O PAPEL DA FAMILIA E DA ESCOLA NA ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO DE ENSINO FUNDAMENTAL I: RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502131014


Luzia Araújo de Jesus


Resumo

Nessa perspectiva, este trabalho possui como objetivo geral: Investigar a forma como a relação família-escola influencia no processo ensino e aprendizagem, associado ao rendimento escolar de alunos do ensino fundamental I. Já enquanto objetivos específicos: Analisar a inter-relações entre o ambiente familiar e o desempenho escolar dos alunos do ensino fundamental I; assim também, Identificar os benefícios da participação familiar no processo de aprendizagem; por fim Compreender o papel dos profissionais da educação na promoção da parceria família e escola. A problemática da pesquisa é: Qual a importância das relações familiares e escolares para o desenvolvimento pleno e saudável do processo de aprendizagem da criança? Sendo assim, a metodologia utilizada na pesquisa é a bibliográfica, de abordagem qualitativa. Dados da pesquisa demonstram que a relação família e escola é parte fundamental do espaço escolar, e essa presença se faz na prática democrática, valorizando os conhecimentos dos alunos e os aprendidos na escola. O processo de aprendizado, com o passar do tempo, se fez mais importante com a presença da família, e de uma pedagogia atualizada, pois o aprendizado se torna significativo.

    Palavras-chave: Família-Escola. Educação Básica. Gestão Democrática.

INTRODUÇÃO 

A parceria entre escola e família é um dos temas de destaque nas pesquisas em educação no Brasil. A colaboração destas duas instituições sociais ocorre em função de um objetivo comum, a formação integral de crianças e adolescentes a fim que se tornem cidadãos. Nos anos iniciais ou finais da educação básica os alunos precisam ser acompanhas de perto pelos pais/responsáveis.

A família, geralmente, é responsável pelas funções de cuidado, proteção e afeto que pode ou não envolver laços consanguíneos. Ao longo da história as formas de organização e de interpretação da instituição familiar passou por inúmeras transformações, acompanhando as mudanças sociais, culturais e econômicas da sociedade brasileira. Ou seja, assim como as demais instituições sociais ela passou e passará por alterações. As configurações familiares e o nível socioeconômico são variáveis importantes que interferem no processo de ensino aprendizagem.

Ao colaborar com a educação formal incentivando e apoiando os alunos para que permaneçam motivados, e estreitando seus laços com a escola, as famílias podem entender e desenvolver melhor o seu papel na formação das crianças e adolescentes. Essa participação efetiva é cobrada pelos professores e gestores escolares que recorrentemente criticam o suposto desinteresse dos pais pela educação dos filhos. Em contrapartida, os pais apontam a falta de tempo e as ocupações da vida diária como barreiras para que estejam mais presentes. Neste ponto a questão fica mais complexas e é preciso estratégias alternativas para o diálogo.

A educação é uma conquista e pauta das lutas sociais no Brasil, pois apesar de ser um direito regulamentado, ainda há um longo caminho para que todos tenham acesso a um ensino e aprendizagem de qualidade. Para Libâneo:

Educação é o conjunto de ações, processos, influências, estruturas que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupo de relação ativa com o ambiente natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais. (Libâneo, 2000, p.22 apud Souza, 2020, p. 6).

Para que as crianças e adolescentes possam ter seu desenvolvimento integral é preciso que as instituições sociais, como a escola, exerçam seu papel de forma adequada seguindo os protocolos estabelecidos, bem como criando estratégias de acordo com as suas necessidades. Visto que o processo educativo não se limita aos espaços de sala de aula, mas envolve diferentes atores sociais que precisam estar conscientes de suas funções.

À escola, por sua vez, cabe a educação formal, que não se restringe ao processo de alfabetização, mas engloba o desenvolvimento integral dos alunos, respeitando as suas especificidades étnico-raciais. Neste sentido, é dever da escola conhecer a realidade da comunidade em que está inserida e criar ferramentas para que os pais/responsáveis participem do processo educativo. Pois a escola não é um universo a parte, deslocado e isolado do mundo, pelo contrário exerce papel preponderante na formação humana.

Nessa perspectiva, este trabalho possui como objetivo geral: Investigar a forma como a relação família-escola influencia no processo ensino e aprendizagem, associado ao rendimento escolar de alunos do ensino fundamental I. Já enquanto objetivos específicos: Analisar a inter-relações entre o ambiente familiar e o desempenho escolar dos alunos do ensino fundamental I; assim também, Identifica os benefícios da participação familiar no processo de aprendizagem; por fim Compreender o papel dos profissionais da educação na promoção da parceria família e escola.

A problemática da pesquisa está relacionada com a percepção de que a presença da família na escola é fundamental para um melhor desenvolvimento dos alunos, então a questão é: Qual a importância das relações familiares e escolares para o desenvolvimento pleno e saudável do processo de aprendizagem da criança? Buscou-se durante a pesquisa demonstrar que quanto mais da família participa do dia a dia da aprendizagem de seus filhos maiores são os sucessos na aprendizagem.

Outrossim, no Brasil existem legislações que promovem a participação das famílias na escola, além de legislações que protegem crianças e adolescentes, asseguram que possam usufruir de todos os seus direitos. O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (lei 8069) criado em 13 de julho de 1990, contém as normas amplas sobre a proteção das crianças e adolescentes, incluído o direito a educação e função da família e a da escola.

Já a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei nº 9394/96) regulamenta a educação no Brasil, especificando o dever de estados e municípios quando a educação, bem como sobre a organização dos sistemas de ensino. Nela vamos encontrar como as escolas devem estar estruturadas e as suas funcionalidades. Neste sentido:

Assim, o art. 12 da LDB diz que a escola deve criar meios de integração com as famílias e a comunidade de modo geral.

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

[…]VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;

VII – informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola;

[…]XII – instituir, na forma da lei de que trata o art. 14, os Conselhos Escolares (Brasil, 1996)

É necessário que o planejamento pedagógico de cada escola, considerando as suas especificidades, estejam previstas estratégias para agregar de modo colaborativo as famílias dos alunos. Para que estas sejam engajadas, conhecendo os objetivos educacionais e acompanhando o andamento do processo.

Reis (2013) destaca algumas estratégias que funcionaram em uma escola do estado da Bahia. A primeira é a equipe pedagógica ir a campo conhecer as condições familiares e de moradia dos alunos por meio de uma caminha pela comunidade, e levar em consideração essa realidade no planejamento escolar. Outra estratégia é o diário escolar, que é um caderno personalizado por aluno que serve para a comunicação mais direta entre os professores e os pais.

Cada escola e cada comunidade tem a sua realidade específica, bem como cada aluno tem sua individualidade, mas é preciso buscar estratégias para estreitar a distância entre os pais/responsáveis e a escola. Reis (2013) ainda aponta:

Dentre as estratégias utilizadas é possível destacar: a realização de encontros mensais com as famílias denominados de escola de formação de pais; as reuniões bimestrais de pais e professores; a convocação individualizada do responsável; disponibilidade de horários diversificados (inclusive à noite) para atendimento aos pais; acolhimento e orientação das famílias de acordo com as suas demandas (Reis, 2013, p.108).

Vemos que existem atitudes por parte da gestão que colaboram para agregar os pais/responsáveis para o diálogo com a escola. Mas isso pode variar de acordo com o contexto de cada instituição.

Nota-se então, que a legislações estimulam a parceria devido as potencialidades importantes no processo de ensino e aprendizagem de crianças e adolescentes, pois pesquisas demonstram que estudantes que possuem o incentivo e apoio de suas famílias são mais autoconfiantes na escola. Dentre as formas de participação efetiva dos pais/responsáveis na educação escolar destacamos: a composição dos Conselhos Escolares, as reuniões de planejamento, as eleições para diretores escolares.

Com o objetivo de garantir que as leis e objetivos educacionais fossem cumpridos, em 24 de abril de 2007 foi traçado o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação (n. 6.094), no qual mais uma vez a parceria entre escola e família é destacada como efetiva para a educação.

Quando as crianças e adolescentes são acompanhadas pelos pais/responsáveis as habilidades de leitura e escrita são mais facilmente desenvolvidas. E consequentemente o aprendizado das demais disciplinas escolares é promovido.

Sendo assim, a metodologia utilizada na pesquisa é a bibliográfica, de abordagem qualitativa. Segundo Gil (2008), a pesquisa bibliográfica apresenta-se como uma metodologia de pesquisa que subsidia teoricamente todas as demais metodologias investigativas, que exigem estudos exploratórios ou descritivos uma vez que permite uma ampla visão da problemática que permeia e conduz a investigação possibilitando também a construção literária de um quadro conceitual que envolve o objeto pesquisado.

Esse tipo de abordagem metodológica bibliográfica atuou de modo sistêmico enquanto procedimento de aproximação, análise, seleção dos conhecimentos construídos e sistematizados. Assim, concebe-se os estudos de natureza bibliográfica como uma forma de produzir conhecimento com base em referenciais teóricos já publicados, percorrendo por estes no sentido de resolver hipóteses ou problemas ora surgidos.

Nessa direção, em um primeiro passo realizou-se a coleta de produções científicas sobre o tema. Desse modo, na coleta de dados selecionou-se os repositórios virtuais de algumas universidades, a saber: Universidade Federal do Pará – UFPA; Universidade do Estado do Pará – UEPA; Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRS; Universidade Federal Fluminense – UFF; Pontifica Universidade Católica de São Paulo – PUC; Universidade Estadual de Campina – UNICAMP; Universidade Federal da Bahia – UFBA;  Universidade Federal do Ceará – UFC; Universidade Federal de Mato Grosso – UFMAT, as quais foram consultados, nos dias 22 e 23 de novembro de 2023, e o banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, nos dias 26 de novembro de 2023.

Em uma visita virtual nos repositórios das universidades supracitadas, verificou-se títulos pertinentes a esta temática. Nesse momento, realizou-se uma leitura de reconhecimento, examinando o título e resumo dos trabalhos encontrados.

A partir da consulta on-line, foram designados para leitura de seu conteúdo um total de 16 trabalhos, sendo 5 (cinco) teses e 11 (onze)

Devido à complexidade e subjetividade do tema deste trabalho, a análise de conteúdo mostrou-se uma metodologia bastante apropriada, pois esta permite que o pesquisador lance mão de estratégias e procedimentos de análise descritivas que podem ou não corroborar com a hipótese inicial geradora da presente pesquisa.

Ribeiro (2004) aborda em seus estudos que a partir dos anos 60, após pesquisas internacionais terem apontado o peso da origem social nas trajetórias de escolarização, muitas dificuldades escolares passaram a ser atribuídas às famílias populares, que tidas como deficitárias do ponto de vista sócio – cultural, não podiam proporcionar estímulos suficientes ao desenvolvimento dos filhos.  Ainda segundo a autora, essas famílias passaram a ser, então, chamadas à escola no intuito de serem normatizadas, sob o pretexto de uma educação compensatória.

  Ribeiro (2004) relata que, com base na literatura, o que se observa, atualmente, é uma naturalização das práticas de envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, o que é comumente visto como fundamental para o sucesso da escolarização. No entanto, as reais possibilidades das famílias em executar as tarefas a elas atribuídas parecem ser ainda desconhecidas pelos agentes escolares. Daí a importância de se conhecer seu ponto de vista: como os pais, atores sociais concretos, estão vivendo a relação com a escola dos filhos.

Nesse sentido, Lamb (2004) enfatizou a necessidade de um estudo específico das configurações familiares nos cursos de formação de professores como forma de qualificar seu currículo e, consequentemente, sua prática pedagógica.

Borsato (2008) realiza estudos sobe a promoção da compreensão recíproca dos papéis de professores e pais na articulação das relações escola-família, para a qualificação da prática docente em benefício da educação dos alunos.

Diante disso, segundo Borsato (2008), é preciso que haja troca de informações sobre o aprendiz e constante diálogo sobre o processo ensino/aprendizagem escolar para a construção de uma nova relação baseada na mobilização de pais e professores pela causa comum: o sucesso dos alunos.

Para alcançar uma parceria escola-família harmoniosa e significativa, é crucial que a iniciativa parta da escola, especialmente por meio dos professores e professoras (Oliveira e Marinho-Araújo, 2010; Marcondes e Sigolo, 2012; Bhering e De Nez, 2002).

A despeito das situações-problema que permeiam a relação família-escola, acredita-se que a iniciativa de construir uma relação harmoniosa entre as duas instituições deve ser de responsabilidade da escola e de seus profissionais, que têm uma formação específica. Contudo, os parâmetros para esta relação não devem se basear, apenas, na função de orientar os pais sobre como ensinar seus filhos, como tem preconizado a escola. (Oliveira e Marinho-Araújo, 2010, p. 107).

 Visto que, o que se encontram ainda hoje, com grande frequência, são relações burocráticas entre escola e família, em que pais são chamados para reuniões escolares apenas para serem informados dos resultados de avaliação de aprendizado de seus filhos, ocasião em que professores informam e pais desempenham o papel de ouvintes, especialmente quando se trata de população carente e de baixa escolaridade, como é o caso da escola focalizada na pesquisa. Além disso, nessas ocasiões, pais e professores responsabilizam-se reciprocamente pelo insucesso escolar da criança. 

Frente a isso, a autora toma como hipótese de pesquisa a seguinte questão : de que a construção do trabalho conjunto entre professores e pais, a consolidação da parceria escola e família podem gerar superação de atitudes defensivas e acusativas de ambas as partes, dando início a um processo participativo e colaborativo entre as duas instituições, em que a comunicação escola-família resulte em pais bem informados sobre os significados dos procedimentos escolares e em professores dotados de dados sobre seus alunos que lhes possibilitem a construção de uma prática pedagógica adequada aos “alunos reais” com que trabalham?.

Dal’igna (2011) em sua pesquisa problematiza a relação família-escola. A autora fundamenta sua pesquisa no campo dos – Estudos Foucaultianos, Estudos de Gênero Pós-Estruturalistas, Estudos Sociológicos e Antropológicos da família – apresentando ferramentas que foram utilizadas para mostrar de que formas, na governamentalidade neoliberal contemporânea, algumas tecnologias de governamento operam na constituição de uma relação família-escola e como gênero e pobreza atravessam e constituem essas tecnologias de governamento.  

Após a realização das entrevistas, a autora passou a organizar e examinar o material empírico utilizando os conceitos de governamentalidade, gênero e pobreza. Tal movimento analítico possibilitou a Dal’igna (2011) identificar uma mudança de ênfase da aliança família-escola (Modernidade) para a parceria família-escola (Contemporaneidade).

A partir desse movimento, foi possível descrever e analisar uma tecnologia de poder — tecnologia da participação —, implicada na produção da parceria família-escola, que opera orientando e (con formando a conduta das famílias na direção desejada — a família tem que participar da vida escolar de seus filhos de determinadas formas. Ao mesmo tempo, foi possível examinar outras duas tecnologias de poder em ação: autorreflexão e autoavaliação, procurando demonstrar como essas tecnologias, em articulação com a tecnologia da participação, agem sobre a mulher-mãe de maneira a torná-la parceira — capaz de agir sobre si e sobre os outros para manter-se participante e buscar soluções para os problemas sociais.

Segundo Rodrigues (2012), as famílias de hoje já não são as mesmas de antigamente, as características dos adolescentes de hoje, bem como suas atitudes comportamentais, são resultado dessas tantas transformações da sociedade e da família. Vive-se uma realidade de intensa transformação, da super – valorização do novo, do acesso veloz de informações, um mundo da descartabilidade de acordo com as mudanças globais.

Nesse rápido espaço de tempo os adolescentes são apanhados por culturas diferentes das suas, mas que impactam na sua, já que estão sempre atentos as novidades e dispostos a experimentar, suas características são de ousadia, de desafio.

Frente a isso, a escola precisa estar atenta a isso, conhecer as características que moldam os adolescentes, suas realidades de vida, assim como ao que acontece do lado de fora de seus muros.

Posto que a família de hoje já não consegue sozinha acompanhar a vida cotidiana de seus adolescentes, dessa forma necessita do apoio da escola, precisam estar unidas. Por sua vez, a escola vem abarcando a responsabilidade da educação e também do cuidado, mas precisa de vigilância e efetivação do que está preconizado na política educacional, precisa de mais investimentos, ampliação de recursos físicos e financeiros.

Fantinato (2012) aborda questões acerca da queixa escolar, na qual ela relata que esta já vem sendo estudada na psicologia há muitos anos. E inicialmente, pensava-se que a falha era do aluno, sendo o mesmo o único responsável pelas suas dificuldades e essa falha de origem biopsicológica. Após isso, criaram teorias que culpabilizavam suas famílias e a explicação era de origem socioeconômica.

Segundo Fantinato (2012), o sistema escolar foi o último a ser pensado como responsável pelas dificuldades apresentadas pelos alunos. Apesar da relação família – escola ser fator importante no surgimento de dificuldades escolares, ainda não existe uma comunicação produtiva entre as mesmas. Essa forma de pensar a queixa escolar leva as famílias a buscarem atendimento em clínicas psicológicas para as dificuldades de seus filhos.

O estudo de Ahumada (2013) versa sobre a relação entre escolas e famílias no cotidiano escolar. Assim, a autora propôs-se a conhecer os processos de comunicação desenvolvidos por esses praticantes fundamentais na educação das crianças, por considerar que se trata de um aspecto das sociedades contemporâneas muito importante a ser estudado e compreendido.

Assim, Ahumada (2013) aponta que as dificuldades na comunicação entre famílias e escolas, muitas vezes são devidas a rígidos preconceitos e medo dos que são diferentes, enquanto a empatia nos relacionamentos favorece e possibilita o diálogo social. Desta forma, finaliza sugerindo algumas ideias e propostas com o intuito de fortalecer/melhorar/potencializar a comunicação entre famílias e escolas no cotidiano escolar.

As análises realizadas neste trabalho indicam que o nível socioeconômico ainda é um dos fatores mais influentes no desempenho dos alunos, mesmo entre classes mais baixas e da mesma rede escolar. No entanto, há uma diminuição dessa influência ao longo do período de escolarização. O estudo também permite identificar como a relação dos pais/responsáveis com a escola tem efeitos significativos no desempenho dos alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados destacam que o dever de casa é um fator relevante que reflete tanto o contexto familiar, de distribuição de papéis dos responsáveis, quanto a relevância que esta ferramenta tem na relação família e escola. As evidências são de que as mães exercem a maior influência na educação dos filhos em diversos arranjos familiares e mesmo aquelas que tem recursos culturais e materiais restritos se apresentam engajadas na escolarização dos filhos. Ademais, indicam ainda que o conhecimento do sistema escolar e a escolha de escolas distintas das designadas no cadastro escolar pelos pais afeta a vida escolar do aluno, mostrando como o sistema escolar ainda é heterogêneo na eficácia escolar.

O estudo identifica a necessidade de uma maior equidade de gênero entre os pais na escolarização dos filhos e um maior suporte às mães em famílias monoparentais femininas.  Destaca-se a relevância do investimento em bens culturais que permitam ao aluno desenvolver seu conhecimento fora da escola com mais autonomia, destacadamente do acesso ao computador com internet. Por fim, observa-se oportunidades de envolver a família na escolarização com atividades culturais e de lazer promovidas pela escola.

Carvalho (2017) em seus estudos investiga as formas de participação das famílias ribeirinhas na escola e na vida escolar de seus filhos e os significados dados a essa participação por professores, estudantes e suas famílias. Este autor pautou suas reflexões nos referenciais teóricos de Bernad Lahire (1997), Bernard Charlot (2000; 2001) e Pierre Bourdieu (1997; 2000; 2003).

Para tal, contou com o auxílio da pesquisa etnográfica que envolveu a dimensão de um estudo de caso, bem como foi desenvolvida pelos caminhos da pesquisa qualitativa de investigação, instrumentalizando-se em: entrevista semiestruturada com treze estudantes, onze mães e cinco professores; observação das mães na Reunião de Pais e na Reunião do Conselho de Escola e Associação Amigos da Escola (AAE); e, coleta de informações no documento Plano Gestor. É saber que:

A educação é um dos direitos das crianças e adolescentes, as leis são muito especificas, e cabe a todos (escola, família e comunidade) a responsabilidade de assegurar que se cumpra as legislações.

Neste sentido, o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, entre as suas 28 diretrizes, estabelece que é dever dos sistemas de ensino estaduais e municipais:

XXV – fomentar e apoiar os conselhos escolares, envolvendo as famílias dos educandos, com as atribuições, dentre outras, de zelar pela manutenção da escola e pelo monitoramento das ações e consecução das metas do compromisso;

XXVI – transformar a escola num espaço comunitário e manter ou recuperar aqueles espaços e equipamentos públicos da cidade que possam ser utilizados pela comunidade escolar;

Como o próprio plano anuncia em seu título, o compromisso é de todos, envolve escola, família e comunidade de modo geral. A união de esforços em função de um objetivo cria perspectivas para alcançar o aprendizagem com qualidade dos alunos.

Com tudo, as discussão dos resultados mostraram que a escola confirma a participação das famílias na vida escolar dos filhos limitada às suas condições socioeconômicas e culturais. Também revelam que os estudantes ribeirinhos têm dificuldades na aprendizagem. Para as famílias, a falta de participação na escola decorre das condições socioeconômicas que dificultam o deslocamento. Incentivam a vida escolar dos filhos por meio da verbalização sobre a importância da escola para um futuro melhor, incentivando-os a não faltar. Para a maioria das mães, os filhos aprendem na escola.

Os estudantes dos anos iniciais gostam da escola e dos conteúdos, sentem-se culpados pelos desentendimentos entre os colegas e têm pouco hábito de leitura. Já para os estudantes dos anos finais e do Ensino Médio esse gosto pela escola sofre uma decadência, com sinais de evasão e de pouco envolvimento nas atividades pedagógicas e nas relações sociais.

Ainda que a escola proponha atividades para tentar recuperar as dificuldades, as defasagens, a evasão dos estudantes e eventos que promovam a participação da família na escola, deve refletir sobre a necessidade de construção de um currículo que favoreça a inclusão e a diversidade cultural, além do sentimento de pertença dessas famílias na escola.

Diante disso, Carvalho (2017) considera, que haja necessidade de políticas que atendam às necessidades socioeconômicas e culturais dos ribeirinhos, visando à aquisição do conhecimento e o desenvolvimento desses estudantes, assegurando à sua integridade e dignidade. Espera-se, com este estudo, ampliar a discussão sobre a participação das famílias de comunidades singulares na escola e suas implicações nos processos escolares de seus filhos.

 Silva (2017) em sua abordagem de natureza qualitativa, mostra os principais resultados alcançados que: a) a tecnologia auxilia a comunicação entre a escola e a família, no entanto, para que ela seja afetiva, depende da forma como a utilizamos; b) entre os benefícios do uso estão a agilidade, a simultaneidade, a quantidade de informações trocadas e a facilidade de acesso; c) como desafios, há questões relacionadas ao Hardware, ao Software e às Pessoas. Como contribuição da pesquisa, sugerimos que as escolas construam um código de conduta para o uso das tecnologias.

Ficou evidente na pesquisa que ainda há uma divisão nas responsabilidades, a família ensina sobre valores e cultura, já a escola os conteúdos para a vida em sociedade, e o estado promovendo seu projeto de futuro.

Contudo, para que a educação integral se efetive é importante que as instituições se façam presentes, neste caso principal a família, a escola e o estado, cada um compartilhando suas responsabilidades e seus progressos.

Pode-se afirmar que as responsabilidades são um dos pilares para uma boa educação, pois se cada um faz a sua parte, com certeza os alunos podem garantir um melhor aproveitamento no processo de aprendizagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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