VIVÊNCIAS E PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: “A AÇÃO DO EDUCADOR NAS  PERSPECTIVAS VIGOTSKIANA E PIAGETIANA”

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412272113


                                                          Joélia Santos da Silva


Resumo

O presente trabalho tem por objetivo destacar segundo as perspectivas vigotskiana e piagetiana como é importante e fundamental o papel do educador no processo de aprendizagem e desenvolvimento de crianças pequenas. Mediante esse contexto analisarei a práxis de duas educadoras de Educação Infantil da Escola Municipal Olavo Novaes nas turmas de pré-escola. com crianças de 04 a 05 anos de acordo com a aplicação do Projeto Jogos e brincadeiras na alfabetização onde as mesmas assumiram o papel de organizadoras de situações de aprendizagens no espaço educativo. Portanto esse trabalho visa contribuir significantemente com o trabalho pedagógico  dos futuros profissionais que escolheram a Educação Infantil para iniciar a docência.

Palavras- chave: processo de  aprendizagem e desenvolvimento; projeto e prática pedagógica.

Introdução

Partindo das reflexões oriundas após as discussões na disciplina processos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil, senti a necessidade de investigar a prática pedagógica de duas educadoras de  Educação Infantil na Escola Municipal Olavo Novaes para compreender a importância da ação do educador segundo as contribuições de Vygotsky e Piaget no que se refere a transmissão do conhecimento.

Outro fator que serviu de análise foi à aplicação do projeto Jogos e brincadeiras na alfabetização que oportunizou as crianças experiências ímpares em seu processo de ensino-aprendizagem, possibilitando ao professor ser o organizador do ambiente social.

Durante o trabalho realizado como professora na Escola Municipal  Olavo Novaes, ao longo dos últimos anos, minhas preocupações têm se voltado para o cotidiano da sala de aula especificamente à prática pedagógica dos professores de Educação Infantil.

Portanto, a pesquisa tem a pretensão de investigar a práxis das educadoras especificamente no processo de ensino, procurando identificar as contribuições das abordagens interacionista  e histórico cultural e suas influências no que diz respeito à ação pedagógica frente ao desenvolvimento da aprendizagem na educação de crianças pequenas.

I – As contribuições de Piaget e Vygotsky  no espaço educativo de Educação Infantil

È interessante buscar na história  da educação as contribuições das teorias de Vygotsky e Piaget sobre os processos de desenvolvimento infantil como suporte teórico que fundamente o trabalho pedagógico nos espaços educativos de Educação Infantil.

Ao analisar as duas abordagens quero ressaltar a importância de ambas para o processo educacional da criança e de sua constituição como ser social, sujeito de sua história e produtora de cultura.

Muniz por meio do conceito de interação das teorias de Piaget e Vygotsky, pensa a criança no espaço pedagógico, como sujeito de Educação Infantil, sendo imprescindível para ela, investigar de que forma as teorias  psicológicas do desenvolvimento infantil  que influenciam a pedagogia tratam a questão da interação da criança com o meio social e cultural.

A autora juntamente com Vygotsky (1993), concorda que o papel da cultura e do meio social na aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo são de importância fundamental. Forquin (1993) por sua vez, propõem que não se pode pensar em uma educação fora do âmbito de uma determinada cultura, assim como sua influência direta sobre os conteúdos da mesma. Em Freire (1996), temos a leitura de mundo,que demonstra a capacidade de entendimento de cada um acerca do mundo,inteligibilidade que se constitui cultural e socialmente, não devemos deixar de explanar o poder da palavra,considerada como um signo mediador, por Freire e Vygotsky.

Muniz  ressalta a criatividade e a autonomia como característica implícitas na perspectiva socioculturais proposta para Educação Infantil. A creche e a pré-escola são consideradas como um espaço e um tempo com características próprias. Segundo Kramer ( 1986, p.79) afirma que:

conceber a criança como o ser social que ela é, significa: considerar que ela tem uma historia, que pertence a uma classe determinada, estabelece relações definidas segundo o seu contexto de origem, que apresenta uma linguagem decorrente dessas relações sociais e culturais estabelecidas, que ocupa um espaço que não é só geográfico ,mas que também é de valor, ou seja, ela é valorizada de acordo com os padrões de seu contexto familiar e de acordo também com  sua própria inserção nesse contexto.( KRAMER 1986,p.79)

A autora diz que é preciso pensar a criança como um ser portador de uma cultura própria, viva, definida nos grupos infantis, e que é do maior valor e significado.

II – O papel do educador como organizador de situações de aprendizagens.

De acordo com Luckesi (2005), considerar e discutir a formação de professores e as práticas educativas, os seus conhecimentos, seus saberes, suas competências e suas habilidades são imprescindíveis, visto que, a partir da legitimação desses aspectos é que podemos construir outras possibilidades de educação. Construir novos caminhos implica determinar um novo olhar sobre as ações desses profissionais, pois é a partir das suas práticas educativas que conceituamos os professores como promotores de uma educação pautada em uma prática crítica e reflexiva.

 É justamente nessa direção que é preciso focalizar nosso olhar: no dia a dia de nossas escolas, no fazer pedagógico que cada professor vem desenvolvendo, nos caminhos que estão sendo trilhados e que necessitam ser socializados, buscando alternativas para problemas antes “ignorados”.

Ao trabalhar a vinte anos como educadora na Escola Olavo Novaes tive a oportunidade de compartilhar com duas colegas de trabalho a implantação do Projeto jogos e brincadeiras na alfabetização cujo público atendido foi crianças pequenas. Essa experiência servirá de base para refletir sobre como é importante o papel do professor de educação infantil de  acordo a perspectiva sociocultural de Vygotsky.

 Sarmento e Rapoport (2009) ressaltam que o processo de desenvolvimento é entendido numa perspectiva coletiva e, portanto, pressupõe a participação do outro nos processos de aprendizagem individual. As interações entre pares e professor-aluno podem ser favorecidos por meio de propostas de construção coletiva em grupos pequenos ou duplas. Neste sentido, é fundamental, em termos educacionais, garantir e propor situações de aprendizagem para a criança que se direcionem para sua área de desenvolvimento proximal.

As professoras sentiram a necessidade de trazer novas situações de aprendizagem para o cotidiano da sala de aula, então ambas resolveram desenvolver o projeto  apostando que por meio do jogar e do brincar as crianças poderiam aprender mais.

De acordo com Vygotsky o professor tem um importante papel de se tornar um organizador do ambiente social, o mesmo deve inaugurar um novo processo de desenvolvimento na criança, aquele que se desencadeia com a aprendizagem dos conceitos sistematizados. A criança constitui-se enquanto sujeito pelo processo de internalização dos significados.

2.1-A importância dos jogos na contribuição para o desenvolvimento da inteligência e da aprendizagem.

O jogo é a atividade essencial das crianças e necessariamente deve ser componente curricular nas escolas de Educação Infantil, justificando que o uso dele dentro da sala de aula propociona possibilidade de aprendizagem.

Figura 1: Projeto jogos e brincadeiras na alfabetização

 Friedmann (1990) enfatiza a riqueza e a contribuição do jogo como estimulo para o desenvolvimento cognitivo, afetivo, fisíco e social na aprendizagem de conteúdos diversos na  educação infantil.

 Piaget também teve uma grande contribuição para Educação Infantil sobre a questão da origem da construção do conhecimento, onde o mesmo destaca a importância das relações estabelecidas entre criança- interações com o meio físico- objetos do meio físico. Neste sentido a criança é um ser em construção e tem um papel ativo no seu processo de aprendizagem.

Segundo o pensamento piagetiano (1978) sobre jogos afirma que:

 os métodos ativos de educação das crianças exigem que se forneça um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores á inteligência.( PIAGET, 1978 p.134)

Compreende-se que  ao jogar a criança apropria das regras pré-estabelecidas e começa então a desenvolver seus próprios conceitos de socialização, pois passa a desenvolver um enorme  potencial  no processo ensino-aprendizagem consequentemente ativando sua inteligência.

Quando a criança joga a estrutura psicológica da mesma altera-se radicalmente devido a significação que lhe é atribuida, pois as coisas e as ações não são o aparentam ser e, em situações imaginárias, a criança começa a agir independentemente do que ela vê e começa ser orientada pelo significado da situação.

Neste sentido a interação do outro é fator importante, segundo Vygotsky conceitua como zona de desenvolvimento potencial que consiste explicar o que uma criança é capaz de fazer com o auxílio de pessoas mais experientes.

Para Friedmann (1990) o professor é mais do que um orientador ele deve ser um desafiador, colocando dificuldades progressivas no jogo, como uma forma de avançar nos seus propósitos de promover o desenvolvimento ou para fixar aprendizagens. Sendo esse o grande papel do professor enquanto educador lúdico e criativo.

 O trabalho da escola deve ser de considerar as crianças como seres sociais e trabalhar com elas no sentido de que sua integração na sociedade seja construtiva.

Considerações finais

Na  apresentação, não se propôs esgotar o tema , mesmo porque ainda existe um amplo debate sobre a importância da ação do educador no que se refere ao trabalho pedagógico especificamente voltado para educação infantil.

O que se procurou foi exatamente analisar as contribuições das teorias de Vygotsky e Piaget nos espaços de EI e compreender as influências das mesmas na práxis das educadoras investigadas.

De acordo com a análise feita sobre a prática pedagógica das educadoras ficou claro como  suas ações foram determinantes para a ressignificação de um trabalho diferenciado e de qualidade na educação de crianças pequenas.

Considera as atividades lúdicas no processo ensino-aprendizagem das crianças foi de suma importância pois possibilitou  as professoras se tornarem organizadoras do ambiente social e promotoras de  situações de aprendizagem.

As contribuições das teorias abordadas serviram de base para que houvesse a reflexão do trabalho que estava sendo desenvolvido neste sentido Paulo Freire ressalta que:

“constatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade, tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do  que simplesmente a de nos adaptar a ela” (FREIRE,1996 p.77)

O autor nos remete a refletir sobre a prática no sentido de que toda prática requer mudança de postura com o objetivo de trazer novos conhecimentos da realidade investigada, para a não conformação dos fatos.

 Pretende-se que o profissional de educação infantil mantenha se comprometido com sua prática pedagógica, buscando sempre se atualizar para poder intervir da melhor forma possível no que se refere ao processo de aprendizagem e desenvolvimento infantil.

Em suma é brincando que a criança desenvolve sua inteligência, realizando diversas percepções, estimulada por diferentes materiais e interações com seu meio na construção de um ser social, ou seja , é  nesta perspectiva que devemos ver a educação infantil: a oportunidade de dar a nossa crianças uma nova infância.       

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MUNIZ, L. Naturalmente criança: A Educação Infantil de uma perspectiva sociocultural. In Infância e Educação Infantil: Campinas, SP:Papirus,1999,pp.243-268.

FORQUIN, Jean- Claude (1993).Escola e cultura: As bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas.

FREIRE, Paulo (1996).Pedagogia da autonomia, saberes necessários à práica educativa.São Paulo:Paz e Terra.

KRAMER, Sonia (1986). “ O papel social da pré-escola”.Cadernos de Pesquisa 58.São Paulo: Fundação Carlos Chagas.

FRIEDMANN, Adriana. Jogos tradicionais.In: O cotidiano na pré-escola. São Paulo,Ideias/Fundação para o Desenolvimento da Educação, n.7,1990.

VYGOTSKY, L.S.(1993). Pensamento e linguagem. São Paulo:Martins Fontes.

LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 16ª ed. São Paulo: Cortez,2005.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação,jogo e sonho; imagem e representação.Tradução de Álvaro Cabral e Christiano Monteiro Oiticica.3.ed.Rio de Janeiro: Zahar,1978.

RAPOPORT, Andrea e SARMENTO, Dirléia F.( 2009).Desenvolvimento e aprendizagem infantil: implicações no contexto do primeiro ano a patir da perspectiva vygotskiana – Porto Alegre: Mediação.