O CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: LIMITES E POSSIBILIDADES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501150929


Everton Nery Carneiro


Introdução

          Este estudo tem como objeto o conceito e a prática do cuidar na educação infantil, analisando seus limites e possibilidades no desenvolvimento integral da criança. Primeiramente entendemos a educação infantil como uma etapa inicial da educação básica, destinada a crianças de 0 a 5 anos e 11 meses, conforme previsto na legislação brasileira (Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, 1996)[1]. Seu principal objetivo é promover o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físicos, emocionais, cognitivos e sociais, em uma perspectiva que alia cuidado e educação, sendo regulamentada pela LDB e fundamentada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que orienta as competências e habilidades essenciais para essa etapa.

          No que se refere à faixa etária atendida a educação infantil se divide em: Berçário e creche (crianças de 0 a 3 anos) e Pré-escola (crianças de 4 e 5 anos). A Educação Infantil é fundamentada tanto em perspectivas científicas quanto legais, que orientam seus objetivos e práticas pedagógicas. Entre os principais objetivos dessa etapa, destaca-se o desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas e socioemocionais. Sob a perspectiva científica, Vygotsky (2007) enfatiza que o desenvolvimento humano é mediado pela interação social. Nesse contexto, a Educação Infantil proporciona um ambiente de interação que fomenta o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, como memória, atenção e linguagem, bem como habilidades motoras e socioemocionais. No âmbito legal, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece que a Educação Infantil deve promover o desenvolvimento integral da criança, abrangendo os aspectos físicos, sociais, emocionais e cognitivos, garantindo aprendizagens essenciais que respeitem a singularidade de cada indivíduo (BRASIL, 2018).

          Outro objetivo relevante é estimular a criatividade, a curiosidade e o protagonismo infantil. Piaget (1971), em seus estudos, destaca a importância do aprendizado ativo, no qual a criança constrói conhecimento por meio da exploração, do brincar e da resolução de problemas. Esse processo não só fortalece a criatividade, mas também incentiva o protagonismo infantil, essencial para sua autonomia e desenvolvimento integral. Complementarmente, a BNCC reafirma a necessidade de práticas pedagógicas que valorizem a criatividade e a curiosidade, promovendo experiências significativas e lúdicas que respeitem o ritmo e os interesses da criança (BRASIL, 2018).

          Preparar a criança para a transição ao ensino fundamental, sem antecipar essa etapa, também é uma preocupação essencial da Educação Infantil. Segundo Winnicott (1983), um ambiente seguro e interações adequadas na infância são determinantes para a autonomia inicial e para a capacidade de adaptação da criança a novos contextos. As brincadeiras e as interações mediadas são ferramentas indispensáveis ​​para garantir uma transição tranquila, evitando estresse ou sobrecarga. Nesse sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)[2] reforça que a Educação Infantil não deve ser entendida como uma antecipação do ensino fundamental, mas como uma etapa independente, com objetivos e práticas pedagógicas próprias, voltadas para o desenvolvimento integral das crianças (Brasil, 1996).

          Esses objetivos ilustram como a Educação Infantil é orientada por princípios científicos e legais que se complementam, garantindo uma prática pedagógica que respeite as especificidades do desenvolvimento infantil e promova o bem-estar e o aprendizado das crianças.

          A Educação Infantil é fundamentada em princípios pedagógicos que buscam garantir um ambiente acolhedor, seguro e estimulante, promovendo o desenvolvimento integral das crianças. Entre esses princípios, destaca-se a articulação entre cuidar e educar. Segundo Boff (1999), o cuidado é essencial para o bem-estar integral do ser humano, envolvendo aspectos éticos e afetivos que promovem o desenvolvimento físico e emocional. Heidegger (2015) complementa que o cuidado é uma característica essencial da existência humana, um modo de ser que estrutura as relações com o mundo e com os outros. Sob a perspectiva legal, tanto a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) quanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) destacam que cuidar e educar são práticas indissociáveis ​​e pilares fundamentais da Educação Infantil, garantindo um ambiente que fomente aprendizagens essenciais e promova o bem-estar das crianças (BRASIL, 1996; 2018).

          Outro princípio central é o brincar como eixo estruturante das práticas pedagógicas. Froebel (2001), criador do conceito de jardim de infância, defende que o brincar é a principal forma de aprendizagem para as crianças, sendo uma atividade essencial para o desenvolvimento integral. Mais recentemente, Vygotsky (2007) reforça que o brincar possibilita o desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas, sendo mediado pela imaginação e pela interação social. A BNCC estabelece o brincar como prática estruturante na Educação Infantil, apoiando-o como fundamental para promover experiências significativas e para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo (Brasil, 2018).

          Por fim, o respeito às singularidades e ao ritmo de desenvolvimento de cada criança é um princípio que orienta as práticas pedagógicas na Educação Infantil. Jean Piaget (1971) destaca que cada criança possui um ritmo único de desenvolvimento, e a aprendizagem deve ser adaptada às suas necessidades individuais. Merleau-Ponty (1994) acrescenta que é necessário compreender a criança a partir de sua perspectiva fenomenológica, respeitando sua singularidade e seu modo de ser no mundo. No âmbito legal, a LDB e a BNCC enfatizam o respeito à diversidade e ao ritmo de desenvolvimento de cada indivíduo, estabelecendo que as práticas devem ser inclusivas adaptadas e às especificidades de cada criança (Brasil, 1996; 2018).

          Esses princípios pedagógicos reforçam o compromisso da Educação Infantil com a promoção de um ambiente educacional que integre o cuidado e o ensino, valorize o brincar como forma de aprendizagem e respeite a individualidade das crianças, alinhando-se às exigências legais e às contribuições das teorias educacionais contemporâneas.

          Sendo o conceito de cuidar amplo e multifacetado, pode ser compreendido a partir de perspectivas diversas, como a etimológica, a filosófico-existencial, a fenomenológica, a psíquica, a emocional e a educacional. Cada uma dessas abordagens oferece uma contribuição única para a compreensão do cuidar e sua aplicação em contextos como a educação infantil, sendo que este termo tem origem no latim cogitare, que significa pensar, refletir com atenção e zelo. Também deriva de cura, que remete a preocupação, solicitude e responsabilidade. Assim, desde a sua origem, o conceito de cuidar está associado ao compromisso e ao envolvimento afetivo. Heidegger (2015), em Ser e Tempo, afirma que o cuidado (Sorge) é a essência do ser humano, representando o modo como este se relaciona com o mundo, os outros e consigo mesmo.

          Na filosofia existencial, cuidar é entendido como um modo de ser essencial do ser humano. Heidegger enfatiza que o ser humano é um “ser de cuidado”, constantemente preocupado com a vida e com o outro, e que o cuidado reflete a finitude da condição humana. Complementarmente, Boff (1999), em Saber Cuidar: Ética do Humano – Compaixão pela Terra, defende que cuidar é um ato ético essencial para a preservação da vida em todas as suas formas, exigindo empatia e compaixão.

          Sob a ótica fenomenológica, o cuidar implica compreender o outro a partir de sua experiência vívida. Merleau-Ponty (1945), em Fenomenologia da Percepção, destaca que a existência humana é relacional e intersubjetiva, e o cuidado surge como uma forma de percepção sensível e ativa do outro em sua totalidade. Na educação infantil, essa perspectiva valoriza a escuta ativa e o respeito à singularidade de cada criança, considerando suas necessidades concretas e simbólicas.

          Do ponto de vista psíquico, o cuidado é essencial para o desenvolvimento saudável da personalidade. Winnicott (1965), em O Ambiente e os Processos de Maturação, ressalta que o cuidado nos primeiros anos de vida é fundamental para o desenvolvimento do “self verdadeiro”, promovendo a saúde emocional e a capacidade de estabelecer vínculos afetivos. A ausência de cuidado, por outro lado, pode gerar traumas e contribuir para a formação de um “falso eu”, comprometendo a autonomia emocional. Na dimensão emocional, o cuidado se manifesta como uma expressão de afeto, empatia e conexão. Bowlby (1988), em sua teoria do apego, afirma que a presença de figuras cuidadoras que oferecem suporte emocional é crucial para que a criança desenvolva confiança em si mesma e nos outros. Um ambiente acolhedor e respeitoso promove confiança e resiliência, elementos fundamentais para o desenvolvimento integral.

          Na educação, o cuidar é indissociável do educar, constituindo uma prática pedagógica efetiva para o desenvolvimento integral da criança. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) destaca o cuidar como um princípio fundamental, apontando que ações de cuidado são oportunidades pedagógicas para aprendizagens significativas (Brasil, 2018). Vygotsky (1934), em A Formação Social da Mente, reforça que o desenvolvimento humano é mediado pela interação social, e que o cuidado é uma forma poderosa de construir relações de aprendizado e confiança.

          O cuidar, abordado sob essas perspectivas, revela-se um conceito diverso, e indispensável em contextos educacionais. Ele transcende ações assistenciais, configurando-se como uma prática pedagógica e ética que contribui para o desenvolvimento integral das crianças, promovendo não apenas seu bem-estar físico e emocional, mas também sua autonomia e capacidade de interação social.

          O conceito de cuidar na educação infantil ultrapassa a simples garantia de necessidades básicas, abrangendo dimensões emocionais, sociais e pedagógicas que impactam diretamente no desenvolvimento integral da criança. Quando realizado com qualidade, o cuidar se transforma em uma ação pedagógica potente, promovendo o bem-estar emocional, a autonomia e a socialização, além de enfrentar desafios estruturais e de formação profissional. Entre os benefícios do cuidar, destaca-se o bem-estar emocional, essencial para que uma criança se sinta segura e acolhida.

          O desenvolvimento da autonomia é outro resultado positivo do cuidado intencional. Winnicott (1965) afirma que um ambiente suficientemente bom permite que a criança construa sua independência e desenvolva responsabilidade. Práticas de cuidado que incentivam a participação ativa da criança nas tarefas cotidianas, como organização de materiais ou escolha de atividades, estimulam a autoconfiança e a capacidade de tomada de decisão. Além disso, o cuidado favorece a socialização, promovendo habilidades de convivência e respeito às diferenças. Vygotsky (1934) destaca que o desenvolvimento humano é mediado pela interação social, e práticas de cuidado oferece oportunidades de construção de vínculos e aprendizagem coletiva. Por meio de relações afetivas e colaborativas, a criança aprende a lidar com conflitos e a valorizar a diversidade.

          No entanto, o ato de cuidar enfrenta desafios significativos no contexto educacional. Um deles é a falta de valorização do cuidado, muitas vezes limitada a tarefas práticas e subestimadas em seu papel pedagógico. Boff (1999) ressalta que o cuidar deve ser compreendido como um ato ético e essencial para a preservação da vida, exigindo reconhecimento de sua importância no desenvolvimento humano. Outro obstáculo é representado pelas desigualdades estruturais, já que muitas instituições carecem de recursos adequados para a implementação de práticas de cuidado de qualidade. A falta de infraestrutura, materiais pedagógicos e condições dignas de trabalho comprometem o alcance dos objetivos da educação infantil. Esse problema reforça a necessidade de políticas públicas que priorizem a educação como um direito universal.

          Entendemos assim que a formação de educadores é um aspecto crucial para integrar o cuidar e o educar. Profissionais bem preparados compreendem a complexidade do cuidado e são capazes de transformá-lo em práticas pedagógicas intencionais. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) destacam a formação continuada como um eixo fundamental para garantir a qualidade na educação infantil (Brasil, 1996; 2018). Dessa forma, o cuidar, quando valorizado e realizado com qualidade, contribui para a formação de indivíduos saudáveis, independentes e capazes de interagir de maneira positiva com o mundo. Superar os desafios relacionados ao cuidado requer esforços coletivos para garantir que todas as crianças tenham acesso a um ambiente seguro, acolhedor e estimulante.

          Nosso objetivo geral nesse artigo é investigar as potencialidades e os desafios do cuidar na educação infantil, compreendendo seu papel no desenvolvimento integral da criança em suas dimensões física, emocional, cognitiva e social. No que se refere aos objetivos específicos, temos os seguintes: analisar o conceito de cuidar a partir de perspectivas teóricas distintas, incluindo etimológica, filosófico-existencial, fenomenológica e psicanalítica; investigar como o cuidar está integrado à educação na Base Nacional Comum Curricular (BNCC); identificar os desafios estruturais e formativos enfrentados pelos profissionais da educação infantil no que tange à prática do cuidar; propor estratégias pedagógicas para integrar o cuidar e o educar de forma mais efetiva nas práticas cotidianas.

          No campo da justificativa pessoal, minha experiência acadêmica e profissional no campo da educação me leva a reconhecer a importância do cuidar como um elemento essencial para o desenvolvimento infantil. Este tema reflete minha preocupação em contribuir para a formação de um ambiente educacional mais acolhedor e eficaz. Já na seara da justificativa científica, o cuidar é uma categoria teórica multidimensional, atravessando áreas como filosofia, psicologia, educação e psicanálise. Analisar o cuidar na educação infantil permite aprofundar compreensões sobre as interações entre desenvolvimento humano e práticas pedagógicas, promovendo avanços científicos nesse campo. Por fim a justificativa social. Diante das desigualdades sociais e educacionais no Brasil, a melhoria das práticas de cuidado na educação infantil é uma ação fundamental para garantir o direito ao desenvolvimento integral de todas as crianças, especialmente as mais vulneráveis.

          A integração do conceito e da prática do cuidar no processo educativo na educação infantil apresenta-se como um desafio complexo e multifacetado. O cuidar, entende como uma dimensão que vai além da atenção às necessidades básicas, abrange aspectos éticos, emocionais e pedagógicos, sendo fundamental para o desenvolvimento integral da criança. No entanto, sua implementação eficaz enfrentou limites significativos, como a falta de formação adequada dos profissionais, a carência de recursos estruturais e a subvalorização do cuidado como prática pedagógica. Ao mesmo tempo, as possibilidades desse conceito residem em sua capacidade de promover vínculos afetivos, fomentar a autonomia e criar ambientes educativos que respeitem as singularidades infantis. Esse problema exige uma abordagem que equilibre teoria e prática, considerando tanto as barreiras existentes quanto as oportunidades para integrar o cuidar e o educar de maneira intencional e transformadora na educação infantil. Desta forma, como o conceito e a prática do cuidar podem ser efetivamente integrados ao processo educativo na educação infantil, considerando os limites e as possibilidades desse conceito?

          Nossa hipótese aqui exposta é que a integração do cuidar ao processo educativo é limitada por desafios estruturais e formativos, mas apresenta possibilidades significativas de potencializar o desenvolvimento infantil quando fundamentada em abordagens teóricas sólidas e práticas pedagógicas intencionais.

          Tendo esses elementos em perspectiva, o presente trabalho fundamenta-se em um referencial teórico que abrange abordagens complementares sobre o conceito de cuidado, cada uma oferecendo uma perspectiva singular para a compreensão de sua relevância no processo educativo na educação infantil. Desta forma, nosso referencial teórico está assentado em quatro autores e obras: Martin Heidegger em sua obra Ser e Tempo (2015), ele introduz o conceito de Sorge (cuidado), que é definido como a essência do ser humano. Para Heidegger, o cuidado reflete a maneira como os indivíduos se relacionam com o mundo, com os outros e consigo mesmos; Leonardo Boff, em sua obraSaber Cuidar: Ética do Humano – Compaixão pela Terra (1999), em que o cuidar implica empatia, respeito e responsabilidade pelo outro e pelo planeta, sendo uma atitude indispensável na construção de relações humanas mais solidárias; Lev Vygotsky, em sua obra A Formação Social da Mente (1934), em que ele argumenta que o aprendizado ocorre em interação com outros, sendo a linguagem e as práticas sociais ferramentas fundamentais para o desenvolvimento humano; Jacques Lacan, em Escritos (1998), onde o cuidado não é apenas uma ação prática, mas também uma forma de introduzir a criança no campo simbólico, onde linguagem, desejo e relação com o Outro desempenham papéis fundamentais.

          Esses autores fornecem uma base abrangente para compreender o cuidar como um conceito central na educação infantil. Heidegger e Boff trazem reflexões filosóficas-existenciais e éticas, enquanto Vygotsky e Lacan apresentam perspectivas psicológicas e psicanalíticas, mostrando como o cuidado pode ser integrado de forma intencional ao processo educativo, promovendo o desenvolvimento integral das crianças.

          Quanto à metodologia, esta é qualitativa, de caráter exploratória e descritiva, utilizando-se para a coleta de dadosuma revisão bibliográfica sobre o conceito de cuidar em diferentes perspectivas teóricas, sendo a análise de dados realizada a partir da análise de conteúdo baseada em categorias temáticas definidas a partir do referencial teórico.

          Temos como resultados esperados a sistematização das principais perspectivas teóricas sobre o cuidar e sua relação com a educação infantil, junto com a identificação de práticas apropriadas que integram o cuidar e o educar. Além disso, elencamos propostas de intervenções pedagógicas para qualificar o cuidar na educação infantil, apontando contribuições para a formação continuada de educadores, valorizando o cuidar como um eixo essencial na educação infantil.

1-Análise do Conceito de Cuidar a Partir de Perspectivas Teóricas Distintas

          O conceito de cuidar é multifacetado e pode ser abordado a partir de diversas perspectivas teóricas que ampliam sua compreensão e aplicação em diferentes contextos, como o educacional. As abordagens etimológica, filosófico-existencial, fenomenológica e psicanalítica oferecem visões complementares que destacam aspectos fundamentais do cuidar, desde sua origem linguística até suas implicações na subjetividade e nas relações humanas. Etimologicamente, a palavra cuidar deriva do latim cura, que significa preocupação, solicitude e responsabilidade, e também de cogitare , que remete a pensar e refletir com atenção. Desde a sua origem, o termo está impregnado de um sentido de envolvimento afetivo e compromisso. Esse fundamento linguístico revela que o cuidar transcende ações práticas, englobando também uma dimensão ética e reflexiva sobre o bem-estar do outro. (Boff, 1999)

          Na perspectiva filosófico-existencial, Martin Heidegger, em Ser e Tempo (2015), apresenta o cuidado (Sorge) como a essência do ser humano. Para Heidegger, o cuidado expressa a maneira como o ser humano se relaciona com o mundo, consigo mesmo e com os outros, refletindo sua preocupação com a existência e sua finitude. Nesse contexto, cuidar é um modo de ser que traduz a responsabilidade ontológica do indivíduo. Complementarmente, Leonardo Boff, em Saber Cuidar: Ética do Humano – Compaixão pela Terra (1999), destaca o cuidado como um ato ético essencial para a preservação da vida em suas diversas formas. Para Boff, cuidar requer empatia e compaixão, sendo indispensável para estabelecer relações humanas de saúde e equilibradas.

          A fenomenologia traz uma abordagem relacional e sensível do conceito de cuidar. Maurice Merleau-Ponty, em Fenomenologia da Percepção (1945), enfatiza que a existência humana é intersubjetiva e relacional, e que o cuidado se manifesta como uma forma de percepção ativa e respeitosa do outro. Essa perspectiva valoriza a singularidade e a experiência vívida de cada indivíduo, sendo especialmente relevante em contextos educacionais, onde o cuidado requer escuta ativa e observação atenta às necessidades concretas e simbólicas das crianças.

          Na psicanálise, Jacques Lacan, em Escritos (1998), associa o cuidado a um ato simbólico que estrutura a subjetividade do indivíduo. Para Lacan, o cuidado envolve mais do que atender às necessidades específicas; ele inscreve a criança no campo simbólico, onde as relações interpessoais e a linguagem desempenham papéis cruciais na constituição da identidade. Além disso, Donald Winnicott, em O Ambiente e os Processos de Maturação (1965), ressalta a importância do cuidado nos primeiros anos de vida para o desenvolvimento emocional saudável. Segundo ele, o cuidado adequado cria um ambiente suficientemente bom, permitindo que a identidade da criança desenvolva um senso de autenticidade e estabeleça vínculos afetivos seguros.

          Uma análise do conceito de cuidar a partir dessas perspectivas demonstra sua complexidade e relevância em diferentes dimensões da vida humana. Seja na raiz etimológica, na relação ontológica, na experiência fenomenológica ou na constituição psíquica, o cuidar emerge como um elemento essencial para o desenvolvimento integral do ser humano. Essas abordagens teóricas não apenas ampliam a compreensão do termo, mas também destacam sua aplicação prática em campos como a educação, onde o cuidado é indissociável do ato de ensinar e aprender.

2-O Cuidar e sua Integração na Educação Infantil na Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

          O conceito de cuidar ocupa um lugar central na BNCC como princípio orientador da educação infantil, integrando-se de maneira indissociável ao ato de educar. A BNCC autoriza que o cuidar na educação infantil transcende o atendimento às necessidades básicas e se torna um eixo estruturante para o desenvolvimento integral da criança, abrangendo aspectos físicos, emocionais, cognitivos e sociais.

          A BNCC estabelece que as práticas pedagógicas na educação infantil devem articular o cuidar e o educar, garantindo que ações de cuidado sejam também oportunidades pedagógicas para promover aprendizagens significativas (Brasil, 2018). Essa perspectiva reforça a ideia de que o cuidar não se limita às ações assistenciais, mas é essencial para a construção de vínculos afetivos, a promoção da autoestima e o desenvolvimento de habilidades fundamentais para a autonomia e a socialização.

          Na estrutura da BNCC, o cuidar aparece de forma integrada aos campos de experiência, como “O Eu, o Outro e o Nós” e “Corpo, Gestos e Movimentos”. Esses campos destacam a importância de práticas pedagógicas que promovam o bem-estar, o respeito às singularidades e o acolhimento das crianças, valorizando o brincar como eixo estruturante (Brasil, 2018). Ao integrar o cuidar dessas áreas, a BNCC libera o papel do cuidado no fortalecimento das competências socioemocionais e na criação de um ambiente seguro e estimulante, que favoreça o desenvolvimento integral.

          A abordagem da BNCC alinha-se à visão de Lev Vygotsky, que enfatiza a interação social como mediadora do desenvolvimento humano. Em A Formação Social da Mente (1934), Vygotsky argumenta que as aprendizagens são construídas em contextos de interação, nos quais o cuidado atua como mediador essencial para criar relações de confiança e estímulo à aprendizagem. Dessa forma, as práticas de cuidado na educação infantil tornam-se fundamentais para criar ambientes de interação que respeitem as singularidades de cada criança e promovam seu pleno desenvolvimento.

          A BNCC também relaciona o cuidar aos direitos de aprendizagem e desenvolvimento, como o direito de conviver, explorar, brincar e participar (Brasil, 2018). Essas diretrizes apontam que o cuidar é essencial para garantir que as crianças vivam experiências significativas e acolhedoras, contribuindo para sua formação integral. Por meio de práticas que articulam o cuidado ao aprendizado, os educadores têm a oportunidade de criar ambientes que estimulem tanto a autonomia quanto a convivência harmoniosa em grupo.

          O cuidar, conforme integrado na BNCC, consolida-se como uma prática pedagógica que valoriza a singularidade e a integralidade do desenvolvimento infantil. Sua presença nos campos de experiência, nos direitos de aprendizagem e nas práticas pedagógicas reforçam sua relevância como eixo norteador da educação infantil. Essa abordagem garante que o cuidar seja reconhecido como uma dimensão essencial, contribuindo para formar indivíduos saudáveis, independentes e estabelecidos para interagir positivamente com o mundo.

3-Desafios Estruturais e Formativos na Prática do Cuidar na Educação Infantil

          A prática do cuidar na educação infantil apresenta-se como um eixo central para o desenvolvimento integral da criança, mas enfrenta enormes desafios estruturais e formativos que comprometem sua efetividade. Esses desafios estão relacionados, principalmente, à precariedade das condições de trabalho, à insuficiência de recursos e à formação envolvida dos profissionais da área, que muitas vezes não recebem o suporte necessário para integrar o cuidar ao processo educativo de maneira intencional e habilidades.

          Um dos principais desafios estruturais enfrentados pelos profissionais da educação infantil é a falta de infraestrutura adequada em muitas instituições. Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o ambiente educativo deve ser seguro, acolhedor e estimulante, promovendo o bem-estar e a aprendizagem da criança (Brasil, 2018). No entanto, a realidade de muitas creches e pré-escolas brasileiras é marcada por instalações residenciais, falta de materiais pedagógicos e ausência de espaços limpos para práticas que conciliem o cuidar e o educar. Essas condições dificultam a implementação de práticas pedagógicas que atendem às necessidades das crianças e favorecem seu pleno desenvolvimento. Outro obstáculo estrutural é a sobrecarga de trabalho enfrentada pelos educadores infantis, muitas vezes em função de uma alta proporção de crianças por profissionais. Essa situação compromete a qualidade das interações, essenciais para o cuidado efetivo, e reforça a visão limitada do cuidar como uma tarefa assistencialista, desvinculada de sua dimensão pedagógica (Boff, 1999).

          No campo formativo, um dos problemas mais significativos é a insuficiência de formação inicial e continuada para os profissionais da educação infantil. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) estabelece a necessidade de formação específica para educadores, mas, na prática, muitos profissionais ainda carecem de preparação adequada para integrar o cuidar e o educar de maneira intencional e reflexiva (Brasil, 1996). A formação tradicional, muitas vezes, prioriza conteúdos acadêmicos e desvaloriza as competências para o cuidado afetivo e a construção de vínculos. Como observa Winnicott (1983), em O Ambiente e os Processos de Maturação, o cuidado adequado nos primeiros anos de vida é essencial para a formação de um ambiente suficientemente bom, no qual as crianças possam desenvolver sua autonomia e saúde emocional. Sem formação específica sobre a importância do cuidar no contexto educativo, muitos profissionais têm dificuldades em compreender e aplicar essa prática em suas rotinas.

          A falta de reconhecimento social e profissional dos educadores infantis também se apresenta como um desafio crítico. O cuidar é frequentemente subestimado em seu papel educacional, sendo visto como uma tarefa menor ou secundária. Essa desvalorização reflete-se nas condições salariais, na precariedade do vínculo empregatício e na ausência de políticas públicas que priorizem a educação infantil como uma etapa essencial do desenvolvimento humano (Boff, 1999; Brasil, 2018).

          Para superar os desafios estruturais e formativos na prática do cuidar, é necessário que haja investimentos em infraestrutura, valorização profissional e formação específica para educadores infantis. Além disso, é fundamental que a sociedade reconheça o cuidar como uma prática pedagógica necessária, que vai além das necessidades físicas e se insere como um componente essencial para o desenvolvimento integral das crianças. Políticas públicas que priorizem a educação infantil e promovam melhores condições de trabalho e formação podem garantir que o cuidar seja efetivamente integrado ao processo educativo, conforme preconizado pela BNCC.

4-Estratégias Pedagógicas para Integrar o Cuidar e o Educar nas Práticas Cotidianas

          A integração do cuidar e do educar é um dos fundamentos da educação infantil, conforme preconiza a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Essa articulação requer práticas pedagógicas intencionais que valorizem o desenvolvimento integral da criança, atendendo às suas necessidades físicas, emocionais, sociais e cognitivas. Para que essa integração de forma efetiva seja alcançada, é necessário propor estratégias pedagógicas que fortaleçam a dimensão relacional do cuidar, promovam aprendizagens significativas e consolidem vínculos afetivos e de confiança entre educadores e crianças.

          No que tange a criação de rotinas pedagógicas que envolvem o cuidar, entendemos que uma estratégia central para integrar o cuidar e o educar é a construção de rotinas pedagógicas que transformam atividades de cuidado, como alimentação, higiene e descanso, em momentos de aprendizagem. De acordo com a BNCC, essas práticas devem ser concebidas como “oportunidades para ampliar a autonomia e o conhecimento das crianças” (Brasil, 2018). Por exemplo, durante o momento das refeições, os educadores podem estimular conversas sobre a origem dos alimentos, promovendo aprendizagens sobre alimentação saudável e cultura alimentar.

          Deslocamo-nos aqui para a valorização do brincar como eixo estruturante, pois este é uma prática pedagógica essencial para integrar o cuidar e o educar. Conforme destaca Froebel (2001), criador do conceito de jardim de infância, o brincar é a forma mais altiva de pesquisa. Por meio de brincadeiras orientadas, as crianças podem explorar o mundo à sua volta, desenvolver habilidades sociais e cognitivas, além de se sentirem cuidadas e acolhidas em um ambiente seguro e estimulante. Além dessa dimensão, a formação continuada é imprescindível para que os profissionais compreendam a importância do cuidar e adquiram competências para integrá-lo às práticas pedagógicas. Segundo Boff (1999), “cuidar é mais que uma ação; é uma atitude que perpassa todas as dimensões do ser humano”. Dessa forma, as formações específicas podem abordar temas como escuta ativa, práticas inclusivas e mediação de conflitos, auxiliando os educadores a enxergar o cuidado como parte intrínseca do processo educativo.

          Aqui chegamos ao espaço físico, este que também desempenha um papel importante na integração do cuidar e do educar. Ambientes acolhedores, com materiais acessíveis e adequados, favorecendo a autonomia e o bem-estar das crianças. Vygotsky (2007) argumenta que “o aprendizado ocorre em interação com o ambiente e com os outros”, e a organização do espaço educativo pode potencializar essa interação, promovendo a segurança e a liberdade de expressão.

          Todas essas dimensões estão articuladas com o envolvimento das famílias no processo educativo, pois a participação das famílias é fundamental para consolidar a integração entre cuidar e educar. Winnicott (1983) observa que “o cuidado parental é o primeiro ambiente seguro da criança”. Incorporar as famílias às práticas escolares, por meio de reuniões colaborativas, oficinas ou atividades, fortalece o vínculo entre escola e comunidade, ampliando as possibilidades de aprendizagem e cuidado.

          A integração do cuidar e do educar requer práticas pedagógicas que respeitem a singularidade de cada criança, promovam a construção de vínculos e potencializem o aprendizado por meio de ações intencionais e sensíveis. Ao propor estratégias como a adaptação do ambiente, a formação continuada dos educadores e a valorização do brincar, é possível transformar o cuidado em uma dimensão pedagógica eficaz e significativa, contribuindo para o desenvolvimento integral das crianças.

Considerações Finais

          Assim, ao considerar o conceito de cuidar a partir de perspectivas teóricas distintas, torna-se evidente sua centralidade para compreender as relações humanas em sua totalidade. O entrelaçamento das dimensões éticas, ontológicas, fenomenológicas e psicanalíticas revela que o cuidar transcende a mera ação, configurando-se como um modo de ser e uma prática que ressignifica as interações humanas. No campo educacional, essa compreensão assume relevância ainda maior, uma vez que o cuidado não apenas sustenta o desenvolvimento integral do indivíduo, mas também transforma o processo de ensino-aprendizagem em um espaço de acolhimento, diálogo e construção mútua de sentido. A partir dessa análise, reafirma-se que o cuidado é um fundamento imprescindível para a promoção de vínculos significativos e para a constituição de uma sociedade mais empática e responsável. Destacamos aqui a centralidade do conceito de cuidar na compreensão das relações humanas e na ressignificação das interações. Entendemos assim, que o cuidar vai além de uma ação prática, tornando-se uma prática ética e ontológica que promove vínculos significativos e a constituição de uma sociedade mais empática. No campo educacional, ele assume um papel transformador, criando espaços de acolhimento, diálogo e construção mútua de sentido, fundamentais para o desenvolvimento integral do indivíduo.

          Dessa forma, a integração do cuidar na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reafirma sua importância como eixo fundamental para a educação infantil, reconhecendo-o como indissociável do ato de educar. Ao articular o cuidar aos campos de experiência, aos direitos de aprendizagem e às práticas pedagógicas, a BNCC valoriza o desenvolvimento integral das crianças, promovendo um ambiente acolhedor e propício à construção de vínculos afetivos, ao fortalecimento da autonomia e à formação de competências socioemocionais. Essa abordagem não apenas atende às necessidades contemporâneas da educação infantil, mas também estabelece um alicerce para a formação de indivíduos mais conscientes, empáticos e preparados para interagir com o mundo de forma construtiva e harmoniosa. Percebemos aqui, que o aprendizado está na integração do cuidar à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como um elemento fundamental da educação infantil. Assim, o cuidar, articulado aos direitos de aprendizagem e aos campos de experiência, fortalece o desenvolvimento integral das crianças, promovendo vínculos afetivos, autonomia e competências socioemocionais. Com isso, o cuidar é reconhecido como essencial, preparando crianças para interagir com o mundo de maneira consciente e harmoniosa.

          Nesse sentido, enfrentar os desafios estruturais e formativos na prática do cuidar exige uma abordagem integrada e comprometida, que envolva gestores, educadores e a sociedade como um todo. O reconhecimento do cuidar como uma dimensão essencial da educação infantil demanda a superação de preconceitos históricos que o relegam a um papel secundário e assistencialista. É imprescindível que políticas públicas garantam investimentos contínuos em infraestrutura, recursos pedagógicos e programas de formação inicial e continuada, capazes de estar formando profissionais para atuar de forma reflexiva, intencional e afetiva. Somente a partir de um esforço coletivo, que valorize e priorize a educação infantil em suas múltiplas dimensões, será possível transformar o cuidar em uma prática efetiva, promotora de vínculos, autonomia e bem-estar, assegurando às crianças um desenvolvimento pleno e significativo.

          Destacamos assim, os desafios estruturais e formativos na prática do cuidar buscando propor soluções que envolvem a colaboração de gestores, educadores e sociedade. O aprendizado está na compreensão da importância de políticas públicas que priorizem a educação infantil, garantindo investimentos em infraestrutura, recursos pedagógicos e formação contínua. Ressalte-se a necessidade de superar preconceitos históricos que limitam o papel do cuidar, reconhecendo-o como central para promover vínculos e bem-estar.

          Assim, as estratégias pedagógicas para integrar o cuidar e o educar nas práticas cotidianas reafirmam o papel central da educação infantil como promotora do desenvolvimento integral das crianças. A valorização de momentos cotidianos, como alimentação e higiene, a inserção intencional do brincar como eixo estruturante, a adaptação dos ambientes educativos e a formação continuada dos educadores consolidam o cuidar como uma dimensão pedagógica essencial e eistencial. Além disso, o envolvimento das famílias fortalece as práticas educativas, ampliando os vínculos entre escola e comunidade. Essa integração não apenas atende às diretrizes da BNCC, mas também promove uma educação infantil mais humana, acolhedora e transformadora, que respeita a singularidade de cada criança e contribui para a construção de uma base consistente para seu futuro desenvolvimento e aprendizagem.

Referências

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em <http://www.planalto.gov.br >​ Acesso em: 20 dez. 2024.

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[1] BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em <http://www.planalto.gov.br .>​ Acesso em: 20 dez. 2024.

[2] BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http ://basenacionalcomum .mec .gov .br . Acesso em: 20 dez. 2024.