FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO PARA O SURGIMENTO DE STARTUPS A PARTIR DE PROGRAMAS DE IDEAÇÃO REALIZADOS EM 2018 E 2019

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412171755

Marden Márcio Magalhães¹

Resumo

Este estudo analisa os fatores críticos de sucesso em programas de ideação para startups, com foco nas iniciativas realizadas na cidade de Belo Horizonte-MG, Brasil, entre 2018 e 2019. A pesquisa foi conduzida com uma abordagem mista, utilizando dados quantitativos e qualitativos para entender os elementos que contribuem para o sucesso das startups em sua fase inicial. Os principais fatores identificados incluem a adoção de metodologias ágeis, que permitem ajustes rápidos e contínuos; o apoio institucional, que oferece recursos e mentorias; o networking, que facilita o acesso a conhecimentos e parcerias estratégicas; e a motivação pessoal dos empreendedores, que foi essencial para a superação de obstáculos e persistência no desenvolvimento das ideias. Os resultados indicam que esses elementos, quando combinados, criam um ambiente favorável para que ideias inovadoras sejam estruturadas e se transformem em negócios viáveis. Este estudo contribui para a compreensão de como os programas de ideação podem ser estruturados para maximizar suas chances de sucesso, oferecendo insights valiosos para gestores, formuladores de políticas e empreendedores que buscam fortalecer o ecossistema de inovação.

Palavras-chave: Fatores Críticos de Sucesso, Programas de Ideação, Startups, Empreendedorismo, Inovação.

Abstract

This study analyzes the critical success factors in ideation programs for startups, focusing on the initiatives carried out in the city of Belo Horizonte, MG, Brazil, between 2018 and 2019. The research was conducted with a mixed approach, using both quantitative and qualitative data to understand the elements that contribute to the success of startups in their initial phase. The main factors identified include the adoption of agile methodologies, which allow for quick and continuous adjustments; institutional support, which offers resources and mentoring; networking, which facilitates access to knowledge and strategic partnerships; and the personal motivation of entrepreneurs, which was essential for overcoming obstacles and persistence in the development of ideas. The results indicate that these elements, when combined, create a favorable environment for innovative ideas to be structured and transformed into viable businesses. This study contributes to the understanding of how ideation programs can be structured to maximize their chances of success, offering valuable insights for managers, policymakers, and entrepreneurs looking to strengthen the innovation ecosystem.

Keywords: Critical Success Factors, Ideation Programs, Startups, Entrepreneurship, Innovation.

Resumen
Este estudio analiza los factores críticos de éxito en los programas de ideación de startups, centrándose en las iniciativas llevadas a cabo en la ciudad de Belo Horizonte, MG, Brasil, entre 2018 y 2019. La investigación se llevó a cabo con un enfoque mixto, utilizando datos cuantitativos y cualitativos para comprender los elementos que contribuyen al éxito de las startups en su fase inicial. Los principales factores identificados incluyen la adopción de metodologías ágiles, que permiten ajustes rápidos y continuos; apoyo institucional, que ofrece recursos y mentoría; el trabajo en red, que facilita el acceso al conocimiento y a las alianzas estratégicas; y la motivación personal de los emprendedores, que fue esencial para la superación de obstáculos y la persistencia en el desarrollo de ideas. Los resultados indican que estos elementos, cuando se combinan, crean un ambiente favorable para que las ideas innovadoras se estructuren y transformen en negocios viables. Este estudio contribuye a la comprensión de cómo se pueden estructurar los programas de ideación para maximizar sus posibilidades de éxito, ofreciendo información valiosa para gerentes, formuladores de políticas y empresarios que buscan fortalecer el ecosistema de innovación.

Palabras clave: Factores Críticos de Éxito, Programas de Ideación, Startups, Emprendimiento, Innovación.

Introdução

As startups emergiram nas últimas décadas como atores fundamentais no cenário da inovação global, redefinindo mercados, transformando setores e desafiando empresas estabelecidas com suas propostas de valor ágeis e escaláveis.

Em um ambiente marcado por incertezas e rápidas mudanças tecnológicas, as startups são tipicamente caracterizadas pela capacidade de adaptar-se rapidamente às necessidades do mercado, bem como pela busca incessante por soluções inovadoras e pela criação de novos produtos e serviços (Ries, 2012).

Magalhães (2024), ao analisar os diversos conceitos de startup, contextualiza que a maioria dos autores e estudos consideram como aquelas empresas que atuam de forma diferenciada em seu modelo de negócio, com produtos ou serviços fortemente ligados à inovação.

Neste contexto, torna-se relevante conceituar inovação. Segundo Drucker (2019), é o instrumento específico dos empreendedores, por meio do qual exploram as mudanças como uma oportunidade para criar um negócio ou serviço diferenciado.

Portanto, para que a inovação aconteça, é essencial a presença de empreendedores dispostos a assumir os riscos necessários para concretizar as oportunidades identificadas, especialmente aquelas vinculadas às tecnologias mais disruptivas, como é o caso das startups.

Esta visão já era compartilhada por Schumpeter (1939), o qual descreve o empreendedor como o agente da inovação, responsável por novos produtos no mercado através da combinação mais eficiente dos fatores de produção.

Magalhães (2024) relata ser comum, na atualidade, ouvir nomes como Jeff Bezos (Amazon), Elon Musk (Tesla), Mark Zuckerberg (Meta), Larry Page e Sergey Brin (Google), Sam Altman (OpenAI), Bill Gates (Microsoft) e Marcos Galperin (Mercado Livre), todos empreendedores de referência que, em algum momento, trabalharam em uma ideia de negócio que se transformou em um desses gigantes tecnológicos.

Portanto, o empreendedorismo é a força que impulsiona o processo de inovação por meio do esforço de indivíduos entusiastas, equipes comprometidas e redes focadas, conforme descrito por Bessant e Tidd (2019).

Nos últimos anos, para que o movimento das startups avançasse, outros fatores foram determinantes, como demonstram os estudos apresentados por Magalhães (2024). As startups trouxeram uma nova cultura, onde se destacam temas como flexibilidade, diversidade e ambientes mais informais. Termos e ferramentas como pitching, MVP, Canvas, sprint, squad, entre outros, tornaram-se comuns no vocabulário empresarial.

Para acelerar o desenvolvimento, validações e correções rápidas que o cenário exige, surgiram os métodos ágeis, criados a partir do encontro de grandes líderes de empresas do setor de tecnologia, formalizados no manifesto ágil (2001), uma declaração de princípios que facilita o desenvolvimento de software.

Assim, os métodos ágeis foram essenciais para chegarmos ao entendimento atual de startup, como se verifica no conceito apresentado pela Associação Brasileira de Startups – Abstartups (2023), que apresenta a startup com uma empresa que nasce de um modelo de negócio ágil e enxuto, capaz de gerar valor para o cliente ao resolver um problema real, do mundo real. Ela oferece uma solução escalável para o mercado e, para isso, utiliza a tecnologia como principal ferramenta.

Nesse contexto, Magalhães (2024) apresenta as interações entre inovação, empreendedorismo e métodos ágeis como conceitos correlacionados para a existência de uma startup, formando o que o autor conceitua como a “tríade startup”.

Figura 1 – Tríade startup

Diagrama, Diagrama de Venn

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Magalhães, M. M. (2024). Análisis de la efectividad de los programas de ideación para la creación de startup en Belo Horizonte-MG Brasil [Tesis doctoral, Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales].

Após passar pela fase de curiosidade, o potencial empreendedor começa a idealizar o negócio no qual pretende investir e há necessidade de testar as alternativas, identificando suas reais possibilidades de sucesso (Sebrae, 2023b).

Transformar sua ideia em um negócio repetível, escalável e sustentável é um caminho árduo. Desse modo, ao longo de seu ciclo de vida, as startups passam por uma série de etapas diferenciadas, nas quais as necessidades, objetivos e características variam significativamente, etapas estas que recebem diferentes nomes, dependendo da fonte consultada.

Segundo a metodologia criada por Cukier et al. (2015), por exemplo, essas etapas são denominadas: criação, evolução, maturação e autossuficiência. Para a Associação Brasileira de Startups – Abstartups, as fases são ideação, operação, tração e scale-up (InovAtiva Brasil, 2020), critério utilizado no decorrer deste estudo.

Esta etapa inicial, onde uma ideia de negócio é concebida e validada, desempenha um papel essencial na trajetória, pois é nesse estágio que se estabelecem as bases para a transformação da ideia em um empreendimento viável e, embora seja importante no processo de geração de inovações, essa fase é menos estudada que as demais e há poucos estudos disponíveis (Magalhães, 2024).

Programas de ideação surgem como plataformas de apoio fundamentais para os empreendedores, oferecendo um ambiente estruturado para experimentação, desenvolvimento de protótipos e validação de conceitos, além de proporcionar acesso a mentorias e redes de contatos essenciais para o desenvolvimento de negócios.

Nogueira e Arruda (2015) analisaram, em estudo da Fundação Dom Cabral (FDC), as causas de mortalidade de startups brasileiras. Três fatores foram identificados como determinantes para a mortalidade: o número de sócios, o capital investido e o local de instalação.

Contrariando a ideia de que mais sócios aumentam as chances de sucesso, startups com múltiplos fundadores têm maior probabilidade de descontinuidade.

O volume de capital investido na startup, anterior ao início das vendas, pode representar um risco à sua sobrevivência. Os dados apontados pelo estudo de Nogueira e Arruda mostram que, quando a empresa possui um capital suficiente para manter seus custos operacionais pelo período superior a um ano, antes de sua primeira venda, as chances de descontinuidades são menores.

Por fim, a localização em aceleradoras, incubadoras ou parques tecnológicos reduz as chances de descontinuidade em comparação com empresas instaladas em escritórios próprios ou alugados.

De forma complementar, segundo Magalhães (2024b), startups enfrentam altas taxas de mortalidade, especialmente em seus primeiros anos, devido a fatores como escassez de recursos, inexperiência dos empreendedores, indisponibilidade de tempo, falta de acesso a redes de suporte, dentre outros. Portanto, há diversos estudos que demonstram os obstáculos enfrentados pelos empreendedores na fase de ideação.

Por outro lado, identificar os fatores críticos de sucesso que contribuem para o desenvolvimento eficaz de ideias é essencial para aumentar o conhecimento sobre o processo de desenvolvimento das startups.

Este artigo visa aprofundar a análise dos fatores críticos de sucesso em programas de ideação para startups, com foco nos programas realizados na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. Atualmente a cidade se destaca como um dos pólos de inovação no Brasil, com um ecossistema de startups em crescimento que inclui o apoio de instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas / SEBRAE (Sebrae Minas & ABGI, 2023).

De acordo com Ribas (2020), os fatores críticos de sucesso atuam como pilares que permitem a construção e expansão de uma empresa, ou seja, atuam como grandes condutores ou catapultas, onde são colocados produtos e serviços que podem ser direcionados para cima.

O método dos fatores críticos de sucesso, segundo o autor, foi implementado no mundo dos negócios pelo Sr. Ronald Daniel, sócio e diretor da McKinsey Consulting & Company por volta de 1960, quando falou sobre gestão da informação para diretores e gerentes.

De acordo com Junior et al. (2012), Rockart (1979) definiu fatores críticos de sucesso como um limitado número de áreas nas quais os resultados, se satisfatórios, irão assegurar um desempenho competitivo de sucesso para a organização.

Desde então, segundo os autores, os fatores críticos de sucesso têm sido utilizados em diferentes áreas dos estudos organizacionais, definidos como as áreas-chave da organização que determinam o sucesso ou o fracasso em termos de eficácia.

Silva (2019), citando Santos et al. (2009), descreveu que tais fatores podem influenciar o desempenho bem-sucedido das startups e contribuir para a eficiência do processo de transferência de tecnologia.

O exposto reforça a importância da identificação e promoção dos fatores críticos de sucesso para a criação de um ambiente que não apenas favorece a validação das ideias, mas que também contribua para o desenvolvimento das competências dos empreendedores, tornando-os mais aptos a enfrentar os desafios inerentes ao processo de construção de uma startup.

Por fim, além de contribuir para a literatura sobre empreendedorismo e inovação, os achados deste estudo oferecem ainda insights práticos para gestores de programas de ideação, formuladores de políticas e outros stakeholders do ecossistema de startups.

Metodologia

Este artigo relata parte dos estudos promovidos por Magalhães (2024), que teve como objetivo geral analisar a taxa de êxito do total de ideias de negócios trabalhadas nos programas de ideação e que alcançaram sucesso.

Além do objetivo geral, tal estudo teve três objetivos específicos, a saber: identificar os obstáculos enfrentados pelos participantes dos programas de ideação; analisar o uso de métodos ágeis; e, motivo de tal artigo, apresentar os fatores críticos de sucesso que facilitaram o processo de transformação das ideias em novos produtos, serviços, modelos de negócios ou até mesmo em novas startups.

A pesquisa foi conduzida com uma abordagem mista, combinando métodos quantitativos e qualitativos para obter uma compreensão abrangente dos fatores críticos de sucesso em programas de ideação para startups, o que enriquece a análise e melhora a validade dos resultados.

1. Levantamento Quantitativo

O levantamento quantitativo foi realizado com base em dois públicos. Primeiro foram aplicados questionários a colaboradores do Sebrae-MG que coordenaram os programas e, em sequência, aos participantes dos programas de ideação.

O objetivo da pesquisa com os coordenadores foi conhecer melhor os programas, levando em consideração elementos como o perfil dos participantes, a estrutura de apoio, a mentoria, as verticais e os desafios abordados. Além disso, propôs-se obter uma percepção, por meio da visão do coordenador, sobre a efetividade dos programas, incluindo uma análise dos aspectos positivos e negativos.

Já a pesquisa com os participantes teve como propósito maior examinar a taxa de sucesso do total de ideias de negócios trabalhadas nos programas de ideação que alcançaram resultados positivos.

Esta pesquisa foi aplicada a participantes de programas de ideação realizados na cidade de Belo Horizonte-MG, nos anos de 2018 ou 2019, e que foram apoiados pelo Sebrae de Minas Gerais. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário estruturado com 28 questões abertas e fechadas ou escalas de opinião, aplicado por telefone, WhatsApp ou e-mail a uma amostra de 105 de um universo de 870 participantes.

O questionário foi dividido em dois blocos. O primeiro compreendeu grupos de perguntas que, em geral, contribuem para uma melhor compreensão das motivações, ideias de negócio, uso de métodos ágeis, modelos de negócio, continuidade da evolução da ideia após o programa, obstáculos e fatores críticos de sucesso, que será objeto de maior análise neste artigo. O segundo bloco incluiu questões voltadas para a compreensão do perfil do participante.

2. Entrevista Qualitativa

De forma complementar, foram realizadas entrevistas em profundidade, através de grupo focal, com oito empreendedores participantes dos programas e que conseguiram transformar suas ideias em startups. A análise qualitativa dos dados foi realizada com base em técnicas de análise que possibilitassem a identificação de temas recorrentes e insights para alcance dos resultados, sendo dividida em seis blocos, onde se destaca para tal análise, o quarto bloco destinado a estudar os desafios e fatores críticos de sucesso.

Resultados e Discussões

As investigações permitiram analisar os fatores críticos de sucesso identificados na fase de ideação para o desenvolvimento de startups. A seguir, são apresentados os principais achados das análises quantitativa (pesquisa com coordenadores e com participantes) e qualitativa (com empresários).

1. Pesquisa Quantitativa com Coordenadores

A pesquisa com os coordenadores dos programas de ideação buscou capturar, dentre outros, a percepção sobre os principais fatores críticos que afetam o sucesso das startups na fase de ideação.

Tal pesquisa, em síntese, demonstrou que 100% dos programas, na visão dos coordenadores, cumpriram de alguma forma com as expectativas esperadas quanto à eficácia na promoção de soluções a serem desenvolvidos aos desafios apresentados, sendo que 54% superaram, 38% cumpriram parcialmente e 8% na plenitude.

Dentre os diversos fatores descritos pelos coordenadores, dois merecem destaque pela quantidade de vezes que foram citados, sendo o primeiro deles relacionado ao propósito e finalidade dos desafios apresentados nos programas, já que alguns foram direcionados para solução de problemas sociais, como obesidade infantil, empreendedorismo feminino, educação e objetivos de desenvolvimento sustentável.

A seguir alguns outros fatores citados e que contribuíram para o sucesso dos programas de ideação, na visão dos coordenadores:

– Conexão com o mercado;

– Conexão entre empresas tradicionais e startups;

– Objetivo e propósito do desafio apresentado (mulheres, obesidade, educação, ODS);

– Reformulação do modelo de negócio (novas soluções) e abertura ao novo;

– Resultados obtidos;

– Seleção de startups escolhidas para propor soluções;

– Subsídio do Sebraetec (programa de consultoria tecnológica do Sebrae) para desenvolver soluções; e

– Treinamento em modelos de negócios, métodos ágeis e cultura de startups;

2. Pesquisa Quantitativa com Participantes

Aplicada a 105 participantes de um universo de 870, mediante questionário estruturado em 28 perguntas, conforme detalha Magalhães (2024) em sua pesquisa, aqui serão apresentados os principais resultados relacionados ao objetivo específico de análise dos fatores críticos de sucesso.

A maioria dos participantes relataram que a participação nos programas de ideação foi positiva para a construção de uma nova ideia de negócios, com destaque para os seguintes indicadores:

– 51% das ideias surgiram durante a realização do programa, o que demonstra a importância dos mesmos para o processo de ideação;

– 41% dos participantes continuaram a trabalhar suas ideias de negócios após a etapa de ideação, seguindo para a fase de operação, mostrando que, mesmo diante dos obstáculos, muitos participantes encontraram alternativas para desenvolver suas startups.

– 63% dos participantes declararam que a participação nos programas de ideação trouxe vantagens competitivas, com destaque para novos conhecimentos, acesso a mercados e ampliação da rede de contatos.

Além destes fatores, que demonstram a importância dos programas para transformação das ideias em produtos, serviços, modelos de negócios ou até mesmo em novas startups, tal pesquisa identificou os seguintes fatores para sucesso da transformação da ideia, que incluem a adoção de metodologias ágeis, o apoio institucional, o networking e a motivação pessoal dos empreendedores, fatores estes que serão detalhados a seguir.

– Adoção de Metodologias Ágeis

A utilização de metodologias ágeis foi identificada como um dos fatores mais relevantes para o sucesso dos programas de ideação. Essas metodologias, como Canvas, Scrum Kanban e Design Thinking (os mais citados), permitem que os empreendedores testem e ajustem rapidamente suas ideias, favorecendo a adaptação constante a mudanças de mercado e a validação de suas propostas.

O uso de metodologias ágeis foi amplamente incentivado nos programas analisados, facilitando o desenvolvimento de ideias viáveis e reduzindo o tempo necessário para ajustes.

Quando perguntados sobre a utilização de métodos ágeis durante o processo de ideação, a grande maioria (73%) afirmou ter utilizado um ou mais métodos, conforme figura a seguir.

Figura 2. Uso de métodos ágeis

Fonte: Adaptado de Magalhães, M. M. (2024). Análisis de la efectividad de los programas de ideación para la creación de startup en Belo Horizonte-MG Brasil [Tesis doctoral, Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales].

Como evidenciado na figura anterior, 27% afirmaram não ter usado métodos ágeis. Quando perguntados sobre os motivos pelos quais não se utilizou, a principal resposta estava relacionada à falta de conhecimento. “Não recordo” foi outra resposta bastante relatada. “Prefiro usar método tradicionais” foi a terceira opção mais citada, conforme demonstrado a seguir.

Figura 3. Motivos não utilização métodos ágeis

Para os entrevistados que declararam que o uso de métodos ágeis foi a base para a construção dos seus modelos de negócios (73%), foi perguntado sobre as vantagens do uso de tais métodos. As respostas mais citadas foram a melhor organização do trabalho com divisão de tarefas, a melhoria da produtividade, a melhoria da qualidade dos produtos, o aumento da satisfação dos clientes, a maior previsibilidade e controle e, por fim, a redução de custos. A figura a seguir demonstra a quantidade de citações.

Figura 4. Vantagens uso métodos ágeis

– Apoio Institucional e Parcerias Estratégicas

Outro fator crítico de sucesso destacado pelos empresários, foi o apoio institucional proporcionado pelo SEBRAE-MG e as parcerias estabelecidas com universidades locais e outras instituições. Esse apoio incluiu, dentre outros, mentorias, recursos técnicos e acesso a laboratórios.

As alianças estratégicas e consultorias especializadas foram os principais fatores que facilitaram a materialização dos investimentos financeiros, interesse esse apontado por 67% dos participantes.

As parcerias com instituições de ensino, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foram particularmente importantes, pois proporcionaram uma base de conhecimento técnico e científico para os empreendedores. A colaboração com universidades permitiu que os participantes dos programas acessassem laboratórios, desenvolvessem protótipos e obtivessem orientação especializada, facilitando o avanço das suas ideias para etapas mais maduras do desenvolvimento de negócios.

A propósito, dentre as maiores dificuldades enfrentadas pelos participantes, o acesso ou aquisição de equipes qualificadas e infraestrutura tecnológica e laboratorial, foi a que apresentou menor resistência, conforme demonstrado a seguir.

Figura 5. Grau de dificuldade na implementação da ideia

– Formação de redes de contato (Networking) e colaboração com Startups de referência

A formação de redes de contato (networking) e a colaboração com startups de referência também emergiram como fatores fundamentais para o sucesso dos programas de ideação, sendo o aspecto mais citado pelos participantes na geração de valor, com 44% das respostas, seguido de conhecimento e formação pessoal (30%).

Figura 6. Fatores geração de valor

Outras importantes redes de relacionamento citadas dizem respeito ao apoio recebido durante a realização dos programas, quer seja através de mentores, demais participantes ou sócios, dentre outras opções apresentadas como resposta à fonte de inspiração.

Figura 7. Fontes de inspiração

– Motivação Pessoal e Comprometimento dos Empreendedores

A motivação pessoal dos empreendedores foi outro fator crítico de sucesso mencionado pelos participantes. 30% estavam muito motivados e 39% estavam motivados a continuar com as ideias após os programas de ideação. 28% eram indiferentes ou desmotivados, e apenas 3% estavam muito desmotivados.

Figura 8. Motivação pessoal para continuar

Em outra pergunta, desta vez sobre qual o principal fator que contribuiu para o êxito da ideia, a perseverança foi a mais citada, seguidos de inovação frente a concorrência, participação em programas de ideação e a necessidade do mercado, conforme demonstrado no gráfico a seguir.

Figura 9. Fatores para o êxito das ideias

Dentre os aspectos comportamentais, merece atenção a avaliação realizada junto aos participantes a partir das características do comportamento empreendedor adotadas pelo programa Empretec, que é um seminário de formação de empreendedores criado pela ONU e promovido em mais de 40 países (Sebrae, 2023). O seminário desenvolve mudanças comportamentais, promove a revisão de conceitos e atitudes e prepara o empreendedor através de 10 características essenciais do comportamento empreendedor.

Estas características foram avaliadas como fator de contribuição para o sucesso da construção e validação da ideia, com a solicitação para que os participantes indicassem, numa escala de 0 a 10, o quanto as mesmas foram importantes durante a fase de ideação. Três, dentre as 10 características, receberam as maiores notas, com média de 8,5, sendo elas: compromisso, persistência e busca de informações.

Figura 10. Avaliação das características do comportamento empreendedor (Empretec)

Essas características sugerem que o sucesso na ideação não depende apenas de fatores externos, como o apoio institucional e as redes de mentoria, mas também de características pessoais que permitem aos empreendedores persistirem e se adaptarem frente aos desafios.

A motivação pessoal, associada a um compromisso com o aprendizado contínuo, foi essencial para que esses participantes aproveitassem ao máximo as oportunidades oferecidas pelos programas, incluindo a participação em atividades de capacitação e a interação com mentores experientes.

Os dados qualitativos, a serem explorados na sequência, complementam a expectativa de que os empreendedores motivados e engajados com o propósito de suas ideias estavam mais propensos a buscar soluções inovadoras e a enfrentar os obstáculos que surgiam no processo de ideação.

3. Grupo Focal com Empresários

No estudo qualitativo com um grupo focal de empreendedores de startups, foram identificados vários fatores críticos de sucesso que sustentam o desenvolvimento e a transformação das ideias em novos produtos, processo, modelos de negócios ou novas startups. Esses fatores críticos, discutidos detalhadamente durante as sessões, incluem:

Mentoria e orientação: O suporte de mentores com experiência prática e teórica contribuiu de maneira significativa para o amadurecimento das ideias, auxiliando os empreendedores a superar obstáculos e a desenvolver estratégias mais sólidas. A mentoria foi vista como um dos elementos mais eficazes para facilitar o processo de ideação e o avanço rumo à execução.

Um dos participantes comentou sobre a importância da orientação recebida: “A mentoria me ajudou a ver caminhos que eu não tinha considerado antes, especialmente quando enfrentei obstáculos na definição do modelo de negócio”.

Expansão de redes de contatos: A construção e ampliação de redes de contatos, tanto com outros empreendedores quanto com investidores e representantes do ecossistema de inovação, foram destacadas como elementos essenciais para o sucesso. Essas conexões não apenas proporcionam suporte direto, mas também possibilitam o surgimento de oportunidades e parcerias estratégicas.

A construção de networking foi destacada como crucial. Um dos participantes afirmou: “Ter acesso a uma rede de outros empreendedores e investidores mudou completamente a forma como eu vejo oportunidades. Muitas das parcerias que firmamos nasceram desses contatos”.

Estes dois aspectos foram também evidenciados na pesquisa quantitativa, no item “formação de redes de contato e colaboração com startups de referência”, assim como o tema a seguir, vinculado ao item “motivação pessoal e comprometimento dos empreendedores”.

Resiliência e persistência: A persistência foi identificada como uma característica fundamental para enfrentar os desafios comuns durante a fase de ideação. Os empreendedores mencionaram que a capacidade de não desistir diante das dificuldades foi essencial para alcançar resultados significativos e adaptar-se às mudanças do mercado.

Outro fator crítico mencionado foi a resiliência para superar dificuldades. Como relatou um empreendedor: “Tive muitos momentos em que pensei em desistir, mas o apoio do grupo e dos mentores me deu forças para continuar e adaptar minha ideia”.

O próximo item foi destaque na pesquisa qualitativa com os participantes, dentro do tema “apoio institucional e parcerias estratégicas”.

Capacitação em técnicas de apresentação e comunicação: A habilidade de comunicar eficazmente as ideias, especialmente em apresentações para investidores (pitch), foi outro ponto crucial. Esse treinamento ajudou os empreendedores a transmitir suas propostas de valor de maneira convincente e clara, aumentando as chances de obter apoio financeiro e parcerias.

A importância do treinamento em comunicação foi destacada por outro participante: “Antes, eu era muito introspectivo e achava difícil apresentar minha ideia. Após o treinamento, sinto-me seguro para fazer um pitch para qualquer investidor”

Acesso a ecossistema de inovação: O ambiente propício oferecido na cidade de Belo Horizonte-MG, através de aceleradoras, incubadoras e universidades renomadas, também foi considerado um fator de sucesso. Esse ecossistema proporciona acesso a mão de obra qualificada e recursos que incentivam a inovação e o desenvolvimento de novas ideias.

A localização em Belo Horizonte-MG (BH) foi um diferencial. Como colocado por um dos empreendedores: “Estar em BH, onde temos acesso a aceleradoras e universidades, fez toda a diferença. Esse ambiente inovador é muito inspirador e oferece recursos essenciais para quem quer crescer”.

Por fim, um tema que não havia aparecido na pesquisa quantitativa com os participantes e foi amplamente relatado no grupo focal, que diz respeito à pandemia Covid-19, onde há relatos demonstrando oportunidades, para efeitos de impacto no desenvolvimento das ideias de negócios, conforme descrito a seguir.

Pandemia: A demanda reprimida pós-pandemia foi mencionada como uma oportunidade que ajudou alguns participantes a impulsionar o lançamento de seus produtos ou serviços, aproveitando a recuperação econômica para expandir o mercado e fortalecer a base de clientes.

Em relação ao impacto do momento e contexto econômico favorável, os participantes do grupo focal compartilharam experiências enriquecedoras sobre as oportunidades emergentes durante a pandemia, que ajudaram a impulsionar seus negócios.

Um empreendedor comentou: “Chegou a pandemia […] , os salões fecharam […] e tive que me reinventar dentro do comércio eletrônico”.

Outro participante relatou como a necessidade de adaptação rápida ao novo cenário econômico o levou a transformar a crise em uma oportunidade: “Em meio à pandemia, nossos contratos se cancelaram, mas, ao mesmo tempo, outras empresas buscaram serviços terceirizados para não precisar contratar novos funcionários, e conseguimos fechar parcerias que não havia antes”.

Conclusão

Os fatores críticos de sucesso identificados neste estudo evidenciam a importância de um suporte abrangente e bem estruturado para o desenvolvimento de startups na fase de ideação. O uso de metodologias ágeis, o apoio institucional, o networking e a motivação pessoal dos empreendedores foram elementos essenciais para a eficácia dos programas de ideação analisados.

Esses elementos não apenas contribuíram para a estruturação das ideias, mas também favoreceram um ambiente de aprendizado contínuo e troca de conhecimentos, aspectos fundamentais para a criação de um ecossistema de inovação robusto. Os achados indicam que, quando esses fatores estão presentes, as startups conseguem aumentar significativamente suas chances de sucesso e continuidade no mercado.

A figura a seguir materializa a representação destes fatores de sucesso para transformação das ideias de negócios, com detalhamento das principais conclusões sobre cada um dos itens identificados nas pesquisas.

Figura 11. Fatores de Sucesso – Grupo Focal

A aplicação das metodologias ágeis emergiu como um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento das ideias. A flexibilidade e a adaptabilidade proporcionadas por essas metodologias permitiram que os empreendedores fizessem ajustes rápidos com base no feedback recebido, promovendo um processo contínuo de refinamento e validação das ideias.

Esse ciclo iterativo não só otimiza o desenvolvimento do produto, mas também ajuda os empreendedores a responderem de maneira mais eficaz às demandas e mudanças do mercado. Em um contexto de alta incerteza, como o das startups, essa capacidade de adaptação é essencial para transformar ideias iniciais em negócios viáveis e competitivos.

O apoio institucional, especialmente o fornecido pelo SEBRAE-MG, desempenhou um papel crucial no sucesso dos programas de ideação analisados. Além de proporcionar financiamento e acesso a recursos essenciais, o suporte oferecido pelas instituições foi fundamental para criar uma rede de mentores e profissionais experientes que contribuíram diretamente para o amadurecimento das ideias.

Essa estrutura de apoio institucional ajudou os empreendedores a superar barreiras comuns na fase de ideação, como a escassez de capital e a falta de orientação especializada. A presença de uma rede sólida de suporte institucional torna-se, assim, um fator essencial para a criação de condições favoráveis ao surgimento e ao crescimento de novas startups.

O networking também foi identificado como fator determinante para o sucesso. A possibilidade de interagir com outros empreendedores, investidores e profissionais do setor facilitou o acesso a recursos e conhecimentos que muitas vezes não estariam disponíveis para empreendedores em fases iniciais. Essas redes de contato não só proporcionam insights valiosos sobre o mercado, como também permitiram a formação de parcerias que, em muitos casos, foram decisivas para a viabilidade dos projetos.

Um ecossistema de inovação eficaz depende, em grande parte, da capacidade de conectar diferentes atores, e os programas de ideação em Belo Horizonte demonstraram como o networking pode ser uma ferramenta poderosa para fomentar a colaboração e o crescimento das startups.

A motivação pessoal dos empreendedores foi um elemento essencial para a superação dos desafios ao longo do processo de ideação. As características pessoais, como a resiliência, a busca por oportunidades e o comprometimento, mostraram-se fundamentais para que os participantes aproveitassem ao máximo os recursos e as oportunidades oferecidas pelos programas.

A pesquisa evidenciou que os empreendedores mais motivados e engajados foram aqueles que apresentaram maior capacidade de adaptação e superação de obstáculos, o que reforça a importância do desenvolvimento de competências pessoais para o sucesso de startups em ambientes incertos e competitivos.

Por fim, embora se trate de um evento específico e limitado a um período específico, importante relatar o impacto da pandemia Covid-19 que trouxe implicações de várias naturezas, a exemplo dos obstáculos relacionados no acesso a recursos ou adaptações ao mercado, conforme descreve (Magalhães 2024b) ou ainda pelas oportunidades surgidas e relatadas no grupo focal.

Com base nesses resultados, recomenda-se que futuros programas de ideação continuem a valorizar e integrar esses fatores críticos em suas estruturas. A adoção de metodologias ágeis, a criação de redes de apoio institucional e o incentivo ao networking são elementos que devem ser priorizados para maximizar o impacto dos programas de ideação.

Além disso, é fundamental que esses programas promovam atividades que estimulem o desenvolvimento de características do comportamento empreendedor, contribuindo para a formação de empreendedores mais preparados para enfrentar as adversidades do mercado.

Referências

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¹ Doutor em Ciências Empresariais e Sociais (UCES-Argentina), com mestrado em Engenharia da Produção (UFSC) e graduação em Engenharia Elétrica (PUC-MG)