REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202412300709
Márcia Conceição Santos1
Shirley Gielma Costa Vasconcelo2
Mílvio da Silva Ribeiro3
RESUMO: O estudo aborda a exclusão acadêmica de estudantes surdos no ensino superior, destacando a ausência de literatura adaptada à Língua Brasileira de Sinais (Libras) como uma barreira significativa. Essa exclusão afeta a acessibilidade ao conhecimento, a igualdade de oportunidades e provoca impactos psicossociais, como desmotivação e isolamento. O objetivo principal é investigar como a falta de materiais adaptados influencia o desempenho acadêmico e propor estratégias que promovam a inclusão. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica qualitativa, analisando obras e legislações sobre a educação inclusiva no Brasil. Os resultados evidenciam que a ausência de conteúdos acessíveis prejudica o aprendizado, a autonomia e o desenvolvimento acadêmico dos estudantes surdos, enquanto a falta de capacitação docente e de políticas efetivas agrava esse cenário. O estudo conclui que investir em materiais adaptados e formação docente é essencial para garantir igualdade de oportunidades, promovendo um ambiente educacional mais inclusivo e justo, alinhado à legislação vigente.
PALAVRAS-CHAVE: Acessibilidade; Literatura; Inclusão; Libras.
ABSTRACT: The study addresses the academic exclusion of deaf students in higher education, highlighting the absence of literature adapted to the Brazilian Sign Language (Libras) as a significant barrier. This exclusion affects accessibility to knowledge, equal opportunities and causes psychosocial impacts, such as demotivation and isolation. The main objective is to investigate how the lack of adapted materials influences academic performance and propose strategies that promote inclusion. The methodology used was a qualitative bibliographic review, analyzing works and legislation on inclusive education in Brazil. The results show that the lack of accessible content harms the learning, autonomy and academic development of deaf students, while the lack of teaching training and effective policies worsens this scenario. The study concludes that investing in adapted materials and teacher training is essential to guarantee equal opportunities, promoting a more inclusive and fair educational environment, in line with current legislation.
KEYWORDS: Accessibility; Literature; Inclusion; Pounds.
1. Introdução
O estudante surdo enfrenta, em sua trajetória acadêmica, inúmeras barreiras que resultam em desvantagens significativas no desenvolvimento acadêmico e profissional. Essas dificuldades se manifestam principalmente em três aspectos: a acessibilidade ao conteúdo acadêmico, a ausência de igualdade de oportunidades e os impactos psicossociais.
No campo da acessibilidade, a carência de materiais adaptados em Libras (Língua Brasileira de Sinais) limita o acesso dos estudantes surdos a recursos fundamentais, como artigos, dissertações e outros textos acadêmicos. Essa lacuna compromete o desenvolvimento intelectual e científico, uma vez que impede esses alunos de explorar plenamente os conteúdos necessários para sua formação acadêmica.
Quanto à igualdade de oportunidades, é evidente que a ausência de materiais adaptados posiciona os estudantes surdos em desvantagem em relação aos colegas ouvintes. Essa desigualdade é especialmente notória na leitura e na produção textual, habilidades essenciais para o sucesso no ensino superior.
Além disso, os impactos psicossociais associados à exclusão acadêmica, como a baixa autoestima e a desmotivação, frequentemente dificultam ainda mais o progresso desses estudantes. A sensação de isolamento e a percepção de falta de valorização no ambiente acadêmico podem levar até mesmo à evasão escolar.
Diante desse cenário, o presente estudo tem como objetivo geral investigar como a ausência de literatura adaptada para estudantes surdos influencia negativamente o processo de aquisição do conhecimento no ensino superior. Para isso, busca-se identificar as principais barreiras enfrentadas no acesso à literatura acadêmica, analisar os impactos dessa falta de acessibilidade no desempenho acadêmico e propor estratégias que promovam a inclusão por meio da adaptação de materiais didáticos.
A realização deste estudo justifica-se pela necessidade de assegurar aos estudantes surdos a igualdade de oportunidades no ambiente acadêmico, garantindo-lhes condições adequadas para o desenvolvimento de suas potencialidades. Embora o ensino superior brasileiro tenha avançado em termos de inclusão, a falta de materiais adaptados em Libras perpetua uma exclusão que compromete não apenas o desempenho acadêmico, mas também a formação científica e profissional desses indivíduos. Assim, este trabalho busca contribuir para a construção de um sistema educacional mais justo e inclusivo, alinhado aos princípios estabelecidos pela legislação vigente.
2. Referencial Teórico
A inclusão educacional de estudantes surdos no ensino superior é uma questão que desafia a estrutura tradicional do sistema educacional, evidenciando lacunas na adaptação de materiais e metodologias. A acessibilidade, que deveria ser um direito garantido, ainda encontra entraves significativos, especialmente quando se trata de literatura acadêmica. A ausência de obras traduzidas para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) limita o desenvolvimento acadêmico e científico desses alunos, colocando em xeque os objetivos de uma educação inclusiva.
A literatura existente discute amplamente a importância da leitura para o desenvolvimento intelectual e profissional. Segundo De Brito (2010), “É importante lembrar que o ato da leitura promove a estimulação de novos vocabulários e imagens que são assimilados no dia a dia”. Mas, há um consenso de que os estudantes surdos enfrentam barreiras específicas nesse processo. A principal delas é a inacessibilidade dos textos acadêmicos, que não são disponibilizados em formatos adequados. Apesar de políticas de inclusão terem sido implementadas, há uma evidente lacuna entre as diretrizes legais e a prática efetiva nas universidades brasileiras.
Além da questão técnica da tradução de materiais, há um problema mais profundo: a falta de reconhecimento das especificidades linguísticas e culturais dos surdos. Muitos conteúdos adaptados focam apenas em questões formais, como a tradução literal de textos, sem considerar as nuances linguísticas que influenciam a compreensão. Isso pode levar a uma inclusão superficial, que não aborda plenamente as necessidades reais dos estudantes surdos.
Outro aspecto que emerge na literatura é a formação docente. Professores frequentemente não estão preparados para trabalhar com estudantes surdos, o que agrava a exclusão acadêmica. SANTANA (2016), já apontava esta situação quando investigou sobre o fato, e cita: “Acrescente-se que os alunos referem que os professores não estão preparados para terem alunos surdos.” Mesmo em instituições onde intérpretes de Libras estão presentes, a falta de capacitação dos docentes sobre as necessidades específicas desse público cria uma barreira adicional. Há, portanto, uma necessidade urgente de repensar as práticas pedagógicas e investir na formação continuada dos educadores.
A literatura também destaca um dilema relacionado ao papel do intérprete em sala de aula. Embora os intérpretes sejam essenciais para a comunicação, sua presença não elimina a necessidade de materiais acessíveis. Muitas vezes, a interpretação simultânea não substitui o acesso direto a textos acadêmicos, o que reforça a dependência dos estudantes surdos e limita sua autonomia no processo de aprendizado.
A igualdade de oportunidades é outro ponto amplamente discutido. Enquanto estudantes ouvintes têm acesso a uma vasta gama de materiais, os surdos dependem de adaptações que muitas vezes não existem ou são insuficientes. Isso levanta questões sobre equidade no sistema educacional, pois sem acesso aos mesmos recursos, os estudantes surdos permanecem em desvantagem, comprometendo seu desempenho acadêmico e futuro profissional. De acordo com Medeiros,
A “Contextualização da Igualdade de Oportunidades” é um princípio fundamental no cenário da educação contemporânea. Esse princípio diz respeito à noção de que todas as pessoas, independentemente de suas origens, capacidades, características pessoais ou quaisquer outras distinções, devem ter a mesma oportunidade de acessar a educação e todos os benefícios que ela oferece. É uma visão que se baseia na premissa de justiça, equidade e direitos humanos. (MEDEIROS, 2023, p. 10)
A contextualização da igualdade de oportunidades, conforme discutida por Medeiros (2023), ressalta a importância de garantir que todas as pessoas, independentemente de suas características ou diferenças, tenham acesso igualitário à educação e aos seus benefícios. No contexto da inclusão de estudantes surdos, esse princípio adquire uma relevância ainda maior, pois enfatiza a necessidade de superar barreiras históricas e estruturais que limitam seu desenvolvimento acadêmico.
A igualdade de oportunidades fundamenta-se na justiça e nos direitos humanos, exigindo que as instituições educacionais não apenas acolham a diversidade, mas também proporcionem os recursos e adaptações necessários para que cada indivíduo possa alcançar seu potencial máximo em condições justas e equitativas.
Embora haja um consenso sobre a necessidade de adaptar materiais para os surdos, a literatura aponta contradições em relação às melhores práticas para isso. Algumas abordagens priorizam a tradução direta para Libras, enquanto outras defendem o desenvolvimento de metodologias que considerem a linguagem visual e as especificidades cognitivas dos surdos. Essas divergências refletem a complexidade do tema e a necessidade de mais estudos empíricos que orientem políticas educacionais eficazes.
Além disso, existe uma lacuna na pesquisa sobre como a falta de materiais adaptados impacta aspectos psicossociais dos estudantes surdos. Estudos indicam que essa exclusão pode levar à baixa autoestima, desmotivação e até mesmo evasão escolar. No entanto, há poucos dados sistemáticos sobre como essas questões influenciam diretamente o desempenho acadêmico e as escolhas profissionais desse público.
As políticas educacionais inclusivas representam outro ponto de debate. Apesar de legislações como a Lei Brasileira de Inclusão preverem o direito ao acesso educacional pleno, sua implementação ainda é irregular. Há um consenso de que o Estado e as instituições de ensino superior precisam investir mais em tecnologias assistivas e na criação de conteúdos adaptados. Porém, essa implementação esbarra frequentemente na falta de recursos e na baixa prioridade dada a esse tema. O direito à educação é um dos primeiros passos para diminuir a desigualdade social. (Dos Santos Silva, 2016, p. 95)
A exclusão de estudantes surdos no ensino superior não se limita à ausência de materiais adaptados, mas também reflete uma exclusão epistemológica. Muitos estudos ignoram a perspectiva dos próprios surdos sobre suas necessidades e desafios, perpetuando práticas que os marginalizam ainda mais. Incorporar as vozes e experiências dos estudantes surdos é essencial para desenvolver soluções que realmente atendam às suas demandas.
Ademais, a leitura como um meio de emancipação intelectual e social é um consenso na literatura, mas essa ideia é frequentemente restrita ao contexto dos ouvintes. Para os surdos, a leitura requer adaptações que vão além da tradução literal, envolvendo estratégias que considerem sua relação única com a linguagem e a cognição. A ausência dessas adaptações não apenas limita o aprendizado, mas também reduz as possibilidades de engajamento crítico e reflexivo.
Por fim, o referencial teórico aponta para a necessidade de um modelo educacional mais inclusivo, que vá além de medidas paliativas e enfrente as raízes das desigualdades no acesso ao conhecimento. Isso exige não apenas mudanças na infraestrutura educacional, mas também uma transformação cultural que valorize a diversidade linguística e cognitiva. Investir em materiais adaptados, capacitação docente e políticas inclusivas é essencial para que os estudantes surdos possam exercer plenamente seu direito à educação e contribuir de maneira significativa para a sociedade.
3. Metodologia
A metodologia empregada neste artigo baseia-se em uma pesquisa bibliográfica, fundamentada na análise de materiais acadêmicos, como livros, artigos científicos, dissertações e legislações pertinentes ao tema da inclusão de estudantes surdos no ensino superior.
Esse tipo de estudo é adequado para investigar conceitos e teorias já estabelecidos, possibilitando uma compreensão aprofundada sobre as barreiras enfrentadas por esse público no acesso à literatura acadêmica e no desenvolvimento educacional. A abordagem bibliográfica permite identificar lacunas, consensos e contradições na literatura existente, fornecendo subsídios para reflexões críticas e a proposição de estratégias inclusivas.
Os dados foram selecionados com base em critérios de relevância e confiabilidade, priorizando obras e autores reconhecidos na área de educação inclusiva. A análise foi conduzida de maneira qualitativa, permitindo compreender as relações entre os desafios enfrentados pelos estudantes surdos e as práticas educacionais vigentes.
Considerações éticas foram observadas ao referenciar adequadamente as fontes consultadas, garantindo a integridade acadêmica do estudo. Por ser um trabalho de cunho bibliográfico, suas limitações residem na ausência de coleta de dados empíricos, restringindo as análises à literatura existente. Contudo, os resultados obtidos oferecem uma base sólida para discussões e futuras pesquisas que possam aprofundar as questões abordadas.
4. Resultados e Discussões
A presença de estudantes surdos no ensino superior tem se tornado cada vez mais comum, reflexo dos avanços no processo de inclusão que têm possibilitado o ingresso desse público no ambiente acadêmico. Contudo, essa trajetória é repleta de desafios, pois eles enfrentam diversas barreiras educacionais que os colocam em desvantagem em relação aos demais alunos.
Entre essas barreiras, destaca-se a falta de acessibilidade aos conteúdos educacionais, um problema crítico para a inclusão. Essa limitação compromete o acesso dos estudantes surdos às fontes de conhecimento, essenciais para o desenvolvimento de uma boa interpretação de texto, o que, por sua vez, impacta diretamente no desempenho acadêmico e científico. Infelizmente, muitos desses estudantes permanecem desassistidos em relação a elementos fundamentais para seu progresso acadêmico. Nesse contexto, Mendes afirma que:
A maior problemática dos surdos na vida acadêmica é a dificuldade em compreender textos concernentes às disciplinas como também a falta de acessibilidade linguística, o despreparo quanto aos conhecimentos científicos e escassez de sequências didáticas adequadas ao contexto universitário, necessárias à elaboração de atividades e avaliações. Outra questão importante é que muitos docentes desconhecem ou não aplicam as práticas educacionais inclusivas (Mendes, 2023, p. 12)
Entende-se que as questões levantadas pela autora evidenciam falhas na condução do processo de inclusão dos estudantes surdos, demonstrando como ele tem sido implementado de forma inadequada. Todos os envolvidos nesse processo acabam sendo prejudicados, pois trata-se de um desafio que não foi previamente planejado com os elementos fundamentais para a promoção efetiva da inclusão.
Nesse contexto, os estudantes surdos e os professores são os mais impactados. Os professores, muitas vezes, carecem de experiência e qualificação em Libras, o que compromete diretamente a comunicação com os alunos surdos. Por outro lado, os estudantes enfrentam a falta de conteúdos adaptados e indispensáveis para seu progresso intelectual e desenvolvimento acadêmico. Mendes (2023) explica que:
Para que os surdos tenham uma compreensão eficiente no ato da leitura, o docente deve adotar estratégias que atendam a esse público, nas suas diversidades linguísticas. A língua de instrução deve ser a Libras, adotando o LP como segunda língua. O letramento dos surdos – ato de ler, escrever e compreender – deve ser prioridade nas medidas de políticas educacionais, sem as quais não obterão êxito na vida acadêmica. A leitura fornece ferramentas necessárias para agir sobre a sociedade através da compreensão, da reflexão e da expressão (Mendes, 2023, p. 17).
Infelizmente, os docentes envolvidos no processo de inclusão não foram devidamente capacitados para adotar as estratégias mencionadas pela autora, o que gera uma grande desvantagem para os estudantes surdos, que frequentemente ficam desassistidos de conteúdos adequados para acompanhar as aulas.
Sabemos que os conteúdos acadêmicos e científicos são elementos indispensáveis para a produção do conhecimento e para o desenvolvimento profissional e social de qualquer indivíduo. No entanto, é evidente que os estudantes surdos não se beneficiam plenamente desses conteúdos, pois eles não estão adaptados para Libras – Língua Brasileira de Sinais. Essa falta de adaptação causa uma grande desvantagem na aquisição do conhecimento acadêmico e científico, uma vez que dificulta o acesso a materiais importantes, como artigos, dissertações, teses e outros gêneros acadêmicos essenciais para o desenvolvimento intelectual.
Esses conteúdos são imprescindíveis para a ampliação do conhecimento em qualquer área do saber. O principal objetivo de uma pessoa ao ingressar na faculdade é buscar um conhecimento mais profundo e qualificado, que possibilite seu desenvolvimento intelectual e profissional, abrindo oportunidades no mercado de trabalho e contribuindo para a produção de ciência.
Para alcançar esses objetivos, é necessário dispor de vários elementos importantes, sendo a leitura um dos mais essenciais para a aquisição de conhecimento. No entanto, enquanto os ouvintes têm acesso a uma ampla gama de materiais, os estudantes surdos enfrentam dificuldades, pois muitos desses conteúdos estão disponíveis em idiomas diferentes de seu próprio, tornando-se inacessíveis. Isso gera um questionamento: como esses estudantes poderão construir seu conhecimento se não têm acesso aos materiais indispensáveis ao desenvolvimento cognitivo?
É evidente que a leitura reflexiva de conteúdos é fundamental para o desenvolvimento acadêmico dos estudantes surdos, pois ela possibilita a reflexão sobre diversos temas e a construção de um conhecimento mais qualificado, permitindo que eles cheguem a suas próprias conclusões sobre os assuntos abordados. De Sabino explica:
A leitura reflexiva permite ampliar conhecimentos e adquirir novos conhecimentos gerais e específicos, possibilitando a ascensão de quem lê a níveis mais elevados de desempenho cognitivo, como a aplicação de conhecimentos a novas situações, a análise e a crítica de textos, actos e factos e a síntese de estudos realizados. Com a leitura reflexiva, o leitor desperta para novos aspectos da vida em que ainda não tinha pensado, desperta para o mundo real e para o entendimento do outro ser. Assim os seus horizontes percepcionais são ampliados. A comunicação oral e/ou escrita adquire maior fluência através da prática da leitura reflexiva. O leitor torna-se progressivamente mais capacitado para se autonomizar cultural e civicamente, (De Sabino, 2008, p. 3-4).
Sem dúvida, a autora do texto está correta ao afirmar que a leitura de qualquer gênero nos permite refletir sobre aspectos da vida cotidiana, adquirir conhecimentos específicos e, muitas vezes, aplicá-los na prática. Contudo, essa leitura permanece inacessível aos estudantes surdos, pois os conteúdos não estão disponíveis em Libras.
É importante destacar que a ausência de materiais adaptados à Língua Brasileira de Sinais dificulta o acesso dos estudantes surdos ao conhecimento. Por essa razão, a adaptação de conteúdos é essencial no processo de aquisição do saber em qualquer nível de ensino. A leitura é uma ferramenta indispensável para o aprendizado, pois possibilita um caminho mais direto para a construção do conhecimento.
No entanto, no processo de inclusão dos estudantes surdos, observa-se a ausência de conteúdos adaptados para sua língua de origem, o que resulta em desvantagens acadêmicas significativas. Essa lacuna impede que esses alunos aprofundem seus conhecimentos em áreas específicas, limitando-os aos conteúdos interpretados em sala de aula por um intérprete.
Além disso, a ausência de recursos adaptados afeta também os professores, que, em sua maioria, não foram preparados para receber estudantes surdos no ambiente escolar, o que agrava ainda mais o desafio da inclusão. Nesse contexto:
A escassez de materiais didáticos voltados para o ensino dos alunos surdos é um grande problema para os profissionais de educação, no qual na maioria das vezes eles não estão preparados para lidar com uma situação, no qual seja necessário a mediação escolar de alunos surdos (Lourenço, 2023, p. 15).
Certamente, o difícil acesso aos conteúdos acadêmicos compromete a participação efetiva dos estudantes surdos nas atividades acadêmicas, especialmente na pesquisa, que é fundamental para a busca de soluções para problemas educacionais, sociais e econômicos.
Essas dificuldades são uma realidade evidente para os estudantes surdos e impactam diretamente no seu processo educacional. A literatura é um elemento indispensável para a qualificação intelectual, o desenvolvimento acadêmico e a produção do conhecimento científico, elementos que garantiriam uma formação acadêmica e científica de excelência. Contudo, os estudantes surdos encontram-se em desvantagem nesse processo, pois a literatura acadêmica não está adaptada à Libras.
Se a literatura estivesse adaptada, ela proporcionaria aos estudantes surdos o acesso pleno aos conteúdos acadêmicos e científicos disponíveis. Como afirma Mendes (2023), a leitura é a base para a formação social e educacional do indivíduo, contribuindo para o desenvolvimento da criticidade e da autonomia, ao possibilitar uma compreensão mais profunda do mundo em que está inserido. Essa perspectiva é essencial para que os estudantes surdos possam se engajar nas relações entre texto e contexto acadêmico.
Infelizmente, os estudantes surdos permanecem distantes dessa participação plena, uma vez que a maior parte das leituras está em língua portuguesa, direcionada exclusivamente aos estudantes ouvintes. Além disso, a leitura promove a autonomia na busca por conhecimento, permitindo que o estudante se torne um acadêmico genuíno, apto a explorar novas informações de forma independente. Porém, sem literatura adaptada à Língua Brasileira de Sinais, os estudantes surdos permanecem dependentes de intérpretes durante as aulas, limitando sua capacidade de pesquisar e estudar diversos temas fora desse ambiente.
Essa ausência de materiais adaptados no ensino superior resulta em um atraso educacional significativo para os estudantes surdos. Eles enfrentam dificuldades para acompanhar as disciplinas e acessar os conteúdos acadêmicos, o que impede que tenham as mesmas oportunidades de qualificar e aprofundar seus conhecimentos. Consequentemente, essa barreira compromete sua capacidade de produzir conhecimento científico e participar de maneira plena na vida acadêmica.
A falta de materiais adaptados coloca os estudantes surdos em desvantagem em relação aos seus colegas ouvintes, uma vez que não possuem as mesmas oportunidades, especialmente no que se refere à leitura e à produção de textos.
No que diz respeito à leitura, as desvantagens são evidentes. Isso fica claro ao observarmos a ampla quantidade de literatura produzida para estudantes ouvintes, enquanto os estudantes surdos permanecem sem acesso às leituras indispensáveis para alcançar o mesmo desenvolvimento acadêmico. Essa situação impede que eles acompanhem seus colegas em igualdade de condições, violando os direitos garantidos pela Lei 13.146/2015, que estabelece a inclusão e acessibilidade como pilares fundamentais.
A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. (BRASIL, 2015)
A lei deixa claro que é direito das pessoas com deficiência ter acesso ao conhecimento em qualquer nível de escolaridade, e as instituições de ensino devem garantir esse acesso de forma igualitária, permitindo que os estudantes surdos acompanhem sua evolução educacional sem barreiras. Sem uma estrutura adequada, os estudantes com deficiência não conseguirão alcançar o pleno desenvolvimento educacional.
No caso dos estudantes surdos, a falta de materiais adaptados para realizar pesquisas certamente resultará em lacunas no conhecimento. A pesquisa é um fator essencial no meio acadêmico, pois nos permite explorar novos horizontes e aprofundar nosso entendimento sobre diversos temas. Sem acesso à pesquisa, os estudantes surdos sofrerão um grande prejuízo intelectual.
Esse prejuízo comprometerá as oportunidades dos estudantes surdos em relação aos ouvintes, pois seus conhecimentos ficam restritos às informações transmitidas pelos intérpretes durante as aulas. Sabemos que o ambiente de sala de aula não é suficiente para a compreensão completa de certos conceitos; é necessário buscar informações fora dele. Porém, muitos estudantes surdos não têm essa possibilidade, pois carecem de conteúdos acadêmicos adaptados, o que representa uma barreira educacional que afeta diretamente seu desenvolvimento intelectual.
É necessário, portanto, adotar medidas para adaptar os conteúdos acadêmicos, permitindo que os estudantes surdos se tornem autônomos na busca de informações. Com isso, eles terão as mesmas oportunidades de acesso a leituras disponíveis aos estudantes ouvintes, garantindo uma educação mais igualitária.
Outra desvantagem diz respeito à produção de conteúdo acadêmico. Sem o acesso a materiais adaptados, os estudantes surdos não poderão elaborar documentos acadêmicos, essenciais no nível superior. Para construir um artigo ou qualquer outro trabalho científico, é imprescindível a leitura de diversos conteúdos que embasem os argumentos tratados no texto. Nesse sentido, os estudantes surdos estão em grande desvantagem, pois não têm acesso a elementos cruciais para a elaboração e produção de documentos acadêmicos e científicos.
O desempenho acadêmico dos estudantes surdos depende em grande parte de como as instituições de ensino estão estruturadas para orientá-los nesse processo de ensino-aprendizagem. Infelizmente, esses estudantes enfrentam diversas barreiras no ensino superior, especialmente a ausência de literatura adaptada, que é essencial para expandir seus conhecimentos além dos limites da universidade. Sem esses recursos, eles não terão a base necessária para se aprofundar nas áreas de estudo escolhidas, o que impactará diretamente em suas notas, conhecimentos acadêmicos, científicos e profissionais.
No que diz respeito ao desenvolvimento profissional, a falta de literatura adaptada prejudica diretamente a qualificação dos estudantes surdos, uma vez que eles não terão as mesmas oportunidades de formação que os estudantes ouvintes. Isso coloca os estudantes surdos em desvantagem ao tentar acessar o mercado de trabalho, onde a qualificação profissional é fundamental. Vale lembrar que a própria lei 13.146/2015 garante o acesso ao trabalho de maneira igualitária, com suporte necessário:
Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, na qual devem ser atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento de recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no ambiente de trabalho. (Brasil. 2015)
Infelizmente, os recursos necessários mencionados na lei ainda não estão disponíveis. É evidente que ainda não há literatura adaptada para que os estudantes surdos possam se qualificar e se preparar adequadamente para garantir uma vaga de emprego.
Vale ressaltar que os estudantes surdos têm a capacidade de aprender qualquer conteúdo sem grandes dificuldades. No entanto, é fundamental que lhes sejam proporcionados os suportes essenciais para sua aprendizagem. É importante que as oportunidades sejam iguais, tanto para os ouvintes quanto para os surdos, pois ambos têm a capacidade de adquirir conhecimento, desde que as condições sejam adaptadas às necessidades de cada um.
Os estudantes surdos, ao ingressarem na universidade sem a devida estrutura, como materiais adaptados, incluindo livros, artigos, teses, dissertações, artigos científicos e outros documentos de leitura, sentem-se excluídos do processo educacional. Isso ocorre porque não conseguem acompanhar os conteúdos apresentados em sala de aula e, muito menos, realizar pesquisas sobre determinados assuntos.
Essa situação, sem dúvida, impacta diretamente na motivação e na autoestima dos estudantes surdos, pois eles não conseguem acompanhar os temas da mesma forma que os estudantes ouvintes. Além disso, pode causar isolamento social, pois esses estudantes se sentem desconectados das atividades acadêmicas e dos colegas, uma vez que não compreendem o conteúdo transmitido. Como afirma Mendes:
Os surdos ingressam na universidade, em geral, com pouca percepção do que irão enfrentar. As dificuldades se tornam evidentes no período de adaptação dos alunos ao processo de leitura e compreensão de textos, concernentes às disciplinas cursadas. Mesmo com o auxílio de intérpretes da Libras monitores e demais educadores da área, a demanda do ensino superior tem gerado a este público grande desgaste físico e psicológico (Mendes, 2023, p. 12).
A citação de Mendes (2023) destaca um aspecto importante da experiência dos estudantes surdos no ensino superior: a dificuldade de adaptação ao processo de leitura e compreensão de textos acadêmicos. Ao ingressarem na universidade, esses alunos muitas vezes não têm plena consciência dos desafios que enfrentarão, o que se traduz em um desgaste físico e psicológico considerável. Mesmo com o suporte de intérpretes de Libras, monitores e outros educadores especializados, o ensino superior apresenta exigências que demandam muito esforço dos estudantes surdos, principalmente devido à falta de materiais adaptados e à necessidade de superar as barreiras linguísticas e acadêmicas.
Este relato ilustra como, embora existam esforços para integrar os estudantes surdos, as condições atuais ainda não são suficientes para garantir uma inclusão plena. O desgaste físico e psicológico mencionado é um reflexo das dificuldades enfrentadas por esses alunos, que precisam não apenas de apoio, mas de um ambiente acadêmico que seja estruturado para suas necessidades específicas.
Em conclusão, é evidente que os estudantes surdos enfrentam desafios significativos no ensino superior, principalmente devido à falta de materiais acadêmicos adaptados e às barreiras linguísticas. Para que haja uma verdadeira inclusão, é fundamental que as instituições de ensino invistam em recursos acessíveis e na capacitação de todos os envolvidos no processo educacional. Somente assim será possível proporcionar uma experiência acadêmica mais igualitária, onde os estudantes surdos possam se desenvolver plenamente, tanto intelectual quanto profissionalmente.
5. Conclusão
A literatura não adaptada para estudantes surdos representa uma desvantagem significativa no processo educacional no ensino superior, afetando diretamente aspectos cruciais como a acessibilidade ao conteúdo acadêmico, a igualdade de oportunidades e os aspectos psicossociais. Essas lacunas dificultam a aprendizagem dos estudantes surdos, que se veem impossibilitados de acessar informações essenciais no meio acadêmico devido à falta de adaptações adequadas da literatura.
Uma solução viável seria o investimento em recursos financeiros voltados à adaptação da literatura da língua portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais (Libras), além da ampliação do ensino de Libras em todos os níveis de educação. Isso permitiria uma maior integração entre estudantes surdos e ouvintes, promovendo uma troca de conhecimento mais rica e significativa. A expansão de Libras contribuiria para uma maior participação dos estudantes surdos nas aulas, melhoraria a interação entre a comunidade surda e acadêmica e poderia reduzir a evasão escolar.
Portanto, essas medidas ajudariam a superar algumas das barreiras que ainda impedem a inclusão plena, proporcionando melhores condições para que os estudantes surdos alcancem o sucesso acadêmico e profissional. Investir na acessibilidade dos materiais acadêmicos é fundamental para garantir a igualdade de oportunidades, permitindo que todos os estudantes tenham as mesmas chances de atingir seus objetivos educacionais e profissionais.
Referências
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1Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Educação
Instituição de formação: Faculdade Interamericana de Ciências Sociais (FICS)
Endereço: Igarapé-Miri – Pará, Brasil
E-mail: marcia.codemi@hotmail.com
https://orcid.org/0009-0009-2757-8092
2Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Educação
Instituição de formação: Faculdade Interamericana de Ciências Sociais (FICS)
Endereço: Igarapé-Miri – Pará, Brasil
E-mail: shirleygielma@live.com
3Doutor em Geografia
Instituição de formação: Universidade Federal do Pará (UFPA)
Endereço: Belém – Pará, Brasil
E-mail: milvio.geo@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1118-7152