DESEMPENHO AGRONÔMICO DE 5 VARIEDADES DE FEIJÃO NHEMBA (VIGNA UNGUICULATA L.) SUB CULTIVO DE SEQUEIRO DO DISTRITO DE NAMPULA – COMUNIDADE DA JUNTA

AGRONOMIC PERFORMANCE OF 5 VARIETIES OF COWPEA (VIGNA UNGUICULATA L.) UNDER RAINFED CULTIVATION IN THE NAMPULA DISTRICT – JUNTA COMMUNITY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505091226


Jaime João Amade1
Monteiro Arlindo Impia2


Resumo 

Realizou-se um estudo experimental com a cultura do feijão Nhemba na campanha 2018/2019, de dezembro de 2018 a junho de 2019, nos campos fornecidos pelo Instituto de Investigação Agrária de Moçambique, na comunidade da Junta, distrito de Nampula. O objetivo foi avaliar o desempenho agronômico de 5 variedades de feijão Nhemba (Vigna unguiculata L.) sob cultivo de sequeiro. Foram comparados os parâmetros de rendimento (número de vagens por planta e peso de 100 grãos) entre as variedades para identificar o melhor desempenho. O estudo utilizou o delineamento de blocos completos casualizados (DBCC) com repetição de cada tratamento, totalizando 25 parcelas de 12m² (199m² no total). Foi realizado tratamento fitossanitário e coleta de dados, seguidos por análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey a 5% de significância, que mostraram diferenças significativas em todos os parâmetros estudados.

Palavras-chave: Feijão Nhemba (VignaunguiculataL); variedades, rendimento, Nampula.

Abstract

An experimental study was conducted on the cultivation of cowpea during the 2018/2019 season, from December 2018 to June 2019, in the fields provided by the Agricultural Research Institute of Mozambique, in the Junta community, Nampula district. The objective was to evaluate the agronomic performance of 5 varieties of cowpea (Vigna unguiculata L.) under rainfed cultivation. Yield parameters (number of pods per plant and weight of 100 grains) were compared among the varieties to identify the best performance. The study used a randomized complete block design (RCBD) with repetition of each treatment, totaling 25 plots of 12m² (199m² in total). Phytosanitary treatment and data collection were carried out, followed by analysis of variance (ANOVA) and Tukey’s test at 5% significance, which showed significant differences in all studied parameters..

Keywords: Nhemba bean (VignaunguiculataL), varieties, yield, Nampula.

INTRODUÇÃO

O feijão nhemba (VignaunguiculataL) é uma das leguminosas mais adaptadas a diversas condições do clima entre as espécies cultivadas no mundo, sendo importante alimento e componente essencial dos sistemas de produção nas regiões secas dos trópicos (Singh, Ehlers, Sharma & Freire, 2002). Nessas regiões, esta espécie é uma das principais fontes de proteína vegetal, e para as populações de menor poder aquisitivo com alto valor nutritivo, além de menor custo de produção (Grangeiro, Castellón, Araújo, Silva & Freire, 2005). 

O Feijão nhemba, cientificamente (VignaunguiculataL.) é uma cultura originária da África. Esta cultura foi domesticada na região ocidental da África, e se encontra uma variada gama de variedades de forma semisselvagem de feijão nhemba, (Raemaekerk, 2001).

A qualidade de produção do feijão nhemba em Moçambique é decididamente inferior comparativamente à obtida nos outros países da África Sub-Sahariana, particularmente na África Ocidental (IIAM, 2006)

Em Moçambique, esta cultura constitui a segunda leguminosa mais importante após o amendoim, sendo cultivada principalmente pelo sector familiar em todo o país. Ela vive em simbiose com uma bactéria no seu sistema radicular, fixa o nitrogênio atmosférico, tornando a planta auto-suficiente relativamente a esse elemento. A sua importância é acrescida pelo facto de constituir a fonte de proteínas mais acessível e usada pela população rural (EBAH, 2006).

De acordo com Raemaekerk (2001) o rendimento do feijão Nhemba em Moçambique varia de 750-1000 kg/ha de grão seco no sistema tradicional, mas com a adoção de práticas recomendadas e bom maneio ronda a volta de 1000-2000 kg/ha.

MATERIAIS E MÉTODOS

Descrição do local do estudo: O estudo foi realizado nos campos de ensaio e produção do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), no distrito de Nampula, Província de Nampula, especificamente na comunidade da Junta.

Área de estudo: A Comunidade da Junta está situada a 7 km da cidade de Nampula e pertence a uma zona agroecológica de clima tropical subúmido, com duas estações do ano: chuvosa e seca. A estação chuvosa dura 4 meses e pode apresentar pequenos períodos secos.

Localização geográfica do distrito de Nampula: A Junta está no distrito de Nampula, confinando com os distritos de Corrane ao Sul, Murriase ao Leste, Anchilo ao Oeste e a cidade de Nampula ao Norte. A população é jovem, com 45% abaixo dos 15 anos e um total de 7.380 habitantes recenseados em 2018.

Clima: O distrito de Nampula tem duas estações do ano: chuvosa (4 meses) e seca. A temperatura média anual é de 26°C, com exceção das regiões elevadas (24°C). A precipitação varia entre 800mm e 1.400mm de novembro a março.

Solos: Os solos são predominantemente argilosos, de textura média a pesada, vermelhos, profundos, bem drenados, mas com baixa fertilidade e suscetíveis à erosão.

Materiais: Os materiais necessários para o ensaio incluíram:

  1. Sementes melhoradas de 4 variedades de feijão nhemba do IIAM;
  2. Cordas e fita métrica;
  3. Marcador e placas de identificação;
  4. Enxadas e estacas;
  5. Balança de precisão;
  6. Sacos plásticos e peneiras;
  7. Pulverizador de 20 litros;
  8. Sacos vazios de 25 kg.

Origem das sementes: As sementes usadas no ensaio foram certificadas, com algumas adquiridas no IIAM, incluindo as variedades IT18, IT16, INIA73 e INIA36.

Altura das Plantas: A altura das plantas foi medida em três fases:

  1. 20 de Março: 10 cm de altura;
  2. 15 de Abril: Após a floração;
  3. 20 de Maio: Na fase de maturação. As medições foram feitas usando uma fita métrica e uma régua de 30 cm, da base até o ápice da planta.

Preparação do Terreno: Foi realizada a lavoura e gradagem mecanizada na primeira semana de fevereiro a 10 cm de profundidade, visando melhorar as condições físicas do solo. O alinhamento do campo de ensaio e a demarcação dos blocos e parcelas ocorreram na última semana de fevereiro.

Sementeira: A semeadura manual ocorreu em 1º de março com densidade de 3 sementes por covacho, espaçadas 70 cm entre linhas e 20 cm entre plantas. A emergência começou entre 4 a 7 de março, com 85% de germinação.

Retancha: Em 14 de março, substituíram-se as sementes que não germinaram uma semana após a emergência.

Desbaste: Duas semanas após a emergência, em 20 de março, foi realizado o desbaste, removendo duas plantas por cova para evitar competição e assegurar o vigor das plantas.

Sacha: Foram realizadas até três sachas para controle de ervas daninhas, a primeira em 1º de abril, a segunda em 20 de abril e a terceira em 5 de maio, mantendo o campo livre de ervas daninhas.

Controle Fito Sanitário: Foi realizada pulverização com inseticida devido à infestação de besouros das folhas, aplicando Zakanaka top 6% EC 250ml/ha com pulverizador de 20 litros.

Número de Vagens por Planta: Foi determinado contando o número de vagens em 30 plantas escolhidas aleatoriamente por parcela, durante a maturação fisiológica.

Peso de 100 Grãos: Os 100 grãos foram escolhidos aleatoriamente, contados e pesados em uma balança de precisão de 0,1 g com capacidade máxima de 1000 g.

Rendimento em kg/ha: O rendimento do feijão nhemba foi avaliado após a colheita, debulha e limpeza, usando uma balança eletrônica de capacidade de 1000 g obedecendo a seguinte fórmula:

Análise e Processamento dos Dados: Os dados foram organizados no Microsoft Office Excel para encontrar as médias e criar gráficos. A análise estatística foi feita usando o pacote SISVAR com o teste de Tukey a 5% de significância para comparar as médias e determinar diferenças entre tratamentos e repetições.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

São apresentadas separadamente os resultados, análises e como também as discussões das variáveis de crescimento até o de rendimento.

Altura média da planta em cm

O gráfico abaixo apresenta os respectivos resultados das médias da altura das plantas das variedades ensaiadas em (cm).

Gráfico 1. Resultado de comparação de médias da Altura da planta.

Os resultados do gráfico 1, mostra que não existe diferença significativa entre as variáveis, neste caso a altura da planta que (P>0.05), e pelo gráfico podemos ver que o T3 onde se encontrava a variedade IT-18 é que teve a maior altura em relação aos outros tratamentos, com uma média de 15.89 cm.

Para que obtivéssemos estes resultados, os seguintes fatores contaram, nomeadamente: a temperatura, que se mostrou favorável a esta cultura, principalmente nesta variedade IT-18, como também a umidade do próprio solo que favoreceu a estes resultados positivos, para a produção e o armazenamento de carboidratos como também a distribuição dos nutrientes.

Os resultados acima, plasmados no gráfico 1, estão de acordo com Neto (2000), que diz, a altura do feijão nhemba varia de 15 a 30 cm, dependendo da variedade usada.

Mas estes discordam com Owen (1991) que afirmou, que em média a altura da planta do feijão Nhemba é de 50 cm de comprimento dependendo da variedade e das condições ambientais favorecidas, e Vieira (2006), afirma que a altura da planta do feijão nhemba pode variar de 15 a 60 cm.

Número médio de Vagens/planta

O gráfico abaixo mostra-nos a comparação dos números de vagens em cada variedade estudada.

Gráfico 2. Resultado de comparação de número médio de Vagens.

Com base nos resultados obtidos na análise de variância do gráfico 2, mostra que existe diferença entre as variedades, e pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância não houve diferenças. O gráfico mostra que a variedade que mais se destacou e que teve maior número de vagens por plantas foi nomeadamente, a variedade IT-16 com cerca de 22.92, seguida da variedade INIA-73 com 12.73, e as médias menores para esta variável foram obtidas pelas variedades, INIA-36 com 11.05, e a IT-18 com 9.09, e a Local com 2.83 respectivamente.

O ataque de pragas e doenças que durante a formação de vagens fez-se sentir, e das características genéticas das próprias variedades, podem ser fatores que afetaram os resultados da variedade Local, no que diz o gráfico 2, que foi a variedade com o número mais baixo de todos.

A IIAM (2006), relata em estudos feitos sobre variedades de feijão nhemba, que as variedades em maior parte testadas em Moçambique produzem 4 a 15 vagens por plantas, contendo 8 a 15 sementes por vagem, e este estudo não vai de acordo com o resultado obtido na variedade IT-16, mas sim com as demais variedades neste ensaio experimental.

Os resultados obtidos no geral estão em acordo com Raemaekerk (2001), que afirma que o número de vagens por plantas depende da variedade, podendo ela variar de 10 a 35 vagens por plantas.

Peso de 100 grãos 

Nesta tabela abaixo encontram-se as médias que se referem ao peso de 100 grãos das variedades em causa.

Gráfico 3. Resultados de comparação de médias de peso de 100 grãos.

Os resultados de análise de variância do gráfico 3, mostra que existem diferenças entre as variedades pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de significância.

O gráfico 3 acima, mostra claramente que a variedade Local se diferencia das outras variedades significativamente, visto que também as variedades INIA-73 como a IT-16 se diferem das variedades INIA-36 e IT-18, e a variedade IT-18 e INIA-36 não se diferem significativamente.

Sendo assim que o maior peso de 100 grãos foi alcançado pela variedade Local com uma média de 23.09 g, seguida assim da INIA-73 com uma média de 18.90 g, e os valores menores em termos desta mesma variável peso de 100 grãos foi obtido pelas variedades, nomeadamente, IT-16 com uma média de 14.80 g, e a IT-18 com uma média de 12.14g, e por fim com a média mais baixa a INIA-36 com 11.80g. 

Estes resultados obtidos no gráfico 3, estão de acordo com o autor Purseglove (1972), que afirma, que o peso de 100 grãos varia de 10 a 25g. Heemskerk (1985) acrescenta dizendo que geralmente os mais comuns em termos de peso de 100 grãos situa-se entre 12 a 18g para as variedades indeterminadas.

Rendimento Final

Neste gráfico estão apresentadas as médias do rendimento em kg/ha para cada Variedade em estudo.

Gráfico 4. Resultados de Comparação das médias do rendimento em kg/ha.

Referentemente aos resultados de análise de variância obtidos no gráfico 4, mostra que existem diferenças entre as variedades em relação ao próprio rendimento do feijão nhemba, isto pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.

A variedade IT-16 diferiu-se de todas outras variedades com 324.833 kg/ha sendo esta a que teve maior rendimento, seguida da variedade IT-18 com 297.500 kg/ha, e as seguintes variedades INIA-73 com 280.000 kg/ha e INIA-36 com 278.500 kg/ha sendo as médias e com o menor valor a variedade Local com 169.167 kg/ha, não mostrando maior desenvolvimento e rendimento quanto as outras variedades testadas.

Com isto os valores apresentados na variável Rendimento, partiu de 324.833 kg/ha sendo esta a maior da variedade IT-16, até 169,167 kg/ha sendo esta o menor rendimento de todas as variedades, pertencendo a variedade Local. Isto também pode ter sido afetado pelo facto de pragas, doenças e também o clima que favoreceu em algumas variedades e outras não, como a capacidade de cada um aderir aos nutrientes como também a umidade no solo.

Segundo Canda (1998), diz as variedades com pequenos grãos e com longos ciclos tem maior rendimento, já o Mendes (2002), diz no seu estudo sobre a variável de crescimento do feijão nhemba que, dependendo da variedade, as condições climáticas/ambientais e como também sistema de produção, a cultura pode atingir um rendimento entre 1000 a 2500 kg/ha.

CONCLUSÕES

No estudo comparativo das variedades de feijão nhemba, a variedade IT-18 obteve a maior altura média (15,89 cm), enquanto a variedade Local teve a menor (13,37 cm). A variedade IT-16 destacou-se no número de vagens por planta (22,92), enquanto a Local obteve a menor média (2,83). No peso de 100 grãos, a variedade Local apresentou a maior média (23,09 g), e a INIA-36 a menor (11,80 g). Em termos de rendimento, a variedade IT-16 demonstrou melhor adaptabilidade, com uma média de 324,833 kg/ha, enquanto a variedade Local teve o menor rendimento (169,167 kg/ha). O estudo confirmou a hipótese de que há variação significativa no desempenho das variedades, com algumas alcançando entre 300 kg/ha e 400 kg/ha.

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1Mestrando em Ciência do Solo, Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail:   jaimejoaoamade7@gmail.com
2Mestre, Professor e Adjunto-Diretor da Universidade Mussa Bin Bique – UMBB. E-mail: monteiroarlindo9@gmail.com