MEDIA EDUCATION: THE MEME GENRE AS AN INSTRUMENT OF READING AND WRITING IN THE 9TH GRADE OF ELEMENTARY SCHOOL E.E.E.F.M MINISTER ALCIDES CARNEIRO
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412140939
Rosângila Louzada da Silva[1]
Milvio da silva Ribeiro[2]
RESUMO
O artigo investiga as contribuições do gênero midiático “meme” no processo de ensino e aprendizagem no 9º ano da E.E.E.F. Ministro Alcides Carneiro, em Ananindeua, Pará. O objetivo geral é analisar como os docentes de Língua Portuguesa utilizam os memes em suas práticas pedagógicas. A metodologia adotada é qualitativa, envolvendo entrevistas semiestruturadas com dois professores e questionários aplicados a dois alunos, além de observação em sala de aula. Os resultados indicam que, apesar das limitações tecnológicas, os professores já incorporam os memes de forma criativa, promovendo habilidades de leitura e escrita, e tornando as aulas mais atrativas e significativas para os alunos. A pesquisa destaca a importância do letramento digital e os desafios enfrentados na implementação dessas metodologias.
Palavras-chave: Meme. Ensino. Aprendizagem. Letramento digital
SUMMARY
The article investigates the contributions of the media genre “meme” in the teaching and learning process in the ninth grade of the E.E.E.F. Ministro Alcides Carneiro, in Ananindeua, Pará. The general objective is to analyze how Portuguese language teachers use memes in their pedagogical practices. The methodology adopted is qualitative, involving semi-structured interviews with two teachers and questionnaires applied to two students, in addition to classroom observation. The results indicate that, despite technological limitations, teachers already incorporate memes in a creative way, promoting reading and writing skills, and making classes more attractive and meaningful for students. The survey highlights the importance of digital literacy, and the challenges faced in implementing these methodologies.
Keywords: Meme. Teaching. Apprenticeship. Digital literacy
INTRODUÇÃO
A inclusão do gênero textual midiático “meme” na prática pedagógica representa uma estratégia inovadora que contribui para a dinamização do ensino e para a aproximação entre os conteúdos escolares e a realidade dos alunos. Para os professores, essa abordagem promove maior engajamento em sala de aula, tornando as atividades mais atrativas e diversificadas. Já para os estudantes, a utilização de memes oferece uma oportunidade de aprendizagem significativa, conectando elementos de suas vivências pessoais ao contexto educacional. Além disso, a análise crítica desse gênero sob uma perspectiva pedagógica amplia sua função de simples entretenimento para um recurso de reflexão sobre questões sociais e culturais, mediado pela atuação docente.
A pesquisa em questão foca no problema das dificuldades em leitura e escrita enfrentadas pelos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Ministro Alcides Carneiro, localizada em Ananindeua, Pará. O objetivo geral é investigar as contribuições do gênero “meme” no processo de ensino e aprendizagem, explorando suas aplicações na prática pedagógica e examinando a percepção dos alunos sobre esse recurso. Para tanto, busca-se compreender como os professores de Língua Portuguesa utilizam os memes em sala de aula, identificar as metodologias empregadas e analisar os desafios associados à implementação dessa prática.
Adotando uma abordagem qualitativa, a pesquisa utilizou observação em sala de aula, entrevistas semiestruturadas com duas professoras de Língua Portuguesa e questionários aplicados a dois alunos. Essa metodologia permitiu captar nuances importantes das interações entre os sujeitos da pesquisa e o gênero textual estudado. Os dados revelaram que os memes já são explorados pelos professores como ferramenta pedagógica, contribuindo para o desenvolvimento das competências de leitura e escrita, mesmo diante de limitações significativas, como a falta de suporte tecnológico adequado na escola.
O estudo é apresentado em seis capítulos que abordam desde a justificativa e os objetivos da pesquisa até a análise dos dados e as conclusões. Nos capítulos iniciais, são discutidas as potencialidades e limitações do gênero “meme” no ambiente escolar, contextualizando seu papel como ferramenta crítica e reflexiva, especialmente no contexto amazônico, onde o gênero também é utilizado como instrumento de denúncia social. A fundamentação teórica, apoiada em autores como Fairclough (2018), Soares (2009) e Xavier (2017), destaca a relevância dos memes no desenvolvimento de letramentos e multiletramentos, alinhando-se às competências propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
No percurso metodológico, detalham-se os instrumentos de coleta e análise de dados, bem como os sujeitos e o contexto da pesquisa, enfatizando o caráter qualitativo e descritivo do estudo. As análises dos resultados indicaram que, apesar dos desafios, os professores vêm desenvolvendo metodologias criativas para integrar os memes ao ensino de Língua Portuguesa, promovendo não apenas habilidades de leitura e escrita, mas também o pensamento crítico. No entanto, a ausência de recursos estruturais adequados e formações continuadas ainda representam entraves significativos à expansão dessa prática.
Conclui-se que a utilização do gênero textual midiático “meme” nas práticas pedagógicas representa uma ferramenta potente para a educação contemporânea, especialmente na construção de um ensino mais interativo e contextualizado. Contudo, sua implementação requer esforços para superar desafios relacionados à infraestrutura escolar e à qualificação docente, evidenciando a necessidade de políticas públicas mais efetivas para integrar as tecnologias digitais ao ambiente educacional de maneira ampla e equitativa.
Metodologicamente, a presente pesquisa está alicerçada em uma abordagem qualitativa, que se fundamenta na ideia de uma interação dinâmica e interdependente entre o mundo real e o sujeito, ressaltando o vínculo indissociável entre o objetivo e o subjetivo. Essa perspectiva, conforme Chizzotti (1995, p. 79), compreende a relação entre sujeito e objeto como viva e transformadora, permitindo a análise profunda de fenômenos sociais e educacionais. No contexto da pesquisa, a amostragem não busca quantificar dados, mas seleciona os sujeitos com base em critérios considerados essenciais pelo pesquisador, como relevância para o tema, acessibilidade e disponibilidade para participação, conforme apontado por Trivinos (1987, p. 132).
O primeiro instrumento de coleta de dados utilizado foi a observação, realizada tanto em sala de aula quanto nos espaços escolares de forma mais ampla. Este recurso permitiu analisar os recursos físicos e materiais disponíveis na instituição para promover atividades vinculadas às tecnologias digitais educacionais. A observação, enquanto técnica qualitativa, vai além do simples ato de olhar; implica destacar elementos específicos com base em características relevantes, como forma, função e contexto. No entanto, para ampliar a compreensão, a pesquisa recorreu a outros instrumentos complementares.
Nesse sentido, a entrevista semiestruturada foi aplicada com três professoras de Língua Portuguesa, configurando-se como uma técnica valiosa para explorar percepções e práticas pedagógicas. De acordo com Trivinos (1987), a entrevista semiestruturada alia a atuação consciente do pesquisador à relevância do contexto do entrevistado, favorecendo a descrição, explicação e compreensão dos fenômenos sociais tanto em situações específicas quanto em cenários mais amplos. Essa abordagem considera a entrevista como uma “teoria em ação”, na qual o pesquisador deve seguir práticas rigorosas, incluindo a atenção constante às respostas do entrevistado, a busca por esclarecimentos frente a ambiguidades e a assistência na formulação de ideias quando necessário.
Assim, a utilização de instrumentos como observação e entrevistas semiestruturadas fortalece a abordagem qualitativa da pesquisa, permitindo uma análise abrangente e significativa dos dados coletados, além de garantir a profundidade necessária para compreender os fenômenos investigados.
LETRAMENTO, TECNOLOGIAS DIGITAIS E O USO DE MEMES NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA
Os estudos sobre o uso do gênero “meme” no ensino e aprendizagem fundamentam-se na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), especialmente na área de Linguagens, que destaca a relevância das práticas sociais mediadas por diferentes linguagens: verbal, corporal, visual, sonora e, contemporaneamente, digital. Segundo o documento, “as atividades humanas realizam-se nas práticas sociais, mediadas por diferentes linguagens: verbal (oral ou visual-motora), corporal, visual, sonora e, contemporaneamente, digital” (BNCC, 2018, p. 64). Essas práticas possibilitam a interação dos sujeitos consigo mesmos, com os outros e com o mundo, promovendo a constituição de sujeitos sociais.
Entre as competências específicas para o Ensino Fundamental, a BNCC enfatiza:
Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimentos, resolver problemas e realizar projetos autorais e coletivos (Brasil – BNCC, 2018, p. 65).
Essa competência sublinha a necessidade de incorporar tecnologias digitais, como os memes, nas práticas pedagógicas, visando estimular o pensamento crítico, reflexivo e ético dos estudantes, aspectos indispensáveis para sua formação integral. O componente curricular de Língua Portuguesa, ainda segundo a BNCC, busca promover experiências que ampliem os letramentos dos alunos, permitindo-lhes participação significativa e crítica em práticas sociais permeadas por diversas linguagens, como oralidade, escrita e as novas formas de expressão digital (Brasil, BNCC, 2018, p. 67).
Além disso, a BNCC reconhece que as práticas de linguagem contemporâneas demandam a utilização de novos gêneros textuais, cada vez mais multissemióticos e multimodais, como os memes, que requerem novas formas de produção, configuração, replicação e interação. Isso reflete a necessidade de adaptar as práticas escolares às transformações sociais, ampliando a participação dos sujeitos nas práticas de linguagem.
No campo do letramento, Magda Soares (2009) contribui com uma análise que destaca duas abordagens: a progressista “liberal” e a revolucionária. A abordagem progressista entende o letramento como um conjunto de habilidades funcionais para que o indivíduo opere adequadamente em sua cultura, conceito difundido como letramento funcional (Gray, 1956, apud Soares, 2009, p. 72). Em contrapartida, a abordagem revolucionária considera o letramento um conjunto de práticas socialmente construídas que refletem e questionam os valores e poderes presentes nos contextos sociais, rejeitando a ideia de neutralidade (Soares, 2009, p. 75).
Com o advento dos gêneros digitais, como os memes, as práticas de leitura e escrita também se transformaram, dando origem ao conceito de “letramento digital”. Xavier (2007, p. 133) observa que essas mudanças representam um desafio pedagógico, exigindo dos educadores a formação de uma nova geração de aprendizes que estejam alfabetizados digitalmente e aptos a interagir com as tecnologias da informação e comunicação.
As instituições escolares desempenham um papel central nesse processo, ajudando a consolidar a cultura da escrita por meio de recursos tecnológicos apropriados. O letramento digital é essencial para garantir que os estudantes adquiram as habilidades necessárias para atuar de forma eficaz em uma sociedade altamente tecnológica, destacando a importância de integrar os gêneros digitais, como os memes, ao currículo escolar de forma significativa e reflexiva.
EVIDÊNCIA DO GÊNERO MEME NAS PRÁTICAS ESCOLARES
A linguagem memética tem ganhado destaque como objeto de estudo, especialmente devido ao seu papel nas redes sociais como veículo de apropriação tecnológica e cultural. Nesse contexto, Silva (2018) explora a linguagem dos memes, considerando-a uma forma significativa de compartilhamento de mensagens. Segundo o autor, o termo “meme” originou-se no campo da biologia evolucionista, a partir do livro O Gene Egoísta, de Richard Dawkins, publicado em 1976. Define-se o meme como “uma unidade de transmissão que se propaga de cérebro para cérebro por meio de um processo que pode ser chamado, em sentido amplo, de imitação” (Silva, 2018, p. 05).
No universo digital, os memes assumem a forma de piadas ou comportamentos replicados sem autoria explícita. Ao serem criados, espalham-se rapidamente pela internet, promovendo humor, entretenimento e até mesmo mobilização social. Essa característica viral é definida como “conteúdo de caráter viral replicado diversas vezes, ou a brincadeiras ou piadas internas em determinados nichos culturais” (Fontanela, 2007, p. 8 apud Silva, 2018, p. 06). Além de seu impacto cultural, os memes têm demonstrado potencial para mobilizar pessoas em torno de causas e debates sociais.
No contexto educacional, os memes se destacam como novos gêneros textuais da era digital, cuja inclusão no processo de ensino-aprendizagem pode ampliar as possibilidades pedagógicas. Silva (2018, p. 06) aponta que os memes, como parte da linguagem memética, oferecem recursos multimodais que podem enriquecer as práticas educacionais, especialmente ao integrar meios audiovisuais e tecnológicos. Contudo, isso suscita questões sobre como as escolas estão inserindo esse recurso em sua prática pedagógica, particularmente nas aulas de Língua Portuguesa.
Dessa forma, esta pesquisa visa contribuir para a discussão ao investigar o papel do gênero “meme” no ensino-aprendizagem. O objetivo geral é compreender as contribuições desse gênero virtual midiático na prática pedagógica do 9º ano na E.E.E.F. Ministro Alcides Carneiro. Os objetivos específicos incluem: analisar como os docentes de Língua Portuguesa utilizam o gênero “meme” em suas atividades, investigar as metodologias aplicadas e compreender a percepção dos alunos em relação ao uso desse gênero no ambiente escolar.
Ao introduzir os memes como recursos pedagógicos, busca-se não apenas enriquecer o repertório de ferramentas educacionais, mas também promover reflexões sobre o uso das tecnologias digitais na construção de práticas de linguagem mais inclusivas, contemporâneas e socialmente engajadas.
O MEME NA E.E.E.F.M MINISTRO ALCIDES CARNEIRO NO 9º ANO NO ENSINO FUNDAMENTAL II.
A escolha de trabalhar com profissionais dessa área deve-se ao fato de que o gênero “meme” está intrinsecamente relacionado aos conteúdos abordados na disciplina de Língua Portuguesa, especialmente no que diz respeito aos gêneros textuais digitais.
Durante as entrevistas, foram realizadas sete perguntas direcionadas às docentes, abrangendo aspectos relacionados à sua prática profissional em sala de aula e ao uso de recursos tecnológicos educacionais. Para fins de análise e anonimato, as professoras foram identificadas como “Professora P1” e “Professora P2” ao longo de toda a pesquisa.
Uma das questões abordou especificamente o nível de conhecimento das docentes sobre os gêneros digitais, incluindo sua aplicabilidade e relação com as tecnologias educacionais. As respostas a essa pergunta foram fundamentais para compreender o grau de familiaridade e as perspectivas das professoras em relação ao uso pedagógico de ferramentas digitais, como o gênero “meme”, e serão analisadas detalhadamente a seguir.
Sim…eu reconheço os gêneros digitais…são gêneros atuais que estão em constante evolução né? Devido aos tipos textuais que são agregados a ele…Eles combinam elementos visuais e textuais de forma criativa e nas versões mais atuais, encontramos em formatos de gibs e figurinhas utilizadas por meio do watsapp.
(Professora de Língua Portuguesa P1)
Sim! Eu conheço esses gêneros e utilizo eles em sala de aula sempre que possível. Pois a escola não possui todos os instrumentos, realmente necessários para desempenhar as atividades, já que alguns computadores são bastante antigos e outros não funcionam por falta de manutenção e também o datashow nem sempre está disponível. então as atividades são desempenhadas de acordo com que as condições da escola permitem.
(Professora de Língua Portuguesa P2)
A Professora P1 apresenta uma compreensão sólida e atualizada sobre os gêneros digitais, destacando sua evolução contínua e a combinação criativa de elementos visuais e textuais. Sua referência a formatos populares, como GIFs e figurinhas em aplicativos de mensagens, evidencia seu entendimento das características desses gêneros no cotidiano digital. No entanto, sua resposta permanece mais teórica, sem mencionar como integra esses elementos nas atividades escolares.
Já a Professora P2 não apenas demonstra conhecimento sobre os gêneros digitais, mas também relata utilizá-los em sala de aula sempre que as condições permitem. Apesar das limitações estruturais enfrentadas, como computadores obsoletos, falta de manutenção e indisponibilidade de equipamentos como datashows, a docente busca adaptar-se e incorporar esses recursos à sua prática pedagógica, demonstrando resiliência e compromisso.
Enquanto a Professora P1 apresenta uma visão mais descritiva, a Professora P2 expõe os desafios práticos, revelando as barreiras impostas pela infraestrutura precária da instituição. Essa situação evidencia a necessidade de melhorias estruturais para ampliar as possibilidades de utilização dos gêneros digitais como ferramentas educacionais.
Essas contribuições destacam tanto o potencial quanto as dificuldades de integrar os gêneros digitais ao ensino. As percepções das professoras também abrem caminho para aprofundar a investigação sobre a aplicação de gêneros específicos, como o “meme”, na prática pedagógica. A próxima etapa da entrevista explora essa questão, buscando compreender se é como as docentes utilizaram o gênero “meme” em sala de aula e qual foi o impacto dessa experiência na aprendizagem dos alunos. Obtiveram-se as seguintes respostas:
Sim. Já utilizei o gênero meme em minha prática docente…utilizei um meme baseado em uma manifestação, filmada por uma tv local no estado da Bahia, na qual os moradores e telespectadores reivindicavam o reembolso dos valores dos ingressos de um evento, pois os apresentadores não compareceram ao evento. A abordagem com os alunos tinha como proposta, através desse meme, era que os alunos do 9º ano produzissem uma carta de reclamação, para além do que foi apresentado na tv …eles produzissem uma carta escrita realizando uma reivindicação, de maneira mais formal, além da forma informal que foi apresentado na tv.
(Professora de Língua portuguesa P1)
A resposta da Professora P1 exemplifica uma abordagem prática e inovadora do uso do gênero “meme” como ferramenta pedagógica. Ao integrar um meme baseado em um evento real ao planejamento de suas aulas, a professora promoveu uma conexão significativa entre a realidade dos alunos e os objetivos educacionais, utilizando o gênero como ponto de partida para a produção textual. Essa iniciativa demonstra como os memes podem transcender seu papel habitual de entretenimento e se tornar um recurso didático eficaz para desenvolver competências linguísticas.
A proposta de transformar o conteúdo de um meme em uma carta de reclamação formal reflete uma prática pedagógica que incentiva os alunos a explorarem diferentes registros de linguagem e seus contextos de uso. Por meio dessa atividade, os estudantes não apenas exercitam a escrita, mas também aprendem a reconfigurar informações apresentadas de maneira informal, adaptando-as para um formato mais estruturado e formal. Essa abordagem está alinhada às diretrizes da BNCC, que enfatizam a necessidade de práticas que promovam o uso crítico, reflexivo e ético das linguagens.
Além disso, essa estratégia destaca a incorporação de multiletramentos no ensino, ao combinar elementos multimodais do meme com práticas de escrita formal. A atividade permite que os alunos reflitam sobre a função social da linguagem e desenvolvam habilidades essenciais para interpretar e produzir textos adequados a diferentes situações comunicativas.
A escolha de um tema relacionado a uma manifestação social também revela o potencial dos memes para fomentar o senso crítico, permitindo aos alunos analisarem questões sociais e culturais a partir de uma perspectiva crítica. Esse tipo de abordagem incentiva a classificação dos memes conforme categorias propostas por Fairclough (2001 apud Silva, 2018, p. 06), como persuasivo, de ação popular ou de discussão pública, ampliando a compreensão do gênero e suas funções sociais.
A utilização de memes como recurso educacional contribui não apenas para a formação linguística, mas também para o desenvolvimento de uma visão crítica dos alunos, conectando-os às realidades socioculturais e promovendo uma aprendizagem mais engajada e contextualizada.
Figura 1 – Meme
Fonte: Meme fornecido pela Professora de Língua Portuguesa P1
Nesse sentido, a atividade visou que os alunos também pudessem identificar, como no meme fornecido pela professora de língua portuguesa P1, as diferentes formas e contexto que a linguagem é utilizada, principalmente, a diferença entre linguagem formal e informal. O que também se pode verificar na atividade proposta em sala de aula pela professora P1, que consistiu em uma atividade de produção textual, na qual ela exemplificou essa diferença da linguagem e sugeriu que a turma do 9º ano produzisse uma carta argumentativa, com o intuito de que eles se apropriassem da utilização da linguagem no contexto formal da escrita.
Em relação à sondagem realizada com os alunos, foram aplicadas quatro perguntas aos educandos, através do questionário aberto. Os alunos participantes dessa pesquisa serão denominados de aluno A01 e aluno A02 no decorrer do texto. Sobre o questionamento na primeira pergunta acerca se os alunos já conheciam o gênero meme, obtiveram-se as seguintes respostas:
“sim, uso no dia a dia e na escola com amigos”
(aluno A01)
“sim, eu uso no me dia a dia com frequência, com os meus amigos e professores”
(aluno A02).
Através das respostas obtidas, observou-se que o gênero estudado já faz parte das relações sociais de comunicação dos alunos com os amigos e familiares. A segunda pergunta está relacionada se os discentes possuem acesso à internet na escola em que estudam, os dados coletados foram:
“sim, mas é muito ruim e lenta, não abre links nem arquivos”
(aluno A01)
“sim, mas é muito ruim para abrir sites e demora muito”
(aluno A02).
Os dados obtidos ratificam as dificuldades enfrentadas pelas docentes nas escolas, perante uma infraestrutura precária, principalmente, em relação ao acesso às tecnologias digitais para poder desenvolver atividades em sala de aula, as quais busquem desenvolver as competências e habilidades propostas pela BNCC. A terceira pergunta objetivou indagar se as professoras da disciplina de língua portuguesa já haviam abordado em sala de aula ou no laboratório de informática o gênero meme, por meio de alguma atividade. E as respostas obtidas foram:
“Sim. Fizemos uma atividade com um meme que falava sobre um evento que não aconteceu. por que o grupo de palhaços. Patatá apareceu..aí..a população queria o dinheiro de volta.. E depois a professora passou uma atividade para produzir um texto” (aluno A01)
“Sim. Nós fizemos uma atividade sobre um meme de uma tv local sobre um evento. Falava sobre um show do patati patatá que eles não foram apresentar o show. E a população ficou revoltada e querendo o dinheiro de volta… E depois a professora pediu para a turma fazer um texto para reivindicar algo” (aluno A02).
As respostas confirmam as atividades desenvolvidas pelas professoras em sala de aula e destacam que mesmo apesar de poucos recursos para desempenhar tais atividades, elas se utilizaram de sua criatividade para alcançar os objetivos no intuito de desenvolver habilidades da leitura e escrita nos alunos. A última pergunta está relacionada à percepção dos estudantes em relação à sua escola estar inserida em um contexto de tecnologias digitais educacionais. As respostas obtidas foram:
“Não. Acho que deveria melhorar como comprar novos computadores e organizar”
(aluno A01)
“Não totalmente, ela precisa de melhores computadores para fazer as atividades”
(aluno A02).
Todas as perguntas estavam relacionadas a indagar se os alunos já conheciam o gênero meme e se tal gênero já havia sido trabalhado em sala de aula nas aulas de língua portuguesa. E se os estudantes possuíam acesso à internet na Instituição pesquisada para se apropriar das tecnologias digitais educacionais. Os alunos participantes já conheciam o gênero meme de suas experiências extraescolares. E quando tal gênero foi inserido em atividades em sala de aulas, demonstraram bastante interesse, pois abordou algo que eles já vivenciavam, porém como uma nova proposta de abordagem pelos professores, o que tornou as atividades bastantes significativas para o ensino aprendizagem.
Através dos questionários, foram relatadas situações como dificuldades para utilização dos recursos (internet instável, computadores insuficientes e necessitando de manutenção) e o próprio laboratório de informática necessitando de reforma na sua estrutura.
Em termos gerais pode-se concluir que a pesquisa atingiu o seu objetivo em investigar as contribuições ao processo e ensino aprendizagem do gênero virtual midiático meme e suas contribuições na prática pedagógica no 9º ano do ensino fundamental da E.E.E.F.M Alcides Carneiro. Constatou-se através das atividades realizadas em sala de aula que o gênero investigado muito contribuiu para o desenvolvimento da leitura e da escrita dos estudantes, uma vez que possibilitou que eles realizassem uma reflexão sobre a língua portuguesa e sua aplicação nos diferentes contextos da vida social. E assim os possibilitou compreender que cada contexto requer uma aplicação diferenciada do uso da linguagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As evidências coletadas ao longo da pesquisa demonstram que a utilização do gênero midiático “meme” nas aulas de Língua Portuguesa contribui significativamente para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita dos alunos do 9º ano da E.E.E.F. Ministro Alcides Carneiro. A prática pedagógica que incorpora memes não apenas torna as aulas mais dinâmicas e relevantes, mas também conecta os alunos a um contexto cultural contemporâneo, estimulando seu interesse e engajamento.
Entretanto, a pesquisa também revelou desafios consideráveis enfrentados pelos docentes, como a precariedade da infraestrutura tecnológica e a falta de formação específica para o uso de tecnologias digitais educacionais. Esses fatores limitam a plena implementação de metodologias inovadoras que poderiam enriquecer ainda mais o processo de ensino-aprendizagem.
Portanto, é fundamental que as instituições de ensino busquem investir em recursos tecnológicos adequados e em capacitação profissional para os educadores. Somente assim será possível explorar todo o potencial dos memes e de outras ferramentas digitais, promovendo um ambiente educacional mais inclusivo e eficaz, que prepare os alunos para os desafios da comunicação na era digital. A pesquisa, assim, não apenas contribui para a reflexão sobre práticas pedagógicas, mas também aponta para a necessidade de um compromisso coletivo em prol da educação de qualidade.
REFERÊNCIAS
BACICH, Lilian; MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. Cap. 2, p.01-23.
BATISTA, Ilda Gonçalves; PRAZERES, Maria Sueli Correa dos. Tecnologias digitais na
educação: tensionamentos e mediações com estudantes de ensino médio de Cametá/PA. In: SILVA, Helen do Socorro de Araújo; MARTINS, Egídio (org.). Políticas e sociedade na Amazônia. Ponta Grossa: Atena, 2023. Cap. 16. p. 225-243.
BRASIL. Lei n° 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, p. 27833, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 15 mar. 2024.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.
CASTLELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução: Roneide Venancio Majer com colaboração de Klauss Brandini Gerhardt. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 698 p. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, v. 1). Título original: The rise of the network Society.
CHIZZOTTI, A. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 1998.
GUERRA, Christiane; BOTTA, Mariana Giacomini. O meme como gênero discursivo nativo do meio digital: principais características e análise preliminar. Domínios de Lingu@Gem, [S.L.], v. 12, n. 3, p. 1859, 21 set. 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.14393/dl35-v12n3a2018-17.
CHAGAS, Viktor, FREIRE, Fernanda Alcântara, RIOS, Daniel, MAGALHÃES, Dandara. A política dos memes e os memes da política: proposta metodológica de análise de conteúdo de memes dos debates eleitorais de 2014. Intexto, Porto Alegre, UFRGS, n. 38, p. 173-196, jan./abr. 2017.
MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar
lá. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 2012. 174 p. (Coleção Papirus Educação).
SOMOS todos Guarani-Kaiowá. Museu de memes. Rio de Janeiro: UFF, 2012. Disponível em: https://museudememes.com.br/collection/somos-todos-guarani-kaiowa. Acesso em: 22 mar. 2024.
XAVIER, Antônio Carlos dos Santos. Letramento digital e ensino. In: SANTOS, Carmi Ferraz; MENDONÇA, Marcia. Alfabetização e letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 133-148.
[1] Rosângila Louzada da Silva. Graduação em licenciatura plena em Língua Portuguesa pela universidade federal do Pará -UFPA (2011). Especialização em (2014). Mestranda no programa de pós-graduação em Ciências da Educação pela faculdade de Ciências Sociais Interamericana -FICS.
[2] Mílvio da Silva Ribeiro. Doutor em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará – PPGEO/UFPA. Professor na Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel – FATEFIG.E-mail: milvio.geo@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1118-7152.
CV: http://lattes.cnpq.br/9542173320344070