A VULNERABILIDADE DOS ESTUDANTES FRENTE ÀS FAKE NEWS: A INICIAÇÃO CIENTÍFICA COMO FERRAMENTA DE COMBATE À DESINFORMAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502031353


Robson Silva Cavalcanti; Carla Rossana De Araújo Torres Nogueira; Gustavo Ives Andrade De Queiroga; Guilherme Ferreira Moura De Freitas; Anna Emídia Lacerda Andrade De Sousa; Hugo Soares Cavalcanti; Maria Aparecida Da Silva; Abraão Lacerda Arruda De A Leite; Maria De Fátima Silva Cavalcanti


RESUMO

Os estudantes da educação básica são particularmente vulneráveis à disseminação de fake news, frequentemente compartilhando informações sem verificar sua veracidade. Definidas como informações falsas criadas intencionalmente para enganar por razões econômicas ou ideológicas, as fake news se tornaram uma preocupação global, intensificada pela rápida disseminação nas redes sociais. No ambiente escolar, fatores como o uso intenso de tecnologias, a falta de experiência e a ausência de educação midiática tornam os alunos mais suscetíveis à desinformação, impactando negativamente o desenvolvimento do pensamento crítico e a construção do conhecimento. Este estudo investigou o comportamento dos estudantes diante das fake news e propôs estratégias educacionais para fomentar uma postura crítica. A pesquisa foi realizada com 106 alunos do ensino médio da ECIT Advogado Nobel Vita, em Coremas-PB, utilizando um questionário semiestruturado no Google Forms, com questões objetivas e subjetivas. Os resultados mostraram que 68,9% dos alunos encontram fake news diariamente, enquanto 18,9% as encontram semanalmente. Além disso, 39,6% admitiram ter compartilhado notícias falsas acreditando em sua veracidade, e 86,8% consideraram essencial que a escola ensine a identificar fake news. Diante desses dados, o estudo propõe a intensificação da iniciação científica nas escolas como estratégia para enfrentar a desinformação. O método científico, ao enfatizar a verificação sistemática e a busca por evidências, fortalece a capacidade crítica dos estudantes, capacitando-os a questionar e avaliar a veracidade das informações. Essa abordagem integra o pensamento crítico à prática educacional, promovendo a formação de cidadãos conscientes e responsáveis. A implementação de atividades pedagógicas voltadas ao desenvolvimento do senso crítico, aliada à capacitação dos professores, mostra-se essencial para combater a desinformação no ambiente escolar. Ao adaptar-se aos desafios contemporâneos, a educação pode não apenas aprimorar o ensino-aprendizagem, mas também contribuir para uma sociedade mais informada e crítica.

Palavras-chave: Fake news; Desinformação; Educação básica; Pensamento crítico; Método científico.

ABSTRACT

Basic education students are particularly vulnerable to the spread of fake news, often sharing information without verifying its accuracy. Defined as false information intentionally created to deceive for economic or ideological reasons, fake news has become a global concern, intensified by its rapid dissemination on social media. In the school environment, factors such as intensive technology use, lack of experience, and absence of media literacy education make students more susceptible to misinformation, negatively impacting the development of critical thinking and knowledge building. This study investigated students’ behavior in the face of fake news and proposed educational strategies to foster a critical stance. The research was conducted with 106 high school students from ECIT Advogado Nobel Vita, in Coremas-PB, using a semi-structured Google Forms questionnaire with objective and subjective questions. The results showed that 68.9% of students encounter fake news daily, while 18.9% encounter it weekly. Furthermore, 39.6% admitted to having shared fake news believing it to be true, and 86.8% considered it essential for schools to teach how to identify fake news. In light of these findings, the study proposes strengthening scientific initiation in schools as a strategy to combat misinformation. The scientific method, by emphasizing systematic verification and the search for evidence, enhances students’ critical capacity, enabling them to question and assess the accuracy of information. This approach integrates critical thinking into educational practice, promoting the formation of conscious and responsible citizens. Implementing pedagogical activities aimed at developing critical thinking, combined with teacher training, proves essential in combating misinformation in the school environment. By adapting to contemporary challenges, education can not only improve teaching and learning but also contribute to a more informed and critical society.

Keywords: Fake News, Misinformation, Basic education, Critical thinking, Scientific method.

1 INTRODUÇÃO

A disseminação de fake news representa um dos maiores desafios sociais da era digital, impactando a formação de opiniões, comprometendo a aprendizagem nas escolas e interferindo em áreas críticas como saúde pública e processos eleitorais. Esses efeitos colocam em risco a confiança nas instituições, evidenciando a necessidade de iniciativas educacionais que promovam o senso crítico da população.

O conceito de “infodemia”, descrito por Rothkopf (2003), refere-se à rápida disseminação de informações, verdadeiras ou falsas, em períodos de crise. Esse fenômeno é amplificado por disputas ideológicas no campo político, onde narrativas são utilizadas para legitimar interesses específicos ou mobilizar apoios. Freire (1982) argumenta que o desenvolvimento do pensamento crítico é essencial para identificar essas narrativas e promover o diálogo como ferramenta de transformação social.

No ambiente escolar, os estudantes, especialmente aqueles na educação básica, são vulneráveis a informações falsas disseminadas pelas mídias digitais. Essa vulnerabilidade está ligada à falta de habilidades para avaliar a veracidade das informações. Conforme Gramsci (1978, citado por Braga, 2019), a hegemonia cultural se constrói pela capacidade de grupos dominantes influenciarem valores e crenças por meio das mídias, principalmente em tempos de crise. A escola, nesse contexto, assume um papel estratégico ao preparar cidadãos capazes de compreender a natureza ideológica das informações e de adotar posturas críticas diante delas (Pinheiro, 2021).

Diante desse cenário, a iniciação científica emerge como uma ferramenta pedagógica eficaz para o enfrentamento das fake news. Experiências como as desenvolvidas pela Universidade de São Paulo (USP, 2008) demonstram que a pesquisa científica fomenta habilidades de análise crítica e fortalece a capacidade dos estudantes de avaliar informações com base em evidências. Este estudo investiga a vulnerabilidade dos estudantes da educação básica frente às fake news e propõe a iniciação científica como estratégia para promover o pensamento crítico e a verificação sistemática das informações, alinhando-se à necessidade de combater a desinformação de forma estruturada e pedagógica.

2 MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi conduzida utilizando um questionário semiestruturado, desenvolvido na plataforma Google Forms, contendo questões objetivas e subjetivas. O questionário foi estruturado com base em critérios previamente definidos para abordar temas relacionados à percepção, disseminação e identificação de fake news, bem como ao papel da escola nesse contexto. Para garantir a validade do instrumento, foi realizada uma revisão com especialistas na área de educação e tecnologia, a fim de ajustar a clareza e a pertinência das questões.

A amostra foi composta por 106 alunos do ensino médio da ECIT Advogado Nobel Vita, localizada em Coremas-PB, selecionados por conveniência, abrangendo turmas de diferentes séries para obter uma perspectiva ampla sobre o tema. A coleta de dados ocorreu durante o mês de outubro de 2024, de forma online, com o envio do link do questionário por meio de grupos de comunicação da escola. Antes da participação, foi garantido o anonimato dos respondentes e o consentimento livre e esclarecido, conforme os princípios éticos da pesquisa.

Os dados coletados foram analisados por meio de técnicas mistas: uma análise quantitativa foi realizada utilizando ferramentas de estatística descritiva para identificar frequências e padrões; já a análise qualitativa considerou as respostas subjetivas, categorizadas de acordo com temas emergentes relacionados ao impacto das fake news e às propostas educacionais sugeridas pelos participantes. Os resultados foram interpretados à luz da literatura sobre desinformação e educação crítica, com o objetivo de propor estratégias pedagógicas baseadas no método científico.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quando perguntado sobre “com que frequência você acha que se depara com fake news nas redes sociais?” obtivemos os seguintes dados expostos no gráfico 01.

Gráfico 01: A Frequência com que os alunos acham que se deparam com Fake News, nas redes sociais.

A grande maioria dos estudantes 68,9% afirmam se deparar com Fake News diariamente, enquanto 18,9% encontram desinformação semanalmente e 12,3% raramente. Esse dado é revelador, pois indica que os estudantes estão imersos em um ambiente onde a desinformação é constante. A exposição diária a Fake News sugere que as redes sociais, uma das principais fontes de informação para os jovens, são ambientes onde a veracidade das informações nem sempre é garantida. Esse cenário torna os estudantes altamente vulneráveis, uma vez que eles são constantemente bombardeados com conteúdo potencialmente enganosos. Esse contexto evidencia a necessidade de habilidades críticas para que eles possam navegar de forma mais segura e consciente no mundo digital.

Quando perguntado sobre “como você avalia a sua capacidade de identificar fake news?”obtivemos os seguintes dados expostos no gráfico 02.

Gráfico 02: como você avalia a sua capacidade de identificar fake news?

A maioria dos estudantes tem uma autopercepção moderada de sua capacidade de identificar fake news: 43,4% avaliam essa habilidade como “Regular”, 38,7% como “Boa” e apenas 16% como “Muito Boa”. Isso mostra que, embora alguns se sintam confiantes, muitos reconhecem suas limitações. No entanto, a confiança não reflete necessariamente habilidade crítica real, dado que 39,6% dos alunos afirmam já ter compartilhado Fake News e 23,6% sequer sabem se já foram enganados. Esse dado aponta uma falta de consciência crítica e revela que muitos compartilham informações sem verificar sua veracidade. Assim, observa-se uma lacuna na formação de técnicas de análise e verificação, o que torna urgente a necessidade de capacitar estudantes para identificar e combater a desinformação de maneira fundamentada.

Ao analisar os gráficos 01 e 02, percebe-se uma grande discrepância entre autoconfiança e prática. Embora 54,7% dos estudantes se considerem “Bons” ou “Muito Bons” em identificar Fake News, 39,6% já compartilharam desinformação, indicando que a autoconfiança não necessariamente reflete habilidades práticas. Essa discrepância, conhecida como “ilusão de competência”, sugere que muitos estudantes acreditam ter capacidade crítica, mas enfrentam dificuldades ao aplicá-la, especialmente diante de Fake News projetadas para parecerem verídicas. A falta de critérios para verificar a veracidade leva 23,6% dos alunos a não saberem se já compartilharam Fake News, refletindo uma consciência crítica insuficiente. Os dados indicam a importância de uma educação focada em desenvolver habilidades de verificação, promover pensamento crítico e ensinar métodos para distinguir fontes confiáveis de desinformação.

Quando perguntado sobre “na sua opinião, a escola deve ensinar a identificar fake news?”

Gráfico 03: Na sua opinião, a escola deve ensinar a identificar fake news?

A esmagadora maioria dos estudantes 86,8% acredita que a escola deve ensinar a identificar Fake News, enquanto apenas 4,7% discordam e 8,5% são indiferentes. Esse resultado evidencia uma conscientização dos próprios estudantes sobre a importância da educação midiática. Eles percebem a escola como um ambiente propício para o desenvolvimento de habilidades de análise crítica e verificação de informações. A resposta positiva mostra que os jovens reconhecem a urgência de desenvolver competências que os ajudem a lidar com a desinformação. Esse dado reforça o papel essencial da educação formal na preparação dos estudantes para os desafios do mundo digital, onde a capacidade de verificar e interpretar informações tornou-se uma habilidade fundamental.

Segundo (Cervetti et al., 2001) Discutir (FN) no contexto escolar exige a criação de um espaço que promova uma postura crítica frente aos padrões, julgamentos e ações presentes nas práticas de letramento. Essa abordagem busca destacar que as representações, intrínsecas às práticas sociais, possuem um caráter ideológico, exigindo que os sujeitos envolvidos desenvolvam a consciência crítica necessária para se posicionarem frente a elas.

Na parte qualitativa podemos destacar dos discursos que contempla parte da percepção da maioria do alunado

“Trabalhar esse tema em sala de aula é crucial para permitir um melhor reconhecimento das Fake News, principalmente, em nas aulas de história e português, pois estão amplamente conectadas às questões informacionais.”

“A educação midiática, ensinar os estudantes a terem uma leitura crítica, questionando o que consomem. Também seria interessante trazer práticas em sala de aula, para mostrar aos alunos como identificar uma Fake News”

            A análise qualitativa dos discursos dos alunos evidencia uma percepção madura e alinhada às demandas contemporâneas no contexto educacional. Os relatos indicam que grande parte do corpo discente reconhece a importância de a escola não apenas abordar as fake news de forma pontual, mas integrá-las como parte estruturante do currículo. Isso pode ocorrer por meio de disciplinas da Base Nacional Curricular Comum, a exemplo de Português e todas as demais que têm forte conexão com questões informacionais, ou por iniciativas inovadoras, como o uso de projetos interdisciplinares e disciplinas eletivas, como “Colabore Inove”.

Essas observações destacam a compreensão dos estudantes sobre a relevância da educação midiática, que promove habilidades de leitura crítica, questionamento e identificação de desinformação. Tal percepção reforça a necessidade de práticas pedagógicas que capacitem os alunos a navegarem de forma consciente no universo digital, ampliando sua competência crítica e reflexiva.

4 CONCLUSÃO

            A relação entre a autopercepção e o comportamento de compartilhamento de Fake News revela que muitos estudantes subestimam a complexidade de identificar desinformação. Embora se sintam relativamente competentes, a prática mostra que essa confiança não impede o compartilhamento de notícias falsas. Isso reforça a importância de uma educação focada na alfabetização midiática e digital, que ajude os alunos a desenvolver não apenas confiança, mas também habilidades reais e técnicas para avaliar criticamente as informações e evitar a disseminação de Fake News. Bem como ampliar o debate, a dialética sobre ética, cidadania para buscar ações mais conscientes de todos, haja visto que mesmo tendo conhecimento sobre o tema ainda assim compartilharam a desinformação.

            Os discursos em sua maioria mostram que os discentes compreendem a necessidade da escola implementar métodos que possam auxiliar na identificação de falsas notícias e ainda fazem sugestões.

Ampliar o uso do método científico na escola, por meio de atividades, projetos de pesquisa e práticas experimentais, cria oportunidades para que os estudantes apliquem essas habilidades em situações práticas. Isso não apenas fortalece a compreensão científica, mas também os prepara para lidar com os desafios da era digital, onde a informação circula rapidamente e nem sempre é confiável.

Dessa forma, a educação científica via método científico capacita os estudantes a enfrentarem a desinformação de maneira mais crítica e responsável, desenvolvendo habilidades de pensamento crítico, análise e verificação sistemática de informações. Por meio desse método, os alunos aprendem a observar fenômenos, formular hipóteses, conduzir experimentos, analisar resultados e chegar a conclusões fundamentadas em evidências, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes e participativos.

REFERÊNCIAS                    

Braga, R., & Bianchi, A. (2019). Apresentação – Antonio Gramsci em tempos de fake news. Tempo Social31(2), 1-6. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/ts/a/r8Hgnkc phbJ8Bv7Y6q7JgJG/?lang=pt >. Acesso em: 29 dez. 2024.

Cervetti, G.; Pardales, Michael J.; Damico, J. S. (2001). A tale of differences: comparing the traditions, perspectives and educational goals of critical reading and critical literacy. Reading Online, 4(9).

Freire, P. (1982). Education as the practice of freedom. Trad. de M. B. Ramos. In: Education for critical consciousness. New York: The Continuum Publishing. p. 1-84.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. v. 1.

PINHEIRO, Petrilson. Fake news em jogo: uma discussão epistemológica sobre o processo de produção e disseminação de (in)verdades em redes sociais. DELTA: Documentação e Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 37, n. 4, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1678-460X202156104>. Acesso em: 29 dez. 2024.

ROTHKOPF, David J. When the Buzz Bites Back. The Washington Post, Washington, D.C., 11 maio 2003. Disponível em:https://www.washingtonpost.com/archive/opinions/2003/05/11 /when-the-buzz-bites-back/bc8cd84f-cab6-4648-bf58-0277261af6cd/. Acesso em: 29 dez. 2024

USP. Programa de Iniciação Científica no Ensino Médio. Jornal da USP, 2008. Disponível em: https://jornal.usp.br. Acesso em: 15 nov. 2024.

.