REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202401131108
Vanessa Klock Moser
RESUMO
Nos dias de hoje, muitas salas de aula ainda adotam a abordagem tradicional, na qual os professores simplesmente expõem o conteúdo do livro didático e os alunos o recebem de forma passiva. Uma alternativa para superar essa realidade é a introdução de diferentes métodos de ensino, que envolvam os alunos de forma mais ativa e promovam uma aprendizagem significativa. Este estudo teve como objetivo analisar os benefícios da implementação de um sistema hidropônico como uma dessas alternativas de ensino. Por meio de uma pesquisa bibliográfica sobre a prática e construção de sistemas hidropônicos, foi possível constatar a eficácia e a importância de diversificar as abordagens de ensino dentro da sala de aula. A utilização do sistema hidropônico ofereceu aos estudantes uma experiência prática e envolvente, permitindo que eles não apenas absorvessem conhecimentos teóricos, mas também os aplicassem em um contexto real. Conclui-se, portanto, que é necessário explorar diferentes alternativas de ensino dentro da sala de aula. O uso do sistema hidropônico móvel se mostrou eficaz no processo de ensino e aprendizagem, proporcionando uma oportunidade única para os alunos se envolverem ativamente no aprendizado e desenvolverem habilidades práticas. Ao integrar métodos de ensino inovadores como esse, as escolas podem transformar suas salas de aula em ambientes dinâmicos e estimulantes, capacitando os alunos para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo de maneira mais eficaz.
Palavras-chave: Sistema hidropônico; Ensino alternativo; Aprendizagem ativa; Metodologias inovadoras.
1. INTRODUÇÃO
Com a evolução da sociedade, especialmente devido à modernização, urbanização e avanços tecnológicos, a Educação no Brasil tem passado por transformações significativas ao longo das décadas, afetando diversos aspectos e níveis educacionais. Essas mudanças têm impactado as práticas educacionais, demandando dos profissionais da área uma abordagem renovada no processo de ensino e aprendizagem.
De acordo com Araújo e Drago (2011), no contexto do ensino fundamental, o ensino das Ciências Naturais tem sido predominantemente baseado em aulas teóricas e expositivas. No entanto, os autores destacam a importância inquestionável das atividades práticas, defendendo que estas devem ocupar um lugar de destaque no processo educacional.
Por outro lado, Brandi e Gurgel (2002) ressaltam que as Ciências, em sua essência mais relevante, oferecem a oportunidade de explorar e compreender o ambiente social e natural através da integração do conhecimento adquirido tanto por meio das experiências vivenciais quanto das informações teóricas dos alunos. Argumentam que isso pode contribuir significativamente para a integração das Ciências no currículo escolar, permitindo a introdução dos alunos à cultura científica. Essa abordagem, segundo os autores, pode ajudar a evitar a fragmentação do conhecimento em diversas áreas do saber, proporcionando uma nova perspectiva curricular para as séries iniciais.
A horta escolar, além de fornecer elementos para a discussão de conceitos científicos, é um projeto que possui várias vantagens: i) Favorece o trabalho cooperativo entre estudantes, professores, funcionários da escola e comunidade, promovendo um ambiente de colaboração e união. ii) Estimula estudos, pesquisas, debates e atividades relacionadas a questões ambientais, alimentares e nutricionais, incentivando a conscientização e ações práticas em prol da sustentabilidade. iii) Promove um trabalho pedagógico dinâmico, participativo e interdisciplinar, possibilitando a integração de diferentes áreas de conhecimento e gerando aprendizagens múltiplas e significativas (Barbosa, 2008).
O desenvolvimento de uma horta escolar traz benefícios tanto individuais quanto coletivos, auxiliando os estudantes na construção de valores como trabalho em equipe, união, comunicação e participação ativa na comunidade (Fernandes, 2005). Essa atividade não apenas enriquece o currículo escolar, mas também promove o desenvolvimento pessoal e social dos alunos, contribuindo para sua formação integral.
Para Brandão (2012), o cultivo de hortas escolares representa um importante instrumento educativo, proporcionando uma aprendizagem significativa para os estudantes desenvolverem competências e habilidades de maneira contextualizada e interdisciplinar. Isso possibilita mudanças na forma de ensinar, tornando o processo educativo mais dinâmico e relevante. De acordo com o autor, os conhecimentos adquiridos por meio desses projetos podem ser socializados na escola e aplicados na vida familiar do educando (BRANDÃO, 2012).
A implementação de hortas nas escolas e sua incorporação como método de ensino carrega um significado de grande potencial para promover as relações entre os seres humanos e o meio ambiente. Além de proporcionar um ambiente prático para aprendizado, as hortas escolares auxiliam no desenvolvimento da consciência ambiental, incentivando os alunos a adotarem um estilo de vida mais sustentável e menos impactante para o meio ambiente (MALACARNE; ENISWELER, 2014).
A implantação de hortas ou sistemas de hidroponia no ambiente escolar possibilita a reativação da ligação dos alunos com os princípios básicos da alimentação. Segundo Malacarne e Enisweler (2014, p. 288), a horta se torna um “laboratório vivo” que oferece inúmeras oportunidades para atividades didáticas variadas. Por meio dessa prática, é possível explorar diferentes temas, como a história da agricultura, conceitos fundamentais, princípios de cultivo, técnicas de plantio, cuidados com as plantas e questões relacionadas à sustentabilidade.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 A técnica hidropônica
A hidroponia é uma técnica que envolve o cultivo de plantas sem solo, utilizando apenas água e nutrientes diluídos nela. Este método oferece diversas vantagens, tais como a redução do espaço necessário para o cultivo devido ao sistema radicular compacto das plantas, uma absorção mais eficiente de nutrientes devido à sua pronta disponibilidade para as plantas, otimização do espaço de produção que pode resultar em uma produção até quatro vezes maior em comparação com outros métodos, e a produção de plantas de alta qualidade e livre de pesticidas devido à ausência da necessidade de aplicação desses produtos (SOUSA et al., 2018).
A técnica de hidroponia, embora ainda pouco conhecida por muitos, teve suas pesquisas iniciadas antes do século XX. O termo “hidroponia” tem origem no grego, onde “hidro” significa água e “ponos” significa trabalho. Portanto, a expressão “hidroponia” refere-se ao cultivo de plantas sem solo, utilizando uma solução nutritiva (ABRANTES, 2004).
Na hidroponia, todos os nutrientes necessários para as plantas são fornecidos por meio da solução nutritiva. Para garantir o desenvolvimento saudável das plantas, é essencial renovar a solução nutritiva conforme necessário, pois durante o ciclo de vida da planta, ocorre a absorção de nutrientes e a evapotranspiração, o que altera a concentração dos sais na solução (JAIGOBIND et al., 2007).
As soluções hidropônicas são compostas, principalmente, por água pura e minerais dissolvidos, fornecendo os nutrientes essenciais para cada espécie cultivada. Estas soluções são preparadas utilizando sais fertilizantes solúveis em água, tais como nitrato de potássio, ureia, fosfato monopotássico, sulfato de magnésio, molibdato de amônio, entre outros. Para garantir a eficiência dessas soluções, é crucial submetê-las a condições adequadas de temperatura, oxigenação, pressão osmótica e pH. Esses elementos são essenciais para o desenvolvimento saudável das plantas e para otimizar a absorção dos nutrientes.
Embora as plantas apresentem uma capacidade significativa de adaptação a diferentes soluções nutritivas, é importante considerar os limites de pH, pressão osmótica e proporção entre os nutrientes. De acordo com Backes et al. (2004), isso é essencial para evitar que um nutriente interfira na absorção do outro e para prevenir a formação de compostos insolúveis por precipitação. Esses cuidados garantem um ambiente nutricional adequado para o crescimento saudável das plantas na hidroponia.
A hidroponia é frequentemente conduzida em ambientes controlados, nos quais variáveis como temperatura, luminosidade, umidade relativa do ar e incidência de pragas e doenças são monitoradas de perto. Isso permite criar condições ideais para o desenvolvimento das culturas. Nos sistemas hidropônicos comerciais, as hortaliças e flores são os principais produtos cultivados. No Brasil, o cultivo sem solo tem sido amplamente utilizado para produzir variedades como alface, tomate, pepino, morango e diferentes tipos de flores (CASTELLANE; ARAUJO, 1994).
Na hidroponia, as plantas são colocadas em canais ou recipientes por onde circula uma solução nutritiva. Essa solução é composta de água pura e nutrientes dissolvidos em quantidades específicas para atender às necessidades de cada espécie vegetal cultivada. Os canais ou recipientes podem ou não ter algum meio de sustentação para as plantas, como pedras ou areia, dependendo do sistema hidropônico utilizado. Essa técnica permite que as plantas recebam diretamente os nutrientes de que precisam, sem depender do solo, resultando em um crescimento mais eficiente e controlado.
O sistema NFT (Nutrient Film Technique) ou Técnica do Fluxo Laminar, amplamente utilizado comercialmente em hidroponia, consiste em canais nos quais as plantas têm suas raízes submersas em um filme de nutrientes em constante circulação. Este filme é posteriormente recolhido e direcionado de volta a um tanque (MOSS, 1983). É essencial que aproximadamente dois terços do sistema radicular da planta permaneçam submersos, absorvendo os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento, enquanto o terço restante deve se desenvolver ao ar livre, permitindo a absorção de oxigênio (CASTELLANE; ARAUJO, 1995).
A estrutura básica de um sistema NFT inclui uma casa de vegetação ou estufa, um reservatório para a solução nutritiva, uma bancada ou mesa para os canais, uma bomba para circulação da solução, encanamentos e um temporizador para controlar a distribuição da solução nutritiva. Esses componentes trabalham em conjunto para garantir que as plantas recebam os nutrientes e o oxigênio necessários para um crescimento saudável e vigoroso.
O cultivo em estufas oferece diversas vantagens, permitindo uma utilização intensiva da terra e dos recursos financeiros, além de possibilitar a produção de maneira controlada, com menor dependência das condições climáticas. Isso resulta em um melhor aproveitamento de insumos e permite a distribuição da produção ao longo do ano, regulando a oferta e oferecendo ao produtor a oportunidade de evitar períodos de baixa demanda e preços mais baixos (RODRIGUES et al., 1997).
Além disso, devido ao seu pequeno espaço ocupado, capacidade de atingir rapidamente o ponto de comercialização e proporcionar um retorno financeiro rápido, a alface é uma cultura que tem ganhado cada vez mais espaço na produção hidropônica (ZITO et al., 1994). Essas vantagens tornam a hidroponia em estufas uma opção atrativa para produtores que buscam maximizar sua produção e rentabilidade.
2.2 Hidroponia na escola
A hidroponia se destaca como uma ferramenta valiosa para a prática pedagógica, pois não requer grandes estruturas para sua implementação. Em alguns casos, apenas uma ou duas plantas são suficientes para demonstrar o funcionamento do sistema. Além disso, a hidroponia não exige um investimento financeiro e de materiais tão significativo quanto outros métodos de cultivo.
Além disso, a hidroponia tem sido cada vez mais difundida como uma prática pedagógica nas escolas desde 2006. Vários trabalhos foram aplicados nesse contexto e têm apresentado resultados satisfatórios. Essas iniciativas têm contribuído para uma educação mais eficaz dos alunos, facilitando o processo de ensino-aprendizagem (BEZERRA NETO et al., 2016).
Segundo Ramos et al. (2018), ao aplicar a hidroponia, busca-se compreender a composição das substâncias, os cálculos envolvidos e sua aplicação prática, com o objetivo de tornar as aulas mais atraentes e promover um estudo interdisciplinar que envolva diversos componentes curriculares. Essa abordagem flexibiliza o conhecimento para os alunos, facilitando a aprendizagem e minimizando o desperdício de água e nutrientes. Assim, a hidroponia se torna uma atividade sustentável, promovendo ações efetivas na sociedade.
Através da hidroponia, busca-se também ampliar a compreensão do aluno sobre o conceito de ambiente, indo além do contexto natural. Diante das demandas de uma sociedade cada vez mais tecnológica, é crucial que a escola proporcione aos alunos oportunidades para adquirir conhecimentos, desenvolver habilidades e aprimorar atitudes que lhes permitam observar, compreender e analisar as transformações dessa sociedade em relação aos problemas socioambientais (SANTOS, 2006).
Segundo Nascimento et al. (2014) e Mendonça (2021), a escola deve adotar uma abordagem interdisciplinar, apresentando aos alunos conceitos relevantes de forma integrada. Isso serve como uma ferramenta metodológica para proporcionar aulas dinâmicas e contextualizadas, visando resgatar o vínculo perdido com a natureza. Além disso, essa abordagem busca compreender e transformar a relação entre indivíduos e entre o ser humano e o ambiente, promovendo interações entre diversas disciplinas, tais como ciências naturais, biologia, química, física, geografia, história, matemática, língua portuguesa, língua estrangeira (inglês ou espanhol) e informática, por meio da utilização do sistema hidropônico.
De acordo com as sugestões de Nascimento et al. (2014) e Mendonça (2021), diversas disciplinas do currículo básico podem ser integradas para trabalhar o tema da hidroponia no ensino fundamental de forma interdisciplinar. Aqui estão algumas sugestões para cada disciplina:
Geografia: Discutir a melhor posição para a estufa visando obter maior insolação, considerando os pontos cardeais (norte, sul, leste, oeste).
Física: Explorar a possibilidade de obtenção de energia cinética para o funcionamento da hidroponia e como isso pode ser alcançado.
Matemática: Calcular quantos pés de hortaliças podem ser produzidos por metro quadrado de estufa, considerando o espaço disponível.
História: Investigar quando e onde surgiu a hidroponia, explorando seu desenvolvimento ao longo do tempo.
Química: Identificar os tipos de produtos químicos utilizados na hidroponia e discutir seus efeitos e funções.
Biologia: Estudar as partes principais de uma planta e entender como ocorre seu crescimento, relacionando com o cultivo hidropônico.
Língua Portuguesa: Pesquisar a origem da palavra “hidroponia” e seu significado, explorando também seu uso na língua portuguesa.
Língua Estrangeira (Inglês ou Espanhol): Traduzir os termos técnicos e expressões usadas em hidroponia para o português, enriquecendo o vocabulário.
Informática: Explorar como a informática pode ser utilizada na automatização dos sistemas hidropônicos, discutindo sobre sensores, sistemas de controle e monitoramento.
Portanto, a hidroponia pode ser trabalhada na escola como uma ferramenta importante na educação ambiental. Esta forma de educação ambiental é abrangente e visa atingir todos os cidadãos por meio de um processo pedagógico participativo e contínuo. Seu objetivo é desenvolver uma consciência crítica nos educandos em relação às questões ambientais, permitindo-lhes compreender a origem, evolução e processos de reversão dos danos ao meio ambiente (POLLI et al., 2012).
Ao propor a adoção da técnica da hidroponia como uma abordagem para promover uma aprendizagem diferenciada, busca-se criar um ambiente de aprendizado dinâmico no qual o aluno se reconheça como um participante ativo do processo educacional e perceba a relevância prática das atividades. Dentro dessa técnica, há espaço para utilizar conhecimentos que demandam habilidades de cálculo, identificação e manipulação de situações, aplicação de técnicas específicas, avaliação da viabilidade de intervenções e, consequentemente, sua avaliação. Tudo isso visa tornar o processo de aprendizado em Ciências mais investigativo (MORIN, 2007).
Além de contribuir para a construção do conhecimento acadêmico, a adoção da hidroponia como uma ferramenta de ensino possibilita o desenvolvimento da consciência ecológica entre os alunos. Eles têm a oportunidade de exercer autonomia ao aplicar suas crenças em relação à conservação ambiental. A construção e manutenção do sistema hidropônico oferecem recursos didáticos que permitem uma abordagem interdisciplinar, inclusive durante o processo de montagem do sistema. Isso possibilita a análise de diversas situações relacionadas à educação ambiental (BRASIL, 2013).
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), no que diz respeito à aprendizagem das Ciências da Natureza no Ensino Médio, é essencial que os alunos compreendam de maneira abrangente e integrada às diferentes transformações químicas, físicas e biológicas que ocorrem no mundo físico. Isso lhes permitirá analisar, julgar e tomar decisões de forma crítica, reflexiva e autônoma. Portanto, é fundamental que os alunos adquiram conhecimento sobre as mudanças que ocorrem ao seu redor, levando em consideração todos os saberes provenientes do cotidiano e de suas experiências, a fim de que possam aplicá-los de maneira eficaz para intervir no mundo socialmente construído (BRASIL, 1999).
A abordagem investigativa tem como ponto de partida a identificação de um problema, visando promover o desenvolvimento da autonomia, capacidade de tomar decisões, avaliar, formular hipóteses e argumentar (ZÔMPÉRO; LABURÚ, 2011).
Carvalho (2013) também destaca que ao desenvolver uma sequência investigativa em sala de aula, é essencial iniciar com um problema, seja ele experimental ou teórico, de forma contextualizada para estimular os estudantes a pensarem e trabalharem os fenômenos. A autora complementa que, em um segundo momento, é importante realizar uma atividade de sistematização dos conhecimentos de maneira coletiva e individual. Na terceira etapa, propõe-se contextualizar o conhecimento no cotidiano, para que os alunos percebam a importância do aprendizado no contexto social (CARVALHO, 2013).
Um aspecto importante é a necessidade de pesquisas que proporcionem aos alunos o contato com novas informações. No decorrer destas atividades é importante transmitir aos alunos os novos conhecimentos adquiridos, o que pode ser feito oralmente ou por escrito (ZÔMPÉRO; LABURÚ, 2011).
Ferraz e Sasseron (2017) enfatizam a importância da comunicação entre os alunos, onde o foco é promover a argumentação, criando conhecimento. Segundo os autores, a abordagem da pesquisa proporciona um ambiente onde a construção de argumentos é facilitada pela interação e colaboração entre os membros e elementos que compõem a sala de aula. Além disso, constatam que o ensino baseado em pesquisa se caracteriza pela preferência pelo trabalho integrado com diferentes práticas metodológicas e didáticas que variam de acordo com o perfil do professor e os recursos utilizados para o desenvolvimento das aulas.
De acordo com Sauvé (et al., 2001), a adoção de diversas técnicas de ensino promove de maneira inovadora a curiosidade e a investigação autônoma dos alunos, tornando-se assim um meio facilitador de aprendizagem que atende às exigências contemporâneas de ativismo estudantil. A implementação de hortas hidropônicas está alinhada a essa proposição, pois oferece ferramentas didáticas eficazes ao se diferenciar do cotidiano escolar, o que aumenta a relevância das atividades educativas. Essa abordagem é considerada atípica no ambiente escolar, o que contribui para sua significância e impacto no processo de aprendizagem.
Considerando as discussões contemporâneas e os documentos orientadores da educação nacional, como a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que visa promover um ensino centrado no desenvolvimento de competências e habilidades, há um entendimento crescente de que o processo de ensino e aprendizagem deve partir do cotidiano dos alunos. Isso implica buscar constantemente a interdisciplinaridade dos conhecimentos, ou seja, a integração entre diferentes áreas do saber.
2.3 Como implementar um sistema hidropônico escolar
Para uma melhor compreensão dos conceitos das disciplinas de Ciências pelos estudantes, é essencial diversificar as abordagens de ensino em sala de aula, enfatizando menos os aspectos quantitativos (NIEZER, 2012).
Para executar um projeto de hidroponia na escola, é crucial contar com o respaldo da direção e dos professores. É fundamental dispor de um espaço apropriado para a instalação do sistema hidropônico, como uma sala de aula ou uma estufa. Os educadores podem buscar recursos e materiais educativos relacionados à hidroponia e elaborar atividades que engajem os alunos na concepção e na manutenção do sistema.
Os investimentos necessários para estabelecer um sistema hidropônico escolar podem variar dependendo do tamanho do projeto e dos equipamentos selecionados. Além dos itens básicos, é fundamental considerar as despesas relacionadas à aquisição de soluções nutritivas e iluminação artificial para as plantas. Não podemos esquecer também dos custos associados ao consumo de água e energia elétrica.
Na prática da hidroponia, as soluções nutritivas com substratos naturais ou artificiais são empregadas para fornecer os nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas (NETO, 2016). Inicialmente, são preparadas soluções nutritivas contendo diversos nutrientes, as quais são posteriormente diluídas para atingir a concentração desejada. Após a diluição, é fundamental medir o pH e a condutividade elétrica da solução, pois são parâmetros indispensáveis no cultivo de vegetais através dessa técnica. Essas medições devem ser realizadas diariamente e ajustadas conforme necessário (NETO, 2016).
O desenvolvimento de uma horta escolar traz benefícios tanto individuais quanto coletivos, auxiliando os estudantes na construção de valores, uma vez que essa atividade envolve o trabalho em equipe, união, comunicação e participação (FERNANDES, 2005). Diversos exemplos práticos de iniciativas de hidroponia escolar podem ser observados em diferentes regiões do Brasil.
Em Florianópolis, Santa Catarina, a Coordenadoria de Alimentação Escolar implementou o projeto “Horta Viva”, com o objetivo de auxiliar na formação dos estudantes e da comunidade escolar em educação ambiental e alimentar, incentivando a implantação e manutenção de hortas escolares (MORGADO; SANTOS, 2006).
Em um estudo realizado em três escolas municipais de Embu das Artes, São Paulo, o desenvolvimento da horta promoveu a troca de experiências e a prática de conteúdos teóricos por meio de experiências subjetivas e intersubjetivas, além de fortalecer os vínculos com a natureza (COELHO; BÓGUS, 2016).
Os projetos de hidroponia na escola têm gerado uma série de resultados positivos para os alunos envolvidos. Além do aprendizado em áreas como ciência, tecnologia e sustentabilidade, os alunos também têm a oportunidade de desenvolver habilidades socioemocionais essenciais, como trabalho em equipe, responsabilidade e resiliência.
Essas iniciativas não apenas contribuem para o crescimento acadêmico dos alunos, mas também podem ter um impacto significativo em sua autoestima, à medida que se sentem orgulhosos dos resultados de seu trabalho. Além disso, muitos projetos têm efeitos benéficos na comunidade, pois os alunos podem comercializar as hortaliças cultivadas ou doá-las para instituições locais, promovendo um ciclo positivo de sustentabilidade e serviço comunitário.
A técnica da hidroponia oferece oportunidades para além das ciências naturais e pode ser integrada a diversas disciplinas educativas. Por exemplo, os projetos de hidroponia podem ser conectados a disciplinas como matemática, história e geografia. Os alunos podem explorar a história da agricultura e sua evolução ao longo do tempo, além de aplicar cálculos matemáticos para determinar a quantidade de solução nutritiva necessária para as plantas ou para estimar a produção de hortaliças.
Além disso, os projetos de hidroponia podem ser uma valiosa ferramenta para ensinar empreendedorismo e marketing. Os alunos podem aprender sobre estratégias de venda das hortaliças cultivadas e como desenvolver um negócio sustentável de agricultura urbana. Essa abordagem multidisciplinar não só enriquece o aprendizado dos alunos, mas também os prepara para enfrentar desafios do mundo real e promover soluções inovadoras em diferentes áreas do conhecimento.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho, foi possível constatar a eficácia e a importância de diversificar as abordagens de ensino dentro da sala de aula, indo além da tradicional exposição de conteúdos baseada exclusivamente no livro didático. Ao introduzir o sistema hidropônico como uma ferramenta educacional, observou-se uma significativa melhoria na dinâmica das aulas, bem como no engajamento e participação dos alunos no processo de aprendizagem.
A utilização do sistema hidropônico proporciona uma experiência prática e envolvente para os estudantes, permitindo-lhes não apenas absorver conhecimentos teóricos, mas também aplicá-los em um contexto real. A interação direta com o cultivo de plantas por meio da hidroponia desperta a curiosidade e o interesse dos alunos, estimulando sua criatividade, capacidade de investigação e resolução de problemas.
É importante ressaltar que, embora cada ambiente escolar apresente suas próprias dificuldades e desafios, é papel da escola e dos professores buscar alternativas que tornem as aulas mais atrativas e eficazes. A integração de métodos de ensino inovadores, como a utilização da hidroponia, não apenas enriquece o processo educacional, mas também fortalece a conexão entre os conteúdos curriculares e a realidade dos alunos.
Ao promover um ambiente de aprendizagem dinâmico e participativo, o uso de diferentes ferramentas e abordagens pedagógicas contribui não apenas para o desenvolvimento acadêmico dos estudantes, mas também para sua formação integral como cidadãos ativos e críticos. Assim, investir na diversificação das práticas educacionais não apenas beneficia o corpo docente e discente, mas também impacta positivamente a sociedade como um todo, preparando os alunos para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.
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