REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202501201649
Jackeline Lourene do Sacramento¹; Deniane de Araújo Garcez²; Vanessa Soares da Silva³; Silvana Damascena Lavra Ribeiro⁴; Apoliene Andrade Rocha Miranda⁵; Orientadora: Profª Dra. Luciana Rocha Cavalcante⁶.
RESUMO
Diante das rápidas transformações na sociedade, abrangendo aspectos políticos, culturais e sociais impactadas pelo avanço das tecnologias digitais, a prática pedagógica docente deve estar alinhada à saberes e habilidades que satisfaçam as demandas de aprendizagem e desenvolvimento contemporâneos. As tecnologias digitais revolucionaram as formas de se relacionar e de realizar tarefas, gerando um novo perfil de estudantes da geração digital. Entre as inovações pedagógicas, as metodologias trazem em sua proposta a maior participação do estudante na construção do conhecimento. Diante disso, a pesquisa tem como objetivo refletir sobre as potencialidades e desafios da Sala de Aula invertida como metodologia inovadora de aprendizagem. A pesquisa é bibliográfica, de natureza descritiva, sendo os dados interpretados por uma abordagem qualitativa. Os dados foram consultados a partir de artigos científicos publicados nos repositórios digitais Capes, Google Scholar e Scientific Eletronic Library Online. Os resultados indicaram que o método Sala de Aula Invertida leva a maior protagonismo discente diante da aprendizagem, uso de recursos didáticos diferenciados, potencialidade para a identificação das reais necessidades educacionais do estudante e fortalecimento de vínculos entre os discentes e docente. O desafio de tal método é a plena capacitação docente para o planejamento da Sala de Aula Invertida e motivar os estudantes para maior engajamento nas atividades.
Palavras-chave: Sala de Aula Invertida. Metodologias Ativas de Aprendizagem. Aprendizagem Significativa.
1 INTRODUÇÃO
A sala de aula invertida parte do conceito de uma nova abordagem metodológica afim de contribuir com o processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim, a pesquisa foi realizada para a compreensão desse novo modelo de ensino e na eficácia para superar as dificuldades de aprendizagem advindas do modelo tradicional das aulas expositivas.
Os objetivos e as práticas da educação passam por transformações de acordo com as características sociais, políticas e culturais das sociedades. A revolução tecnológica evidenciou novas formas de realizar tarefas e de se relacionar, impactando em todas as dimensões da vida em sociedade. Para a educação, revelou a ineficácia dos métodos de ensino que priorizam a transmissão do saber por memorização e a passividade do estudante, pois, os jovens têm acesso a inúmeras informações, de forma que o professor já não é o único detentor do conhecimento. Diante disso, parte do seguinte questionamento: quais são as potencialidades e desafios da Sala de Aula Invertida como inovação dos métodos de aprendizagem?
O tema é atual e emergente, pois, as tecnologias já estão sendo utilizadas como recursos pedagógicos. Os benefícios conferidos pelas tecnologias são evidenciados em diversos estudos experimentais, em pesquisa-ação e relatos de experiência, entretanto, é necessário considerar não somente a aprendizagem imediata, mas o impacto do uso das tecnologias para o desenvolvimento integral do sujeito, já que a educação deve ser pensada para a formação humana em todos os seus aspectos.
O objetivo da pesquisa é refletir sobre as potencialidades e desafios da Sala de Aula invertida como metodologia inovadora de aprendizagem. Os objetivos específicos são: apresentar as transformações na educação e na demanda de aprendizagem a partir de novos perfis dos estudantes; descrever o conceito de metodologia ativa e sala de aula invertida e refletir sobre as potencialidades e desafios de tal método.
A pesquisa é bibliográfica, de natureza narrativa, qualitativa. Para chegar à resposta do problema de pesquisa foram consultados artigos científicos publicados nos repositórios digitais da Capes, Google Scholar e Scientific Eletronic Library Online. O artigo foi estruturado em três seções de desenvolvimento. Na primeira seção foi apresentado o quadro de mudanças na educação e no perfil do estudante impactados pelo avanço das tecnologias digitais, bem como, o conceito de metodologias ativas e sua relação com as teorias da aprendizagem. Na segunda seção explana-se sobre o conceito de metodologia ativa, com foco na Sala de Aula Invertida e, na terceira seção são expostos os resultados da literatura consultada evidenciando as potencialidades e os desafios da Sala de Aula Invertida como método inovador de ensino.
2 TRANSFORMAÇÕES NA EDUCAÇÃO A PARTIR DAS NOVAS TECNOLOGIAS DIGITAIS
O uso das tecnologias para a aprendizagem, como os ambientes virtuais, os aparelhos móveis e os aplicativos, estão dando um outro direcionamento para o ensino. Cortezzo et al (2018) afirma que desde 2006 os espaços educacionais estão sendo pauta de debates na busca de soluções para o seu remodelamento para atender as necessidades dos estudantes. Apesar das salas de aulas manterem o aspecto físico, há inúmeras possibilidades a se explorar em seu ambiente:
[…] a ideia de que há dois papéis distintos para professores e estudantes é hoje contestada e o processo de ensino-aprendizagem vem sendo considerado como um caminho de mão-dupla, com mudança do foco do ensino, para a aprendizagem (CORTEZZO et al, 2018, p.58).
Sendo assim, os espaços educacionais estão sendo ampliados, o que colabora para que a educação esteja presente em todos os ambientes e situações da vida do indivíduo, é uma forma de transpor as barreiras da educação fragmentada. O processo se dá de forma mais interdisciplinar e interativa, com o aluno tendo acesso a outros meios de pesquisa que, por vezes, foge da disciplina em foco e agrega um conhecimento rico em adaptabilidade para as situações reais (DIESEL; BALDEZ; MARTINS, 2017).
As gerações que convivem desde a infância com as tecnologias digitais demonstram comportamento e aprendizagem diferentes das gerações e pessoas que não estão tão expostos às ferramentas tecnológicas. As práticas de interatividade deixam seu caráter cumulativo, tornando-se reativo e bidirecional. A partir do domínio das tecnologias digitais iniciou-se um novo período civilizatória marcado pelas transformações no modo de executar tarefas e se relacionar a partir da tecnologia. A capacidade das tecnologias digitais de rápido processamento, compatibilidade entre os sistemas e armazenamento gerou maior dinâmica e fluidez para a informação. Há, então a remodelação entre a passividade receptiva das informações, para a fusão do emissor/receptor a partir da intervenção do espectador (ALVES, 2007).
A geração digital interage de forma simultânea em diferentes ambientes virtuais, em redes sociais, em fóruns e manifestações online. Participa ainda de jogos e simuladores da vida real, gostam de fotografar situações do cotidiano, editar vídeos e textos, além de assumirem diferentes personalidades para que possam interagir com seus grupos virtuais. São pessoas multifuncionais, porém, por vezes, todo o seu desempenho e desenvoltura se fecha nos ciclos sociais virtuais (SENAC, 2013).
Para Alves (2007) os desafios para tornar a aprendizagem significativa para a geração digital começa no planejamento. O planejamento deve ser realizado a partir da imersão do pesquisador/docente no mundo dos estudantes para que possa capturar as particularidades que fazem parte de seu cotidiano e os espaços que se configuram em oportunidades de aprendizagens.
O docente deve familiarizar-se e capacitar-se para o pleno uso dos recursos tecnológicos, como os editores de texto, fóruns e listas de discussão, navegadores da internet, redes sociais, correios eletrônicos, entre outros diversos recursos que podem ser usados na construção de ambientes de aprendizagem:
Essas tecnologias podem ampliar as nossas potencialidades cognitivas e pedagógicas, ressignificando assim nosso papel de mediador do processo de construção do conhecimento, agora em um outro espaço de aprendizagem: o espaço on-line. É algo complexo para muitos de nós, visto que essa lógica é muito nova e em alguns casos, muito distante de nossa cultura e dia-a-dia (ALVES, 2007, p.8)
Outro aspecto relevante que deve ser considerado é a criação e escolha dos materiais didáticos que serão utilizados em sala de aula. Diante da interação com os materiais selecionados, deve-se atentar pela ciberescrita, considerando que a geração digital, já interage com muita frequência no mundo virtual, estando familiarizados com uma escrita híbrida cheia de simbologias que podem ser do desconhecimento do professor (ALVES, 2007).
A avaliação é outra etapa do ensino que deve passar por questionamentos e inovações. A avaliação é um eficaz medidor de desempenho e indicador de mudanças a serem realizadas, bem como, compreensão da aptidão do indivíduo para a realização de determinada tarefa, porém, é necessária a apropriação de seus conceitos, possibilidades e limitações para que possa ser aplicada com eficácia (BOTH, 2013).
Assim como a escolha do conteúdo e sua aplicação é importante, a forma como será feita a avaliação dos alunos também não foge à regra. A reflexão nos meios de qualificar uma aprendizagem como eficiente e dentro da média esperada é imprescindível para que se complete o ciclo de ensino (MORAES; ALAVARSE, 2011).
2.1 METODOLOGIAS ATIVAS E TEORIAS DA APRENDIZAGEM
Metodologia é o caminho percorrido para alcançar determinado objetivo, ou seja, é a forma que se escolhe para ampliar o conhecimento sobre determinado assunto, fato ou fenômeno, “sendo uma série de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para atingir determinado conhecimento” (ZANELLA, 2013. p. 19).
Em meados de 1900, o pensador John Dewey (2010), propôs o método Project Based Learning (aprender fazendo), a proposta de Dewey é estimular a autonomia e criticidade dos alunos, que aprendem na prática, solucionando problemas:
[..] as diretrizes para o desenvolvimento dessa metodologia são: escolha prévia dos números de participantes da equipe e determinação do período de realização do projeto; escolha do tema, com objetivo didático-pedagógico, entre alunos e professores abrangendo questões de múltiplos interesses; uso de recursos, sendo eles de propriedade do aluno ou das instituições de ensino; e por último a socialização dos resultados dos projetos (MENDES et al, 2018, p. 3-4).
Dewey (2010) valoriza a experiência e o caminho percorrido na obtenção do conhecimento e, ainda, a necessidade de oferecer problemas aos alunos para despertar-lhes a curiosidade, logo aumentando seu interesse, sua aplicação e difusão, principalmente nas universidades. A concepção da aprendizagem focada no aluno, além de um grande passo para a educação, sua aplicação tem potencial revolucionário para o ensino, pois permite que o aluno se torne protagonista no processo de ensino-aprendizagem, desenvolvendo e aprimorando novas habilidades, contribuindo para a formação reflexiva e autônoma dos alunos.
A metodologia ativa é uma estratégia educativa que pretende focar no aluno o processo de ensino-aprendizagem, de modo que o aluno participando como protagonista construa o conhecimento com a mediação do professor. Dessa forma, o processo de aprendizagem torna-se mais significativo e o aluno é capaz de aprender de maneira mais efetiva, pois atua como protagonista de seu ensino (BACICH; MORAN, 2018).
As metodologias ativas valorizam o pensamento crítico e reflexivo, que resultam em maior interesse dos alunos, e, por conseguinte, otimiza a aprendizagem rompendo com a educação fragmentada. Existem variados tipos de metodologias ativas, sendo algumas mais eficazes em algumas disciplinas do que outras, em comum, nenhum método prioriza a competição entre alunos ou é conduzida por critérios de avaliação externa, mas sim, possibilidade a prática pedagógica problematizadora, colocando os alunos “diante de problemas e/ou desafios que mobilizam o seu potencial intelectual, enquanto estuda para compreendê-los e ou superá-los” (BARBEL, 2011, p.34).
Bacich e Moran (2018) explicam que desde o nascimento do ser humano ele aprende ativamente, sendo as aprendizagens adquiridas e desenvolvidas ao longo da vida. Na concepção contemporânea da educação, nota-se que, apesar da aprendizagem por transmissão ter o seu valor, é por meio dos questionamentos e experimentações que o ensino se torna significativo, permitindo que haja a compreensão profunda e ampla sobre o tema de estudo.
Sanches, Batista e Marcelino (2021) explicam que ao inverter a lógica do ensino tradicional, a metodologia ativa Sala de Aula Invertida apoia-se nas teorias da aprendizagem significativa de Ausubel e, ainda nas teorias da aprendizagem centrada no aluno de Piaget e Vygotsky. O processo de construção do conhecimento demanda a representação, a percepção e integração. Vygotsky (2001) afirma que o aprendizado está ligado a integração do indivíduo com o meio sócio-histórico-cultural, então a aquisição de conhecimento se dá por meio das interações do sujeito com o meio.
Em seus estudos concluiu que o pensamento e a linguagem nas crianças se desenvolvem separadamente apesar de cruzarem-se constantemente, o desenvolvimento linguístico se interlace em desenvolvimento intelectual pré-linguistico e um desenvolvimento linguístico pré-intelectual e é do encontro desses aspectos que vem o desenvolvimento da linguagem verbal e o pensamento racional (VYGOTSKY, 2001).
Compreender como funciona o processo de aprendizagem das crianças e adolescentes é necessário ao docente, pois é trabalhando com essas referências que poderá formular um conteúdo que explore cada fase para uma otimização da educação.
Piaget (1998) defende que a lógica infantil é caracterizada pelo egocentrismo, sincretismo e dificuldade de compreender as relações e disso provém as necessidades de uma pedagogia exclusiva que atenda essas particularidades. O método pedagógico construtivista de Piaget (1998) afirma que o conhecimento é construído a partir de atitudes ativas na aprendizagem, o professor passa a não mais apenas transmitir informações prontas e instigar a pesquisa dos saberes por seus alunos agindo como promotor de situações que estimulem e desafiem o aluno, porém respeitando seu desenvolvimento cognitivo:
Afirmar o direito a pessoa humana à educação é, pois, assumir uma responsabilidade muito mais pesada que a de assegurar a cada um a possibilidade da leitura da escrita e do cálculo: significa, a rigor, garantir para toda a criança o pleno desenvolvimento de suas funções mentais e a aquisição dos conhecimentos, bem como dos valores morais que correspondam ao exercício destas funções, até a adaptação à vida social atual (PIAGET, 1998, p.34).
Todo o ser humano tem tendência para o crescimento em direções saudáveis, sendo assim enfatiza que o papel do professor é dar suporte para que esse direcionamento se realize da melhor maneira possível (ROGERS, 2009). Para tanto, o professor precisa ter para com o aluno aceitação incondicional, empatia e congruência (tríade Rogeriana).
Por essa teoria humanista, o professor passa a não somente ministrar conteúdos e sim participar ativamente do processo de aprendizagem. A teoria de Rogers (2009) não é um método de ensino, mas uma concepção de educação, sua abordagem se encaixa na problemática da estrutura de ensino tradicional.
A Teoria da Aprendizagem Significativa também serve de aporte para o método da Sala de Aula Invertida, pois, preconiza que a aprendizagem significativa é a interação entre os conhecimentos prévios do aluno e os novos conhecimentos, os tornando significativo para o estudante (SANCHES; BATISTA; MARCELINO, 2021).
Ausebel (2003) enumerou os princípios fundamentais para a Teoria da Aprendizagem Significativa, sendo estes a diferenciação progressiva e a reconciliação integradora. A diferenciação progressiva é explicada pela aquisição de novos significados a partir do contínuo uso de um subsunçor. Simultâneo ao processo de diferenciação progressiva ocorre a reconciliação integradora que se resume na eliminação de conflitos entre os conceitos já internalizados com os novos conceitos aprendidos.
Assim, “a organização sequencial e hierárquica do conhecimento possibilita tirar vantagem das dependências sequenciais existentes nos conteúdos” (SANCHES; BATISTA; MARCELINO, 2021, p.4). A aprendizagem significativa ocorre pela manipulação pedagógica consciente sobre as estruturas cognitivas dos estudantes por meio de instrumentos facilitadores com base nos organizadores prévios e o mapeamento de conceitos.
É por meio do estímulo da autonomia e protagonismo na construção do conhecimento, fornecido pelas técnicas das metodologias ativas que o aprendente adquire competências e habilidades que o auxiliam na aquisição de novos conceitos e reestruturação cognitiva (SILVEIRA; BERTOLINI; PEREIRA, 2020). Tal processo ocorre a partir da colaboração no processo de aprendizado, motivação e engajamento do estudante e protagonismo na construção do conhecimento, tornando a aprendizagem efetiva.
3 A SALA DE AULA INVERTIDA
O conceito de Sala de Aula Invertida (flipped classroom) remete aos autores Jonathan Bergman e Aaron Sams (2016). Os autores defendem a ideia de que o aluno assista o conteúdo das aulas em casa, com o apoio de gravações feitas pelo professor, o material didático indicado e que o tempo em sala de aula seja aproveitado para tirar dúvidas do conteúdo estudado e também para atividades interativas.
Esse modelo de ensino coloca o aluno no foco da aprendizagem, ao passo que abandona o modelo expositivo e o convoca para centralizar a abordagem pautada em suas dúvidas, suas considerações sobre o assunto de estudo e suas reflexões.
Esta metodologia consiste na inversão das ações que ocorrem em sala de aula e fora dela. Considera as discussões, a assimilação e a compreensão dos conteúdos (atividades práticas, simulações, testes… como objetivos centrais protagonizados pelo estudante em sala de aula, na presença do professor, enquanto mediador do processo de aprendizagem. Já a transmissão dos conhecimentos (teoria) passaria a ocorrer preferencialmente fora da sala de aula (SCHNEIDERS, 2018, p.7).
O processo de aprendizado está intimamente ligado às questões particulares dos alunos, é pela sua autonomia que ele alcançara o conhecimento, portanto deve-se refletir até que ponto o professor pode auxiliar o aluno na aquisição do conhecimento (SCHNEIDERS, 2018).
Na aula tradicional, o aluno é expectador do professor, na sala de aula invertida, o aluno parte do papel de protagonista, organizando seu tempo, seus estudos e transmitindo seu conhecimento adquirido por meio dos materiais fornecidos pelo professor (ENSINO INOVATIVO, 2015). No quadro abaixo, elenca-se as diferenças entre a metodologia de ensino centrada no aluno, executada pela sala de aula invertida e o ensino tradicional:
Quadro 1 – Comparação entre o Modelo Tradicional e a Sala de Aula Invertida
Dessa forma, a proposta é que em casa, o aluno pratique as atividades que ele possa realizar individualmente para que na sala de aula sejam elaboradas atividades ativas de ensino, de interação e participação com os demais integrantes da turma escolar. Sanches, Batista e Marcelino (2021) apresentam as etapas de aplicação da Sala de Aula Invertida como preparação do material pelo docente e disponibilização online, estudo do material pelos estudantes extraclasse, desenvolvimento de atividades presenciais com orientação do professor integrando as atividades extraclasses com as atividades presenciais.
Sanches, Batista e Marcelino (2021) traçam um panorama de aproximação entre os princípios da Sala de Aula Invertida com a Teoria da Aprendizagem significativa demonstrando suas afinidades e propósitos para a formação discente. O primeiro elemento de aproximação é a concepção do conteúdo em que para a Teoria da Aprendizagem Significativa se apresenta como a organização recursiva e diferenciada de conhecimentos procedimentais, enquanto para a Sala de Aula Invertida se traduzem em atividades práticas para a resolução de problemas.
Os requisitos para a elaboração de projetos nas duas teorias é verificar os conhecimentos prévios dos estudantes. Nos aspectos estruturais de motivação e engajamento, a Teoria da Aprendizagem Significativa afirma a predisposição do estudante para o aprendizado e a Sala de Aula Invertida estima a autonomia e o protagonismo do estudante. Como recursos introdutores, a Teoria da Aprendizagem Significativa indica organizadores prévios gerando os subsunçores que são ausentes e a Sala de Aula Invertida atua pela recordação e conexão de conhecimentos de forma colaborativa (SANCHES; BATISTA; MARCELINO, 2021).
Como situação problema, se tem na Teoria da Aprendizagem Significativa situações novas que requerem soluções e na Sala de Aula Invertida demanda a pesquisa e experimentação para resolver desafios e problemas. Os problemas propostos pelos métodos seguem, para a Teoria da Aprendizagem Significativa, a dificuldade progressiva conforme aprendizado de conceitos e para a Sala de Aula Invertida, vários níveis de dificuldade e mediação constante docente. O material é organizado do geral ao específico na Teoria da Aprendizagem Significativa e em dificuldades crescentes na Sala de Aula Invertida (SANCHES; BATISTA; MARCELINO, 2021).
Cals Neto (2020) atenta que os objetivos de aprendizagem devem ser claros desde o início do projeto, além de garantir que todos os estudantes tenham acesso ao material. Os recursos e as atividades na Sala de Aula Invertida são preparados de forma presencial e online e partem da contextualização da realidade do aluno, assim como na Teoria da Aprendizagem Significativa, cujo recursos devem ser potencialmente significativos.
Na Teoria da Aprendizagem Significativa o professor é mediador de significados, instigando a curiosidade e desafiando os estudantes pelo preparo de material que tenha sentido em suas realidades. Na Sala de Aula Invertida também é mediador da aprendizagem e se encarrega do preparo e planejamento do projeto, ainda atuando para que os estudantes se mantenham motivados e engajados durante todas as etapas (SANCHES; BATISTA; MARCELINO, 2021).
Cals Neto (2020) explica que enquanto na Teoria da Aprendizagem Significativa pretende-se uma aprendizagem significativa crítica, em que o estudante rompe com as respostas por memorização é vai em busca de soluções pela exploração e pesquisa, na Sala de Aula Invertida também se tem a ruptura pelos métodos de transmissão e aceitação passiva do estudante para o questionamento e reflexão ativa durante todo o processo de aprendizagem.
3.1 DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA SALA DE AULA INVERTIDA
Para que seja possível a aplicação da sala de aula invertida como metodologia ativa no ensino, é necessário que haja, em primeiro momento, uma mudança no conceito de sala de aula pelos estudantes e professores (SCHNEIDERS, 2018).
Caso a visão do que se é uma aula e de que para que serve a sala de aula não se altere, o aluno pode sentir-se perdido, sem motivação para o estudo e apresentar muitas dificuldades no aprendizado:
A abertura do ambiente educacional para o aluno, quando nele é adotada a perspectiva da efetivação do ensino e aprendizagem em um ambiente centrado no aluno, recomenda que os corações entrem desarmados no processo. A partir deste posicionamento favorável inicial é possível dar início a um processo de resgate da riqueza que sempre teve e nunca deveria ter sido perdida, no relacionamento do professor e aluno (MUNHOZ, 2015, p.115).
Além da adaptação a nova forma de aprender, o método exige uma nova postura do discente, que passa a ter autonomia tanto fora de aula quanto dentro de aula, disso advém novas responsabilidades para a aquisição de maiores competências e habilidades.
Munhoz (2015), enfatiza que o papel do professor é imprescindível nesse processo de adaptação e após, de manutenção do desenvolvimento do aluno na aprendizagem. O docente deve elaborar cautelosamente todo o conteúdo que será transmitido para o aluno, a forma que será abordado e o material que será disponibilizado.
O aumento na carga de trabalho do professor e do aluno também desafia a implantação do método, e por fim, não se deve subentender que o aluno irá para a aula já conhecendo todo o conteúdo aplicado para o estudo fora da aula, é necessário dar todo o suporte que o aluno precisa para a compreensão da matéria para garantir que o conhecimento seja efetivado.
Os benefícios desse modelo de ensino é na atribuição de maiores competências aos alunos, fato que contribui para a aplicação prática das técnicas de estudo com as responsabilidades da realidade, como uma maior organização no tempo, um maior sendo de responsabilidade, pois se o aluno não estudar a matéria, ficará sem entender os conteúdos aplicados em aula, a possibilidade da aplicação de debates mais aprofundados em aula, causando um aprofundamento maior na matéria e a flexibilidade que o aluno encontrará para aprender em seu ritmo, já que o material estará todo a sua disposição (ENSINO INTERATIVO, 2015).
Cals Neto (2020) aponta que a inversão da sala de aula intensifica a relação do professor e aluno propiciando situações em que o docente pode identificar as dificuldades e potencialidades de cada um. A Sala de Aula Invertida é capaz de inovar a aprendizagem ampliando os espaços/tempos de aprender e a forma em que o conteúdo é assimilado pelo estudante.
Ademais, leva a impactos na gestão da sala de aula pois problemas comportamentais são solucionados a partir do envolvimento dos estudantes de forma ativa na aprendizagem não restando espaço para encenações em aula (CALS NETO, 2020). Outro ponto interessante é a ampla participação da comunidade escolar nas aulas, as tornando mais transparente. Os pais dos estudantes têm acesso ao conteúdo ensinado, o que é um ponto positivo pois podem participar de forma mais ativa na educação do filho.
Os docentes em formação já carregam uma nova percepção do processo de aprendizagem, compreendendo a importância de que o aluno ocupe o centro do processo e reconhecendo o valor das metodologias ativas para estimular tal protagonismo (SANTOS, 2022).
A formação continuada do professor, realizada por meio das metodologias ativas, o permite que reflita sobre sua própria prática, identificando os pontos que precisam ser melhorados e as potencialidades da prática em sala de aula, colaborando para que seja exercido um trabalho de qualidade nos anos iniciais do ensino fundamental (SANTOS, 2022).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o estudo foi possível compreender que as transformações ocorridas na sociedade, resultantes da revolução tecnológica e da globalização, impactaram em novas demandas para a formação dos estudantes, bem como, novos métodos de ensino, pois os alunos, também, exigem novas concepções pedagógicas que se adaptem as novas relações de comunicação da sociedade do conhecimento.
Sendo assim, as metodologias ativas apresentam interessantes propostas de um aprendizado baseado no interacionismo e construtivismo, levando em consideração os aspectos de desenvolvimento cognitivo do estudante e objetivando a formação de habilidades e competências autônomas críticas e reflexivas, colaborativas e empreendedoras, de forma a abranger a totalidade de aspectos que devem ser considerados para o aprendizado.
A sala de aula invertida é uma importante ferramenta metodológica que permite que a interação com os alunos seja mais dinâmica e resulte em um relacionamento de maior confiança, de forma que o aluno se interesse mais pela prática do ensino e o professor possa compreender as necessidades específicas dos alunos, que podem auxiliar na elaboração de seu plano pedagógico. Para a implantação da sala de aula invertida é necessário que se mude a visão tradicionalista do ensino, abrindo-se as novas experiências de aprendizagem tendo o professor não mais como detentor do conhecimento e sim como mediador desse processo.
REFERÊNCIAS
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¹Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela UFMA e Mestranda pelo Mestrado Profissional em Gestão de Ensino na Educação Básica (PPGEEB) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA);
²Especialista em Língua Portuguesa e Literatura pela FAMA. Mestranda pelo Mestrado Profissional em Gestão de Ensino na Educação Básica (PPGEEB) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA);
³Discente especial. Especialista em ensino-aprendizagem de literatura, linguística e língua portuguesa e em ensino de Língua Espanhola;
⁴Discente especial. Especialista em Psicopedagogia;
⁵Discente especial. Especialista em Psicopedagogia;
⁶Doutora em Linguística e Língua Portuguesa (Unesp de Araraquara). Instituição de atuação atual: Universidade Federal do Maranhão (UFMA).