REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202502161320
Ana Caroline Oliveira da Silva1
Wollf Camargo Marques Filho2
RESUMO
A elevada idade ao primeiro parto de novilhas de corte se deve aos programas de melhoramento genético inadequados adotados nas fazendas. Novas tecnologias surgem para melhorar a eficiência reprodutiva desses animais e gerenciar controles exógenos diante dos protocolos da IATF Durante o ciclo estral, uma dessas ferramentas é o uso de prostaglandinas. As prostaglandinas são amplamente utilizadas em regimes de tratamento devido ao seu efeito luteolítico, pode sincronizar o estro em novilhas e tem demonstrado resultados eficazes na indução em estudos recentes. Desta forma, o propósito é avaliar o efeito das prostaglandinas nas taxas de prenhez em novilhas Nelore recebendo IATF.
Palavras-chave: Novilha; Prostaglandina; Estro; Ovulação.
ABSTRACT
The high age at first calving of beef heifers is due to inadequate genetic improvement programs adopted on farms. New technologies are emerging to improve the reproductive efficiency of these animals and manage exogenous controls in view of the IATF protocols. During the estrous cycle, one of these tools is the use of prostaglandins. Prostaglandins are widely used in treatment regimens due to their luteolytic effect, can synchronize estrus in heifers and have shown effective results in induction in recent studies. Thus, the purpose is to evaluate the effect of prostaglandins on pregnancy rates in Nellore heifers receiving IATF.
Keywords: Heifer; Prostaglandin; Estrus; Ovulation.
INTRODUÇÃO
Em busca de maior eficiência dos protocolos de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) para novilhas, linhas de pesquisas direcionam para o uso das prostaglandinas (PGFs) em protocolos de sincronização de estro e indução de ovulação, sendo uma das ferramentas para otimizar os resultados nessa categoria. Alguns hormônios possuem ação central no eixo hipotalâmico-hipofisário, como o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e os ésteres de estradiol como o benzoato (BE) e o cipionato de estradiol (CE), enquanto outros como a gonadotrofina coriônica humana (hCG) e o hormônio luteinizante (LH) apresentam ação local, a nível ovariano. Atualmente os protocolos mais utilizados para indução da ovulação utilizam GnRH e estrógenos. Recentemente, foi demonstrado que as prostaglandinas possuem efeitos positivos na indução do processo ovulatório, mas seu mecanismo de ação não está totalmente esclarecido. A presente revisão tem por objetivo abordar os principais indutores da ovulação utilizados em protocolos para controle do ciclo estral em bovinos, relatando o período de ocorrência das ovulações após a sua aplicação.
Para avaliar a condição ovariana e uterina. Os protocolos visando a sincronização da ovulação geralmente iniciam com a aplicação de um DIV para liberação lenta de P4 exógena, para simular a fase lútea, e de uma fonte de estrógenos, para promover a regressão de folículos que estejam presentes nos ovários.
Após a metabolização do estrógeno, há o início de uma nova onda folicular em aproximadamente quatro dias, quando é aplicado estradiol-17β (Bo et al., 1995). Análogos de prostaglandina F2α (PGF2α) também podem ser aplicados, para promover a regressão de um corpo lúteo (CL), que eventualmente possa estar presente. A ovulação do folículo dominante depende da remoção da fonte exógena de P4 (após cinco a nove dias de exposição), que é realizada juntamente com a aplicação de um indutor de ovulação. Os principais fármacos usados como indutores de ovulação em protocolos de IATF em vacas são: análogos (gonadorelina) ou superanálogos (buserelina, lecirelina, fertirelina) do GnRH e ésteres de estradiol, como o benzoato (BE) e o cipionato de estradiol (CE). Cada um destes fármacos possui um intervalo específico entre sua aplicação e a ovulação e, portanto, o momento da realização da IATF é ajustado para cada indutor.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado entre os meses de agosto de 2022 e julho de 2023. Para tal, foram utilizados parte dos dados obtidos por meio do experimento de mestrado aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com animais, número 01/2020, regularmente cadastrado junto ao Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG). Tal estudo foi realizado a partir da indução da puberdade de trinta e duas novilhas Nelore submetidas a aplicação intramuscular de 2 mL de benzoato de estradiol (IM; 2 mg de benzoato de estradiol, Gonadiol®, Zoetis, São Paulo, Brasil) e inserção intravaginal de dispositivo de liberação lenta de progesterona (4º uso) (implante contendo 1,9 g de progesterona, CIDR®, Zoetis, São Paulo, Brasil) no D-24. No D12 foi removido o implante intravaginal de progesterona (implante contendo 1,9 g de progesterona, CIDR®, Zoetis, São Paulo, Brasil), e administrado, via intramuscular, 0,5 mL de cipionato de estradiol (IM; 1 mg de cipionato de estradiol, ECP®, Zoetis, São Paulo, Brasil).
Após o término do protocolo de indução da ovulação, foi realizado o exame ultrassonográfico com auxílio de transdutor transretal (Mindray DP 2200, São Paulo, SP, Brasil, transdutor linear 7,5 MHz) para confirmação da presença de corpo lúteo, requisito fundamental para o início do protocolo de IATF dividindo os animais aleatoriamente, conforme os grupos a seguir:
- Controle (n= 11): D0 (08:00 horas): inserção intravaginal de dispositivo de liberação lenta de progesterona (1º uso) (implante contendo 1,9 g de progesterona, CIDR®, Zoetis, São Paulo, Brasil) e aplicação intramuscular de 2 mL de benzoato de estradiol (IM; 2 mg de benzoato de estradiol, Gonadiol®, Zoetis, São Paulo, Brasil); D9 (08:00 horas): remoção do implante intravaginal de progesterona (implante contendo 1,9 g de progesterona, CIDR®, Zoetis, São Paulo, Brasil), e administrado, via intramuscular, de 0,3 mL de cipionato de estradiol (IM; 1 mg de cipionato de estradiol, ECP®, Zoetis, São Paulo, Brasil), e de 1,5 mL gonadotrofina coriônica equina (IM; 300 UI de eCG, Novormon®, Zoetis, São Paulo, Brasil); e no D11 (08:00 horas): inseminação artificial.
- Tratamento 1 (n= 11): idêntico ao descrito para o grupo controle, exceto pela aplicação de 2,5 mL de prostaglandina (IM; 12,5 mg de dinoprost trometamina, Lutalyse®, Zoetis, São Paulo, Brasil), no D9.
- Tratamento 2 (n= 10: idêntico ao descrito para o grupo controle, exceto pela aplicação de 2 mL do hormônio liberador de gonadotrofinas (IM; 5 mg de acetato de gonadorelina, Gestran Plus®, Tecnopec, São Paulo, Brasil), no D9.
No dia da inseminação foi avaliado o escore de expressão de estro, por meio da avaliação da secreção vaginal e observação do folículo pré-ovulatório, e a avaliação ultrassonográfica para determinação da ovulação mediante identificação do corpo lúteo e ausência do folículo maduro.
A confirmação da prenhez foi realizada sessenta dias após a inseminação artificial, por meio do exame ultrassonográfico transretal, com auxílio do mesmo aparelho descrito anteriormente, porém utilizando frequência de 5 mHz.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O uso do D-cloprostenol no protocolo de sincronização promoveu incremento em ovulação no grupo tratado, inclusive em folículos menores que o tamanho pré-ovulatório, bem como elevou a taxa de prenhez. Foi observado o efeito positivo da utilização de uma dose adicional de dinoprost trometamina em protocolos de IATF em vacas nelore, proporcionando a ovulação em folículos menores.
Os dados obtidos foram analisados estatisticamente e comparados entre os grupos comprovando que o grupo tratado com PGF2α apresentou maior taxa de expressão de estro e maior taxa de ovulação, com isso a indução da ovulação pode ser uma estratégia eficiente para melhorar os resultados da IATF em novilhas de corte.
Com isso o uso da PGF2α associada a tratamentos hormonais, que visam anteceder a puberdade em novilhas, pode representar uma nova ferramenta com potencial utilização na indução da puberdade. Caso sua eficácia seja comprovada, a prostaglandina poderá ser utilizada para reduzir os custos dos protocolos de IATF que utilizam GnRH como indutor de ovulação (COLAZO et al., 2004; KASTELIC et al., 2003; MARTINEZ et al., 1999). Além disso, a prostaglandina pode ser alternativa para induzir ovulação em vacas nos países onde o uso de ésteres de estradiol é proibido (96/22/EC., 1996; 2002/657/EC, 2002). Para tanto, mais pesquisas utilizando a PGF2α como promotor de ovulação devem ser realizadas, pois ainda faltam estudos para que a prostaglandina exógena possa ser indicada como agente indutor de ovulação em protocolos de IATF. Baseado nestas considerações, o Brasil, sendo o maior exportador de carne bovina do mundo, deve estar conectado conhecer as exigências mercadológicas do comércio mundial de carnes e derivados, principalmente no que diz respeito aos mercados nobres, que podem pagar melhor pelo produto. Desta forma, é necessário encontrar alternativas para que além de atender às exigências do mercado externo, o Brasil ainda continue produzindo proteína animal com alta competitividade e qualidade. Para tanto, serão apresentadas propostas que visam viabilizar o uso de PGF2alfa como indutor de ovulação em programas de IATF.
Taxa de expressão de estro e de prenhez em novilhas de Nelores sincronizadas e induzidas a ovulação com duas doses de PGF2α durante protocolo de IATF.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados dos experimentos, pode-se concluir que a utilização de PGF2α (dinoprost trometamina e D-cloprostenol) foi eficaz na indução da ovulação em primíparas da raça Nelore. A utilização de PGF2α no protocolo de IATF influenciou positivamente a taxa de estro e ovulação em novilhas de corte, contribuindo para o aprimoramento das biotecnologias reprodutivas e para o aumento da eficiência produtiva dos rebanhos. Porém estudos adicionais são necessários para validar a eficácia da técnica em diferentes condições de manejo e categorias animais.
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1Engenharia Agronômica. ana.silva1@estudante.ifgoiano.edu.br
2Professor doutor em Medicina Veterinária. IF – Goiano Campus Cristalina. E-mail: woff.filho@ifgoiano.edu.br