CORPOS SUSTENTÁVEIS VERSUS EDUCAÇÃO INSUSTENTÁVEL: O MEIO AMBIENTE EM FOCO

SUSTAINABLE BODIES VERSUS INSUSTAINABLE EDUCATION: THE ENVIRONMENT IN FOCUS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202312151308


Raisinery Macêdo da Silva1,
Misleny Araújo da Silva2


RESUMO

O presente artigo visa mostrar como a arte-educação movimenta o discurso sustentável da escola Bosque e combate, com o currículo escolar, a exploração cruel dos recursos naturais através de corpos/alunos que falam de educação ambiental na Ilha de Caratateua usando para isso a perspectiva pós-estruturalista e os estudos sobre performatividade, o que permite problematizar esse corpo que dança e fala de arte na educação. Sua abordagem metodológica aproxima-se da pesquisa qualitativa com características etnográficas que envolve o contato direto do pesquisador no ambiente pesquisado, observação participante e interação com os sujeitos integrantes, alunos e alunas, registros fotográficos e sistematização dos resultados da pesquisa. Nesse processo, intenciona investigar de que forma a arte-educação, mobilizada pela linguagem artística contraria a consciência devastadora do meio ambiente. Direciona-se aqui o olhar para a relação entre o currículo da FUNBOSQUE e a arte-educação ao longo dos 12 hectares de mata nativa que compõeo cenário natural da Escola Bosque na Ilha de Caratateua, o que intensifica a perspectiva de um currículo em sua vertente artística, educacional, cultural, performática, sustentável, entrelaçado pelos movimentos de corpos/alunos que dançam e falam de conscientização ambiental através da arte tendo em vista a qualidade de vida de todos.

Palavras-chave: Arte-Educação. Currículo. Meio Ambiente. Corpo. Dança.

ABSTRACT

This article aims to show how art education moves the sustainable discourse of the Bosque school and combats, with the school curriculum, the cruel exploitation of natural resources through bodies/students who talk about environmental education on Caratateua Island, using the perspective post-structuralist and studies on performativity, which allows us to problematize this body that dances and talks about art in education. Its methodological approach is close to qualitative research with ethnographic characteristics that involve the researcher’s direct contact in the researched environment, participant observation and interaction with the participating subjects, male and female students, photographic records and systematization of research results. In this process, we intend to investigate how art education, mobilized by artistic language, contradicts the devastating awareness of the environment. Here we look at the relationship between the FUNBOSQUE curriculum and art education throughout the 12 hectares of native forest that make up the natural setting of Escola Bosque on Caratateua Island, which intensifies the perspective of a curriculum in its artistic, educational, cultural, performative, sustainable aspect, intertwined by the movements of bodies/students who dance and talk about environmental awareness through art with a view to everyone’s quality of life.

Keywords: Art-Education. Curriculum. Environment. Body. Dance.

A arte-educação e os corpos em performatividade

O presente artigo debruça-se sobre a arte-educação e sua performatividade em corpos/alunos que falam de sustentabilidade na Escola Bosque – Ilha de Caratateua, trata-se de corpos/alunos sustentáveis versus educação insustentável e coloca no meio do debate o meio ambiente, para essa finalidade esse projeto utilizará a arte-educação como ferramenta de desconstrução da linguagem exploradora e devastadora dos recursos naturais, fala-se aqui de manifestações corporais, performáticas e expressivas, que problematizam questões educacionais voltadas, em uma escola ecológica, à conscientização ambiental, um currículo que, não deixando de ser contemporâneo, por meio da arte, figura 1, desconstrói conceitos fixos e disciplinadores que devastam a natureza, matam povos tradicionais e nossas riquezas naturais. Esses corpos/alunos manifestam, pela performatividade da arte, movimentos de um corpo desobediente que expressa sua singularidade atrelada a processos coletivos de produção de subjetivações sustentáveis.

Essa perspectiva projeta na atualidade um contexto de discussão do corpo/aluno impregnado pelas discursividades que permitem romper paradoxos equivocados quanto aos saberes negacionista de toda ordem. Essas possíveis e potentes movimentações artísticas e educacionais estão ligadas às questões sociais e culturais que passam pelo viés da arte, como a dança, elemento paradoxal do corpo/aluno que contribui para com a construção de uma didática que ofereça aos educandos metodologias diferenciadas que os liberte de aprendizados ineficientes e que tanto desqualificam outras linguagens, outros saberes.

Corpos, Arte e Natureza

Envolvido por essa perspectiva, a pesquisa faz uma discussão em torno da arte-educação e sua relação em corpos/alunos, figura 2, que falam de sustentabilidade na Escola Bosque, situada na Ilha de Caratateua, ao desenvolverem suas atividades de montagens e ensaios, figura 3. Diante disso convém perguntar: Como esses corpos/alunos falam de sustentabilidade e denunciam a exploração desmedida da natureza? Que novas aprendizagens surgem através da arte? O que esse aluno que dança e encena é capaz de potencializar na educação ambiental?

Ao fazer essa articulação pelo viés da arte, especialmente da dança, objetiva- se aqui a luta pela visibilidade da arte educação como uma possibilidade de ensino diferente, dinâmico, cativante, criativo, audacioso, capaz de proporcionar aos professores a livre docência quanto à expressão de sua liberdade no desenvolvimento dos conhecimentos artísticos e das vivências diferenciadas nos espaços escolares por meio das sensações, descobertas, experimentações e interação com dança, rompendo com as fronteiras de uma educação insustentável.

Diante dessa vasta experiência artística e cultural, essa escrita, fruto de uma pesquisa etnográfica e de experiência profissional, tem a pretensão de revelar, na perspectiva da educação ambiental, um discurso cultural que fala de sustentabilidade, vivido cotidianamente na escola ou fora de seus muros, entrelaçando o corpo/aluno e a performatividade à educação, uma vez que “o currículo é um dispositivo de saber-poder-verdade de linguagem” (CORAZZA, 2001, p. 10).

Refletir nessa direção possibilitou pensar uma expressão artística que valoriza e afirma o poder de transformação da arte na vida dos alunos e a potencialidade linguística em defesa do meio ambiente, trata-se de um discurso sustentável mais que oportuno, revela-se urgente!

Um aspecto científico que potencializa a criatividade e singularidade de cada sujeito em seu processo de transformação e encontro com a arte. Um currículo vivo, em movimento que em suas movimentações constrói multiplicidades de mundos, um universo artístico aberto para o novo, um fazer pedagógico que envolve pela expressão da arte e pela multiplicidade cultural a práxis pedagógica docente. Esse corpo/aluno que se movimenta, que dança, que pensa diferente, pretende abrir muitas possibilidade e caminhos, pretende por meio da linguagem do corpo performático que dança e fala levar ao encontro de linguagens outras um pedido de socorro: Salvem o Meio Ambiente! Ele busca ora a construção de aprendizagens ora a desconstrução do conhecimento, percorrendo um viés pós- crítico,

As teorias pós-criticas em educação também favorecem o reconhecimento de que no mundo contemporâneo novas configurações culturais têm ocorrido com a escola pelo privilégio sobre a educação das pessoas. No âmbito das teorizações pós-críticas é resultado que muitas das representações disponibilizadas pelo discurso veiculadas por diferentes artefatos culturais não apenas chegam às escolas, mas também entram em conflito com o que nelas se ensina (MAKNAMARA; PARAÍSO, 2013, p. 42).

Pensar nessas configurações artísticas e culturais, em um corpo/aluno performático é colocar em funcionamento algo criativo, com novos arranjos educacionais para os currículos existentes; é desmontar o pensamento de algo acabado, único e universal abrindo margem para múltiplas possibilidades de se pensar as movimentações de um currículo na escola básica. Uma movimentação cultural e curricular que fala através do corpo e da performatividade questionando o que se concebe como verdade, algo que deseja ir além do instituído e oficial, para experimentar suas outras múltiplas combinações rítmicas e performáticas. Para percorrer esse caminho foi necessário exercitar constantemente o olhar e questionar inúmeras vezes o significado das coisas na educação através de um corpo/aluno instituído, como pontua Machado e Coutinho(2014):

Exercitar a desconstrução significa, pois, colocar em questão determinados significados transcendentais que operam como princípio primeiro e que, exatamente, por serem considerados transcendentais, são vistos como legítimos e como justificativa para toda uma série de categorizações que se encontram naturalizadas nos mais diferentes discursos culturais, social e historicamente produzidos. Isso indica que a desconstrução revela a arbitrariedade dos discursos hegemônicos, desmascarando a ideologia dominante dos textos que se mostram neutros e legitimam padrões e valores. (MACHADO; COUTINHO, 2014, p. 4).

Esses processos de produção, engendrado pelo corpo/aluno que fala e dança, provocam múltiplos efeitos na arte de aprender e defender o meio ambiente, são expressões performáticas provenientes de uma insatisfação social refletida na educação ambiental, são manifestações contidas por um discurso tradicional que agora se revelam incontidas pela performatividade corporal, resultando em uma ruptura, um abalo sísmico nos/dos mecanismos de dominação e disciplinamento dos corpos, “é no corpo e através do corpo que os processos de afirmação ou transgressão das normas regulatórias se realizam e se expressam” (LOURO, 2008, p. 83). Galúcio (2019, p. 91) corrobora dizendo:

Esse encontro faz surgir uma nova forma de pensar o corpo e sua relação com a cultura, além de produzir aprendizagens desobedientes aos cânones de um currículo fixo e instituído, gerando assim “um movimento de desconfiar do currículo (tal como ele se apresenta), tratá-lo de modo não usual; seria um movimento para desconcertar ou transtornar o currículo” (apud LOURO, 2008, p. 64).

Diante desse cenário torna-se necessário lutas e resistências afim de produzirmos um pensamento sustentável de preservação ambiental através da arte, algo inquietante e provocador que nos permita pensar e vislumbrar outros horizontes e novas possibilidades transformadoras de uma aprendizagem que desperta desejos e desarranjos estruturais na educação, por mais estranho, esquisito que possa ser, uma tentativa de oposição a um sistema de linguagem que busca impor o silêncio e o disciplinamento aos corpos enquanto povos tradicionais e o meio ambiente são destruídos.

Nessa perspectiva, se questiona: Como a arte-educação, através de corpos sustentáveis, critica a educação insustentável que destrói o meio ambiente?

O objetivo geral desse estudo é apresentar a arte-educação como ferramenta educacional de luta contra os processos de devastação ambiental, além de pesquisar práticas pedagógicas transversais que contribuam para um discurso sustentável em ambiente escolar, avaliar o alcance pedagógico da arte-educação na vida escolar dos alunos e validar o estudo dos corpos como ferramenta de produção de saberes.

Para isso, busca-se aspectos metodológico que estejam longe de romantizar essa “escrileitura em filosofia-educação” (CORAZZA, 2008), eis que surge, nesse contexto, a vida amazônica e sua mitologia, como uma linguagem apropriada à produção dessa escrita, algo que flui de elementos naturais, atento a esses aspectos foi realizado um movimento de proximidade com a metodologia da pesquisa de caráter etnográfico na educação, pois revelou-se a necessidades do acompanhamento, registro e descrição de um corpo/aluno que se realiza nas performatividades e que falam de preservação do Meio Ambiente.

O uso de uma metodologia com aspectos etnográficos nesse artigo proporcionou uma maior imersão do pesquisador no campo da pesquisa e possibilidade de aprimorar o olhar direcionado ao currículo, ao corpo e às performatividades inscritas no espaço escolar, percebendo as nuances de um corpo/aluno que dança, fala, ensina, transcende, reinventa, transgride, desobedece.

Ao eleger a abordagem com características etnográficas como eixo metodológico e articulador dessa pesquisa buscasse chamar a atenção às diversas cores presentes nesse texto, trata-se de diferenças marcadamente históricas e de culturas vivas e potentes encontradas nas manifestações culturais, que trazem para dentro da narrativa escolar do texto etnográfico a policromia que marca as relações de poder, cores vivas e interações potentes que [CO]Existindo compõem as circunstâncias do diálogo construído pela relação etnográfica presente na exposição latente da cultura, uma vez que, como nos mostra Geertz (1997), fazer etnografia é documentar, descrever e analisar o estilo de vida ou padrões específicos da cultura do outro, para apreender seu modo de viver em seu ambiente natural, é descrever particularidades que possibilitem a descoberta de conhecimentos outros, bem como sua interpretação em relação a determinados aspectos sociais, como compreende Clifford(1986):

A etnografia a serviço da antropologia antigamente olhava para um outro claramente definido, categorizado como primitivo, tribal ou não ocidental, ou pré-letrado, ou não histórico […]. Hoje a etnografia encontra outros em relação a si própria, enquanto se vê a si mesma como outra (CLIFFORD, 1986, p. 23).

Desse modo, a linguagem não é mediadora da visão e sim o próprio pensamento, concretizado aqui nas performances de corpos/alunos que falam pela dança, uma fala corporificada, concretizada/concretizadora “capaz de romper com as limitações da escrita e transmissão oral, assim, quando alguém ou algo é descrito pelo etnógrafo tem-se uma realidade criada, um conhecimento produzido” (COSTA, 2000, p. 77). No que se refere a realidade educativa, a etnografia torna-se complexa, dinâmica, interativa, o que situa o fenômeno educativo num contexto social, numa realidade histórica e contemplando aspectos importantes, tais como crenças, valores, ancestralidade, significados que não sendo diretamente observáveis são, por isso, difíceis de investigar, sua captação é um desafio para qualquer investigação educacional.

A pesquisa etnográfica como afirma Oliveira (1989) constituindo-se no exercício do olhar (ver), do escutar (ouvir) e do escrever (texto), impõe ao pesquisador um deslocamento de sua própria cultura para se situar no interior do fenômeno por ele observado através de sua participação, ora afetiva ora efetiva, nas formas de sociabilidade por meio das quais a realidade investigada lhe é manifestada. A observação participante é sem dúvida a técnica privilegiada para investigar os saberes e as práticas da vida social e reconhecer as ações, construções e representações coletivas na vida humana. Esse processo consiste no permanente engajamento em uma experiência de percepção de contrastes sociais, culturais e históricos.

A linguagem artística é, pois, um ponto importante a se considerar, pois somente o objeto pesquisado pode dar a dimensão exata, o conteúdo e as razões de suas manifestações, já que são as experiências que definem o conteúdo significativo da pesquisa, uma vez que o método etnográfico tem como finalidade descrever os processos que compõem uma dada realidade através de perspectivas outras, entre elas a cultural e ambiental. “O trabalho de campo é significativamente composto de eventos de linguagem” (CLIFFORD, 2008, p. 41-42). Nesse sentido Angrosino (2009) pontua:

etnografia significa literalmente a descrição de um povo. É importante entender que a etnografia lida com gente no sentido coletivo da palavra, e não com indivíduos. Assim sendo, é uma maneira de estudar pessoas em grupo organizados, duradouros, que podem ser chamados de comunidades ou sociedades. O modo de vida peculiar que caracteriza um grupo é entendido como a sua cultura. Estudar a cultura envolve um exame dos comportamentos, costumes e crenças aprendidos e compartilhados do grupo (ANGROSINO, 2009, p. 16).

Na pesquisa de campo a descoberta do outro, produz uma reconfiguração na relação com a alteridade, pois implica em uma instigante e sistemática atitude de acompanhamento do grupo que envolve o estranhamento do olhar habitual e a familiaridade do estranho na relação entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados no processo de produção do conhecimento.

Na verdade, nosso contato com o outro não é realizado por meio da análise. Antes, nós o apreendemos como um todo. Desde o início, podemos esboçar nossa visão dele a partir de um detalhe simbólico, ou de um perfil, que contém um todo em si mesmo e evoca a verdadeira forma de seu modo de ser. Esta última é o que nos escapa se abordamos nosso próximo usando apenas as categorias de nosso intelecto. (CLIFFORD apud LEENHARDT, 2008, p. 37).

Nesse sentido, a aproximação e o uso do método etnográfico é importante a fim de apreender e compreender a realidade vivida, experimentada e performativa, com o intuito de assim os dados produzidos traçarem o caminho teórico-prático a ser percorrido durante as descrições, análises e os resultados da pesquisa, suas hipóteses vão sendo construídas progressivamente à medida que os dados respondem ou não aos questionamentos feitos.

A inserção no contexto social objetivado pelo pesquisador para o desenvolvimento de sua pesquisa o aproxima cada vez mais dos indivíduos, dos grupos sociais que circunscrevem seu universo de pesquisa. Junto a essas pessoas o pesquisador tece uma comunicação densa orientada pelo seu projeto de intenções de pesquisa. O antropólogo americano Clifford Geertz (1978) sugere aqui que estaremos desvendando o tom e a qualidade de vida cultural, o ethos e o habitus do grupo, ou seja, estaremos interpretando o sistema simbólico que orienta a vida e conforma os valores éticos dos grupos sociais em suas ações e representações acerca de como viver em um sistema social. (ROCHA; ECKERT, 2008).

Para auxiliar esta pesquisa, tornou-se importante a articulação entre procedimentos outros de investigação, entre eles documentos oficiais, reportagens, cartazes e folders referentes à história da FUNBOSQUE. Tais inquietações epistemológicas desencadearam um esforço no sentido de entender como essa experiência artístico-cultural potencializa um corpo/aluno que dança, sem, porém, cristalizá-la como verdade absoluta e única via possível de interpretação e análise, uma escrileitura diferenciada, questionadora e inquietante, uma vez que “escrever é a garantia do exercício de possibilidades” (CORAZZA, 2008, p. 42), sempre buscando “tecer uma construção semelhante à teia de Aranha, tão fina que possa seguir a corrente da onda que a empurra, tão resistente que não deixe se despedaçar à mercê dos ventos” (NIETZSCHE, 2008, p. 6). Corroborando, Clifford (2008) destaca:

Analisando esta complexa transformação, deve-se ter em mente o fato de que a etnografia está, do começo ao fim, imersa na escrita. Esta escrita inclui, no mínimo, uma tradução da experiência para a forma textual. O processo é complicado pela ação de múltiplas subjetividades e constrangimentos políticos que estão acima do controle do escritor (CLIFFORD, 2008, p. 21).

Por fim, fazer etnografia no campo educacional significa acompanhar a produção subjetiva da cultura expressa nos corpos/alunos que dançam e falam de preservação ambiental e como suas práticas artístico-culturais impregnam o currículo da Escola Bosque de conceitos sustentáveis, construindo uma zona de visibilidade discursiva e, com isso, caminhar rumo a um mundo mais COP303. É abrir caminhos em meio às contingências e determinações do mundo, com vistas à construção de um mundo com mudanças mais reais de preservação de nossos biomas, “já que a tarefa do conhecer é sempre incompleta” (LOURO, 2007, p. 238).

A avaliação desse trabalho se dará por etapas ,será composta por pesquisas, ensaios e apresentações como culminância dos estudos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa escrita performática existente na apresentação/atuação do corpo/aluno é uma fascinante travessia fluvial, um pô pô pô3 4que navega pelo imaginário do paraense, uma expressão mitológica popular que atracada nos trapiches do conhecimento científico, embarcam os alunos da Escola Bosque, são povos das águas e territórios que, navegando por rios ora conhecidos ora desconhecidos do saber, por canais e braços fluviais turbulentos, revelam, com seus corpos/alunos suados e, exaustivamente ensaiados de forma performática, um discurso sustentável transformador, rompendo com a calmaria dos rios, uma aprendizagem limitada, um currículo ultrapassado que se revela incapaz de explorar a grandiosidade dos rios que banham nossa cidade e escrita falada pelo corpo/aluno e que agora ganha vida, performatividade e força como a pororoca, na movimentação e na vertente de uma educação presente nos corpos de alunos/dançarinos e alunas/dançarinas.


3 O Brasil sediará pela primeira vez uma cúpula mundial do clima das Nações Unidas, o evento mais relevante do segmento. De forma inédita e emblemática, a COP30 acontecerá em novembro de 2025 em Belém (PA), uma metrópole no coração da floresta amazônica, seis anos após o governo Bolsonaro se negar a receber o encontro no país.

4 Nome popular dado às embarcações que realizam travessias entre as Ilhas que compõem o cenário paradisíaco do Estado do Pará.


REFERÊNCIAS

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CORAZZA, Sandra Mara. O que é um currículo? Pesquisas pós-críticas em educação. Petrópolis. Ed. Vozes, 2001.

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MACHADO, Girlane Martins. COUTINHO, Karyne Dias. A produção das desigualdades de gênero: Um estudo sobre a orientação sexual no PCN. In: XXII Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste EPENN Pós-Graduação em Educação do Norte e Nordeste: Produção de conhecimento, assimetrias e desafios regionais, Natal/RN, 2014.

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ROCHA, Ana Luiza Carvalho da; ECKERT, Cornélia. Ciências Humanas: Pesquisa e método. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2008.


1Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú e Educação Física pela Universidade Federal do Pará. Pós-Graduada em Psicologia Educacional com ênfase em Psicopedagogia Preventiva pela Universidade Estadual do Pará; Gestão Escolar pela Universidade Federal do Pará (Escola de Gestores) e Mestranda em Ciências da Educação pela Faculdade Interamericana de Ciências Sociais E-mail: macedoraisinery@gmail.com.

2Licenciada em Arte Visuais pela ESMAC, técnica em cenografia pela Universidade Federal do Pará, mestranda em Ciência da Educação pela Facultad interamericana. E-mail: profmisleny@hotmail.com.