ORGANIZATIONAL CLIMATE AND LEARNING CULTURE IN HIGHER EDUCATION: AN OBSERVATIONAL APPROACH TO FORMATIVE SPACES AND ACADEMIC PRACTICES IN A BUSINESS ADMINISTRATION COURSE.
CLIMA ORGANIZACIONAL Y CULTURA DE APRENDIZAJE EN LA EDUCACIÓN SUPERIOR: UN ENFOQUE OBSERVACIONAL DE LOS ESPACIOS FORMATIVOS Y LAS PRÁCTICAS ACADÉMICAS EN UN CURSO DE ADMINISTRACIÓN.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505261127
Eduardo Gomes Reis¹
Luana Maria Santos Silva²
Rodrigo Da Vitória Gomes³
Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar de forma observacional como o clima organizacional e a cultura de aprendizagem se manifestam nos espaços formativos e nas práticas acadêmicas do curso de Administração da Faculdade de Ensino Superior de Linhares (FACELI), no turno noturno. A pesquisa configura-se como um estudo de caso qualitativo e descritivo, fundamentado na observação sistemática dos ambientes institucionais, rotinas pedagógicas e práticas administrativas que compõem o cotidiano acadêmico. Considerando o perfil dos estudantes majoritariamente inseridos no mercado de trabalho e sujeitos a múltiplas demandas da vida adulta, a análise busca compreender em que medida o espaço físico, as relações interpessoais e as dinâmicas organizacionais favorecem ou dificultam a construção de uma cultura de aprendizagem significativa. Optou-se por um olhar institucional e pedagógico que privilegia a ambiência, a organização dos processos educativos e o modo como se estruturam as práticas de ensino. Os resultados oferecem subsídios para a reflexão crítica sobre as condições de aprendizagem no ensino superior e para o aprimoramento das estratégias formativas e da gestão acadêmica, visando à formação de sujeitos autônomos, críticos e adaptáveis às exigências do mundo do trabalho.
Palavras-chave: Clima organizacional. Cultura de aprendizagem. Espaços formativos. Ensino superior. Administração.
Abstract: This article aims to analyze, through an observational approach, how organizational climate and learning culture manifest in the formative spaces and academic practices of the Business Administration course at the Higher Education Faculty of Linhares (FACELI), evening shift. The research is configured as a qualitative and descriptive case study, based on systematic observation of institutional environments, pedagogical routines, and administrative practices that comprise academic daily life. Considering the profile of students, who are mostly active in the labor market and subject to multiple demands of adult life, the analysis seeks to understand to what extent the physical space, interpersonal relationships, and organizational dynamics facilitate or hinder the construction of a meaningful learning culture. An institutional and pedagogical perspective was chosen, privileging the ambiance, the organization of educational processes, and how teaching practices are structured. The results provide support for critical reflection on learning conditions in higher education and for the improvement of formative strategies and academic management, aiming at the formation of autonomous, critical, and adaptable individuals to the demands of the world of work.
Keywords: Organizational climate. Learning culture. Formative spaces. Higher education. Business administration.
Resumen: Este artículo tiene como objetivo analizar de manera observacional cómo se manifiestan el clima organizacional y la cultura de aprendizaje en los espacios formativos y las prácticas académicas del curso de Administración de la Facultad de Enseñanza Superior de Linhares (FACELI), turno nocturno. La investigación se configura como un estudio de caso cualitativo y descriptivo, fundamentado en la observación sistemática de los ambientes institucionales, las rutinas pedagógicas y las prácticas administrativas que conforman la vida académica cotidiana. Considerando el perfil de los estudiantes, mayoritariamente insertados en el mercado laboral y sujetos a múltiples demandas de la vida adulta, el análisis busca comprender en qué medida el espacio físico, las relaciones interpersonales y las dinámicas organizacionales favorecen o dificultan la construcción de una cultura de aprendizaje significativa. Se optó por una mirada institucional y pedagógica que privilegia la ambientación, la organización de los procesos educativos y la forma en que se estructuran las prácticas docentes. Los resultados ofrecen insumos para la reflexión crítica sobre las condiciones de aprendizaje en la educación superior y para el perfeccionamiento de las estrategias formativas y la gestión académica, con la finalidad de formar sujetos autónomos, críticos y adaptables a las exigencias del mundo laboral.
Palabras clave: Clima organizacional. Cultura de aprendizaje. Espacios formativos. Educación superior. Administración.
1. INTRODUÇÃO
As instituições de ensino superior exercem papel estratégico na formação de profissionais críticos, éticos e preparados para os desafios complexos do mundo contemporâneo. No entanto, o processo de aprendizagem nesses espaços não se resume ao conteúdo curricular ou ao desempenho individual dos estudantes. Fatores institucionais, simbólicos e organizacionais, como o clima organizacional e a cultura de aprendizagem, influenciam profundamente o cotidiano acadêmico e o desenvolvimento de competências essenciais à vida profissional e cidadã.
Segundo Chiavenato (2014), o clima organizacional pode ser compreendido como a percepção que os membros de uma organização têm sobre seu ambiente de trabalho, influenciado por aspectos como relações interpessoais, liderança, comunicação e reconhecimento. No contexto educacional, essas dimensões repercutem diretamente nas experiências de ensino-aprendizagem, podendo tanto promover a motivação e o engajamento quanto gerar desinteresse, evasão e baixo desempenho acadêmico.
Paralelamente, a cultura de aprendizagem é um componente central na dinâmica educacional. Para Schein (2010), a cultura organizacional refere-se a um conjunto de pressupostos, valores e práticas compartilhadas que orientam comportamentos e decisões. No ensino superior, ela se manifesta nos modos como o conhecimento é construído, nas interações entre estudantes e docentes e na valorização da autonomia intelectual. Assim, uma cultura de aprendizagem sólida favorece a formação de sujeitos reflexivos, resilientes e capazes de se adaptar às exigências de um mundo em constante transformação.
Essa discussão ganha contornos específicos quando observada em cursos ofertados no turno noturno, como é o caso da graduação em Administração da Faculdade de Ensino Superior de Linhares (FACELI). Os estudantes desse período, em sua maioria adultos inseridos no mercado de trabalho e com múltiplas responsabilidades pessoais e familiares, enfrentam desafios adicionais em sua trajetória acadêmica. Logo, exige da instituição um planejamento pedagógico sensível e uma gestão acadêmica atenta às condições reais de seus discentes. Nesse sentido, Freire (1996) reforça que educar é um ato político, e que o processo formativo precisa partir da realidade concreta dos educandos, respeitando sua bagagem cultural, emocional e social.
Diante disso, torna-se relevante observar como os espaços formativos e as práticas institucionais influenciam a experiência acadêmica, considerando elementos como ambiência, organização do espaço físico, práticas de ensino e relações institucionais. A partir de uma abordagem observacional, este estudo busca compreender como o clima organizacional e a cultura de aprendizagem se manifestam no curso de Administração da FACELI, considerando não apenas as estruturas formais, mas também os elementos simbólicos e cotidianos que configuram a vivência acadêmica.
O objetivo central da pesquisa é analisar, de forma qualitativa e descritiva, como o clima organizacional da FACELI influencia a construção da cultura de aprendizagem no curso de Administração, no turno noturno. Por meio de observações institucionais e pedagógicas, sem recorrer à aplicação de questionários, de modo a captar nuances do ambiente formativo que impactam o processo educativo. Espera-se, com isso, oferecer subsídios para a reflexão crítica sobre as condições de aprendizagem no ensino superior e contribuir para o aprimoramento das estratégias de gestão e das práticas formativas da instituição.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 CLIMA ORGANIZACIONAL NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
O clima organizacional é um elemento central na compreensão do funcionamento interno de uma organização e na forma como seus membros se relacionam com os processos institucionais. Trata-se de uma percepção coletiva, ainda que subjetiva, sobre as condições de trabalho, as relações interpessoais, a comunicação institucional, os estilos de liderança e os valores predominantes no ambiente organizacional. No âmbito das instituições de ensino superior (IES), esse conceito adquire contornos específicos, uma vez que envolve a interação entre múltiplos atores — docentes, discentes, gestores e técnicos — e está diretamente ligado à qualidade da experiência acadêmica.
Chiavenato (2014) define o clima organizacional como a atmosfera psicológica de uma organização, formada pela percepção das pessoas sobre suas condições de trabalho, os relacionamentos interpessoais, o grau de reconhecimento, os estilos de liderança e as oportunidades de crescimento. Esse clima influencia, de forma direta, aspectos como motivação, desempenho, satisfação e bem-estar dos indivíduos que compõem a organização. No contexto educacional, isso se reflete no engajamento dos estudantes com as práticas acadêmicas, na eficácia da mediação pedagógica e na permanência estudantil.
Em instituições de ensino superior, o clima organizacional se expressa por meio de múltiplas dimensões: desde as condições físicas das salas de aula, laboratórios e bibliotecas, até as políticas institucionais de acolhimento, escuta e participação estudantil. Para Oliveira e Lima (2011), o clima organizacional nas IES transcende o espaço da sala de aula, envolvendo também a estrutura administrativa, o relacionamento entre os diversos segmentos institucionais e a qualidade das infraestruturas físicas e tecnológicas disponíveis. Ambientes acolhedores, com estruturas adequadas e relações interpessoais respeitosas, tendem a fortalecer os vínculos dos estudantes com a instituição, promovendo maior engajamento, autonomia e desempenho acadêmico.
Diversas pesquisas empíricas têm evidenciado que o clima organizacional exerce influência significativa na vivência estudantil. Thompson (2014) aponta que um clima organizacional positivo está correlacionado a elevados níveis de satisfação discente, maior senso de pertencimento e resultados acadêmicos mais consistentes. Já Goleman (2002), ao discutir o papel das emoções no processo de aprendizagem, destaca que o clima emocional de uma instituição educacional afeta diretamente o estado afetivo dos estudantes, influenciando sua capacidade de concentração, retenção de informações e participação ativa nas atividades formativas. Assim, um ambiente institucional marcado por acolhimento, empatia e valorização das diferenças tende a favorecer processos educativos mais potentes e significativos.
Cabe ainda observar que o clima organizacional nas IES não é um dado estático, mas um fenômeno dinâmico, que se transforma ao longo do tempo e pode ser influenciado por fatores externos — como mudanças nas políticas públicas educacionais — e internos — como a rotatividade de docentes, reestruturações administrativas ou alterações na cultura institucional. Dessa forma, compreender o clima organizacional exige uma análise contextualizada, que leve em conta as especificidades de cada instituição, os perfis dos seus estudantes e as condições materiais e simbólicas que atravessam a vivência acadêmica.
Em cursos noturnos, por exemplo, nos quais a maioria dos estudantes concilia os estudos com o trabalho e outras responsabilidades, torna-se ainda mais urgente atentar para as condições institucionais que compõem esse clima. A falta de apoio pedagógico, a ausência de canais efetivos de comunicação e o esvaziamento das práticas participativas podem agravar a sensação de desamparo dos discentes, levando à evasão e à baixa produtividade acadêmica. Por outro lado, ações voltadas à escuta ativa, à valorização das trajetórias dos alunos e ao fortalecimento dos vínculos institucionais podem contribuir para a construção de um ambiente mais democrático e humanizado.
Assim, a investigação do clima organizacional nas IES não apenas permite diagnosticar fatores que impactam o desempenho estudantil, mas também oferece subsídios para o planejamento de políticas institucionais mais eficazes, capazes de promover a inclusão, a permanência e o sucesso acadêmico.
2.2 A CULTURA DE APRENDIZAGEM NAS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS
A cultura de aprendizagem em instituições educacionais constitui-se como um conjunto de valores, práticas, normas e significados compartilhados que moldam a forma como o conhecimento é construído, apropriado e aplicado no cotidiano acadêmico. Trata-se de um processo coletivo e dinâmico que transcende a mera transmissão de conteúdos, envolvendo dimensões afetivas, cognitivas, sociais e institucionais do ensino e da aprendizagem. Nesse contexto, compreende-se que a aprendizagem não se limita à aquisição de saberes técnicos, mas implica a formação integral dos sujeitos, considerando suas experiências, trajetórias e vínculos com o ambiente educacional.
Schein (2010) define cultura organizacional como um padrão de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com seus problemas de adaptação externa e integração interna. Quando aplicado às instituições educacionais, esse conceito refere-se à cultura de aprendizagem enquanto estrutura simbólica que orienta as práticas pedagógicas, as relações entre docentes e discentes, as formas de avaliação e o uso das tecnologias educacionais. A cultura de aprendizagem, nesse sentido, materializa-se nos discursos institucionais, nos currículos formais e ocultos, nas práticas pedagógicas cotidianas e nos modos como os sujeitos significam o processo educativo.
A criação e o fortalecimento de uma cultura de aprendizagem nas instituições de ensino superior (IES) são fundamentais para promover experiências formativas mais ricas, equitativas e inovadoras. Nonaka e Takeuchi (1997), ao investigarem processos de criação do conhecimento organizacional, apontam que ambientes que favorecem a aprendizagem colaborativa e contínua são mais propensos à inovação e à produção de saberes significativos. Assim, em uma cultura de aprendizagem robusta, o estudante deixa de ser mero receptor de informações e passa a ocupar um lugar ativo no processo formativo, contribuindo com ideias, experiências e questionamentos que enriquecem o saber coletivo.
Essa perspectiva exige uma transformação nas práticas pedagógicas e nas concepções de ensino que ainda predominam em muitas instituições. Anderson e Krathwohl (2001), ao revisarem a Taxonomia de Bloom, destacam a importância de metodologias ativas que estimulem os estudantes a analisar, avaliar e criar, superando a lógica da memorização e da reprodução mecânica do conhecimento. Estratégias como a aprendizagem baseada em problemas (ABP), a sala de aula invertida, a gamificação, os projetos integradores e o uso reflexivo das tecnologias digitais são ferramentas potentes na constituição de uma cultura de aprendizagem crítica e participativa. Essas abordagens possibilitam o desenvolvimento de competências fundamentais para o século XXI, como o pensamento crítico, a criatividade, a comunicação eficaz e a resolução de problemas complexos.
No entanto, é preciso reconhecer que a consolidação de uma cultura de aprendizagem não ocorre de forma espontânea. Ela demanda intencionalidade institucional, investimento na formação continuada dos professores, políticas de apoio pedagógico e estratégias que incentivem a autoria, a escuta ativa e o protagonismo dos estudantes. Além disso, envolve o reconhecimento da diversidade dos sujeitos que compõem o ambiente acadêmico — estudantes trabalhadores, mães, pessoas com deficiência, sujeitos em privação de liberdade, entre outros — e a criação de condições pedagógicas e institucionais que valorizem suas trajetórias e saberes.
A cultura de aprendizagem também se relaciona com o modo como as instituições educacionais interpretam seu papel social. Em contextos nos quais a educação é compreendida como um direito social e como instrumento de transformação, a cultura de aprendizagem tende a assumir características mais democráticas, inclusivas e dialógicas. Por outro lado, em ambientes marcados pela lógica tecnocrática ou pela mercantilização do ensino, prevalecem formas de aprendizagem fragmentadas, voltadas apenas à produtividade ou à empregabilidade. Nesse sentido, o fortalecimento de uma cultura de aprendizagem crítica e emancipatória requer compromisso ético-político com a formação de sujeitos autônomos, conscientes e comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa.
Dessa forma, a cultura de aprendizagem constitui-se como uma dimensão essencial da qualidade educacional e deve ser continuamente analisada, cultivada e ressignificada pelas instituições de ensino. Trata-se, portanto, de um campo estratégico para o planejamento educacional, a formação docente e o desenvolvimento de práticas pedagógicas coerentes com os desafios contemporâneos da educação superior.
2.3 O CLIMA ORGANIZACIONAL E A CULTURA DE APRENDIZAGEM NO ENSINO NOTURNO
O ensino superior noturno apresenta características singulares que exigem atenção redobrada por parte das instituições de ensino superior (IES), sobretudo no que diz respeito à construção de um clima organizacional acolhedor e de uma cultura de aprendizagem sensível às especificidades desse público. Os estudantes que frequentam o turno noturno, em sua maioria, são adultos que conciliam a vida acadêmica com o trabalho, a família e outras obrigações sociais. Essa condição impõe desafios significativos ao processo de aprendizagem, que não podem ser negligenciados por uma gestão educacional comprometida com a equidade e a qualidade do ensino.
Costa (2010) ressalta que os estudantes do turno noturno enfrentam obstáculos adicionais relacionados à exaustão física, à sobrecarga de responsabilidades e à escassez de tempo para os estudos extraclasse, fatores que frequentemente comprometem seu desempenho acadêmico. Tais limitações, no entanto, convivem com um potencial formativo rico: esses sujeitos trazem consigo uma bagagem de saberes advindos da experiência laboral, da convivência comunitária e das vivências cotidianas, o que constitui um capital cultural e cognitivo valioso que deve ser reconhecido e integrado às práticas pedagógicas.
Nesse cenário, torna-se imperativo que as IES desenvolvam um clima organizacional positivo, compreendido como o conjunto de percepções, sentimentos e atitudes que predominam no ambiente institucional e que influenciam diretamente a motivação, o engajamento e a permanência dos estudantes. Um clima organizacional favorável no ensino noturno deve ser pautado pela empatia, pela escuta ativa, pela flexibilidade administrativa e pelo compromisso com a inclusão social. Kegan (1994) argumenta que o suporte institucional, entendido como o provimento de recursos emocionais, acadêmicos e estruturais, é essencial para que os estudantes desenvolvam resiliência diante das adversidades impostas pela tripla jornada de vida.
Além disso, é necessário que a cultura de aprendizagem no ensino noturno seja moldada a partir da valorização das experiências prévias dos estudantes, promovendo a construção coletiva do conhecimento com base em suas realidades. Assim, exige dos docentes o uso de metodologias participativas, dialógicas e contextualizadas, que considerem os saberes populares e profissionais dos discentes como ponto de partida para a problematização dos conteúdos acadêmicos. Tal abordagem está em consonância com os princípios da pedagogia crítico-libertadora de Paulo Freire, que defende uma educação situada, que parte da realidade concreta dos educandos e se orienta pela transformação social (FREIRE, 1996).
Freire (1996) enfatiza que ensinar exige respeito à autonomia do educando, e esse princípio é especialmente relevante para o ensino noturno, uma vez que os estudantes adultos demandam maior autonomia, respeito à sua trajetória de vida e reconhecimento de suas identidades múltiplas. Logo, implica uma mudança de postura institucional e docente, que deve abandonar práticas autoritárias e conteudistas, abrindo espaço para o diálogo, a cooperação e a formação crítica. A cultura de aprendizagem, nesse contexto, deve ser compreendida como um processo compartilhado, contínuo e humanizado, que reconhece os sujeitos em sua complexidade.
Por fim, a promoção da inclusão educacional nos cursos noturnos deve ser prioridade estratégica das instituições de ensino superior. Tal compromisso implica não apenas a ampliação do acesso, mas também a permanência qualificada dos estudantes por meio de políticas afirmativas, ações de acolhimento, flexibilização curricular e apoio psicopedagógico. A inclusão educacional, entendida como um direito, deve considerar as condições materiais, sociais e subjetivas dos discentes, especialmente daqueles em situação de vulnerabilidade. Criar condições para que todos aprendam com dignidade, participação e sentido é um imperativo ético e político da educação superior contemporânea.
Portanto, o fortalecimento do clima organizacional e da cultura de aprendizagem no ensino noturno exige esforços articulados entre gestão, docentes, técnicos e estudantes. Trata-se de reconhecer a diversidade como um valor educativo e de construir espaços institucionais mais justos, solidários e emancipatórios.
2.4 A PERCEPÇÃO DE INGRESSANTES E CONCLUINTES SOBRE O CLIMA ORGANIZACIONAL E A CULTURA DE APRENDIZAGEM
A comparação das percepções entre ingressantes e concluintes de um curso de graduação fornece uma visão importante sobre o impacto do tempo de permanência na instituição de ensino e sua influência nas atitudes dos alunos em relação ao clima organizacional e à cultura de aprendizagem. A percepção dos ingressantes, geralmente mais idealizada, tende a refletir expectativas sobre a instituição e o processo educativo, que, muitas vezes, não condizem com a realidade do ambiente acadêmico. Viana (2013) observa que os ingressantes costumam ter uma visão idealizada da instituição e do processo de aprendizagem, geralmente associada a expectativas de realização pessoal e profissional, sem considerar as adversidades que surgem ao longo do percurso acadêmico. No entanto, conforme os alunos avançam em sua trajetória acadêmica, suas visões se tornam mais complexas e críticas, à medida que experienciam as diversas nuances do ambiente institucional e de aprendizagem.
Este fenômeno é, em grande parte, explicado pelo processo de adaptação que caracteriza a vivência acadêmica, que envolve um confronto constante entre expectativas e realidades, desafios pessoais e acadêmicos, e mudanças de perspectiva. Segundo Kegan (1994), a maturação dos alunos é um processo contínuo de desenvolvimento e crescimento, no qual, à medida que acumulam experiências acadêmicas e pessoais, eles começam a compreender de forma mais profunda o que significa ser estudante universitário. Esse amadurecimento é indissociável da construção de uma identidade acadêmica e profissional, que exige o desenvolvimento de competências não apenas técnicas, mas também de habilidades cognitivas, emocionais e sociais.
A evolução da percepção dos ingressantes para os concluintes reflete um processo de aprendizagem e adaptação ao sistema educacional. De acordo com Tinto (1993), a permanência do aluno na instituição e seu envolvimento no processo de aprendizagem dependem da interação entre fatores pessoais, acadêmicos e sociais, sendo que os ingressantes, ao se familiarizarem com as exigências da vida universitária, ajustam suas expectativas e modos de atuação. Esse ajuste ocorre em diversos níveis, sendo o mais significativo, provavelmente, o desenvolvimento de um olhar crítico sobre as condições institucionais, o próprio processo de ensino-aprendizagem e a preparação para o mercado de trabalho.
Além disso, conforme a vivência acadêmica avança, os estudantes passam a refletir sobre o papel da instituição na construção de sua trajetória educacional e profissional. Nesse processo, a percepção sobre o clima organizacional se modifica, tornando-se mais crítica e reflexiva. Os concluintes, ao final do curso, desenvolvem uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas institucionais e das suas próprias limitações e competências adquiridas ao longo do percurso acadêmico. Nesse estágio, a ênfase se desloca para uma análise mais pragmática sobre como a instituição e a cultura de aprendizagem contribuem para a formação de um profissional capaz de enfrentar os desafios do mercado de trabalho e atuar de maneira crítica na sociedade.
Kegan (1994) também sublinha que a experiência universitária é, em última instância, um processo de transformação subjetiva, no qual o estudante não apenas adquire saberes técnicos, mas também se configura como um sujeito capaz de atuar de forma reflexiva e crítica em diferentes contextos profissionais e sociais. Assim, a formação universitária não se restringe à transmissão de conteúdos acadêmicos, mas abrange, também, a construção de uma identidade profissional que dialoga com as exigências da sociedade contemporânea.
A transição entre a percepção dos ingressantes e dos concluintes revela, portanto, um amadurecimento cognitivo e social, que pode ser observado nas formas como os alunos se relacionam com os saberes e as instituições, e como essas interações moldam sua trajetória acadêmica e profissional. Desse modo, o desafio das IES é, portanto, criar ambientes de aprendizagem que favoreçam não apenas a aquisição de conhecimentos técnicos, mas também o desenvolvimento integral dos alunos, permitindo que se tornem sujeitos críticos e engajado socialmente.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa de natureza observacional, com o objetivo de analisar as dinâmicas do clima organizacional e da cultura de aprendizagem nos espaços formativos e nas práticas acadêmicas do curso de Administração da Faculdade de Ensino Superior de Linhares (FACELI), no turno noturno. A pesquisa foi conduzida com base na observação direta dos ambientes institucionais, das rotinas pedagógicas e das práticas administrativas, buscando compreender como esses elementos influenciam a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes, principalmente aqueles já inseridos no mercado de trabalho.
Para a análise dos dados, foi adotada a Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2011), que consiste na organização e interpretação dos dados qualitativos por meio de categorias e subcategorias, identificando padrões, significados e implicações das interações observadas. Essa abordagem é particularmente adequada para estudos observacionais, pois permite uma análise estruturada de elementos do ambiente acadêmico, como práticas pedagógicas, comunicação entre docentes e discentes, organização dos espaços físicos e as relações interpessoais dentro da instituição. Por meio desta análise, destacamos:
- Contexto da Pesquisa: O estudo foi realizado na Faculdade de Ensino Superior de Linhares (FACELI), com foco no curso de Administração oferecido no turno noturno. Este curso atende principalmente a estudantes adultos, muitos dos quais já estão inseridos no mercado de trabalho, o que configura um contexto específico para a análise do clima organizacional e da cultura de aprendizagem;
- Amostra: A amostra foi composta por observações em duas etapas: uma nas atividades acadêmicas voltadas aos ingressantes (estudantes no primeiro semestre) e outra nos concluintes (estudantes no último semestre). A escolha dessa divisão permitirá analisar como as percepções e práticas de aprendizagem evoluem ao longo da trajetória acadêmica;
- Coleta de Dados: A coleta de dados foi realizada por meio de observação direta, em que os pesquisadores observaram as aulas, interações entre professores e alunos, práticas pedagógicas, e a organização dos espaços de ensino e aprendizagem. Assim, foi dada atenção especial aos seguintes aspectos: Espaços físicos – A organização das salas de aula, acessibilidade e infraestrutura; Relações interpessoais – Interações entre professores, alunos e outros membros da comunidade acadêmica; Práticas pedagógicas – Métodos de ensino utilizados, com ênfase nas metodologias ativas, como o aprendizado baseado em problemas, uso de tecnologias, e estratégias de ensino que favoreçam a aprendizagem ativa e crítica; Ambiente institucional – O clima organizacional da instituição, incluindo aspectos como apoio institucional, gestão acadêmica e suporte aos alunos.
A coleta foi realizada por meio de notas de campo, registrando observações e reflexões sobre os elementos observados durante as aulas, reuniões e atividades institucionais. Após a coleta dos dados, será realizada a Análise de Conteúdo de Bardin (2011), com o objetivo de identificar categorias e subcategorias que representem as principais dinâmicas observadas nos ambientes de aprendizagem. A análise será realizada em três etapas:
- Pré-análise: Leitura e familiarização com o material coletado, identificando os elementos mais relevantes e recorrentes;
- Exploração do material: Classificação das informações em categorias e subcategorias, baseadas nas observações realizadas. Foram observados padrões de comportamento, interações e práticas pedagógicas;
- Tratamento dos resultados: Interpretação dos dados categorizados, buscando compreender como as práticas acadêmicas e o clima organizacional impactam a construção da cultura de aprendizagem no curso de Administração.
A partir da análise dos dados, identificou-se como o clima organizacional e as práticas pedagógicas influenciam a construção de uma cultura de aprendizagem eficaz no ensino superior, considerando as especificidades dos alunos do turno noturno.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta seção, são apresentados e analisados os principais resultados obtidos a partir das observações realizadas no curso de Administração da FACELI, no período noturno, durante o primeiro semestre letivo de 2025. Destaca-se que as observações foram enriquecidas pelo olhar crítico e amadurecido de dois estudantes do oitavo período desse curso, que, ao longo dos quatro anos de trajetória acadêmica, desenvolveram uma compreensão profunda das dinâmicas institucionais e acadêmicas. Esses discentes contribuíram com apontamentos que refletem suas experiências acumuladas, possibilitando uma análise mais detalhada e fundamentada.
Os dados coletados foram sistematizados em categorias analíticas elaboradas a partir dos objetivos da pesquisa e foram discutidos à luz do referencial teórico adotado. Essa abordagem possibilita uma interpretação crítica dos fenômenos observados, destacando os elementos mais significativos para a compreensão aprofundada do objeto de estudo, especialmente no que tange ao clima organizacional, às práticas pedagógicas e à vivência dos estudantes trabalhadores no turno noturno.
4.1 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO
A Faculdade de Ensino Superior de Linhares (FACELI) apresenta uma infraestrutura física que, de modo geral, atende satisfatoriamente às demandas do ensino superior contemporâneo. As salas de aula são amplas, climatizadas, bem iluminadas e organizadas de forma a favorecer a concentração, a interação entre os estudantes e o bom desenvolvimento das práticas pedagógicas. Observou-se, durante o período de acompanhamento, um ambiente limpo e agradável, o que revela o compromisso institucional com a manutenção e o cuidado dos espaços utilizados pela comunidade acadêmica.
Outro aspecto positivo identificado refere-se à cultura de valorização da organização do espaço físico, frequentemente destacada por professores e coordenadores em suas falas. É comum que os alunos sejam reconhecidos e incentivados por contribuírem com a manutenção da ordem e da limpeza dos ambientes, o que evidencia a construção de um sentimento coletivo de pertencimento e responsabilidade pelo espaço comum.
Entretanto, apesar da qualidade geral da estrutura física, foram registradas algumas limitações pontuais no que diz respeito ao funcionamento de equipamentos tecnológicos. Em determinadas ocasiões, projetores e computadores não operaram adequadamente, exigindo, inclusive, a realocação da turma para outras salas a fim de garantir a continuidade das aulas. Esses episódios, ainda que esporádicos, evidenciam a necessidade de uma política mais sistemática de manutenção preventiva dos recursos tecnológicos, especialmente diante do compromisso da instituição com uma educação mediada por tecnologias e com práticas pedagógicas atualizadas.
Em síntese, a FACELI demonstra investimentos significativos na organização e manutenção do espaço físico, criando condições favoráveis à aprendizagem. No entanto, a atenção à infraestrutura tecnológica deve ser reforçada, de modo a evitar prejuízos às dinâmicas de ensino e assegurar a plena funcionalidade dos recursos didático-pedagógicos disponibilizados.
4.2 RELAÇÕES INTERPESSOAIS: INTERAÇÕES ENTRE PROFESSORES E ESTUDANTES
As relações interpessoais estabelecidas na Faculdade de Ensino Superior de Linhares (FACELI) revelam um ambiente institucional pautado pelo respeito mútuo, pelo diálogo constante e por uma prática pedagógica humanizada. Durante as observações realizadas no curso de Administração, notou-se que as interações entre professores e estudantes são permeadas por escuta ativa, acolhimento e abertura para a construção coletiva do conhecimento. Esse clima relacional tem se mostrado fundamental para o fortalecimento do engajamento acadêmico, especialmente no turno noturno, cujos alunos, em sua maioria, conciliam a formação superior com a jornada de trabalho e outras responsabilidades cotidianas.
O corpo docente da instituição evidenciou elevado grau de competência técnica e sensibilidade didático-pedagógica. Os professores demonstraram domínio dos conteúdos ministrados, aliando rigor conceitual à flexibilidade metodológica, o que favorece a aprendizagem significativa. Destacou-se, ainda, a postura ética e o compromisso dos docentes com a escuta atenta às dificuldades dos estudantes, adotando estratégias de apoio e estímulo que vão além da mera transmissão de conteúdos. Essa atuação contribui para o fortalecimento de vínculos positivos entre educadores e educandos, promovendo uma cultura de confiança, respeito e cooperação.
Entre os estudantes concluintes, observou-se uma relação mais consolidada e madura com os docentes, resultado do tempo de convivência e da trajetória de formação percorrida em conjunto. Essa proximidade fortalece a autonomia discente e estimula o protagonismo acadêmico, uma vez que os estudantes se sentem mais à vontade para expressar suas dúvidas, opiniões e contribuições.
Em diversas aulas, foi possível perceber que os professores incentivam, de maneira intencional, a troca de experiências entre os estudantes, valorizando os saberes prévios e as vivências profissionais que cada um traz para o espaço acadêmico. Essa postura contribui para a construção de um ambiente dialógico e para o desenvolvimento de uma aprendizagem crítica, reflexiva e contextualizada. Tal abordagem vai ao encontro das propostas pedagógicas contemporâneas que valorizam a formação integral dos sujeitos, articulando teoria e prática como dimensões inseparáveis do processo educativo.
Portanto, as interações entre professores e estudantes na FACELI não apenas favorecem o desempenho acadêmico, mas também cumprem um papel formativo mais amplo, estimulando o desenvolvimento ético, social e profissional dos futuros administradores.
4.3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
As práticas pedagógicas desenvolvidas pelos docentes da Faculdade de Ensino Superior de Linhares (FACELI) revelam um compromisso contínuo com a qualificação do processo de ensino-aprendizagem, alinhado às demandas contemporâneas da educação superior. Durante as observações realizadas no curso de Administração, identificou-se uma diversidade de estratégias didáticas que evidenciam um esforço coletivo para superar o modelo tradicional centrado exclusivamente na exposição oral do professor.
Embora o método expositivo ainda seja utilizado em algumas disciplinas — sobretudo para a introdução de conceitos teóricos mais densos —, tem-se percebido uma valorização crescente de metodologias ativas e participativas, que colocam o estudante como protagonista do próprio processo formativo. Entre as estratégias mais recorrentes, destacam-se: resolução colaborativa de problemas, estudos de caso contextualizados, seminários temáticos, debates orientados, análise de artigos científicos e aplicação prática de conteúdos em situações simuladas da realidade profissional.
Essas práticas, ao mobilizarem diferentes habilidades cognitivas e socioemocionais, favorecem o desenvolvimento de competências essenciais para o exercício da profissão, como pensamento crítico, capacidade de argumentação, tomada de decisão, resolução de conflitos e trabalho em equipe. Além disso, contribuem para a construção de uma aprendizagem mais significativa e contextualizada, que articula teoria e prática em sintonia com os desafios do mercado de trabalho contemporâneo e com as transformações sociais em curso.
A observação em sala também evidenciou o esforço dos docentes em integrar conteúdos acadêmicos com as experiências vividas pelos alunos fora do espaço universitário, especialmente no contexto do turno noturno, onde muitos discentes já atuam em áreas correlatas à administração. Essa aproximação entre o saber científico e o saber experiencial contribui para valorizar os percursos individuais dos estudantes, promovendo maior engajamento e sentimento de pertencimento à instituição.
Contudo, algumas limitações estruturais ainda impõem desafios à implementação plena de práticas pedagógicas inovadoras. Em situações pontuais, registraram-se falhas no funcionamento de equipamentos tecnológicos, como projetores e sistemas de som, o que exigiu adaptações improvisadas por parte dos docentes. Apesar disso, a criatividade e a resiliência demonstradas pelos professores diante desses obstáculos têm sido decisivas para manter a fluidez das aulas e garantir a continuidade das atividades pedagógicas.
Dessa forma, as práticas pedagógicas observadas na FACELI apontam para um cenário de transição e amadurecimento didático, em que se busca, progressivamente, integrar os princípios da educação crítica, participativa e dialógica aos conteúdos curriculares. Tal movimento contribui não apenas para a formação técnica dos futuros administradores, mas também para a constituição de sujeitos éticos, reflexivos e socialmente comprometidos.
4.4 CLIMA ORGANIZACIONAL
O clima organizacional da Faculdade de Ensino Superior de Linhares (FACELI) apresenta-se como um dos pilares fundamentais para a promoção de um ambiente acadêmico positivo, acolhedor e propício ao desenvolvimento integral dos estudantes. Ao longo das observações e análises realizadas, evidenciou-se o compromisso institucional em construir uma cultura organizacional que valoriza a permanência, o engajamento e o sucesso acadêmico dos alunos, com especial atenção às necessidades específicas do público do turno noturno, majoritariamente composto por estudantes adultos e trabalhadores.
A gestão acadêmica da FACELI tem adotado práticas que fortalecem a escuta ativa e o acompanhamento pedagógico personalizado, criando canais efetivos para que os discentes possam expressar suas demandas, dificuldades e sugestões. Tais iniciativas refletem um esforço institucional voltado para a humanização das relações educacionais e para o reconhecimento da trajetória individual de cada estudante, respeitando seu ritmo, contexto e desafios particulares.
Os ingressantes do curso de Administração relataram grande satisfação com o processo de acolhimento institucional, destacando o suporte recebido desde a matrícula, as boas condições físicas das instalações e a acessibilidade dos serviços oferecidos. Esse primeiro contato favorável contribui para a construção de uma imagem institucional positiva, essencial para a motivação inicial e a integração dos alunos ao universo acadêmico.
Por outro lado, os estudantes concluintes manifestaram uma postura mais crítica e reflexiva, fruto da vivência acumulada ao longo do curso. Reconhecem os avanços promovidos pela instituição, sobretudo no que diz respeito à qualidade do ensino e ao suporte pedagógico, mas também apontam desafios que precisam ser superados. Entre os aspectos mencionados, destacam-se a necessidade de maior agilidade nos processos administrativos e a melhoria da comunicação interna, que muitas vezes é percebida como insuficiente ou pouco transparente.
Apesar dessas críticas construtivas, há consenso entre os discentes de que a FACELI representa um ambiente fértil para o crescimento pessoal e profissional. A instituição é amplamente reconhecida pelo esforço contínuo em manter elevados padrões de qualidade no ensino, aliado a uma formação que vai além da técnica, promovendo a formação de cidadãos críticos, éticos e aptos a responder aos desafios complexos da sociedade contemporânea.
Assim, o clima organizacional da FACELI não se resume à infraestrutura ou aos procedimentos burocráticos, mas se manifesta na qualidade das relações interpessoais, no cuidado com o aluno e na construção coletiva de um espaço educacional que inspira confiança, comprometimento e sentido de pertencimento. Esse ambiente favorável é, portanto, um componente essencial para a eficácia do processo formativo e para o fortalecimento da identidade institucional.
4.5 ANÁLISE CRÍTICA E REFLEXÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL E ACADÊMICO
A análise aprofundada dos dados obtidos por meio das observações no curso de Administração do turno noturno na FACELI revela uma trajetória significativa de evolução do clima organizacional e da cultura acadêmica da instituição ao longo dos últimos anos. Um marco fundamental nesse processo foi a conquista do prédio próprio em 2018, um passo decisivo que não apenas ampliou e aprimorou a infraestrutura física, mas também fortaleceu a identidade institucional, conferindo maior autonomia e visibilidade à FACELI no cenário do ensino superior regional. Essa conquista simboliza o comprometimento da instituição com a excelência e a consolidação de um ambiente propício ao desenvolvimento acadêmico e humano.
Além da infraestrutura, observa-se que a FACELI vem investindo consistentemente na construção e fortalecimento de sua cultura acadêmica por meio da criação e incentivo a grupos de pesquisa, projetos de extensão e a realização de eventos e palestras com profissionais renomados e atuantes nas áreas de ensino. Essas iniciativas promovem a integração entre teoria e prática, fomentam a inovação e ampliam o papel social da faculdade, evidenciando sua responsabilidade para além da formação técnica, ao contribuir com a comunidade local por meio de ações que promovem cidadania, inclusão social e soluções para problemas regionais. Tal posicionamento reafirma a instituição como um espaço dinâmico de aprendizagem crítica e transformação social.
Entretanto, a análise também destaca desafios específicos enfrentados pelos estudantes do turno noturno, especialmente os concluintes. Devido à necessidade de conciliar a jornada acadêmica com compromissos laborais e responsabilidades pessoais, esses alunos encontram limitações no acesso a atividades práticas externas, como visitas técnicas e eventos extracurriculares, que são fundamentais para o desenvolvimento integral e a aplicação concreta dos conhecimentos adquiridos. Essa restrição configura uma desigualdade formativa quando comparada às oportunidades disponíveis para os estudantes de outros turnos, principalmente os ingressantes, que contam com maior disponibilidade para participar dessas experiências durante o horário regular de aulas, favorecendo uma compreensão mais completa e contextualizada do curso.
Outro ponto de reflexão importante é a concentração das palestras e eventos acadêmicos no período noturno. Embora essa escolha seja estratégica para atender a maioria dos alunos que trabalham durante o dia, ela pode gerar um desgaste físico e mental para os estudantes noturnos, muitos dos quais chegam cansados após suas jornadas de trabalho e têm no horário da aula o único momento para se dedicar plenamente às atividades acadêmicas. Para amenizar esse impacto, seria pertinente a adoção de formatos híbridos e flexíveis, como a disponibilização de gravações das palestras em plataformas digitais acessíveis gratuitamente, bem como a realização de eventos em diferentes turnos ou aos finais de semana, ampliando o acesso e promovendo maior equidade na oferta de oportunidades formativas.
Ao confrontar os resultados com as teorias educacionais adotadas, destaca-se a consonância com a perspectiva de Paulo Freire (1996), que enfatiza uma educação contextualizada, centrada na realidade concreta dos educandos, valorizando suas experiências e vivências. As práticas pedagógicas ativas e o ambiente acolhedor observado na FACELI refletem esse compromisso, assim como a gestão acadêmica, que demonstra sensibilidade na construção de um clima organizacional positivo e orientado para a permanência qualificada e o êxito dos estudantes.
Por fim, a disparidade na percepção entre alunos ingressantes e concluintes indica um processo de amadurecimento crítico ao longo da trajetória acadêmica. Enquanto os ingressantes tendem a enfatizar aspectos mais imediatos e positivos, os concluintes apresentam uma visão mais analítica, reconhecendo avanços institucionais, mas também identificando áreas que demandam melhorias, como a comunicação interna e a agilidade administrativa. Essa evolução de percepção sugere que a FACELI está caminhando rumo à consolidação de uma cultura de aprendizagem sólida, inclusiva e socialmente comprometida. Para tanto, torna-se indispensável que a instituição continue investindo na escuta ativa, na inovação pedagógica e na ampliação da integração com a comunidade acadêmica e externa, assegurando um desenvolvimento sustentável e alinhado com as demandas contemporâneas do ensino superior.
4.6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONEXÕES COM A PRÁTICA INSTITUCIONAL
A análise dos resultados e do contexto da FACELI encontra sólido respaldo em diversos referenciais teóricos que dialogam diretamente com as dimensões observadas na instituição, reforçando a compreensão dos fenômenos educacionais, organizacionais e pedagógicos presentes no curso de Administração noturno.
Em primeiro lugar, a evolução do clima organizacional e a construção de uma cultura de aprendizagem ativa e participativa podem ser compreendidas à luz dos estudos de Schein (2010), que destaca a importância da cultura organizacional na formação do ambiente interno, influenciando comportamentos, valores e práticas institucionais. O comprometimento da FACELI em promover um espaço acolhedor e integrado reflete a atuação consciente da liderança em fortalecer símbolos, rituais e estruturas que favorecem a permanência e o sucesso acadêmico dos estudantes, consonante com o que Oliveira e Lima (2011) apontam sobre a relação entre clima organizacional positivo e aprendizagem efetiva em instituições de ensino superior.
No âmbito pedagógico, a adoção crescente de metodologias ativas e a valorização da experiência dos estudantes trabalhadores dialogam diretamente com a proposta de Freire (1996), que defende uma educação centrada na autonomia do sujeito e na construção do conhecimento a partir da realidade concreta do educando. A incorporação das práticas que promovem a troca de saberes e a contextualização do conteúdo estimula o desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e críticas, conforme proposto pela Taxonomia de Anderson e Krathwohl (2001), que revisa a clássica taxonomia de Bloom, enfatizando níveis superiores de aprendizagem como análise, avaliação e criação.
Outro aspecto importante diz respeito ao perfil dos estudantes do turno noturno, geralmente adultos e trabalhadores, que enfrentam o desafio de conciliar estudo, trabalho e vida pessoal. Nesse sentido, Costa (2010) aponta para a complexidade dessa realidade, evidenciando o desgaste físico e emocional enfrentado por esses discentes, o que reforça a necessidade de práticas pedagógicas flexíveis e acolhedoras para assegurar a permanência e a efetividade da aprendizagem. A teoria da inteligência emocional de Goleman (2002) também contribui para a compreensão dos desafios enfrentados, destacando a importância de competências emocionais para o sucesso acadêmico e profissional, especialmente em contextos de alta demanda e múltiplas responsabilidades.
Do ponto de vista da gestão de pessoas e liderança, os desafios de manter um corpo docente motivado e alinhado com a missão institucional podem ser analisados com base nas contribuições de Chiavenato (2014) e Thompson (2014). Estes autores enfatizam a importância da gestão estratégica de recursos humanos e do trabalho em equipe para a promoção de ambientes de trabalho produtivos e colaborativos, o que se traduz diretamente na qualidade do ensino e no engajamento dos professores, elementos essenciais para a consolidação da cultura de aprendizagem observada na FACELI.
Ainda, a dificuldade de acesso dos estudantes noturnos a atividades práticas externas pode ser refletida sob a ótica da teoria da retenção e evasão estudantil proposta por Tinto (1993), que destaca a importância da integração acadêmica e social para a permanência dos alunos. A limitação dessas experiências pode comprometer a conexão dos estudantes com o ambiente acadêmico, impactando negativamente sua trajetória. Por isso, a proposição de eventos híbridos e formatos flexíveis dialoga com a necessidade de inovação e adaptação, conceitos que também se relacionam à dinâmica da criação do conhecimento organizacional discutida por Nonaka e Takeuchi (1997), evidenciando que a aprendizagem institucional deve ser contínua, colaborativa e adaptativa.
Finalmente, a análise de conteúdo e discursiva, conforme Bardin (2011) e Moraes e Galiazzi (2011), fornece ferramentas metodológicas fundamentais para interpretar as percepções dos estudantes e gestores, possibilitando uma compreensão aprofundada das práticas, valores e desafios no contexto educacional da FACELI. Complementarmente, Viana (2013) enfatiza a importância da percepção do estudante universitário sobre o ambiente acadêmico como indicador crucial para o planejamento e a melhoria das políticas institucionais.
Por fim, a convergência entre os dados empíricos e os referenciais teóricos reforça a importância da FACELI continuar investindo na inovação pedagógica, na gestão humanizada e na promoção de um ambiente acadêmico inclusivo e estimulante, garantindo, assim, a formação de profissionais críticos, competentes e socialmente responsáveis.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise realizada evidencia a complexidade e a relevância do clima organizacional e da cultura de aprendizagem como elementos fundamentais na experiência acadêmica do ensino superior, especialmente em contextos de turnos noturnos com estudantes adultos e trabalhadores. Os dados indicam que, embora as condições físicas para as atividades pedagógicas sejam adequadas, a manutenção tecnológica ainda requer melhorias para garantir a plena operacionalização dos recursos didáticos, essenciais à implementação de metodologias ativas e inovadoras.
As relações interpessoais observadas refletem um ambiente permeado por respeito, diálogo e escuta ativa, favorecendo a construção coletiva do conhecimento e a criação de vínculos positivos entre docentes e discentes. Essa configuração é especialmente importante para o perfil dos estudantes que necessitam de práticas pedagógicas flexíveis e contextualizadas à sua realidade social e profissional, evidenciando o papel crucial da sensibilidade didático-pedagógica do corpo docente na formação de sujeitos autônomos, críticos e reflexivos.
Além disso, a cultura de aprendizagem está em constante construção, mediada por elementos simbólicos, institucionais e práticos que moldam o cotidiano acadêmico. A valorização dos espaços físicos e a responsabilidade coletiva pela manutenção dos ambientes indicam um sentido de pertencimento e compromisso, fatores que potencializam a motivação e o engajamento estudantil. A adoção de estratégias pedagógicas que incentivam a troca de saberes e a contextualização do conteúdo fortalece a aprendizagem significativa, alinhando-se às demandas contemporâneas por uma formação integral que articule teoria e prática.
Por fim, destaca-se a importância de uma gestão acadêmica sensível às especificidades do perfil discente do turno noturno, capaz de promover condições institucionais que favoreçam a conciliação entre estudo, trabalho e demais responsabilidades, contribuindo para a permanência e o sucesso acadêmico. Recomenda-se, portanto, a continuidade dos investimentos em infraestrutura tecnológica, a oferta de formação continuada para docentes e a criação de espaços que ampliem o diálogo e o protagonismo estudantil, consolidando uma cultura de aprendizagem crítica e colaborativa.
Dessa forma, o ambiente acadêmico que valoriza seu clima organizacional e fomenta uma cultura de aprendizagem adaptada às particularidades dos seus estudantes está melhor preparado para formar profissionais tecnicamente competentes e socialmente conscientes, aptos a enfrentar os desafios dinâmicos do mercado e da sociedade contemporânea. Este estudo contribui para o campo do ensino superior ao oferecer subsídios teórico-práticos que podem orientar processos de reflexão institucional e aprimoramento das estratégias pedagógicas e administrativas, essenciais para a consolidação de uma educação superior de qualidade, inclusiva e transformadora.
REFERENCIAS
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¹Acadêmico do Curso de Administração da FACELI;
²Acadêmica do Curso de Administração da FACELI;
³Professor do Curso de Administração da FACELI.