REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411291631
Hiarla Souza Santos1
Jhonnata Lourenço Sousa Silva1
Brenda Rodrigues de Souza2
RESUMO: Adenanthera pavonina L. é uma espécie arbórea de ampla distribuição em todos os estados brasileiros, cuja semente possui dormência do tipo impermeabilidade do tegumento, e apresenta interesse medicinal e econômico, além de sua ampla utilização na arborização urbana e em projetos paisagísticos. O trabalho objetivou determinar o melhor método para superar a dormência dessa espécie. Os tratamentos foram: T1 testemunha, T2 ácido sulfúrico, T3 escarificação mecânica e T4 imersão em água. Os dados observados foram calculados nos seguintes parâmetros: Porcentagem de Germinação (G%), e Índice de Velocidade de Germinação (IVG). Os resultados indicaram que os tratamentos T2, T3 e T4 não diferenciaram entre si para G%, já que para o parâmetro IVG os tratamentos T3 e T4 se destacaram melhor que os demais. Portanto, os tratamentos com escarificação mecânica e a imersão em água, mostrou ser o melhor método para a superação de dormência.
Palavras-chave: Germinação. Impermeabilidade do tegumento. Escarificação.
ABSTRACT:Adenantherapavonina L. is an arboreal species widely distributed in all Brazilian states, whose seeds has dormancy such as the impermeability of the seed coat, and is of medicinal and economic interest, in addition to its wide use in urban afforestation and in landscaping projects. The work aimed to determine the best method to overcome dormancy in this species. The treatments were: T1 control, T2 sulfuric acid, T3 mechanical scarification and T4 immersion in water. The following parameters were calculated from the observed data: Germinability (G%), and Germination Speed Index (IVG). The results indicated that treatments T2, T3 and T4 did not differ from each other for G%, since for the IVG parameter, treatments T3 and T4 stood out better than the others. Therefore, treatments with mechanical scarification and immersion in water proved to be the best method for overcoming dormancy.
Keywords: Germination. Impermeability of the integument. Scarification.
1. INTRODUÇÃO
A espécie Adenanthera paginona L. pertence à família botânica Fabaceae e é conhecida popularmente como tento-carolina ou falso pau-brasil. A árvore, que mede de 15 a 20 metros de altura, possui um crescimento rápido. É uma leguminosa, arbórea, originária da Índia e Malásia e encontrada em diversos estados brasileiros. Sua utilização estende-se a fins ornamentais, arborização de ruas e praças, para sombreamento, artesanato e medicamentos, sendo suas sementes e madeiras utilizadas como fitoterápicos. As inflorescências são formadas em março-abril com pedúnculos longos, axilares ou terminais, com flores amarelas. Os frutos são vagens estreitas, achatadas, marrons, espiraladas quando se abrem, expondo as sementes globosas, achatadas, duras, vermelho-brilhantes (KISSMANN ET AL., 2008).
A dormência das sementes é um mecanismo importante que controla o tempo de germinação, permitindo que as sementes atrasem a germinação até que as condições sejam ótimas para o crescimento e sobrevivência das mudas (BASKIN, 2014). A dormência das sementes é considerada uma adaptação a ambientes agressivos, como os encontrados nas áreas de Cerrado, onde o fogo e os longos períodos de seca ocorrem anualmente.
Segundo Carvalho e Nakagawa (2000), o fenômeno da dormência é tido como um recurso pelo qual a natureza distribui a germinação das sementes no tempo e no espaço, seguindo três tipos de mecanismos: sistema de controle de entrada de água no interior da semente; sistema de controle do desenvolvimento do eixo embrionário e sistema de controle de equilíbrio entre substâncias promotoras e inibidoras do crescimento.Existem vários tratamentos que podem superar essa dormência, como: escarificação, tratamentos com ácidos e bases fortes, imersão em água quente ou fria, água oxigenada, álcool, desponte (corte do tegumento), impactos sobre superfície sólida, e outros (BRASIL, 1992; MARTINS et al., 1992; FOWLER e BIANCHETTI, 2000). A impermeabilidade do tegumento pode ser superada escarificando as sementes com ácido sulfúrico, solventes orgânicos como álcool, acetona ou éter, ou escarificação mecânica (BRUNO et al., 2001; JELLER e PEREZ, 1999; SCALON; MUSSURY e SCALON FILHO, 2003).
Sementes dormentes não germinam logo após a colheita devido a mecanismos internos, de natureza física ou fisiológica, que bloqueiam a germinação, por período de tempo variável com o genótipo, com o estádio de maturação do fruto e com as condições de ambiente durante a maturação, dentre outros fatores (BASKIN e BASKIN, 1998; CARDOSO, 2004). Para o silvicultor, que é profissional que se dedica ao cultivo e manejo de florestas com o objetivo de preservar gerir e garantir a sustentabilidade dos ecossistemas, a dormência é considerada uma característica positiva, mantendo as sementes viáveis por longos períodos, ou negativa, como empecilho à germinação, impedindo-a ou tornando-a irregular e, como consequência, dificultando a produção de mudas por via sexuada (FLORIANO, 2004).
Em consequência da grande heterogeneidade de espécies exóticas e nativas, seus usos múltiplos e suas adaptabilidades, algumas espécies como a Adenantherapavonina L., necessitam de informações que permitam a avaliação fisiológica da qualidade das sementes, pois possuem ampla utilização. Assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar métodos de superação da dormência de sementes da espécie Adenantherapavonina L.
2. MATERIAL E MÉTODOS
As sementes utilizadas nos ensaios foram colhidas de três árvores distintas de Tento Carolina Adenantherapavonina L., localizada em Palmeiras de Goiás, GO. Após a colheita, realizada em agosto de 2023, as sementes foram acondicionadas em um saco plástico até a definição dos métodos para a quebra da dormência. Visando avaliar a germinação e o desenvolvimento das plântulas de Tento Carolina, foram realizados quatro métodos distintos para a quebra de dormência das sementes. As sementes foram separadas em quatro grupos contendo 25 sementes cada, os quais foram submetidos aos tratamentos:
T1: testemunha;
T2: ácido sulfúrico por 30 minutos;
T3: escarificação mecânica com lixa;
T4: imersão em água por 60 minutos.
Depois de realizados os métodos de quebra de dormência, as sementes foram semeadas em sacos plásticos com areia e cada uma com um respectivo tratamento.Os tratamentos foram irrigados todos os dias com auxílio de um borrifador de água.As leituras da germinação foram feitas diariamente na parte da manhã por volta de 09:00 horas.
O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado composto por quatro tratamentos e 25 repetições (sementes) sendo os dados de porcentagem de germinação avaliados por uma análise de variância (ANOVA) e as médias submetidas ao teste Tukey a 5% de significância.
Calculou-se a porcentagem de germinação com a fórmula descrita por Brasil, (2009).
G% = (SG).100/TS onde:
G%= percentual de germinação
SG= número de sementes germinadas
TS= número total de sementes
O índice de velocidade de germinação de plântulas foi conduzido em conjunto com o teste de germinação, anotando-se diariamente, o número de sementes que emitiram a raiz primária. Ao final do teste, com os dados diários do número de raiz primárias emersas, foi calculado o IVG empregando-se a fórmula proposta por Maguire (1962):
IVG = G1/N1 + G2/N2 + … + Gn/Nn onde:
IVG = índice de velocidade de germinação;
G1, G2, Gn = número de plântulas emersas computadas na primeira, na segunda e na última avaliação, respectivamente;
N1, N2, Nn = número de dias da semeadura à primeira, segunda e última avaliação, respectivamente
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Tratamento 3, pelo teste de Tukey, observou a maior germinação nas sementes, tratadas por meio da escarificação mecânica com lixa, sendo que 19 sementes germinaram, representando um total de 76% de germinação. As sementes de Tento-Carolina imersas em ácido sulfúrico por 30 minutos (T2), escarificação com lixa (T3) e imersão em água (T4), foram as que apresentaram maiores valores de germinação (79%, 78% e 76% respectivamente), não apresentando diferenças significativas estatisticamente entre si (Figura 1).
Já para o IVG, a escarificação com lixa (T3) foi o que apresentou a maior média dentre os tratamentos (Tabela 1).De acordo com os resultados, observou que houve diferença significativa na velocidade de germinação entre os tratamentos. Contudo, a escarificação aumentou a velocidade de germinação em relação a outros tratamentos. A testemunha, sem nenhum tratamento, não foi eficiente em superar a dormência dessa espécie. O tratamento que apresentou a pior média para todas as variáveis analisadas foi a testemunha (T1).
TABELA 1 – Comparação das médias dos métodos de superação de dormência de Adenantherapavonina L. Onde: G (%) e IVG.
*G% = Porcentagem de germinação; IVG = Índice de velocidade de germinação.
Segundo Lopes et al. (2004), o funcionamento das atividades fisiológicas da germinação é dependente da capacidade de embebição da semente, devido a água ser um fator limitante no processo germinativo.Para pequenos viveiristas trata-se de um bom resultado, pois a escarificação mecânica com lixa é um método simples, de baixo custo e seguro para promover a germinação de sementes de A. pavonina.
4. CONCLUSÃO
Algumas sementes necessitam de técnicas de quebra de dormência. Com isso a escarificação com lixa e a imersão em água com 60 minutos se mostrou mais eficiente para promover a germinação das sementes. O tratamento trêsse mostrou mais eficiente para a quebra de dormência da espécie estudada, que resultou em maior germinação e em menor tempo, sendo assim o mais indicado.
Referências
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1Graduando em Engenharia Agronômica – Centro Universitário Brasília de Goiás – São Luís de Montes Belos – GO. Brasil.hiarlasouza.6@gmail.com
2Docente do curso de Engenharia Agronômica – Doutora em Agronomia – Centro Universitário Brasília de Goiás – São Luís de Montes Belos – GO. Brasil. Brenda.souza@brasiliaeducacional.com