DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS AO LONGO DO CICLO DE VIDA HUMANO: ADOLESCÊNCIA, VIDA ADULTA E VELHICE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202502281125


Fabricia Zanelato Bertolde
Carla Manoela César Pereira
Caila Evangelista Costa Signoreli
Cristhiane Almeida Ribas
Dulcineia Augusto da Silva
Everton Santos de Jesus
Simone Cabral Sena


RESUMO 

Este ensaio teórico analisa os desafios contemporâneos enfrentados ao longo do ciclo de vida humano, com ênfase na adolescência, vida adulta e velhice. Utilizando revisão bibliográfica de artigos publicados entre 2007 e 2021, o estudo explora fatores biopsicossociais que impactam cada fase do desenvolvimento. A adolescência é marcada por transformações físicas, emocionais e sociais, sendo influenciada pelo avanço da tecnologia, redes sociais e desigualdade no acesso à educação. A vida adulta apresenta desafios como a necessidade de conciliar carreira, vida pessoal e responsabilidades familiares, além de enfrentar crises de identidade e mudanças no mercado de trabalho. Já a velhice é caracterizada por questões relacionadas ao envelhecimento físico, isolamento social e dificuldades no acesso à saúde, exigindo políticas públicas eficazes para garantir qualidade de vida. O estudo destaca a importância da família como suporte essencial ao longo dessas fases, mesmo diante das transformações nos modelos familiares. Conclui-se que estratégias de intervenção e políticas públicas são fundamentais para promover o bem-estar e a adaptação dos indivíduos em cada etapa da vida. 

Palavras-chave: ciclo de vida humano; adolescência; vida adulta; velhice; desafios contemporâneos. 

INTRODUÇÃO 

O ciclo de vida humano é composto por fases marcadas por mudanças biopsicossociais significativas. A adolescência, a vida adulta e a velhice, em particular, são fases que apresentam desafios específicos e complexos, influenciados por fatores sociais, econômicos e culturais contemporâneos. Entender as dificuldades enfrentadas nessas fases é fundamental para a elaboração de políticas públicas e intervenções que promovam o bem-estar em cada uma delas. Dessa forma, esse trabalho tem como objetivo analisar os principais desafios contemporâneos que afetam o desenvolvimento durante as fases de adolescência, vida adulta e velhice, identificando como esses desafios influenciam a adaptação social ao longo do ciclo de vida humano. Como metodologia utiliza a revisão bibliográfica, onde foram analisados 20 artigos publicados entre 2007 e 2021 disponíveis em bases como SCIELO e Portal Acadêmico, utilizando palavras-chave relacionadas ao ciclo de vida humano; adolescência; vida adulta; velhice; fases da vida. 

A adolescência, que normalmente ocorre entre os 10 e 19 anos, é um período de intensas transformações, tanto físicas quanto emocionais. Na contemporaneidade, essa fase tem sido marcada por desafios adicionais relacionados ao uso da tecnologia e das redes sociais, que exercem uma pressão significativa sobre a autoimagem e o desenvolvimento da identidade. Estudos indicam que a exposição excessiva a redes sociais pode estar associada a um aumento nos níveis de ansiedade e depressão entre adolescentes (Twenge, 2019). Além disso, o aumento do bullying virtual e a pressão por aceitação social contribuem para o aumento de distúrbios emocionais e comportamentais (Pantic, 2014). Outro ponto relevante é a crescente desigualdade social que afeta o acesso a uma educação de qualidade e oportunidades de emprego, especialmente em contextos de baixa renda (Sawyer et al., 2018). 

As dificuldades vivenciadas na adolescência não são extintas na transição para a vida adulta, nessa fase surgem novos desafios onde o indivíduo geralmente assume responsabilidades mais amplas, como o desenvolvimento de uma carreira, a formação de uma família e a consolidação de papeis sociais. A pressão para equilibrar trabalho, vida pessoal e relações sociais pode gerar níveis elevados de estresse e, em muitos casos, levar ao burnout (Maslach & Leiter, 2016). Além disso, as rápidas mudanças no mercado de trabalho, impulsionadas pela automação e pela globalização, criam incertezas sobre a estabilidade profissional, o que afeta tanto a saúde mental quanto o bem-estar econômico (Frey & Osborne, 2017). A vida adulta moderna também é caracterizada por uma maior dificuldade em conciliar trabalho e cuidados familiares, especialmente para mulheres, o que contribui para a desigualdade de gênero no mercado de trabalho (Hochschild & Machung, 2012).  

Ao adentrarmos na fase da velhice, que geralmente se inicia após os 60 anos, esse indivíduo enfrenta desafios particulares relacionados ao envelhecimento do corpo e da mente. A solidão e o isolamento social são questões emergentes entre os idosos, exacerbadas pela fragmentação das redes de apoio familiar e comunitário (Holt-Lunstad et al., 2015). Além disso, a prevalência de doenças crônicas, como diabetes e doenças cardíacas, impõe uma carga significativa sobre os sistemas de saúde e sobre os próprios indivíduos, que muitas vezes carecem de recursos financeiros e apoio para lidar com os cuidados de longo prazo (World Health Organization, 2015). A desigualdade no acesso a cuidados de saúde adequados é um fator crítico, particularmente em países em desenvolvimento, onde as redes de proteção social são insuficientes para atender às necessidades de uma população envelhecida (Beard et al., 2016). 

Este texto tem como objetivo explorar essas três fases do ciclo de vida humano, aprofundando a compreensão dos desafios contemporâneos enfrentados em cada uma delas, utilizou-se de pesquisas bibliográficas realizadas nas plataformas como SCIELO e GOOGLE ACADÊMICO com a finalidade de trazer informações atualizadas sobre o tema. Ao lançar um olhar crítico sobre as dificuldades que surgem na adolescência, na vida adulta e na velhice, busca-se contribuir para o desenvolvimento de políticas que promovam o bem-estar em todas as fases da vida. 

Interação de adolescentes no contexto familiar e suas influências para a vida.  

Nas últimas décadas, a família passou por diversas mudanças, mas suas funções fundamentais continuam as mesmas. O foco de muitas pesquisas recentes é a adolescência e suas dinâmicas familiares. Estudiosos destacam que as transformações sociais têm gerado desafios na educação dos filhos, especialmente nessa fase, com preocupações como iniciação sexual precoce e drogas. Portanto, mais estudos sobre essas questões são essenciais. 

A instituição familiar é o primeiro grupo social do indivíduo, como célula inicial e principal da sociedade na maior parte do mundo ocidental. A família exerce um papel importante na vida dos indivíduos, como modelo e padrão cultural. A estrutura da família está vinculada ao momento histórico que através da sociedade, com diferentes tipos de contribuições específicas por diversas variações ambientais, sociais, econômicas, culturais, políticas, religiosas e históricas. 

Do início do século XX até meados dos anos 60, modelos familiares tradicionais eram predominantes, com homens e mulheres tendo papéis específicos e expectativas sociais e culturais. Os homens eram considerados o “chefe da casa”, responsável pelo trabalho remunerado e tendo autoridade sobre mulheres e crianças. As mulheres eram responsáveis pelo trabalho doméstico, concentrando-se nos cuidados familiares e atividades privadas. 

No modelo de família hierárquica ou tradicional, o afeto da família era caracterizado por um romantismo que enfatizava o amor natural pela mãe e a preocupação com o desenvolvimento dos filhos. As relações entre pais e filhos dentro desse modelo são marcadas por diferenças entre gerações e são definidas por respeito e autoridade. Os pais tinham controle absoluto sobre seus filhos, particularmente no respeito às normas e regras sociais. As atitudes educacionais eram baseadas na moralidade religiosa, ideais patrióticos e higienismo médico. A partir da segunda metade do século XX, as famílias experimentaram transformações econômicas, sociais e trabalhistas significativas, particularmente em países estrangeiros. Os fatores que contribuíram para essas mudanças incluíram urbanização, industrialização, avanços tecnológicos, aumento da participação no mercado de trabalho e mudanças na dinâmica familiar e gênero. 

Uma nova concepção de família, chamada “família igualitária”, envolve a divisão doméstica e a educação dos filhos, com a maior parte das tarefas mantendo a carga da mulher. A maior participação da mulher no mercado formalmente remunerado provocou mudanças nos padrões conjugais e familiares, sociais e culturais estabelecidos, levando a uma reorganização dos papéis familiares tradicionais. A mulher na família moderna é cada vez mais simétrica na distribuição de papéis e obrigações, como a divisão entre os membros do casal. A mulher é afetada pela ideia da mulher-natureza criada a ser mãe e dona-de-casa, e a família é marcada pela divisão entre os membros do casal.          

Uma família deve ser flexível para enfrentar e se adaptar às rápidas consequências sociais ao momento histórico. Existe um conflito constante entre os valores dos indivíduos nos primeiros estágios da vida e aqueles adquiridos durante a adolescência e a juventude. À medida que os adultos se envolvem na educação dos filhos, esses valores entram em choque, levando a práticas educacionais inconsistentes. As transformações no ambiente familiar, particularmente no Brasil durante os anos 90, indicam o surgimento de novas responsabilidades familiares e novas concepções e valores relacionados ao casamento e à vida em comum. 

Apesar das transformações significativas, a família continua desempenhando um papel específico no contexto social e continua sendo uma instituição reconhecida e altamente valorizada, desempenhando papéis cruciais no desenvolvimento de seus membros. 

A principal função biológica de uma família é garantir a sobrevivência da espécie humana, fornecendo os cuidados necessários para um bebê saudável. As funções psicológicas podem ser categorizadas em três grupos principais: fornecer suporte emocional aos recém-nascidos, apoiar ansiedades existenciais durante o desenvolvimento e criar um ambiente apropriado para o aprendizado. A família é necessária para superar crises e modificar-se, envolvendo diferenças e mudanças pessoais em tempos de transição, como adolescência. A manutenção da saúde familiar depende da qualidade das relações entre os membros da família e da qualidade das trocas familiares com o meio social. A harmonia, qualidade do relacionamento familiar e qualidade do relacionamento conjugal são aspectos importantes. 

A adolescência é uma fase crucial no ciclo de vida de uma pessoa, transitando da infância para a fase adulta, caracterizada por intensa dependência de autonomia pessoal e controle externo. Este período é marcado por rápidas e intensas mudanças evolutivas nos sistemas biológico, psicológico e social, levando à aquisição de uma imagem corporal definitiva e estrutura final de personalidade. É um fenômeno biologicamente social caracterizado por constante determinação, modificação e influência da sociedade. É um período de descoberta, questionamento de valores familiares e intenso apego aos valores dos amigos. Os adultos desempenham um papel central nesse processo, oferecendo a base para as gerações mais jovens e agindo como modelos introduzidos. 

A adolescência é um fenômeno universal que ocorre em todas as pessoas e lugares, mas seu início e duração variam dependendo da sociedade, cultura e ambiente. A adolescência é uma perspectiva sócio-histórica recente que a identifica como um fenômeno específico, começando com mudanças físicas envolvendo indivíduos participantes da juventude. Refere-se a componentes psicológicos e sociais diretamente relacionados às mudanças físicas induzidas durante esse período. Em sociedades simples, essa era do ciclo evolutivo pode ser breve, enquanto em sociedades tecnologicamente avançadas, ela continua a se estender. 

Nessa etapa do desenvolvimento, o indivíduo passa por momentos de desequilíbrios e instabilidades extremas, sentindo-se muitas vezes inseguro, confuso, este período pode levar a problemas nas relações sociais e no desenvolvimento psicológico. No entanto, a adolescência não é um processo uniforme, com alguns indivíduos enfrentando maiores problemas e dificuldades. Dados epidemiológicos mostram que cerca de 20% dos adolescentes têm problemas de saúde mental e precisam de ajuda, enquanto outros passam por esta fase sem problemas. 

Nesse contexto, Drummond & Drummond Filho (1998) salientam que, além do recurso do diálogo, quando a família busca desde cedo estabelecer relações de respeito, confiança, afeto e civilidade entre seus membros, tende a lidar com essa fase do desenvolvimento de uma maneira mais adequada e com menos dificuldades do que uma outra família na qual tais valores não foram praticados. A adolescência tem sido alvo de numerosos estudos. A revisão da literatura que empreendemos demonstrou que há evidências consistentes de que a família nos dias de hoje ainda exerce um papel importante no desenvolvimento de seus membros, principalmente no período da adolescência. 

Transição para a vida adulta: desafios pessoais, profissionais e sociais 

A fase adulta é um período marcante no ciclo de vida humana, repleto de transformações tanto pessoais quanto profissionais e sociais. Nesse momento, o indivíduo já passou pelas experiências formativas da infância e da adolescência, consolidando sua identidade e estabelecendo vínculos e compromissos mais duradouros. No entanto, a vida adulta também traz consigo desafios únicos, especialmente no campo das interações sociais. O adulto precisa equilibrar diversas responsabilidades, que incluem a carreira, a vida familiar e as expectativas sociais. Esse equilíbrio muitas vezes impacta diretamente as suas relações interpessoais. 

Embora a adolescência seja frequentemente vista como uma fase crucial para o desenvolvimento social, é na fase adulta que essas interações ganham novos significados e complexidades. As demandas de conciliar relações pessoais e profissionais, somadas à adaptação a mudanças na rede de apoio social, impõem ao adulto desafios que podem afetar diretamente sua qualidade de vida e bem-estar psicológico. A teoria do ciclo vital de Erik Erikson oferece uma visão clara dessas transformações. Erikson destaca que a fase adulta envolve crises, divididas em 8 estágios, que moldam profundamente as interações sociais. Dentro de cada um desses estágios, há uma “crise”, ou seja, uma questão de desenvolvimento importante naquele momento e que continuará tendo alguma importância ao longo da vida. Entre essas crises estão a de intimidade versus isolamento e a de generatividade versus estagnação (Erikson, 1976; Chiuzi et al., 2011). 

Durante a vida adulta, a capacidade de estabelecer laços íntimos é constantemente desafiada. De acordo com Erikson (1976), essa dificuldade se reflete na crise de intimidade versus isolamento. A intimidade é essencial para a construção de relações significativas e duradouras, seja no âmbito familiar, afetivo ou profissional. No entanto, muitos adultos enfrentam obstáculos para criar essa proximidade emocional, o que pode levar ao isolamento social, especialmente no ambiente de trabalho, onde as interações costumam ser mais formais e restritas ao profissionalismo (Chiuzi et al., 2011).  Outro aspecto relevante no ciclo de vida adulto, segundo Erikson (1976), é a crise de generatividade versus estagnação. Este estágio está relacionado ao desejo de contribuir para o bem-estar das gerações futuras, seja através da criação de filhos ou de um impacto mais amplo na sociedade. O fracasso em alcançar esse sentido de produtividade e legado pode resultar em estagnação, com a consequente perda de interesse pelas interações sociais e pela vida profissional (Silva; Frezza, 2011). 

O conflito geracional nas organizações é amplamente discutido por diversos autores. Isso ocorre porque hábitos e crenças estão diretamente ligados ao momento histórico vivido, então há uma transformação das subjetividades de uma geração para outra. Diferenças de valores entre as gerações, como os baby boomers e a geração Y, afetam diretamente as interações interpessoais no ambiente de trabalho. Os baby boomers tendem a valorizar a lealdade e a estabilidade, enquanto os membros da geração Y priorizam a flexibilidade e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional (Chiuzi et al., 2011). Esse descompasso de valores pode gerar tensões, dificultando a comunicação e a colaboração entre as gerações, o que afeta diretamente a convivência e a produtividade dentro das organizações. No entanto, estudos sobre o pensamento adulto apontam para uma capacidade cognitiva mais flexível e adaptável, o que facilita a resolução desses conflitos. Silva e Frezza (2011) observam que o adulto possui uma mobilidade de raciocínio que o auxilia na adaptação a novos contextos e desafios. Isso contribui para a superação das diferenças geracionais e para a promoção de interações mais colaborativas e eficazes. As interações sociais desempenham um papel central no desenvolvimento e bem-estar do adulto, influenciando diretamente sua saúde mental, emocional e física. A qualidade dessas relações está intimamente ligada à autoestima, à redução do estresse, à promoção da empatia e ao suporte emocional, impactando diretamente a felicidade e a satisfação do indivíduo. Além disso, as interações sociais estimulam a mente, promovendo o aprendizado, a troca de experiências e o desenvolvimento de habilidades interpessoais essenciais para a vida adulta (Detoni et al., 2022). 

A flexibilidade cognitiva dos adultos, entretanto, pode ajudar a superar essas diferenças e promover interações mais colaborativas. Assim, a qualidade das relações sociais na fase adulta é fundamental para o bem-estar emocional, psicológico e social do indivíduo. 

Além disso, é importante ressaltar que o contexto sócio-histórico-cultural impacta diretamente as inter-relações entre o processo de desenvolvimento humano e os modelos e padrões de família existentes. Não podemos negar que a “família continua sendo uma instituição forte e de influência, mas um pouco mais complexa e flexível do que as imagens do passado nos levariam a pensar”. (Stratton, 2003, p.337).  

De acordo com Sratton (2003), independente das diversidades das famílias que caracterizam as sociedades ocidentais contemporâneas, ainda prevalece a tendência em manter o compromisso e o suporte social e econômico entre os membros de uma família, visando fornecer uma infraestrutura para o desenvolvimento de suas crianças. (Dessen; Costa Jr., 2005). 

Assim, ao longo do ciclo familiar, os pais exercem diferentes tarefas durante o crescimento dos filhos, começando da infância, passando pela adolescência até à vida adulta. Entretanto, observa-se atualmente que devido à dependência dos filhos em relação aos pais após a adolescência, não há uma passagem linear para o mundo adulto. Entre esses dois momentos, nessa nova fase, o jovem não é adolescente nem adulto (Arnett, 2000, 2004; Camarano, 2006; Guerreiro & Abrantes, 2005 apud Ponciano & Féres- Carneiro, 2014). Comparando-se à geração dos pais, hoje os jovens vivenciam a instabilidade e o constante movimento de saída e entrada da casa dos pais. Muitos jovens experimentam uma variedade de estilos de vida e de relacionamentos íntimos, sem necessariamente assumirem as responsabilidades esperadas de um adulto ou deixarem a casa dos pais. Possuem autonomia para tomarem certas decisões, sem o ônus da completa independência. Por exemplo, podem arriscar-se em uma relação amorosa, sabendo que podem voltar para a casa dos pais, comportamento típico dos jovens bumerangues (Mitchell, 2006 apud Ponciano & Féres- Carneiro, 2014). 

A transição para a vida adulta, sendo uma fase distinta do ciclo de vida, transforma tanto o desenvolvimento do filho jovem quanto o de seus pais, pois se trata de um novo tipo de relação de afeto e cuidado que, mesmo considerando o aumento da autonomia, exerce o papel de apoio ao crescimento do filho. Ponciano & Féres- Carneiro (2014) ressaltam ainda que, esse é um desafio que se apresenta com a extensão da entrada na vida adulta: prolongada a dependência, ainda que relativa, os pais precisam criar condições para o desenvolvimento adulto dos filhos. Nessa nova configuração, mesmo com conflitos entre gerações, a negociação é a base de uma relação saudável entre pais-filhos não mais baseada na autoridade e no estabelecimento de uma rígida hierarquia. Por conseguinte, a compreensão dessa transformação desenvolvimental pode se constituir num subsídio importante para a prática clínica com adolescentes, emergentes adultos e suas famílias, identificando alguns dos problemas vividos no cotidiano, que afetam a relação familiar e a saúde emocional de todos os envolvidos. 

A complexidade do envelhecimento: fatores biopsicossociais na velhice. 

Apesar do termo ‘envelhecimento’ nos ser familiar, a sua definição e conceptualização não é simples nem linear. Embora seja um fenómeno complexo e multideterminado, refere-se a um processo biológico de sentido deletério. Começamos a envelhecer na altura da concepção e continuamos, dia após dia. Envelhecer é, portanto, um processo constante e previsível que envolve crescimento e desenvolvimento, assim, não pode ser evitado. Porém, a forma como envelhecemos depende de inúmeros fatores, como a nossa constituição genética, as influências ambientais e o estilo de vida.  

O envelhecimento diz respeito a um processo que ocorre ao longo de toda a nossa vida, desde a concepção até à morte, enquanto a velhice é uma fase da vida, a última, designando-se por idoso, o indivíduo que se encontra neste período da vida. Segundo a OMS, a terceira idade tem início entre os 60 e os 65 anos. A velhice cronológica, definida de acordo com o fato de ter cumprido os sessenta e cinco anos, tem a vantagem de ser objetiva na sua medição, pois que todas as pessoas nascidas no mesmo ano têm a mesma idade cronológica visto que um grupo amostral de corte temos indivíduos nascido no mesmo ano (ex: quem nasceu em 1985 tem 39 anos, no ano de 2024) formam uma unidade de análise social, para além de que a ‘’ velhice’’ se constitui por muitos outros fatores. 

Embora a idade cronológica seja um critério para organizar socialmente o nosso ciclo de vida e os acontecimentos que vão ocorrendo, é importante recordar que não há nada de especial que esteja programado para acontecer precisamente aos 65 anos. O nosso desenvolvimento faz-se de forma contínua. É certo que os acontecimentos de vida de origem biológica (como o aparecimento da menopausa) ou cultural (a reforma compulsória) marcam o nosso ciclo de vida. Porém, mais importante do que o tempo em si mesmo, é compreender como é que o comportamento humano é afetado por experiências que ocorrem, durante a passagem do mesmo. A velhice e a interação familiar estão profundamente interligadas, afetando a qualidade de vida dos idosos e a dinâmica familiar como um todo. À medida que as pessoas envelhecem, elas podem enfrentar mudanças físicas, emocionais e cognitivas, o que pode influenciar suas interações com familiares.  

Na atualidade a velhice é marcada por mudanças em termos demográficos, sociais e culturais, que afetam como a sociedade e os próprios idosos vivenciam essa fase da vida. O Brasil está enfrentando uma mudança significativa no seu perfil demográfico, com o avanço no sistema de saúde e as melhorias nas condições gerais de vida a população está alcançando a longevidade e consequentemente o país está envelhecendo. Estima-se que a expectativa da população brasileira irá chegar a 75,5 anos, desta forma surge no Brasil a consciência do envelhecimento, um fator de ordem social e diz respeito a uma mudança bio-psico-sócio-cultural, e é levado como foco primordial apenas as perdas ocorridas neste processo, mesmo que ele seja natural. 

Assim um envelhecimento bem sucedido está associado a uma mudança ideológica que não considere a velhice como sinônimo de perda, doença e inatividade e sim com a prevenção de doenças e manutenção das capacidades funcionais. A relação entre os aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos e culturais é fundamental na categorização de um indivíduo como velho ou não. A pessoa mais velha, na maioria das vezes, é definida como idosa quando chega aos 60 anos, independentemente de seu estado biológico, psicológico e social. Entretanto, o conceito de idade é multidimensional e não é uma boa medida do desenvolvimento humano. A idade e o processo de envelhecimento possuem outras dimensões e significados que extrapolam as dimensões da idade cronológica.   

CONCLUSÃO 

Uma análise das fases do ciclo de vida humano – adolescência, vida adulta e velhice – revela que cada uma é definida por desafios específicos que influenciam profundamente o desenvolvimento biopsicossocial dos indivíduos. A adolescência é marcada por questões de identidade, autoimagem e influência das novas tecnologias, além de dificuldades relacionadas ao bullying e às pressões sociais. Essas experiências podem ter um impacto significativo no desenvolvimento emocional e psicológico dos jovens, exigindo maior atenção e suporte familiar e social. 

Na fase adulta, o indivíduo enfrenta desafios de conciliação entre a vida pessoal, profissional e familiar, além das crises de identidade descritas por Erikson. As relações interpessoais, os conflitos geracionais e a adaptação às mudanças constantes no mercado de trabalho são fatores cruciais que afetam a qualidade de vida e o bem-estar psicológico dos adultos. O equilíbrio entre responsabilidade e autonomia nesta fase é essencial para o desenvolvimento Por fim, o velho apresenta-se como uma fase complexa, onde o envelhecimento físico e as mudanças emocionais e sociais bloqueiam uma restrição das dinâmicas familiares e uma adaptação contínua dos idosos às novas realidades de saúde e relacionamento. A solidão, o isolamento e as doenças crônicas são questões relevantes, exigindo políticas públicas eficazes e um suporte social que priorize a qualidade 

Compreender os desafios de cada fase do ciclo de vida é essencial para promover disciplinas que fortaleçam o desenvolvimento saudável e o bem-estar das pessoas ao longo de toda a vida. A teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson caracteriza que o indivíduo passa por vários estágios durante sua vida. Cada estágio é marcado por uma crise psicossocial, que ocorre quando as necessidades psicológicas do indivíduo entram em conflito com o seu ambiente social. Dessa forma, é necessário desenvolver políticas públicas que promovam suporte psicossocial em cada fase, como programas de saúde mental para adolescentes e iniciativas de envelhecimento ativo para idosos. Seguindo as orientações da OMS, os governos deveriam incluir serviços de saúde mental na cobertura universal de saúde, orienta, também que os governos conscientizem e capacitem pais e professores, e que ofereçam atendimento psicossocial em escolas e espaços comunitários. 

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