ESTUDO DE CASOS DE CÃES DIAGNOSTICADOS COM HEMOPARASITOSES NA CLÍNICA ESCOLA VETERINÁRIA DA UNIG

STUDY OF CASES OF DOGS DIAGNOSED WITH HEMOPARASITOSIS AT THE UNIG VETERINARY SCHOOL CLINIC

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma102401311926


Maria Cristina Ravagnani Gonçalves1; Luis Felipe de Morais1; Rayane da Silva Fernandes1; Ursula dos Santos Ferreira de Souza1; Jorge Luiz Pinto Abrahão Junior1; Natália Lôres Lopes2


Resumo 

As hemoparasitoses são enfermidades de grande importância na clínica de animais de companhia, sendo responsável por elevada casuísta em clínicas e hospitais veterinários.  Dentre as principais hemoparasitoses estão a Erliquiose Monocítica Canina, Anaplasmose Trombocitotrópica Canina, Babesiose e Hepatozoonose. O objetivo deste trabalho é analisar e descrever a ocorrência de cães diagnosticados com hemoparasitoses atendidos na clínica escola da Universidade Iguaçu (UNIG) campus Nova Iguaçu, no período de fevereiro de 2024 a dezembro de 2024 contribuindo com dados epidemiológicos para a literatura. Foram incluídos 10 cães na clínica escola Veterinária da UNIG diagnosticados com hemoparasitose. Os animais passaram por anamnese, histórico e exame físico. Foram descritos os sinais clínicos, realizado hemograma com pesquisa de hemoparasitas em capa leucocitária,e, quando indicado, realização de teste rápido 4DX para Ehrlichia canis, Anaplasma platys e Hepatozoon canis  e/ou PCR para Babesia canis vogeli. Os dados obtidos foram tabelados utilizando o Microsoft Excel® e analisados através de estatística descritiva. Foi observado que 50% dos animais analisados apresentaram coinfecção por anaplasmose e erlichiose, 40 % com erliquiose e 10 % com Anaplasmose, através do teste 4DX . As principais alterações observadas no hemograma foram: seis cães apresentaram valores diminuídos de hemoglobina (60%), 4 no hematócrito (40%) e três de hemácias (30%). A trombocitopenia ocorreu em 4 animais (40%) assim como a monocitopenia conclui-se que a maior ocorrência foi de coinfecção por erlichiose e anaplasmose, sendo importante realizar exames laboratoriais para se obter o diagnóstico definitivo e identificar os agentes envolvidos. Sendo de grande valia a combinação do hemograma e de testes como o 4DX.  

PALAVRAS-CHAVES: Caninos, Erlichiose, Anaplasmose diagnóstico

INTRODUÇÃO 

As hemoparasitoses são enfermidades de grande importância na clínica de animais de companhia, em especial da espécie canina, sendo responsável por elevada casuísta em clínicas e hospitais veterinários (Aguiar,2013). Essas doenças são causadas por patógenos que são transmitidos por artrópodes hematófagos, e parasitam as células presentes na corrente sanguínea, ou seja, podem estar presentes em eritrócitos, leucócitos e até mesmo nas plaquetas (Costa,2015). Dentre as principais hemoparasitoses descritas é possível citar a Erliquiose Monocítica Canina, a Anaplasmose Trombocitotrópica Canina, a Babesiose e Hepatozoonose, causados pelos agentes dos gêneros Ehrlichia, Anaplasma, Babesia e Hepazoon, respectivamente (De Araújo et al.,2022; Lappin, 2015). 

Na família Anaplasmataceae estão Anaplasma platys que formam mórulas nas plaquetas circulantes e Erlichia canis que parasita monócitos. Já no gênero Babesia, as subespécies Babesia canis canis, Babesia canis rossi e Babesia canis vogeli são observadas nas hemácias enquanto que Hepatozoon canis pode ser encontrado nos neutrófilos circulantes (Nelson; Couto, 2015). 

Essas enfermidades possuem manifestações clínicas variáveis, desde imperceptíveis até quadros clínicos mais graves que podem levar a óbito (Labarthe et al.,2003). Muitas vezes a sintomatologia se apresenta de forma semelhante, com anorexia, perda de peso, febre, linfadenopatia, palidez de mucosas, hepatomegalia e/ou esplenomegalia, dentre outros. Ocorre ainda alterações no laboratoriais que podem variar de acordo com o agente envolvido como trombocitopenia, anemia hemolítica, monocitose, leucócitos, leucopenia, hipoalbuminemia (Silveira et al.,2019). As alterações laboratoriais e os sinais clínicos são inespecíficos, sendo necessário a obtenção do diagnóstico definitivo e a identificação do agente envolvido. Métodos como pesquisa de anticorpos, reação em cadeia pela polimerase (PCR), pesquisa de hematozoários em esfregaço sanguíneo podem ser utilizados (Nelson; Couto, 2015). A conduta terapêutica realizada deverá ser escolhida de acordo com o agente envolvido no quadro, dessa forma se faz necessária a escolha do método de diagnóstico mais indicado para cada hemoparasitose, 

Com distribuição mundial, a casuística de cada hemoparasitose varia de acordo com a região estudada. Em Sergipe foi observado que Erlichia canis e Anaplasma platys foram os hemoparasitas de maior ocorrência (Silveira et al.,2019), já em São Paulo Erilchia canis foi a mais frequente, seguida por Babesia canis vogeli e Anaplasma platys não foi observado (Junior Eis,2021). Em contrapartida no Rio Grande do Sul Babesia foi o gênero mais prevalente (Ferraz et al., 2022), logo conhecer os dados epidemiológicos da região em que o médico veterinário atua é essencial para auxiliar na conduta diagnóstica para o paciente atendido bem como para instituir o tratamento mais adequado.  O presente estudo tem como principal objetivo analisar e descrever a ocorrência de casos de hemoparasitose em cães atendidos na clínica escola da Universidade Iguaçu (UNIG), analisar os métodos  utilizados para o seu diagnóstico, sinais clínicos e alterações laboratoriais apresentadas, contribuindo com dados epidemiológicos para a literatura. 

METODOLOGIA  

O estudo foi conduzido na clínica escola veterinária da Universidade Iguaçu, campus Nova Iguaçu no período de fevereiro a dezembro de 2024. O estudo foi submetido e aprovado pelo comitê de ética da UNIG (CEUA) e um termo de livre consentimento esclarecido que será aplicado aos responsáveis dos animais participantes do projeto. Foram atendidos cães que com sintomatologia clínica suspeita de hemoparasitose. Os cães passaram por anamnese e histórico detalhado, exame físico completo. Foram descritos os sinais clínicos apresentados pelos pacientes em ficha clínica e  coletado 3 ml de sangue da veia cefálica utilizando seringa de 5 ml e scalp 23G para realização de hemograma com pesquisa de hemoparasitas em capa leucocitária, e quando indicado, a realização de teste rápido 4DX para Ehrlichia canis, Anaplasma platys e Hepatozoon canis.e/ou PCR para Babesia canis vogeli. 

Os dados foram anotados em ficha clínica e posteriormente tabelados utilizando o programa Microsoft Excel® e analisados através de estatística descritiva. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO  

Foram diagnosticados 10 cães com hemoparasitose (4 fêmeas e 6 machos) raças variadas. As raças variaram em SRD (4) Yorkshire (2), Cocker Spaniel (1), Poodle (1), Rottweiller (1) e American Bully (1), A idade variou entre três meses a 11 anos (média 4,27 anos). As hemoparasitoses podem ocorrer em qualquer idade, assim como no observado com ocorrência em filhote, adultos e idosos, independente também de raça e sexo ( Benigno et al., 2011; Furlong et al., 2004 apud De Araújo et al.,2022). 

Dentre os sinais clínicos, vômito foi relatado em 6 animais (60%), prostração em 4 (40%), febre em 2 (20%) e inapetência em 2 (20%), emagrecimento em um (10%), sensibilidade 1 cão apresentou abdominal (10%),  sendo estes sinais inespecíficos,não sendo observados somente em casos de hemoparasitoses. Um cão apresentou epistaxe (10%), dois animais foram a clínica para realização de exames (30%), um para avaliação após diagnóstico de dirofilariose (10%) e um para realização de triagem cirúrgica para castração (10%). Em três cães foi descrito o contato com carrapatos, sendo que a transmissão dessas enfermidades é realizada pelo Rhipicephalus sanguineus (Jericó et al.,2015) 

Quanto às hemoparasitoses, cinco cães foram diagnosticados com Anaplasmose e Erlichiose concomitantemente (50%), quatro com Erlichiose (40%), enquanto que um animal foram diagnosticados com Anaplasmose (10%). A ocorrência de coinfecção como observado no caso de cães com anaplasmose e erlichiose no presente estudo pode acelerar ou agravar o curso da doença (Jericó et al., 2015). Todos os animais foram positivos no teste 4DX. 

De acordo com a literatura o diagnóstico das hemoparasitoses combina métodos laboratoriais como hemograma, testes rápidos (4DX) e PCR, destacando-se pela necessidade de técnicas complementares para maior precisão, onde nesse trabalho foram realizados hemograma com avaliação do esfregaço sanguíneo para pesquisa de hemoparasitas,  o teste  rápido 4DX e o PCR dependendo do caso  (De Araújo et al., 2022).  O esfregaço sanguíneo foi realizado em 8 animais (80%) e em apenas 1, foi positivo para Anaplasma sp. Essa técnica é comumente utilizada na rotina clínica, porém pode haver casos de resultados falso-negativos, tendo maior probabilidade de ser positivo em casos agudos (Jericó et al, 2015). A visualização de mórulas de Erlichia canis no esfregaço sanguíneo é considerado raro, acontecendo em cerca de 4-6% dos casos, já no caso da anaplasmose essa avaliação direta aparenta ter maior sensibilidade quando comparada a casos de erlichiose (Sainz. et al.,2015). Em dois pacientes foi realizado PCR para Babesia canis vogeli, sendo ambos negativos. 

 Os achados do presente estudo corroboram com o observado por Silveira et al (2019) em estudo realizado em Sergipe, no qual erlichiose e anaplasmose tiveram ocorrência elevada. Esses resultados somados a ausência de casos diagnosticados com Babesia sp diferem do observado em São Paulo, no qual foi descrito a sua ocorrência e ainda ausência de casos diagnosticados de anaplasmose (Junior Eis,2021) e no Rio Grande do Sul com maior prevalência de cães diagnosticados com Babesiose (Ferraz et al., 2022). Esses dados reforçam a necessidade de se realizar estudos epidemiológicos para se obter um perfil em cada região visando diagnósticos mais precisos e adoção de medidas preventivas. Entretanto o presente estudo cursou com um número pequeno de participantes, sendo necessário a realização de estudos maiores. 

 As hemoparasitoses podem levar a alterações laboratoriais como as observadas no hemograma (Sainz et al.,2015). No presente estudo a alteração mais frequente foi a anemia, sendo observado que seis cães apresentaram valores diminuídos de hemoglobina (60%), 4 no hematócrito (40%) e três de hemácias (30%). A trombocitopenia ocorreu em 4 animais (40%) , assim como a monocitopenia. Eosinopenia foi observada em 2 cães (20%),2 com linfopenia  (20%),enquanto que a ocorrência de leucopenia, neutropenia e trombocitose ocorreu em 1 cão cada (10%). Um paciente não apresentou alterações no hemograma e 2 não realizaram o exame pois foram à clínica apenas para realização de 4DX. Essas alterações estão de acordo com o descrito na literatura (Nelson; Couto, 2015; Sainz et al.,2015). 

CONCLUSÃO 

Baseando-se nos resultados obtidos conclui-se que a maior ocorrência foi de coinfecção por erlichiose e anaplasmose, sendo importante realizar exames laboratoriais para se obter o diagnóstico definitivo e identificar os agentes envolvidos. Sendo de grande valia a combinação do hemograma e de testes como o 4DX. É importante salientar a necessidade de realização de medidas preventivas para auxiliar no controle das hemoparasitoses. 

REFERÊNCIAS 

ALBUQUERQUE, Felipe Arnaud Sampaio Alencar de; SILVA, Thâmara Rossi Martins da; SCHIMMUNECH, Micael Siegert; DIAS, Jaquelinne Andrade; GOMES, Paulo Henrique; SOUZA, Juliana Bruno Borges; BRAGA, Ísis Assis; RAMOS, D. G. S. Variações clínicas observadas entre as principais hemoparasitoses causadas por Rhipicephalus sanguineus em cães. Investigação, Sociedade e Desenvolvimento, 2021. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/354857447_Clinical_variations_observed_among_the_main_hemoparasitosis_caused_by_Rhipicephalus_sanguineus_in_dogs. Acesso em: 14 jan. 2025. 

AGUIAR DM. Prevalence of canine monocitic ehrlichiosis and canine thrombocytic anaplasmosis in dogs suspected of hemoparasitosis in Cuiabá Mato Grosso. Semina: Ciências Agrárias. 2013;  34 (6):3811-3822.  

COSTA HX. Anaplasma platys e Ehrlichia canis em cães: Avaliação de alterações oculares, desenvolvimento e validação de técnica de diagnóstico molecular [thesis]. Goiania: Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás; 2015; 60p.  

DE ARAÚJO, Roniuza et al. Avaliação diagnóstica das hemoparasitoses em cães: Revisão. Pubvet, [S. l.], v. 16, n. 10, 2022. DOI: 10.31533/pubvet.v16n10a1237.1-16. Disponível em:  https://ojs.pubvet.com.br/index.php/revista/article/view/2918.. Acesso em: 14 jan. 2025. 

FERRAZ, Alexsander; MOURA DE LIMA, Camila; TAVARES BARWALDT, Eugênia; ANGONESI DE CASTRO, Tanize; DE OLIVEIRA NOBRE, Márcia; QUINTANA NIZOLI, Leandro. Prevalência de Hemoparasitoses em Cães na Região Sul do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, [S. l.], v. 25, n. 5esp., p. 609–612, 2022. DOI: 10.17921/1415-6938.2021v25n5-esp.p609-612. Disponível em: https://ensaioseciencia.pgsscogna.com.br/ensaioeciencia/article/view/9104. Acesso em: 17 jan. 2025. 

FINAMORE, Julia Giese. Estudo retrospectivo de hemoparasitoses em cães da cidade de Itupeva–SP. 2020.Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Medicina Veterinária) – Graduação em Medicina Veterinária, Instituto Federal Goiano. 

JERICÓ MM, NETO JPA, KOGIKA MM. Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos. 1ed, Roca, 2015, 2464p. 

JUNIOR EIS, CORTEZ A, BOTTURA  R, GOMES SGR, AGOPIAN RG, MORAES-FILHO J. Diagnóstico Molecular para hemoparasitoscatendidos no Hospital Veterinário da Universidade de Santo Amaro, São Paulo, SP,Brasil.  Brazilian Journal of Global Health.2021; 1(3):7-11. 

LABARTHE N, PEREIRA MC,BARBARINI O, MCKEE W, COIMBRA CA, HOSKINS J. Serologic prevalence of Dirofilaria immitis, Ehrlichia canis and Borrelia burgdoferi infections in Brazil. Veterinary Therapeutics.2003; 4 (1):7-75.  

LAPPIN, M. R. . Doenças Riquetsiais Polissistêmicas. In: NELSON, R. W., COUTO, C. G.. Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro, Brasil. p 1326-1340. 2015. 

MUNDIM, Érika Cristina de Souza; FRANCISCO, Manoel; SOUZA, João Nelson; ALENCAR, Márcio Anderson Gomes; RAMALHO, Paulo César Dias. Incidência de hemoparasitoses em cães (Canis familiares) de rua capturados pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da cidade de Anápolis-GO. 2008. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/260/26012841009.pdf. Acesso em: 14 jan. 2025. 

NELSON RW, COUTO CG. Medicina Interna de Pequenos animais. 5ed. Rio de Janeiro. Guanabara- koogan; 2015.1512p. 

Sainz Á, Roura X, Miró G, Estrada-Peña A, Kohn B, Harrus S, Solano-Gallego L. Guideline for veterinary practitioners on canine ehrlichiosis and anaplasmosis in Europe. Parasit Vectors. 2015, 4;8:75. 

SILVEIRA  AM, MENEZES GMM, JUNIOR AST, SANTOS ALC, DELFINO AISA. Levantamento de hemoparasitoses em cães e gatos no Hospital Veterinário Dr. Vicente Borelli Aracajú-Sergipe. Pubvet Medicina Veterinária e Zootecnia.2019; 13 (1):1-5.  

TAYLOR MA, COOP RL, WALL RL. Parasitologia Veterinária.4 ed. Rio de Janeiro. Guanabara-koogan;2017.1052p.


1 Discente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu e-mail: 220020991@aluno.unig.edu.br; 20092058@aluno.unig.edu.br,220046203@aluno.unig.edu.br,220037752@aluno.unig.edu.br
2 Docente do Curso de. Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu . e-mail: 0177077@professor.unig.edu.br