O ACESSO DO ACADÊMICO SURDO AO ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA

ACCESS OF DEAF STUDENTS TO DISTANCE LEARNING HIGHER EDUCATION

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504251703


Bruna Tatsumi Narazaki¹
Marcelly Mesquita²


RESUMO 

Este artigo explora os desafios e oportunidades enfrentados pelos estudantes surdos no ensino superior a distância. Inicialmente, são discutidos os desafios da acessibilidade nas plataformas de Ensino a Distância (EaD), destacando barreiras como a falta de legendas, intérpretes e materiais adaptados, que dificultam a aprendizagem dos alunos surdos. Em seguida, aborda-se a importância da Língua Brasileira de Sinais (Libras) nas aulas online, evidenciando como sua inclusão pode melhorar a compreensão e o desempenho acadêmico desses estudantes. O artigo apresenta uma pesquisa qualitativa que investiga as percepções de alunos surdos sobre a EaD, revelando suas experiências, expectativas e dificuldades enfrentadas no ambiente virtual. Além disso, analisa o impacto das tecnologias assistivas, avaliando como ferramentas digitais e aplicativos podem facilitar o acesso ao conteúdo e promover uma aprendizagem mais inclusiva. Por fim, discute-se as políticas públicas voltadas para a inclusão de surdos no ensino superior, examinando como essas diretrizes são implementadas no contexto da EaD e seu impacto na formação acadêmica dos alunos. O artigo conclui que, apesar dos desafios significativos, a adoção de práticas inclusivas e o fortalecimento das políticas educacionais podem contribuir para um acesso mais equitativo ao ensino superior para estudantes surdos. 

Palavras-chave: Surdos. Acessibilidade. Ensino Superior. 

ABSTRACT 

This article explores the challenges and opportunities faced by deaf students in distance higher education. Initially, the challenges of accessibility in Distance Learning (EaD) platforms are discussed, highlighting barriers such as the lack of subtitles, interpreters, and adapted materials, which hinder the learning of deaf students. Then, the importance of Brazilian Sign Language (Libras) in online classes is addressed, highlighting how its inclusion can improve the understanding and academic performance of these students. The article presents a qualitative study that investigates the perceptions of deaf students about EaD, revealing their experiences, expectations, and difficulties faced in the virtual environment. In addition, it analyzes the impact of assistive technologies, evaluating how digital tools and applications can facilitate access to content and promote more inclusive learning. Finally, the public policies aimed at the inclusion of deaf students in higher education are discussed, examining how these guidelines are implemented in the context of EaD and their impact on the academic training of students. The article concludes that, despite significant challenges, the adoption of inclusive practices and the strengthening of educational policies can contribute to more equitable access to higher education for deaf students. 

Keywords: Deaf. Accessibility. Higher Education. 

1. INTRODUÇÃO 

O acesso ao ensino superior a distância tem se tornado uma alternativa viável para muitos estudantes no Brasil, incluindo aqueles com surdez. No entanto, a inclusão efetiva de alunos surdos nesse contexto ainda enfrenta desafios significativos. Este artigo investiga as barreiras e oportunidades que esses estudantes encontram nas plataformas de Ensino a Distância (EaD), com foco na acessibilidade, na utilização da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e nas tecnologias assistivas. 

A escolha do problema se justifica pela necessidade urgente de promover um ambiente educacional mais inclusivo, considerando que a educação é um direito fundamental e deve ser acessível a todos. A hipótese central deste estudo é que a implementação de práticas inclusivas e adaptativas pode melhorar significativamente a experiência de aprendizado dos alunos surdos no EaD. 

A pesquisa delimita-se ao contexto das universidades brasileiras que oferecem cursos a distância. A metodologia aplicada inclui uma análise qualitativa da revisão da literatura existente sobre o tema. 

A relevância deste estudo reside na sua contribuição para o debate sobre inclusão educacional e na formulação de políticas públicas que garantam o direito à educação para todos, especialmente para aqueles que enfrentam barreiras comunicacionais. Ao abordar os desafios e as possibilidades do acesso ao EaD para surdos, este trabalho busca fomentar uma reflexão crítica sobre as práticas educacionais atuais e suas implicações. 

2. REVISÃO DE LITERATURA 

O acesso à educação é um direito fundamental garantido a todos, independentemente de suas condições físicas ou sensoriais. No entanto, quando se trata de Educação a Distância (EaD), esse acesso pode se tornar um desafio significativo, especialmente para estudantes surdos. A inclusão efetiva de alunos surdos em instituições de ensino a distância exige a adaptação dos conteúdos, mas também uma compreensão profunda das barreiras que esses estudantes enfrentam e das soluções necessárias para superá-las. 

Batista (2004) afirma que um dos temas mais controversos nos debates sobre educação inclusiva, particularmente no contexto do ensino superior, é a questão que envolve os alunos surdos. É interessante observar que a polêmica pode estar ligada a diferentes fatores, como a necessidade de adaptações pedagógicas, o preparo dos professores, e até mesmo a resistência de algumas instituições em oferecer recursos adequados, como intérpretes de Libras, materiais acessíveis e avaliação sob critérios diferenciados. A inclusão de alunos surdos no ensino superior exige um esforço coletivo, tanto no âmbito acadêmico quanto social, para garantir que esses estudantes tenham condições de participar plenamente do processo educacional e alcançar seu potencial. (apud SANTANA, 2008, p. 3). 

Um dos principais desafios da acessibilidade em EaD para surdos é a falta de recursos adequados que atendam às suas necessidades específicas. Muitas instituições de ensino não oferecem legendas precisas e de qualidade ou intérpretes de Libras durante as aulas gravadas ou ao vivo. As legendas são essenciais para que os alunos surdos compreendam o conteúdo apresentado, mas muitas vezes são mal elaboradas, incompletas ou inexistem. Isso compromete o aprendizado e pode levar à frustração e desmotivação dos estudantes. 

O uso inadequado de materiais didáticos também representa um obstáculo significativo. Recursos visuais como vídeos, gráficos e animações são extremamente úteis no processo de aprendizado, mas devem ser acompanhados por explicações claras em Libras ou legendas eficazes. Muitas vezes, os materiais não são adaptados para garantir que os alunos surdos possam acessá-los plenamente, resultando em uma lacuna no entendimento do conteúdo. 

Outro aspecto importante a ser considerado é a formação dos professores e tutores que atuam nas plataformas de EaD. Muitos educadores não têm conhecimento sobre as necessidades específicas dos alunos surdos ou sobre as melhores práticas para ensinar em um ambiente virtual inclusivo. Essa falta de capacitação pode resultar em metodologias inadequadas que não consideram as particularidades do aprendizado surdo, como a necessidade de interação visual e o uso da Libras como língua principal. 

Além das barreiras tecnológicas e pedagógicas, há também questões emocionais e sociais envolvidas no acesso à educação a distância para surdos. O isolamento social pode ser mais acentuado em ambientes virtuais, onde a interação face a face é limitada. Para alunos surdos, essa situação pode ser ainda mais desafiadora, pois as interações sociais muitas vezes dependem da comunicação visual. A falta de um ambiente inclusivo pode levar ao sentimento de exclusão e à dificuldade em estabelecer conexões com colegas e professores. 

As leis brasileiras têm um papel fundamental na promoção de políticas que visam a inclusão da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Um marco importante é a Lei nº 10.436/2002, que oficializou a Libras como a língua da comunidade surda no Brasil, assegurando sua utilização em variados âmbitos, especialmente na educação. Essa legislação foi um grande avanço na luta pelos direitos da comunidade surda, pois reconheceu a importância de uma língua própria para inclusão e cidadania. No entanto, sua implementação efetiva ainda depende de esforços contínuos, como a formação de professores qualificados, a presença de intérpretes em instituições de ensino e a conscientização da sociedade sobre a relevância da Libras. 

A implementação de políticas públicas voltadas para a inclusão dos surdos no ensino superior a distância é crucial para enfrentar esses desafios. É necessário que as instituições educacionais adotem diretrizes claras que garantam a acessibilidade nos cursos online. Isso inclui a disponibilização obrigatória de legendas em todos os vídeos, a oferta de intérpretes qualificados durante as aulas e a criação de materiais didáticos adaptados às necessidades dos alunos surdos. 

O investimento em tecnologia assistiva é fundamental para promover um ambiente mais inclusivo. Ferramentas ou aplicativos que facilitam o acesso à informação podem desempenhar um papel importante na superação das barreiras enfrentadas pelos estudantes surdos. 

É essencial promover uma conscientização maior sobre as questões relacionadas à acessibilidade no ensino a distância. Campanhas educativas direcionadas tanto aos educadores quanto aos alunos podem ajudar na construção de um ambiente mais acolhedor e inclusivo para todos os estudantes. 

A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), instituída pela Lei nº 13.146/2015, também tem um papel crucial na implementação de políticas educacionais que promovem a inclusão de pessoas com deficiência, abrangendo também os surdos. 

Essa lei representa um avanço significativo, pois busca garantir o direito à educação acessível e inclusiva para todos, independentemente das limitações físicas, sensoriais ou intelectuais. Contudo, sua aplicação efetiva requer um esforço integrado, envolvendo escolas, universidades, gestores públicos e toda a sociedade. Por exemplo, ela reforça a necessidade de adaptação do ambiente educacional com recursos como tecnologia assistiva, intérpretes e capacitação dos profissionais. 

Os desafios da acessibilidade nas instituições de ensino a distância para surdos são complexos. No entanto, com o compromisso em adotar práticas inclusivas, investir em formação adequada para professores e utilizar tecnologias assistivas, é possível criar um ambiente onde todos os alunos tenham oportunidades para aprender e se desenvolver academicamente. 

Conforme Albres (2013) as línguas de sinais são sistemas linguísticos plenamente desenvolvidos e sofisticados, que permitem a comunicação de ideias concretas e abstratas. Elas são constituídas por sinais icônicos, que apresentam características visuais que remetem aos objetos ou conceitos que representam. 

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma língua visual e gestual que desempenha um papel fundamental na comunicação e na inclusão social das pessoas surdas no Brasil.  

Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil (BRASIL, 2002). 

Sua importância se estende a diversos aspectos da vida, mas é especialmente relevante no contexto do ensino superior, onde a promoção da acessibilidade e da inclusão é essencial para garantir que todos os estudantes tenham igualdade de oportunidades de aprendizado. A seguir, exploraremos as razões pelas quais a Libras é crucial no ensino superior. 

1. Inclusão e Acessibilidade 

A inclusão de Libras no ensino superior é um passo vital para assegurar que os alunos surdos tenham acesso pleno ao conhecimento. A presença de intérpretes de Libras nas aulas e a oferta de materiais didáticos adaptados em Libras são fundamentais para que esses estudantes possam compreender o conteúdo de forma eficaz. Quando a Libras é utilizada como meio de instrução, os alunos surdos têm a oportunidade de participar ativamente das discussões em sala de aula, interagir com colegas e professores e desenvolver suas habilidades acadêmicas. 

2. Valorização da Cultura Surda 

A Libras não é uma ferramenta de comunicação; ela representa uma rica cultura e identidade para a comunidade surda. Ao incluir a Libras no ambiente acadêmico, as instituições de ensino superior reconhecem e valorizam essa cultura, promovendo o respeito e a diversidade. Isso beneficia os alunos surdos e enriquece o ambiente educacional como um todo, permitindo que todos os estudantes aprendam sobre diferentes formas de comunicação e culturas. 

3. Melhoria do Desempenho Acadêmico 

Estudos demonstram que o uso da Libras em contextos educacionais pode levar a um melhor desempenho acadêmico entre os alunos surdos. Quando esses estudantes têm acesso ao conteúdo em sua língua natural, eles conseguem compreender conceitos complexos com mais facilidade e se sentem mais motivados a participar ativamente do processo educativo. Isso se traduz em melhores resultados acadêmicos e uma maior taxa de retenção nos cursos superiores. 

4. Desenvolvimento de Competências Interculturais 

O aprendizado da Libras não beneficia apenas os alunos surdos; ele também proporciona aos estudantes ouvintes a oportunidade de desenvolver competências interculturais essenciais no mundo globalizado. Ao aprenderem Libras, os alunos ouvintes ampliam sua compreensão sobre diversidade, inclusão e respeito às diferenças. Essas habilidades são fundamentais não apenas no contexto acadêmico, mas também no mercado de trabalho, onde a capacidade de se comunicar com pessoas de diferentes culturas é cada vez mais valorizada. 

5. Contribuição para Políticas Públicas 

A promoção da Libras no ensino superior também está alinhada com as políticas públicas brasileiras voltadas para a inclusão das pessoas com deficiência. A Lei Brasileira de Inclusão – Lei nº 13.146/2015 – estabelece diretrizes claras sobre o direito à educação inclusiva para todos, incluindo estudantes surdos. Ao implementar programas que valorizem a Libras nas universidades, as instituições contribuem para o cumprimento dessas diretrizes e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. 

6. Fomento à Pesquisa e à Produção Acadêmica 

A inclusão da Libras no contexto acadêmico estimula também a pesquisa sobre temas relacionados à educação bilíngue, linguística e acessibilidade. Essa produção acadêmica pode contribuir para o avanço do conhecimento na área e promover práticas pedagógicas mais eficazes para o ensino de alunos surdos. Além disso, ao incentivar essa pesquisa, as instituições fortalecem sua missão educativa ao promover inovação e excelência acadêmica. 

De acordo com Strobel (2006), a educação inclusiva é uma realidade em diversos países, incluindo o Brasil. Contudo, historicamente, observa-se que há um fracasso na educação de surdos, causado pela falta de escolarização adequada, apesar de muitos esforços realizados ao longo de séculos por meio de atendimentos e reabilitação focados na fala. 

Relacionando ao ensino superior a distância, a análise de Strobel traz uma reflexão importante. A EaD pode representar uma oportunidade para superar parte desse fracasso histórico, desde que seja planejada com foco na inclusão. Isso implica oferecer materiais didáticos em Libras, promover o uso de tecnologias assistivas e garantir intérpretes capacitados. Além disso, a modalidade a distância tem potencial para flexibilizar o acesso dos surdos ao ensino superior, eliminando barreiras geográficas e ampliando as possibilidades de escolarização efetiva. No entanto, para que essas iniciativas sejam bem sucedidas, é essencial um compromisso institucional e social com a acessibilidade.  

A importância da Língua Brasileira de Sinais no ensino superior vai muito além da simples comunicação; ela é um elemento central para garantir inclusão, acessibilidade e respeito à diversidade cultural dentro das instituições educacionais. Ao adotar práticas que valorizem a Libras, as universidades cumprem seu papel social na formação cidadã dos alunos, bem como constroem um ambiente onde todos têm a oportunidade de aprender, crescer e contribuir para a sociedade. 

Embora haja barreiras, nos últimos anos, a EaD tem se mostrado uma alternativa promissora para muitos estudantes surdos. Para esses alunos, a EaD oferece uma série de vantagens que podem transformar sua experiência acadêmica e facilitar o acesso ao conhecimento. Uma das principais percepções positivas dos estudantes surdos em relação à EaD é a flexibilidade que esse formato proporciona. Ao contrário do ensino presencial, onde é necessário seguir horários rígidos e deslocar-se até a instituição, a EaD permite que eles organizem seus estudos de acordo com suas necessidades e rotinas, criando um ambiente mais confortável para o aprendizado. Além disso, as plataformas online geralmente disponibilizam uma variedade de recursos tecnológicos que podem ser muito benéficos. Vídeos legendados, materiais em Libras e fóruns de discussão permitem que os alunos acessem o conteúdo de forma mais eficaz e participem ativamente das atividades propostas. A possibilidade de rever aulas gravadas dá aos estudantes um controle maior sobre seu ritmo de aprendizado, ajudando na assimilação do conteúdo. 

Outro aspecto importante da EaD é a redução das barreiras de comunicação que muitas vezes ocorrem no ensino presencial. Em ambientes físicos, a interação pode ser limitada por fatores como o número de intérpretes disponíveis ou a dificuldade em encontrar um espaço adequado para a comunicação em Libras. Na EaD, as plataformas online podem integrar intérpretes diretamente nos vídeos ou oferecer conteúdos adaptados em Libras, facilitando a compreensão do material. Além disso, ao contrário da ideia de isolamento que pode ser associada ao ensino a distância, essa modalidade pode promover uma forma única de inclusão social para estudantes surdos. As plataformas possuem fóruns e grupos de discussão onde eles podem interagir com colegas de diferentes partes do país, expandindo suas redes sociais e permitindo que compartilhem experiências em um ambiente mais diversificado. 

A EaD também estimula o desenvolvimento de habilidades como autodisciplina e responsabilidade. Para muitos estudantes surdos, essa modalidade representa uma oportunidade valiosa para aprimorar essas competências essenciais, pois exige que gerenciem seu tempo e cumpram prazos. Outro ponto relevante é a acessibilidade financeira; cursos online costumam ter mensalidades mais baixas ou até serem gratuitos, além da economia com transporte e materiais físicos. Isso torna o ensino superior mais acessível para muitos estudantes surdos que buscam qualificação. Por fim, ao utilizar plataformas online e ferramentas digitais nas atividades acadêmicas, esses alunos desenvolvem competências digitais essenciais para o mercado de trabalho atual. 

As percepções dos estudantes surdos sobre o ensino superior a distância são amplamente positivas e refletem as inúmeras vantagens dessa modalidade. A flexibilidade oferecida pela EaD, aliada ao acesso a recursos tecnológicos adaptados e à redução das barreiras de comunicação, contribui para uma educação mais equitativa. Ao adotar práticas inclusivas e garantir acessibilidade nos cursos online, as instituições de ensino superior podem empoderar os alunos surdos e promover um futuro mais promissor para eles. 

As tecnologias assistivas têm desempenhado um papel fundamental na transformação do ensino superior a distância, especialmente para estudantes surdos. Essas inovações tecnológicas não apenas facilitam o acesso ao conteúdo educacional, mas também promovem uma experiência de aprendizado mais adaptada às necessidades específicas desse público. No contexto da educação a distância, as tecnologias assistivas são ferramentas que ajudam a superar barreiras de comunicação e acessibilidade, permitindo que os alunos surdos participem ativamente de suas jornadas acadêmicas.  

Segundo Quadros (2010): 

(…) Tecnologias    assistivas    são    recursos    e    serviços    que    visam    a    facilitar    o desenvolvimento   de   atividades   da   vida   diária   por   pessoas   com   deficiência. Procuram aumentar capacidades funcionais e, assim, promover a autonomia e a independência de quem as utiliza. (QUADROS, 2010, p. 62). 

A autora destaca que as tecnologias assistivas desempenham um papel essencial ao oferecerem recursos e serviços projetados para facilitar as atividades cotidianas de pessoas com deficiência. Essas ferramentas promovem a ampliação das capacidades funcionais, contribuindo diretamente para a autonomia e independência dos usuários. 

É importante ressaltar que as tecnologias assistivas vão além de soluções físicas ou digitais; elas representam um marco na inclusão social. Quando corretamente aplicadas, essas tecnologias podem transformar vidas, permitindo que as pessoas com deficiência participem ativamente de diversas esferas da sociedade. No entanto, sua implementação efetiva depende de acessibilidade financeira, políticas públicas robustas e uma conscientização ampla. 

Embora não substitua a Libras, uma das inovações nesse campo é a utilização de legendas e transcrições em vídeos. Plataformas de ensino a distância frequentemente incorporam vídeos em suas aulas, e a inclusão de legendas precisas e claras é essencial para garantir que os estudantes surdos possam compreender o conteúdo apresentado. Além disso, muitos cursos oferecem transcrições dos materiais audiovisuais, permitindo que os alunos leiam o que foi dito e revisitem o conteúdo sempre que necessário. Essa prática beneficia os alunos surdos, enriquecendo a experiência de aprendizado de todos os estudantes, pois muitos podem se beneficiar da combinação de texto e vídeo. 

Outra tecnologia assistiva importante é a interpretação em Libras. As instituições estão integrando intérpretes de Libras em seus vídeos ou disponibilizar aulas ao vivo com intérpretes presentes. Isso permite que os alunos surdos tenham acesso direto ao conteúdo em sua língua natural, facilitando a compreensão e o envolvimento com o material. Essa abordagem promove a inclusão, valoriza a cultura surda e reconhece a importância da Libras como uma língua legítima. 

As ferramentas de comunicação online também desempenham um papel significativo no apoio aos estudantes surdos no ensino superior a distância. Fóruns de discussão, chats e videoconferências permitem que os alunos interajam uns com os outros e com os professores de maneira mais acessível. A comunicação assíncrona, como fóruns, é particularmente útil, pois dá aos alunos tempo para processar as informações e responder no seu próprio ritmo. Além disso, oportuniza ao estudante surdo a prática da sua segunda língua, o português escrito.  

Através da pesquisa realizada por profissionais da PUC do Paraná em convênio com o CENESP (Centro Nacional de Educação Especial), publicada em 1986 em Curitiba, constatou-se que o surdo apresenta muitas dificuldades em relação aos pré-requisitos quanto à escolaridade, e 74% não chega a concluir o \° grau. Segundo a FENEIS, o Brasil tem aproximadamente 5% da população surda total estudando em universidades e a maioria é incapaz de lidar com o português escrito’ (FENEIS, 1995, p. 7). 

As barreiras educacionais enfrentadas por pessoas surdas, especialmente em relação aos pré-requisitos de escolaridade, têm sido um obstáculo significativo para o acesso ao ensino superior. A dificuldade com o português escrito, apontada pela FENEIS, evidencia a necessidade urgente de adaptações que contemplem a diversidade linguística e cultural da comunidade surda. 

Relacionando isso ao ensino superior a distância, é essencial que instituições de ensino criem estratégias inclusivas, como programas de capacitação para a produção de textos acadêmicos adaptados. As correções de textos realizados por alunos surdos devem considerar não apenas aspectos formais da língua escrita, mas também respeitar a interação entre o português escrito e a Libras como processos distintos, porém complementares. 

Vale destacar que as tecnologias têm contribuído para o desenvolvimento de aplicativos educacionais específicos para alunos surdos. Esses aplicativos podem oferecer exercícios interativos, jogos educativos e até mesmo simuladores que ajudam na compreensão de conceitos complexos. Ao utilizar uma abordagem lúdica e visual, esses recursos tornam o aprendizado mais envolvente e eficaz. 

A acessibilidade financeira das tecnologias assistivas também é um ponto importante a ser considerado. Muitas dessas ferramentas são oferecidas gratuitamente ou a um custo reduzido, tornando-as mais acessíveis para estudantes que podem enfrentar dificuldades financeiras ao ingressar no ensino superior. Isso democratiza ainda mais o acesso à educação, permitindo que mais pessoas surdas busquem formação acadêmica sem as barreiras financeiras que muitas vezes limitam suas opções. 

Vale destacar que a implementação dessas tecnologias deve ser acompanhada por políticas educacionais e formações específicas para docentes sobre como trabalhar com estudantes surdos no ambiente virtual. As instituições devem investir na capacitação dos professores para que eles compreendam as necessidades desses alunos e saibam utilizar as ferramentas disponíveis da melhor maneira possível. 

As tecnologias assistivas estão revolucionando o ensino superior a distância para estudantes surdos ao proporcionar acesso ao conteúdo educacional de forma inclusiva e adaptada às suas necessidades específicas. Com legendas precisas, interpretação em Libras, ferramentas de comunicação online acessíveis e recursos educacionais inovadores, essas tecnologias promovem uma educação mais equitativa, e ainda empoderam os alunos surdos em sua jornada acadêmica. Com um compromisso contínuo em melhorar a acessibilidade e incluir práticas inclusivas nas instituições de ensino superior, podemos criar um ambiente onde todos têm oportunidades iguais para aprender e se desenvolver academicamente.  

As políticas públicas desempenham um papel vital na promoção da inclusão de surdos no ensino superior a distância, garantindo que esse grupo tenha acesso equitativo à educação e oportunidades de desenvolvimento acadêmico. Com o crescimento exponencial do ensino a distância, especialmente nos últimos anos, tornou-se essencial que as instituições de ensino e os governos adotem medidas eficazes para atender às necessidades específicas dos estudantes surdos. A inclusão vai além da simples acessibilidade; envolve a criação de um ambiente educacional que respeite e valorize a diversidade linguística e cultural dos alunos surdos. 

Uma das principais diretrizes para a inclusão de surdos no ensino superior é a implementação de legislações que garantam o direito à educação em Libras. A Lei Brasileira de Inclusão – Lei nº 13.146/2015 – é um marco importante nesse contexto, pois afirma que as pessoas com deficiência têm o direito à educação em todos os níveis, e isso inclui a educação superior. Essa legislação estabelece que as instituições devem proporcionar condições adequadas para o aprendizado, garantindo acesso ao conteúdo em sua língua natural. Isso implica não apenas na presença de legendas e intérpretes, mas também no desenvolvimento de materiais didáticos que respeitem a cultura surda. 

Além disso, é fundamental que as políticas públicas incentivem a formação de professores capacitados para lidar com a diversidade linguística dos alunos surdos. Os educadores precisam ser treinados não apenas em Libras, mas também em metodologias inclusivas que considerem as especificidades do aprendizado dos estudantes surdos. Programas de formação contínua podem ser implementados para garantir que os docentes estejam atualizados sobre as melhores práticas e ferramentas assistivas disponíveis. 

Outro aspecto crucial das políticas públicas é a promoção de ações afirmativas que incentivem a matrícula de alunos surdos nas instituições de ensino superior. Isso pode incluir bolsas de estudo específicas, programas de apoio psicológico e pedagógico, além da criação de grupos de apoio, monitoria bilíngue e mentorias. Essas iniciativas ajudam a criar um ambiente mais estimulante para os alunos surdos, promovendo sua permanência e sucesso acadêmico. 

A acessibilidade digital é outro ponto central nas políticas públicas voltadas para a inclusão no ensino superior a distância. As plataformas utilizadas devem ser projetadas com foco na acessibilidade, assegurando que todos os recursos – como vídeos, fóruns, atividades interativas – sejam adaptados para atender às necessidades dos estudantes surdos. A colaboração entre instituições educacionais e especialistas em acessibilidade pode resultar em melhorias significativas nas plataformas online. 

Além disso, as políticas devem incentivar o uso de tecnologias assistivas como parte integrante do currículo dos cursos superiores. Ferramentas como aplicativos educacionais, softwares de comunicação e recursos audiovisuais adaptados podem facilitar o processo de aprendizagem dos alunos surdos. O investimento em tecnologias inovadoras deve ser uma prioridade nas estratégias governamentais para educação inclusiva. 

A participação da comunidade surda na formulação dessas políticas é igualmente importante. É essencial conhecer as demandas dos próprios estudantes surdos sobre suas experiências e desafios enfrentados no ensino superior. Essa abordagem participativa pode levar à criação de políticas mais eficazes e relevantes, refletindo as reais necessidades desse público. 

É fundamental promover campanhas de conscientização sobre a importância da inclusão dos surdos no ensino superior a distância. Essas campanhas podem envolver não apenas as instituições educacionais, mas também empresas e órgãos governamentais, buscando desmistificar preconceitos e promover uma cultura inclusiva nas sociedades. 

As políticas públicas são fundamentais para garantir que os estudantes surdos tenham acesso pleno ao ensino superior a distância. Por meio da legislação adequada, formação docente continuada, ações afirmativas, acessibilidade digital e envolvimento da comunidade surda na formulação das políticas, é possível criar um ambiente educacional inclusivo que valorize a diversidade linguística e cultural dos alunos. Com essas medidas em prática, podemos construir uma sociedade mais justa e igualitária onde todos tenham oportunidades iguais para aprender e se desenvolver academicamente.  

3. METODOLOGIA 

A pesquisa foi conduzida por meio de um enfoque qualitativo, permitindo uma compreensão aprofundada das experiências dos estudantes surdos no ensino superior a distância. Os procedimentos foram organizados em quatro etapas principais: planejamento, coleta de dados, análise e interpretação. 

Inicialmente, foi realizada uma revisão da literatura sobre acessibilidade na EaD e inclusão de surdos, com o objetivo de embasar teoricamente o estudo. Essa etapa incluiu a seleção de referências relevantes, como autores que discutem a importância da Libras e das tecnologias assistivas na educação inclusiva. 

Os resultados foram interpretados à luz do referencial teórico revisado, permitindo uma discussão crítica sobre as implicações das descobertas para a inclusão no ensino superior.  

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

Os resultados da pesquisa bibliográfica sobre as experiências de alunos surdos no ensino superior a distância revelam importantes aspectos relacionados às barreiras enfrentadas e às práticas inclusivas disponíveis. A seguir, apresentamos os principais achados, organizados em categorias temáticas. 

1. Barreiras de Acesso 

A revisão da literatura indica que uma das principais barreiras enfrentadas por alunos surdos no EAD é a falta de acessibilidade nos materiais didáticos. Diversos estudos ressaltam que a ausência de legendas em vídeos e a falta de intérpretes de Libras nas aulas síncronas comprometem significativamente o aprendizado desses estudantes. Além disso, muitos conteúdos não são adaptados para a língua de sinais, dificultando ainda mais o acesso à informação. 

2. Utilização da Libras e Tecnologias Assistivas 

A literatura analisada também aponta que a utilização da Libras é fundamental para o aprendizado dos alunos surdos. Estudos mostram que a presença de intérpretes qualificados e o uso de recursos tecnológicos, como softwares de transcrição automática, são eficazes para superar barreiras comunicacionais e promover uma melhor compreensão do conteúdo. 

Esses achados reforçam a importância da formação docente em Libras e na utilização de tecnologias assistivas, visto que muitos professores ainda carecem de conhecimentos adequados para atender às necessidades dos alunos surdos. 

3. Práticas Inclusivas 

A revisão bibliográfica revelou várias práticas inclusivas que podem ser implementadas nas instituições de EaD. Entre elas, destacam-se: 

  • A disponibilização prévia do material didático em formatos acessíveis. 
  • A realização de aulas gravadas com legendas e Libras. 
  • O uso de fóruns online onde os alunos possam interagir na sua língua materna. 

Essas práticas enfatizam que uma educação inclusiva deve respeitar a diversidade linguística e cultural dos alunos surdos. 

Os resultados da pesquisa bibliográfica evidenciam que, apesar das barreiras significativas enfrentadas pelos alunos surdos na EaD, há um potencial considerável para melhorias através da adoção de práticas inclusivas e acessíveis. A análise indica que a formação continuada dos educadores em relação à Libras e às necessidades específicas dos alunos surdos é crucial para promover uma educação verdadeiramente inclusiva. 

Além disso, as políticas públicas devem ser reforçadas para garantir que as instituições de ensino adotem tecnologias assistivas adequadas e ofereçam suporte linguístico necessário. Esses achados ressaltam a necessidade urgente de uma abordagem mais integrada entre educação e acessibilidade, promovendo não apenas o acesso, mas também a equidade no aprendizado. 

5. REFERÊNCIAS 

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FENEIS. 1999. Grupo de Pesquisa de LIBRAS e Cultura Surda Brasileira da FENEIS. Revista da FENEIS. ano 1, n. 3, julho/setembro, p. 8, 14-15. 

QUADROS, R. M. de. Educação de Surdos: Aquisição de linguagem. Porto Alegre: ARTMED, 1997. 

SANTANA, Levy Aniceto. Perspectivas de alunos surdos sobre a Educação a Distância no Ensino Superior. Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/253_128.pdf>. Acesso em: 15 de mar. de 2025. 

STROBEL, K. A visão histórica da in(ex)clusão dos surdos nas escolas. ETD — Educação Temática Digital, Campinas: UNICAMP, v. 7, n. 2, p. 243-252, jun. 2006.


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