DOCÊNCIA E OS DESAFIOS NA INSERÇÃO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO CURRÍCULO: OBSTÁCULOS E ESTRATÉGIAS PARA A INTEGRAÇÃO EFETIVA

TEACHING AND THE CHALLENGES OF INTEGRATING NEW TECHNOLOGIES INTO THE CURRICULUM: OBSTACLES AND STRATEGIES FOR EFFECTIVE INTEGRATION

LA DOCENCIA Y LOS DESAFÍOS EN LA INSERCIÓN DE NUEVAS TECNOLOGÍAS EN EL CURRÍCULO: OBSTÁCULOS Y ESTRATEGIAS PARA UNA INTEGRACIÓN EFECTIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505311220


Isis da Silva Sousa1
Sandra Barbosa de Sousa2
Sandra de Oliveira Botelho3
Sandra Mara de Almeida Lorenzoni4
Francisca Martins dos Santos5
Átila de Souza6


Resumo

Este artigo analisa os desafios enfrentados pelos docentes na inserção das tecnologias digitais no currículo escolar, bem como estratégias para sua integração efetiva no contexto educacional contemporâneo. Parte-se da premissa de que a presença das tecnologias na vida cotidiana dos estudantes exige uma reconfiguração do currículo, de modo a torná-lo mais coerente com os múltiplos letramentos e com as demandas do século XXI. A pesquisa, de caráter qualitativo e exploratório, fundamenta-se em revisão bibliográfica e análise documental, priorizando autores como Kress, Coscarelli, Rojo, Moran e Candau. Os principais obstáculos identificados incluem a falta de formação pedagógico-tecnológica dos professores, a precariedade da infraestrutura escolar, a resistência cultural à inovação, a sobrecarga de trabalho e a ausência de políticas públicas consistentes. Esses fatores impactam diretamente a prática pedagógica, resultando em currículos desatualizados, desmotivação discente e ampliação das desigualdades educacionais. Como resposta a esses desafios, propõem-se estratégias como a formação continuada contextualizada, parcerias com universidades e empresas, adoção de modelos híbridos de ensino, protagonismo estudantil e mobilização por políticas educacionais mais equitativas e tecnicamente embasadas. A análise crítica aponta que a adoção tecnológica na escola não pode ser reduzida a uma lógica instrumental, mas deve ser compreendida como parte de uma transformação ética, política e pedagógica mais ampla. Conclui-se que a modernização curricular exige ação colaborativa entre professores, gestores e governos, comprometidos com uma educação inovadora, inclusiva e socialmente justa.

Palavras-chave: currículo; tecnologia educacional; formação docente; inovação pedagógica; políticas públicas.

Abstract 

This article analyzes the challenges faced by teachers in integrating digital technologies into the school curriculum, as well as strategies for their effective incorporation in contemporary educational contexts. It starts from the premise that the presence of technology in students’ daily lives demands a reconfiguration of the curriculum to align with multiple literacies and the demands of the 21st century. This qualitative and exploratory research is based on bibliographic review and document analysis, drawing on authors such as Kress, Coscarelli, Rojo, Moran, and Candau. The main obstacles identified include the lack of pedagogical-technological training for teachers, poor school infrastructure, cultural resistance to innovation, excessive workloads, and insufficient public policies. These factors directly impact pedagogical practices, resulting in outdated curricula, student disengagement, and widening educational inequalities. In response to these challenges, strategies such as contextualized continuing education, partnerships with universities and companies, hybrid teaching models, student participation, and advocacy for equitable and well-grounded educational policies are proposed. The critical analysis suggests that technological adoption in schools must not be reduced to an instrumental logic but should be part of a broader ethical, political, and pedagogical transformation. It concludes that curriculum modernization requires collaborative action among teachers, administrators, and governments committed to innovative, inclusive, and socially just education.

Keywords: curriculum; educational technology; teacher training; pedagogical innovation; public policy.

Resumen 

Este artículo analiza los desafíos que enfrentan los docentes en la inserción de tecnologías digitales en el currículo escolar, así como las estrategias para su integración efectiva en el contexto educativo contemporáneo. Parte del supuesto de que la presencia de tecnologías en la vida cotidiana de los estudiantes exige una reconfiguración curricular coherente con los múltiples alfabetismos y las demandas del siglo XXI. La investigación, de carácter cualitativo y exploratorio, se basa en revisión bibliográfica y análisis documental, con el aporte de autores como Kress, Coscarelli, Rojo, Moran y Candau. Los principales obstáculos identificados incluyen la falta de formación pedagógico-tecnológica del profesorado, la infraestructura escolar deficiente, la resistencia cultural a la innovación, la sobrecarga laboral y la insuficiencia de políticas públicas. Estos factores impactan directamente en la práctica pedagógica, generando currículos desactualizados, desmotivación estudiantil y ampliación de las desigualdades educativas. Como respuesta, se proponen estrategias como la formación continua contextualizada, alianzas con universidades y empresas, modelos híbridos de enseñanza, participación estudiantil y movilización por políticas educativas equitativas y bien fundamentadas. El análisis crítico sostiene que la adopción tecnológica en la escuela no debe reducirse a una lógica instrumental, sino integrarse en una transformación ética, política y pedagógica más amplia. Se concluye que la modernización curricular requiere una acción colaborativa entre docentes, gestores y gobiernos comprometidos con una educación innovadora, inclusiva y socialmente justa.

Palabras clave: currículo; tecnología educativa; formación docente; innovación pedagógica; políticas públicas.

INTRODUÇÃO

A incorporação de novas tecnologias no currículo escolar é atualmente um dos principais focos do campo educacional moderno. Com o crescente impacto das tecnologias digitais no cotidiano, é essencial refletir sobre sua influência na formação de professores e na estrutura curricular, não apenas como uma obrigação institucional, mas como uma necessidade imposta pelo contexto social e cultural dos alunos. As tecnologias digitais não são apenas ferramentas adicionais; elas transformam o acesso à informação, práticas de linguagem, dinâmicas de poder, e métodos de ensino e aprendizagem, além de expandirem as possibilidades de criação de conhecimento em rede.

Desde 2018, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece essa importância ao estabelecer a Competência Geral nº 5, que destaca a necessidade de entender, usar e criar tecnologias digitais de forma crítica, significativa e ética. Assim, as escolas são desafiadas a integrar essas tecnologias de maneira transversal e alinhada às áreas do conhecimento, promovendo uma aprendizagem significativa que ressoe com os interesses juvenis e as demandas do século XXI. O uso de tecnologias educacionais vai além da simples substituição de instrumentos tradicionais por digitais; é uma mudança fundamental nas práticas pedagógicas.

Contudo, esse processo de integração enfrenta vários desafios. A falta de infraestrutura adequada, a ainda tradicional formação inicial e continuada dos professores, o desconhecimento de metodologias ativas mediadas por tecnologia e a resistência institucional à inovação são obstáculos comuns. Conforme observado por Kenski (2012), às tecnologias requerem uma revisão das práticas pedagógicas e da própria concepção de ensino-aprendizagem, necessitando de um compromisso político e epistemológico de educadores e instituições.

Portanto, discutir a docência e os desafios na integração de novas tecnologias ao currículo é refletir sobre a essência da educação nos dias de hoje. Reconhece-se que as tecnologias não substituem o professor, mas redefinem seu papel, exigindo um profissional crítico, criativo e continuamente disposto a aprender. Também é crucial desenvolver estratégias viáveis para essa integração de forma equitativa, inclusiva e contextualizada, respeitando as particularidades de cada região educacional, especialmente em áreas historicamente desfavorecidas no acesso digital

Apesar do crescente reconhecimento da importância das tecnologias digitais na educação, sua efetiva integração ao currículo ainda enfrenta barreiras consideráveis. Entre os principais desafios estão a resistência de parte do corpo docente, frequentemente causada por insegurança ou falta de familiaridade com os recursos tecnológicos; a ausência de uma formação continuada de qualidade, que prepare os professores para usar as ferramentas de maneira crítica e pedagógica; e a deficiência de infraestrutura nas escolas, especialmente nas redes públicas, com limitações no acesso à internet, falta de equipamentos e suporte técnico inadequado.

Esses fatores destacam um descompasso entre as políticas educacionais, que promovem a inovação pedagógica, e a realidade das escolas. Como afirmam autores como Kenski (2012) e Selwyn (2011), a mera presença de tecnologias não garante a transformação das práticas educacionais. Sem condições objetivas e apoio institucional, o uso das tecnologias pode se tornar instrumental e superficial, esvaziando seu potencial pedagógico.

Além disso, é fundamental entender que a resistência dos professores não é apenas uma relutância ao novo, mas um reflexo de uma formação inicial muitas vezes desatualizada e de uma cultura escolar que ainda privilegia métodos tradicionais. A transformação digital no contexto educacional demanda mais do que investimentos em equipamentos: requer uma mudança de mentalidade, acompanhada de políticas públicas eficazes de formação, valorização profissional e melhoria da infraestrutura escolar.

Diante desse cenário, este artigo tem como objetivo discutir os desafios enfrentados pelos docentes na integração das novas tecnologias ao currículo escolar, com foco em três aspectos principais: resistência às inovações digitais, falta de formação pedagógica voltada para o uso crítico e criativo das tecnologias, e precariedade da infraestrutura educacional. A partir dessa análise, também se busca propor estratégias e caminhos para superar essas barreiras, promovendo uma adoção tecnológica contextualizada, equitativa e alinhada às demandas do ensino contemporâneo.

Mais do que destacar falhas, este artigo pretende contribuir para uma reflexão crítica sobre o papel do professor na sociedade digital e a necessidade de uma reconfiguração curricular que inclua as tecnologias de maneira significativa, respeitando as especificidades de cada contexto educacional e valorizando a autonomia docente no processo de inovação pedagógica.

METODOLOGIA

Este texto se enquadra na área de pesquisa qualitativa, com um enfoque descritivo e analítico, visando explorar os desafios e oportunidades relacionados à incorporação das tecnologias digitais no currículo escolar. A abordagem metodológica adotada parte do princípio de que os processos educacionais não podem ser compreendidos apenas por meio de dados quantitativos, sendo essencial investigar as dimensões simbólicas, culturais e formativas da prática docente, conforme discutido por Lüdke e André em 2018.

A investigação se fundamenta em uma revisão bibliográfica e documental, envolvendo autores contemporâneos que têm explorado as interações entre educação, tecnologias e currículo escolar. Entre as principais referências estão Ferraz (2022), que examina criticamente os desafios da formação de professores para o uso de tecnologias digitais; Costa (2022), que questiona as condições estruturais das escolas brasileiras diante das exigências do ensino digital; e Santos (2024), que sugere alternativas para uma integração tecnológica ajustada ao contexto e sensível às desigualdades educacionais. Esses aportes são complementados com discussões clássicas que permanecem relevantes, como as de Kenski (2012) e Selwyn (2011), cujas contribuições continuam a influenciar o campo.

Além disso, foram utilizados dados secundários de documentos oficiais e relatórios institucionais, como o Censo Escolar da Educação Básica (INEP, 2023), a pesquisa TIC Educação (CGI.br, 2023) e as diretrizes da BNCC (BRASIL, 2018). Esses dados ajudaram a contextualizar empiricamente as condições atuais da rede pública de ensino em termos de infraestrutura, acesso à internet e formação continuada.

A análise dos dados e referências foi guiada por uma perspectiva crítica, seguindo autores como Freitas (2021) e Rojo (2023), com o objetivo de identificar não apenas os obstáculos à inovação pedagógica com tecnologias, mas também os caminhos possíveis a partir de uma reestruturação do currículo e do fortalecimento da autoestima docente. 

DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS DOCENTES

Para que as tecnologias digitais sejam incorporadas de maneira eficaz no currículo escolar, é necessário mais do que apenas disponibilizar ferramentas; é preciso uma transformação profunda na cultura pedagógica, nas condições de trabalho, e na forma como os professores são inseridos nas políticas de educação. Todavia, esse processo ainda enfrenta inúmeros desafios concretos e simbólicos que os educadores vivenciam no dia a dia escolar.

Um dos principais obstáculos encontrados é a falta de formação docente que conecte, de maneira crítica e prática, os recursos digitais aos objetivos pedagógicos. Muitos professores se deparam com ferramentas que não sabem como integrar de forma eficaz nas atividades escolares, o que resulta em um uso superficial ou excessivamente técnico das tecnologias. Coscarelli e Ribeiro (2021) enfatizam que a formação de professores deve ir além do domínio técnico, incorporando o desenvolvimento de competências pedagógicas digitais que permitam ao educador planejar, adaptar e avaliar práticas de ensino mediadas por tecnologias. Sem essa base de formação, existe o risco de perpetuar práticas tradicionais adornadas com dispositivos digitais, sem verdadeira inovação metodológica.

A precariedade estrutural das escolas, especialmente nas redes públicas e em áreas periféricas e rurais, também limita a inovação pedagógica com tecnologias. A falta de computadores, projetores, internet de qualidade e ambientes adequados para o uso digital impede a integração contínua e eficaz das TICs. De acordo com a pesquisa TIC Educação (CGI.br, 2023), mais de 40% das escolas públicas no Brasil ainda enfrentam graves dificuldades de conectividade e manutenção de equipamentos. Essa situação não apenas inviabiliza o uso diário das tecnologias, mas também gera frustração entre professores e alunos, reforçando desigualdades educacionais históricas. 

A resistência de alguns professores à adoção de novas tecnologias não deve ser vista como simples resistência ao novo, mas como um reflexo de uma formação inicial focada em práticas tradicionais e de um sistema educacional que historicamente valoriza a autoridade do professor como transmissor de conhecimento. Além disso, muitos educadores têm medo de que as tecnologias substituam suas funções ou diminuam sua importância no processo de ensino-aprendizagem. Selwyn (2011) destaca a importância de considerar os aspectos culturais e subjetivos envolvidos na relação entre professores e tecnologia, promovendo ambientes seguros para experimentação, reflexão crítica e fortalecimento da autonomia docente.

O cotidiano dos professores no Brasil é caracterizado por uma carga excessiva de tarefas administrativas, exigências curriculares e demandas adicionais que ultrapassam o tempo de sala de aula. Essa realidade limita o tempo disponível para formação continuada e planejamento de práticas inovadoras com o uso de tecnologias. Ferraz (2022) argumenta que a falta de políticas institucionais que reconheçam a complexidade do trabalho docente e garantam tempo e condições para o desenvolvimento profissional torna a inovação pedagógica inviável em muitas escolas. Portanto, discutir tecnologia na educação também implica repensar a organização do trabalho docente e sua valorização Institucional.

Por último, destaca-se a falta de políticas públicas robustas e de uma gestão escolar comprometida com o incentivo à inovação pedagógica. A simples imposição de tecnologias sem suporte técnico, pedagógico e emocional contribui para o isolamento dos professores em seus esforços individuais de adaptação. Costa e Lima (2020) apontam que a integração tecnológica requer uma liderança escolar que estimule a colaboração entre os professores, promova formação continuada contextualizada e atue como mediadora entre as diretrizes oficiais e a realidade concreta da escola. Sem esse apoio institucional, a inovação se torna um fardo solitário para o professor, frequentemente enfrentado com poucos recursos e reconhecimento

IMPACTOS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA

A falta de integração eficaz das tecnologias digitais no currículo escolar tem provocado consequências significativas na prática pedagógica dos professores. Isso é particularmente evidente na desatualização dos currículos, no aumento das desigualdades educacionais e na dificuldade de envolver os alunos com métodos tradicionais de ensino. Esses efeitos destacam um desajuste entre as escolas e a cultura digital atual, indicando a necessidade urgente de uma reformulação da abordagem pedagógica.

Currículos desatualizados e desconectados da realidade digital dos estudantes

Grande parte dos currículos escolares ainda se baseia em modelos tradicionais de ensino, centrados na transmissão de conteúdos e no uso de metodologias expositivas, desconsiderando os repertórios digitais que os estudantes trazem de suas experiências extracurriculares. Essa defasagem curricular cria um hiato entre a escola e o mundo contemporâneo, gerando desinteresse e desmotivação por parte dos alunos. Como afirmam Coscarelli e Ribeiro (2021), um currículo que ignora as múltiplas linguagens digitais com as quais os estudantes estão familiarizados tende a se tornar obsoleto e ineficaz. Além disso, Kress (2010) defende que as práticas de letramento hoje são multimodais, envolvendo imagens, sons, vídeos e interações em tempo real elementos ainda ausentes em muitas propostas curriculares.

Ampliação das desigualdades educacionais: exclusão digital

A falta de políticas que promovam a inclusão para a implementação de tecnologias nas instituições de ensino tem aumentado a distância da exclusão digital, especialmente em áreas mais vulneráveis. A introdução de recursos tecnológicos sem uma análise da infraestrutura existente pode resultar em disparidades educacionais entre instituições públicas e privadas, além de entre zonas urbanas e rurais. De acordo com a pesquisa TIC Educação (CGI.br, 2023), muitos alunos de escolas públicas enfrentam dificuldades para ter acesso constante a dispositivos e internet de qualidade, o que prejudica a igualdade no processo de ensino e aprendizado. Rojo (2023) destaca que a integração das tecnologias ao currículo deve ser orientada por princípios de justiça social, visando combater não somente o analfabetismo digital, mas também a marginalização pedagógica de grupos historicamente excluídos.

Dificuldade em engajar estudantes com metodologias ultrapassadas

Em um cenário onde os jovens estão cada vez mais conectados e interativos, métodos de ensino que se concentram apenas na exposição verbal e na repetição mecânica de conteúdos não são mais eficazes para garantir um aprendizado significativo. A ausência de inovação nos métodos de ensino contribui para a falta de interesse e o abandono escolar, especialmente no Ensino Médio. Segundo Moran (2015), os estudantes de hoje demandam uma abordagem pedagógica que seja mais participativa, colaborativa e personalizada, utilizando os meios digitais não apenas como ferramenta, mas como uma forma de linguagem e estratégia de ensino. A hesitação das instituições e professores em mudar as práticas pedagógicas acaba afastando ainda mais os jovens das escolas, impactando negativamente tanto a frequência quanto o aprendizado.

ESTRATÉGIAS PARA SUPERAÇÃO

Diante dos diversos obstáculos que se apresentam para a efetiva integração das tecnologias digitais nos currículos escolares, torna-se essencial implementar estratégias coordenadas que envolvam a capacitação de professores, colaborações institucionais, inovação nas metodologias de ensino, escuta ativa dos alunos e influência política. Essas iniciativas devem estar fundamentadas em uma abordagem pedagógica transformadora, crítica, democrática e inclusiva.

A formação contínua de professores é uma estratégia crucial para superar a distância entre a prática pedagógica atual e as demandas do mundo digital. Contudo, é vital que essa formação seja prática, relevante ao contexto e baseada nas realidades e necessidades dos educadores. Ferraz (2022) argumenta que cursos de curta e média duração, com ênfase em metodologias ativas, criação de conteúdos digitais e uso educacional de tecnologias, tendem a promover maior envolvimento dos professores. Além disso, a formação deve ser um processo contínuo e parte integrante do horário de trabalho, com suporte institucional, evitando que se torne uma carga extra.

A colaboração entre escolas, universidades e empresas do setor tecnológico pode proporcionar acesso a recursos, ferramentas, mentoria e inovação pedagógica. Essas parcerias devem ser estabelecidas com bases éticas e pedagógicas, evitando uma abordagem puramente comercial. A literatura educacional aponta para experiências bem-sucedidas onde universidades públicas oferecem programas de extensão para a formação de professores em tecnologias, enquanto empresas fornecem plataformas educacionais e apoio técnico. Segundo Costa e Lima (2020), tais colaborações precisam ser integradas ao projeto político-pedagógico das escolas e supervisionadas por comitês colegiados, garantindo sua relevância pedagógica.

A implementação de modelos de ensino híbridos, que combinam atividades presenciais e mediadas por tecnologias, representa uma abordagem promissora para a transição entre modelos tradicionais e inovadores. Essa metodologia permite uma integração gradual e planejada de recursos como plataformas adaptativas, gamificação, laboratórios virtuais e objetos digitais de aprendizagem. Moran (2015) observa que o ensino híbrido, quando aplicado corretamente, favorece a personalização da aprendizagem e o protagonismo dos alunos, além de otimizar o uso do tempo e dos espaços escolares.

Incluir os alunos no processo de seleção, avaliação e uso das ferramentas digitais é uma estratégia eficaz para aumentar o engajamento e a apropriação crítica das tecnologias no ambiente escolar. Essa participação pode ocorrer por meio de assembleias, grupos de escuta, projetos interdisciplinares e co-criação de materiais digitais. Rojo (2023) enfatiza que os jovens possuem múltiplas literacias digitais e que este conhecimento pode ser usado pedagogicamente como um saber legítimo. Valorizar esse repertório fortalece a conexão entre a escola e a cultura juvenil, promovendo uma aprendizagem mais significativa e contextualizada.

Finalmente, nenhuma mudança estrutural será sustentável sem o fortalecimento de políticas públicas que assegurem investimento contínuo em infraestrutura, formação de professores e gestão democrática. É crucial que os educadores, sindicatos, movimentos sociais e comunidades escolares atuem como agentes de pressão e mobilização por uma escola pública de qualidade e digitalmente inclusiva. Segundo Oliveira (2023), a luta por conectividade, acesso a dispositivos e condições de trabalho dignas é parte do direito à educação e deve ser central na agenda educacional brasileira.

ANÁLISE CRÍTICA INTEGRADA

A incorporação das tecnologias digitais no currículo escolar atual surge como uma necessidade pedagógica urgente. Isso se deve não apenas à presença constante dos recursos digitais na vida dos alunos, mas também à urgência de adaptar práticas educacionais que, historicamente, se mostram desatualizadas em relação às exigências do século XXI. No entanto, ao examinar os obstáculos e as estratégias para essa integração, fica claro que o desafio vai muito além da mera disponibilização técnica ou da compra de equipamentos: é, principalmente, uma disputa por significados, culturas docentes e modelos educacionais.

A análise inicial mostrou que as tecnologias, longe de serem imparciais, trazem consigo conceitos de ensino, aprendizagem e identidade. Conforme argumenta Kress (2010), a comunicação digital é multimodal e demanda novas formas de letramento, o que implica uma mudança radical no currículo e nas práticas pedagógicas. Contudo, a continuidade de um modelo educacional focado na oralidade, linearidade e fragmentação disciplinar compromete a adoção crítica desses novos letramentos, fazendo com que o currículo se torne um elemento obsoleto e desconectado da cultura digital dos jovens (COSCARELLI; RIBEIRO, 2021).

Na parte dedicada aos desafios, percebe-se que a resistência dos professores não deve ser vista como estagnação ou atraso, mas como um sintoma de um modelo de formação que não preparou os educadores para atuar num ambiente educacional mediado por tecnologia. As críticas de Mantoan e Candau à formação tradicional, que ignora a diversidade e a complexidade do cotidiano escolar, são atualizadas aqui diante da falta de políticas consistentes de formação pedagógico-tecnológica. Além disso, como destaca Rojo (2023), a exclusão digital nas escolas de áreas periféricas amplia desigualdades já existentes, revelando o lado mais cruel da inovação sem justiça social: a possibilidade de aprofundar as desigualdades, em vez de reduzi-las.

Quanto às consequências, a análise dos efeitos mostrou que currículos obsoletos e métodos ultrapassados não só tornam o ensino ineficaz, mas também fomentam a evasão e o desinteresse dos alunos, especialmente no Ensino Médio. É importante ressaltar que não basta inserir tecnologias de forma instrumental; é necessário repensar os objetivos do ensino, o papel do professor e a centralidade do aluno. Nesse sentido, as metodologias ativas, os ambientes híbridos e o design participativo do currículo se tornam essenciais, como defendem Moran (2015) e Oliveira (2023).

As estratégias propostas, embora promissoras, não estão livres de tensões. A formação continuada, por exemplo, frequentemente ocorre de maneira isolada, sem conexão com as necessidades reais da escola. As parcerias com empresas, se não forem criticamente avaliadas, podem reforçar lógicas de mercado que não se alinham com o objetivo de uma educação pública libertadora. E a participação dos alunos, embora fundamental, ainda enfrenta barreiras em culturas escolares hierárquicas e autoritárias, que pouco reconhecem os estudantes como participantes ativos do conhecimento.

Em síntese, a transformação digital da escola requer muito mais do que a simples adoção de ferramentas. Trata-se de uma mudança de paradigma que envolve currículo, gestão, cultura institucional, condições de trabalho e políticas públicas. Essa transformação precisa ser construída coletivamente, com escuta, diálogo e compromisso ético. A tecnologia, nesse contexto, deve ser encarada como um meio e não um fim, como uma linguagem e não uma moda passageira, como um direito e não um privilégio.

CONCLUSÃO

Diante das rápidas mudanças sociais e tecnológicas do século XXI, é imperativo reimaginar o currículo escolar para que ele se alinhe com as novas maneiras de viver, aprender e se comunicar. Atualizar o currículo não se resume apenas à adição de ferramentas digitais; requer uma mudança fundamental que prioriza a formação crítica, a independência intelectual e a participação ativa dos alunos no processo de conhecimento. Este estudo destacou que os professores enfrentam uma série de desafios ao integrar tecnologias no currículo, variando desde a falta de formação adequada em pedagogia e tecnologia, passando por infraestrutura inadequada, até resistência à mudança e pouco apoio institucional. Essas dificuldades não são apenas resultado de falhas individuais, mas de um sistema educacional historicamente caracterizado por rigidez, decisões hierárquicas e pouca valorização da inovação. 

Simultaneamente, a pesquisa indicou que existem caminhos viáveis para reverter essa situação. Iniciativas como formação contínua adaptada ao contexto, colaborações entre instituições, modelos híbridos de ensino e a promoção da liderança estudantil sugerem uma nova cultura escolar baseada na cooperação, experimentação e responsabilidade coletiva. Para isso, é crucial um compromisso político por parte de governos, redes de ensino, administradores e educadores, para garantir que a tecnologia funcione como um agente de transformação educacional, e não apenas como um adorno digital.

Nesse contexto, é essencial desenvolver propostas futuras que ajudem a consolidar essa transformação. Entre elas, destaca-se a criação de centros de inovação educacional nas escolas, o aumento de plataformas públicas para formação de professores, o estímulo à pesquisa-ação como prática reflexiva, a garantia de acesso a conectividade e equipamentos, a revisão crítica das diretrizes curriculares nacionais, o fortalecimento da voz dos estudantes e a construção de parcerias éticas com universidades e empresas. Essas ações devem ser planejadas de maneira integrada, com investimentos sustentáveis e participação democrática, assegurando que a inovação tecnológica avance ao lado da equidade e justiça social.

Assim, modernizar o currículo é reconhecer que a escola deve estar preparada para os desafios atuais. É um chamado à ação colaborativa, que demanda coragem para transformar, disposição para ouvir e comprometimento para garantir que cada aluno tenha acesso a uma educação relevante, crítica e emancipadora. Em última análise, trata-se de transformar a escola em um espaço vibrante, dinâmico e conectado tanto às possibilidades do presente quanto às aspirações para o futuro.

REFERÊNCIAS

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1Especialista em Metodologia do Ensino de Biologia e Química, Centro Universitário Internacional -UNINTER, Curitiba-PR. E-mail: isissilva89@gmail.com
2Doutora em Biotecnologia, Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus-AM.  E-mail: sanbsousa@gmail.com
3Mestra em Educação em Ciências na Amazônia, Universidade do Estado do Amazonas (UEA). E-mail: botsandra123@gmail.com
4Mestra em Educação em Ciências na Amazônia, Universidade do Estado do Amazonas (UEA). E-mail: slorenzoni2002@gmail.com
5Doutoranda em Ciências da Educação, Faculdad interamericana de Ciências Sociales (FICS). E-mail:martinsfrancisca64@gmail.com
6Doutorando em Ciências da Educação, Universidad de la Integración de Las Américas (UNIDA), Asunción, Paraguay.  E-mail: atilabio@hotmail.com