PORTFÓLIO DIGITAL: PRODUTO CONSTRUÍDO POR MEIO DA PESQUISA-AÇÃO SOBRE INTERPROFISSIONALIDADE NO ATENDIMENTO A PESSOAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

DIGITAL PORTFOLIO: A PRODUCT DEVELOPED THROUGH ACTION RESEARCH ON INTERPROFESSIONALITY IN THE CARE OF INDIVIDUALS WITH AUTISM SPECTRUM DISORDER

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202504090915


Julliana Cíntia de Omena Nicácio1
Cristina Camelo de Azevedo2
Carlos Henrique Falcão Tavares3


RESUMO

A interprofissionalidade no atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é essencial para promover uma abordagem integral e eficiente. Este artigo apresenta a construção de um portfólio digital desenvolvido no âmbito do Projeto Girassol, projeto de extensão universitária da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), utilizando a pesquisa-ação como método em uma abordagem qualitativa. O portfólio tem o objetivo de organizar, comunicar e compartilhar informações entre a equipe interprofissional, consolidando registros e melhorando a qualidade da assistência prestada. A pesquisa identificou dificuldades relacionadas à troca de informações e à conectividade da equipe, o que resultou neste produto, o portfólio digital, que facilita a integração e comunicação em um ambiente de fácil acesso e assegurado por estratégias baseadas na Lei de Proteção de Dados. O artigo discute o processo de desenvolvimento, os desafios enfrentados e os impactos esperados na prática profissional por meio desse portfólio.

PALAVRAS-CHAVE: Portfólio Digital, Interprofissionalidade, Transtorno do Espectro Autista.

ABSTRACT

Interprofessional collaboration in the care of individuals with Autism Spectrum Disorder (ASD) is essential to promote a comprehensive and efficient approach. This article presents the development of a digital portfolio created within the framework of the Girassol Project, an extension project of the University of the State of Bahia (UNEB), using action research as the method in a qualitative approach. The portfolio aims to organize, communicate, and share information among the interprofessional team, consolidating records and improving the quality of care provided. The research identified challenges related to the exchange of information and team connectivity, which resulted in the creation of this product, the digital portfolio, which facilitates integration and communication in an easily accessible environment, secured by strategies based on the Data Protection Law. The article discusses the development process, the challenges faced, and the expected impacts on professional practice through this portfolio.

KEYWORDS: Digital Portfolio, Interprofessionality, Autism Spectrum Disorder.

INTRODUÇÃO 

O uso de portfólios digitais tem se destacado como uma ferramenta estratégica para a organização, comunicação e compartilhamento de práticas em diversos contextos educacionais e de saúde.

No contexto educacional, seja em um ambiente virtual de aprendizagem ou em uma sala de aula convencional, o portfólio tem se tornado uma ferramenta de metodologia ativa, importante para o empoderamento dos estudantes. Ele permite uma aprendizagem reflexiva, ajudando os alunos a identificarem os pontos mais relevantes de seu processo de aprendizagem, avaliando conquistas, desafios e dificuldades, e estimulando o autoconhecimento, a reflexão, a evolução e a autoavaliação (Sartor-Harada, 2022).

O portfólio é mais do que uma mera reunião de trabalhos ou uma demonstração de habilidades e experiências guardadas em uma pasta. Sob a perspectiva de aprendizagem, ele se configura como uma ferramenta de organização, identificação de questões e objetivos dos estudantes, facilitando a avaliação e proporcionando uma visão clara do progresso e da aprendizagem (Fonseca, 2006).

Para ampliar a compreensão do significado e das diversas possibilidades do portfólio, é importante considerar uma conceituação mais abrangente, que leve em conta suas múltiplas funções e formas de utilização. Nesse sentido, Hernandez (2000) define o portfólio como um:

Continente de diferentes classes de documentos (notas pessoais, experiências de aula, trabalhos pontuais, controle de aprendizagem, conexões com outros temas fora da Escola, representações visuais, etc) que proporciona evidências do conhecimento que foi construído, das estratégias utilizadas e da disposição de quem o elabora em continuar aprendendo.” (Hernandez, 2000, p. 100)

Essa definição enfatiza que o portfólio não se limita ao simples armazenamento de informações, mas serve como um espaço dinâmico onde o aluno registra seu desenvolvimento, reflete sobre suas aprendizagens e articula o que foi aprendido com outros saberes e experiências.

Em consonância com essa concepção do portfólio, no contexto do Projeto de Extensão Girassol, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB em Paulo Afonso-BA. Ao investigarmos as práticas de trabalho dos atendimentos às pessoas com TEA, pela equipe interprofissional em andamento, identificamos problemáticas que precisavam de ajustes. 

A utilização do portfólio digital se ampliou de uma ferramenta de apresentação, aprendizagem e avaliação para uma estratégia colaborativa de organizar, comunicar e compartilhar as práticas e atendimentos. Ele foi construído coletivamente a partir das informações e fichas já existentes, bem como das demandas da equipe para compartilhar e acessar as informações relevantes de cada pessoa atendida. 

Em equipe, desenvolvemos estratégias para aprimorar e minimizar as problemáticas encontradas, levando em consideração as reflexões e as evidências do conhecimento construído ao longo do processo. O desafio de realizar uma pesquisa científica em grupo possibilitou uma valiosa troca de experiências e permitiu uma análise crítica das práticas adotadas, reforçando a importância da colaboração e da reflexão contínua.

A nomenclatura escolhida coletivamente foi “portfólio digital” e não “prontuário eletrônico”. Isso se deve ao fato de que a equipe pesquisada é composta majoritariamente por profissionais e estagiários vinculados à área da educação, estabelecendo uma relação de atendimento educacional aos usuários, e não de atendimento médico. Assim, o termo “prontuário eletrônico” não reflete adequadamente os atendimentos realizados pela equipe de trabalho pesquisada.  

Assim, foi construído o Portfólio Digital do Projeto Girassol, com o objetivo de proporcionar atendimentos contínuos e integrados a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Surgiu como uma solução para otimizar o fluxo de informações entre os profissionais da equipe interprofissional. Este portfólio não apenas consolidou dados clínicos e educacionais, mas também estabeleceu um ambiente acessível para o preenchimento e a comunicação entre os envolvidos no atendimento. A plataforma segue um modelo semelhante ao de um prontuário eletrônico, mas adota a nomenclatura de “portfólio digital” devido à natureza educacional do projeto, que envolve majoritariamente profissionais e estagiários da área da educação (Thofehrn e Lima, 2018).

De acordo com Aranha e Horstmann (2019), os prontuários eletrônicos em nuvem se configuram como plataformas de comunicação, digitalização e armazenamento de dados, facilitando o acesso à informação por meio da tecnologia.

Sua construção foi orientada pela metodologia da pesquisa-ação, que permitiu à equipe identificar as necessidades, planejar soluções, implementar e avaliar continuamente a eficácia do produto (Tripp, 2005). A partir dessa abordagem, o portfólio digital do Projeto Girassol emergiu como uma ferramenta de integração e comunicação, essencial para a melhoria dos atendimentos e para a consolidação de um ambiente interprofissional mais colaborativo e eficiente.

Os objetivos com esse produto da pesquisa era ampliar a comunicação entre a equipe de trabalho sobre as intervenções nos atendimentos; Efetivar e concentrar o registro de informações sobre os usuários; Facilitar o acesso às informações gerais de cada usuário.

METODOLOGIA

A pesquisa-ação foi adotada como metodologia, seguindo as diretrizes de Tripp (2005), permitindo a construção coletiva do portfólio com base nas demandas reais da equipe. A pesquisa ocorreu em três encontros – Roda de Conversa, Oficina de Práticas Colaborativas e Oficina de Planejamento e Estratégia – nos quais foram levantadas problemáticas, discutidas estratégias para soluções das problemáticas realizada a implementação experimental do portfólio. 

No contexto do Projeto Girassol, identificou-se a necessidade de um sistema eficiente de registro e compartilhamento de informações entre os profissionais envolvidos. Ao longo da pesquisa, com base nas dimensões das práticas colaborativas, foram identificados os pontos e desafios da equipe de trabalho. Essas dificuldades afetavam as práticas interprofissionais em áreas específicas, que serão citadas a seguir. Essas dimensões de colaboração, conforme a avaliação coletiva, eram áreas que necessitavam de melhorias para que, de fato, as práticas colaborativas acontecessem e a equipe se consolidasse como uma equipe interprofissional (D’Amor, 2008).

A produção de informações iniciou após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) conforme o Parecer Consubstanciado com o número do CAAE: 75927923.5.0000.5013, e a assinatura dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por cada participante. Foram convidados a participar da pesquisa equipe de profissionais e estagiários do Projeto Girassol foi convidada a participar voluntariamente da pesquisa em todas as suas etapas. A equipe é organizada da seguinte forma: coordenação – uma pedagoga, mestra em educação com especialização em psicopedagogia; vice-coordenação e atendimentos – uma psicóloga; duas professoras de educação física; sete estagiários. O grupo de estagiários é rotativo e sofre alterações a cada semestre, são estudantes de diferentes áreas. Foram definidos como participantes todos aqueles que estavam ativos há mais de três meses no projeto, totalizando nove participantes. 

O projeto Girassol faz parte do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Educação Especial e Inclusiva (NUPEEI) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB – Campus VIII), fundado em 2010, com o objetivo de oferecer apoio educacional multidisciplinar a pessoas com autismo e seus familiares. O projeto atende cerca de 50 pessoas, principalmente crianças e adolescentes com TEA, da cidade de Paulo Afonso e de regiões vizinhas, como Alagoas, Pernambuco e Sergipe. O projeto foca no desenvolvimento educacional, psicomotor, comportamental e na interação social dos usuários, além de oferecer formação para profissionais e familiares.

Os encontros foram gravados, transcritos e analisados com base nas práticas discursivas, destacando a pesquisa-ação como método vigente, que possibilitou a construção deste produto, dentro de uma perspectiva que visava seguir o ciclo de ação – identificar o problema, planejar uma solução, implementar, monitorar e avaliar sua eficácia – compreendemos as fragilidades e dificuldades que enfrentamos para planejar, direcionar e intervir adequadamente (Tripp, 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da dimensões de colaboração descritas por D’Amour (2008), que foram utilizadas como referência para estruturação do produto. Ao levantarmos as estratégias para lidar com as dificuldades encontradas nos encontros anteriores. Essas dificuldades afetavam as práticas interprofissionais em pontos específicos, citados a seguir: troca de informações, acordos firmados, conectividade e práticas inovadoras. Essas são dimensões de colaboração eram áreas que necessitavam de melhorias. 

Com base nesses dados levantados nas oficinas, foram descritas estratégias coletivamente: reuniões sistemáticas e regulares com pautas para melhorar o planejamento e a troca de experiências com estudo de caso; construção de um plano de ação; encontros com responsáveis pelas crianças e adolescentes em atendimento; alinhamento do compromisso da equipe nas reuniões, aumentando a confiança mútua; e construção de um documento para troca de informações sobre os usuários e os atendimentos.

A partir da ideia de construir o documento, foi estruturado como seria esse documento. Inicialmente, pensou-se em um espaço digital onde fossem anotados semanalmente os acontecimentos dos atendimentos, a evolução e sugestões para cada usuário atendido. Durante as discussões, surgiu a necessidade de substituir as fichas físicas e concentrar em um único espaço digital várias informações sobre os usuários.

Para suprir essa demanda, foi desenvolvido o portfólio digital que substitui registros físicos, aumentando a acessibilidade e a segurança dos dados. Assim, chegamos à ideia de criar um portfólio digital no Google Drive, ao qual toda a equipe teria acesso a partir de seus e-mails. Esse portfólio incluiria informações dos usuários, bem como a possibilidade de preencher a evolução, sugestões ou informações importantes sobre o usuário que necessitassem de alteração. Ao final das discussões, o portfólio foi criado, compilando seis documentos por usuário: dados gerais, avaliação física, acompanhamento clínico, histórico de saúde, apresentação dos usuários e evolução dos atendimentos. 

Figura 1 – Recorte do Mapa dialógico – Roda de Conversa  

Fonte: Criado pelos autores 2024

O portfólio está dividido em pastas com os nomes dos usuários, e cada pasta contém os seis documentos preenchidos ou a serem preenchidos pela equipe. Toda a equipe terá acesso aos documentos por e-mail, seja pelo computador ou celular, facilitando o acesso à informação e a comunicação entre a equipe sobre a evolução do usuário, o que foi trabalhado com ele e as sugestões de atividades ou intervenções realizadas com sucesso.

Os documentos foram selecionados pela equipe para atender às demandas existentes e ampliar as estratégias com o objetivo de resolver as dificuldades encontradas. Todos os documentos foram discutidos coletivamente, com alguns já existentes e outros acrescentados durante a construção do portfólio. Segue a descrição dos documentos:

O primeiro documento, “Dados Gerais”, era um registro físico preenchido durante a anamnese e armazenado em pastas individuais no Projeto Girassol. Continha informações pessoais, contatos, diagnóstico e escolaridade. A versão digital desse documento otimiza o tempo e o espaço, facilita o acesso da equipe às informações de qualquer lugar e melhora a comunicação com as famílias e a equipe.

O segundo documento, “Avaliação Física”, é uma avaliação anual feita pela equipe de educação física para monitorar o desenvolvimento dos usuários, registrando peso, altura, e o desenvolvimento motor e postural. Ele permite o planejamento de atividades individualizadas, e o acesso facilitado a essas informações ajuda a equipe a adaptar melhor as atividades às necessidades de cada usuário.

O documento “Acompanhamento Clínico” foi criado para registrar os profissionais e instituições externas que acompanham o usuário. Anteriormente, essas informações estavam na anamnese, com acesso limitado. Com este novo documento, é possível identificar dificuldades específicas, estabelecer parcerias, fazer encaminhamentos, solicitar relatórios e acompanhar o desenvolvimento integral do indivíduo.

O “Histórico de Saúde” foi criado para registrar informações de saúde essenciais para o bom funcionamento dos atendimentos. Antes, algumas dessas informações estavam na anamnese, com acesso restrito. Elas são fundamentais para entender a pessoa com TEA, que pode ter dificuldades em verbalizar dados sobre alergias, medicações e patologias que impactam seu desenvolvimento e os atendimentos.

O documento “Apresentação” inclui informações sobre habilidades, dificuldades, preferências, formas de comunicação e fatores que causam irritação, essenciais para o atendimento de pessoas autistas. Essas informações, antes compartilhadas informalmente com as famílias, agora são formalizadas e acessíveis à equipe, facilitando a compreensão do caso e reduzindo o desgaste das famílias. Isso também amplia as possibilidades de intervenção, tornando os atendimentos mais eficazes.

A “Evolução dos Atendimentos”, antes registrado fisicamente, agora está digitalizado, permitindo acesso amplo à equipe para comunicação sobre atividades, procedimentos e intervenções. Isso facilita o planejamento, os atendimentos diários e a interação entre profissionais e estagiários. Foi adicionado um campo de sugestões para registrar práticas eficazes, que podem ser replicadas por outros. As anotações também ajudam nas orientações aos estagiários e na comunicação da coordenação com a equipe. Como documento digital, é possível anexar fotos e vídeos, promovendo práticas mais conectadas e criativas.

O portfólio digital, quando implementado de maneira estratégica, pode transformar a forma como as informações são compartilhadas entre profissionais, promovendo um ambiente de aprendizagem colaborativa que ultrapassa as barreiras do espaço físico.

Se fez necessário acrescentar que para o uso e efetivação desse portfólio, que os participantes da equipe precisaram aceitar e assinar os Termos e Condições Gerais de Uso, que inclui a descrição das regras a serem respeitadas para a utilização, bem como os deveres e direitos dos usuários e dessa ferramenta. Esse documento serve como um contrato de sigilo e ética que inclui a descrição da Política de Privacidade adotada.

Para adequar a Política de Privacidade aos padrões atuais, é importante fazer referência à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) – Lei n.º 13.709/2018, que estabelece diretrizes e obrigações para a coleta, armazenamento, tratamento e compartilhamento de dados pessoais. A LGPD complementa o artigo 154 do Código Penal, reforçando o compromisso do profissional de saúde com a privacidade e segurança das informações. (Brasil, 2018),

A implementação da Política de Privacidade referente aos prontuários eletrônicos assegurem: integridade e confidencialidade, controle de acesso, não repúdio e disponibilidade de auditoria. (Salvador e Filho, 2005).

A legislação brasileira que regulamenta o tratamento de dados pessoais em meios digitais e físicos é essencial porque estabelece diretrizes para o tratamento seguro, ético e transparente dos dados pessoais no Brasil. Ela protege o direito à privacidade e garante que as informações pessoais dos cidadãos sejam usadas com responsabilidade, atendendo a princípios como o da finalidade (uso restrito a finalidades específicas e legítimas), necessidade (tratamento mínimo necessário) e transparência (comunicação clara ao titular dos dados). A mesma foi inspirada na norma europeia de Proteção de Dados (GDPR) e entrou em vigor em 18 de setembro de 2020.

O produto garantir a efetivação do produto que está sendo implementado pela equipe, o mesmo foi estruturado e está em fase de experimentação para possíveis ajustes. No entanto, realizamos um formulário para avaliação do produto, destacando algumas áreas específicas: Estrutura e Apresentação; Conteúdo; Relevância; Conectividade e Inovação e uma área para Sugestões e Observações. 

O resultado dessa avaliação é apresentado a seguir. Foram feitas algumas perguntas, e as respostas foram pontuadas de 1 a 5, sendo 5 a nota máxima, para cada categoria:

  • Estrutura e Apresentação: 4,7
  • Conteúdo e Clareza: 4,4;
  • Relevância para os atendimentos: 4,8;
  • Conectividade e usabilidade: 100% dos participantes relataram que o portfólio funcionou em seus dispositivos.

A avaliação do portfólio digital pela equipe foi um passo fundamental para tornar o produto exequível e eficaz. Ao revisar e discutir o material, a equipe teve a oportunidade de identificar ajustes necessários, não apenas em termos de conteúdo, mas também em relação à funcionalidade e acessibilidade do portfólio. Esse processo colaborativo permitiu que as diferentes perspectivas e expertises dos membros da equipe sejam consideradas, o que enriquece a solução e garante que ela seja adequada às necessidades de todos os envolvidos. A partir dessa avaliação, o portfólio foi ajustado para atender de maneira mais precisa aos objetivos do projeto, como a integração de informações, o armazenamento seguro de dados e a facilitação do trabalho interprofissional.

Além disso, a participação ativa da equipe na avaliação permitiu que todos se engajassem com o produto final, criando um senso de pertencimento e responsabilidade pelo seu sucesso. A equipe é parte do processo de construção e aperfeiçoamento tornando o portfólio digital não apenas uma ferramenta prática, mas também um reflexo da colaboração e da expertise coletiva, o que fortalece sua aplicação no cotidiano da equipe e assegura sua exequibilidade no longo prazo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção do produto junto aos participantes da pesquisa foi um desafio e uma experiência muito prazerosa. Foi importante observar o crescimento da equipe em relação aos conceitos de interprofissionalidade, a atenção às necessidades de ajustes, a construção de estratégias e a participação entusiástica de todos os envolvidos.

Durante o processo de construção do produto, era perceptível ver os participantes oferecendo exemplos, contribuindo e compreendendo a importância de um material desenvolvido coletivamente. A pesquisa-ação me fez encarar a pesquisa científica de uma maneira desafiadora e produtiva, indo além do âmbito acadêmico e permitindo observar os resultados sendo utilizados no próprio ambiente de pesquisa, sentindo-me completamente parte desse processo.

Outro ponto a ser destacado é que a proposta foi ajustada à realidade do Projeto Girassol. No momento, não seria viável desenvolver um aplicativo ou software para resolver essas dificuldades, embora isso fosse desejável. No entanto, conseguimos criar um espaço de registro e compartilhamento a partir dos recursos existentes, gratuitos e seguros. Assim, nosso desafio e interesse pelo tema não terminam com esta pesquisa, pois outras necessidades surgirão, outras estratégias serão desenvolvidas e, principalmente, a ampliação deste produto para um método que possa ser explorado por outras equipes de trabalho será um objetivo futuro.

Tenho um desejo latente de expandir este produto, transformando-o em um aplicativo efetivo e versátil, com inúmeras possibilidades de aplicação. Este trabalho, portanto, representa não apenas o início, mas também um alicerce fundamental para essa jornada de construção. Por fim, acredito que essa pesquisa, bem como esse produto desenvolvido tem o potencial de impactar significativamente a experiência dos participantes da equipe de trabalho ampliando a eficiência dos processos, abrindo novas perspectivas de inovação, comunicação e crescimento.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Presidência da República Lei n.º 13.709, de 14 de agosto de 2018 institui a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e altera a Lei n.º 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet). 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 25 de outubro de 2024.

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FONSECA, André Azevedo da. O uso do diário virtual (blog) como portfólio digital: uma proposta de avaliação. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP -2006. Disponível em:<https://portalintercom.org.br/anais/sudeste2015/resumos/R48-1383-1.pdf> Acesso em: 15 de janeiro de 2025.

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TRIPP, David. Pesquisa-ação: Uma Introdução Metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005. DOI: https://doi.org/10.1590/S1517-97022005000300009


1Mestra em Ensino em Saúde
Universidade Federal de Alagoas, Faculdade de Medicina Paulo Afonso, Ba, Brasil julliana.nicacio@famed.ufal.br
2Doutora em Saúde Pública
Universidade Federal de Alagoas, Faculdade de Medicina Maceió, Al, Brasil cris.camelo@gmail.com
3Doutor em Saúde da Criança e do Adolescente
Universidade Federal de Alagoas, Faculdade de Medicina Maceió, Al, Brasil carloshenrique@rocketmail.com