SUSTAINABLE ADSORPTION TECHNIQUES FOR CHROMIUM REMOVAL IN LEATHER TANNING EFFLUENT TREATMENT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412231346
Jonathan Nascimento Gonzaga1
Luana Costa Vaz da Silva2
Murilo Rafael Moioli3
Alana Melo dos Santos4
Rodrigo de Oliveira Marcon5
RESUMO
As indústrias de couro são grandes geradoras de efluentes contendo cromo em sua composição, devido ao fato desta substância ser amplamente utilizada no processo de curtição do couro. Por ser tóxico e danoso à saúde humana e ao meio ambiente acima de determinadas concentrações, a Resolução Conama nº 430 de 2011 determina os valores máximos de concentração de cromo que podem estar presentes em efluentes. Este trabalho trata do estudo da viabilidade do uso de biomassa derivada de resíduos e plantas para aplicação no tratamento de efluentes gerados no processo de produção do couro, com o objetivo de remoção de cromo. Realizou-se um levantamento de artigos científicos referentes aos métodos de tratamento de efluentes contendo cromo na indústria de curtume publicados em sites como google acadêmico, portal do Capes e Scielo. Com os dados coletados foi possível comparar os métodos e viabilidade de adsorção do cromo com biomassas de diferentes fontes e que foram aplicados em amostras de diferentes concentrações de cromo, verificando-se a eficiência dos tratamentos propostos. De acordo com os dados coletados e comparações realizadas, foi possível concluir que o adsorvente borra de café com 99,9% de remoção foi mais eficiente, pois apresenta uma taxa de remoção satisfatória e que pode ser adequada para satisfazer as especificações previstas de descarte desse tipo de efluente.
Palavras-chaves: Tratamento de efluentes; Cromo; Curtume; Química verde; Metal pesado; Biomassa; Ambiente.
ABSTRACT
The leather industries are major generators of effluents containing chromium in their composition, due to the widespread use of this substance in the leather tanning process. Because it is toxic and harmful to human health and the environment above certain concentrations, Conama Resolution No. 430 of 2011 establishes the maximum permissible concentration of chromium in effluents. This study explores the feasibility of using biomass derived from waste and plants for the treatment of effluents produced in the leather production process, aiming to remove chromium. A survey of scientific articles on chromium-containing effluent treatment methods in the tanning industry was conducted on sites such as Google Scholar, the Capes portal, and Scielo. With the collected data, it was possible to compare the methods and feasibility of chromium adsorption using biomass from different sources, which were applied to samples with varying chromium concentrations to assess the efficiency of the proposed treatments. According to the collected data and comparisons, it was concluded that coffee grounds, with a 99.9% removal rate, were the most effective adsorbent, as they demonstrate a satisfactory removal rate that can be suitable to meet the disposal specifications for this type of effluent.
Keywords: Effluent treatment; Chromium; Tanning; Green chemistry; Heavy metal; Biomass; Environment.
1 INTRODUÇÃO
Globalmente, o couro é essencial para várias cadeias de produção, estando diretamente ligado à pecuária e aos frigoríficos, que fornecem a matéria-prima. É um componente vital em setores como calçados, vestuário, móveis e automóveis. O couro brasileiro destaca-se pela alta qualidade e o país é um dos maiores produtores globais com 244 curtumes, 2.800 indústrias de componentes para couro e calçados e 120 fábricas de máquinas e equipamentos. O setor gera 30.000 empregos diretos, movimenta 2 bilhões de dólares por ano e, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no 2º trimestre de 2024 houve um aumento de 17% na aquisição de matéria-prima para o setor em comparação com o 2º trimestre de 2023, representando seu crescimento exponencial ao decorrer dos anos (CICB, 2024).
A produção de couro é realizada principalmente por curtumes, que processam o material em diferentes etapas, desde a preparação da pele e o curtimento até o acabamento e a aplicação final do produto (CETESB, 2015). O processo de fabricação do couro produz muitos poluentes, como efluentes, gases atmosféricos e resíduos nocivos ao meio ambiente e à saúde. Além da alta geração de poluentes, a produção de couro é marcada por baixa produtividade e, para cada tonelada de pele, obtêm-se entre 200 – 250 kg de couro e 600 – 1000 kg de resíduos sólidos. Esses resíduos e efluentes em sua maioria possuem alto teor de cromo proveniente do processo de curtimento do couro (Toso, 2021).
O processo de curtimento do couro é realizado por dois métodos principais: vegetal, com taninos de plantas que interagem com o colágeno, e mineral, com sulfato de cromo III, que é um agente que fixa o colágeno, conferindo resistência, estabilidade e proteção ao couro. O cromo é amplamente utilizado no curtimento de couro por sua eficácia em transformar peles em couro durável, por causa de sua afinidade com o colágeno. Na forma de sais trivalentes (Cr III), o cromo é um dos principais agentes de curtimento, essencial para conferir ao couro suas características desejáveis (Freitas, 2023).
Entre os estados do cromo, o trivalente é o mais estável e de baixa solubilidade, presente em alimentos como carnes, queijos e cereais integrais. No organismo, é essencial em níveis controlados, auxiliando na ativação de enzimas e na potencialização da insulina para o metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras. No entanto, o cromo trivalente pode se converter em cromo hexavalente sob condições oxidantes, condições alcalinas e na presença de manganês. O cromo hexavalente é tóxico, altamente solúvel e representa um risco de contaminação da água e do solo, podendo entrar no organismo por inalação, contato com a pele ou ingestão (Moreira, 2019).
Antes do descarte de efluentes contendo cromo, é necessário realizar um tratamento adequado, devido aos seus efeitos nocivos, que incluem danos renais e hepáticos, paralisia nervosa, anemia, problemas respiratórios, dermatite e, em concentrações elevadas, mutação genética, câncer e enfraquecimento do sistema imunológico (Asanu et al., 2022). Em razão dos efeitos contaminantes, a Resolução Conama nº 430 de 2011 estabelece que a concentração máxima permitida para o lançamento de efluentes contendo cromo hexavalente é de 0,1 mg/L, enquanto para o cromo trivalente o limite é de 1,0 mg/L (CONAMA, 2011).
Os principais métodos para tratar efluentes contendo cromo incluem precipitação química, redução química, tratamento biológico, processos avançados de oxidação, coagulação, filtração por membranas e adsorção. Cada método possui suas vantagens e limitações. A escolha do tratamento adequado depende das características dos efluentes, do volume de água, da concentração de cromo, das regulamentações locais e dos custos operacionais. Frequentemente, uma abordagem integrada combinando vários métodos pode ser mais eficaz para atender aos requisitos de remoção e tratamento. O uso de biomassa derivada de resíduos e plantas também surge como uma alternativa viável e sustentável. Essa abordagem não só potencializa a remoção de contaminantes, mas também contribui para a economia circular ao reutilizar resíduos, reduzindo a geração de lixo e promovendo a sustentabilidade ambiental (Barbosa, 2019).
Apesar dos avanços nas pesquisas, ainda existem lacunas no conhecimento sobre a comparação direta entre os diferentes tipos de biomassa e resíduos no tratamento de efluentes contendo cromo, bem como sobre sua eficiência e viabilidade econômica. Desta forma, esta revisão bibliográfica apresenta uma análise comparativa de diferentes métodos de remoção de cromo em efluentes de curtume, com foco em técnicas sustentáveis que empregam biomassas derivadas de resíduos agroindustriais ou plantas com o objetivo principal de avaliar a eficiência de cada método na remoção do cromo e seu impacto nos parâmetros de qualidade do efluente tratado. O estudo se concentra na capacidade de adsorção de diferentes biomassas, buscando determinar a influência de variáveis como pH, tempo de contato e concentração inicial do metal. A análise e os resultados obtidos das abordagens baseadas em biomassa e resíduos podem fornecer informações valiosas para a otimização dos processos de tratamento, auxiliando na escolha de materiais acessíveis e eficientes, que podem ser integrados nas práticas de manejo de efluentes, e para o direcionamento de futuras pesquisas na área de remediação ambiental, visando a minimização do impacto ambiental da indústria de curtume.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para realização deste trabalho, foi realizada uma pesquisa exploratória, por meio de levantamento bibliográfico sobre o tema em artigos científicos e pesquisas acadêmicas, com a seleção de trabalhos relevantes publicados nos últimos 6 anos. As principais fontes de informação utilizadas foram as plataformas Google Acadêmico, Scielo e periódico CAPES, nas quais foram encontrados artigos, monografias e fichas técnicas nacionais e internacionais. A busca nas bases de dados foi realizada utilizando as seguintes PALAVRAS-CHAVE e suas combinações: Cromo, Curtume, Tratamento de Efluentes, Couro, Adsorção, Leather industry waste, Chromium e Adsorption.
Foram incluídos na revisão trabalhos que abordassem remoção de cromo em efluentes de curtume utilizando biomassa e estudos que apresentassem resultados experimentais ou análises de métodos de tratamento. Foram excluídos trabalhos que não estivessem disponíveis na íntegra e que não abordassem o tema da remoção de cromo em efluentes de curtume. Os trabalhos selecionados foram analisados considerando os seguintes aspectos: tipo de biomassa utilizada, método de tratamento empregado, eficiência de remoção de cromo, parâmetros de qualidade do efluente tratado e vantagens e limitações do método.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base na metodologia de revisão bibliográfica descrita na seção anterior, foram selecionados diversos estudos que investigaram a remoção de cromo em efluentes de curtume utilizando diferentes tipos de biomassa. A análise desses estudos permitiu identificar os principais fatores que influenciam a eficiência do processo de adsorção, tais como o pH do meio, a temperatura, o tempo de contato e a granulometria do adsorvente.
3.1 Utilização de adsorventes
A aplicação de adsorventes envolve parâmetros que relacionam forças químicas e físicas das suas moléculas. Entre esses parâmetros, destacam-se o pH, a temperatura, a natureza do adsorvente, a área de contato e a granulometria. Outro aspecto de relevância é a polaridade do adsorvato, uma vez que sua afinidade com o solvente ou soluto é diretamente influenciada por essa propriedade (Wang, 2019).
O potencial hidrogeniônico (pH) pode influenciar a carga superficial do adsorvente, bem como a protonação e a afinidade deste em relação ao contaminante. A temperatura, por
sua vez, constitui um fator determinante no desempenho do adsorvente, pois afeta diretamente a capacidade de adsorção, a energia livre de Gibbs, o tempo, a entalpia e a entropia. Diferentes condições operacionais podem ser aplicadas para maximizar a eficiência do processo de adsorção (Oliveira, 2013).
A granulometria, que se refere à distribuição do tamanho das partículas, deve ser homogênea para assegurar a repetibilidade dos resultados em todas as utilizações do adsorvente. A natureza do solvente e a polaridade influenciam as interações entre o adsorvente, adsorvato e o meio circundante. Além disso, um adsorvente com maior área superficial proporciona mais sítios de captura e retenção de moléculas, o que resulta em uma maior capacidade de adsorção (Oliveira, 2013).
Com o intuito de avaliar a adequação de um determinado adsorvente, foi elaborada a tabela 1 que sintetiza as principais informações relativas à origem, remoção e condições de produção do material.
Tabela 1 – Comparação de Resultados de remoção e condições de produção de adsorventes para o Cromo Total.
Adsorvente | Autor/ Ano | pH | Remoção (%) | T (°C) | C inicial [mg/L] | Granulo metria (mm) | Agitação (rpm) |
Sambucus Nigra | BONILLA/ 2023 | 2 | 98,22 | 20 | 3000 mg/L | 0,423 | 150 |
Carvão Ativado | JIMENEZ – PAZ et al./ 2023 | 5 | 99,42 | 22 | 40 mg/L | 0,85 – 2,00 | 210 |
Borra de Café | OLIVEIRA/ 2018 | 3 | 99,9 | 27 | 100 mg/L | 0,355mm | 150 |
Biossólido | JERÔNIMO/ 2019 | 4,5 – 5,5 | 90,15 | – | 1400 mg/L | 0,710 – 0,850 | 3000 |
Adsorvente | Autor/ Ano | pH | Remoção (%) | T (°C) | C inicial [mg/L] | Granulo metria (mm) | Agitação (rpm) |
Palma Forrageira | FIGUEIRÔA/ 2019 | 7 | 95,99 | 8 | 3428 ± 0,089 mg/L | 1 | 130 |
Libidibia Ferrea | OLIVEIRA JÚNIOR; SOUZA.; NASCIMEN TO/ 2024 | 6 | 90 | 25 | 0,7 mg/L | 0,028 | 150 |
A seguir, serão apresentados os resultados e discussões dos estudos selecionados, com foco nos diferentes tipos de biomassa utilizados como adsorventes e seus respectivos mecanismos de remoção de cromo.
3.1.1 Sambucus nigra (Sabugueiro)
Mancilla et al. (2023) investigou o potencial das folhas da planta Sambucus nigra L. como um adsorvente de baixo custo para remover íons de Cromo (VI) de soluções aquosas. O estudo se concentrou na aplicação desse material para tratar efluentes industriais, especialmente os gerados por curtumes, que contêm metais pesados altamente tóxicos. A pesquisa se alinha aos esforços de sustentabilidade ao explorar uma biomassa natural, facilmente disponível e ambientalmente amigável, capaz de reduzir significativamente a contaminação por metais pesados. Durante o processo de adsorção, foram testadas variáveis como pH, temperatura, dose do adsorvente e tempo de contato, observando-se uma eficiência máxima de remoção de 98,22% em pH 2 com uma dose de 3 g/L de biomassa.
Os resultados indicam que os dados experimentais se ajustaram melhor ao modelo de isoterma de Freundlich e ao modelo cinético de pseudo-segunda ordem. Isso sugere que a adsorção de cromo nas folhas da planta estudada ocorre principalmente por um processo de adsorção química, na qual interações eletrostáticas desempenham um papel fundamental na captura dos íons de Cromo (VI) pela superfície do adsorvente. Estudos termodinâmicos revelaram que o processo é espontâneo e endotérmico, com variação positiva de entalpia e
aumento na desordem do sistema, indicando que a remoção de Cromo (VI) tende a ser mais eficaz a temperaturas mais elevadas. Além disso, a caracterização do material antes e depois da adsorção, feita por técnicas como SEM, EDS, FTIR e XRD, confirmou a modificação estrutural do adsorvente após a captura dos íons metálicos.
Os autores do trabalho concluíram que o uso da biomassa de Sambucus nigra L. representa uma solução promissora para a remoção de Cromo (VI) de efluentes industriais. O material se mostrou eficaz na adsorção de metais pesados, econômico e sustentável, sendo uma alternativa atrativa em comparação a tecnologias convencionais mais caras e complexas. A pesquisa contribui para o desenvolvimento de novas estratégias no tratamento de águas contaminadas, alinhando-se aos objetivos globais de proteção ambiental e uso racional de recursos naturais.
3.1.2 Carvão ativado produzido a partir de resíduo sólido do curtume.
Jimenez-Paz et al. (2023) investigaram a viabilidade da produção de carvão ativado a partir de resíduos da etapa de descarne no processamento de couro, provenientes de uma indústria de curtumes localizada em Belén, Colômbia. O resíduo, que não contém cromo devido à sua origem na etapa de descarne, possui gordura, restos de carne e pele, os quais são removidos antes da ativação química com KOH, uma técnica inovadora no uso deste reagente. Após a ativação, o resíduo é pulverizado até alcançar um tamanho de partículas entre 0,85 e 2 mm, visando sua aplicação na remoção de cromo de efluentes da indústria coureira.
Realizaram-se testes de adsorção para remover cromo (Cr III) de uma solução de 40 ppm. Utilizou-se 30 mg de carvão ativado em 50 mL de solução com pH 5, sob agitação a 210 RPM por 36 h, resultando em 99,42% de remoção de cromo III.
Os modelos de isotermas de Temkin e Freundlich apresentaram melhor ajuste aos dados experimentais em comparação com os modelos de Langmuir e DRK, sugerindo que a adsorção de Cr (III) ocorre em locais específicos na superfície do carvão ativado e em monocamada. A cinética de adsorção foi melhor descrita pelo modelo de pseudo-segunda ordem. Os parâmetros termodinâmicos indicaram que o processo é espontâneo e exotérmico, com uma variação negativa de entalpia e uma redução na desordem do sistema.
O estudo concluiu que a utilização de subprodutos do próprio processo produtivo para o tratamento de efluentes se alinha ao conceito de economia circular, promovendo a valorização de resíduos e a redução do impacto ambiental. Além disso, a eficiência na adsorção de cromo (III) mostrou-se promissora, com capacidades máximas de adsorção superiores a 202 mg/g.
3.1.3 Borra de café
Oliveira (2018) analisou a utilização da borra de café, caracterizado por ser um subproduto amplamente gerado pelo consumo de café no Brasil, sendo uma ótima opção pelo baixo custo. A pesquisa destaca a borra de café como uma alternativa promissora na química verde, cooperando com ações para o reaproveitamento de resíduos e ao tratamento sustentável de efluentes contaminados por metais pesados. A eficiência de remoção do cromo atingiu 99,9% após 5 horas de contato, sob condições de 27°C e 150 rpm, utilizando 1 g de borra por 100 mL de solução de cromo a 100 ppm.
Os resultados experimentais foram adaptados ao modelo de isoterma de Langmuir e ao modelo de Redlich-Peterson, com um excelente coeficiente de determinação, indicando que a borra de café possui uma alta capacidade de adsorção. A pesquisa também sugere que a adsorção de cromo ocorre de modo eficiente com a borra de café, sendo um processo viável tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. A utilização desse material pode reduzir a quantidade de resíduos gerados pelo setor cafeeiro e, ao mesmo tempo, contribuir para a descontaminação de efluentes industriais. No entanto, a eficiência do processo pode depender das características específicas de cada efluente, sendo recomendado o descarte adequado da borra após o seu uso.
Uma problemática levantada no artigo constata que quanto maior a concentração, maior a taxa de remoção. Logo, para efluentes com baixas concentrações de cromo a utilização desse adsorvente precisa ser analisada cautelosamente. Os parâmetros também são extremamente importantes, a presente revisão analisou a borra em três diferentes métodos e dois deles não apresentaram um resultado satisfatório devido ao tratamento adotado.
Essa pesquisa reforça a importância da exploração de materiais naturais e acessíveis, como a borra de café, para o tratamento de efluentes contaminados por metais pesados, contribuindo para soluções mais sustentáveis e de baixo custo no enfrentamento dos desafios ambientais relacionados ao descarte de efluentes industriais.
3.1.4 Biossólido
Jerônimo et al. (2019) buscaram otimizar a biossorção de cromo em resíduos de curtume usando biossólidos em sistema de fluxo contínuo. Os biossólidos, derivados do tratamento biológico de lodo de ETE, oferecem um processo de remoção de cromo com baixo custo operacional devido à matéria-prima residual e à possibilidade de regeneração. O experimento obteve 90,15% de eficiência na remoção total do cromo do efluente. Verificou-se que, com o aumento da massa do biossólido, a capacidade de sorção cresce, disponibilizando mais sítios ativos para a fisissorção do cromo.
Apesar dos bons resultados, a concentração de cromo no efluente tratado não atingiu o limite de descarte seguro para águas superficiais de 0,01 mg Cr/L, conforme a legislação brasileira. Dentre as variáveis analisadas, apenas os parâmetros massa e tempo demonstraram impacto significativo no processo, a variação de pH (entre 4,5 e 5,5) não influenciou o resultado. A metodologia atual dos curtumes, que utiliza precipitação de cromo e descarte em rios, exige grande quantidade de hidróxido de sódio para neutralização, mas pode ser combinada com o processo alternativo proposto para reduzir custos e impactos ambientais.
3.1.5 Palma Forrageira
No trabalho elaborado por Figueirôa (2019) aplicou-se conceitos de Produção Mais Limpa (P+L) para desenvolver métodos de tratamento de resíduos sólidos wet-blue e efluentes. Uma rota de descromação inovadora foi testada com reagentes de baixo custo e tempos de reação de 8, 12 e 18 horas. A eficiência foi medida pelo teor de Cr2O3 no couro e no resíduo de colágeno pós-descromação, caracterizado por técnicas espectroscópicas e termogravimétricas.
Para reduzir Cr III no efluente, foi usada palma forrageira (Opuntia ssp.) como biossorvente, testando-se diferentes massas de pó em sistemas de agitação. A descromação resultou em reduções de Cr2O3 de 81,03%, 94,82% e 95,99% nos tempos de 8, 12 e 18 horas, respectivamente. No efluente, o contato por 5 minutos com 2,0 g e 4,0 g de biomassa de palma reduziu o teor de Cr III em 74,80% e 84,88%, respectivamente. Os resultados indicam que a palma forrageira é uma opção viável e eficiente para reduzir Cr III no efluente de curtume.
3.1.6 Libidibia Ferrea (biomassa da vagem)
Oliveira Junior; Souza & Nascimento (2024) avaliaram o potencial da biomassa da vagem de Libidibia ferrea no tratamento de efluentes líquidos contaminados com cromo hexavalente (Cr VI). O estudo comparou dois tipos de biossorventes preparados a partir dessa biomassa: um não modificado (NM) e outro modificado por tratamento alcalino (MA). O biossorvente NM foi obtido a partir da biomassa da vagem, após secagem e moagem, apresentando uma granulometria média de 920 µm. Os ensaios de adsorção foram realizados em incubadora com agitação constante a 150 rpm e temperatura de 25 °C. O pH ideal para a adsorção foi mantido em 6, favorecendo a interação do Cr VI com os sítios ativos dos biossorventes.
Os resultados mostraram que o biossorvente NM apresentou uma excelente eficiência de remoção, alcançando cerca de 90% de remoção de Cr VI, mesmo na presença de outros contaminantes, enquanto o MA teve desempenho inferior, removendo menos de 50% do metal. A análise das propriedades dos biossorventes revelou que o NM possuía uma área superficial e volume total de poros significativamente maiores, com 445,4 m²/g e 0,3797 cm³/g, respectivamente, em comparação com o MA, que apresentou 160,9 m²/g e 0,1470 cm³/g. Em termos de cinética de adsorção, o NM obteve uma adsorção máxima em 90 minutos, indicando um processo mais rápido. A quimissorção foi identificada como o principal mecanismo de adsorção para o biossorvente MA.
Os autores concluíram que o biossorvente não modificado (NM) apresentou uma capacidade de adsorção altamente eficaz e estável, removendo Cr VI de forma seletiva, com eficiência superior a 90%. Isso sugere que a biomassa da vagem de Libidibia ferrea pode ser uma alternativa promissora e sustentável para o tratamento de efluentes de curtumes contaminados com Cr VI. Além de ser um material de baixo custo e ecologicamente viável, esse biossorvente oferece uma solução eficaz para problemas relacionados à poluição por metais pesados em efluentes industriais.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão, a Tabela 1 resume as principais informações extraídas dos estudos revisados na pesquisa bibliográfica realizada neste trabalho. Este estudo não se limitou à adsorção do cromo III, que é o estado de oxidação prevalente no processo de curtimento do couro, mas também avaliou a adsorção de ambos os estados de oxidação do metal. Embora o Cr III seja menos tóxico ao meio ambiente, é essencial seguir a legislação local quanto ao seu descarte. Além disso, a possibilidade de oxidação do Cr III para Cr VI representa um sério problema ambiental.
Na tabela, é feita uma comparação da eficiência de diferentes métodos de tratamento na remoção de cromo de efluentes de curtume para os métodos baseados em biomassas e plantas, que apresentam um grande potencial de sustentabilidade. Os métodos foram avaliados e com base nos resultados obtidos o adsorvente que apresentou melhor taxa de remoção do cromo foi a borra de café que atingiu 99,9% de remoção, enquanto a palma forrageira foi eficiente mesmo com concentração elevada de cromo. No geral, todos os adsorventes descritos neste estudo são biomateriais promissores com remoção acima de 90% do cromo dos efluentes e em condições de pH ácido.
As técnicas sustentáveis de adsorção para remoção de cromo em efluentes de curtimento de couro oferecem vantagens como baixo custo, economia circular, ampla disponibilidade, por ser um material natural e sustentável ao meio ambiente mas enfrentam limitações que comprometem sua eficácia como a contaminação secundária, viabilidade econômica e seus estudos de condições ideais de operação devem ser cuidadosamente analisadas para escolher o método mais adequado para cada situação industrial. A capacidade de adsorção dos materiais. A regeneração dos materiais utilizados, que nem sempre podem ser reutilizados e a presença de outros contaminantes podem interferir no processo. Além disso, as regulamentações ambientais exigem soluções mais eficazes, e até mesmo a adaptação para grandes escalas são obstáculos adicionais.
Para trabalhos futuros, é essencial realizar estudos comparativos aprofundados sobre a eficácia e viabilidade econômica de diferentes biomassas e resíduos no tratamento de efluentes contendo cromo. A investigação dos mecanismos de interação entre os materiais adsorventes e o cromo é fundamental para aprimorar os processos de adsorção e remoção. Além disso, é necessário avaliar o desempenho desses materiais em escala piloto e explorar a regeneração e reutilização tanto dos adsorventes quanto do cromo extraído dos efluentes, visando a sustentabilidade e redução de custos. Por fim, o desenvolvimento de normas e diretrizes técnicas específicas será crucial para facilitar a adoção em larga escala dessas metodologias pela indústria.
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1 jonathannascto.g@gmail.com Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Suzano – SP – Brasil
2 lucosta2018@gmail.com Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Suzano – SP – Brasil
3 murilorm96@gmail.com Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Suzano – SP – Brasil
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