TRATAMENTO EM POTRO COM IDADE INFERIOR A DOIS ANOS COM DIAGNÓSTICO SUGESTIVO DE BABESIOSE: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411300919


Leticia Bolzan Rios1; Marina Jorge de Lemos2; Thiago Ventura Scoralick Braga3; Emanuela Lima de Oliveira Galindo2; Alda Letícia da Silva Santos Resende2; Mariana Correia Oliveira2; Edison Eduardo Vasconcellos Goulart do Amarante2; Camila Sampaio Cutrim2; Pedro Henrique da Costa Sinquini4


RESUMO

A babesiose em equinos é de grande importância para a medicina veterinária por várias razões. Primeiramente, a babesiose é uma enfermidade de potencial gravidade, capaz de manifestar sintomas severos, tais como febre alta, anemia, icterícia e, em cenários extremos, culminar em óbito. A compreensão aprofundada e o manejo eficaz desta patologia são imprescindíveis para assegurar a saúde e o bem-estar dos equinos. Este trabalho apresenta o caso clínico de um cavalo com histórico médico complexo, acometido por babesiose, após uma infestação de carrapatos. O caso explorou a importância do diagnóstico preciso e do manejo terapêutico para assegurar o bem-estar e a recuperação do animal. Durante o acompanhamento, foram realizados exames laboratoriais e clínicos para confirmar a presença do parasita e monitorar a resposta ao tratamento. A complexidade do quadro demonstrou a relevância da abordagem multidisciplinar e da aplicação de conhecimentos teóricos na prática veterinária.

Palavras-chave: Hematozoário; Infestação de carrapatos; Protozoário.

INTRODUÇÃO

Há cerca de 55 milhões de anos, os cavalos já existiam no mundo, passando por muitas transformações ao longo do tempo até chegarem a forma como conhecemos hoje. A domesticação dos cavalos começou a aproximadamente 6 mil anos atrás, quando os humanos passaram a desfrutar dos benefícios que esses animais proporcionam.

Seus ancestrais provavelmente se alimentavam de uma vegetação macia e rasteira, eram animais braquiodontes, ou seja, possuíam dentes curtos semelhantes ao dos humanos, sua estatura era de aproximadamente 40 cm. Foram identificados como Hyracotherium ou Eohippus oligohippus. Conforme a evolução foram renomeados Mesohippus, Merychippus e Philohippus e assim chegando ao cavalo que conhecemos nos dias de hoje. (Junior, 2016).

No histórico de domesticação desses animais, as respostas afetivas perante o homem, como a propensão a evasão ou a hostilidade, provavelmente exerceram um papel importante na seleção da espécie escolhida para o processo de domesticação. (De Fatima, 2011).

Os cavalos são presas e tendem a assustar-se facilmente, no entanto, estabeleceram-se relações harmoniosas com os seres humanos. Os cavalos se popularizaram na sociedade como meio de transporte, lazer, esportes e trabalho.

Após a popularização do automóvel, o papel do cavalo foi gradualmente diminuindo em diversas atividades, especialmente nas áreas urbanas, onde o transporte motorizado se tornou predominante. No entanto, nas áreas rurais, o cavalo continuou a desempenhar seu papel.

Com o avanço da tecnologia, sistemas auxiliares foram desenvolvidos para a agricultura, reduzindo ainda mais a dependência dos cavalos. Isso permitiu uma transição gradual para métodos de trabalho mais eficientes e menos dependentes de animais.

Apesar da diminuição da dependência laboral, o uso de cavalos como tração ainda permanece, principalmente em áreas rurais e urbanas mais pobres, situação dos cavalos que trabalham na tração de carroças é lamentável. Muitos sofrem de desnutrição e estão sujeitos a acidentes de trânsito, os quais poderiam ser evitados com cuidado adequado por parte dos proprietários, pois esses animais são vitais para o sustento de seus donos, e muitas vezes não recebem o cuidado e a atenção necessários para garantir sua segurança e bem-estar.

A raiz desse problema está na falta de informação. Muitos dos carroceiros que negligenciam os animais não têm acesso à instrução adequada e enfrentam dificuldades financeiras até para alimentar suas famílias. Além disso, muitos deles não estão familiarizados com as leis de trânsito. Infelizmente, veículos de tração animal também representam um risco adicional no trânsito, podendo resultar em tragédias. 

É importante salientar que os abusos não se limitam aos condutores de carroças; há também inúmeros incidentes causados por descuido ou crueldade dos tratadores e proprietários que afetam os animais, incluindo aqueles usados para entretenimento ou em atividades esportivas, que por vezes sofrem nas mãos daqueles encarregados de zelar por sua segurança e bem-estar.

A babesiose equina é uma hemoparasitose de grande importância e distribuição global, também conhecida como nutaliose, febre biliar ou piroplasmose equina (Jardim, 2014). Os agentes etiológicos responsáveis por essa afecção são Babesia caballi e a Babesia equi, atualmente reclassificada como Theileria equi, podendo ocorrer tanto de forma individual quanto ambas as espécies infectando simultaneamente o mesmo animal.

Os agentes etiológicos Babesia caballi e Theileria equi são protozoários intra-eritrocitários patogênicos. Embora compartilhem sintomatologia clínica semelhante e abordagens diagnósticas, terapêuticas comuns, suas causas subjacentes são distintas, (Nantes et al., 2008, e Souto et al., 2014). Estes protozoários acometem cavalos, muares, burros e zebras.

A Theileria equi, passa uma parte de seu ciclo de vida dentro de linfócitos e por não haver transmissão transovariana no carrapato, muitas vezes essa doença se mostra fatal, os animais podem vir a óbito em até 48 horas após o início dos sintomas.

A babesiose equina é causada por um protozoário intracelular obrigatório, que penetra nos eritrócitos por meio de um processo endocítico, desencadeando subsequente hemólise. Sua taxonomia o posiciona no Filo Apicomplexa, Subfilo Sporozoa, Classe Aconoidasida, Ordem Piroplasmida e Família Babesiidae (Silva et al. 2013).

Ambos os protozoários, Babesia caballi e Theileria equi, destroem os glóbulos vermelhos do sangue. Os animais parasitados manifestam sintomas como febre, anemia, perda de desempenho, abortos, cólicas, secreção ocular excessiva, falta de apetite, dificuldade de coordenação, icterícia, corrimento nasal mucoso e edema. Esses sintomas são comuns e podem ser confundidos com outras doenças, já que se desenvolvem rapidamente se não tratados. Um diagnóstico preciso, seguido de um tratamento adequado, é crucial para garantir a sobrevivência do animal.

O Brasil é o país com o maior rebanho de equinos da América Latina e o terceiro maior do mundo, com aproximadamente 6 milhões de animais, incluindo também muares e asininos, ficando atrás somente dos Estados Unidos e Mexico (Anualpec,2021). Em virtude da crescente valorização desses animais e de sua relevância indiscutível para a economia global, torna-se absolutamente essencial a implementação de cuidados adequados para a preservação da saúde dos equinos, considerando que estes se encontram suscetíveis a diversas patologias (Rehbein et al., 2013). O setor de equideocultura constitui uma grande fonte de oportunidades tanto econômicas quanto sociais, representando uma vertente de potencialidade específica dentro do agronegócio brasileiro. Esse segmento é responsável pela geração de 3 milhões de postos de trabalho (ABQM, 2022) e gerando um fluxo de R$30 milhões por ano (IBEQUI, 2023). Contudo os criadores enfrentam com dificuldade a babesiose equina, tendo em vista que esta doença pode afetar todo o rebanho causando perdas econômicas significativas. O primeiro diagnóstico de Babesia caballi foi feito por Costa e Mello em 1963, no estado do Rio de Janeiro, outros registros realizados posteriormente em Minas Gerais (1976) e Pernambuco (1988). Os casos de Piroplasmose Equina são associados a infestações por carrapatos, sendo mais comumente observadas as espécies Dermacentor nitens, no caso de infecções por Babesia caballi, e Rhipicephalus (Boophilus) microplus, no caso de infecções por Theileria equi (Leal, 2010).

Segundo o MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento existe o Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos (PNSE) que define a prevenção, controle e erradicação de doenças que afetam os equídeos. Nele está escrito as seguintes atividades: (I) ações de conscientização sanitária; (II) estudos sobre a disseminação de doenças; (III) regulamentação e fiscalização do transporte de equídeos; (IV) registro, fiscalização e certificação sanitária de estabelecimentos; e (V) resposta imediata diante de suspeitas ou casos confirmados de doenças de notificação obrigatória. (Junior, 2018).

O diagnóstico desta enfermidade pode ser realizado por métodos diretos e indiretos de identificação do agente etiológico. Os testes sorológicos são os mais recomendados (OIE, 2014), especialmente quando estão relacionados ao comércio e transporte de animais para países onde não há indícios da doença. Os testes de c-Elisa e Imunofluorescência indireta são os mais utilizados devido sua alta sensibilidade, capaz de detectar pequenas quantidades de antígenos/anticorpos circulantes (Rodrigues, 2018). O teste de c-Elisa é o método sorológico que detecta imunoglobulinas (Ig) do tipo IgG, que expressam uma resposta específica ao antígeno com caráter mais duradouro, tornando viável a identificação de animais portadores assintomáticos. Desta forma, o teste é utilizado como ferramenta para a detecção da doença em sua forma aguda e latente (Leal, 2011)

O presente trabalho teve como objetivo analisar um relato de caso sugestivo de babesiose equina em potro resgatado com idade inferior a dois anos.

2 METODOLOGIA

Para alcançar os objetivos delineados neste estudo, foi adotada uma abordagem qualitativa através de um estudo de caso. O estudo de caso é uma metodologia de pesquisa amplamente utilizada na medicina veterinária, permitindo uma análise aprofundada de situações específicas e a compreensão dos diversos fatores envolvidos.

Para embasar a análise do relato de caso realizou-se uma revisão de literatura na base de dados Google Scholar com as palavras-chave: “babesiose equina”, “babesiose em potro”, “Piroplasmose”, “babesiose em equinos jovens”, “babesiose equina”, “babesiosis in foal” e “piroplasmosis”.

A investigação teve como base a coleta de informações do paciente, a anamnese realizada durante os primeiros atendimentos, realizado no dia do resgate, os sinais clínicos observados pelo veterinário encarregado durante o curso do tratamento clínico, além da realização de exames para fins diagnósticos e terapêuticos.  Tanto o responsável pelo animal quanto o médico veterinário autorizaram o uso dos dados para a elaboração deste trabalho de conclusão de curso em Medicina Veterinária, conforme formalizado no termo de consentimento livre e esclarecido, anexado ao presente documento.

A relevância do estudo de caso para a medicina veterinária reside na sua capacidade de fornecer insights práticos e aplicáveis para a prática clínica. Ao examinar casos reais e suas ramificações, os profissionais veterinários podem aprender com experiências passadas e implementar medidas preventivas para evitar complicações semelhantes no futuro.

3 RELATO DE CASO

O presente trabalho relata o caso do equino chamado Júpiter, raça SRD, com idade aproximada de 1 ano e 4 meses, resgatado após um atropelamento na Avenida Brasil, RJ. Depois de meses de recuperação, foi solicitado a visita do Médico Veterinário, pois o animal apresentou sintomas indicativos de babesiose.

Por conta do histórico de abandono do animal, primeiramente será apresentada as circunstâncias de sua recuperação após resgate. Imediatamente, iniciou-se o tratamento das escoriações e do trauma sofrido pelo animal no atropelamento. Foi realizada a limpeza da ferida com soro fisiológico, clorexidina degermante, utilizando gaze retirou-se toda sujeira e secreção de dentro da ferida. Este procedimento foi realizado a cada 12h por 15 dias.

Após a limpeza, foi possível avaliar e examinar os ferimentos, e médico veterinário suspeitou que o animal não apresentava nenhum tipo de fratura por estar se movimentando sem muitas dificuldades. Para o controle de dor e inchaço foi administrado o medicamento Banamine® (Flunixina) na dose 1ml para cada 45kg conforme recomendação farmacológica. Como o animal pesava cerca 200kg foi aplicado 4,5 ml por via intramuscular, SID, durante 7 dias.

Como o ferimento foi contaminado por conta do atropelamento, foi necessário iniciar antibioticoterapia Pentabiótico® 6.000.000 UI na dosagem 6 ml para cada 100kg. Assim, foi administrado por via intramuscular profunda 10ml e após 5 dias, a mesma dosagem foi aplicada.

Para tratamento dos ferimentos, foi prescrito limpeza com soro fisiológico, pomada Vetaglós® (cicatrizante), e unguento ao redor da lesão, duas vezes ao dia até o término da cicatrização. Durante o tratamento das lesões o animal foi submetido a descanso e restrição de espaço, com intuito de limitar a movimentação dos músculos, tendo em vista que o local principal da lesão era na região da articulação úmero-rádio- ulnar. Após o término do tratamento das feridas, o animal teve recuperação total das feridas e sua função locomotora foi normalizada.

Após alguns dias, o animal foi transportado para um local localizado em uma zona rural no Bairro de Santa Cruz, Rj. Neste local, havia somente cerca para tentar conter o cavalo, entretanto outros animais conseguiam ter acesso por baixo, sendo assim, o paciente entrou em contato prolongado com outros animais parasitados com carrapato.

Neste contexto, o cavalo Júpiter foi acometido por infestação de carrapatos, principalmente na região da orelha e ao redor do ânus. Diante deste fato, foi iniciado o tratamento desparasitante utilizando fipronil aplicado diretamente no dorso do animal, ivermectina injetável, e banho uma vez por semana para fazer a retirada dos carrapatos mortos.

Semanas após o sucesso no tratamento desparasitário, Júpiter começou a perder peso, ficar prostrado, inapetente e, segundo relato do tratador do animal, todos os dias pela manhã Júpiter ficava deitado em decúbito lateral e por vezes necessitava de ajuda para se levantar. Por conta disso, surgiram inúmeras lesões pelo corpo e na lateral dos membros posteriores.

Neste cenário, o Médico Veterinário foi convocado para avaliar o animal. Na anamnese, foi verificado alguns sinais clínicos tais como: febre de 40,5ºC, anemia, hemoglobinúria e apatia. Durante a consulta foi coletado sangue e solicitado hemograma completo com ureia, creatinina, AST e ALT.

O primeiro exame, realizado em 05/06/2020, não apresentou alterações significativas hematológicas no eritrograma. As Plaquetas, Proteínas Totais, Fibrinogênio, Creatinina sérica e Ureia também estavam normais. Entretanto no leucograma constatou-se uma Linfopenia Absoluta e o aumento nos Neutrófilos Bastonetes; e as enzimas do fígado ALT e AST estavam bastante alteradas, conforme observado no Anexo A.

Com base no resultado do exame de sangue, sinais clínicos e anamnese foi possível estimar o diagnóstico de babesiose. Diante disto, iniciou-se o tratamento com:  Imidocarb 4ml/SID/IM durante 3 dias; Sorovita® 500ml/SID/IV durante 5 dias; Soro Ringer lactato 3 litros/SID/IV durante 3 dias.

O medicamento de primeira escolha para o tratar da piroplasmose equina é o propionato de imidocarb, pois é efetivo tanto contra a B. caballi como a T. equi (ROTHSCHILD & KNOWLES, 2007). No segundo dia de medicação Júpiter apresentou sintomas tais como: tremores, dificuldade respiratória, letargia e sudorese. Estes sintomas foram diretamente associados a efeitos colaterais causado pelo Imidocarb, por isso, foi administrado 4ml/SID/IM de atropina, durante três dias e 2L/SID/IV de ringer lactato em fluidoterapia durante dois dias. Ao fim deste procedimento os sintomas de intoxicação desaparecerem, então a conduta foi modificada para que não ocorresse novamente, assim, a dose do imidocarb foi fracionada para 2ml/SID/IM.

Um segundo exame de sangue foi realizado em 16/06/2020 e foram observadas alterações importantes no eritrograma como Eritrócitos, Hemoglobina e Hematócrito com valores abaixo dos limites mínimos de referência. A contagem de plaquetas apresentou queda acentuada, de 150.000 no primeiro para 44.000 no segundo exame. Além disso, as enzimas do fígado, creatinina sérica e ureia normais (Anexo B).

Para recuperar as condições hematológicas, iniciou-se 10ml/SID/VO de Hemolitan® (vitamina) durante 30 dias. No decorrer do tratamento o animal recebeu como manejo alimentar capim duas vezes ao dia e 4kg de ração fracionada ao dia. No final do ciclo de Hemolitan®, o veterinário indicou o uso de uma medida de Organew® (Vitamina) no cocho de ração.

Durante a evolução do tratamento, foi evidente o ganho de peso do paciente, de 198,5kg para 232kg, mudança na pelagem longa, escura e embaraçada para uma pelagem rosilha brilhante e a cicatrização das feridas menores. As feridas da região do flanco de ambos os lados demoraram mais tempo para se fechar completamente, deixando uma grande cicatriz escura e sem pelos.

Hoje o Júpiter possui 7 anos e está recuperado tanto do atropelamento quanto da babesiose e sem sequelas de ambas, vivendo na companhia de outros cinco cavalos, sendo dois deles assistidos pelo Projeto Nossos Resgates.

4 DISCUSSÃO

O diagnóstico da babesiose foi realizado pelo conjunto das observações clínicas e confirmado pelos resultados dos exames de sangue que buscavam, principalmente, alterações no eritograma compatível com anemia cujo nível é uma forma de avaliação da intensidade da doença. Este procedimento concorda com a conduta preconizada por Schueroff et al., (2019) e Barbosa (2022). Por isso, foram feitos dois exames de sangue. O primeiro os índices se apresentavam nos níveis limite inferiores enquanto o segundo mostrou um aprofundamento da anemia.

As alterações das enzimas hepáticas observadas no primeiro exame de sangue também corroboram o diagnóstico em conformidade com o reportado por Flores (2017) que reportou que alguns casos de babesiose apresentam aumento de enzimas como ALT, AST e GGT.

O tratamento realizado pela equipe veterinária pode ser classificado como adequado às necessidades específicas do animal, especialmente considerando os agentes etiológicos envolvidos, Babesia caballi e Theileria equi. A escolha pelo uso do propionato de imidocarb foi fundamentada, uma vez que essa droga é efetiva contra ambos os patógenos, o que é consistente com as recomendações de Rothschild e Knowles (2007), e um consenso na literatura médica veterinária segundo Schueroff et.al. (2019).

É importante destacar a relevância da monitorização dos possíveis efeitos colaterais do imidocarb, como tremores, dificuldade respiratória e sudorese, que no caso descrito foram identificados e prontamente tratados com atropina e fluidoterapia. Essa intervenção rápida e a posterior redução da dosagem mostraram-se cruciais para estabilizar o animal e evitar intoxicação e concordam com a conduta defendida por Ferreira et al. (2024).

As complicações durante o tratamento ressaltam a necessidade de observação e manejo cuidadoso em casos de babesiose. Sintomas colaterais da medicação indicam o quanto é fundamental a flexibilidade na dosagem e a atenção à resposta clínica do paciente. Este caso reforça a importância de uma abordagem adaptável na medicina veterinária, principalmente em casos em que os animais apresentam histórico de abandono ou desnutrição, o que pode impactar sua resposta imunológica e farmacológica (FERREIRA et al., 2024).

Segundo Batista (2022), um sistema imunológico deficiente pode levar a níveis de infecção parasitárias mais elevadas assim como sinais clínicos mais intensos. Neste contexto, é razoável inferir que o histórico de abandono de Júpiter, seguido do atropelamento, afetou sua condição geral e possivelmente seu sistema imunológico, tornando-o mais suscetível a infecções como a babesiose. Esse fator também pode ter influenciado a evolução clínica da doença e o processo de recuperação, exigindo atenção extra para lidar com deficiências nutricionais e imunológicas resultantes de maus tratos anteriores. A rápida perda de peso e o comportamento letárgico são sugestivos de como condições pré-existentes podem exacerbar os sintomas e prolongar o período de recuperação.

Este caso enfatiza a importância de competências como diagnóstico diferencial e identificação precoce de sinais clínicos associados a hemoparasitoses. Além disso, a experiência com o ajuste da dosagem e monitoramento de efeitos adversos durante o tratamento contribui para uma compreensão prática e aprofundada da farmácia clínica veterinária. Casos como o de Júpiter também realçam a relevância da educação continuada sobre bem-estar animal e a conscientização de políticas públicas que protejam animais de tração e garantam tratamento ético e adequado.

5 CONCLUSÃO

É notório que a babesiose em potros torna-se mais prejudicial ao animal, pois seu sistema imune não está completamente estabelecidos, desse modo os sintomas ficam mais intenso. Como também administrar o medicamento imidocarb em potros deve ser feito de maneira cuidadosa, tendo em vista que este é um fármaco com alta taxa de toxicidade e alguns animais podem apresentar sintomas de intoxicação mesmo aplicando a dose recomendada pela bula. O Relato descrito no caso de Júpiter permite concluir que o manejo clínico e o tratamento de animais com histórico médico complexo são essenciais para a formação acadêmica em medicina veterinária. A prática com casos de atropelamento e infestação por parasitas, como o tratamento da babesiose, desenvolve habilidades fundamentais para o diagnóstico e aplicação de terapias em situações reais e desafiadoras.

REFERÊNCIAS

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1Discente do curso de Medicina Veterinária – UNESA – RJ;
2Docente do curso de Medicina Veterinária – UNESA – RJ;
3Perito da PCRJ
4Médico Veterinário do Projeto Nossos Resgates