ESTRATÉGIAS PARA TRABALHAR ALUNOS COM TDAH E TOD: DESAFIO PARA O PROFESSOR

ESTRATEGIAS PARA EL TRABAJO CON ESTUDIANTES CON TDAH Y IMPAR: RETO PARA LOS PROFESORES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505311353


Criseida Guimarães Cordeiro Fiorotto1
Flaviana Nunes da Silva Sousa2
Rosilene Alves Folha3
Suelí Marques Ferraz4


RESUMO

Este estudo tem como finalidade aprofundar no conhecimento sobre as crianças com TOD e TDAH, compreender quais as melhores estratégias para trabalhar com ela e qual o papel do professor neste processo. O texto explora métodos como o uso de rotinas estruturadas, a divisão de tarefas complexas em etapas menores, o reforço positivo, e a adaptação de atividades e avaliações para estimular a motivação do aluno com TDAH.  Nesta pesquisa utilizamos da metodologia de pesquisa bibliográfica. No primeiro momento realizamos uma busca exploratória pelo google acadêmico como também revistas eletrônicas em busca de trabalhos publicados com os temas, TDAH e TOD. 

Palavras-chave: TOD: TDAH: Inclusão: Estratégias. 

ABSTRACT

This study aims to deepen knowledge about children with ODD and ADHD, understand the best strategies for working with them and the role of the teacher in this process. The text explores methods such as the use of structured routines, the division of complex tasks into smaller steps, positive reinforcement, and the adaptation of activities and assessments to stimulate the motivation of students with ADHD.  In this research we used bibliographic research methodology. Firstly, we carried out an exploratory search on Google Scholar as well as electronic magazines in search of works published on the themes, ADHD AND ODD.

Keywords: TOD. TDHA: Inclusion: Strategies.

1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surgiu a partir das vivências, atuando como professoras na sala de aula, espaço em que o tempo todo os professores desenvolvem uma relação pedagógica com crianças hiperativas. Neste cenário de ensino aprendizagem, às vezes se confunde a energia vital da criança com comportamentos e atitudes de crianças que têm o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade-TDAH. Contudo, não se pode deixar de considerar que as crianças diagnosticadas corretamente com TDAH, devem ser acompanhadas por uma equipe multidisciplinar para proporcionar uma melhor qualidade de vida dessas crianças como também garantir um desenvolvimento de aprendizagem de forma mais equitativa.

Diante dessas experiências surgiu um questionamento: Como trabalhar pedagogicamente com crianças diagnosticadas com este transtorno? Partindo-se da hipótese de que existe um grande desafio para as professoras e professores desenvolverem estratégias para atender de forma inclusiva estas crianças, devido a dinâmica da sala de aula que comporta uma diversidade de demandas. 

Com base em autores como Caliman (2010), entende-se que o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade -TDAH, é uma condição neurológica que afeta crianças, adolescentes e adultos, impactando diretamente o processo de ensino-aprendizagem. Caracterizado por sintomas de desatenção, impulsividade e hiperatividade, o TDAH apresenta desafios significativos para os profissionais da educação, especialmente no que se refere à adaptação das estratégias pedagógicas para atender às necessidades desses alunos. No ambiente escolar, a presença de alunos com TDAH, requer dos professores uma compreensão mais aprofundada do transtorno, bem como o desenvolvimento de abordagens diferenciadas que possam facilitar a inclusão e o aprendizado efetivo.

Diante disso, o papel do professor torna-se central no manejo das dificuldades trazidas pelo TDAH, uma vez que o sucesso acadêmico desses alunos depende, em grande parte, da implementação de práticas pedagógicas inclusivas e adaptadas às suas necessidades. No entanto, muitos professores enfrentam desafios ao tentar equilibrar as demandas de uma sala de aula diversa, ao mesmo tempo em que precisam atender alunos que necessitam de um suporte diferenciado.

Este artigo tem como objetivo discutir as principais estratégias pedagógicas que podem ser utilizadas para trabalhar com alunos com TDAH, focando nos desafios enfrentados pelos professores e nas possíveis soluções para promover um ambiente de aprendizagem inclusivo e eficiente. Ao abordar essas estratégias, busca-se fornecer subsídios para que educadores possam lidar com esse desafio de maneira mais assertiva, garantindo um processo educativo mais equitativo e favorável para todos os alunos, inclusive aqueles com TDAH.

2. DESENVOLVIMENTO

A dinâmica escolar é complexa e de difícil resolução visto que a escola é a responsável pelo processo de educação do indivíduo. Para Brandão (2004) compreende-se que a educação é ampla por contemplar todos os processos de formação das pessoas, além disso apresenta-se como um conjunto de normas que orienta e conduz a educação brasileira na contemporaneidade. Assim, a educação escolar é estruturada em duas diretrizes que refere a sua constância vinculação com o mercado de trabalho e também com as práticas sociais que envolve o pleno exercício da cidadania.  

Levando em consideração os principais objetivos da educação escolar que é colocado por Brandão (2004), no que se refere ao atender as exigências do mundo do trabalho, a escola assume o compromisso de preparar o indivíduo para o trabalho, ao mesmo tempo em que necessita promover uma formação de um cidadão que esteja apto a atender as demandas sociais, e pronto para exercer sua cidadania. 

Compreendendo que o espaço escolar possui suas complexidades, permite também perceber que é um espaço de transformação e de flexibilidade. Deste modo entender que a escola da contemporaneidade apresentada por Alonso (2009), como renovada, é a escola que desenvolve suas práticas educacionais baseadas nas concepções psicopedagógicas originária do socioconstrutivismo, que propõe fundamentos organizacionais contrária ao modelo burocrático do qual surgiu. 

Diante disso, entender que aprendizagem se refere a um processo que exige uma elaboração singular, visto que o conhecimento não acontece de fora para dentro, pelo contrário é construído pelo indivíduo, neste sentido é válido ressaltar que o conteúdo a ser ensinado deve ser significativo para o aprendiz. Não se deve ver aprendizagem e desenvolvimento de forma desintegrada, mas sim, de forma intrínseca.  Dentro do processo de ensino aprendizagem deve-se guiar pela elaboração de onde se pretende chegar e quais as formas e estratégias para alcançar os objetivos traçados. Salientar que apenas as informações de temas e conteúdo não são por si só construtoras da aprendizagem e do conhecimento elas são na verdade um dos elementos estruturantes da aquisição da aprendizagem e do conhecimento. 

Observa-se que a escola enquanto espaço responsável para atender as exigências do mundo do trabalho, necessita fazer uma avaliação das suas condutas e práticas pedagógicas, visto que os indivíduos são diferentes uns dos outros, possuindo assim, diversos tipos e níveis de habilidades para executar e aprender determinadas tarefas. Neste contexto não é mais viável condutas padronizadas para atender estudantes de habilidades distintas, visto que a escola é um ambiente que recebe e acolhe todas as pessoas de origem socioeconômica e culturais, como também étnicas, religiosas entre outras demandas sociais. 

Diante desse contexto, busca-se refletir sobre as perspectivas de Alonso (2003), que todas as complexidades sociais são intrínsecas ao processo do desenvolvimento e do ensino aprendizagem do indivíduo, por tanto os educadores são responsáveis por atender e solucionar as novas demandas sociais na educação. Deste modo considera-se que atender de forma equitativa os alunos com TDAH, nas escolas é um desafio para os discentes.

Ressaltando que de acordo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) define-se o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, conhecido popularmente como TDAH, sendo uma condição de saúde mental que tem como características padrões a persistência de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Sintomas esses que podem influenciar significativamente no processo de  desenvolvimento e no funcionamento cotidiano do indivíduo. 

Considerando as colocações classificatórias do DSM-5, (2013) o TDAH é percebido de três tipos, o que se refere ao que tem predominância na desatenção, neste os sintomas da falta de atenção são mais relevantes. Enquanto o outro tipo predomina a hiperatividade e a impulsividade que são os sintomas mais presentes.  Por fim TDAH misto, nesses casos tanto a falta de atenção como a hiperatividade predominam de forma igual. Compreender cada uma dessas classificações para melhor desenvolver seus planos de aulas e projetos educacionais é de fundamental importância. 

Ressalta-se que a partir das literaturas que tratam sobre esse tema, o TDAH refere-se a um distúrbio do neurodesenvolvimento, que geralmente aparece na infância e se estende por toda a vida do indivíduo. Compreende-se que o indivíduo com TDAH, necessita de apoio multiprofissional com atendimento interdisciplinar para que seja feito um tratamento adequado e humanizado, tanto nos aspectos medicamentoso, educacional e psicoterapêutico, para que seja ofertado um serviço de qualidade e com resultados positivos que agregue condições favoráveis para o bom desenvolvimento do indivíduo. 

Salientamos que o termo “ tratamento” utilizado nas literaturas teóricas e metodológicas já foi desenvolvido ao longo dos séculos no que se refere ao atendimento oferecido às crianças com TDAH. Enquanto profissionais da educação compreendemos esse processo como sendo “acompanhamento” no lugar de tratamento, mesmo que essas crianças precisem fazer o uso de fármacos, entendemos que as ações ofertadas por todos os profissionais em especial os da educação são estratégias de acompanhamento do desenvolvimento dessas crianças. Visto que o espaço escolar é dinâmico e cheio de atravessamentos, onde se aprende ensinando e se aprende aprendendo como disse Paulo Freire.   

Contudo sabe-se que na realidade as escolas públicas brasileiras passam por um processo complicado no que se refere à estrutura e qualificação da equipe profissional disponível. As dificuldades de uma gestão democrática que de fato seja efetiva é um dos grandes desafios da educação, isso porque a escola é um espaço de realização de desejo do mercado de trabalho e da sociedade o que tem provocado vários entraves no acompanhamento efetivo com estratégias eficazes para atender as demandas das crianças com TDAH, no espaço escolar. 

3. CONCEITOS DE TRANSTORNO OPOSITOR DESAFIADOR E TDAH

Como já mencionado anteriormente de que o ambiente escolar tem uma diversidade de demandas o que exige muito dos professores e gestão escolar. Perceber a escola como o lugar responsável em formar pessoas críticas, participativas e qualificadas para atuar no mercado de trabalho e ainda dar conta de atender as especificidades de cada indivíduo inserido nesse ambiente educacional, compreendendo e acompanhando as crianças que tem diversos transtornos, faz da escola um espaço múltiplo, que transcende apenas a função de educar. 

Compreende-se que o Transtorno Opositor Desafiador – TOD, que é um transtorno de neurodesenvolvimento que atinge a área comportamental da criança e com isso afeta o desenvolvimento da criança na escola, é também um dos grandes desafios dos professores em sala de aula. Isso porque, não depende apenas da qualidade do planejamento nem tão pouco dos recursos didáticos usados pelos professores em sala. As questões escolares que envolvem os transtornos, vão além de uma questão pedagógica e de atender as diretrizes curriculares ou atender às exigências da BNCC, entre outros dispositivos que regem a educação escolar.   

Os transtornos comprometem a vida dessas crianças e interferem significativamente em seus desenvolvimentos. Barkley (2002) considera o transtorno de comportamento como:

[…] Um transtorno do desenvolvimento do autocontrole que consiste em problemas com os períodos de atenção, com o controle do impulso e o nível de atividade. […] Esses problemas são refletidos em prejuízos na vontade da criança ou em sua capacidade de controlar seu próprio comportamento relativo à passagem do tempo – tendo em mente futuros objetivos e consequências. Não se trata apenas […] de uma questão de estar desatento ou hiperativo. Não se trata apenas de um estado temporário que será superado, de uma fase probatória, porém normal, da infância. Não é causado por falta de disciplina ou controle parental, assim como não é o sinal de algum tipo de “maldade” da criança (Barkley 2002, p. 35).

O autor acredita que o transtorno do desenvolvimento afeta o autocontrole da criança, especialmente em relação à atenção, ao controle de impulsos e ao nível de atividade. Os problemas relacionados ao TOD, quanto ao TDAH são transtornos que não afetam apenas comportamentos temporários ou simples distrações, mas afetam diretamente a capacidade da criança de gerenciar seu comportamento ao longo do tempo, com impactos em sua habilidade de alcançar objetivos futuros e avaliar as consequências de suas ações.

Observa-se que lidar com as crianças que têm o TOD, é uma demanda que requer dos professores uma abordagem distinta e intervenções específicas, para que as crianças não tenham prejuízo na aprendizagem. Considerando que a aprendizagem subentende todo o processo relacional da criança no ambiente escolar, desde o contato com os conteúdos, recursos didáticos, colegas de classe, equipe multidisciplinar, funcionários em geral, ambientes físicos entre outros. Compreender o conceito dos transtornos pode ser muito importante para identificação dos sinais e sintomas, ou seja, da semiologia do transtorno, que auxilia na compreensão das alterações comportamentais.

No DSM – IV – TR (2000), encontram-se descritas as características típicas de comportamentos associados ao Transtorno Opositor Desafiador (TOD). Essas atitudes incluem a perda frequente da calma, discussões com adultos, desobediência a regras e pedidos, além de ações que parecem intencionalmente projetadas para incomodar os outros. Também aponta a tendência de culpar os outros por erros e comportamentos inadequados, mostrando uma elevada suscetibilidade à irritação, raiva, ressentimento e sentimentos de rancor ou desejo de vingança.

Perder a calma; discutir com adultos; negar-se a obedecer aos pedidos ou regras dos adultos; fazer coisas que incomodam, gratuitamente, os outros; culpar os outros por seus erros ou comportamentos inadequados; ser suscetível à irritação; ficar enraivecido e ressentido; ser rancoroso e vingativo. (DSM- IVTR, 2000).

Esses comportamentos indicam um padrão de desafio e resistência à autoridade, que vai além das reações normais de oposição infantil. Ao contrário de comportamentos temporários ou ocasionais, o TOD envolve uma repetição persistente desses comportamentos, prejudicando o relacionamento da criança com adultos e outras figuras de autoridade. A narrativa destaca, ainda, o impacto emocional que esse transtorno pode gerar, tanto na própria criança quanto nas pessoas ao seu redor.

Vale ressaltar que na condição de professoras de escolas públicas, existem outros fatores que interferem no acompanhamento efetivo e adequado para uma criança com TOD e TDAH. Isso porque as salas superlotadas, quase sem espaço, dificultam a execução de uma intervenção eficaz e positiva nos casos de crises ou comportamentos não assertivos, inadequados. Além disso, as outras crianças também são afetadas diretamente durante esse processo, visto que um único professor ou professora, não consegue realizar uma intervenção adequada, diante de um cenário com várias e distintas demandas. 

Salientamos que entender os conceitos e aspectos dos transtornos como os pontuados por Serra-Pinheiro et al. (2004) como um conjunto de comportamentos característicos do Transtorno Opositor Desafiador (TOD). O qual destaca as atitudes de desobediência generalizada, desafio e hostilidade, que se manifestam em interações com figuras de autoridade, especialmente adultos. O texto aponta que os indivíduos com esse transtorno frequentemente discutem com adultos, evitam assumir responsabilidade por seus comportamentos inadequados e intencionalmente provocam ou incomodam os outros.

[…] um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil. Os pacientes discutem excessivamente com adultos, não aceitam responsabilidade por sua má conduta, incomodam deliberadamente os demais, possuem dificuldade de aceitar regras e perdem facilmente o controle se as coisas não seguem a forma que eles desejam. (Serra -Pinheiro et al., 2004, p. 273).

Imaginar uma sala de aula com quase trinta ou mais alunos, sendo que um ou mais aluno tenha TOD, e que somente um professor ou professora conduza as aulas, é uma realidade que parece ser irreal. Contudo esse cenário educacional é tão real nas escolas públicas brasileiras, que pode ser verificado, por meio da sobrecarga de trabalho que provoca adoecimento dos docentes. O que entra em congruência com o que é colocado pelos autores, de que essas crianças acabam por comprometer a harmonia e o bom andamento da aula, alterando o comportamento das outras pessoas.

Isso ocorre pelo fato de que essas crianças têm uma dificuldade em aceitar regras e limites, sendo a sala de aula um lugar que é regido pela ordem e regras de convivência. O resultando em frustração e perda de controle emocional quando as situações não ocorrem conforme o esperado ou desejado pela criança ou adolescente. Esse padrão de comportamento pode ser bastante desafiador tanto para as pessoas que têm o TOD, quanto para seus cuidadores e educadores, pois reflete um ciclo contínuo de oposição e resistência, interferindo nas interações sociais e no desenvolvimento pessoal. Interferindo diretamente em todos os aspectos do processo de desenvolvimento humano, no qual o indivíduo tem prejuízo em sua qualidade de vida.

4. DESAFIOS DO PROFESSOR NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE DESENVOLVIMENTO

Esta seção busca explorar os desafios, analisando como o professor pode enfrentar as dificuldades que surgem no processo de ensino-aprendizagem de crianças com transtornos de desenvolvimento. Serão abordadas as estratégias pedagógicas, a importância do suporte institucional e a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, que envolva não só os educadores, mas também psicólogos, terapeutas e a família. Como também a necessidade da formação contínua e o apoio especializado para que o professor consiga, de fato, promover uma educação de qualidade e inclusiva para todos os alunos.

Segundo Sousa (2023) o professor não só precisa entender as particularidades de cada transtorno, mas também adaptar suas estratégias pedagógicas para atender às necessidades individuais desses alunos, promovendo uma educação inclusiva. Além de dominar o conteúdo acadêmico, o educador deve desenvolver paciência e resiliência, uma vez que lidar com comportamentos disruptivos, dificuldades de concentração e resistência às atividades pode ser parte do cotidiano.

Carvalho et. al (2022) destaca a complexidade e os desafios enfrentados no ambiente escolar com as crianças com TOD e TDAH. A agressividade e o comportamento desafiador da criança, como a necessidade de chamar atenção para si e a intolerância à frustração, são comportamentos típicos do TOD, que se manifestam de forma intensa. A interação da criança com os colegas e professores mostra como o TOD, pode causar situações extremas, como jogar itens e chutar mesas, exigindo intervenções frequentes, da gestão e encaminhamento para intervenção do profissional da psicologia.

Várias são as estratégias de intervenções em caso de crise de crianças com TOD, uma das indicações é o contato físico, em que o adulto possa segurar as mãos da criança e verbalizar de forma assertiva e calma para que a criança desista de emitir o comportamento inadequado. Uma das estratégias que consideramos a mais importante para estabelecer vínculo e manter a relação de forma respeitosa, é o acordo, um contrato de funcionamento da relação da criança com TOD ou TDAH, no ambiente escolar. Importante realizar o acordo de forma verbal fazendo contato visual. Deixar claro que o que foi combinado deve ser cumprido tanto pelo profissional quanto pela criança, nos casos em que a criança apresentar comportamento que descumpra regras do acordo o profissional deve manter os pensamentos que foram estabelecidos fortalecendo a confiabilidade.

O acordo deve ser realizado de forma visual, podendo utilizar artes em geral para que a criança possa participar do processo de criação e escolha, podem usar outros recursos que contribua para que o cérebro da criança faça conexão diretamente com os acordos ao visualizar a imagem. Observa-se que ambas estratégias de intervenção requerem tempo para serem executadas, o que impossibilita o funcionamento da aula, se o professor/ professora parar a aula para realizar essas intervenções. Os desafios são bem mais complexos quando estão entrelaçados pelas questões sociais, econômicas, políticas, religiosas e culturais.

Além disso, os autores abordam que existe um alto índice de crianças que apresentam uma associação entre o TDAH e outros transtornos disruptivos, como o transtorno de conduta e o TOD. Esse contexto ressalta a importância de identificar e compreender os múltiplos fatores que influenciam o comportamento da criança, de forma que possam ser adotadas estratégias adequadas para manejar essas condições na escola, proporcionando um ambiente mais inclusivo e menos conflituoso (Carvalho et. al 2022).

Diante da complexidade é de fundamental importância a parceria entre família, escola e profissionais de saúde, promovendo uma rede de apoio que oferece à criança uma abordagem multidimensional, essencial para o manejo dos sintomas e para a adaptação às demandas sociais e escolares. As famílias desempenham o papel de mediadoras das estratégias desenvolvidas por educadores e terapeutas, facilitando a aplicação das orientações em casa e potencializando os efeitos das intervenções.

Nesta perspectiva, a próxima seção explora mais profundamente a importância do envolvimento familiar no processo educacional e terapêutico, destacando como a colaboração ativa dos pais pode impactar positivamente o desenvolvimento e bem-estar de crianças diagnosticadas com TOD e TDHA.

5. A IMPORTÂNCIA DO ENVOLVIMENTO DOS PAIS E RESPONSÁVEIS NO PROCESSO EDUCACIONAL E TERAPÊUTICO DO TOD E TDHA

O envolvimento dos pais e responsáveis no processo educacional e terapêutico de crianças com Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDHA) é um aspecto crucial para o sucesso das intervenções e o desenvolvimento global dos indivíduos. Dada a complexidade desses transtornos, que afetam não apenas o comportamento, mas também o desenvolvimento social e emocional das crianças, a participação ativa da família torna-se um fator determinante no progresso dos tratamentos e no processo de aprendizagem.

O Transtorno Opositor Desafiador (TOD) é caracterizado por comportamentos de desafio e oposição às figuras de autoridade, e compreender a importância da família nesse contexto é fundamental. A família atua como a primeira mediadora entre o indivíduo e a sociedade, desempenhando um papel crucial na formação afetiva, social e cognitiva da criança. No entanto, o diagnóstico de TOD pode gerar desafios para os pais ou responsáveis, que muitas vezes enfrentam dificuldades em estabelecer limites e gerir os comportamentos da criança. A colaboração da família, proporcionando limites claros e um ambiente saudável, é essencial para que a criança aprenda a lidar com os sintomas e se relacione de forma mais adequada com os outros. Durante a prática docente, foi possível perceber a importância dessa participação familiar no manejo do TOD (Sousa, 2023).

Para o campo da educação entende-se que a formação de vínculo da criança com a escola é estabelecida por meio de um convívio com os funcionários como também com os demais alunos e ambiente escolar, é essencial para um manejo mais seguro e eficaz a participação da família e a adequação de estratégias tanto no convívio familiar como na escola.

Segundo Sousa (2023) é importante reconhecer que as dinâmicas familiares podem variar bastante em casos de crianças diagnosticadas com Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade- TDAH. O que pode interferir positivamente ou negativamente a depender do modo como as famílias conseguem lidar com as questões trazidas pela criança com TOD ou TDAH. Segundo Duarte, Pereira e Faustino Neto (2019), muitas famílias enfrentam dificuldades ao lidar com o transtorno e precisam de orientação profissional para manejar os comportamentos de seus filhos de maneira eficaz.

Para Sousa (2023) com o suporte terapêutico adequado, os pais podem aprender a adotar estratégias como paciência, afeto, bons exemplos, diálogo e escuta ativa, o que contribui para um ambiente familiar mais harmônico. Ao reconhecerem a necessidade de orientação profissional, as famílias tendem a se ajustar melhor e a lidar de forma mais eficiente com os desafios comportamentais que o TOD apresenta.

Um aspecto importante a ser considerado após o diagnóstico é como os pais podem agir. Os resultados da orientação parental têm sido mais eficazes quando o ambiente familiar é baseado em confiança mútua e onde as regras, ordens e limites são discutidos e acordados com as crianças. Esse processo ocorre dentro de uma abordagem clínica ou terapêutica especializada. Além disso, a prática dos pais pode ser vista como uma forma de terapia breve, com objetivos e prazos estabelecidos, que podem ser ajustados de acordo com a análise dos resultados obtidos (Pinheiro; Haase; Del Prette, 2002).

6. DISCUSSÃO E RESULTADOS

Os resultados da pesquisa com o tema “Estratégias para Trabalhar Alunos com TDAH e TOD: Desafio para o Professor” indicam que a implementação de estratégias pedagógicas específicas pode melhorar significativamente o desempenho escolar e o comportamento dos alunos com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e com Transtorno Desafiador Opositivo (TOD).

Ballone (2008) destaca a responsabilidade central do educador em lidar com as necessidades de alunos que enfrentam dificuldades, sejam elas de adaptação, aprendizagem ou comportamento. O autor defende que é fundamental que os professores invistam tempo, conhecimento e disposição naqueles alunos que mais precisam de suporte, já que o ambiente da sala de aula pode ser tanto uma fonte de ajuda quanto de agravamento de problemas emocionais.

Mas se temos um aluno com dificuldades, sejam elas de adaptação, aprendizagem ou comportamento, é prioritariamente dele que devemos investir nosso tempo, nosso saber e nossa disposição como educadores. Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas quais os professores podem atuar tanto beneficamente quanto, consciente ou inconscientemente, agravando condições emocionais problemáticas dos alunos. Os alunos podem trazer consigo um conjunto de situações emocionais intrínsecas ou extrínsecas, ou seja, podem trazer para escola alguns problemas de sua própria constituição emocional (ou personalidade) e, extrinsecamente, podem apresentar as consequências emocionais de suas vivências sociais e familiares (BALLONE, 2008, p. 3).

Ballone (2008) enfatiza que os alunos podem chegar à escola carregando questões emocionais que podem ter origens tanto internas, ligadas à sua constituição psicológica e personalidade, quanto externas, resultantes de suas experiências sociais e familiares. Isso exige que o professor tenha sensibilidade para compreender e manejar essas situações de forma benéfica, evitando atitudes que possam agravar o estado emocional do aluno. Em suma, o texto reflete sobre o papel crucial dos professores em identificar e intervir positivamente em questões emocionais que impactam a aprendizagem e o comportamento dos estudantes.

Nesta pesquisa compreendemos que a principal estratégia que contribui com a aprendizagem das crianças com esses transtornos de desenvolvimento, é a união de toda a equipe em busca de meios para melhorar as relações com estas crianças. Como pode-se observar na citação: 

Com uma abordagem inclusiva, […] passa a ser aceitável o que antes era tabu – todos os educandos (portanto todas as pessoas…) têm diferenças, talentos particulares e necessidades específicas que devem ser considerados e atendidos. Se levarmos esta afirmação às suas últimas consequências – os mais ousados o afirmamos – chegasse a uma visão da pessoa humana onde, com suas diferenças, todos, sem exceção, são 33 únicos, insubstituíveis, trazendo suas deficiências e seus dons que apontam necessidades que, embora sejam variadas em tipo, número e grau, requerem reconhecimento e algum tipo de ação por parte da comunidade (CARDOSO-BUCKLEY, 2011, p. 19).

Cardoso-Buckley (2011) propõe uma visão abrangente e inclusiva do ser humano, onde cada pessoa, com suas particularidades, é vista como única e insubstituível. O autor destaca que, independentemente das diferenças ou deficiências que cada indivíduo possa ter, todos trazem consigo tanto limitações quanto habilidades. Essas diferenças geram diversas necessidades, e cabe à comunidade reconhecer essas necessidades e agir de maneira apropriada.

O autor sugere que a inclusão não se limita apenas ao reconhecimento das deficiências, mas envolve uma responsabilidade coletiva de acolher, valorizar e atuar em prol de todos, respeitando a individualidade de cada um. Assim, a diversidade humana é apresentada como algo que enriquece a sociedade e que deve ser compreendida e respondida com ações concretas e sensíveis às particularidades.

Observamos que o trabalho em equipe é importante para o sucesso educacional dos alunos, especialmente em casos que exigem abordagens mais especializadas. A atuação de uma equipe multidisciplinar é uma ótima estratégia, o professor, sozinho, pode encontrar dificuldades para atender às necessidades de todos os alunos de maneira eficaz. No entanto, com o apoio de profissionais de diferentes áreas (como psicólogos, terapeutas, pedagogos, entre outros), o professor pode desenvolver seu trabalho de forma mais completa e assertiva, criando um ambiente de aprendizado que favoreça o desenvolvimento dos alunos. A colaboração entre diferentes especialistas oferece ao professor ferramentas e estratégias que ampliam sua capacidade de lidar com desafios educacionais, permitindo que os alunos alcancem seu potencial e se desenvolvam de maneira integral.

De acordo com França (2012): 

Existe uma confusão generalizada entre comportamento, diagnóstico e rendimento. Como professores, não devemos diagnosticar distúrbios de aprendizagem, pois não somos qualificados para tal. Os pais são chave importante nesse processo, devendo informar à escola onde seus filhos precisam de mais apoio. Manter esse diálogo franco e aberto com os pais é fundamental. Porém, o fato é que muitos escondem ou nem sequer aceitam que o filho tenha necessidades especiais, o que dificulta mais ainda o trabalho do professor. Sem este diálogo, o diagnóstico pode ser arriscado e errôneo. Muitos dos distúrbios podem ser confundidos com falta de interesse, bagunça e hiperatividade. A prática de sala de aula não necessariamente trará ao professor segurança suficiente para traçar ou identificar a média de aprendizagem de uma determinada faixa etária (FRANÇA, 2012, p. 7).

França (2012) destaca a complexidade e os desafios enfrentados pelos professores ao lidar com questões de comportamento, diagnóstico e rendimento escolar. Ela aponta que há uma confusão generalizada entre esses elementos e enfatiza que os professores não são qualificados para diagnosticar distúrbios de aprendizagem. O papel do professor é observar e apoiar, mas a responsabilidade de um diagnóstico correto cabe a profissionais especializados.

O autor ressalta a importância crucial dos pais nesse processo. A comunicação aberta entre pais e escola é fundamental para identificar as áreas onde a criança precisa de mais apoio. No entanto, França (2012) também observa que muitos pais não aceitam ou escondem o fato de que seus filhos podem ter necessidades especiais, o que prejudica o trabalho do professor. A falta de diálogo pode resultar em diagnósticos errados, já que certos distúrbios podem ser facilmente confundidos com comportamentos como desinteresse ou hiperatividade. Isso faz com que a prática em sala de aula, isoladamente, não forneça informações suficientes para identificar com precisão o nível de aprendizagem de uma criança, o que reforça a necessidade de apoio de especialistas e de uma colaboração mais próxima entre professores e famílias.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa evidencia a importância de uma abordagem educativa inclusiva e estratégica para lidar com alunos que apresentam Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno Opositivo Desafiador (TOD). Esses transtornos apresentam desafios significativos para o ambiente escolar, especialmente no que se refere ao comportamento, aprendizagem e socialização dos alunos.

O estudo reforça a necessidade de capacitação contínua dos professores, uma vez que muitos educadores ainda se sentem despreparados para lidar com esses transtornos em sala de aula. É crucial que as instituições de ensino invistam em formações específicas, oferecendo suporte teórico e prático para que os educadores possam desenvolver estratégias eficazes de ensino que atendam às necessidades individuais desses alunos.

A pesquisa também destacou a importância do envolvimento da família no processo educativo. O diálogo aberto entre pais e professores é essencial para o desenvolvimento de intervenções eficazes, garantindo que os alunos recebam apoio tanto em casa quanto na escola. A colaboração com uma equipe multidisciplinar – composta por psicólogos, terapeutas e outros profissionais – também se mostrou fundamental para o sucesso das estratégias de ensino, promovendo uma abordagem holística e integral no tratamento e acompanhamento dessas crianças.

Por fim, conclui-se que, embora o trabalho com alunos com TDAH e TOD seja desafiador, é possível promover um ambiente de aprendizagem mais inclusivo e acolhedor, no qual as diferenças são respeitadas e as potencialidades de cada aluno são valorizadas. Compreendemos que a estratégia mais importante é uma combinação de valorização dos professores, com a formação docente adequada, apoio institucional e familiar, além de estratégias pedagógicas que atendam às necessidades emocionais e comportamentais dos alunos.

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SOUSA, Paloma Eduarda Granjeiro de. Transtorno opositor desafiador (TOD): problematizações a partir da educação básica. Orientadora: Ivone Priscilla de Castro Ramalho. 2023. 30 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) – Centro de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, 2023.


 1Licenciada em Pedagogia. Atua como Gestora no Centro Educacional Municipal Vovô Jorge Frederico, Mestranda PPGdire UFNT. E-Mail: criseidaguimar@gmail.com
2Licenciada em Pedagoga. Atua como Gestora na Escola Municipal Francisco Bueno de Freitas. E-Mail flaviananunesdasilvasousa@gmail.com
3Licenciada em Pedagogia. Atua como Gestora Escolar no Centro Educacional Municipal Raimundo Alves Lira. E-mail: rosefolha12345@gmail.com
4Pedagoga, Psicologia, Doutora em psicologia, atua como professora do curso de Pedagogia no Centro Universitário Planalto de Brasília – UNIPLAN – Araguaína – TO. E-mail. suelimarquespsicologaarg@gmail.com