e crítica das causas da atual vulnerabilidade socioeconômica local.
3. A RELAÇÃO ENTRE ECONOMIA E MIGRAÇÃO: O CASO DE LARANJAL DO JARI
A ciência econômica, desde seu surgimento, tem se debruçado sobre a análise da escassez e da alocação eficiente de recursos, refletindo as necessidades de suas respectivas épocas históricas. O mercantilismo, por exemplo, vinculava a riqueza nacional ao acúmulo de metais preciosos e à intervenção estatal, promovendo políticas protecionistas para consolidar o poder econômico das nações (BOECHAT; PEREIRA, 2019, p. 31). Essa perspectiva contrastava com a escola clássica, liderada por Adam Smith, que defendia o livre mercado e o papel da “mão invisível” como mecanismo de promoção do bem-estar coletivo (BOECHAT; PEREIRA, 2019, p. 45).
Posteriormente, o keynesianismo trouxe à tona a relevância da intervenção estatal, especialmente em momentos de crise, ao propor estímulos à demanda agregada para assegurar o equilíbrio econômico (BOECHAT; PEREIRA, 2019, p. 112). Essas correntes teóricas continuam a influenciar a forma como se analisa o impacto das condições econômicas na mobilidade populacional, incluindo a migração de cidadãos de Laranjal do Jari para outras regiões do Brasil.
A realidade socioeconômica de Laranjal do Jari evidencia uma interação direta entre fatores micro e macroeconômicos e o fenômeno migratório. Na perspectiva microeconômica, observa-se que as decisões individuais, frequentemente condicionadas pela escassez de oportunidades de emprego e pelo aumento do custo de vida, tornam a migração uma alternativa viável para a busca por melhores condições de vida (VARIAN, 2015). Em nível macroeconômico, a fragilidade estrutural do município é evidente, com uma economia fortemente dependente de transferências intergovernamentais e carente de uma base produtiva consolidada (MANKIW, 2015).
Ao analisar essa dinâmica sob a ótica das escolas econômicas, é possível observar que os pressupostos dos clássicos, baseados na autorregulação dos mercados, são desafiados pelo contexto local, marcado por mercados restritos e uma escassez significativa de oportunidades (BOECHAT; PEREIRA, 2019). Por outro lado, a abordagem keynesiana ressalta a necessidade de políticas públicas estruturantes e investimentos em infraestrutura que possam fomentar o desenvolvimento econômico local e reduzir os fluxos migratórios. Keynes defendia que “a intervenção do Estado era essencial para garantir o pleno emprego e o equilíbrio econômico em situações de crise” (BOECHAT; PEREIRA, 2019, p. 112).
Dessa forma, a migração de cidadãos de Laranjal do Jari reflete um arranjo econômico excludente que exige respostas abrangentes e integradas. A promoção do desenvolvimento regional requer tanto a implementação de políticas públicas que estimulem o setor produtivo quanto a criação de um ambiente socioeconômico que favoreça a permanência da população local.
4. FATORES SOCIOECONÔMICOS E ESTRUTURAIS DA MIGRAÇÃO EM LARANJAL DO JARI: ANÁLISE EMPÍRICA E EVIDÊNCIAS LOCAIS
Em Laranjal do Jari, a falta de empregos e infraestrutura limita escolhas individuais e reflete falhas macroeconômicas. Esta seção analisa esses fatores com dados locais, usando estatísticas e comparações com outros estados, para entender as causas da migração e seus impactos.
4.1 História, geografia e perfil econômico de Laranjal do Jari
Laranjal do Jari, localizado no sul do Amapá, na margem esquerda do rio Jari, foi criado pela Lei Federal nº 7.639, de 6 de dezembro de 1987, desmembrado de Mazagão (PREFEITURA MUNICIPAL DE LARANJAL DO JARI, 2025). Conhecido inicialmente como “Beiradão”, o município surgiu de uma ocupação espontânea na década de 1970, impulsionada pelo Complexo Jari Celulose, iniciado em 1967 por Daniel Keith Ludwig, que atraiu migrantes, sobretudo do Maranhão, em busca de empregos (THALEZ; COUTO, 2007, p. 33). Diferentemente de Monte Dourado – Pará, planejada para abrigar funcionários do complexo, Laranjal do Jari cresceu desordenadamente, com palafitas na várzea, sendo chamada de “maior favela fluvial da Amazônia” (THALEZ; COUTO, 2007, p. 36; CRUZ, 2023, p. 1494).
Geograficamente, ocupa 31.170,3 km² e faz fronteira com Vitória do Jari, Mazagão, Pedra Branca do Amapari, Oiapoque, o estado do Pará (Monte Dourado, Almeirim), Suriname e Guiana Francesa (PREFEITURA MUNICIPAL DE LARANJAL DO JARI, 2025). Situado a 320 km de Macapá, é acessado pela BR-156 (eixo sul, não asfaltado) ou pelo rio Jari, essencial para transporte e conexão com Belém (PA) e Santana (AP). O rio, com 600 km, nasce na Serra do Tumucumaque e integra a Bacia Amazônica. A estrutura urbana divide-se em beira (portuária), várzea (alagada) e terra firme, com bairros como Agreste indicando expansões mais organizadas (CRUZ, 2023, p. 1497). A topografia mista intensifica desafios como enchentes e ausência de saneamento, que refletem escolhas microeconômicas limitadas dos moradores e, macroeconomicamente, demandam intervenções keynesianas em infraestrutura (CRUZ, 2023, p. 1496).
Figura 1: Mapa ilustrativo de Laranjal do Jari – AP e suas fronteiras.

Desde sua emancipação em 1987, Laranjal do Jari enfrentou instabilidade administrativa. Prefeitos como Reginaldo Miranda (2001-2004) e Euricélia Cardoso (2005-2012) foram alvos de denúncias por desvios, como os R$15 milhões da ponte sobre o rio Jari (MPF, 2016). Entre 2013 e 2017, cinco gestores assumiram, evidenciando crise política (SELESNAFES, 2017). Márcio Serrão (2017-2024) e Teddy Menezes (eleito em 2024) buscaram melhorias em saúde e infraestrutura, mas a consolidação administrativa segue como desafio (G1, 2024).
A economia de Laranjal do Jari foi historicamente moldada pelo Complexo Jari Celulose, que atraiu trabalhadores na década de 1970, mas entrou em declínio, reduzindo seu impacto econômico (THALEZ; COUTO, 2007, p. 34). Atualmente, a atividade industrial é limitada, com ênfase em celulose em Monte Dourado (Pará), enquanto Laranjal depende de agricultura de subsistência, extrativismo vegetal (castanha-do-pará, óleos) e comércio local (CRUZ, 2023, p. 1495).
A precariedade de infraestrutura, como estradas e saneamento, restringe o crescimento econômico, refletindo falhas macroeconômicas na alocação de recursos e demandando investimentos para reverter a estagnação (CRUZ, 2023, p. 1496; THALEZ; COUTO, 2007, p. 36).
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Embora as estimativas ao longo dos anos indicassem uma perspectiva otimista de crescimento populacional em Laranjal do Jari, os dados mais recentes do Censo Demográfico revelaram uma realidade oposta, evidenciando estagnação e até retração no contingente populacional.
Gráfico 1: censo demográfico do IBGE entre 1991 à 2022.

A análise estatística descritiva aplicada aos dados populacionais de Laranjal do Jari – AP, especialmente os censos de 1991, 2000, 2010 e 2022, permite observar de forma clara as oscilações no crescimento demográfico do município ao longo das últimas três décadas. A série histórica revela um aumento expressivo entre 1991 e 2010, com crescimento populacional superior a 87%, passando de 21.372 para 39.942 habitantes. Contudo, essa tendência se inverte no período seguinte, com o Censo de 2022 apontando uma redução para 35.114 habitantes, o que representa uma queda aproximada de -12% em relação a 2010.
Esse comportamento irregular foi investigado inicialmente por meio de medidas estatísticas descritivas, como a média, a mediana, a taxa de variação percentual por década e o desvio padrão da população registrada. Esses indicadores auxiliam na compreensão da volatilidade e estabilidade da dinâmica populacional, bem como na identificação de padrões de crescimento e retração ao longo do tempo. A análise evidenciou que, embora a média populacional do período 1991–2022 tenha se mantido em crescimento, o desvio padrão indica um nível considerável de flutuação, que exige maior atenção à conjuntura socioeconômica local.
Gráfico 2: Simulação preditiva da população de Laranjal do Jari (19910-2030)

O Gráfico 2 apresenta uma simulação preditiva da evolução populacional de Laranjal do Jari – AP, com base na aplicação de um modelo de regressão polinomial de segundo grau. Esse modelo foi elaborado a partir dos dados do Censo Demográfico dos anos de 1991, 2000, 2010 e 2022, fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Visualmente, a curva vermelha tracejada indica o comportamento estimado da população ao longo do tempo, incluindo projeções para além do último censo oficial. Nota-se que, após um crescimento constante até 2010, o gráfico detecta uma inflexão na curva, evidenciando uma tendência de retração populacional a partir de 2010, que se confirma em 2022 com a queda para 35.114 habitantes. A projeção sugere que, mantidas as condições atuais, o município poderá continuar enfrentando redução populacional ou estagnação nas próximas décadas.
Por conta da migração populacional para outras regiões, uma comparação de migração entre grandes regiões, unidades da federação e municípios.
Gráfico 3: Proporção de Migrantes segundo a informação de lugar de nascimento – Brasil 1991 a 2010.

A linha laranja do gráfico representa a migração interestadual, ou seja, o deslocamento de pessoas entre diferentes unidades da federação. Essa é justamente a categoria que melhor reflete o tipo de movimento que se busca compreender na investigação da migração de moradores de Laranjal do Jari para outros estados do Brasil. Observa-se que, entre 1991 e 2000, houve um leve crescimento na proporção de migrantes interestaduais, seguido por uma pequena queda em 2010. Essa trajetória indica uma certa estabilidade, mas também sugere que fatores estruturais — como estagnação econômica local, falta de oportunidades de emprego e deficiências nos serviços públicos — podem ter influenciado de forma persistente a decisão de moradores de Laranjal do Jari de se estabelecerem em outras regiões do país.
Analisando de forma comparativa com outras cidades brasileiras, método de Sartori (1994), identificamos os seguintes resultados em gráfico:
Gráfico 4: Comparação com os dados populacionais entre Laranjal do Jari-AP e São Paulo – SP.

O gráfico comparativo entre São Paulo (SP) e Laranjal do Jari (AP) ilustra dinâmicas demográficas opostas que podem ser analisadas à luz de Sartori (1994). São Paulo apresenta crescimento populacional positivo de 0,15%, sustentado por sua posição como centro econômico, com ampla oferta de empregos, serviços e infraestrutura que atraem fluxos migratórios. Em contraste, Laranjal do Jari registra um crescimento negativo de -1,07%, reflexo de fragilidades estruturais, como acesso limitado a serviços básicos e oportunidades econômicas, o que estimula o êxodo populacional.
Segundo Sartori (1994), o declínio populacional reflete um ciclo de subdesenvolvimento, onde a ausência de políticas eficazes perpetua a deterioração local. Assim, enquanto São Paulo mantém condições favoráveis ao crescimento, Laranjal evidencia o impacto do descompasso entre estrutura socioeconômica e retenção populacional.
A fim de sustentar o que se seguirá na discussão dos resultados, ainda comparamos Laranjal do Jari (AP) com a cidade de Rio do Sul (SC), uma cidade para qual muitos laranjalenses estão migrando.
Gráfico 5: Comparação com os dados populacionais entre Laranjal do Jari-AP e Rio do Sul – SC.

O gráfico apresenta um panorama comparativo do crescimento populacional de Laranjal do Jari (AP) e Rio do Sul (SC) entre 1970 e 2022, evidenciando dinâmicas demográficas contrastantes. Rio do Sul exibe uma trajetória consistente de crescimento ao longo de todo o período, atingindo cerca de 80 mil habitantes em 2022, o que reflete uma estabilidade econômica e social que favoreceu a retenção e o incremento populacional. Por outro lado, Laranjal do Jari apresenta crescimento em 1991, censo posterior ao período de sua criação em 1987, com um incremento significativo até 2010, quando atinge seu pico populacional, pouco acima de 40 mil habitantes. No entanto, após esse marco, observa-se um declínio na população, estabilizando-se em um patamar inferior em 2022. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rio do Sul (SC) apresenta um crescimento populacional de 1,42%, novamente demonstrando uma estabilidade socioeconômica, elevada taxa de natalidade ou fluxo migratório.
5.1 Análise de Impactos Econômicos Quantitativos
Laranjal do Jari, com seus 35.114 habitantes em 2022 e um PIB de R$1,1 bilhão, enfrenta uma realidade econômica marcada pela dependência da administração pública, que responde por 47,7% da riqueza local. A saída de 4.828 moradores entre 2010 e 2022, uma queda de 12,1%, não é apenas um número: ela reflete a busca por melhores oportunidades em cidades como São Paulo (SP) e Rio do Sul (SC), que crescem a taxas de 0,15% e 1,42%, respectivamente (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2022). Esse êxodo tem consequências diretas no comércio, na arrecadação fiscal e no PIB, agravadas pelo saldo negativo de 65 postos de trabalho em 2025. Para entender esses impactos, aplicamos modelos econométricos inspirados em Gujarati (2011), com cálculos organizados em tabelas e passos detalhados.
O comércio local, essencial para a vitalidade econômica, sofre com a redução da demanda. Cada morador que deixa Laranjal do Jari leva consigo uma parcela do consumo que sustenta pequenos negócios. Estimamos que cada habitante gasta, em média, R$5.000 por ano, valor calculado com base em 23% do PIB per capita de R$21.700. Com a saída de 4.828 pessoas, o setor de serviços, que representa 17,8% do PIB (R$195,8 milhões), perde R$24,1 milhões anuais, ou 12,3% de sua receita. Essa contração, modelada por uma regressão linear, reflete a fragilidade de uma economia dependente de atividades como agricultura de subsistência e comércio, conforme descrito por Cruz (2023, p. 1495).
No quadro 1, procuramos fazer um cálculo estimado, fundamentado na econometria.
Quadro 1: Impacto no Comércio Local

O cálculo do impacto econômico da migração de Laranjal do Jari reflete a perda no consumo local e sua influência na receita do setor de serviços, utilizando-se uma abordagem quantitativa. Inicialmente, foi determinado o consumo per capita da população emigrada, estimado em 23% do PIB per capita municipal (R$21.700 × 0,23), resultando em aproximadamente R$5.000, valor que reflete o padrão de consumo regional. Ao multiplicar esse consumo médio pela quantidade de emigrantes (-4.828), obteve-se uma perda total de R$24.140.000 em consumo.
Quando comparado à receita total do setor de serviços, que corresponde a 17,8% do PIB municipal (R$ 1,1 bilhão × 17,8% = R$ 195.800.000), a perda representa aproximadamente 12,3% da receita deste setor (R$ 24.140.000 ÷ R$ 195.800.000). Este percentual revela a expressiva influência da migração na economia local, especialmente no setor terciário, que é diretamente dependente do consumo interno.
A arrecadação fiscal também sente o impacto. Com menos moradores, o município perde recursos de impostos como o ISS e transferências proporcionais à população. Estimamos uma arrecadação per capita de R$1.500, valor conservador para municípios amazônicos. Assim, a saída de 4.828 habitantes reduz a receita em R$7,2 milhões por ano, comprometendo serviços essenciais como saúde e educação, já fragilizados pela ausência de infraestrutura (THALEZ; COUTO, 2007, p. 36).
Quadro 2: Impacto na Arrecadação Fiscal

O PIB local sofre com o aumento do desemprego. O saldo negativo de 65 postos de trabalho eleva a taxa de desemprego em 0,31%, considerando uma força de trabalho de 21.068 pessoas (60% da população). Segundo Gujarati (2011), um aumento de 1% no desemprego reduz o PIB per capita em 0,5%. Para 0,31%, a redução é de R$33,64 por habitante, totalizando uma perda de R$1,2 milhão no PIB.
Quadro 3: Impacto no PIB – Desemprego

Esses números revelam um ciclo de subdesenvolvimento: menos moradores, menos consumo, menos receita e menos empregos. Apesar do crescimento do PIB de 227,2% entre 2011 e 2021, ele é inflado pela administração pública, e a baixa inovação (duas empresas online em 2024) limita o dinamismo econômico. A ausência de séries temporais completas restringe a robustez dos modelos, mas os resultados são claros: a migração custa caro a Laranjal do Jari.
5.2 Impacto a Longo Prazo da Retração Populacional
A história de Laranjal do Jari é marcada por ciclos de esperança e frustração. A chegada do Complexo Jari Celulose na década de 1970 trouxe migrantes em busca de trabalho, mas seu declínio deixou uma economia fragilizada, incapaz de sustentar os 39.942 habitantes de 2010. Em 2022, com apenas 35.114 moradores, o município enfrenta uma retração populacional de 12,1%, projetada para continuar até 2030, segundo o modelo de regressão polinomial (Gráfico 4). Essa tendência não é apenas demográfica: ela ameaça a sustentabilidade econômica e social de uma cidade que já foi chamada de “maior favela fluvial da Amazônia” (CRUZ, 2023, p. 1494).
A saída de jovens e trabalhadores qualificados, atraídos por cidades como São Paulo e Rio do Sul, deixa uma população mais velha, que depende de serviços de saúde e assistência social. A infraestrutura precária, com enchentes na várzea e ausência de saneamento, já torna o atendimento médico insuficiente (CRUZ, 2023, p. 1496). Até 2030, os custos com saúde podem aumentar 20%, exigindo R$10 milhões anuais adicionais. Com a arrecadação reduzida em R$7,2 milhões por ano devido à migração, financiar esses serviços será um desafio quase intransponível.
A base tributária, essencial para manter escolas e estradas, também encolhe. A perda de receita compromete investimentos estratégicos, como a pavimentação da BR-156, que poderia conectar Laranjal do Jari a Macapá e Belém (THALEZ; COUTO, 2007, p. 36). Esse ciclo vicioso, descrito por Sartori (1994) em contextos de subdesenvolvimento, faz com que a migração alimente mais migração, esvaziando o município de recursos e oportunidades.
Economicamente, a retração populacional sufoca o comércio, que perde R$24,1 milhões anuais, e limita o setor de serviços, responsável por apenas 17,8% do PIB. A abertura de 68 empresas em 2024 é um sinal positivo, mas a baixa inovação (apenas duas empresas online) mostra que o município ainda depende de atividades tradicionais, incapazes de absorver a mão de obra local. Socialmente, bairros como Agreste correm o risco de abandono, enfraquecendo redes comunitárias que sustentam a identidade local (CRUZ, 2023, p. 1497).
Sem intervenções, os impactos a longo prazo são alarmantes. Até 2030, as perdas acumuladas no comércio e na arrecadação podem ultrapassar R$50 milhões, tornando Laranjal do Jari ainda mais vulnerável. Políticas keynesianas, como as defendidas por Boechat e Pereira (2019, p. 112), são urgentes: investir em educação e infraestrutura pode reter jovens e fortalecer a economia, quebrando o ciclo de declínio.
5.3 Detalhamento das Políticas Públicas Propostas
Reverter a migração de Laranjal do Jari exige mais do que boas intenções: demanda ações concretas, planejadas e financiadas, que transformem a realidade do município. Inspiradas no keynesianismo, que valoriza a intervenção estatal para estimular a economia (BOECHAT; PEREIRA, 2019, p. 112), as propostas abaixo focam em infraestrutura, diversificação econômica e serviços públicos, com cronogramas e estimativas claras.
Primeiro, é essencial melhorar a infraestrutura. A pavimentação da BR-156, orçada em R$100 milhões, pode ser concluída em cinco anos, com recursos federais e estaduais. Essa obra conectaria Laranjal do Jari a mercados maiores, atraindo investimentos e criando 300 empregos diretos. Da mesma forma, um programa de saneamento na várzea, com R$50 milhões, atenderia 30% da população em três anos, reduzindo enchentes e melhorando a qualidade de vida, com 200 empregos gerados (CRUZ, 2023, p. 1496).
A diversificação econômica é outro pilar. O turismo sustentável, aproveitando a beleza da Bacia Amazônica, pode ser impulsionado com R$10 milhões em dois anos, criando 200 empregos em ecoturismo e gerando R$15 milhões anuais. A industrialização de produtos extrativistas, como castanha-do-pará, com R$8 milhões em três anos, produziria 150 empregos, fortalecendo o setor de serviços, que representa 17,8% do PIB. Essas iniciativas reduziriam a dependência da administração pública, que hoje domina 47,7% da economia.
Por fim, investir em saúde e educação é estratégico para reter a população. A construção de duas escolas técnicas, com R$ 15 milhões em quatro anos, capacitaria 1.000 jovens, aumentando a empregabilidade, além do mais o Polo da Unifap com diversidades de cursos, como medicina, pode chamar mais migrantes para Laranjal do Jari, com investimento em saúde atraí-los para ocuparem nossos hospitais. Um programa de bolsas de R$2 milhões anuais beneficiaria 500 estudantes, financiado por parcerias público-privadas. Na saúde, R$10 milhões em três anos ampliariam unidades básicas, atendendo ao envelhecimento populacional projetado até 2030. A gestão estável, como a de Teddy Menezes, pode garantir a execução dessas medidas.
O cronograma prevê infraestrutura (2026-2030), turismo/extrativismo (2026-2028) e educação/saúde (2026-2029), com um investimento total de R$195 milhões (60% federal, 30% estadual, 10% privado). Indicadores como taxa de migração e geração de empregos monitorarão o progresso. Com essas ações, Laranjal do Jari pode reduzir a migração em 20% até 2030, construindo um futuro mais próspero.
6. CONSIDERAÇÕES
Este artigo analisou os impactos econômicos e estruturais da migração de moradores de Laranjal do Jari, enfocando o contexto específico de sua crise de mobilidade populacional. A pesquisa revelou a estreita relação entre a falta de oportunidades econômicas e a saída de uma parcela significativa da população, além de identificar os impactos negativos no consumo local, na arrecadação fiscal e na sustentabilidade do setor de serviços.
Com uma abordagem sólida e fundamentada em dados estatísticos e análises comparativas, este estudo alcançou seu objetivo central de discutir os impactos econômicos e estruturais da migração em Laranjal do Jari. Embora não tenha se debruçado sobre a perspectiva subjetiva dos migrantes ou da população local, a proposta não era compreender suas motivações individuais, mas sim evidenciar, com base em indicadores objetivos, como a fragilidade econômica e a precariedade da infraestrutura contribuem para o êxodo populacional. Futuramente, a pesquisa pode ser expandida para uma monografia ou publicação mais ampla, incorporando análises sobre temas correlatos, como os efeitos das enchentes, a precariedade dos serviços públicos, a infraestrutura educacional e a saúde, ampliando ainda mais a compreensão dos fatores que comprometem a sustentabilidade socioeconômica do município e subsidiando políticas públicas mais integradas e eficazes.
O desafio de reter sua população e sustentar sua economia é complexo, mas pode ser enfrentado com investimentos estratégicos em infraestrutura, diversificação econômica e serviços básicos. Dessa forma, Laranjal do Jari poderá transformar seu cenário atual e construir um futuro mais sustentável e inclusivo.
REFERÊNCIAS
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1Discente do Curso Superior de Administração do Instituto Federal do Estado do Amapá – IFAP, Campus Laranjal do Jari e-mail: derlison242@gmail.com.
2Discente do Curso Superior de Administração do Instituto Federal do Estado do Amapá – IFAP, Campus Laranjal do Jari e-mail: yahndisouza36@gmail.com.
3Docente do Curso Superior de Bacharelado em Administração do Instituto Federal do Amapá – IFAP, Campus Laranjal do Jari. Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFPE). e-mail: edilon.nunes@ifap.edu.br.