REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th1024122722211
Marcos Ramon Ribeiro dos Santos Mendes1
Eduardo Rafael Sousa Neto2
Talga Monique Naiva Coelho Marques3
Maria Girlândia Gregório de Andrade4
Leonel Batista de Lima Neto5
Maria Amélia Gonçalves Carreiro6
Cirlandio Coutinho de Lima7
Alany de Sousa Monteiro Belmont8
Kleber Jorgan Vieira Belmont9
Rafael Quesado Vidal10
RESUMO
Introdução: a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma condição prevalente e um dos dos fatores de risco de doenças cardiovasculares. É diagnosticada por pressão arterial elevada (PAS 140/90 mmHg) e pode ser crônica ou aguda. O manejo exige as equipes multidisciplinares e enfrenta desafios como fragmentação dos serviços de saúde e barreiras socioculturais. Metodologia: Este trabalho revisa a literatura sobre recentes estratégias no manejo da hipertensão arterial sistêmica no Brasil. Foram incluídos artigos dos últimos 10 anos, em inglês e português, disponíveis nas bases PubMed, SciELO e BVS. Resultados e Discussão: A Estratégia Saúde da Família (ESF) é essencial para o controle da hipertensão no Brasil, identificando e acompanhando os pacientes para o melhor controle da doença. Os fatores de risco para a hipertensão incluem idade, tabagismo, obesidade, sedentarismo e consumo de sódio. Lesões em órgãos-alvo, como hipertrofia ventricular, retinopatia hipertensiva e doença renal podem ocorrer. O aconselhamento sobre estilo de vida e o autocuidado, associadas à terapia medicamentosa são fundamentais para garantir tratamento eficaz, assim como a atuação da equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, educadores físicos e nutricionistas. Conclusão: A hipertensão arterial sistêmica é uma condição prevalente que exige uma abordagem integrada e multidisciplinar para seu diagnóstico, tratamento e controle. O manejo adequado combina intervenções farmacológicas e mudanças no estilo de vida, como alimentação saudável, exercícios regulares e cessação do tabagismo. A colaboração de uma equipe multiprofissional é essencial para garantir o controle eficaz da hipertensão e reduzir complicações graves.
PALAVRAS-CHAVE: Manejo, hipertensão Arterial, Fatores de Risco e Terapias Farmacológicas.
ABSTRACT
Introduction: Systemic Arterial Hypertension (SAH) is a prevalent condition and one of the risk factors for cardiovascular disease. It is diagnosed by high blood pressure (SBP 140/90 mmHg) and can be chronic or acute. Management requires multidisciplinary teams and faces challenges such as fragmentation of health services and sociocultural barriers. Methodology: This study reviews the literature on recent strategies for managing systemic arterial hypertension in Brazil. Articles from the last 10 years, in English and Portuguese, available in the PubMed, SciELO and BVS databases were included. Results and Discussion: The Family Health Strategy (FHS) is essential for controlling hypertension in Brazil, identifying and monitoring patients for better control of the disease. Risk factors for hypertension include age, smoking, obesity, sedentary lifestyle and sodium intake. Target organ damage, such as ventricular hypertrophy, hypertensive retinopathy and kidney disease, may occur. Lifestyle and self-care counseling, combined with drug therapy, are essential to ensure effective treatment, as is the work of a multidisciplinary team composed of physicians, nurses, physical educators, and nutritionists. Conclusion: Systemic arterial hypertension is a prevalent condition that requires an integrated and multidisciplinary approach for its diagnosis, treatment, and control. Appropriate management combines pharmacological interventions and lifestyle changes, such as healthy eating, regular exercise, and smoking cessation. The collaboration of a multidisciplinary team is essential to ensure effective control of hypertension and reduce serious complications.
KEYWORDS: Management, arterial hypertension, risk factors and pharmacological therapies.
INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição de alta prevalência mundial, sendo um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. Sua abordagem requer estratégias integradas de prevenção, diagnóstico, tratamento e controle, enfatizando o papel central da Atenção Primária à Saúde (BRASIL, 2021).
A hipertensão é definida como uma condição multifatorial caracterizada pela elevação sustentada dos níveis de pressão arterial (PA). Segundo a classificação utilizada no Brasil, os valores considerados para o diagnóstico de HAS são uma pressão arterial sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg, confirmados em pelo menos duas ocasiões diferentes. Em casos mais graves, com PA acima de 180/110 mmHg acompanhada de evidências de lesões em órgãos-alvo, o diagnóstico pode ser estabelecido em uma única visita médica (ORDUNEZ et al., 2024).
A HAS é dividida em dois tipos principais: a hipertensão crônica e a crise hipertensiva. A hipertensão crônica é uma condição frequentemente assintomática, caracterizada pela persistência de níveis elevados de PA ao longo do tempo, representando risco para o desenvolvimento de lesões em órgãos-alvo e doenças cardiovasculares. Já a crise hipertensiva ocorre como um evento agudo, em que os níveis de pressão arterial atingem valores críticos (PAS > 180 mmHg e/ou PAD > 120 mmHg), podendo ser acompanhados de sintomas e danos agudos a órgãos-alvo, como o cérebro, coração e rins (BRASIL, 2021).
Além disso, há condições específicas dentro do espectro da HAS, como a hipertensão do avental branco e a hipertensão mascarada. Na primeira, os níveis elevados de PA são observados apenas em ambiente clínico, enquanto na segunda, a PA é normal no consultório, mas elevada em medições ambulatoriais ou domiciliares. Essas variações destacam a importância de medições complementares, como a monitorização ambulatorial (MAPA) ou a medição residencial da pressão arterial (MRPA), para um diagnóstico preciso e manejo adequado (ZHANG, H. et al. 2024).
O acompanhamento de indivíduos com hipertensão ultrapassa o âmbito das Unidades Básicas de Saúde (UBS), demandando a integração de diferentes serviços e o trabalho conjunto de uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde para planejar e implementar o cuidado. Aspectos sociais e culturais específicos da população atendida, somados à fragmentação dos serviços que compõem a Rede de Atenção à Saúde (RAS), podem dificultar tanto o acompanhamento adequado quanto o encaminhamento oportuno desses pacientes quando necessário (RÊGO et al., 2022).
METODOLOGIA
Este trabalho consiste em uma revisão de literatura sobre as estratégias mais recentes no manejo da hipertensão arterial sistêmica no Brasil. A seleção incluiu artigos publicados nos últimos 10 anos, disponíveis em inglês e português, contemplando diferentes tipos de estudos. A pesquisa foi conduzida nas bases de dados PubMed, SciELO e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), utilizando os descritores: manejo, hipertensão, fatores de risco e terapias farmacológicas.
Foram selecionados artigos com texto completo de acesso gratuito, publicados na última década. Estudos não disponíveis em inglês ou português, que não abordassem diretamente o tema ou que não apresentassem o termo “hipertensão” no título foram excluídos. O processo abrangeu a análise, seleção dos estudos, extração e síntese das informações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A expansão da Estratégia Saúde da Família (ESF) desempenha um papel essencial no cuidado e no controle da hipertensão no Brasil, pois é fundamental para identificar e acompanhar pacientes hipertensos, fornecendo assistência eficaz. Um controle adequado dessa condição crônica impacta positivamente a qualidade de vida dos pacientes, diminuindo o risco de mortalidade precoce e de anos perdidos devido a incapacidades. (FERREIRA et al., 2023).
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) tem auxiliado os países das Américas na implementação do HEARTS, fornecendo orientações sobre como superar barreiras, adotando protocolos padronizados para o tratamento da hipertensão, utilizando combinações de doses fixas de anti-hipertensivos e empregando dispositivos validados para a medição da PA. Este módulo do programa também destaca a importância de mudanças no comportamento e de entrevistas motivacionais para promover uma dieta equilibrada, o aumento da atividade física, a redução do consumo de tabaco e o controle do consumo prejudicial de álcool. O aconselhamento sobre o estilo de vida é, assim, um componente indispensável (FLOOD et al., 2022).
Os fatores de risco associados à hipertensão arterial sistêmica (HAS) incluem características como idade avançada, tabagismo, dislipidemias (como níveis elevados de colesterol total, LDL, triglicerídeos, ou níveis baixos de HDL), histórico familiar de doenças cardiovasculares em parentes de primeiro grau, obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²), consumo excessivo de álcool, estilo de vida sedentário, síndrome metabólica e apneia obstrutiva do sono. Além disso, hábitos alimentares como o consumo elevado de sódio e cafeína, bem como condições como ansiedade e depressão, também contribuem para o aumento do risco cardiovascular. É crucial identificar e controlar esses fatores para prevenir complicações (BRASIL, 2021).
As lesões em órgãos-alvo (LOA) são complicações estruturais ou funcionais causadas pela elevação sustentada da pressão arterial e podem afetar órgãos como o coração, rins, cérebro e olhos. Entre as principais manifestações estão a hipertrofia ventricular esquerda, a doença renal crônica (com taxa de filtração glomerular estimada inferior a 60 mL/min/1,73 m²) e a retinopatia hipertensiva, que pode incluir hemorragias e edema de disco óptico. A avaliação dessas lesões deve incluir exames como eletrocardiograma, creatinina plasmática, análise de urina (EQU/EAS), glicemia de jejum, perfil lipídico, e outros exames específicos, como ecocardiograma e avaliação da albuminúria, dependendo do risco e da condição clínica do paciente. Esses procedimentos são fundamentais para estratificar o risco cardiovascular e orientar o manejo adequado da HAS (FLOOD et al., 2022).
O aconselhamento sobre mudanças no estilo de vida é uma peça-chave no manejo clínico da hipertensão. É indispensável que o paciente hipertenso compreenda seu papel ativo no tratamento, reconhecendo a importância do autocuidado como ferramenta essencial para o controle da condição. Essa conscientização possibilita ao indivíduo assumir a liderança na gestão de sua saúde por meio de cuidados apoiados. Esse modelo de cuidado deve ser estruturado em pilares como a centralidade do paciente no processo de saúde, o uso de estratégias de suporte – incluindo avaliação do estado de saúde, definição de metas, planejamento para o desenvolvimento, monitoramento contínuo e o engajamento da comunidade como rede de apoio ao autocuidado (ARANTES et al., 2015).
A assistência integral e multiprofissional também desempenha um papel crucial na redução da morbimortalidade e na promoção da saúde de adultos hipertensos. Nesse contexto, o médico tem a função de diagnosticar, estratificar o risco cardiovascular e revisar o regime terapêutico, farmacológico ou não, de forma periódica e solicitar exames. O enfermeiro contribui ao incentivo ao autocuidado, realizando ações educativas e auxiliando o paciente a incorporar hábitos que melhorem a adesão ao tratamento. Já o profissional de educação física é responsável por estimular a prática regular de exercícios físicos e combater o sedentarismo, enquanto o nutricionista orienta a adoção de uma alimentação saudável, baseada e individualizada de acordo com as necessidades do indivíduo, com maior consumo de vegetais e frutas (MALTA et al., 2022).
Para Faria et al., (2024) o principal objetivo das equipes de saúde no atendimento a pacientes com hipertensão arterial é garantir a adesão eficaz ao tratamento, de modo a alcançar o controle adequado da condição. Para isso, é possível utilizar diferentes estratégias, como a implementação de protocolos específicos, a realização de visitas domiciliares e o uso de tecnologias educativas. Contudo, é fundamental que essas ferramentas sejam aplicadas de forma integrada, envolvendo todos os profissionais da equipe. A integralidade no cuidado é alcançada quando uma equipe multiprofissional atua de maneira colaborativa, priorizando o trabalho coletivo, promovendo o diálogo e compartilhando saberes, em vez de práticas fragmentadas.
CONCLUSÃO
A hipertensão arterial sistêmica é uma condição prevalente e multifatorial que exige uma abordagem integrada e multidisciplinar para seu diagnóstico, tratamento e controle. A estratégia de Atenção Primária à Saúde, especialmente com a expansão da Estratégia Saúde da Família, é fundamental para identificar e acompanhar pacientes hipertensos, oferecendo cuidados que impactam positivamente na qualidade de vida. O manejo adequado dessa condição requer uma combinação de intervenções farmacológicas e mudanças no estilo de vida, como a adoção de uma alimentação saudável, a prática regular de exercícios e a cessação do tabagismo, para prevenir as complicações graves.
Além disso, a integração de uma equipe multiprofissional, que inclui médicos, enfermeiros, nutricionistas e profissionais de educação física, é essencial para garantir o sucesso no controle da hipertensão. A implementação de estratégias como visitas domiciliares e o uso de tecnologias educativas, aliadas ao apoio contínuo ao autocuidado do paciente, são componentes importantes para alcançar uma adesão eficaz ao tratamento. Ao promover um cuidado centrado no paciente e multidisciplinar, é possível não só melhorar os resultados clínicos, mas também reduzir a morbimortalidade associada à hipertensão, contribuindo para a promoção da saúde da população hipertensa.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Saúde da Família. Linha de cuidado do adulto com hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/linha_cuidado_adulto_hipertensao_arterial.pdf. Acesso em: 18 out. 2024.
FARIA et. al. Manejo da hipertensão arterial na atenção primária. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences. Volume 6, Issue 7 Page 1441-1451. 2024.
FERREIRA MAP et al. Fatores associados ao controle da hipertensão arterial entre usuários atendidos na estratégia saúde da família. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, v. 15, p. 1–7, 2023.
FLOOD, D. et al. Integrando o gerenciamento da hipertensão e do diabetes em ambientes de atenção primária à saúde: HEARTS como uma ferramenta. Revista panamericana de salud publica [Pan American journal of public health], v. 46, p. 1, 2022.
MALTA, DC et al. Hipertensão arterial autorreferida, uso de serviços de saúde e orientações para o cuidado na população brasileira: Pesquisa Nacional de Saúde, 2019. Epidemiologia e serviços de saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil, v. 31, n. spe1, 2022.
ORDUNEZ, P. et al. CORAÇÕES nas Américas: impulsionar a mudança no sistema de saúde para melhorar o controle da hipertensão na população. Revista panamericana de salud publica [Revista pan-americana de saúde pública], v. 48, p. 1, 2024.
RÊGO, A. DA S. et al. Coordenação do cuidado na perspectiva de pessoas com hipertensão na atenção primária à saúde. Medicina (Ribeirao Preto Online), v. 55, n. 2, 2022.
ZHANG, H. et al. Design and rationale of theComprehensive intelligent Hypertension managEment SyStem (CHESS) evaluation study: A cluster randomized controlled trial for hypertension management in primary care. American heart journal, v. 273, p. 90–101, 2024.
1 Acadêmico de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF https://orcid.org/0000-0001-9176-6797
2 Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HUUNIVASF. https://orcid.org/0009-0008-5152-5962
3 Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UFMA
https://orcid.org/0009-0005-1529-013X
4 Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8905-486x
5 Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0002-2448-1382
6 Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0008-7518-9537
7 Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UFMA
https://orcid.org/0000-0002-4166-567X
8 Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0002-7131-9097
9 Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0001-6870-6574
10 Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0007-8509-1018