ANÁLISE E REFLEXÃO ACERCA DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

ANALYSIS AND REFLECTION ON THE ORGANIZATION OF PEDAGOGICAL WORK WITHIN THE SCOPE OF BASIC EDUCATION

ANÁLISIS Y REFLEXIÓN SOBRE LA ORGANIZACIÓN DEL TRABAJO PEDAGÓGICO EN EL CONTEXTO DE LA EDUCACIÓN BÁSICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202501250755


Maria do Perpetuo Socorro Mattos de Lima


RESUMO

O trabalho pedagógico é um dos mais importantes dentro de uma sociedade, tendo em vista que é a partir dele que os diferentes sujeitos que compõem essa sociedade poderão ser instruídos para que se desenvolvam e possam atuar de forma eficaz em todas as esferas sociais. Por essa razão, compreender como esse trabalho é organizado e quais os agentes nele envolvidos possibilita entender a Educação Básica como um sistema complexo que contempla diferentes sujeitos e distintas possibilidades de atuação. Dessa forma, no presente trabalho tem-se como objetivo promover a análise e reflexão acerca da organização do trabalho pedagógico e tem como ponto de partida as leituras realizadas mediante a pesquisa bibliográfica. Obteve-se como resultados o entendimento de que a organização do trabalho pedagógico envolve uma série de atividades e utilização de inúmeras estratégias e instrumentos pedagógicos e, por isso, deve ser realizada a partir da observância de aspectos legais, normativos e também sociais.

Palavras-chave: Organização do trabalho pedagógico. Professor. Escola.

ABSTRACT

Pedagogical work is one of the most important in a society, since it is through this work that the different subjects that make up this society can be instructed so that they can develop and act effectively in all social spheres. For this reason, understanding how this work is organized and which agents are involved in it makes it possible to understand Basic Education as a complex system that includes different subjects and distinct possibilities of action. Thus, the objective of this work is to promote analysis and reflection on the organization of pedagogical work and has as its starting point the readings carried out through bibliographic research. The results obtained were the understanding that the organization of pedagogical work involves a series of activities and the use of numerous pedagogical strategies and instruments and, therefore, must be carried out based on the observance of legal, normative and also social aspects.

Keywords: Organization of pedagogical work. Professor. School.

RESUMEN

La labor pedagógica es una de las más importantes dentro de una sociedad, considerando que es desde ella que se puede instruir a los diferentes sujetos que integran esta sociedad para que se desarrollen y puedan actuar eficazmente en todos los ámbitos sociales. Por ello, comprender cómo se organiza este trabajo y qué agentes intervienen en él permite entender la Educación Básica como un sistema complejo que contempla diferentes sujetos y diferentes posibilidades de acción. Por lo tanto, el presente trabajo pretende promover el análisis y la reflexión sobre la organización del trabajo pedagógico y tiene como punto de partida las lecturas realizadas a través de la investigación bibliográfica. Los resultados obtuvieron el entendimiento de que la organización del trabajo pedagógico implica una serie de actividades y el uso de numerosas estrategias e instrumentos pedagógicos y, por tanto, debe realizarse respetando aspectos legales, normativos y también sociales.

Palavras-chave: Organização do trabalho pedagógico. Profesor. Escuela.

1. INTRODUÇÃO

O trabalho pedagógico é um dos pilares do funcionamento das instituições de ensino e a forma como é desenvolvido influencia diretamente na qualidade e eficiência dos processos de ensino e aprendizagem. Observa-se que ensinar e aprender exigem um conjunto de habilidades que devem estar articuladas com os objetivos de aprendizagem, por isso, ao se falar em trabalho pedagógico, deve-se considerá-lo como multifuncional (FUENTES; FERREIRA, 2017).

Embora a discussão acerca do trabalho pedagógico não seja recente, os estudiosos das áreas educacionais correlatas ainda não lograram êxito em esclarecer tal conceito (FERREIRA, 2018). Isso ocorre devido à complexidade desse tipo de atividade laboral tendo em vista que possui dimensão social, política, pedagógica, sociointeracional dentre outras.

Muito embora as discussões que englobam a temática envolvam sempre a figura docente, é de suma importância salientar que o fazer pedagógico se concretiza a partir das ações em conjunto da escola, dos pais, dos professores, dos alunos e de toda a comunidade escolar. Nesse sentido, faz-se necessário refletir sobre como a organização do trabalho docente pode contribuir para que haja a participação ativa de todos os envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem.

Ante a isso, no presente trabalho objetiva-se promover uma análise e reflexão acerca da organização do trabalho docente no âmbito da Educação Básica. É importante salientar que a Educação Básica, composta por Educação Infantil, Ensino Fundamental – Anos iniciais e finais – e o Ensino Médio, representa a base do sistema educacional brasileiro e é onde a atuação dos professores se torna mais evidente.

Para que a Educação Básica alcance resultados satisfatórios no Brasil é de suma importância que ao lado do professor sejam também atuantes a família e a escola como um todo. Com isso, entende-se que o professor, apesar da grande importância do trabalho pedagógico desenvolvido, não pode ser entendido como agente principal nos processos de ensino e aprendizagem.

Dessa forma, o presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: Inicialmente, aborda-se a forma como a Educação Básica é dividida no Brasil, evidenciando as características dos principais níveis que a compõem. Posteriormente, versa-se sobre a organização do trabalho pedagógico no âmbito escolar, considerando tanto o professor como a escola. Por fim, discorre-se sobre a organização desse tipo de trabalho do ponto de vista exclusivo da atuação docente, com foco em cada um dos níveis que constituem a Educação Básica no Brasil.

2. METODOLOGIA

A partir de uma metodologia bibliográfica, que consiste no estudo de material já publicado sobre o tema, realiza-se a aproximação entre pressupostos teóricos e empíricos a respeito do trabalho pedagógico com o intuito de compreendê-lo e analisá-lo a partir de um embasamento em livros, artigos, dissertações e teses de autores que se debruçaram anteriormente sobre a temática em questão.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

A educação pode ser dividida em dois níveis: Educação Básica, formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, e Educação Superior. Por sua vez, apresenta como modalidades a Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e a Educação Profissional e Tecnológica, sendo todas essas explicitadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). 

De acordo com Bezerra et al. (2019), a educação infantil representa o primeiro acesso da criança à vida escolar, tendo em vista que atende crianças de 0 a 5 anos na creche, até 3 anos, e na pré-escola, dos 4 aos 5 anos. Dessa forma, as atividades desenvolvidas nesse nível de ensino estão estritamente ligadas ao desenvolvimento infantil, por isso, as metodologias utilizadas têm como ponto de partida a ludicidade, uma vez que a brincadeira é uma atividade natural para a criança, logo, estimula-se que seu desenvolvimento ocorra a partir da utilização de jogos e brincadeiras.

No que se refere ao Ensino Fundamental, trata-se do nível mais extenso e onde são aprendidas e aperfeiçoadas as habilidades de leitura e escrita mediante os processos de alfabetização e letramento. Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o ensino fundamental atende alunos entre 6 e 14 anos e é composto por 9 anos, os quais são divididos em anos iniciais (1º ao 5º) e anos finais (6º ao 9º).

Por sua vez, o Ensino Médio corresponde à fase final da Educação Básica e se caracteriza pela preparação dos alunos para o mercado de trabalho, bem como para o âmbito do Ensino Superior. De acordo com a BNCC, o Ensino Médio se configura como a etapa que mais ocorrem evasões escolares dada a aproximação do jovem à vida adulta e às desigualdades sociais.

Por fim, no que se refere às modalidades da educação, Jardim; Rodrigues; Martins (2020) destacam que a Educação Especial corresponde à integração de alunos com necessidades educacionais nas escolas com o devido acompanhamento pedagógico. Já a Educação Profissional e Tecnológica tem como objetivo contribuir para a formação dos alunos em uma área técnica específica, permitindo que saiam da escola com uma qualificação profissional. Por fim, a EJA corresponde a uma oportunidade às pessoas que por quaisquer motivos que sejam não puderam concluir seus estudos no tempo adequado às etapas da Educação Básica.

O processo de ensino-aprendizagem é complexo e envolve não apenas o ato de dar aulas, mas um conjunto de práticas pedagógicas que convergem para um ponto central: a aprendizagem dos alunos. Dentre os principais instrumentos auxiliares desse processo, podem ser destacados o currículo, o planejamento e a avaliação.

O conhecimento desses instrumentos é de suma importância para a realização da organização do trabalho pedagógico, mas não podem ser considerados sem que se observe a realidade educacional. De acordo com Libâneo (2012, p. 26) o sistema educacional brasileiro tem como discurso de ideal educacional a igualdade, no entanto, “recebe sujeitos muito diferentes entre si”, o que aponta para a necessidade de o trabalho pedagógico ser organizado e orientado de forma articulada com os pressupostos legislativos, educacionais e também sociais.

A organização do trabalho pedagógico deve considerar as práticas pedagógicas como instrumentos que têm por finalidade atender às necessidades de aprendizagem dos alunos em três níveis: escola, ensino e aula. Com isso, observa-se que o trabalho pedagógico é realizado a partir das interações estabelecidas dentro do ambiente escolar (FERREIRA, 2018).

As atividades de ensino desenvolvidas não apenas em sala de aula, mas em todos os espaços nos quais o trabalho pedagógico é realizado, devem considerar os aspectos relacionados às políticas da escola, estarem de acordo com a legislação vigente, bem como em consonância com a realidade escolar. Dessa maneira, ao se falar na organização do trabalho pedagógico o primeiro ponto a ser ressaldo é a importância da gestão escolar uma vez que se constitui como norteamento da forma como as atividades pedagógicas são desenvolvidas em uma instituição de ensino.

Destaca-se que, de acordo com a Constituição Federal Brasileira, promulgada em 05 de outubro de 1988, em seu parágrafo 206, inciso VI, as instituições de ensino público devem obedecer ao princípio da gestão escolar democrática. Assim como os demais princípios constitucionais, o da gestão democrática tem como objetivo promover a igualdade entre os sujeitos, considerando que dentro do processo educativo todos têm igual direito de posicionamento.

A Constituição determinou, no acima mencionado artigo, que a gestão do ensino público deveria ocorrer conforme orienta a lei. Por isso, em 1996, a Lei nº 9.394/96, Lei de Bases e Diretrizes da Educação (LDB), em seu artigo 3º, inciso VIII, reforça que a gestão democrática é um dos princípios da educação brasileira. Por sua vez, no artigo 12, a LDB determina que sejam elaborados os planejamentos pedagógicos das escolas, sendo esses, conforme preceitua o artigo 14 da mesma lei, realizados de acordo com as particularidades de cada instituição, bem como com a participação dos professores, da comunidade escolar e local (BRASIL, 1996).

As determinações constantes nesses artigos são fundamentais para que se compreenda do que trata a gestão democrática e como deve ocorrer a organização do trabalho pedagógico neste âmbito. Assim, observa-se que a gestão democrática pode ser definida como um conjunto de ações que visem atender às necessidades da escola, cujas determinações devem ser realizadas de forma coletiva, oportunizando a todos os envolvidos com a escola e com o ensino participarem de forma ativa da construção do projeto político pedagógico (PPP).

Já no tocante à organização do trabalho pedagógico pelo viés docente, sublinha-se que pode ser realizada de duas maneiras: tradicional ou participativa. No modelo de organização tradicional o professor tem sua autonomia indiscutível, uma vez que todas atividades são pensadas e propostas exclusivamente pelo docente considerando apenas os pressupostos legais e educacionais. Por outro lado, no modelo de planejamento participativo, o professor busca desenvolver um diálogo com seus alunos e com a comunidade escolar, posto que inclui suas perspectivas e acolhe as ideias dos alunos, tornando assim o trabalho pedagógico em um projeto coletivo que melhor atende às especificidades de aprendizagem dos discentes.

O trabalho pedagógico é constituído por etapas muito importantes, dentre elas a avaliação. Avaliar não implica apenas em atribuir nota para um aluno, muito pelo contrário, está relacionado a todo o processo de ensino-aprendizagem, devendo ser considerado tanto os resultados dos alunos quanto dos professores. Com as avaliações o docente pode constatar progressos e dificuldades dos alunos e reorientar o ensino para atender as realidades educacionais e de aprendizagem de cada aprendiz.

Por isso, a avaliação é um processo contínuo formal ou informal. As avaliações formais são objetivas, técnicas e sistemáticas, já as informais são subjetivas, espontâneas e assistemáticas. Outra caraterística importante das avaliações é que cada uma possui uma função diferente (TURINI, 2020).

As avaliações diagnósticas são utilizadas para identificar as possíveis dificuldades de aprendizagem, por isso, devem ser aplicadas no início do processo de ensino. Elas são de fundamental importância para orientação de quais aspectos precisam ser melhor abordados pelo docente para que os alunos possam se desenvolver.

Por sua vez, as avaliações formativas são instrumentos de análise contínua do desenvolvimento dos alunos. Elas são aplicadas no decorrer do processo de ensino-aprendizagem e possibilita que o docente observe em quais aspectos seus alunos apresentam maior ou menor desenvolvimento. Esse tipo de avaliação é primordial para a reflexão sobre a eficácia das metodologias empregadas (TURINI; SANTOS, 2022).

Finalmente, a avaliação somativa ocorre em momentos específicos do processo de ensino, geralmente ao final de cada ciclo, que pode ser bimestre ou semestre, dependendo da organização escolar. Nas produções dos alunos foi possível identificar muito empenho, fruto do quanto gostaram e se envolveram com os temas trabalhados nas salas virtuais de aula. Ela possibilita classificar os alunos em aprovados ou reprovados mediante a atribuição de notas, sendo assim, possui caráter quantitativo.

É importante salientar que a organização do trabalho pedagógico se dá a partir de diferentes dispositivos, incluindo as leis que versam sobre a atuação docente e o Projeto Político Pedagógico, que é construído a partir da relação entre a educação e a realidade educacional na qual a escola está inserida. Logo, os instrumentos aqui mencionados constituem-se como alguns dos que contribuem para a organização e devido desenvolvimento do trabalho pedagógico.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O trabalho pedagógico é de suma importância no processo de ensino e aprendizagem, por essa razão, precisa estar de acordo com o currículo escolar, ou seja, aquilo que de fato os alunos devem aprender nos níveis em que estão matriculados. Sendo assim, quando o trabalho pedagógico e o currículo estão dissonantes, as necessidades educacionais dos alunos não são supridas, devendo, portanto, ser feito um ajuste que considere a realidade educacional dos aprendizes.

Isso não quer dizer que o professor precisa atuar de forma engessada, apenas cumprindo aquilo que for proposto, mas sim que deve ter conhecimento necessário sobre seus alunos para que possa buscar, dentro da proposta do currículo, metodologias que promovam a aprendizagem. De acordo com Libâneo (2012), o currículo corresponde a um elo entre teoria e prática, entre os conhecimentos escolares e a cultura social.

Dessa maneira, compreende-se que para que o trabalho pedagógico esteja alinhado ao currículo escolar é de extrema importância que o professor tenha conhecimento acerca dos dispositivos que regem a organização de sua atuação. Um dos grandes problemas da Educação Básica é a falta de alinhamento entre os conteúdos sistêmicos e as práticas sociais, o que faz com que os discentes questionem a utilidade dos conteúdos abordados em sala de aula para o seu dia a dia.

Portanto, para que a prática docente promova a aprendizagem, faz-se necessário que o docente não forneça sentidos prontos, tampouco que acredite que todos os seus alunos aprendem da mesma forma. A observação das individualidades de aprendizagem é imprescindível na educação para que as necessidades dos alunos sejam realmente atendidas. Por isso, a partir de então enfoca-se na atuação docente nos diferentes níveis que compõem a Educação Básica, que é onde o trabalho pedagógico é desenvolvido, sendo estes, como dito a priori: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.

A Educação Infantil, inicialmente, possuía caráter assistencial, tendo em vista que o foco não era a criança em si, mas sua situação de vulnerabilidade econômica e social (KUHLMANN JR., 2002). De acordo com o autor, a educação infantil não estava centrada no bem-estar da criança, mas em buscar ferramentas para moldá-la à nação que estava sendo consolidada (KUHLMANN JR., 2002).

Em virtude disso, Ujiie; Petrobon (2008) salientam:

A infância, em dado momento histórico, revela-se como um problema social, cuja solução parece fundamental para o país. O significado social da infância circunscrevia-se na perspectiva de moldá-la de acordo com o projeto que conduziria o Brasil ao seu ideal de nação (UJIIE e PIETROBON, 2008, p.291).

De acordo com Mendonça (2012), no Brasil, a educação pública foi iniciada no século XX, porém a pré-escola não possuía um caráter formal, não havia professores qualificados, ficando sob a responsabilidade de voluntários o processo de ensino das crianças. Essa situação começou a ser modificada a partir de 1988, quando a Constituição Federal aponta as crianças como sujeitos de direitos e atribui ao Estado, família e toda a sociedade a responsabilidade pelo desenvolvimento saudável e adequado desses indivíduos, conforme disposto no artigo 205:

Art.205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será provida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).

Conforme observa Kuhlmann Jr (2006) somente tempos depois foi dada ênfase à necessidade de formação de pessoas qualificadas para lidar com a educação infantil. Entretanto, como sublinha o autor, a profissão de professora sempre foi predominantemente feminina, isso porque a escola normal, a qual era destinada à profissionalização, se configuraram como “[…] lugar de educação profissional, de formação de professoras, mas também lugar de educação feminina, de futuras mães” (KUHLMANN JR., 2000, p.13).

De modo geral, além da ampliação da concepção de criança e infância, um dos pontos norteadores para a criação de creches e jardim de infância foi a crescente presença feminina no âmbito laboral. Dessa maneira, as escolas de educação infantil passam a ser compreendidas como ambiente de extensão dos cuidados familiares, ou seja, “[…] elas vêm arraigadas nessas concepções de assistencialismo e de ‘substitutas’ temporárias da família, sendo os professores colocados em um lugar de extensão da figura materna” (PEREIRA, 2012, p. 20).

Entretanto, a inserção das crianças no sistema de ensino era um impasse social, conforme aponta o documento do Ministério da Educação: 

Durante décadas, o avanço dos jardins de infância foi travado por uma polêmica entre os que propunham a instalação daquelas instituições educacionais e os que defendiam que o cuidado da criança pequena era papel da família; entre os que viam nos primeiros anos de vida um período importante para a educação e os que achavam que não se devia gastar dinheiro público nessa idade, e sim investi-lo no ensino primário universal. (BRASIL, 2013, p. 21).

Sublinha-se que o atendimento ofertado nessas instituições valorizava, sobretudo, cuidados físicos, com a higienização e com a alimentação. A preocupação com os aspectos pedagógicos começou a ser priorizada a partir da mobilização e reivindicação de inúmeros pesquisadores de áreas como psicologia e educação.

Além da percepção da criança como ser humano em processo de desenvolvimento e aprendizagem, a mudança na concepção do professor foi de fundamental importância para o avanço da educação infantil. Ocasionou-se formar profissionais éticos, responsáveis e com conhecimentos específicos necessários voltados para a aprendizagem dos alunos. Contudo, vale ressaltar que

a formação docente não pode ser vista apenas como um processo de acumulação de conhecimentos de forma estática, como cursos, teorias, leituras e técnicas, mas sim como a contínua reconstrução da identidade pessoal e profissional do professor” (SILVA e GUIMARÃES, 2011, p. 14).

Dessa forma, destaca-se que o professor deve ser um profissional de formação continuada, que busque sempre compreender as problemáticas que surgem no decorrer de sua jornada enquanto educador, não deixando de entender e cumprir seu papel social.  Cabe, portanto, ao professor estar apto para posicionar-se criticamente frente às realidades e condições de ensino, enfocando, primordialmente no desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos.

Por essa razão, menciona-se:

[…] não basta tão somente que os professores possuem apenas saberes, é imprescindível que tenham tanto saberes quanto competências, pois: Saberes são conhecimentos teóricos e práticos necessários para o exercício profissional, competências são as qualidades, capacidades, habilidades e atitudes relacionadas aos conhecimentos teóricos e práticos e que permitem o exercício adequado da profissão. (LIBÂNEO, apud SILVA; GUIMARÃES, 2011, p. 15).

Sendo assim, destaca-se que é papel do professor que atua no âmbito infantil auxiliar seu aluno na construção de conhecimentos a partir daquilo que é fundamental na natureza da criança: a ludicidade, “entendida na sua perspectiva de liberdade, prazer e do brincar enquanto condição básica para promover o desenvolvimento infantil” (SILVA; GUIMARÃES, 2011, p. 14).

Angotti (2006) ressalta que a prática docente 

deverá estar fundamentada na efetivação de um cuidar que promova educação, e de uma educação que não deixe de cuidar da criança, de atendê-la em suas necessidades e exigências essenciais desde a sua mais tenra idade em atividades, espaços e tempos de ludicidade (ANGOTI, 2006, p. 19).

A Educação Infantil pode ser apontada como a base do sistema educacional, tendo em vista que a escola se configura como espaço social no qual as crianças desenvolvem além de conhecimentos sistêmicos, conhecimentos de cunho social, que o auxiliam durante toda sua caminhada escolar.

Já no que concerne ao Ensino Fundamental, sublinha-se que com nove anos de duração, esta fase escolar atende alunos dos 6 aos 14 anos.  Os anos iniciais contemplam os anos do 1º ao 5º, cuja faixa etária dos alunos é de 6 aos 10 anos (BRASIL, 2017). Destaca-se que anteriormente, o ensino fundamental tinha duração apenas de 8 anos, o que somente foi modificado após a Lei 11.274, em 2006, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, nº 9394, lei de 1996. 

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), nos anos iniciais do Ensino Fundamental devem ser trabalhados recursos pedagógicos que valorizem situações lúdicas de aprendizagem, ampliando as experiências vivenciadas pelos alunos na Educação Infantil (BRASIL, 2017). Nessa fase são desenvolvidas a comunicação oral e o sistema da escrita alfabética, signos matemáticos, registros artísticos, midiáticos e científicos e as formas de representação do tempo e do espaço. Nos anos iniciais as crianças adquirem autonomia intelectual, compreensão de normas e valores sociais, desenvolvendo com mais clareza noções de cidadania sem a necessidade de imposição para isto (BRASIL, 2017).

Ainda segundo a BNCC, nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental o foco da prática pedagógica deve ser no sentido de promover a alfabetização dos alunos. Entretanto, a alfabetização é um tema que pode gerar controvérsias no âmbito teórico, acadêmico e pedagógico, isso porque alguns professores a compreendem como a capacidade de ler e outros como a junção entre as capacidades de leitura e interpretação.

Segundo Soares (2011) o trabalho com a alfabetização demanda o conhecimento de que esse processo é complexo e que envolve não apenas as capacidades de decodificação e codificação, mas também de interpretação das informações contidas nos textos. Por sua vez, Oliveira (2011) arte da premissa que existe um entendimento equivocado acerca da alfabetização, para ele, ler não é sinônimo de compreender, dessa forma, a leitura é “[…] basicamente, a capacidade de identificar automaticamente as palavras” (OLIVEIRA, 2011, p.377). 

Frente às duas compreensões do processo de alfabetização acima expostas, pode-se refletir sobre as dificuldades apresentadas pelos alunos no decorrer do Ensino Fundamental. Partindo do entendimento de Oliveira (2011), o professor, ao alfabetizar, deve priorizar os processos de codificação e decodificação. Já segundo a visão de Soares (2011), os referidos processos devem convergir para que os aprendizes consigam compreender aquilo que leem. Com isso, percebe-se que a concepção de alfabetização, bem como de linguagem, influencia diretamente na prática docente e no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que os métodos, os materiais e as avaliações são direcionados conforme a concepção adotada pela escola e pelo professor. 

Ryle (1979) discute a questão do ensino e da aprendizagem sob a perspectiva de que ensino é diferente de treinamento. Para ele o ensino através de conteúdos prontos e finalizados, com base na memorização, não pode ser chamado de ensino e aprendizagem e, sim, de treinamento, ainda que esse indiscutivelmente seja parte desse processo de ensinar e aprender. 

Ao criticar o processo de treinamento e memorização como base do processo de ensino-aprendizagem, Ryle (1979) propõe, em contraposição, a ideia de ensinar a fazer algo e aprender a fazer algo no sentido de desenvolver as capacidades e habilidades dos educandos. Nesse caso, o ensino seria centrado na aquisição de capacidades, de estratégias e de soluções eficientes. Em outras palavras,

a tarefa primordial do professor deveria consistir, precisamente, em fazer com que seus alunos avançassem para além de suas instruções e descobrissem por si mesmos coisas novas; isto é, seria conseguir que eles pensassem por conta própria. (RYLE, 1979 p.107).

Para tanto, o processo de ensino-aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental deve ser direcionado sob a perspectiva da ludicidade. O aprender a fazer algo, apontado por Ryle (1979), deve considerar os benefícios dos alunos aprenderem brincando. Sobre a ludicidade, Piaget (1978) afirma que a ludicidade está presente na vida da criança e pode ser atrelada a cada uma das fases de desenvolvimento. É a partir do ato de brincar que o aluno poderá assimilar o que está sendo proposto mediante a utilização de estruturas mentais já existentes ou desenvolvidas durante o processo criado na realização de jogos.

Antunes (2001) propõe que para que exista em sala de aula uma aprendizagem significativa é necessário desenvolver algumas competências como por exemplo “dominar plenamente a leitura e a escrita, lidando com seus símbolos e signos” (ANTUNES, 2001, p. 24), “Perceber as múltiplas linguagens utilizadas pela humanidade” (ANTUNES, 2001, p. 24) e “Conhecer, compreender, interpretar, analisar, relacionar, comparar e sintetizar dados, fatos e situações do cotidiano” (ANTUNES, 2001, p .27). Além de “Saber localizar, acessar, contextualizar e usar melhor as informações disponíveis” (ANTUNES, 2001, p. 33). 

Sublinha-se que a BNCC está estruturada em áreas de conhecimento que possuem competências e habilidades que correspondem àquilo que os aprendizes precisam aprender em cada etapa, como a alfabetização nos anos iniciais do Ensino Fundamental, por exemplo. No entanto, para que essas competências e habilidades sejam de fato desenvolvidas é necessário em um primeiro momento pensar, definir e aplicar estratégias práticas que permitam a inserção dos alunos nesse tipo de aprendizagem, na qual o aluno é considerado parte integrante e atuante.

Dessa forma, pode-se apontar que a educação nos anos iniciais do Ensino Fundamental deve ser ocorrer de forma progressiva, promovendo a consolidação das aprendizagens anteriores, adquiridas na Educação Infantil, e pela ampliação das práticas de linguagem e da experiência estética e intercultural das crianças, considerando tanto seus interesses e suas expectativas quanto o que ainda precisam aprender (BRASIL, 2017, p. 59).

No tocante aos anos finais do Ensino Fundamental, que ocorre entre a faixa dos 11 a 14 anos de idade, o trabalho pedagógico deve ser ainda mais efetivo posto que há uma maior preparação para que o aluno possa avançar fases em sua vida escolar. Nessa etapa, o professor deve estar atento não apenas aos conteúdos sistêmicos, mas também a forma como as mudanças próprias da faixa etária atendida refletem no desenvolvimento do aluno como um todo.

É importante lembrar que a tarefa da escola, além de pedagógica, é social. Dessa maneira, em todas as fases da Educação Básica a atuação docente deve estar organizada de forma a contribuir com o desenvolvimento do aprendiz. No entanto, quando se fala em etapas da vida humana, é nítido que a adolescência é uma das fases de maior impacto na vida do ser humano já que este necessita começar a enxergar o mundo de uma forma mais racional e crítica do que antes fazia sem que se sobrecarregue com questões que ainda não pertencem totalmente a ele por ainda estar em processo de formação de sua identidade.

A partir do 6º ano, há uma mudança radical na forma como os alunos se relacionam com o corpo docente e a escola. Se antes, nos anos iniciais, a família era mais ativa e participativa pela falta de autonomia com que muitas vezes são tratados os alunos menores, a partir dessa fase os alunos passam a ser estimulados a terem mais responsabilidade com seu tempo, seus estudos, suas atividades. Isso não significa que a família deixa de acompanhá-los, mas evidencia-se uma caminhada mais autônoma que pode ser observada, por exemplo, na realização de trabalhos em grupos, nos quais os próprios alunos aprendem a se organizarem para atuarem em conjunto.

Segundo Zabala (1998) o trabalho docente implica na identificação de fatores que influenciam o crescimento do aluno, por isso, a organização desse ofício deve considerar a função da escola e, mais que isso, o papel social que o próprio educador desempenha ao longo de sua atuação. Conforme explica o autor, faz-se necessário um constante investimento na melhoria da prática docente, que deve ser permeada pela autoavaliação e reflexão.

Nesse sentido, Zabala (1998, p. 15) salienta:

Se entendemos que a melhora de qualquer das atuações humanas passa pelo conhecimento e pelo controle das variáveis que intervêm nelas; o fato de que os processos de ensino/aprendizagem sejam extremamente complexos – certamente mais complexos do que qualquer outra profissão – não impede, mas sim torna mais necessário, que nós, professores disponhamos e utilizemos referenciais que nos ajudem a interpretar o que acontece em aula. Se dispomos de conhecimentos desse tipo, nós o utilizaremos previamente ao planejar, no próprio processo educativo e, posteriormente, ao realizar uma avaliação do que aconteceu.

Os conhecimentos essenciais à prática docente são ainda mais evidenciados nos anos finais do Ensino Fundamental, tendo em vista que há uma divisão da atuação em áreas de conhecimento. Se do 1º ao 5º ano o professor, mesmo tendo que lidar com várias disciplinas, atua com uma ou duas turmas e consegue formar laços maiores com os alunos devido à convivência mais exclusiva, nos anos finais há a limitação de docência de apenas uma disciplina, porém as turmas com as quais o professor irá se relacionar são multiplicadas.

Isso exige que o trabalho docente seja ainda mais planejado, uma vez que a cada turma em que atua, o professor adentra em um universo diferente. Dessa forma, a organização pedagógica nos anos finais do Ensino Fundamental é desafiadora e exige uma postura profissional crítica, mas sobretudo humanizada. O professor atuante neste segmento necessita de um olhar ainda mais atento para as fases de desenvolvimento dos seus alunos a fim de observar, testar, analisar quais são as ferramentas pedagógicas que melhor contribuem para a formação acadêmica, crítica, social e muitas vezes emocional do seu alunado.

A educação é um sistema complexo que funciona em uma espécie de espiral. A cada nível, tem-se preocupações distintas e dilemas que tanto o professor como o aluno necessitam lidar para que o processo de ensino-aprendizado ocorra de forma eficiente convergindo de fato para a aprendizagem do aluno. No Ensino Médio, que dura três anos, são atendidos alunos na faixa etária entre os 15 e 18 anos e são intensificadas ainda mais todas as ações desenvolvidas anteriormente com foco na preparação do adolescente para o futuro.

Conforme chamam atenção os autores Costa; Oliveira (2011) o Ensino Médio é uma das etapas que apresenta maiores índices de evasão escolar. Isso ocorre devido a uma série de fatores que variam desde a diminuição do acompanhamento familiar até o aumento das responsabilidades sociais que os indivíduos passam a ter que lidar conforme se aproximam da vida adulta.

Ao refletir sobre o trabalho docente no Ensino Médio é importante analisar como o adolescente é visto nos dias atuais. Caso a visão social deste sujeito ainda esteja relacionada à aquisição e produção de mão de obra, tal como entendida décadas atrás, os métodos aplicados podem ser classificados como tradicionais, em que a educação é orientada apenas pela transmissão de conhecimentos. Por outro lado, se observado em sua totalidade, como agente social, os métodos de ensino devem estar voltados para a promoção de uma educação reflexiva, social e que possibilita um posicionamento crítico frente a sociedade na qual o aluno está inserido.

Para atuar no âmbito do Ensino Médio, faz-se necessário o entendimento de que o público-alvo desse segmento se diferencia em muitos aspectos das crianças, portanto, possuem sua própria forma de aprender. Ainda assim, também não se deve considerar o adolescente como adulto e sobrecarregá-lo com as pressões de ter que escolher como gerenciar a sua vida desde então. Logo, observa-se que a prática pedagógica mais uma vez deve estar pautada no reconhecimento dos aspectos próprios da fase em que se encontram os alunos.

Muitas vezes, o estresse e a rotina extraescolares dos alunos que atuam no Ensino Médio prejudicam o processo de ensino-aprendizagem. Isso implica em um grande desafio para o docente, que necessita compreender que o grupo de alunos atendido nesse segmento possui sua própria maneira de se relacionar com o mundo e o conhecimento. Destarte, faz-se necessário que o docente considere o contexto de ensino no qual seus alunos estão inseridos, buscando promover um processo de aprendizagem aprazível, no qual os alunos se sintam como protagonistas na construção dos conhecimentos.

A organização do trabalho pedagógico no Ensino Médio é de fundamental importância para que os alunos sejam estimulados a prosseguirem nos estudos, quer seja em um âmbito acadêmico ou profissional. Segundo Mesquita (2018) é possível observar que muitos adolescentes, e também a própria sociedade, possuem inseguranças quanto à função efetiva do Ensino Médio na vida dos aprendizes. 

Isso evidencia um problema amplamente discutido ao longo da Educação Básica que é a necessidade de estimular a compreensão acerca da função social da escola e de como o conhecimento nela adquirido contribui para o cotidiano dos alunos. Mesquita (2018) expõe que no Ensino Médio as indagações sobre a vida, sobre a sociedade e sobre os papeis sociais se tornam ainda mais evidentes e que o trabalho docente perpassa pela função de atribuir significados palpáveis ao fazer pedagógico.

Não é incomum que ocorram questionamentos entre os alunos sobre a aplicação dos conteúdos sistêmicos em situações do cotidiano. Isso ocorre devido à falta de uma clareza entre as funções do Ensino Médio e as vivências dos aprendizes. Nesse sentido, Mesquita (2018) salienta que o trabalho pedagógico deve ser construído a fim de integrar o aluno e suas experiências de vida, sua cultura, no contexto escolar, sem criar segregação entre os ambientes. Conforme a autora, esta etapa é de suma importância para que a visão de mundo e o senso crítico dos adolescentes sejam desenvolvidos e adquiram múltiplos significados.

Conforme ensina Freire (1999), o homem é um ser social que aprende mediante as relações sociais que constroi. Nesse sentido, a Educação Básica deve possibilitar a descoberta, o impulso a construir novos horizontes e permitir que tanto educador como educando possam evoluir juntos, logo, na medida em que aprendem possam também ensinar e vice-versa. Isso requer que o professor aprenda a se relacionar de forma eficiente com o seu alunado.

Mesquita (2018) defende e corrobora o que antes foi ensinado por Freire (1999): o trabalho pedagógico envolve relacionamento entre os sujeitos. O docente, principalmente atuante no Ensino Médio, necessita adotar uma postura de mediação, isto é, de colaboração com o processo de ensino que o aprendiz desenvolve. Para tanto, faz-se necessário que seja capaz de reconhecer como o processo de ensino-aprendizagem é construído por determinado público, o que envolve um bom relacionamento com os alunos representado pela troca mútua de experiências e saberes.

Ferrarezi Jr. (2014) explica que a escola é, estruturalmente e culturalmente, um lugar de silenciamento. Ao longo da história da educação sempre foram feitas imposições sobre os alunos. Na medida em que a sociedade evoluiu observou-se que esses métodos não traziam benefícios para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, sendo necessário permitir que os alunos atuem como sujeitos ativos na construção do conhecimento.

Nesse sentido, uma das formas como o trabalho pedagógico pode ser realizado no Ensino Médio é aquele pautado no diálogo com os alunos, procurando envolvê-los no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que os aprendizes são sujeitos ativos que tanto aprendem enquanto ensinam, simultaneamente. Além disso, pode trabalhar o currículo a partir das metodologias ativas, que têm como objetivo promover a participação dos alunos e desmistificar a ideia de ensino verticalizado, no qual apenas o professor é detentor do saber. 

Portanto, para que a prática docente promova a aprendizagem, faz-se necessário que o docente não forneça sentidos prontos, tampouco que acredite que todos os seus alunos aprendem da mesma forma. A observação das individualidades de aprendizagem é imprescindível na educação para que as necessidades dos alunos sejam realmente atendidas e deve ser um dos pontos centrais na organização do trabalho pedagógico.

5. CONCLUSÃO

A organização do trabalho pedagógico (OTP) se configura como o liame entre a prática educativa e o desenvolvimento de todas as atividades que possibilitam o devido funcionamento da instituição escolar. Nesse sentido, sublinha-se que a abordagem da temática neste trabalho possibilitou compreender a importância da OTP não apenas no âmbito laboral, mas também no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que a devida organização contribui para que o docente atue de maneira mais eficiente e que os alunos se desenvolvam de modo efetivo.

Ressalta-se que a organização do trabalho pedagógico tem um papel fundamental na promoção das atividades que envolvam toda a comunidade escolar, uma vez que serve como base para que haja uma maior aproximação entre a educação, objeto central das práticas pedagógicas, e os sujeitos envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem. Portanto, considerando que foi possível compreender que a organização do trabalho pedagógico contribui para o desenvolvimento deste tipo de atuação, na qual tanto alunos e professores quanto os demais colaboradores da instituição atuam em conjunto em prol do principal objetivo da educação: a aprendizagem efetiva dos alunos.

A prática docente, antes de tudo, deve estar pautada no nível de aprendizagem dos alunos e nas suas possíveis dificuldades. Dessa forma, em cada uma das etapas de ensino há diferenças no que se refere ao trabalho do professor, enquanto nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio as disciplinas são estudadas com professores diferentes, com formação específica, nos anos iniciais há apenas um professor por turma.

Evidenciou-se a partir das discussões aqui propostas que o trabalho pedagógico deve ser organizado a partir da visão que se tem dos alunos, da escola, do professor e das funções sociais que todos os sujeitos que participam desse processo. Isso implica o conhecimento acerca da realidade educacional na qual todos estão envolvidos, tendo em vista que conforme muda-se os sujeitos, muda-se também o ambiente de aprendizagem e a forma como o processo de ensino ocorre.

A Educação Básica corresponde a uma etapa obrigatória da vida dos sujeitos e a escola se constitui como o principal ambiente social que os aprendizes frequentam durante o seu processo de desenvolvimento, com isso, enfatiza-se a importância de que o trabalho pedagógico seja organizado de forma eficiente e que seja atribuído a este uma significação social que agregue valor ao processo de ensino e aprendizagem, valor esse que embora todos saibam que existe, muitas vezes não se torna nítido durante o percurso escolar do aluno,

Uma das grandes problemáticas do ensino brasileiro é permeada pela falta de correlação entre a escola e a vida cotidiana. Nesse sentido, é extremamente importante que o trabalho pedagógico englobe as diferentes realidades educacionais e considere os sujeitos tal como são: únicos e, ao mesmo tempo, plurais. Isso implica que a organização deste trabalho ocorra de forma atrelada aos currículos, mas também que possa ser flexível às variações que envolvem cada realidade de ensino.

REFERÊNCIAS

ANGOTI, M. (Org.), Educação infantil: Para quê, Para quem e Por quê? Campinas: editora Alínea, 2006. 

ARIÉS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1978.

BEZERRA, W. M.; RIBEIRO, L. E. S.; MOREIRA, P. R. S.; DUARTE, J. M. Níveis e modalidades da Educação Brasileira após a LBD 9394/96. VI CONEDU, 2019.

BRASIL.  Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Dispõe sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF: MEC, 1996

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. A educação infantil nos países do MERCOSUL: análise comparativa da legislação / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. — Brasília : MEC/SEB, 2013.

Educação, Ministério e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental; Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

Ferrarezi Jr. C. Pedagogia do silenciamento: a escola brasileira e o ensino de língua materna. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.

FERREIRA, L. S. Trabalho Pedagógico na Escola: do que se fala? Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 591-608, abr./jun. 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/2175-623664319. Acesso: 25 nov 2024.

FUENTES, R. C.; FERREIRA, L. S. Trabalho pedagógico: dimensões e possibilidade de práxis pedagógica. PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 35, n. 3, p. 722-737, jul./set. 2017. DOI: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/index.

JARDIM, J.; RODRIGUES, L. B; MARTINS, C. S. L. Níveis e Modalidades de ensino uma síntese crítica e reflexiva. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 11, n. 1, 14 fev. 2020.

KISHIMOTO, Tizuko M. (Org.): Jogo, brinquedo, brincadeira, e a educação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

KRAMER, S. S. Propostas pedagógicas ou curriculares de educação infantil: para retomar o debate. Pro-Posições, v.13, n.38, p.65-82, maio/ago. 2002.

KUHLMANN JR. M. M. A circulação das ideias sobre a educação das crianças; Brasil, início do século XX. In: KUHLMANN JR., M.; FREITAS, M. C. de. (Orgs.). Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002.

KUHLMANN JR. M. M. Histórias da educação infantil brasileira. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n.14, p.5-18, 2000. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=27501402  Acesso em: 27 set 2020.

KUHLMANN JR. M. M. Infância e educação Infantil: uma abordagem histórica. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2010.

LIBÂNEO, J. C. O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 13-28, 2012.

MENDONÇA, Fernando Wolff. Teoria e Prática na Educação Infantil. Maringá, PR: UNICESUMAR, 2013.

MESQUITA, S. S. de A. Professor, ensino médio e juventude: entre a didática relacional e a construção de sentidos. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio; Numa, 2018.

PEREIRA, Karine Ribas. A que papel o professor de educação infantil vem sendo convocado? Aspectos do desenvolvimento da criança frente a escolarização. Porto Alegre / RS 2012. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/49814/000850610.pdf?sequence=1 . Acesso em: 25 nov 2024.

PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Trad. Por Dirceu Accioly Lindoso e Rosa Maria Ribeiro da Silva. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976.

SANTOS, S. M. P. Brinquedoteca: A criança o adulto e o lúdico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

SILVA, F. C. F. GUIMARÃES, M. C. M. O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL: CUIDAR OU ENSINAR? UM NOVO OLHAR. 2011. Disponível em: http://www.ceped.ueg.br/anais/ivedipe/pdfs/didatica/co/CO%20461-1150-1- SM[1].pdf.  Acesso em: 24 set 2020.

TURINI, M. H.; SANTOS, M. C. A organização do trabalho pedagógico como prática transformadora na educação básica. EDUCA – Revista Multidisciplinar em Educação, Porto Velho, v. 09, p.1-28, Jan., 2022.  e-ISSN: 2359-2087. DOI:10.26568/2359-2087.2022.6537.

TURINI, MateusHenrique. Dos fundamentos à prática de um ensino histórico-crítico de filosofia. 2020. 168 p. Dissertação (Mestrado em Filosofia) –Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos –SP, 2020. Disponível em: <https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/12669>. Acesso em: 18 abr. 2024.

UJIIE, N. T.; PIETROBON, S. R. G. O movimento a favor da infância no Brasil. Cadernos do CEOM – Memória, História e Educação. Chapecó, SC, ano 21, n. 28, 2008. Disponível em: Acesso em: 24 set 2020.

ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998.