REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202506151740
Célio Ferreira1
Lindon Jhonsom de Araujo Madelena2
Monique Avello Peres3
Sinara de Fátima Freire dos Santos4
Romer Antônio Carneiro de Oliveira Junior5
RESUMO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica caracterizada por dificuldades persistentes na comunicação, interação social e comportamentos repetitivos, cuja prevalência vem aumentando, tornando-se um relevante problema de saúde pública. Diante disso, cresce o interesse por alternativas terapêuticas que complementem os tratamentos convencionais, como a utilização da cannabis medicinal, especialmente os compostos canabinoides como o CBD (canabidiol), que demonstram potencial em reduzir sintomas associados ao TEA, como agressividade, ansiedade, hiperatividade e distúrbios do sono, com um perfil de segurança mais favorável do que os medicamentos tradicionais. A atuação do farmacêutico nesse contexto torna-se essencial, visto que esse profissional é capacitado para orientar a prescrição, uso racional, dosagem e prevenção de interações medicamentosas, promovendo maior segurança e eficácia no tratamento. Apesar das limitações das evidências científicas disponíveis, há crescente respaldo clínico e regulamentar para o uso da cannabis medicinal, como demonstrado pela autorização da Anvisa para produtos à base de CBD no Brasil, refletindo uma mudança significativa na abordagem terapêutica. Historicamente, a cannabis tem sido usada por diferentes civilizações para fins medicinais, porém, no século XX, seu uso foi proibido em muitos países. No entanto, o cenário contemporâneo é de revalorização terapêutica da planta, respaldado por avanços científicos e mudanças legislativas. Nesse cenário, o farmacêutico se destaca como agente de transformação, capacitado para promover a educação em saúde, supervisionar o uso correto do fitofármaco e integrar equipes multidisciplinares, atuando não apenas na dispensação, mas também no acompanhamento terapêutico e na educação da sociedade sobre o uso medicinal da cannabis. Assim, sua participação ativa é crucial para que o tratamento com cannabis seja conduzido de forma ética, científica e humanizada, oferecendo melhor qualidade de vida aos pacientes e familiares envolvidos.
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista. Cannabis Medicinal. Canabidiol. Atenção Farmacêutica.
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de novas terapias e/ou alternativas terapêuticas tem se intensificado nos últimos anos, a busca de maiores possibilidades de cura ou tratamento de doenças que anteriormente não se tinham bons prognósticos. Dentre as novas terapêuticas destaca-se a cannabis (Cannabis sativa) sendo um dos fitofármacos mais utilizados no tratamento de doenças que afetam a mente, incluindo as do espectro do autismo. É extremamente importante destacar as vantagens e as experiências positivas da cannabis como um valioso recurso no tratamento dos sinais relacionados a essa condição. Pessoas que se encontram no espectro do autismo enfrentam uma gama de sintomas, e, por isso, os profissionais de saúde recomendam medicamentos que promovam seu bem-estar e facilitem sua integração social.
Um indivíduo diagnosticado com transtorno do espectro do autismo (TEA) pode apresentar diversos sintomas ligados à comunicação, interação com os outros e comportamentos. Entre os sintomas mais frequentes estão a dificuldade para criar e manter relações sociais, além de interpretar as normas sociais, como expressões faciais e gestos. Além disso, é comum haver déficits na comunicação tanto verbal quanto não verbal, com atrasos na fala ou dificuldades para iniciar e sustentar diálogos. Outro sinal recorrente é a presença de interesses limitados e comportamentos repetitivos, como a rigidez em seguir rotinas e a repetição de certos movimentos ou gestos. Também são comuns reações excessivas ou reduzidas a estímulos sensoriais, como luzes, sons ou texturas. Indivíduos com TEA podem, ainda, ter desafios ao compreender emoções e intenções de outras pessoas, o que restringe suas interações sociais. Como resultado, podem ficar inativos e apresentar sinais de depressão.
A intensidade desses sintomas difere de indivíduo para indivíduo e frequentemente necessita de ajuda médica para aprimorar a qualidade de vida e a integração social. Um indivíduo com transtorno do espectro autista precisa não só de medicamentos, mas também de uma supervisão mais abrangente por um grupo com diversas especializações. O acompanhamento da terapia medicamentosa e a correta orientação sobre o uso racional de medicamentos é função vital do profissional farmacêutico, contribuído para o sucesso do tratamento. Outro fator que merece uma atenção especial é a falta de informação sobre a importância do uso medicinal desta planta e não somente o uso recreativo, visto negativamente por grande parte da população.
Além do mais, é relevante enfatizar que a utilização da cannabis terapêutica no manejo do Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem chamado a atenção devido aos seus efeitos influentes no sistema endocanabinoide, o qual é fundamental na gestão de funções como humor, sono, apetite e percepção sensorial. Estudos preliminares e relatos clínicos sugerem que os canabinoides, como o CBD (canabidiol) e o THC (tetraidrocanabinol), podem ajudar a reduzir sintomas como agressividade, ansiedade, hiperatividade e distúrbios do sono em pacientes com autismo. O canabidiol, especificamente, tem sido extensivamente pesquisado devido às suas características que reduzem a ansiedade, combatem psicose e protegem o sistema nervoso, mostrando um perfil de segurança positivo e apresentando menos reações adversas quando comparado a fármacos convencionais, como os antipsicóticos e os ansiolíticos.
Um outro ponto importante é a necessidade de realizar pesquisas científicas mais robustas para fortalecer as evidências relacionadas à eficácia e segurança da cannabis no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA), considerando que a maioria das investigações atuais ainda apresenta limitações em termos de tamanho da amostra e duração. Mesmo assim, diversos países já regulamentaram o uso da cannabis medicinal, permitindo que pacientes com condições específicas, como o autismo, acessem esses tratamentos sob a supervisão de profissionais de saúde. No Brasil, por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu permissão para a prescrição de produtos com CBD voltados para casos difíceis de epilepsia e outras condições, iniciando diálogos sobre sua utilização no TEA.
Diante desse cenário, é fundamental que os profissionais de saúde, especialmente farmacêuticos e médicos, estejam atualizados sobre as possibilidades terapêuticas da cannabis, seus mecanismos de ação, dosagens adequadas e possíveis interações medicamentosas. A educação continuada e o diálogo aberto com pacientes e familiares são essenciais para desmistificar preconceitos e promover o uso responsável e baseado em evidências. Dessa forma, a cannabis terapêutica pode se transformar em um recurso importante no controle dos sinais do autismo, trazendo melhorias consideráveis para a qualidade de vida tanto dessas pessoas quanto de suas famílias.
1.1 O PROBLEMA
Qual é a influência da atuação do farmacêutico na terapia do Transtorno do Espectro Autista (TEA) através da utilização de cannabis?
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Examinar de que maneira a atuação do farmacêutico apoia no tratamento com cannabis medicinal para o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS OU SECUNDÁRIOS
- Enfatizar os possíveis benefícios da cannabis para aprimorar a qualidade de vida de pessoas com autismo.
- Investigar como a atuação do farmacêutico pode ajudar na personalização e na segurança ao utilizar cannabis para aliviar os sintomas do autismo.
- Analisar as consequências das interações medicamentosas entre a cannabis e outras terapias empregadas por pacientes autistas, contando com a assistência do farmacêutico na supervisão dessas interações.
3 JUSTIFICATIVA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição relacionada ao desenvolvimento neurológico que se destaca por dificuldades contínuas na comunicação e nas relações sociais, juntamente com comportamentos repetitivos e restritos. A forma como o TEA se apresenta pode diferir muito de uma pessoa para outra, sendo afetada por aspectos genéticos, ambientais e epigenéticos. A origem do transtorno ainda não está totalmente clara, mas pesquisas indicam que modificações na poda sináptica, inflamações no sistema nervoso e problemas no sistema nervoso central podem ser mecanismos envolvidos (American Psychiatric Association, 2022; CUMC, 2014).
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ocorrência mundial do TEA é cerca de 1 em cada 100 crianças, o que destaca sua relevância como um tema de saúde pública. No Brasil, os dados epidemiológicos ainda são limitados, mas observa-se um aumento expressivo nos diagnósticos, impulsionado por maior acesso à informação e à saúde especializada. As comorbidades mais frequentes incluem transtornos de ansiedade, epilepsia, distúrbios do sono e dificuldades cognitivas (CDC, 2020; APA, 2023)
Embora não exista cura para o TEA, o tratamento é baseado em intervenções multidisciplinares que envolvem terapias psicossociais, educacionais e, em alguns casos, farmacológicas. A abordagem medicamentosa, no entanto, tem como objetivo principal o controle de sintomas associados, como agressividade, irritabilidade, impulsividade e insônia, e não atua sobre os sintomas centrais do transtorno (Kitaoka, 2020; Fernandes et al., 2017)
O uso da cannabis medicinal tem suscitado grande interesse nos últimos anos, devido aos seus potenciais e propriedades terapêuticas. O avanço da legislação em diversos países e as evidências científicas vêm impulsionando a discussão sobre o seu uso na área da saúde. Nesse contexto, torna-se fundamental compreender o papel do farmacêutico, que desempenha um papel crucial na orientação e acompanhamento dos pacientes que utilizam a cannabis medicinal, garantindo a segurança e eficácia no seu uso (Florio & Barbosa, 2023).
O uso da cannabis para fins medicinais remonta a milhares de anos, sendo amplamente empregada em diversas culturas ao longo da história. Recentemente, houve um crescimento considerável no interesse do meio científico para investigar os possíveis benefícios terapêuticos dos compostos encontrados na planta, motivado pela busca por alternativas naturais e alterações nas leis. Esse cenário gerou debates significativos sobre o uso da cannabis medicinal no âmbito da saúde, ressaltando a importância de uma análise cuidadosa dessa prática. Nesse contexto, a função do farmacêutico é fundamental, englobando desde a distribuição dos produtos com cannabis até a supervisão farmacoterapêutica especializada. O trabalho do farmacêutico envolve a conferência da receita, a orientação do paciente quanto à dosagem e o modo correto de uso, além do acompanhamento de possíveis efeitos adversos e interações entre medicamentos. O conhecimento especializado do farmacêutico é vital para garantir a segurança e a efetividade no uso da cannabis medicinal, contribuindo para um atendimento completo e de qualidade ao paciente (Araujo, 2024) (Nunes & Santos).
O uso terapêutico da cannabis tem origens que remontam a milênios, com registros históricos que demonstram sua aplicação em várias civilizações antigas. Na China, cerca de 2.300 a.C., o imperador Shen Nong registrou a utilização da planta para combater doenças como reumatismo e malária. No Antigo Egito, achados arqueológicos sugerem que a cannabis era empregada para aliviar dores e tratar inflamações. Na Índia, textos ayurvédicos, como o Atharva Veda, fazem referência à planta como uma das cinco ervas sagradas, usada para alívio de dores e problemas gastrointestinais (Rowan, 1999).
No decorrer do século XX, o uso terapêutico da cannabis foi gradualmente banido em muitos países. Nos Estados Unidos, a Lei do Imposto sobre a Marijuana de 1937 impôs restrições severas a seu uso, enquanto a Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961, impulsionada pela ONU, reforçou a proibição em nível global (Martins, 2022).
No Brasil, os avanços na regulamentação da cannabis medicinal foram significativos nos últimos anos. Em 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permitiu a importação de produtos com cannabis para fins medicinais, desde que prescritos por profissionais da saúde, conforme a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 327/2019 (Brasil, 2019). Globalmente, numerosos países estão revendo suas legislações para permitir o uso terapêutico da cannabis, reconhecendo seu potencial medicinal. Contudo, ainda há países com restrições rigorosas em relação ao seu uso (Martins, 2022).
Sob uma perspectiva voltada para a orientação farmacêutica, o uso da cannabis medicinal contribui não apenas para que acadêmicos de farmácia adquiram conhecimento sobre o tema, mas também para que farmacêuticos formados desenvolvam interesse e possam atuar profissionalmente na elevação das condições de vida de pacientes que fazem uso desse tipo de terapia. Isso é particularmente importante para indivíduos que foram diagnosticados com o transtorno do espectro autista, uma população que tem sido mais observada nos dias de hoje. O envolvimento do farmacêutico nessa área abre portas para que ele se insira em discussões e práticas nas quais ainda pode não se sente totalmente seguro para atuar. Assim, pesquisas que demonstrem a importância da participação ativa deste profissional de saúde são fundamentais para ampliar suas áreas de atuação. Após a mudança das normas de prescrição do canabidiol pela Anvisa, houve um aumento significativo no número de solicitações. Atualmente, são mais de 300 doenças que podem ser tratadas com essa substância, sendo as mais comuns: ansiedade, epilepsia e, principalmente, o transtorno do espectro autista (TEA). O farmacêutico desempenha um papel fundamental nesse contexto, tanto orientando o médico quanto o paciente, pois possui um conhecimento aprofundado sobre a legislação de prescrição e as doses adequadas para cada caso.
4. METODOLOGIA
O presente trabalho utilizará o método de Revisão de Literatura para investigar o tema relacionado ao uso da cannabis medicinal e a atuação do farmacêutico na atenção ao paciente. A pesquisa será conduzida com base em artigos científicos, livros, dissertações e outras fontes confiáveis, publicados nos últimos 10 anos, garantindo a atualidade e a relevância das informações analisadas.
Os dados serão coletados por meio de buscas nas seguintes bases de dados: PubMed, SciELO, Google Scholar e ResearchGate, entre outras. Essas plataformas foram selecionadas devido à sua ampla abrangência e acesso a conteúdo científicos de alta qualidade.
Para realizar as buscas, serão utilizados descritores e palavras-chave como: “cannabis medicinal”, “farmacêutico”, “farmacovigilância”, “tratamento com CBD” e “atuação do farmacêutico na cannabis medicinal”. Essas palavras foram definidas com base na relevância ao tema central do estudo.
Todo o material coletado será analisado de forma crítica, visando identificar e compreender as principais contribuições teóricas e práticas sobre o uso terapêutico da cannabis e a atuação do farmacêutico. Essa abordagem permitirá sintetizar os conhecimentos disponíveis e fornecer subsídios para uma melhor compreensão do tema.
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5.1 Desafios da atenção farmacêutica ao paciente com autismo (TEA) em tratamento com cannabis
A abertura ao exame dos obstáculos da assistência farmacêutica para indivíduos com transtorno do espectro autista (TEA) em tratamento com cannabis cria uma oportunidade vital para analisarmos a intricada sobreposição entre farmacologia, autismo e métodos de cuidado. O TEA, que abrange um conjunto diversificado de condições de desenvolvimento neurológico, é marcado por desafios na comunicação, na interação social e por comportamentos repetitivos, apresentando uma ampla gama de sintomas que demandam tratamentos adaptados a cada caso. No Brasil, estima-se que a prevalência do autismo varie entre 1% a 2%, o que se traduz em um número significativo de pacientes que podem beneficiar-se de intervenções farmacológicas, incluindo a cannabis medicinal. (OLIVEIRA, 2024)
A utilização da cannabis em contextos terapêuticos para condições neuropsiquiátricas, como o TEA, tem ganhado destaque nas últimas décadas, levando a um crescente interesse tanto da comunidade científica quanto de famílias e profissionais de saúde. A cannabis contém compostos bioativos, como canabinoides, que podem influenciar a química neural e, potencialmente, mitigar sintomas como ansiedade, hiperatividade e irritabilidade, frequentemente associados ao TEA. Apesar das evidências emergentes que sustentam a eficácia da cannabis, a sua introdução no regime terapêutico impõe desafios significativos para os profissionais de saúde, especialmente farmacêuticos, que desempenham um papel fundamental na gestão e na orientação do tratamento. (KASHIMA et al., 2024)
Estes desafios incluem a necessidade de uma compreensão aprofundada das propriedades farmacológicas dos canabinoides, a análise crítica das interações medicamentosas e a avaliação rigorosa dos perfis de segurança, uma vez que a população com TEA apresenta frequentemente comorbidades e utiliza múltiplas medicações. Além disso, as lacunas na legislação e na normatização da utilização de produtos à base de cannabis no Brasil complicam ainda mais o cenário, exigindo que os farmacêuticos não apenas estejam atualizados sobre as diretrizes clínicas, mas também naveguem no panorama ético e legal em evolução. Assim, discutir as particularidades do uso de cannabis para o tratamento de indivíduos com TEA não só ressalta a urgência de diretrizes práticas bem definidas, mas também evidencia a relevância da função essencial dos farmacêuticos na facilitação de um atendimento seguro e eficiente. (MELO; MOSMANN, 2023)
5.2. Contextualização do Autismo e do Tratamento com Cannabis
Conforme Rocha e De Lima (2024), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição cerebral complicada, marcada por desafios significativos na comunicação, nas relações sociais e pela manifestação de comportamentos repetitivos e interesses limitados. A manifestação do transtorno ocorre de forma ampla, variando em intensidade e sintomas entre os indivíduos, o que justifica a denominação de “espectro”. As causas do TEA são atribuídas a múltiplos fatores, incluindo componentes genéticos e ambientais, os quais ainda estão sendo amplamente investigados. A compreensão desses aspectos é fundamental para a formulação de estratégias terapêuticas eficazes, destacando-se a importância de intervenções personalizadas.
Nos anos recentes, o uso de cannabis tem se destacado como um assunto de interesse crescente relacionado ao controle dos sintomas do TEA. A planta contém canabinoides, que se relacionam com o sistema endocanabinoide do corpo humano, um sistema que é crucial para a regulação de várias funções físicas e emocionais. Estudos preliminares sugerem que a cannabis pode ajudar a aliviar certos sintomas associados ao TEA, como a agitação, a ansiedade e problemas de sono, além de potencialmente melhorar o bem-estar geral dos pacientes. No entanto, é fundamental ressaltar que a pesquisa ainda está avançando e os impactos da cannabis podem mudar de acordo com a quantidade consumida, o método de uso e a mistura química particular dos produtos empregados. Portanto, é essencial adotar uma estratégia cuidadosa e fundamentada em dados, levando em conta as características únicas de cada paciente e a importância de uma vigilância atenta. (DA SILVA; DA COSTA…, 2024)
Como tem sido explorado em pesquisas, o efeito terapêutico da cannabis está associado aos canabinoides, dentre os quais se destacam o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC). A planta de cannabis contém cerca de 100 moléculas conhecidas como fitocanabinoides. Essas moléculas são produzidas principalmente nas plantas fêmeas. O canabidiol (CBD), em particular, é a molécula mais presente na Cannabis sativa e possui um perfil lipídico que lhe permite atravessar a barreira hematoencefálica. Este fitocanabinoide é altamente terapêutico e atua predominantemente no sistema nervoso central (SNC), sendo, portanto, indicado para o tratamento de doenças que afetam essa parte do organismo. O principal mecanismo de ação do CBD no SNC está relacionado à sua interação com o sistema endocanabinoide, o qual é responsável pela homeostasia do organismo e pela modulação de neurotransmissores (PIRES; RIBEIRO, 2023).
É essencial entender o mecanismo de ação do canabidiol (CBD) para determinar como ele atua no organismo de uma pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e quais são suas indicações e posologia. Essa compreensão é fundamental para que o farmacêutico possa atuar de forma mais direta e eficaz. O uso da Cannabis sativa em indivíduos com TEA requer uma abordagem cautelosa, devido à complexidade do transtorno e à necessidade de um tratamento individualizado. É importante considerar os diferentes graus do TEA no diagnóstico e na definição do tratamento adequado.
Segundo a literatura, foi necessário um extenso estudo para concluir que o tratamento utilizando canabidiol (CBD) derivado da Cannabis sativa é seguro e eficaz. Essas investigações, tanto pré-clínicas quanto clínicas, foram focadas na compreensão dos potenciais mecanismos de ação neurobiológicos do composto. Um dos principais achados desses estudos é que o sistema endocanabinoide desempenha um papel central no controle das emoções e dos comportamentos sociais, e que disfunções nesse sistema contribuem para os déficits comportamentais observados no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nesse contexto, a modulação desse sistema pelos canabinoides pode representar um alvo terapêutico promissor (Babayeva et al., 2022; Freitas et al., 2022; Holdman et al., 2022; Silva Junior et al., 2021).
A atenção farmacêutica nesse contexto deve, portanto, ir além da mera dispensa de medicamentos, envolvendo avaliação contínua, orientação e acompanhamento do impacto do tratamento com cannabis no cotidiano do paciente com autismo. Esta abordagem colaborativa, que inclui não apenas o farmacêutico, mas também profissionais de saúde, familiares e, quando apropriado, os próprios pacientes, é essencial. Uma comunicação clara e um entendimento profundo das nuances do TEA e do tratamento com cannabis são imperativos para otimizar os resultados terapêuticos e garantir a segurança dos pacientes. Deste modo, o envolvimento do farmacêutico em processos de educação e informação se torna uma ferramenta vital na navegação dos desafios associados a esse tratamento emergente. (DA COSTA; DE ANDRADE, 2023)
5.3 Aspectos Farmacológicos da Cannabis e seu Uso em Pacientes com TEA
A cannabis, utilizada para fins terapêuticos, possui um perfil farmacológico complexo, particularmente pertinente ao tratamento de sintomas associados ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os principais compostos ativos da planta, os canabinoides, incluem o tetrahidrocanabinol e o canabidiol, que interagem com o sistema endocanabinoide do corpo humano. Essas substâncias apresentam uma variedade de efeitos fisiológicos e psicológicos que podem ser relevantes para pacientes com TEA, proporcionando tanto a modulação de comportamentos disruptivos quanto a melhoria da qualidade de vida. (GOMES et al., 2024)
Segundo Da Silva Junior (2024), o tetrahidrocanabinol, conhecido por suas propriedades psicoativas, atua principalmente nos receptores CB1 e CB2, distribuídos no sistema nervoso central e periférico. Esse composto pode auxiliar na redução da ansiedade e da hiperatividade; no entanto, seu uso deve ser cauteloso, especialmente em pacientes com predisposição a sintomas psicóticos. Em contrapartida, o CBD, que não possui efeitos psicoativos, destaca-se por suas propriedades ansiolíticas e anti-inflamatórias, sendo frequentemente relacionado à diminuição de comportamentos agressivos e à melhora da interação social em crianças com TEA. Estudos clínicos têm demonstrado que a combinação balanceada entre THC e CBD, quando administrada em doses controladas, pode resultar em efeitos terapêuticos significativos, sugerindo uma ação sinérgica benéfica desses compostos.
Para Santos e De Carvalho (2025), compreender os mecanismos de ação da cannabis no contexto do TEA exige uma análise aprofundada das vias neurobiológicas moduladas pelo sistema endocanabinoide. Evidências apontam que os canabinoides influenciam a liberação de neurotransmissores e a plasticidade sináptica, além de reduzirem processos inflamatórios no cérebro, fatores associados ao agravamento dos sintomas autísticos. Nesse sentido, a pesquisa sobre o uso medicinal da cannabis não apenas evidencia seu potencial terapêutico, como também ressalta a importância da definição de protocolos clínicos seguros e eficazes. Embora sejam necessárias mais investigações quanto à dosagem ideal, formas de administração e efeitos a longo prazo, os dados atuais posicionam a cannabis como uma alternativa promissora para o manejo dos sintomas do TEA.
5.4. Compostos Ativos da Cannabis e seus Efeitos
A Cannabis sativa, frequentemente utilizada na medicina alternativa, contém uma vasta gama de compostos bioativos que exercem múltiplos efeitos no organismo humano, sendo os mais notáveis os canabinoides e os terpenos. Entre os canabinoides, o tetrahidrocanabinol e o canabidiol são os mais estudados. O tetrahidrocanabinol é conhecido por induzir a euforia e está associado ao alívio da dor, enquanto o canabidiol tem ganhado destaque por suas propriedades ansiolíticas e anti-inflamatórias, além de seu potencial para influenciar a neuroplasticidade, uma característica significativa na abordagem terapêutica do autismo (NASCIMENTO; 2025).
O estudo dos efeitos desses compostos, especialmente em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista, sugere que a administração de canabinoides pode ajudar na mitigação de sintomas comportamentais. Os canabinoides atuam nos receptores do sistema endocanabinoide, que desempenha um papel crucial na regulação do humor, comportamento e respostas ao estresse. No contexto do Transtorno do Espectro Autista, a interação do canabidiol com esses receptores pode equivaler a um modulador do sistema neurológico, auxiliando na redução de comportamentos auto lesivos e na promoção de interações sociais (DAMASCENO, 2024).
Ademais, a diversidade dos terpenos presentes na Cannabis também contribui para o efeito terapêutico. Compostos como o limoneno e o mirceno não apenas influenciam o aroma e o sabor da planta, mas também potencializam os efeitos do tetrahidrocanabinol e do canabidiol, um fenômeno conhecido como “efeito entourage”. Essa sinergia entre canabinoides e terpenos não deve ser subestimada, pois pode oferecer uma abordagem mais holística e eficaz no tratamento dos sintomas do autismo, desencadeando um aumento na qualidade de vida dos pacientes. Assim, o entendimento aprofundado desses compostos, suas interações e efeitos específicos é vital para uma intervenção farmacêutica informada e responsável em pacientes com Transtorno do Espectro Autista (FERREIRA, 2024).
5.5. Mecanismos de Ação da Cannabis no Contexto do Autismo
Conforme Marinho e Silva Neto (2023), os mecanismos de ação da cannabis, especialmente no tratamento de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), apresentam-se como complexos e multifacetados, uma vez que envolvem a interação de seus compostos ativos com o sistema endocanabinoide do organismo humano. Os principais canabinoides, tetrahidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD), atuam predominantemente por meio da modulação dos receptores CB1 e CB2, amplamente distribuídos no sistema nervoso central e periférico. A ativação do receptor CB1, presente em áreas cerebrais relacionadas à cognição, comportamento social e regulação emocional, pode desencadear efeitos sedativos, ansiolíticos e neuroprotetores, o que se mostra potencialmente benéfico para indivíduos com TEA, sobretudo diante de comorbidades como ansiedade e hiperatividade (FERREIRA, 2024).
Além disso, a interação do canabidiol com o sistema canabinoide, sem causar psicoatividade, permite a modulação de diversos neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, que desempenham papéis cruciais na modulação do humor e das interações sociais. Estudos indicam que o canabidiol pode reduzir comportamentos autísticos ao influenciar a percepção social e a resposta emocional. Ao promover um equilíbrio neuroquímico, a cannabis pode oferecer uma abordagem terapêutica diferenciada, favorecendo a plasticidade neuronal e possivelmente mitigando algumas das dificuldades vivenciadas por pacientes no espectro autista (DE GOUVEA FERREIRA, 2024).
Outro aspecto relevante é a capacidade dos canabinoides de exercer influência sobre a inflamação e o estresse oxidativo, condições que podem estar associadas a transtornos do neurodesenvolvimento. A redução da inflamação neurogênica através do ativar de vias canabinoides pode contribuir para um ambiente cerebral mais saudável, promovendo o bem-estar geral. Portanto, a compreensão dos mecanismos de ação da cannabis não apenas enriquece o conhecimento sobre suas potencialidades terapêuticas, mas também direciona os cuidados farmacêuticos no manejo de pacientes com TEA, permitindo a personalização de tratamentos e a otimização de resultados clínicos. A investigação contínua desses mecanismos permanece essencial para solidificar a base científica que respalda o uso da cannabis neste campo complexo e em evolução (FERREIRA, 2024).
5.6. Papel do Farmacêutico na Atenção ao Paciente com TEA em Tratamento com Cannabis
O papel do farmacêutico na atenção ao paciente com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em tratamento com produtos à base de cannabis é abrangente e multifacetado. Ele envolve, além da dispensação dos medicamentos, ações educativas e suporte contínuo à família e ao paciente. Esse profissional atua como elo entre os cuidadores e a equipe de saúde, oferecendo orientações sobre o uso seguro da cannabis medicinal e esclarecendo dúvidas sobre seus riscos e benefícios (Souza; Santos, 2022).
De acordo com De Jesus e De Lima (2024), é essencial que o farmacêutico domine as especificidades relacionadas aos canabinoides, visto que a regulamentação sobre seu uso medicinal está em constante transformação e pode apresentar variações significativas entre diferentes regiões. A educação fornecida por esse profissional é um pilar fundamental do tratamento, uma vez que pacientes e familiares frequentemente têm dúvidas sobre dose, forma de uso e possíveis efeitos colaterais. Nesse sentido, o farmacêutico deve oferecer informações claras e empáticas, abordando não apenas os aspectos técnicos, mas também as implicações comportamentais e sociais do tratamento.
A atuação do farmacêutico inclui também a vigilância rigorosa quanto aos efeitos adversos e possíveis interações medicamentosas, especialmente diante da complexidade clínica do TEA, que comumente envolve múltiplos tratamentos. Acompanhar a resposta do paciente à terapia com cannabis permite ajustes mais precisos, promovendo maior segurança e eficácia na intervenção (CASSELLA, 2024).
Segundo Junior e Soler (2024), ao manter-se constantemente atualizado com as evidências científicas e boas práticas relacionadas ao uso da cannabis no contexto do TEA, o farmacêutico fortalece sua atuação clínica. Sua participação ativa contribui para um cuidado mais humanizado, assegurando não apenas a eficácia do tratamento, mas também a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, em uma abordagem que transcende os aspectos puramente farmacológicos.
5.7. Educação e Orientação ao Paciente e Família
A educação e orientação ao paciente e à família são fundamentais na abordagem farmacêutica voltada ao tratamento de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), especialmente aqueles que utilizam cannabis medicinal. A complexidade do TEA, aliada às especificidades da terapia com cannabis, exige que os farmacêuticos desempenhem um papel ativo na disseminação de informações precisas e adequadas. Inicialmente, é imprescindível esclarecer aos familiares a natureza do tratamento, informando sobre os tipos de canabinoides, suas propriedades terapêuticas e os diferentes métodos de administração, como óleos, vaporização ou comestíveis. (VIEIRA et al.)
Esta orientação deve ser acompanhada de uma discussão sobre a legislação vigente e a legitimidade do uso de cannabis, a fim de minimizar inseguranças e promover uma compreensão sólida. Além disso, é crucial que se estabeleça um canal de comunicação aberto e contínuo com os familiares, permitindo que eles expressem suas dúvidas e preocupações. O entendimento da farmacoterapia não deve se restringir apenas à parte técnica; deve incluir uma dimensão emocional e social, considerando o impacto que a cannabis pode ter na qualidade de vida do paciente. (ENGLER et al., 2024)
O farmacêutico deve, portanto, oferecer suporte não apenas aos aspectos medicinais, mas também auxiliar na integração do paciente com TEA nas atividades diárias, promovendo a adesão ao tratamento e abordando potencialmente questões comportamentais que possam surgir ao longo do uso. Por último, a educação sobre o monitoramento dos efeitos colaterais e as interações medicamentosas é um ponto crítico a ser discutido. Os familiares devem ser sensibilizados para reconhecer sinais adversos, assim como entender a importância de relatar qualquer mudança no comportamento do paciente ao profissional de saúde. (NICOLETTI; HONDA, 2021)
A responsabilidade compartilhada entre os farmacêuticos e as famílias é essencial para a eficácia do tratamento, permitindo um ambiente terapêutico seguro e eficaz, onde o paciente com TEA possa beneficiar-se plenamente das propriedades da cannabis, reduzindo sintomas e melhorando o bem-estar geral (SILVA, 2024).
5.8 Monitorização de Efeitos Adversos e Interações Medicamentosas
A monitorização de efeitos adversos e interações medicamentosas é uma responsabilidade crucial do farmacêutico no acompanhamento de pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em tratamento com cannabis. Devido ao perfil farmacológico complexo da cannabis, que contém compostos ativos como o THC e o CBD, a vigilância rigorosa sobre reações adversas se torna essencial. Pacientes com TEA podem ter maior suscetibilidade a efeitos colaterais, devido às características neurobiológicas do transtorno, comorbidades e outros tratamentos concomitantes. Assim, a personalização do tratamento, juntamente com uma monitorização atenta, contribui para uma experiência terapêutica mais segura e eficaz (Eduarda et al., 2024).
Ferreira et al. (2022) destacam a importância de se considerar as possíveis interações da cannabis com outros medicamentos que o paciente possa estar utilizando. Muitos pacientes com TEA fazem uso de psicofármacos, como antidepressivos, ansiolíticos e estabilizadores de humor, que podem interagir com os canabinoides. A cannabis pode alterar a metabolização hepática de alguns desses fármacos, podendo aumentar ou diminuir seus efeitos terapêuticos. O farmacêutico deve estar atento a sinais de interações medicamentosas, como aumento da sedação ou mudanças no comportamento, orientando pacientes e familiares sobre os potenciais riscos dessas combinações (FERREIRA, 2024).
Para garantir uma monitorização eficaz, ela deve ser sistemática e incluir avaliações regulares do estado de saúde do paciente, bem como a documentação de quaisquer reações adversas. O uso de escalas de avaliação adaptadas ao TEA pode ser útil para identificar efeitos colaterais específicos que frequentemente não são verbalizados pelos pacientes. Nesse contexto, o farmacêutico tem um papel fundamental na orientação quanto à dosagem correta, frequência de administração e controle dos sintomas, permitindo ajustes rápidos no tratamento. Dessa maneira, não só a segurança do paciente é garantida, como também facilita a colaboração entre a equipe de saúde e a família, promovendo decisões informadas e colaborativas (Da Silva; Miranda, 2024).
5.9. Barreiras e Desafios na Atenção Farmacêutica ao Paciente com TEA em Tratamento com Cannabis
A atenção farmacêutica ao paciente com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que recebe tratamento com cannabis enfrenta múltiplas barreiras e desafios, os quais impactam não apenas a eficácia do tratamento, mas também a aceitação e o bem-estar dos pacientes e suas famílias. O estigma e o preconceito, por exemplo, representam obstáculos significativos. Muitas vezes, a cannabis medicinal é cercada por uma narrativa negativa que associa seu uso a comportamentos ilícitos ou à promiscuidade. Essa visão distorcida pode levar ao receio de profissionais de saúde em recomendar seu uso, resultando em uma lacuna no tratamento que o paciente com TEA podem necessitar. Além disso, a resistência social amplifica o estigma enfrentado não apenas pelo paciente, mas também por seus cuidadores, que podem ser rejeitados por suas escolhas terapêuticas (DINIZ, 2024).
Outro desafio crítico é o acesso limitado a produtos de cannabis medicinal. Mesmo em locais onde a cannabis é legalizada para uso medicinal, as regulamentações podem ser complexas e variadas, dificultando o acesso a tratamentos adequados. Muitos pacientes e suas famílias se deparam com questões burocráticas que os impedem de obter a medicação necessária de forma eficiente. Além disso, a escassez de informações acessíveis sobre dosagem e administração de produtos de cannabis, bem como a falta de formação específica para farmacêuticos que lidam com essas substâncias, traz à tona a necessidade urgente de um aprimoramento na educação profissional e de um suporte contínuo. A terapia com cannabis, muitas vezes vista como uma alternativa, deve ser integrada ao cuidado convencional de forma que respeite a individualidade do paciente, minimizando assim as barreiras que podem comprometer a adesão ao tratamento e a saúde global da pessoa com TEA (SILVEIRA , 2022).
Os farmacêuticos desempenham um papel fundamental na dispensação de medicamentos à base de canabidiol (CBD), sendo responsáveis por garantir a segurança e o uso adequado desses produtos pelos pacientes. Entretanto, a atuação desses profissionais enfrenta diversas dificuldades, que vão desde barreiras regulatórias até a falta de capacitação específica, fatores que comprometem a efetividade do processo de dispensação e orientação (SILVEIRA , 2022).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio da Resolução RDC 327/2019, regulamenta a comercialização de produtos derivados da cannabis no Brasil. Esta resolução estabelece critérios rigorosos para a fabricação, importação, prescrição e dispensação de produtos à base de cannabis, o que implica em uma série de desafios para os farmacêuticos. Um dos principais obstáculos está na exigência de uma prescrição médica especial para o medicamento, dificultando sua obtenção pelos pacientes. Além disso, a necessidade de importação de muitos produtos eleva os custos, tornando o acesso ao tratamento mais difícil. A falta de regulação de preços é outro fator relevante, pois impede que o tratamento se torne acessível para uma grande parte da população, especialmente em contextos de baixa renda (SILVEIRA , 2022).
Outro aspecto importante que contribui para a dificuldade dos farmacêuticos na dispensação de CBD é a falta de capacitação profissional adequada. Muitos farmacêuticos não recebem o treinamento necessário sobre os produtos à base de cannabis, o que gera desafios significativos na orientação dos pacientes. Dentre as dificuldades encontradas, destacam-se o desconhecimento dos mecanismos de ação do CBD e suas possíveis interações medicamentosas, além da ausência de diretrizes padronizadas para o acompanhamento e orientação do paciente. Esse cenário gera insegurança por parte dos profissionais na recomendação do uso do medicamento, dificultando o processo de monitoramento da eficácia do tratamento e a identificação precoce de possíveis efeitos adversos (SILVEIRA , 2022).
6. RESULTADOS E DISCURSÕES
A análise dos dados levantados evidenciou que, embora os farmacêuticos estejam legalmente autorizados a dispensar medicamentos à base de canabidiol (CBD) no Brasil, a atuação plena desses profissionais ainda encontra entraves significativos, sobretudo no que tange à ausência de formação específica e à escassez de diretrizes clínicas aplicáveis ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). O cruzamento das evidências teóricas com os dados da Tabela 1 revela que a atenção farmacêutica no contexto do uso terapêutico da cannabis ainda é uma prática em consolidação, carente de protocolos estruturados e de suporte institucional.
Tabela 1: Atenção Farmacêutica e o Tratamento do TEA com Cannabis


Os resultados demonstram que a atenção farmacêutica, quando aplicada de forma adequada, desempenha um papel estratégico na melhoria da adesão terapêutica, na identificação precoce de reações adversas e na promoção do uso racional dos derivados da cannabis. Contudo, os desafios observados incluem desde barreiras formativas, como a ausência do tema na grade curricular da maioria dos cursos de Farmácia, até aspectos regulatórios que dificultam a padronização do atendimento clínico e o desenvolvimento de uma atuação interprofissional efetiva.
É importante destacar que, segundo os dados sistematizados, os benefícios relatados com o uso do CBD em pacientes com TEA envolvem principalmente a redução da irritabilidade, melhora na qualidade do sono e avanços na sociabilidade. No entanto, tais benefícios ainda são baseados em estudos com limitações metodológicas, o que reforça a necessidade de maior rigor científico na condução de ensaios clínicos e no estabelecimento de protocolos terapêuticos validados. Além disso, efeitos adversos como sonolência, alteração no apetite e possíveis interações medicamentosas foram apontadas como preocupações frequentes no acompanhamento dos pacientes.
A discussão acerca do papel do farmacêutico nesse contexto mostra-se particularmente relevante, pois sua atuação pode ser determinante na mediação entre a prescrição médica e o uso correto do medicamento, especialmente em um cenário ainda permeado por estigmas sociais e resistência de outros profissionais da saúde. O farmacêutico, ao assumir um papel mais ativo na orientação e no monitoramento dos pacientes, pode contribuir significativamente para o sucesso terapêutico e para a mitigação de riscos associados à terapia canabinoide.
Observa-se também que, apesar do crescente interesse pela utilização da cannabis medicinal no tratamento do TEA, ainda há fragilidade na estruturação de políticas públicas que promovam o acesso equitativo a essa terapia. A ausência de regulamentações robustas e de incentivos à capacitação profissional resulta em um cenário de insegurança, tanto para os profissionais quanto para os pacientes e seus familiares. A inclusão de cursos de capacitação continuada e a elaboração de diretrizes específicas são apontadas como medidas urgentes para preencher essas lacunas.
Por fim, os resultados indicam que a integração da atenção farmacêutica nas práticas clínicas voltadas ao tratamento do TEA com cannabis medicinal não apenas é viável, como também desejável, sobretudo diante dos relatos positivos sobre a qualidade de vida dos pacientes. No entanto, para que essa integração ocorra de forma segura e eficaz, é imprescindível que os farmacêuticos sejam inseridos de maneira mais estruturada nas políticas de saúde, com respaldo técnico, jurídico e ético para exercerem suas funções com excelência.
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