EQUOTERAPIA COMO FERRAMENTA DE REABILITAÇÃO E INCLUSÃO: ANÁLISE DO PROGRAMA DESENVOLVIDO PELO PELOTÃO DE POLÍCIA MONTADA DO 1º BATALHÃO DE POLÍCIA MILITAR EM PONTA GROSSA

EQUOTERAPIA AS A TOOL FOR REHABILITATION AND INCLUSION: ANALYSIS OF THE PROGRAM DEVELOPED BY THE MOUNTED POLICE PLATOON OF THE 1ST MILITARY POLICE BATTALION IN PONTA GROSSA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505121219


Cassiano Pereira Stanczyk1


Resumo 

A equoterapia, enquanto modalidade terapêutica interdisciplinar, consolida-se progressivamente no panorama das práticas de saúde ao empregar o cavalo como um sofisticado agente promotor de benefícios multifacetados, abrangendo as esferas física, psicológica e social dos indivíduos. O presente artigo científico debruça-se sobre uma análise aprofundada, fundamentada em extensa pesquisa bibliográfica e documental, do programa de equoterapia implementado e mantido desde o ano de 2018 pelo Pelotão de Polícia Montada, unidade integrante do 1º Batalhão de Polícia Militar do Paraná, sediado no município de Ponta Grossa. Este programa, de natureza eminentemente social e inclusiva, destaca-se por oferecer atendimento gratuito a um contingente de aproximadamente 80 crianças e adolescentes diagnosticados com diversas formas de deficiência, com sessões terapêuticas disponibilizadas a partir dos três anos de idade, condicionadas à apresentação de avaliação e laudo médico especializado. A discussão empreendida neste trabalho articula-se em torno da literatura científica especializada, explorando os vastos benefícios terapêuticos inerentes à prática da equoterapia, a sua crucial relevância como instrumento de fomento à inclusão social e o papel insubstituível das instituições públicas, com particular ênfase nas forças de segurança, na concepção, implementação e sustentabilidade de políticas de saúde que contemplem abordagens alternativas e integrativas. Os resultados da análise empreendida evidenciam, de forma inequívoca, a notável eficácia da equoterapia no aprimoramento do desenvolvimento motor, na modulação das respostas emocionais e na expansão das habilidades sociais dos praticantes. 

Palavras-chave: Equoterapia. Reabilitação Psicossocial. Inclusão Social. Polícia Militar do Paraná. Terapias Integrativas e Complementares. 

Abstract 

Equine-assisted therapy, as an interdisciplinary therapeutic modality, is progressively establishing itself within the health practices landscape by employing the horse as a sophisticated agent for promoting multifaceted benefits, encompassing the physical, psychological, and social spheres of individuals. This scientific article undertakes an in- depth analysis, grounded in extensive bibliographic and documentary research, of the equine-assisted therapy program implemented and maintained since 2018 by the Mounted Police Platoon, an integral unit of the 1st Military Police Battalion of Paraná, based in the municipality of Ponta Grossa. This program, of an eminently social and inclusive nature, stands out for offering free care to a contingent of approximately 80 children and adolescents diagnosed with various forms of disability, with therapeutic sessions available from the age of three, contingent upon the presentation of a specialized medical evaluation and report. The discussion undertaken in this work is articulated around specialized scientific literature, exploring the vast therapeutic benefits inherent to the practice of equine-assisted therapy, its crucial relevance as an instrument for fostering social inclusion, and the irreplaceable role of public institutions, with particular emphasis on security forces, in the conception, implementation, and sustainability of health policies that contemplate alternative and integrative approaches. The results of the analysis undertaken unequivocally demonstrate the notable effectiveness of equine-assisted therapy in enhancing motor development, modulating emotional responses, and expanding the social skills of practitioners. 

Keywords: Equine-Assisted Therapy. Psychosocial Rehabilitation. Social Inclusion. Paraná Military Police. Integrative and Complementary Therapies. 

Resumen 

La equinoterapia, como modalidad terapéutica interdisciplinaria, se consolida progresivamente en el panorama de las prácticas de salud al emplear el caballo como un sofisticado agente promotor de beneficios multifacéticos, abarcando las esferas física, psicológica y social de los individuos. El presente artículo científico se enfoca en un análisis profundo, fundamentado en una extensa investigación bibliográfica y documental, del programa de equinoterapia implementado y mantenido desde el año 2018 por el Pelotón de Policía Montada, unidad integrante del 1º Batallón de Policía Militar de Paraná, con sede en el municipio de Ponta Grossa. Este programa, de naturaleza eminentemente social e inclusiva, se destaca por ofrecer atención gratuita a un contingente de aproximadamente 80 niños y adolescentes diagnosticados con diversas formas de discapacidad, con sesiones terapéuticas disponibles a partir de los tres años de edad, condicionadas a la presentación de una evaluación e informe médico especializado. La discusión emprendida en este trabajo se articula en torno a la literatura científica especializada, explorando los vastos beneficios terapéuticos inherentes a la práctica de la equinoterapia, su crucial relevancia como instrumento de fomento a la inclusión social y el papel insustituible de las instituciones públicas, con particular énfasis en las fuerzas de seguridad, en la concepción, implementación y sostenibilidad de políticas de salud que contemplen enfoques alternativos e integradores. Los resultados del análisis emprendido evidencian, de forma inequívoca, la notable eficacia de la equinoterapia en la mejora del desarrollo motor, en la modulación de las respuestas emocionales y en la expansión de las habilidades sociales de los practicantes. 

Palabras-clave: Equinoterapia. Rehabilitación Psicosocial. Inclusión Social. Policía Militar de Paraná. Terapias Integrativas y Complementarias. 

1. INTRODUÇÃO 

A equoterapia, uma modalidade terapêutica que tem suas raízes históricas remontando à antiguidade, onde o cavalo já era reconhecido por suas qualidades terapêuticas, emerge contemporaneamente como uma prática complementar de crescente relevância no campo da saúde, sendo formalmente reconhecida por órgãos como o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Esta abordagem distingue-se fundamentalmente pela sua natureza interdisciplinar, congregando e integrando saberes oriundos de diversas áreas do conhecimento, notadamente da medicina, fisioterapia, psicologia, pedagogia e da equitação técnica e adaptada. O cerne desta prática reside na utilização criteriosa e metodologicamente orientada do cavalo, que transcende a sua função tradicional para se converter em um instrumento cinesioterapêutico singular. O movimento tridimensional e rítmico do cavalo ao passo, por exemplo, desencadeia uma miríade de estímulos sensoriais e motores no praticante, promovendo de forma significativa o aprimoramento da coordenação motora global e fina, o desenvolvimento e a manutenção do equilíbrio estático e dinâmico, o fortalecimento da musculatura postural e dos membros, além de repercutir positivamente sobre diversos aspectos psíquicos, como a autoestima, a concentração e a interação social. A complexidade desta interação homem-animal, mediada por profissionais qualificados, constitui o pilar sobre o qual se edificam os resultados terapêuticos observados. 

No contexto específico da Polícia Militar do Estado do Paraná (PMPR), mais precisamente na cidade de Ponta Grossa, uma iniciativa de notável impacto social e terapêutico foi concebida e implementada no ano de 2018. O Pelotão de Polícia Montada, uma subunidade especializada do 1º Batalhão de Polícia Militar (1º BPM), tradicionalmente associado a atividades de policiamento ostensivo e de representação, expandiu o seu escopo de atuação ao instituir um programa de equoterapia destinado ao atendimento gratuito de crianças e adolescentes com deficiência. Este programa estrutura-se a partir de critérios técnicos rigorosos, que incluem a necessidade de apresentação de laudo médico detalhado, atestando a condição de deficiência e a ausência de contraindicações para a prática, seguido por uma avaliação multidisciplinar criteriosa realizada pela equipe do centro. Tal processo seletivo e avaliativo visa garantir a segurança e a adequação do tratamento proposto às necessidades individuais de cada praticante, permitindo a inclusão de crianças a partir dos três anos de idade. Atualmente, o centro de equoterapia mantido pela unidade policial militar em Ponta Grossa assiste regularmente um contingente de aproximadamente 80 praticantes, com sessões semanais que mobilizam uma equipe de profissionais multidisciplinar, policiais militares com formação específica em equoterapia e equitação, e voluntários, demonstrando um modelo de gestão e operação que articula recursos institucionais e comunitários. 

O presente artigo científico propõe-se a empreender uma investigação aprofundada, alicerçada em uma revisão crítica e sistemática da literatura científica, acerca dos fundamentos teóricos, metodológicos e práticos da equoterapia. Busca-se, ademais, analisar os múltiplos impactos terapêuticos e sociais decorrentes desta prática, com especial atenção aos benefícios observados em populações com diferentes tipos de deficiência. Paralelamente, o estudo visa refletir sobre o papel cada vez mais proeminente e socialmente relevante das forças de segurança pública, como a Polícia Militar, na concepção, implementação e fomento de ações de saúde integrativas e inclusivas, que transcendem as suas atribuições constitucionais primárias e contribuem para o fortalecimento do tecido social e para a promoção da cidadania. A análise do programa do Pelotão de Polícia Montada do 1º Batalhão da Polícia Militar do Paraná, em Ponta Grossa, servirá como estudo de caso ilustrativo, permitindo identificar os desafios, as potencialidades e as lições aprendidas que podem subsidiar a replicação e o aprimoramento de iniciativas congêneres em outras localidades e contextos institucionais, com particular enfoque no aproveitamento estratégico de tais programas pela PMPR em sua missão de servir e proteger a comunidade. 

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E AS RAÍZES DA PROBLEMÁTICA ABORDADA 

A necessidade de programas como o de equoterapia, implementado pelo Pelotão de Polícia Montada do 1º Batalhão de Polícia Militar em Ponta Grossa, emerge de um complexo panorama social, de saúde pública e de direitos humanos que circunda a questão da deficiência. As raízes desta problemática são multifacetadas e interconectadas, demandando uma análise aprofundada para justificar a relevância e o impacto de intervenções terapêuticas e inclusivas. Primeiramente, é crucial considerar a prevalência e a diversidade das condições de deficiência na população. Dados epidemiológicos globais e nacionais consistentemente apontam para uma parcela significativa de indivíduos que convivem com algum tipo de deficiência, seja ela de natureza física, sensorial, intelectual, múltipla ou relacionada a transtornos do espectro autista (TEA). Estas condições, muitas vezes congênitas ou adquiridas ao longo da vida, impõem desafios substanciais não apenas aos indivíduos diretamente afetados, mas também às suas famílias e cuidadores, gerando demandas por serviços de saúde especializados, suporte educacional adaptado e oportunidades de inclusão social e laboral que frequentemente superam a capacidade de resposta dos sistemas públicos convencionais. 

A segunda dimensão das raízes do problema reside nas barreiras – atitudinais, arquitetônicas, comunicacionais e programáticas – que as pessoas com deficiência enfrentam em seu cotidiano. A discriminação, o preconceito e a falta de conscientização social ainda se configuram como obstáculos significativos para a plena participação e exercício da cidadania. A inacessibilidade física em espaços públicos e privados, a carência de recursos de comunicação alternativa e aumentativa, e a rigidez de modelos educacionais e de trabalho que não contemplam a diversidade funcional contribuem para a exclusão e o isolamento. Neste contexto, a equoterapia surge não apenas como uma intervenção terapêutica, mas como um espaço de acolhimento e empoderamento, onde o praticante pode desenvolver habilidades e autoconfiança em um ambiente que valoriza suas potencialidades. A interação com o cavalo e com a equipe multidisciplinar promove um senso de pertencimento e superação que transcende os ganhos puramente clínicos. 

Ademais, as limitações e os desafios inerentes aos modelos terapêuticos tradicionais constituem outra faceta importante das raízes do problema. Embora as abordagens convencionais de reabilitação (fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicoterapia) possuam valor inestimável, elas podem, em determinados casos, apresentar resultados limitados, especialmente em quadros complexos ou quando a adesão do paciente é dificultada pela monotonia ou pela natureza passiva de algumas intervenções. A equoterapia, ao introduzir o elemento lúdico e motivacional do cavalo e do ambiente equestre, oferece uma alternativa ou um complemento valioso, capaz de engajar o praticante de forma mais integral e prazerosa. O movimento tridimensional do cavalo, como já mencionado, proporciona estímulos neuromotores únicos, difíceis de replicar em ambientes clínicos convencionais, promovendo a reorganização do sistema nervoso central e periférico, a melhora do tônus muscular, do equilíbrio e da coordenação de maneira dinâmica e funcional. Menezes et al. (2013) corroboram essa perspectiva ao enfatizarem a singularidade do movimento equino como catalisador da reorganização neuromotora, fundamental para o desenvolvimento da coordenação, equilíbrio e postura, aspectos frequentemente comprometidos em diversas condições de deficiência. 

Outro aspecto crucial que fundamenta a necessidade de programas como o analisado refere-se às lacunas existentes nas políticas públicas de saúde e assistência social. Apesar dos avanços legislativos e da crescente conscientização sobre os direitos das pessoas com deficiência, a oferta de serviços especializados, gratuitos e de qualidade ainda é insuficiente para atender à demanda, especialmente em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos ou para populações de baixa renda. Iniciativas como a da Polícia Militar do Paraná em Ponta Grossa desempenham, portanto, um papel social compensatório e de vanguarda, demonstrando a capacidade de instituições públicas, mesmo aquelas não primariamente vinculadas à saúde, de contribuir significativamente para o bem-estar e a inclusão de grupos vulneráveis. A gratuidade do serviço oferecido pelo programa é um diferencial de imenso valor, removendo barreiras financeiras que, para muitas famílias, tornariam inacessível uma terapia tão especializada e benéfica. 

Finalmente, a crescente busca por abordagens terapêuticas integrativas e complementares, que considerem o indivíduo em sua totalidade – corpo, mente e espírito – e que valorizem a interação com a natureza e com os animais, também impulsiona a relevância da equoterapia. A literatura científica tem progressivamente validado os benefícios do contato humano-animal para a saúde mental e física, e a equoterapia se insere nesse paradigma como uma prática que alia rigor técnico a uma profunda conexão emocional e sensorial. Autores como Sônego et al. (2018) e Alencar et al. (2022) não apenas atestam as melhorias físicas, mas também lançam luz sobre os impactos positivos na autoestima, nas habilidades de comunicação e na socialização dos praticantes, elementos essenciais para uma reabilitação integral. Rivera & Cinelli (2023) complementam essa visão ao destacar o ambiente da equoterapia como um catalisador de vínculos interpessoais e de inclusão social, transformando-o em um espaço de convivência enriquecedora e de aprendizagem coletiva. A integração da equoterapia em políticas públicas inclusivas, adotada por diversas instituições, reforça seu papel como ferramenta terapêutica de apoio à saúde e à cidadania, preenchendo uma lacuna importante e oferecendo esperança e qualidade de vida a muitos indivíduos e suas famílias. 

3. OBSTÁCULOS À UNIVERSALIZAÇÃO E EFETIVIDADE DA EQUOTERAPIA E PROGRAMAS ASSOCIADOS 

Apesar dos benefícios amplamente documentados e do crescente reconhecimento da equoterapia como uma prática terapêutica valiosa, a sua universalização e a plena efetividade de programas como o desenvolvido pela PMPR em Ponta Grossa enfrentam uma série de obstáculos significativos. Estes desafios, de naturezas diversas, necessitam ser compreendidos e abordados para que se possa almejar a expansão e o aprimoramento contínuo dessas iniciativas. Um dos principais obstáculos reside na escassez de recursos financeiros e na sustentabilidade econômica dos centros de equoterapia. A manutenção de uma estrutura adequada, que envolve instalações hípicas seguras e adaptadas, aquisição e cuidado contínuo dos cavalos terapeutas (alimentação, ferrageamento, assistência veterinária especializada), aquisição de materiais e equipamentos específicos, além da remuneração de uma equipe multidisciplinar qualificada, demanda investimentos consideráveis. Programas gratuitos, como o do pelotão hipomóvel do 1º BPM, dependem crucialmente de dotações orçamentárias públicas, convênios ou doações, que podem ser inconstantes ou insuficientes para cobrir todas as despesas operacionais e para permitir a expansão do atendimento. A dependência de verbas governamentais sujeitas a contingenciamentos e a flutuações políticas representa uma vulnerabilidade constante para a continuidade e a qualidade dos serviços. 

Outro desafio de monta é a limitação de profissionais qualificados e a necessidade de formação especializada contínua. A equoterapia exige uma equipe interdisciplinar coesa, composta por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos e instrutores de equitação com formação específica na área. A carência de cursos de capacitação e especialização em equoterapia, especialmente em regiões mais interiorizadas, dificulta a composição de equipes completas e atualizadas com as melhores práticas e as mais recentes evidências científicas. Além disso, a retenção desses profissionais pode ser um problema, dada a especificidade do trabalho e, por vezes, a remuneração aquém da oferecida em outros setores da saúde ou da educação. A ausência de uma regulamentação profissional mais robusta e de um plano de carreira específico para os terapeutas que atuam com equoterapia também contribui para este cenário de incerteza e dificuldade na formação de quadros técnicos. 

As barreiras geográficas e de acesso também se impõem como obstáculos relevantes. Muitos centros de equoterapia, por necessitarem de espaço físico amplo para as atividades com os cavalos, localizam-se em áreas rurais ou periféricas, o que pode dificultar o acesso para famílias que dependem de transporte público ou que residem distantes. O custo e o tempo de deslocamento podem se tornar impeditivos, especialmente para famílias de baixa renda ou com múltiplos membros com deficiência. A infraestrutura de transporte adaptado é, frequentemente, precária ou inexistente, limitando o alcance do programa a uma parcela da população que possui meios próprios de locomoção ou que reside nas proximidades do centro. Neste sentido, as atividades de equoterapia realizadas pelo 1º BPM se concentram no Centro Agropecuário dos Campos Gerais, local com fácil acesso e não distante da área central, sendo sugestionado e em fase de avaliação parcerias para migrar o pelotão hipomóvel para dentro de instituição universitária com foco na multidisciplinaridade, ou ainda, para a sede do aquartelamento unificando à estrutura física atual. 

Adicionalmente, a falta de conhecimento e o ceticismo por parte de alguns profissionais de saúde e da sociedade em geral em relação à equoterapia como prática terapêutica cientificamente embasada podem dificultar o encaminhamento de pacientes e a obtenção de apoio institucional. Embora a pesquisa científica na área venha crescendo e demonstrando resultados positivos, ainda há um caminho a ser percorrido para que a equoterapia seja plenamente integrada aos sistemas de saúde e reconhecida como uma opção terapêutica de primeira linha, e não apenas como uma atividade complementar ou recreativa. A disseminação de informações qualificadas, a publicação de estudos robustos e a participação em eventos científicos são cruciais para superar essa barreira cultural e informativa, como apontado pela necessidade de revisões sistemáticas como a de Alencar et al. (2022) para consolidar a evidência. Os desafios logísticos e operacionais intrínsecos à gestão de um centro de equoterapia não podem ser subestimados. O manejo adequado dos cavalos, garantindo seu bem-estar e preparo para a função terapêutica, a elaboração de planos terapêuticos individualizados, a gestão de listas de espera – frequentemente longas, dada a alta demanda e a capacidade limitada de atendimento –, a articulação com outros serviços de saúde e educação, e a manutenção de registros e avaliações sistemáticas dos progressos dos praticantes exigem uma gestão eficiente e dedicada. Em instituições como a Polícia Militar, onde a equoterapia pode não ser a atividade-fim, a alocação de recursos humanos e materiais para o programa pode competir com outras demandas operacionais da corporação, exigindo um compromisso institucional forte e contínuo. 

Por fim, a necessidade de maior investimento em pesquisa científica para validar e refinar as técnicas e protocolos da equoterapia é um obstáculo persistente. Embora existam estudos, como os citados por Menezes et al. (2013) e Sônego et al. (2018), que atestam sua eficácia, ainda são necessários mais ensaios clínicos randomizados, estudos longitudinais e pesquisas que explorem os mecanismos neurofisiológicos subjacentes aos benefícios observados. A produção de evidências científicas robustas é fundamental para fortalecer a credibilidade da equoterapia, subsidiar a elaboração de políticas públicas e garantir a alocação de recursos para a sua expansão e qualificação. 

4. ESTRATÉGIAS PARA SUPERAÇÃO DOS OBSTÁCULOS E FORTALECIMENTO DA EQUOTERAPIA NO CONTEXTO DA POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ 

A superação dos desafios multifacetados que se interpõem à expansão e ao pleno aproveitamento da equoterapia, especialmente em iniciativas vinculadas a instituições como a Polícia Militar do Paraná, requer a adoção de um conjunto de estratégias proativas, coordenadas e sustentáveis. Estas estratégias devem visar não apenas a mitigação dos efeitos dos obstáculos identificados, mas, fundamentalmente, a eliminação de suas causas subjacentes, promovendo um ambiente mais favorável ao desenvolvimento e à consolidação de programas de alta qualidade e impacto social. 

Uma primeira vertente de ação crucial concerne ao fortalecimento do financiamento e à busca por modelos de sustentabilidade econômica diversificados. Para além da dependência de dotações orçamentárias diretas, que devem ser consistentemente defendidas e ampliadas junto aos órgãos governamentais competentes, é imperativo explorar fontes alternativas de receita. Isso pode incluir a elaboração de projetos para captação de recursos via leis de incentivo fiscal (federal, estadual e municipal), a busca por parcerias com o setor privado (responsabilidade social empresarial), a organização de eventos beneficentes, e a criação de mecanismos de contribuição voluntária por parte da comunidade e de familiares de praticantes que possuam condições financeiras. No âmbito da Polícia Militar, pode-se estudar a viabilidade de destinar um percentual de recursos oriundos de convênios ou de outras fontes não operacionais para a manutenção e expansão do programa de equoterapia, reconhecendo seu valor estratégico para a imagem institucional e para o fortalecimento do vínculo com a sociedade. 

Paralelamente, é fundamental investir na ampliação e qualificação da formação profissional em equoterapia. Isso envolve o estabelecimento de parcerias com universidades e instituições de ensino técnico para a criação ou o fortalecimento de cursos de graduação, pós-graduação e extensão específicos na área. A Polícia Militar do Paraná pode, inclusive, assumir um papel de protagonismo, oferecendo suas instalações e a expertise de seus profissionais para a realização de estágios e programas de treinamento, ou mesmo desenvolvendo cursos internos de formação e capacitação continuada para seus próprios quadros e para profissionais da comunidade. A promoção de intercâmbios com outros centros de referência nacionais e internacionais, bem como o incentivo à participação em congressos e seminários, são igualmente importantes para a atualização constante dos conhecimentos e das práticas terapêuticas. A valorização dos profissionais que atuam na área, por meio de planos de carreira adequados e de condições de trabalho estimulantes, é essencial para atrair e reter talentos. 

No que tange às barreiras geográficas e de acesso, soluções criativas e colaborativas devem ser buscadas. Uma possibilidade é a criação de unidades móveis de equoterapia ou a descentralização dos serviços, estabelecendo polos de atendimento em diferentes regiões do estado, aproveitando, por exemplo, a infraestrutura de outros quartéis da Polícia Militar ou de instituições parceiras. A viabilização de transporte adaptado e gratuito ou subsidiado para os praticantes e suas famílias, por meio de convênios com prefeituras ou empresas de transporte, pode reduzir significativamente o impacto desse obstáculo.  

Para combater a falta de conhecimento e o ceticismo, é imprescindível intensificar as ações de divulgação científica e de sensibilização da sociedade e dos profissionais de saúde. A produção e disseminação de material informativo de qualidade (artigos, cartilhas, vídeos, reportagens) sobre os fundamentos, os benefícios e as evidências científicas da equoterapia são cruciais. A organização de eventos abertos à comunidade, como dias de campo, workshops e palestras, pode contribuir para desmistificar a prática e aproximá-la da população. A inclusão da equoterapia nos currículos de formação de profissionais de saúde e educação também é uma estratégia relevante a longo prazo.

5. METODOLOGIA 

A presente investigação científica caracteriza-se fundamentalmente como uma pesquisa de natureza bibliográfica e documental, com uma abordagem qualitativa e exploratório-descritiva. A escolha por este delineamento metodológico justifica-se pela necessidade de aprofundar a compreensão sobre a equoterapia como ferramenta de reabilitação e inclusão, analisando criticamente o programa específico desenvolvido pelo Pelotão de Polícia Montada do 1º Batalhão de Polícia Militar em Ponta Grossa, e contextualizando-o no âmbito das políticas públicas e das práticas de saúde integrativas. O pilar central da coleta de dados constituiu-se na revisão sistemática e criteriosa de publicações acadêmicas que versam sobre a equoterapia, seus benefícios terapêuticos em diversas populações com deficiência, e sua aplicação em diferentes contextos institucionais. Foram priorizadas publicações que apresentassem rigor metodológico e relevância para o tema, abrangendo as áreas da saúde (medicina, fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, fonoaudiologia), educação especial, e ciências sociais aplicadas, com foco em políticas públicas e gestão de programas sociais. Embora este estudo não tenha envolvido pesquisa de campo direta com coleta de dados primários (entrevistas, observações participantes) devido às suas limitações de escopo, a análise dos documentos e relatos oficiais permitiu uma aproximação indireta da realidade do programa.  

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO: O PROGRAMA DE EQUOTERAPIA DA PMPR EM PONTA GROSSA E SUAS IMPLICAÇÕES 

A análise da literatura científica e dos dados documentais permite tecer uma discussão aprofundada sobre os resultados alcançados e as implicações dessa iniciativa. A revisão da literatura, conforme já delineado na fundamentação teórica, aponta de maneira consistente para os múltiplos benefícios da equoterapia no desenvolvimento motor, cognitivo, emocional e social de pessoas com diversas condições de deficiência. Crianças e adolescentes com diagnósticos como paralisia cerebral, transtorno do espectro autista (TEA), síndromes genéticas (e.g., Síndrome de Down) e outras deficiências neuromotoras ou psicossociais têm demonstrado progressos notáveis em seu desenvolvimento global após a inserção em programas de equoterapia bem estruturados. 

O programa específico do 1º BPM, ao atender gratuitamente cerca de 80 praticantes, contabilizando aproximadamente cinco mil sessões durante a sua existência, emerge como uma concretização exemplar desses potenciais terapêuticos e sociais no contexto paranaense. A iniciativa da Polícia Militar do Paraná, ao disponibilizar sua infraestrutura, seus animais e parte de seu efetivo (devidamente capacitado) para essa finalidade, representa uma ação de grande relevância social e de saúde pública. A matéria veiculada pela AEN (2023) corrobora essa percepção ao destacar os relatos de familiares e terapeutas envolvidos no projeto, os quais observam evoluções significativas na comunicação verbal e não verbal, na capacidade de atenção e concentração, na interação com o ambiente e com outras pessoas, e no comportamento geral das crianças participantes. Esses depoimentos, embora careçam de uma sistematização científica rigorosa sob a forma de estudos clínicos publicados especificamente sobre o programa de Ponta Grossa, alinham-se com os achados da literatura sobre os efeitos da equoterapia. A percepção de melhora na qualidade de vida dos praticantes e de suas famílias é um indicador poderoso do impacto positivo do programa. Um ponto crucial a ser discutido é o papel da instituição policial militar na promoção de uma iniciativa dessa natureza. Tradicionalmente, as forças de segurança pública são associadas à manutenção da ordem, à prevenção e à repressão ao crime. No entanto, a atuação da PMPR em Ponta Grossa, por meio do seu Pelotão de Polícia Montada, transcende essa visão restrita e demonstra um compromisso com a cidadania, a inclusão social e o bem-estar da comunidade. Ao oferecer um serviço terapêutico de alta complexidade e custo, de forma gratuita, a Polícia Militar não apenas preenche uma lacuna deixada por outros setores do poder público, mas também fortalece seus laços com a população, construindo uma imagem de proximidade, confiança e responsabilidade social. Esta atuação contribui para a desconstrução de estereótipos e para a humanização da instituição policial, mostrando-a como um agente ativo na promoção da saúde e da inclusão. O uso de cavalos, animais que já possuem uma forte ligação com a história e a identidade da cavalaria militar, para fins terapêuticos, adiciona uma camada simbólica importante a essa iniciativa, ressignificando o papel desses animais e das estruturas militares. 

A discussão sobre os resultados também deve contemplar os desafios e as oportunidades de aprimoramento. Seria de grande valia, por exemplo, a implementação de um sistema de avaliação sistemática e padronizada dos progressos dos praticantes, utilizando instrumentos validados, cujos resultados pudessem ser compilados, analisados e, eventualmente, publicados em periódicos científicos. Isso não apenas forneceria evidências robustas sobre a eficácia do programa específico, mas também contribuiria para o avanço do conhecimento na área da equoterapia em nível nacional. A parceria com universidades e instituições de pesquisa locais poderia ser fundamental para o desenvolvimento desses estudos. Outro aspecto relevante para a discussão é a replicabilidade do modelo. A experiência da subunidade estudada pode servir de inspiração e modelo para outras unidades da Polícia Militar do Paraná, ou mesmo para outras forças de segurança em diferentes estados, que possuam unidades montadas e infraestrutura equestre. A disseminação das boas práticas, dos protocolos terapêuticos e dos modelos de gestão adotados em Ponta Grossa poderia fomentar a criação de novos centros de equoterapia, ampliando o acesso a essa  modalidade terapêutica para um número maior de pessoas com deficiência. Para tanto, seria importante a documentação detalhada do programa, a elaboração de manuais e a promoção de intercâmbios entre as unidades. 

O real proveito para a Polícia Militar do Paraná, além do fortalecimento de sua imagem e legitimidade social, reside na oportunidade de exercer um papel proativo na construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e saudável, contribuindo para a prevenção primária de vulnerabilidades sociais que, em última instância, podem estar relacionadas à segurança pública. 

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A equoterapia, conforme extensivamente discutido ao longo deste artigo, transcende a sua caracterização como uma mera técnica terapêutica para se consolidar como uma abordagem interdisciplinar complexa e profundamente humanizadora, capaz de promover ganhos significativos nas esferas física, psíquica, educacional e social de indivíduos com diversas condições de deficiência. A análise do programa de equoterapia desenvolvido pelo Pelotão de Polícia Montada do 1º Batalhão de Polícia Militar em Ponta Grossa, Paraná, ainda que baseada em pesquisa bibliográfica e documental, permite inferir o seu valor inestimável como uma iniciativa que não apenas oferece reabilitação e inclusão, mas também redefine o papel social de uma instituição de segurança pública, aproximando-a da comunidade e demonstrando um compromisso efetivo com a cidadania e os direitos humanos. A experiência paranaense, ao atender gratuitamente um número expressivo de praticantes, evidencia o potencial transformador de programas bem estruturados e conduzidos com profissionalismo e dedicação. 

Nesse contexto, a equoterapia surge como uma resposta inovadora e eficaz, capaz de mobilizar recursos físicos e emocionais dos praticantes de maneira lúdica e motivadora. Contudo, a universalização e a sustentabilidade dessas práticas enfrentam obstáculos consideráveis, que vão desde o financiamento insuficiente e a carência de profissionais qualificados, até as dificuldades de acesso, o ceticismo residual e a necessidade de maior investimento em pesquisa científica para robustecer ainda mais suas bases de evidência. As estratégias para superação desses desafios, conforme delineadas, passam necessariamente pelo fortalecimento de parcerias intersetoriais, pela diversificação das fontes de financiamento, pelo investimento contínuo na capacitação profissional e pela promoção de uma cultura de pesquisa e avaliação sistemática dos resultados. A Polícia Militar do Paraná, ao protagonizar uma iniciativa como a apresentada, demonstra uma visão estratégica e um elevado senso de responsabilidade social. O real proveito para a corporação manifesta-se no fortalecimento de sua imagem institucional, na legitimação de suas ações perante a sociedade, na humanização de seus integrantes e na contribuição efetiva para a construção de uma comunidade mais justa, inclusiva e segura. Programas como este não são apenas um serviço prestado, mas um investimento no capital humano e social do estado. 

Conclui-se, portanto, que a equoterapia, especialmente quando inserida em contextos institucionais sólidos como o da Polícia Militar, representa uma ferramenta poderosa de transformação individual e social. Recomenda-se veementemente o fortalecimento, a expansão (por meio de parcerias junto às universidades, por exemplo) e a replicação de programas como o analisado, assegurando-lhes o suporte técnico, financeiro e político necessário para que continuem a florescer e a beneficiar um número cada vez maior de cidadãos. A integração definitiva da equoterapia às políticas públicas de saúde, educação e assistência social, com o devido reconhecimento e financiamento, é um passo fundamental para garantir a perenidade e o alcance dessas práticas. Ademais, o fomento à pesquisa científica na área deve ser uma prioridade, a fim de aprimorar continuamente as técnicas, validar os resultados e disseminar o conhecimento, consolidando a equoterapia como um campo de saber e de prática essencial para a promoção da qualidade de vida e da inclusão plena das pessoas com deficiência. 

REFERÊNCIAS 

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ALENCAR, P. F., MORAIS, R. de C., & MORAES, A. G.. Os efeitos da equoterapia para pessoas com transtorno do espectro autista: uma revisão integrativa. Anais do 24º Simpósio de TCC do Centro Universitário ICESP, 24, 737-763, 2022. Disponível em:  https://revistas.icesp.br/index.php/Real/article/download/4286/2155 Acesso em: 10 abril 2025. 

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1Oficial da Polícia Militar do Paraná. E-mail: cassianopereira1@hotmail.com