SYNERGISTIC EFFECT OF ALLIUM SATIVUM ESSENTIAL OIL AND CONVENTIONAL ANTIBIOTICS AS POTENTIAL ANTIMICROBIAL AGAINST ACINETOBACTER BAUMANNII AND STAPHYLOCOCCUS AUREUS STRAINS.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202501101832
Maria Fernanda Lima de Macêdo1; Amanda Benigno Silva2; Juliana Maria Batista Costa3; Deborah Regina Cavalcanti4; Samily Aquino de Sá Oliveira5; Danillo Sales Rosa6; Mateus Matiuzzi da Costa7; Xirley Pereira Nunes8; Jorge Messias do Nascimento9; Maria da Conceição Aquino de Sá10
Resumo
A Organização Mundial da Saúde prioriza a busca por novos tratamentos para bactérias resistentes, principalmente, Acinetobacter baumannii resistentes aos carbapenêmicos e Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA). As infecções causadas por essas bactérias são difíceis de tratar, assim, têm-se buscado novas alternativas como a utilização de produtos naturais. Com isso, o Allium sativum, tem se destacado por suas propriedades antimicrobianas e capacidade anti-inflamatória. Com isso, objetivou-se avaliar o potencial antimicrobiano do óleo essencial de A. sativum, sozinho e combinado com antibióticos, frente a isolados de A. baumannii e S. aureus. Para isso, inicialmente, o óleo essencial foi produzido por meio de hidrodestilação do bulbo de A. sativum utilizando um aparelho de Clevenger. Foram usadas bactérias originárias de ambiente hospitalar, sendo dois isolados de A. baumannii, um isolado de S. aureus, e uma ATCC (American Type Culture Collection) de S. aureus (25923). Testou-se a viabilidade do óleo essencial e depois foi avaliada a sua atividade antimicrobiana in vitro e de antibióticos de uso tradicional por meio de microdiluição em caldo, a fim de determinar a concentração inibitória mínima (CIM) e concentração bactericida mínima (CBM). Em seguida, realizaram-se avaliações da atividade sinérgica entre o óleo essencial e os antibióticos por meio do método de checkerboard. A CIM/CBM do óleo essencial do A. sativum foi de 3.200 µg/mL para os isolados estudados. Em relação a CIM/CBM dos antibióticos o efeito bactericida foi em média de 62,5 µg/mL para Ampicilina, 250 µL/mL para a Oxacilina, para os isolados de A. baumannii e S. aureus. Para a ATCC 25923, houve sensibilidade à Oxacilina (250 µg/mL) e Ampicilina (62,5 µg/mL). Com a realização desse estudo, verificou-se o potencial antimicrobiano do óleo essencial de A. sativum interagindo com antibióticos convencionais.
PALAVRAS-CHAVE: Antimicrobiano. Resistência.Sinergismo.
1. INTRODUÇÃO
Um grande problema de saúde pública mundial que têm aumentado nos últimos anos corresponde às bactérias multirresistentes a drogas (MDR), causadoras de doenças infecciosas. O uso excessivo de antibióticos, resulta no desenvolvimento de resistência a diversos medicamentos por bactérias patogênicas. Esse rápido aumento da resistência provoca um aumento da morbidade, mortalidade e dos custos em cuidados com a saúde (MEHRISHI et al., 2020).
Dentre essas bactérias o gênero Acinetobacter spp. são importantes patógenos oportunistas, que, ao longo dos anos, estão cada vez mais presentes em infecções nosocomiais, havendo relatos de muitos surtos em hospitais. Dessa forma, tornaram-se resistentes a quase todos os agentes antimicrobianos disponíveis atualmente, incluindo quinolonas, aminoglicosídeos e lactâmicos de amplo espectro. Além disso, vale ressaltar que, existem diferenças na susceptibilidade antimicrobiana entre A. baumannii e as outras espécies do gênero, devido a alvos alterados, produção de biofilme, degradação enzimática e efluxo ativo (KIRTIKLIENE et al., 2021).
Já em relação a bactéria Staphylococcus aureus, patógeno considerado integrante da microbiota normal do ser humano, mas é um importante patógeno oportunista, responsável por infecções de pele e até septicemia, com alta gravidade e risco de morte. Esse agente etiológico mostra-se com frequência multirresistentes aos antibióticos. Assim, é importante realizar testes de susceptibilidade para escolha da droga ideal (CUSSOLIM, 2021).
Nessa perspectiva, uso de plantas medicinais como medida terapêutica, visto que essas plantas apresentam compostos biológicos ativos como óleos essenciais, fenólicos, lectinas, entre outros que demonstraram propriedades antimicrobianas e podem ser uma alternativa ao tratamento com antibiótico convencional. A (BATIHA et al., 2020; MEHRISHI et al., 2020). O Allium sativum L. tem propriedades terapêuticas, e pode ser usado como bactericida, fungicida, vermífugo, antiviral e antiprotozoário. Pela eficiência dos terpenos, terpenos oxigenados, fenilpropanóides, álcoois, aldeídos, cetonas de cadeias curtas. Além da alicina (dialil-tiosulfinato) e ajoeno (EL-SAYED et al., 2017).
Dessa forma é necessário avaliar o potencial antibacteriano do óleo essencial de Allium sativum frente a isolados de Acinetobacter baumannii e Staphylococcus aureus, bem como o efeito sinérgico entre o óleo essencial de A. sativum e os antibióticos meropenem, ampicilina/sulbactam, gentamicina e oxacilina frente às bactérias A. baumannii e S. aureus.
2. MÉTODOS
2.1 Local do experimento
O experimento foi realizado no Laboratório Multiusuário da Faculdade Estácio/Idomed de Juazeiro-BA, Brasil.
2.2 Óleo essencial
Para a extração do óleo essencial foram selecionados 500g de bulbos de A. sativum. Os bulbos foram descascados e triturados em um homogeneizador com água estéril fria. Posteriormente, foi realizada a hidrodestilação utilizando um aparelho de Clevenger com aquecimento por 3 h. Após a extração, o óleo essencial foi coletado e armazenado a -20 °C.
2.3 Isolados bacterianos
Foram utilizados dois isolados de A. baumannii (311 e 316), um isolado de S. aureus (317), já caracterizados bioquimicamente, originários de ambiente hospitalar e uma ATCC (American Type Culture Collection) de S. aureus (25923). Os isolados liofilizados foram ressuspendidos em Mueller-Hinton Broth (MHB) e depois semeados em Mueller-Hinton Ágar (MHA) para confirmação de sua viabilidade e pureza, conforme descrições de Quinn et al. (1994).
2.4 Testes de sensibilidade in vitro
Foram preparadas concentrações de 500.000 μg/mL do óleo essencial de A. sativum. Também foi realizada uma solução estoque para os antibióticos na concentração de 1000 μg/mL. A determinação da Concentração Inibitória Mínima foi realizada pela metodologia de microdiluição em caldo, baseada no documento M100-S25 (CLSI, 2015). Para isso foram adicionados 100 µL de MHB em todos os poços da microplaca, adicionados 100 µL da solução estoque no primeiro poço, em triplicata. Após homogeneização, foram transferidos 100 µL para o próximo poço. As concentrações do óleo foram determinadas de forma decrescente (500.000; 250.000, 125.000; 62.500; 31.250; 15.625; 7.812,5; 3.906,25 µg/mL) e para os antibióticos (500; 250; 125; 62,5; 31,25; 15,62; 7,81; 3,90 μg/mL).
Na preparação do inóculo, colônias obtidas em MHA foram utilizadas na obtenção de uma suspensão bacteriana em solução salina 0,85% com turvação equivalente a 0,5 da escala de MacFarland. Desta suspensão foram inoculados 10 µL nos poços da microplaca contendo a diluição do óleo essencial. Foram realizados controles: de esterilidade do meio de cultura, contendo apenas 100 µL de MHB, e de viabilidade celular, contendo 100 µL de MHB e 10 µL da suspensão bacteriana.
O material foi incubado a 37 °C por 24 h, em condições de aerobiose. Foi determinada a concentração inibitória mínima (CIM) ao verificar a menor concentração do óleo essencial capaz de causar inibição do crescimento bacteriano. Quando não for observado crescimento bacteriano visível, foi retirada uma alíquota de 10 µL e semeada na superfície de placas contendo MHA e incubada a 37 ºC por 24 h, para a determinação da concentração bactericida mínima (CBM). Após este período, a CBM foi definida como a menor concentração do óleo essencial capaz de causar a morte do inócuo. Todos os ensaios foram realizados em triplicata.
2.5 Teste de sinergismo
Em uma microplaca foi adicionado 100 μL do óleo na concentração de 500000 µg/mL na coluna 1 (linhas A-F) e foi realizada a diluição seriada até a coluna 6. Posteriormente, foram adicionados 100 µL do antibiótico (solução aquosa de Meropenem, Sulbactam, Ampicilina e Oxacilina, separadamente) na linha A (colunas 1-6), na concentração de 2(125 µL) para o Meropenem 2(62,5 µL) para Ampicilina/Sulbactam e 2(250 µL) para oxacilina e realizada diluição seriada até a linha F. Em seguida, foram adicionados em todos os poços 10 µL de uma suspensão bacteriana em solução salina 0,85% com turvação equivalente a 0,5 da escala de MacFarland. Nos poços 1-3 da linha H foi colocada apenas a suspensão bacteriana em 100 μL de MHB, como controle de viabilidade celular, e nos poços 4-6 da linha H foram adicionados apenas MHB para controle de esterilidade. Para isso, após as 24 h em incubação a 37 °C, foram adicionados 30 μL de 2,3,5-Cloreto de Trifeniltetrazólio (CTT) e foi verificada a mudança da coloração do material para rosa nos poços que a bactéria não foi inibida. Para interpretação da metodologia do Checkerboard os critérios do índice de Fração Inibitória (IFI) foram analisados conforme Lee, Jang e Cha (2011). O cálculo do Índice de Fração Inibitória (IFI) é importante para determinar o efeito de sinergismo dos antibióticos. Esse valor foi obtido através da divisão do CIM combinado (Óleo de A. sativum e antibiótico) pela CIM da substância isolada (Óleo de A. sativum ou antibiótico), de acordo com a equação: =(SE(∑IFI<1;”Sinérgico”;SE(∑IFI=1;”Aditivo”;SE(∑IFI>1;”Indiferente”).
3. RESULTADO E DISCUSSÕES
Em relação a Concentração Inibitória Mínima e Concentração bactericida Mínima do óleo essencial de A. sativum foi para todos os isolados de 500.000 μg/Ml. Em relação a esse resultado, Silva et al. (2019) demonstraram-se com base nos resultados obtidos que o óleo essencial de Allium sativum L. não possui uma atividade antibacteriana direta por não formar, isoladamente, um halo de inibição das bactérias testadas, uma delas a Staphylococcus aureus. Assim, a partir da avaliação da atividade antibacteriana, observou-se que o óleo essencial de alho não apresentou atividade considerável sobre esses microrganismos. Caldas et al. (2019), constataram que o óleo essencial de alho que não teve atividade antimicrobiana contra o microrganismo.
O Staphylococcus aureus é um patógeno oportunista que está envolvido em infecções humanas tanto de origem comunitária, quanto hospitalar. É um agente que pode causar desde infecções simples como espinhas, furúnculos e celulites até infecções mais graves como pneumonia, meningite, endocardite e septicemia (SANTOS, 2018).
Já as infecções causadas por A. baumannii aumentaram significativamente nos últimos anos em todo o mundo. A taxa de mortalidade e os custos do tratamento com pacientes que adquirem infecções por A. baumannii são altos, principalmente em locais onde não existem programas efetivos de controle de infecção. Essa bactéria é considerada um patógeno oportunista presente substancialmente nos hospitais, sobretudo em unidades de terapia intensiva, e é responsável em causar diversas infecções que podem evoluir para desfechos fatais. Logo, é possível caracterizar que esse patógeno se torna uma grande ameaça à saúde pública após adquirir resistência aos antibióticos de amplo espectro, como por exemplo os carbapenêmicos, e essa resistência aos antimicrobianos têm aumentado expressivamente ao longo dos anos (ZUNIGA-MOYA et al., 2020).
Os β- lactâmicos podem se mostrar antagonistas em associação com outras drogas que induzem a β-lactamase microssomal. Além disso, as penicilinas quando combinadas com agentes bacteriostáticos podem ter ação antagônica (ACAR, 2000). Outro ponto a se destacar é que microrganismos gram-negativos- como A. baumannii– produzem as β-lactamase por genes dos plasmídeos de forma constitutiva. Assim, a enzima se mantém conectada à parede celular e não inativa os β-lactâmicos, de modo que o acesso de fármacos aos receptores-alvo fica impedido (RANG et al., 2016). Todos esses mecanismos podem contribuir para o insucesso da associação da ampicilina com outras drogas.
A evolução da resistência bacteriana aos fármacos se deve em grande parte à aquisição de enzimas inativadoras ou mutações-alvo do fármaco que são responsáveis em bloquear a ação letal do antibiótico. As transformações adquiridas, estas que variam entre os isolados bacterianos, agem juntamente com mecanismos conservados que estão intimamente relacionados à penetração reduzida da droga, a exemplo disso é possível destacar um envelope celular de baixa permeabilidade, com o auxílio da formação de biofilmes e uma regulação positiva das bombas de efluxo (GEISINGER et al., 2020).
A notável alta resistência aos antibióticos pode estar relacionada também a um importante fator de virulência conhecido como biofilme bacteriano, visto que é responsável por se fixar facilmente em várias superfícies sólidas vivas e não vivas, como por exemplo, dispositivos médicos, incluindo válvulas e cateteres, instrumentos ideais para a formação da matriz polimérica do biofilme. Os biofilmes são conjuntos de bactérias que produzem uma matriz extracelular superprotetora e persistente. Evidencia-se que a erradicação do biofilme normalmente requer concentrações de antibióticos 100-1.000 vezes maiores do que se fosse o crescimento dessas células bacterianas individuais flutuantes (FURNER-PARDOE et al., 2020).
Já o antibiótico gentaminicina o efeito bactericida dos isolados 311, 316 de A. baumannii, bem como o isolado 317 e a ATCC 25923 de S. aureus, foram sensíveis. Assim, a gentamicina não foi utilizada na metodologia do sinergismo.
Quanto à suscetibilidade do isolado 311 de A. baumanni frente ao meropenem e à ampicilina/sulbactam, observou-se a CIM de 125 e 31,25 μg/mL, respectivamente. Com relação ao isolado 316, a MIC foi de 62,5 μg/mL tanto para o meropenem quanto para a ampicilina/sulbactam. Já a CBM o isolado 311 foi de 125 μg/mL e 500 μg/mL, para o meropenem e a ampicilina/sulbactam, respectivamente e a CBM para o isolado 316 foi de 62,5 µg/mL tanto para o meropenem quanto para a ampicilina/sulbactam.
A utilização indiscriminada de antibióticos gera impactos como: implicações ecológicas, epidemiológicas, maior incidência de efeitos colaterais e o risco de infecções mais graves, elevando o número de óbitos (EDWARDS, 2012). Desta maneira, os estudos que visam o tratamento de doenças infecciosas provocadas por estafilococos, particularmente S. aureus, sensíveis ou não aos beta-lactâmicos, tendem a se tornar cada vez mais importantes, devido às cepas resistentes serem de difícil controle.
Em relação ao efeito dos antibióticos frente ao isolado 317 de S. aureus, a Ampicilina apresentou CIM e CBM na concentração de 62,5 µg/mL e a Oxacilina em 250 µL/mL.
Para o Sinergismo (checkerboard) da combinação do óleo essencial de alho e oxacilina no patógeno S. aureus, o resultado foi sinérgico para as concentrações de 31,25, 62,5 e 125 μg/mL de oxacilina, sendo de 250 μg/mL sozinho e para as concentrações de 62500, 125000 e 250000 μg/mL do óleo essencial de alho. O melhor valor de ∑IFI foi de 0,375 para o isolado 317.
A CIM da ampicilina foi de 62,5 μg/mL, do sulbactam foi de 31,25 μg/mL e o do óleo de alho foi de 500000 μg/mL sozinhos para o isolado 317 de S. aureus. Foi notado o efeito sinérgico entre ampicilina na concentração de 7,81 μg/mL, para a concentração de 125000 μg/mL do óleo de A. sativum e sulbactam com concentrações de 3,91 μg/mL frente ao isolado. Essas concentrações em sinergismo representam melhor valor de ∑IFI foi de 0,500 para o isolado 317.
Foi notado o efeito sinérgico entre o óleo de A. sativum e meropenem em diversas concentrações, sendo as menores de 62500 μg/mL para o óleo e de 3,91 μg/mL para meropenem, com o melhor valor de ∑IFI de 0,15628 para o isolado 311. Para o isolado 316 também foi encontrado efeito sinérgico em várias concentrações, destacando-se a menor concentração de Meropenem de 1,95 μg/mL em associação com a menor concentração (125000 μg/mL) de óleo de alho, sendo o melhor ∑IFI de 0,2812.
O extrato oleoso de A. sativum apresenta lipofilicidade que possibilita sua passagem pela membrana plasmática da célula bacteriana, de forma a romper as camadas de fosfolipídios, ácidos graxos, lipídios, polissacarídeos, o que altera a permeabilidade dessa estrutura (OLIVEIRA et al. 2021). O extrato de A. sativum tem potencial efeito sinérgico com antibióticos, como vancomicina, gentamicina e tetraciclina. O método checkerboard é utilizado para avaliar de forma experimental a interação entre drogas em diferentes concentrações. Esse teste vai avaliar se há sinergismo, que é a redução da Concentração Inibitória Mínima (CIM) quando há a combinação de dois antimicrobianos em comparação a seu uso isolado. Após a obtenção do CIM, o Índice de Fração Inibitória é calculado para definir se ocorreu o sinergismo, o qual é obtido pela divisão do CIM ou Concentração Bactericida Mínima (CBM) da combinação de antimicrobianos dividido pelo CIM ou CBM do antimicrobiano isolado (ALMEIDA et al. 2013).
A CIM da ampicilina foi de 31,25 μg/mL, do sulbactam foi de 15,62 μg/mL e o do óleo de alho foi de 500000 μg/mL, sozinhos para o isolado 311 de A. baumannii. Não foi notado efeito sinérgico entre a ampicilina, sulbactam e o óleo de A. sativum.
De acordo com Acosta et al. (2017), o Staphylococcus aureus obteve considerável importância relacionada à saúde humana pela elevada patogenicidade e aumento na prevalência de cepas multirresistentes aos antibióticos. Sua elevada patogenicidade está relacionada com mecanismos multifatoriais e complexos determinados pela capacidade da bactéria de expressar uma variedade de fatores de virulência que facilitam a ocorrência de doenças. Este microrganismo produz vários fatores de virulência que promovem adesão aos componentes da matriz extracelular do hospedeiro, danificam suas células e protegem a bactéria do sistema imunológico (ZECCONI; SCALI 2013).
Como alternativa à resistência bacteriana, as plantas medicinais são de grande importância na saúde mundial e como solução para as mais variadas patologias. No início da década de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que 65-80% da população dos países em desenvolvimento dependiam de substâncias extraídas a partir de plantas medicinais como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde (SANTOS, 2018). Sendo assim, a utilização de plantas para fins medicinais torna-se uma alternativa de tratamento, cura e prevenção para várias doenças, é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade, sendo que o acesso a estas é facilitado, devido ao custo como por sua abrangência no mundo inteiro.
A CIM da ampicilina foi de 62,5 μg/mL, do sulbactam foi de 31,25 μg/mL e o do óleo de alho foi de 500000 μg/mL sozinhos para o isolado 316 de A. baumannii. Notou- se o efeito sinérgico entre ampicilina nas concentrações de 15,62 e 7,81 μg/mL, óleo de A. sativum (250000, 125000, 62500, 15625 μg/mL) e o sulbactam (concentração de 7,81 e 3,91μg/mL). O melhor ∑IFI foi de 0,531.
Tendo em vista os resultados, observou-se que o óleo essencial de alho apresentou ótimos resultados quando associado ao meropenem em diversas concentrações para as cepas 311 e 316 de A. baumannii. Com relação ao isolado 311 de A. baumannii, a associação ao óleo de alho não apresentou sinergismo com a Ampicilina e o Sulbactam, mas com o isolado 316 ocorreu o sinergismo no mesmo experimento. Para o isolado 317 S. aureus, a associação entre o óleo de alho mostrou sinergismo associado à oxacilina e com a combinação de sulbactam e ampicilina.
Diversas estratégias estão sendo desenvolvidas para superar a resistência bacteriana, como alterar a estrutura dos antibióticos existentes, produzir derivados e combinar com elementos lipofílicos- alquilas, por exemplo (MÜHLBERG et al. 2020).
Segundo Pillai et al. (2013), às associações do extrato aquoso de alho com a ampicilina no tratamento de infecções por S. aureus podem preservar a utilização da vancomicina, o que reduziria o uso de drogas mais caras e as reações adversas (toxicidade de antibióticos mais potentes). Desse modo, estudos in vivo e in vitro devem ser realizados para conhecer sobre o comportamento do sinergismo entre os produtos do alho e antibióticos em organismos vivos.
Nos testes in vitro realizados neste estudo, o uso óleo de A. sativum se mostra promissor em associação com meropenem na inibição dos isolados 311 e 316 da A. baumannii em estudos. A ampicilina com sulbactam e óleo de alho apresenta sinergismo quando testados no isolado 311 da A. baumannii. O uso do óleo de alho também apresentou sinergismo quando acrescido à oxacilina ou com a combinação de ampicilina/sulbactam para isolados 317 da S. aureus não suscetíveis aos antibióticos citados.
Uma alternativa, em destaque, é a utilização de produtos naturais como antimicrobianos ou em sinergismo com antibióticos, pois são de fácil acesso e amplamente usados pela população. Nesse sentido, dentre os diversos fitoterápicos em estudo, Allium sativum (alho) se mostra promissor, em estudos in vitro e in vivo, devido sua capacidade protetora contra infecções de MRSA em ratos. Além disso, A. sativum tem atividade contra microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos, tanto na forma de extrato aquoso quanto de óleo essencial (VENÂNCIO et al. 2017).
A. sativum tem em sua composição a Alicina, responsável pela ação antimicrobiana que interage com o grupo tiol e inibe enzimas metabólicas sulfidrilas da bactéria. A alicina é capaz, ainda, de ampliar a resposta imunológica: aumenta a produção de interferon-gama (IFN-γ), ativa a proliferação de células TCD4+, estimula a adesão de neutrófilos no organismo. O selênio presente no A. sativum tem atividade antioxidante (OLIVEIRA et al. 2021). Os efeitos da alicina, foram observados sobre diversos microrganismos, como a inibição das vias metabólicas importantes através da associação com suas enzimas e proteínas. Além disso, estudos apontam que a alicina pode ter um efeito importante quando associada a outras substâncias antimicrobianas, potencializando sua ação em relação ao uso isolado da alicina (CHOO et al. 2020).
Zago et al. (2009) observaram uma tendência de interação positiva entre determinadas drogas antimicrobianas e óleos essenciais de plantas, demonstrando a capacidade do uso de produtos naturais combinados aos antimicrobianos tradicionais na finalidade de aumentar o potencial antimicrobiano das drogas. Oliveira et. al. (2006) trazem nos resultados do seu trabalho que a Ampicilina, cefalotina e tetraciclina foram os antibióticos que apresentaram a maior interferência dos óleos essenciais, sendo observado, na maioria das interações, uma interferência sinérgica.
Em outro estudo realizado por Machado et al. (2019), foi testado o sinergismo entre o extrato aquoso de alho com antibióticos. A atividade antimicrobiana para Ceftriaxona, Penicilina, Vancomicina e Oxacilina associados ao extrato aquoso de A. sativum 50% foi maior quando comparados ao uso isolado dos antibióticos em amostras de Staphylococcus aureus. Esses resultados mostram que a antibioticoterapia pode ser positiva em sinergismo com os produtos do alho, mas requer novas análises para caracterizar melhor sobre a posologia, o uso do óleo em detrimento do extrato aquoso, efeito sinérgico em cepas resistentes aos antibióticos.
4. CONCLUSÃO
As infecções causadas por A. baumannii e Staphylococcus aureus representam um grave problema de saúde em todo o mundo, com isso, o estudo de produtos naturais como antimicrobianos ou em sinergismo com antibióticos tem ganhado espaço no âmbito científico, pois são materiais de fácil obtenção e com uso difundidos pela população. Este estudo revelou que A. baumannii possui um perfil de elevada resistência, pois o óleo essencial de alho foi incapaz de inibir o crescimento bacteriano. Uma alternativa, em destaque, é a utilização de produtos naturais como antimicrobianos ou em sinergismo com antibióticos, pois são de fácil acesso e amplamente usados pela população. Nesse sentido, dentre os diversos fitoterápicos em estudo, Allium sativum se mostra promissor.
Para melhor compreensão do uso do óleo de A. sativum, maiores estudos in vivo são necessários, a fim de avaliar o comportamento, sua viabilidade, melhor forma de administração e a distribuição nos tecidos para cumprir o objetivo de atuar junto aos antimicrobianos. Portanto, nota-se a relevância do estudo e a necessidade da busca e do desenvolvimento de análises para identificar alternativas ao tratamento das infecções causadas por bactérias multirresistentes a drogas, como as afecções representadas pela bactéria A. baumannii e S. aureus.
REFERÊNCIAS
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1Graduanda em medicina. Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro-BA, Juazeiro-BA. E-mail: fernandamadaslima@gmail.com
2Graduanda em medicina. Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro-BA, Juazeiro-BA. E-mail: amandabenigno99@gmail.com
3Graduanda em medicina. Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro-BA, Juazeiro-BA. E-mail: julicosta2011@hotmail.com
4Graduanda em medicina. Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro-BA, Juazeiro-BA. E-mail: deborah_regina17@hotmail.com
5Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Petrolina-PE. E-mail: samilyaquino2@gmail.com
6Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Recife-PE. E-mail: danillosrosa@gmail.com
7Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Petrolina-PE. E-mail: mateus.costa@univasf.edu.br
8Universidade Federal do Vale do São Francisco-UNIVASF, Petrolina-PE. E-mail: xirley.nunes@univasf.edu.br
9Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro-BA, Juazeiro-BA. E-mail: nascimento.jorge@estacio.br
10Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro-BA, Juazeiro-BA. E-mail: aquino.maria@estacio.br