A ACEITAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA): DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOÇÃO DA INCLUSÃO E BEM-ESTAR.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202503112246


Esp. Emilinha Silva Lobato
Dra. Maria Barbara da Costa Cardoso


RESUMO

O autismo é uma condição neurobiológica que impacta o desenvolvimento cerebral, interferindo na forma como uma pessoa se comunica, interage com os outros e processa informações ao seu redor. É fundamental que educadores, profissionais da saúde, familiares e outros envolvidos no cuidado e educação de pessoas com TEA estejam bem-informados e capacitados para atender às necessidades únicas desses indivíduos. O objetivo deste artigo é analisar e apresentar estratégias eficazes para promover a compreensão do TEA e aprimorar a aceitação familiar. Para alcançar esse objetivo, serão abordados conceitos centrais relacionados ao TEA, além de discutir práticas e abordagens que favoreçam a inclusão e o desenvolvimento de indivíduos com essa condição.

Palavras chaves: autismo, diagnóstico precoce, família, educação.

ABSTRACT

Autism is a neurobiological condition that impacts brain development, interfering with the way a person communicates, interacts with others and processes information around them. It is essential that educators, health professionals, family members and others involved in the care and education of people with ASD are well-informed and trained to meet the unique needs of these individuals. The purpose of this article is to analyze and present effective strategies to promote understanding of ASD and improve family acceptance. To achieve this objective, central concepts related to ASD will be addressed, in addition to discussing practices and approaches that favor the inclusion and development of individuals with this condition.

Key words: autism, early diagnosis, family, education.

INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento dos indivíduos de maneira variável. Dada a crescente prevalência do TEA e a necessidade de garantir uma inclusão verdadeira e acolhedora, especialmente no ambiente educacional e em instituições especializadas, é essencial adotar estratégias que busquem tanto compreender quanto aprimorar os atendimentos voltados a pessoas com essa condição. (Cunha, 2020)

Para Charli (2018) o autismo é uma condição neurobiológica que impacta o desenvolvimento cerebral, interferindo na forma como uma pessoa se comunica, interage com os outros e processa informações ao seu redor. Os sintomas do TEA podem se manifestar de maneiras bastante distintas entre os indivíduos, resultando em um espectro que pode envolver desde dificuldades na comunicação e interação social até comportamentos repetitivos e interesses específicos. 

No contexto educacional e familiar, a inclusão de pessoas com TEA representa um desafio significativo, que exige a adoção de estratégias e abordagens específicas para garantir que essas pessoas recebam o suporte necessário para alcançar seu potencial máximo. É fundamental que educadores, profissionais da saúde, familiares e outros envolvidos no cuidado e educação de pessoas com TEA estejam bem-informados e capacitados para atender às necessidades únicas desses indivíduos. (Marques; Dixe, 2011)

Entre as estratégias que podem ser adotadas para aprimorar a compreensão e o atendimento de indivíduos com TEA no ambiente escolar e institucional, destacam-se a criação de ambientes estruturados e previsíveis, o uso de comunicação e recursos visuais para facilitar a compreensão, a implementação de rotinas claras e consistentes, o incentivo ao desenvolvimento de habilidades sociais e comunicativas, e a promoção de atividades que respeitem os interesses e preferências pessoais de cada indivíduo.

Além disso, a colaboração ativa dos pais e familiares é essencial para assegurar uma abordagem integrada e consistente no suporte às pessoas com TEA. A troca de informações e o trabalho conjunto entre profissionais de diferentes áreas também são cruciais para o desenvolvimento de planos de intervenção personalizados e eficazes.

A busca por uma compreensão mais profunda do TEA e a melhoria dos atendimentos no contexto escolar e institucional especializado são passos fundamentais para promover a inclusão, o desenvolvimento e o bem-estar de indivíduos com essa condição. A implementação de estratégias baseadas em evidências, bem como o respeito à singularidade de cada pessoa com TEA, são princípios centrais para a construção de uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.

O objetivo deste artigo é analisar e apresentar estratégias eficazes para promover a compreensão do TEA e aprimorar a aceitação familiar. Para alcançar esse objetivo, serão abordados conceitos centrais relacionados ao TEA, além de discutir práticas e abordagens que favoreçam a inclusão e o desenvolvimento de indivíduos com essa condição.

A metodologia adotada para a elaboração deste artigo consiste em uma revisão bibliográfica detalhada, abrangendo artigos acadêmicos, livros e diretrizes sobre o TEA e práticas inclusivas. Além disso, serão apresentados estudos de caso e experiências práticas que exemplifiquem a implementação bem-sucedida das estratégias discutidas.

Por meio da disseminação de informações e boas práticas, busca-se contribuir para a criação de ambientes familiares mais acolhedores, empáticos e inclusivos, nos quais as pessoas com TEA possam se sentir respeitadas, compreendidas e apoiadas em seu desenvolvimento e aprendizado.

A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E OS IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO.

O diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é fundamental para promover o desenvolvimento saudável e a qualidade de vida das pessoas afetadas, o autismo  é um transtorno neurobiológico que impacta a comunicação, interação social e comportamento, e a identificação precoce dessas dificuldades pode fazer uma diferença significativa na vida do indivíduo.( Barendse, 2018). 

Quando esta avaliação inicial é realizada logo nos primeiros anos de vida, preferencialmente antes dos três anos, as intervenções especializadas podem ser iniciadas mais cedo, permitindo um impacto positivo no desenvolvimento de habilidades essenciais, como comunicação, regulação emocional e interação social. (Bezerra, 2016)

A intervenção precoce tem mostrado resultados promissores, com benefícios no desenvolvimento cognitivo e social da criança. Charli (2018) destaca que, terapias comportamentais, ocupacionais e de fala são fundamentais para o avanço da criança em aspectos como comunicação funcional, habilidades sociais e controle emocional, em muitos casos, a criança pode adquirir habilidades suficientes para viver de forma mais independente e reduzir a dependência de suporte contínuo. 

Além disso, quando os comportamentos desafiadores, como agressões e autoagressões, são identificados e tratados de forma adequada, eles tendem a ser minimizados, o que contribui para um ambiente familiar mais tranquilo e saudável.

Segundo Cunha (2020) o diagnóstico precoce também facilita o apoio familiar, pois pais e responsáveis podem entender melhor o que a criança está enfrentando e como ajudar no dia a dia, isso reduz o estigma associado ao autismo e fortalece a rede de suporte para a criança e a família. O conhecimento sobre o TEA permite que os pais recebam informações valiosas sobre estratégias de ensino e adaptação que podem ser aplicadas no cotidiano.

No contexto educacional, o diagnóstico precoce abre a possibilidade de um planejamento mais eficaz para a inclusão escolar e social da criança.  Para Barendse (2018), escolas e educadores, ao identificarem o transtorno de forma antecipada, podem adotar práticas pedagógicas adaptativas e oferecer suporte adequado para que a criança consiga se integrar ao ambiente escolar e desenvolver habilidades sociais necessárias para interações saudáveis com colegas e professores.

O autor Bezerra et. al. (2018) diz que, ao longo prazo, a avaliação e diagnose antecipada, juntamente com uma intervenção inicial, têm impacto direto na vida adulta do indivíduo com TEA, quando o apoio adequado é fornecido desde a infância, a chance de o indivíduo alcançar um grau maior de independência na vida adulta aumenta. Isso pode se refletir em sua inclusão no mercado de trabalho, nas relações interpessoais e na participação ativa na sociedade. Além disso, a identificação precoce facilita o acesso a recursos e serviços especializados que podem apoiar o indivíduo ao longo de sua vida.

Por fim, o diagnóstico precoce também contribui para a redução do estigma social em relação ao TEA. Para Fadda e Curry (2019) quando a sociedade compreende melhor o transtorno e as necessidades dos indivíduos com autismo, cria-se um ambiente mais inclusivo e acolhedor, favorecendo a convivência harmoniosa e a integração social. Portanto, a identificação antecipada do TEA e o início imediato de intervenções adequadas são fundamentais para o bem-estar e o desenvolvimento pleno dos indivíduos, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e compreensiva.

DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS FAMÍLIAS, AO RECEBER O DIAGNÓSTICO DE TEA E A IMPORTÂNCIA DA COMPREENSÃO EMOCIONAL E PSICOLÓGICA NO PROCESSO DE ACEITAÇÃO.

O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um momento de grande impacto para as famílias, desencadeando uma série de emoções e desafios que exigem adaptação e enfrentamento de uma nova realidade. Para Nobre e Souza (2028), o TEA, por ser um transtorno do desenvolvimento que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento, pode representar uma jornada repleta de incertezas, mas também de oportunidades de crescimento e aprendizado. 

Charli (2018) destaca que ao receberem o diagnóstico, muitas famílias se deparam com uma mistura de reações emocionais, que variam entre o choque inicial e uma longa jornada de aceitação e compreensão. O processo de adaptação é único para cada família, mas há elementos comuns que envolvem dificuldades relacionadas tanto à compreensão do diagnóstico quanto à adequação das rotinas diárias.

O primeiro momento ao receber a notícia pode ser caracterizado por um forte impacto emocional, o choque é uma resposta comum, pois os pais frequentemente se veem diante de uma realidade inesperada. Segundo Barendse (2018) para a família pode ser difícil aceitar que seu filho,  tem um transtorno que afetará sua vida de maneiras que talvez nem eles consigam prever inicialmente, esse impacto muitas vezes dá lugar a sentimentos de negação, em que os pais podem relutar em acreditar que o diagnóstico está correto ou minimizam seus efeitos. 

O comportamento de negação é uma resposta psicológica natural, que busca proteger os familiares da dor da aceitação precoce e, muitas vezes, dificulta a tomada de decisões cruciais em relação ao tratamento e aos cuidados que a criança precisa. (Charli, 2018)

Após a fase de choque e negação, as famílias geralmente enfrentam a insegurança e o medo do futuro, questionamentos sobre a qualidade de vida da criança e sobre o que a vida adulta trará com frequência.

 O diagnóstico de TEA, com suas implicações em termos de comunicação, socialização e desenvolvimento cognitivo, gera muitas incertezas. Aparentemente, o futuro da criança pode parecer nebuloso, e isso provoca um sofrimento emocional considerável, além disso, o medo de que o transtorno dificulte o desenvolvimento de competências essenciais, como aprender a falar, a se relacionar com os outros e a desenvolver a autonomia, gera preocupações em relação à inclusão social e escolar.

O preconceito sobre o TEA é uma realidade em muitas sociedades, e isso pode dificultar a aceitação do diagnóstico tanto dentro da família quanto no contexto social mais amplo. Segundo Bezerra (2016), muitas vezes, as famílias se veem isoladas e sem apoio, principalmente em ambientes que não estão preparados para lidar com as especificidades do transtorno. Além disso, a falta de compreensão e o estigma em relação ao autismo podem resultar em uma carga adicional de discriminação e marginalização para a criança, especialmente em escolas e outros espaços públicos. Esse preconceito pode exacerbar a sensação de solidão e de desamparo, dificultando o processo de aceitação.

Segundo Barendse (2018) a reconfiguração da dinâmica familiar é outra consequência significativa do diagnóstico, quando um membro da família recebe o diagnóstico de TEA, toda a estrutura familiar precisa se reorganizar para lidar com as novas necessidades da criança. Os pais muitas vezes assumem responsabilidades adicionais, como acompanhamentos terapêuticos, intervenções educacionais especializadas e o gerenciamento da rotina diária.  

Cunha (2020) destaca que esse aumento de responsabilidades pode gerar tensões no relacionamento conjugal, pois o cansaço físico e emocional pode resultar em conflitos entre os pais, especialmente quando as expectativas e abordagens em relação ao tratamento da criança não estão alinhadas. A sobrecarga emocional também afeta a relação com os outros filhos, que podem se sentir negligenciados ou inseguros diante da nova dinâmica familiar.

Nesse cenário, o autor Barendse (2018),  a compreensão emocional e psicológica é essencial para que os familiares possam enfrentar os desafios impostos pelo diagnóstico de TEA. A aceitação do diagnóstico é um dos primeiros passos nesse processo, pois permite que os pais e familiares comecem a olhar para a criança com mais empatia e menos angústia.

Cunha (2020) diz que, a aceitação, no entanto, não é um evento único ou simples; trata-se de um processo contínuo que envolve o enfrentamento de sentimentos complexos, como a tristeza, a culpa, a raiva e o medo. Somente quando os familiares conseguem trabalhar essas emoções de maneira saudável, com o suporte adequado, podem começar a fazer planos concretos para o futuro da criança e da família.

Um elemento fundamental nesse processo é a busca por informações adequadas sobre o TEA. Quando os familiares compreendem melhor o transtorno, eles se sentem mais preparados para lidar com os desafios diários e para oferecer à criança as melhores oportunidades de desenvolvimento. 

Segundo Charli (2018), a informação ajuda a diminuir o medo do desconhecido, fornecendo clareza sobre as necessidades da criança e sobre os recursos terapêuticos e educacionais disponíveis. Além disso, o acesso a informações sobre as diferentes formas de intervenção – como terapias comportamentais, fonoaudiologia e acompanhamento psicológico – pode fortalecer a confiança dos pais em sua capacidade de ajudar a criança.

É fundamental que os familiares pratiquem o autocuidado, pois a sobrecarga emocional pode afetar profundamente sua saúde mental e física. Para Nobre e Souza (2018) o estresse prolongado e a falta de tempo para cuidar de si mesmos podem resultar em exaustão e em uma diminuição da eficácia no cuidado à criança, portanto, é necessário que os pais encontrem maneiras de cuidar de sua saúde emocional, o que pode incluir a busca por apoio psicológico, a participação em grupos de apoio ou simplesmente dedicar tempo para atividades que tragam prazer e relaxamento, o’autocuidado não é egoísmo, mas uma necessidade para garantir que os pais possam continuar cuidando de seus filhos de forma equilibrada.

A resiliência emocional é outro aspecto crucial que deve ser trabalhado pelas famílias, enfrentar o diagnóstico de TEA e as adversidades que surgem ao longo do tempo exige que os pais se tornem mais resilientes – ou seja, que consigam se adaptar positivamente às dificuldades e aprender com elas. Para Barendse (2018)  a resiliência é construída com o tempo, à medida que as famílias vão se ajustando e criando estratégias para lidar com os desafios diários. O apoio psicológico e emocional contínuo é fundamental para fortalecer essa resiliência, permitindo que os pais desenvolvam uma visão mais otimista e confiante em relação ao futuro da criança.

Por fim, a compreensão emocional e psicológica no processo de aceitação do TEA também favorece a criação de um ambiente familiar acolhedor, que é essencial para o desenvolvimento da criança. Fadda e Curry (2019) ressaltam que um ambiente de apoio, onde há compreensão e paciência, permite que a criança se sinta segura e amada, o que é crucial para o seu desenvolvimento emocional e social. A aceitação do transtorno pela família favorece a criação de um ambiente onde a criança pode aprender a lidar com as próprias limitações e desenvolver suas potencialidades de forma saudável.

Portanto, o diagnóstico de TEA exige um processo de adaptação contínuo por parte das famílias, que deve ser sustentado por compreensão emocional, psicológica e um apoio adequado. (Nobre e Souza, 2018) Embora o caminho possa ser árduo e repleto de desafios, a construção de uma base sólida de aceitação e compreensão é fundamental para que as famílias possam superar as dificuldades e garantir o bem-estar e o desenvolvimento de seus filhos. A jornada de aceitação é longa e multifacetada, mas com o apoio certo e uma abordagem compreensiva, as famílias podem transformar essa experiência em uma oportunidade de crescimento para todos os envolvidos.

A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA INFORMAÇÃO PARA A ACEITAÇÃO DO DIAGNÓSTICO.

A contribuição da educação e da informação para a aceitação de um diagnóstico é de grande importância, pois ambos os elementos ajudam a pessoa a compreender melhor a situação e a lidar com as emoções e desafios que surgem a partir do momento em que o diagnóstico é dado. 

De acordo com Cunha (2020), quando uma pessoa recebe um diagnóstico, especialmente de uma doença grave ou crônica, a reação inicial pode ser de medo, confusão e até negação, nesse contexto, a educação e a informação desempenham um papel fundamental, promovendo uma compreensão mais profunda da condição diagnosticada, desmistificando a doença e fornecendo clareza sobre os passos a seguir. Essa compreensão reduz o medo do desconhecido, permitindo que o paciente enfrente o diagnóstico com mais calma e preparo.

A informação adequada pode aliviar sintomas psicológicos, como ansiedade e depressão, que são comuns em pessoas que enfrentam um diagnóstico difícil. Segundo Bezerra (2016) o conhecimento sobre o que está acontecendo com o corpo e as possibilidades de tratamento faz com que o paciente se sinta mais seguro e capaz de tomar decisões sobre sua saúde. Quando a pessoa entende sua condição, ela pode sentir que tem um certo controle sobre a situação, o que facilita a aceitação do diagnóstico e a adesão ao tratamento.

A educação também empodera o paciente, dando-lhe a oportunidade de participar ativamente do processo de tomada de decisões, desde as opções de tratamento até a escolha de alternativas que envolvem mudanças no estilo de vida. Nobre e Souza (2018), destacam que esse empoderamento é essencial para que o paciente não se sinta à mercê da doença, mas sim como um agente ativo em sua própria saúde, além disso, a educação e a informação não devem se limitar ao momento do diagnóstico. Elas precisam ser contínuas, com atualizações constantes sobre novos tratamentos, terapias ou avanços médicos que possam surgir.

Outro ponto importante é o apoio social, quando familiares e amigos recebem a mesma informação sobre a doença, eles se tornam aliados no processo de aceitação do diagnóstico, contribuindo com apoio emocional e prático. Segundo Barendense, (2018), muitas vezes, o medo ou o estigma em relação a certas doenças pode ser reduzido quando a comunidade em torno do paciente entende o que ele está enfrentando. A educação sobre a condição pode quebrar tabus e promover uma atitude mais solidária e empática, não apenas para o paciente, mas para todos ao seu redor.

Charli (2019) afirma que a  tecnologia também é uma ferramenta significativa nesse processo, pois oferece uma ampla gama de recursos educativos, como vídeos, aplicativos e plataformas online, que permitem que os pacientes acessem informações de maneira simples e personalizada. Isso facilita o aprendizado no próprio ritmo do paciente e oferece oportunidades para ele se conectar com outros que estão passando por experiências semelhantes, criando uma rede de apoio ainda mais forte.

Portanto, a educação e a informação são essenciais para a aceitação de um diagnóstico, pois proporcionam não só a compreensão da condição, mas também o empoderamento, a redução do medo e do estigma, e o suporte contínuo necessário para o paciente lidar de forma mais tranquila e eficaz com os desafios que surgem.

Cunha (2020) destaca que, o ambiente escolar facilita a aceitabilidade de  um diagnóstico, especialmente em crianças e adolescentes, é fundamental, ela vai além do ensino formal de conteúdos acadêmicos e se estende ao apoio emocional, psicológico e social que pode ser oferecido aos alunos. Quando um estudante recebe um diagnóstico de uma condição de saúde, seja ela física ou mental, a escola tem a responsabilidade de criar um ambiente que favoreça a aceitação e o enfrentamento dessa situação.

Primeiramente, a escola pode atuar como um ponto de apoio psicológico, proporcionando recursos e profissionais que ajudem o aluno a lidar com as emoções decorrentes do diagnóstico. Para Fadda e Curry (20219) psicólogos escolares, conselheiros e educadores podem ser essenciais para que a criança ou o adolescente entenda e aceite sua condição, promovendo um espaço seguro onde ele possa expressar suas angústias, medos e preocupações. Isso contribui diretamente para a redução do estigma e do sofrimento psicológico, ajudando o estudante a perceber que a doença não define sua identidade ou sua capacidade de aprender e conviver socialmente.

O ambiente de ensino pode ser um lugar de disseminação de informação e educação sobre a condição diagnosticada, ao promover a educação sobre essas condições, a escola pode contribuir para a criação de uma cultura de respeito, empatia e solidariedade entre os alunos. (Charli, 2018) Isso não só favorece a aceitação do colega diagnosticado, mas também ajuda a criar uma comunidade escolar mais inclusiva.

O autor Cunha (2020) destaca que a formação de professores também é importante nesse processo, educadores bem informados sobre as condições de saúde dos alunos podem ser mais sensíveis às suas necessidades e podem ajustar sua abordagem pedagógica, garantindo que o aluno diagnosticado tenha as mesmas oportunidades de aprendizagem que os demais. Além disso, os professores podem servir como facilitadores na comunicação entre a escola, os pais e os profissionais de saúde, contribuindo para o acompanhamento contínuo do aluno.

Em termos práticos, a escola pode oferecer adaptações e acomodações curriculares para estudantes com necessidades específicas, como tempo extra em provas, materiais de leitura alternativos, ou ajustes na carga horária, dependendo do diagnóstico, tais ajustes são essenciais para garantir que o aluno possa continuar seu processo educacional sem que o diagnóstico se torne um obstáculo para seu desenvolvimento acadêmico. (Barendse, 2018)

Para Nobre e Souza (2018), a integração da família também é uma parte importante da atuação educacional, ao manter os pais informados e envolvidos, a escola cria uma rede de apoio mais forte, tanto para o aluno quanto para sua família. Os pais podem receber orientações sobre como lidar com o diagnóstico e como apoiar o filho em casa, além de se sentirem mais seguros e acolhidos por parte da instituição educacional.

Por fim, a escola também deve ser um modelo de inclusão e aceitação, ao trabalhar para garantir que todos os alunos, independentemente de sua condição de saúde, sejam tratados com respeito e dignidade, a escola cria um ambiente que não apenas favorece a aceitação do diagnóstico, mas também promove o bem-estar e o desenvolvimento integral do estudante. Assim, a escola, enquanto instituição educativa, tem um papel decisivo em ajudar o aluno a lidar com o diagnóstico de maneira positiva, promovendo sua aceitação e a adaptação ao novo contexto de vida.

ABORDAGENS TERAPÊUTICAS PARA AJUDAR INDIVÍDUOS COM TEA E SUAS FAMÍLIAS A LIDAREM COM OS DESAFIOS EMOCIONAIS DECORRENTES DO DIAGNÓSTICO.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimento caracterizada por desafios na comunicação, na interação social e por comportamentos repetitivos. Fadda e Curry (2029) relatam que o diagnóstico de TEA pode representar um momento desafiador, tanto para o indivíduo quanto para sua família, pois muitas vezes gera sentimentos de incerteza, medo e até estigma social. Para lidar com esses aspectos emocionais, existem diversas abordagens terapêuticas que têm como objetivo apoiar não apenas o indivíduo com TEA, mas também sua família, ajudando todos a enfrentarem os desafios decorrentes do diagnóstico.

Uma das primeiras intervenções fundamentais é a psicoeducação, que envolve a oferta de informações claras sobre o TEA, suas características e as melhores abordagens terapêuticas disponíveis. Para Barendse (2018) quando as famílias compreendem melhor o que o diagnóstico significa, ficam mais preparadas para lidar com as dificuldades cotidianas. Além disso, a psicoeducação ajuda a reduzir o medo do desconhecido e pode diminuir a ansiedade associada ao diagnóstico. Isso também contribui para a construção de um ambiente familiar mais empático e estruturado.

As terapias comportamentais, como a Terapia Comportamental Aplicada (ABA), são amplamente utilizadas no tratamento de indivíduos com TEA. Charli (2018) ressalta que elas focam no ensino de habilidades específicas e na modificação de comportamentos, sempre com a participação ativa dos pais ou cuidadores, essa abordagem não apenas trabalha na redução de comportamentos indesejáveis, mas também capacita os familiares a aplicarem as estratégias de maneira eficaz no cotidiano. No entanto, é essencial que essas terapias sejam sensíveis às necessidades emocionais da criança ou do adulto com TEA, buscando um equilíbrio entre intervenções comportamentais e o apoio emocional.

Outro aspecto fundamental é a terapia familiar, que visa melhorar a comunicação entre os membros da família, reduzir conflitos e promover um ambiente mais saudável para todos. Segundo Cunha (2020), essa intervenção é essencial para ajudar a família a lidar com o estresse e os sentimentos de frustração que podem surgir ao longo do processo de adaptação ao diagnóstico. Técnicas como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) são frequentemente utilizadas para ajudar os membros da família a enfrentarem questões emocionais como a culpa, a vergonha ou o estigma, além de promover a resiliência familiar e a capacidade de adaptação.

Além disso, Barendse (2018) destaca que é importante considerar as terapias de apoio emocional, tanto para o indivíduo com TEA quanto para seus familiares. A TCC é uma das abordagens mais eficazes para tratar emoções como ansiedade e depressão, que podem ser comuns tanto no indivíduo diagnosticado quanto naqueles ao seu redor. Outra abordagem terapêutica que pode ser útil é a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), que foca na aceitação das emoções difíceis e na construção de ações que tragam significado à vida, mesmo diante dos desafios impostos pelo diagnóstico.

As terapias ocupacionais também são  importantes, pois ajudam os indivíduos com TEA a desenvolverem habilidades funcionais que facilitam a vida diária, como alimentação, higiene e organização. De acordo com Charli (2018) O treinamento de habilidades sociais é igualmente essencial, pois busca melhorar a capacidade de interação do indivíduo com outras pessoas, abordando as dificuldades na comunicação e na empatia, fundamentais para seu bem-estar emocional. Para os familiares, essas terapias oferecem uma oportunidade de aprender a lidar de forma mais eficaz com o comportamento e as necessidades do indivíduo, criando um ambiente mais acolhedor e funcional.

Para o autor Bezerra (2016) a participação em grupos de apoio para familiares pode ser muito benéfica, pois esses espaços oferecem a chance de compartilhar experiências, aprender com outros que enfrentam desafios semelhantes e reduzir o isolamento emocional. Os familiares podem encontrar apoio, compreensão e estratégias para lidar com as frustrações e dificuldades que surgem ao longo do processo de adaptação ao diagnóstico. Além disso, grupos de apoio são fundamentais para desmistificar o estigma associado ao TEA, permitindo que as famílias se sintam mais integradas e fortalecidas.

Por fim, Fadda e Curry (2018)  destacam que práticas como técnicas de relaxamento são cada vez mais adotadas para reduzir o estresse e promover o bem-estar emocional, tanto para indivíduos com TEA quanto para seus familiares. Essas práticas podem ajudar a melhorar a regulação emocional, aumentar o foco e proporcionar momentos de alívio, tanto para as crianças ou adultos com TEA quanto para seus familiares, que muitas vezes enfrentam grandes níveis de ansiedade e sobrecarga emocional.

As abordagens terapêuticas para indivíduos com TEA e suas famílias devem ser amplas e integradas, levando em consideração tanto as necessidades comportamentais quanto as emocionais ( Marques e Dixiie, 2011) O diagnóstico do TEA pode ser desafiador, mas com o apoio adequado, é possível criar um ambiente mais positivo e adaptado, onde tanto os indivíduos com TEA quanto suas famílias possam desenvolver habilidades, reduzir o estresse emocional e enfrentar os desafios de maneira mais resiliente.

CONCLUSÃO

A relação entre a aceitação do diagnóstico e a qualidade de vida para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é profunda e multifacetada. A aceitação do diagnóstico é um fator crucial para o início do processo de adaptação, não só da pessoa com TEA, mas também de seus familiares e da sociedade em geral. Quando há aceitação e compreensão, surgem condições mais favoráveis para o desenvolvimento de estratégias que promovem a inclusão e o bem-estar. Isso envolve, tanto no ambiente familiar quanto no social, o reconhecimento das particularidades de cada indivíduo, respeitando suas limitações, mas também valorizando suas habilidades.

Além disso, um ambiente social e familiar acolhedor é de extrema importância para a qualidade de vida das pessoas com TEA. A construção de uma rede de apoio que esteja alinhada ao princípio da inclusão e da compreensão pode impactar positivamente o desenvolvimento emocional, cognitivo e social dos indivíduos. No seio familiar, a aceitação do diagnóstico leva a um apoio incondicional, contribuindo para que a pessoa com TEA se sinta amada e valorizada, o que, por sua vez, reflete em sua autoconfiança e autopercepção. Já na esfera social, a educação da comunidade sobre o TEA é essencial para combater o preconceito e a exclusão, criando um ambiente mais inclusivo que permite que cada indivíduo se sinta parte integrante da sociedade.

Portanto, a aceitação do diagnóstico não deve ser vista apenas como uma fase inicial, mas como um processo contínuo que reflete diretamente na qualidade de vida das pessoas com TEA. Promover um ambiente acolhedor e inclusivo, tanto no núcleo familiar quanto social, é uma forma de garantir que essas pessoas possam desenvolver seu potencial máximo e vivenciar uma vida plena e feliz.

REFERÊNCIAS

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