PRÁTICAS ESG EM COOPERATIVAS DE CRÉDITO: O CASO DO PROJETO MULHERES COOPERADAS NA CRESOL ESSÊNCIA 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202505102323


Danieli Hermes Rodrigues1, Orientadores: Nelson José Thesing2, Pedro Luís Büttenbender2, Co-Orientadores: Mônica Stormowski3, Natalie Schmidt de Oliveira3, Alexandre Rafael Mattjie3, Diego Leonardo Wietholter3, Liege Adriane Eich3, Joao Henrique Pinheiro Dos Santos Remonti3, Jonas Bordim3


RESUMO

Este artigo analisa como as cooperativas de crédito, com foco na Cresol, promovem o desenvolvimento sustentável ao adotar práticas ESG (ambientais, sociais e de governança). A pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa e descritiva, baseada em revisão bibliográfica de estudos recentes e na análise de dados institucionais sobre os programas sociais da Cresol. Entre os principais resultados, destaca-se o impacto positivo de iniciativas como o programa “Mulheres Cooperadas”, que já beneficiou mais de 150 mulheres agricultoras, promovendo empoderamento, autoestima e autoconhecimento para produtoras rurais. O estudo também revela como os princípios cooperativistas, alinhados às práticas ESG, fortalecem economias locais, ampliam a inclusão financeira e fomentam o desenvolvimento social. Esses achados corroboram a literatura contemporânea, como os estudos de Pérez-Alemán (2022) e Rücker (2023), que destacam o papel central das cooperativas na transformação de comunidades. Conclui-se que a Cresol exemplifica como as cooperativas podem integrar ESG em sua governança e projetos sociais, contribuindo para um modelo econômico mais inclusivo e resiliente, alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 

Palavras-chave: Cooperativas de crédito; ESG; Desenvolvimento sustentável; Inclusão social; Cresol. 

ABSTRACT

This article analyzes how credit unions, with a focus on Cresol, promote sustainable development by adopting ESG (environmental, social, and governance) practices. The research used a qualitative and descriptive approach, based on a literature review of recent studies and the analysis of institutional data on Cresol’s social programs. Among the main results, the positive impact of initiatives such as the “Mulheres Cooperadas” program stands out, which has already benefited more than 150 female farmers, promoting empowerment, self-esteem, and self-knowledge for rural producers. The study also reveals how cooperative principles, aligned with ESG practices, strengthen local economies, expand financial inclusion, and foster social development. These findings corroborate contemporary literature, such as the studies by Pérez-Alemán (2022) and Rücker et al. (2023), which highlight the central role of cooperatives in transforming communities. It is concluded that Cresol exemplifies how cooperatives can integrate ESG into their governance and social projects, contributing to a more inclusive and resilient economic model, aligned with the Sustainable Development Goals. 

Keywords: Credit unions; ESG; Sustainable development; Social inclusion; Cresol. 

1 INTRODUÇÃO 

As transformações econômicas e sociais contemporâneas, impulsionadas por desafios globais como as mudanças climáticas, a desigualdade social e as crises econômicas, evidenciam a necessidade de um modelo de desenvolvimento que integre práticas de sustentabilidade, responsabilidade social e governança corporativa. Nesse contexto, as práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) têm se consolidado como um referencial estratégico para organizações comprometidas com o equilíbrio entre desempenho financeiro e impacto positivo nas comunidades onde atuam. Conforme Friede et al. (2021), essas práticas oferecem uma abordagem integrada para a criação de valor a longo prazo, ampliando a transparência e mitigando riscos organizacionais. 

Embora amplamente discutidas em contextos corporativos tradicionais, as práticas ESG encontram um terreno fértil em organizações cooperativistas, especialmente em cooperativas de crédito. Essas instituições, fundamentadas em princípios democráticos e no comprometimento com o bem-estar coletivo, possuem uma estrutura singular que facilita a adoção de estratégias sustentáveis e socialmente responsáveis. Estudos como os de Bebbington et al. (2022) e Rücker et al. (2023) apontam que as cooperativas são particularmente eficazes na promoção do desenvolvimento local, ao reinvestirem recursos em comunidades subatendidas e fortalecerem os vínculos sociais. 

Neste cenário, a Cresol emerge como uma referência em práticas cooperativistas alinhadas à agenda ESG, destacando-se por seu impacto nas dimensões econômica, social e ambiental. Por meio de projetos como “Mulheres Cooperadas”, que busca promover o empoderamento e o autoconhecimento de mulheres agricultoras, e de iniciativas voltadas à inclusão financeira, a Cresol tem demonstrado que o modelo cooperativista pode ser protagonista na construção de sociedades mais justas e sustentáveis. 

O objetivo deste artigo é explorar como as cooperativas de crédito, com ênfase na Cresol, promovem o desenvolvimento sustentável por meio da adoção de práticas ESG. Para tanto, a análise será fundamentada em uma abordagem teórico-prática, buscando compreender como os princípios cooperativistas, a governança inclusiva e as ações de impacto social convergem para transformar comunidades historicamente negligenciadas pelo sistema financeiro tradicional. 

Ao situar as cooperativas de crédito como agentes de mudança estrutural, este estudo oferece contribuições relevantes para o campo acadêmico, gestores e formuladores de políticas públicas, ampliando a compreensão sobre o papel dessas instituições na transição para modelos econômicos mais inclusivos, resilientes e sustentáveis. 

2 REFERENCIAL TEÓRICO 

A crescente discussão sobre sustentabilidade e responsabilidade social no âmbito organizacional tem promovido uma significativa evolução no papel das empresas, particularmente no que se refere à incorporação de práticas ESG (Ambientais, Sociais e de Governança). Este referencial teórico examina a literatura recente para contextualizar o impacto das cooperativas de crédito no desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável, com foco em quatro áreas principais: o conceito de ESG no contexto financeiro, o papel das cooperativas no fortalecimento das economias locais, o impacto social das práticas cooperativistas e a governança como fator de diferença competitiva. 

As práticas ESG das cooperativas de crédito têm forte correlação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Em particular, iniciativas como o programa “Mulheres Cooperadas”, da Cresol, estão alinhadas aos seguintes ODS: 

  • ODS 5 – Igualdade de Gênero: O programa promove o empoderamento feminino, oferecendo às agricultoras oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. 
  • ODS 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico: A inclusão financeira e o apoio a pequenos empreendimentos contribuem diretamente para o crescimento econômico local. 
  • ODS 12 – Consumo e Produção Responsáveis: O incentivo à agricultura sustentável reflete o compromisso com práticas de produção que minimizam impactos ambientais. 

A integração desses objetivos à governança das cooperativas demonstra como o setor pode contribuir de maneira significativa para a agenda global de sustentabilidade. 

2.1 O Conceito de ESG no Contexto Financeiro 

A sigla ESG consolidou-se como um pilar para a análise da sustentabilidade corporativa e dos impactos ambientais, sociais e de governança. Conforme apontado por Friede et al. (2021), a incorporação desses princípios é fundamental para aumentar a transparência organizacional e criar valor a longo prazo. No setor financeiro, essas práticas são vistas como ferramentas essenciais para mitigar riscos e identificar oportunidades de investimento alinhadas à transição para uma economia de baixo carbono (Bebbington et al., 2022). 

As cooperativas de crédito têm demonstrado uma capacidade única de adotar os princípios ESG, dada sua estrutura organizacional fundamentada em valores democráticos e na orientação para o impacto social. Segundo Serafeim (2020), essas organizações estão bem posicionadas para liderar iniciativas que promovam a inclusão financeira e fortaleçam a resiliência econômica das comunidades, contribuindo diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 

No âmbito prático, a Cresol tem implementado práticas alinhadas aos princípios ESG ao financiar projetos sustentáveis e apoiar seus cooperados em iniciativas que promovam a conservação ambiental e o desenvolvimento social. Por exemplo, a cooperativa destina linhas de crédito voltadas à agricultura familiar, incentivando produções sustentáveis e economicamente viáveis. 

As cooperativas de crédito desempenham um papel crucial no fortalecimento das economias locais, atuando como catalisadoras de desenvolvimento em regiões subatendidas. De acordo com Birchall e Hammond (2021), a estrutura cooperativa permite a redistribuição de recursos de forma mais equitativa, promovendo o acesso ao crédito e incentivando a geração de empregos. 

Estudos recentes destacam que as cooperativas são particularmente eficazes na promoção de iniciativas sustentáveis em setores agrícolas e pequenos negócios. Consoante a pesquisa de Rücker et al. (2023), essas instituições impulsionam a economia local ao oferecer taxas competitivas e reinvestir lucros diretamente nas comunidades. Esse modelo de negócios cria um ciclo virtuoso que beneficia os cooperados e estimula o desenvolvimento de longo prazo. 

A Cresol é um exemplo claro desse papel transformador. Atuando em várias regiões do Brasil, a Cresol implementa programas de incentivo à economia local, como o apoio a pequenos produtores rurais e cooperados que buscam ampliar suas atividades econômicas. Com projetos como “Mulheres Cooperadas”, a cooperativa também demonstra como iniciativas sociais podem promover a sustentabilidade, ao mesmo tempo em que fortalecem os laços comunitários. 

Ademais, a distribuição de recursos financeiros pela Cresol permite que regiões rurais tenham acesso a crédito justo e inclusivo, incentivando a permanência dos agricultores em suas propriedades e promovendo o desenvolvimento regional. Essas ações não apenas geram impacto econômico positivo, mas também contribuem para a redução da desigualdade social. 

2.2 O Impacto Social das Práticas Cooperativistas

O impacto social é um dos alicerces das cooperativas de crédito, que, historicamente, foram estabelecidas para promover a inclusão financeira e combater as desigualdades. Conforme Santos e Oliveira (2021), as cooperativas são instrumentos de emancipação econômica e social, especialmente em regiões onde os bancos comerciais têm baixa presença. 

A adoção de práticas ESG reforça ainda mais esse impacto, pois possibilita às cooperativas priorizar investimentos em projetos com alto valor social, como infraestrutura comunitária, educação financeira e apoio a iniciativas empreendedoras de mulheres e jovens. Estudo conduzido por Pérez- Alemán (2022) destaca que essas práticas aumentam a coesão social e promovem uma redistribuição mais justa dos recursos. 

Além disso, as cooperativas desempenham um papel crucial no fortalecimento da identidade cultural e no desenvolvimento das comunidades locais. Segundo estudos de Costa e Almeida (2023), ao estimular o consumo de produtos e serviços regionais, as cooperativas ajudam a preservar tradições, promovem o desenvolvimento sustentável e geram oportunidades de emprego que beneficiam diretamente as economias locais. Esses fatores contribuem para reduzir o êxodo rural, garantindo que as comunidades permaneçam resilientes e capazes de prosperar. 

Outro ponto relevante é a promoção da inclusão financeira para públicos historicamente marginalizados, como pequenos agricultores, microempreendedores e comunidades indígenas. Segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), as cooperativas de crédito oferecem linhas de financiamento acessíveis e serviços personalizados, ampliando o acesso a recursos que muitas vezes são negados por instituições financeiras tradicionais. Com isso, possibilitam o fortalecimento da autonomia financeira desses grupos, gerando impacto social duradouro. 

O compromisso com os princípios cooperativistas, aliado à incorporação de práticas ESG, permite às cooperativas atuar como catalisadoras de transformação social. Relatórios recentes, como o da Cresol em 2023, mostram que iniciativas voltadas à educação financeira e à capacitação profissional têm impacto direto na melhoria da qualidade de vida de milhares de pessoas. Assim, as cooperativas não apenas impulsionam o desenvolvimento econômico, mas também criam um ambiente mais equitativo, onde os valores de solidariedade e cooperação são reforçados. 

2.3 O Impacto Transformador do Projeto “Mulheres Cooperadas” 

Descrito por Cleide Neuberger, que há 18 anos lidera os projetos sociais da Cresol Essência, o “Mulheres Cooperadas” é um marco de transformação social e comunitária no noroeste do Rio Grande do Sul. Desenvolvido em parceria com a EMATER, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a SETREM, o projeto exemplifica a aplicação prática dos valores cooperativistas, promovendo o empoderamento feminino e a valorização da mulher rural. 

O programa é estruturado em uma série de encontros que combinam aprendizado técnico, valorização cultural e apoio emocional. Ao longo do ano, as participantes engajam-se em rodas de conversa sobre saúde física e emocional, oficinas práticas com ervas medicinais e visitas a propriedades rurais para troca de experiências sobre diversificação produtiva. Essas atividades são projetadas para fortalecer o papel das mulheres na comunidade e ampliar suas perspectivas de liderança. 

Um dos momentos mais marcantes do projeto é o “Encontro da Beleza”, no qual as participantes recebem cuidados de maquiagem e cabelo, realizam um book fotográfico e desfilam para seus familiares. Esta etapa celebra a autoestima e simboliza a transformação pessoal promovida pelo programa. O encerramento ocorre com uma viagem a Ametista do Sul e uma cerimônia de formatura, consolidando os laços entre as mulheres e as instituições parceiras. 

O impacto do “Mulheres Cooperadas” vai além das participantes diretas, influenciando famílias e comunidades inteiras. Como afirma Cleide Neuberger, “este projeto não é apenas sobre transformação individual, mas sobre criar um movimento de valorização e inclusão que ecoa por toda a região”. Dessa forma, a Cresol reafirma seu compromisso com práticas ESG que integram desenvolvimento sustentável e impacto social. 

Através de programas como este, a Cresol evidencia que a promoção do impacto social vai além do apoio financeiro. Trata-se de criar oportunidades que promovam a dignidade, a inclusão e o desenvolvimento pessoal dos cooperados, contribuindo para a formação de uma sociedade mais justa e solidária. 

As cooperativas de crédito ocupam um espaço singular no ecossistema financeiro global devido à sua natureza democrática e às suas iniciativas voltadas para o bem-estar social e ambiental. Nesta seção, serão explorados aspectos adicionais das práticas ESG no contexto cooperativista, com ênfase nas contribuições dessas organizações para a sustentabilidade global e os desafios enfrentados em sua implementação. 

O estudo de casos internacionais revela como as cooperativas de crédito têm se destacado na adoção de práticas ESG. Na Europa, por exemplo, as cooperativas italianas são amplamente reconhecidas por seu papel no fortalecimento da agricultura local através de créditos direcionados a produções orgânicas e sustentáveis (Ghosh e Klein, 2023). Já no Canadá, as cooperativas de crédito são pioneiras em projetos de inclusão financeira para comunidades indígenas, combinando princípios de governança participativa com iniciativas de educação financeira. 

Esses exemplos destacam o potencial de transferência de boas práticas para contextos locais, como é o caso da Cresol no Brasil. A troca de experiências entre cooperativas globais pode promover um aprendizado conjunto e acelerar a implementação de soluções inovadoras no campo ESG. 

O impacto positivo das práticas ESG é amplamente documentado em estudos recentes. Segundo Rücker et al. (2023), o reinvestimento de recursos em comunidades locais é uma das principais vantagens competitivas das cooperativas de crédito. Este modelo de negócio promove um ciclo virtuoso de desenvolvimento, no qual os cooperados se beneficiam diretamente dos lucros reinvestidos em infraestrutura, educação e projetos sociais. 

Na Cresol, a destinação de créditos para a agricultura familiar é um exemplo claro de como essas práticas podem impulsionar a economia local, garantindo a permanência de agricultores em suas propriedades e incentivando a adoção de técnicas sustentáveis. Esse tipo de apoio financeiro não apenas reduz as desigualdades, mas também fortalece os laços comunitários, promovendo coesão social. 

Fonte: Rede social, Facebook: Cleide Neumberg. Viagem a Ametista do Sul Mulheres Cooperadas Dez: 2024.
Fonte: Rede social, Facebook: Cleide Neumberg. Formatura das Mulheres Cooperadas Nov: 2024.
Fonte: Rede social, Facebook: Cleide Neumberg. Formatura das Mulheres Cooperadas Nov: 2023. 
Fonte: Rede social, Facebook: Cleide Neumberg. Formatura das Mulheres Cooperadas Nov: 2022.
Fonte: Rede social, Facebook: Cleide Neumberg. Dia de Campo – Mulheres Cooperadas Ago: 2024.
2.4 Desafios e Críticas na Adoção de Práticas ESG 

No eixo social, os desafios para a adoção de práticas ESG em cooperativas de crédito estão ligados, principalmente, às dificuldades de engajamento das comunidades locais e ao atendimento das necessidades específicas de grupos vulneráveis. Embora as cooperativas tenham como princípio a inclusão, muitas vezes enfrentam barreiras para compreender e atender às demandas de populações diversas, como comunidades indígenas, pequenos agricultores e mulheres em situação de vulnerabilidade. De acordo com Souza e Lima (2023), a falta de estratégias direcionadas para esses grupos pode limitar o alcance e a efetividade das iniciativas sociais. 

Outro ponto crítico é a escassez de programas consistentes de educação financeira e capacitação profissional voltados a comunidades de baixa renda. Apesar de muitas cooperativas terem iniciativas nesse sentido, a abrangência e o impacto ainda são insuficientes para promover uma transformação estrutural nas comunidades. Além disso, a desigualdade de acesso digital em áreas rurais ou remotas dificulta a inclusão de pessoas em programas e serviços que dependem de tecnologia, como plataformas online de aprendizado ou aplicativos de gestão financeira. 

Por fim, a avaliação e a mensuração do impacto social continuam sendo desafios significativos. Muitas cooperativas não dispõem de ferramentas ou metodologias claras para medir o retorno social de seus investimentos. Conforme relatado por Almeida e Freitas (2022), essa lacuna pode resultar em uma subvalorização dos resultados alcançados, dificultando a atração de novos parceiros e financiadores para expandir as iniciativas. Superar essas barreiras no eixo social exige maior investimento em pesquisa, parcerias com organizações especializadas e o desenvolvimento de indicadores sociais robustos e alinhados às metas de desenvolvimento sustentável (ODS). 

3 METODOLOGIA 

Este estudo adota uma abordagem qualitativa e descritiva, com o objetivo de explorar o papel das cooperativas de crédito, especialmente a Cresol, na promoção do desenvolvimento sustentável por meio da adoção de práticas ESG (Ambientais, Sociais e de Governança). A pesquisa foi estruturada com base em três etapas metodológicas principais: levantamento bibliográfico, análise documental e estudo de caso. 

O levantamento bibliográfico foi realizado com o intuito de embasar teoricamente o estudo, utilizando como referência livros, artigos científicos, relatórios institucionais e documentos técnicos. As principais fontes incluem autores consagrados no campo da sustentabilidade, governança corporativa e cooperativismo, como Bardin (2016), Birchall e Hammond (2021) e Rücker et al. (2023). Essa etapa permitiu compreender o contexto geral das práticas ESG, bem como sua aplicação no setor financeiro e, mais especificamente, nas cooperativas de crédito. 

Na análise documental, foram examinados relatórios de sustentabilidade da Cresol, com destaque para o Relatório de Sustentabilidade 2023. Esse documento fornece informações sobre as práticas adotadas pela cooperativa, suas iniciativas sociais e os resultados alcançados em suas comunidades de atuação. As diretrizes da ABNT PR 2030 foram utilizadas como referência para verificar a materialidade das ações descritas no relatório, garantindo um alinhamento com os padrões estabelecidos para avaliação de práticas sustentáveis. 

O estudo de caso da Cresol foi desenvolvido com foco na iniciativa “Mulheres Cooperadas”, realizada na cidade de Santo Cristo (RS). Essa escolha deve-se ao impacto significativo desse programa no empoderamento das mulheres agricultoras e no fortalecimento da coesão social. A análise detalhada do programa incluiu a descrição das atividades realizadas, os resultados obtidos e o relato das participantes. Além disso, foram realizadas consultas a materiais institucionais e entrevistas com gestores locais para enriquecer a compreensão sobre a implementação e os desafios enfrentados. 

Os dados coletados foram analisados com base na técnica de análise de conteúdo, conforme Bardin (2016), permitindo identificar padrões, categorias e significados relacionados às práticas ESG da Cresol. Essa abordagem garantiu uma interpretação sistemática das informações, possibilitando a triangulação dos dados oriundos das fontes bibliográficas, documentais e do estudo de caso. 

Entre as limitações do estudo, destaca-se o enfoque em apenas uma cooperativa de crédito e em um programa específico. Embora essa delimitação permita uma análise mais aprofundada, ela restringe a generalização dos resultados para outras organizações ou contextos. No entanto, o estudo busca oferecer insights relevantes que possam servir como base para pesquisas futuras. 

Dessa forma, a metodologia adotada foi estruturada para responder ao objetivo geral do artigo, fornecendo subsídios teóricos e empíricos para compreender como as práticas ESG podem ser implementadas e gerar impacto positivo por meio das cooperativas de crédito. 

4 INTEGRAÇÃO ENTRE PRÁTICAS E IMPACTOS: AMARRANDO CONCEITOS E REALIDADES 

Com base no referencial teórico apresentado e nos exemplos práticos oferecidos pela Cresol, é evidente que o papel das cooperativas de crédito transcende as funções financeiras tradicionais. Ao alinhar suas práticas à agenda ESG, essas instituições promovem uma transformação significativa nas comunidades onde atuam. 

Projetos como o “Mulheres Cooperadas” não apenas ilustram a aplicação dos princípios ESG, mas também destacam como as cooperativas podem ser agentes de mudanças estruturais ao proporcionar inclusão social e empoderamento. Essa iniciativa, ao engajar mulheres agricultoras em processos de desenvolvimento pessoal e coletivo, fortalece não apenas as famílias, mas também as redes comunitárias, criando um ciclo virtuoso de progresso. Além disso, ela inspira outras regiões a replicar modelos similares, ampliando o impacto positivo. 

A adoção de práticas ESG pela Cresol também promove benefícios ambientais significativos, ao priorizar o financiamento de projetos voltados à sustentabilidade, como a energia renovável e a conservação ambiental. Por exemplo, o apoio à agricultura familiar não apenas estimula a economia local, mas também incentiva a adoção de práticas agrícolas que preservam os recursos naturais. 

O impacto das iniciativas da Cresol, analisado sob a luz das teorias de Bebbington et al. (2022) e Rücker et al. (2023), reforça a ideia de que as práticas cooperativistas geram benefícios multidimensionais. Esses benefícios incluem o fortalecimento da coesão social, a ampliação do acesso a recursos financeiros e a promoção de atividades econômicas sustentáveis. Ademais, estudos apontam que o impacto social de iniciativas como essas transcende as fronteiras locais, contribuindo para a construção de um sistema financeiro mais inclusivo e resiliente em nível nacional. 

Assim, verifica-se que os projetos sociais e os princípios de governança adotados pela Cresol convergem para um modelo de desenvolvimento que prioriza o bem-estar coletivo e a sustentabilidade a longo prazo. Tais iniciativas demonstram como as cooperativas de crédito podem servir de modelo para outras organizações que desejam integrar as práticas ESG de forma eficaz. 

Dessa forma, a análise evidencia que as cooperativas, ao adotarem práticas ESG de maneira integrada, conseguem unir teoria e prática, consolidando seu papel como instituições fundamentais para o desenvolvimento sustentável das comunidades locais. Além disso, essa integração reflete um compromisso com a transparência e com a construção de um futuro mais equitativo para as próximas gerações. 

5 CONCLUSÃO 

Este artigo teve como objetivo geral explorar como as cooperativas de crédito, exemplificadas pela Cresol, promovem o desenvolvimento sustentável por meio da adoção de práticas ESG, destacando o impacto econômico e social nas comunidades onde atuam. A análise mostrou que as cooperativas possuem uma capacidade ímpar de integrar os princípios ESG em suas operações diárias, gerando impactos positivos tangíveis e intangíveis. 

Projetos como “Mulheres Cooperadas” são exemplos claros de como a Cresol combina a prática cooperativista com estratégias voltadas ao empoderamento e à inclusão social, alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Essas iniciativas demonstram que a abordagem ESG, quando aplicada no contexto cooperativista, é capaz de transformar comunidades inteiras, promovendo o bem-estar social e econômico. Além disso, esses projetos criam um senso de pertencimento entre os cooperados, fortalecendo a identidade coletiva e os valores comunitários. 

Os resultados corroboram estudos recentes, como o de Pérez-Alemán (2022), que destacam o papel central das cooperativas na promoção de coesão social e desenvolvimento sustentável. Outros autores, como Ghosh e Klein (2023), também enfatizam que a governança participativa dessas organizações constitui uma vantagem competitiva em relação a modelos financeiros tradicionais. 

Assim, conclui-se que as práticas ESG, integradas à governança democrática e aos projetos sociais das cooperativas de crédito, não apenas atendem às demandas atuais por sustentabilidade, mas também criam um futuro mais justo e equilibrado para as comunidades atendidas. O exemplo da Cresol reafirma que o cooperativismo, além de ser um modelo de negócio eficiente, é também um instrumento poderoso para a promoção de um desenvolvimento mais humano e inclusivo. 

Por fim, este estudo oferece uma base sólida para pesquisas futuras, sugerindo a exploração de outras cooperativas e de diferentes contextos culturais e econômicos, ampliando o entendimento sobre o potencial transformador do cooperativismo na agenda ESG. 

Para contribuir ainda mais com o meio acadêmico, estudos futuros poderiam abordar a mensuração de impacto das práticas ESG em indicadores financeiros e sociais específicos, bem como investigar como novas tecnologias podem ser integradas ao modelo cooperativista para potencializar seus benefícios. Já no âmbito prático, sugere-se que as cooperativas de crédito invistam na criação de plataformas digitais interativas para evidenciar suas iniciativas sociais, promovendo maior transparência e engajamento com os cooperados e com a sociedade em geral. 

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1Autora e Professora do Curso de Administração e Ciências Contábeis. Faculdades Integradas Machado de Assis

2Orientadores

3Co-orientadores e Professor(a) do Curso de Administração e Ciências Contábeis. Faculdades Integradas Machado de Assis.