A IMPORTÂNCIA DA ENTREVISTA PSICOLÓGICA NA CLÍNICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411291121


Hytalo Mangela de Sousa Faria¹
Tercilenes Batista de Melo²
Rosenilton Aires de Albuquerque³


Resumo

O estudo explora a importância da entrevista psicológica nos casos clínicos, destacando-a como ferramenta essencial na prática do psicólogo. Por meio de pesquisa qualitativa e bibliográfica, analisa os tipos de entrevista, suas aplicações e os princípios éticos que as orientam, como confidencialidade, autonomia e transparência, conforme o Código de Ética do Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2022). As entrevistas inicial e devolutiva são fundamentais para o vínculo terapêutico e a comunicação de resultados, enquanto a observação complementa a análise do comportamento humano. A pesquisa enfatiza que a entrevista vai além da coleta de dados, promovendo o entendimento da subjetividade do paciente e intervenções humanizadas. Os resultados apontam que essa prática exige habilidades técnicas e interpessoais, integrando elementos subjetivos e objetivos no contexto clínico. Conclui-se que a entrevista é indispensável para avaliação, diagnóstico e construção de relações terapêuticas éticas, contribuindo para as práticas clínicas e o cuidado psicológico.

Palavras-Chave: Entrevista Psicológica, Avaliação Psicológica, Ética Profissional

Abstract

The study explores the importance of the psychological interview in clinical cases, highlighting it as an essential tool in the psychologist’s practice. Through qualitative and bibliographic research, it analyzes the types of interviews, their applications, and the ethical principles that guide them, such as confidentiality, autonomy, and transparency, in line with the Code of Ethics of the Federal Council of Psychology (CFP, 2022). The initial and feedback interviews are fundamental for building the therapeutic bond and communicating results, while observation complements the analysis of human behavior. The research emphasizes that the interview goes beyond data collection, promoting an understanding of the patient’s subjectivity and enabling more humanized interventions. The findings indicate that this practice requires technical and interpersonal skills, integrating subjective and objective elements in the clinical context. It concludes that the interview is indispensable for assessment, diagnosis, and the construction of ethical therapeutic relationships, contributing significantly to clinical practices and psychological care.

Keywords: Psychological Interview, Psychological Assessment, Professional Ethics.

Introdução

A entrevista psicológica ocupa um lugar central na prática clínica, sendo uma ferramenta essencial para compreender o indivíduo em sua totalidade. Segundo Trindade e Cerveny (2020), a entrevista psicológica não se limita à coleta de informações; ela representa um espaço de interação em que se estabelece uma relação de confiança e acolhimento entre o profissional e o paciente. Essa relação é crucial para acessar aspectos subjetivos da vivência humana, que muitas vezes não podem ser obtidos por métodos padronizados ou exclusivamente quantitativos.

Além disso, Noronha e Tavares (2021) destacam que a entrevista psicológica é um método flexível, permitindo sua adaptação a diferentes contextos e abordagens clínicas. Em situações de avaliação diagnóstica, por exemplo, ela auxilia no levantamento de informações relevantes sobre a história de vida do paciente, fatores desencadeantes de sofrimento e recursos emocionais disponíveis. Já no acompanhamento terapêutico, a entrevista funciona como um recurso para monitorar progressos e ajustar intervenções.

A literatura ainda ressalta que a eficácia da entrevista psicológica depende de variáveis como a capacidade do entrevistador de estabelecer empatia, aplicar técnicas adequadas e respeitar os limites éticos da profissão (Trindade & Cerveny, 2020). Além disso, ela é vista como um processo dinâmico, em que o profissional precisa considerar não apenas o conteúdo verbalizado pelo paciente, mas também os aspectos não verbais e contextuais que emergem durante o encontro.

Portanto, a presente pesquisa pretendeu analisar a importância da entrevista psicológica nos casos clínicos, destacando sua contribuição na compreensão integral do paciente e na construção de intervenções terapêuticas eficazes. Para isso, serão discutidos seus fundamentos teóricos, aplicações práticas e desafios éticos, com base em uma revisão da literatura contemporânea.

Entrevista Psicológica

A entrevista psicológica é definida como uma técnica de investigação e intervenção amplamente utilizada na prática psicológica, caracterizada pela interação entre entrevistador e entrevistado, com objetivos previamente delimitados. De acordo com Trindade e Cerveny (2020), trata-se de um processo estruturado que visa acessar informações sobre a história de vida, comportamento e condições emocionais do indivíduo, criando um espaço de compreensão e análise.

Esse método possui uma natureza dinâmica, variando conforme o propósito e o contexto em que é aplicado. Noronha e Tavares (2021) apontam que a entrevista psicológica pode ser empregada em diversas áreas da psicologia, incluindo a clínica, a organizacional, a educacional e a jurídica, entre outras. No âmbito clínico, ela desempenha um papel fundamental na avaliação inicial, servindo como base para o diagnóstico e a formulação de planos de intervenção.

Além disso, a entrevista psicológica também é aplicada durante o acompanhamento terapêutico, como ferramenta para monitorar progressos e identificar mudanças no estado emocional do paciente. Segundo Trindade e Cerveny (2020), o entrevistador deve estar atento não apenas às respostas verbais, mas também aos elementos não verbais, como expressões faciais, gestos e tom de voz, que muitas vezes revelam aspectos inconscientes ou difíceis de verbalizar.

No contexto da psicologia organizacional, a entrevista psicológica pode ser utilizada em processos de seleção e recrutamento, enquanto na psicologia educacional, ela auxilia no entendimento das dificuldades de aprendizagem e no planejamento de estratégias pedagógicas individualizadas (Noronha & Tavares, 2021). Já na psicologia jurídica, a entrevista psicológica desempenha papel crucial na compreensão das dinâmicas familiares e emocionais em processos jurídicos, como adoções, separações e casos de violência, conforme discutido por Frade (2008).

Conforme Bock, Furtado e Teixeira (2021), “a entrevista psicológica não é apenas uma técnica de coleta de dados, mas uma ferramenta que possibilita o encontro humano, onde o profissional deve ser sensível às particularidades do indivíduo e ao contexto em que está inserido”. Esse ponto de vista reforça a necessidade de que o psicólogo adote uma postura empática e ética, visando promover um ambiente de acolhimento e confiança durante a entrevista.

Ainda nesse sentido, Cavalcante (2019) destaca que “o sucesso da entrevista psicológica depende diretamente da habilidade do profissional em criar uma relação dialógica, onde o entrevistado se sinta à vontade para compartilhar informações relevantes”. Essa competência é essencial para garantir que a entrevista seja um processo produtivo e eficaz, independentemente do campo de aplicação.

Em todos os contextos, o sucesso da entrevista psicológica depende de habilidades interpessoais e técnicas do psicólogo, que deve estabelecer um ambiente de confiança e acolhimento, respeitando os princípios éticos da profissão. Como ressaltam Trindade e Cerveny (2020), a entrevista não é apenas um instrumento de coleta de dados, mas também um processo que promove a reflexão e o autoconhecimento do entrevistado, contribuindo para o desenvolvimento de intervenções eficazes e centradas na pessoa.

Tipos de Entrevista Psicológica

A entrevista psicológica é uma ferramenta versátil que se adapta a diferentes objetivos e contextos da prática profissional. Conforme Trindade e Cerveny (2020), ela pode ser classificada em diversos tipos, dependendo da estrutura, do propósito e da abordagem utilizada pelo psicólogo. A seguir, são apresentados os principais tipos de entrevista psicológica;

  • Entrevista Estruturada

A entrevista estruturada segue um roteiro previamente elaborado, com perguntas específicas e padronizadas. Esse formato é especialmente útil em contextos onde a uniformidade das informações é essencial, como em pesquisas científicas ou processos seletivos. Noronha e Tavares (2021) destacam que a padronização permite uma comparação mais objetiva entre diferentes entrevistados, reduzindo a influência de vieses do entrevistador.

  • Entrevista Semiestruturada

A entrevista semiestruturada combina perguntas previamente planejadas com espaço para respostas livres e a inclusão de questões adicionais conforme o fluxo da conversa. Segundo Trindade e Cerveny (2020), essa modalidade é amplamente utilizada na prática clínica, pois equilibra a coleta de informações específicas com a flexibilidade para explorar aspectos emergentes da narrativa do paciente.

  • Entrevista Não Estruturada

A entrevista não estruturada caracteriza-se pela ausência de um roteiro fixo, permitindo que o entrevistador conduza a conversa de maneira espontânea. Embora seja mais difícil de sistematizar, Noronha e Tavares (2021) apontam que esse formato é ideal para compreender as subjetividades do paciente e explorar temas que surgem naturalmente no diálogo, sendo comum em abordagens psicanalíticas e humanistas.

  • Entrevista Inicial ou Anamnese

Esse tipo de entrevista tem como objetivo principal conhecer a história de vida do paciente, abrangendo aspectos pessoais, familiares, escolares, profissionais e de saúde. Trindade e Cerveny (2020) ressaltam que a anamnese é essencial para estabelecer o contexto das queixas apresentadas, funcionando como a base para o diagnóstico e o planejamento terapêutico.

  • Entrevista Diagnóstica

Voltada para a identificação de transtornos ou dificuldades psicológicas, a entrevista diagnóstica segue critérios específicos, frequentemente associados a manuais como o DSM-5 ou a CID-11. Noronha e Tavares (2021) observam que essa modalidade requer habilidades técnicas e uma abordagem ética, garantindo que o paciente seja tratado com respeito e sensibilidade durante o processo.

  • Entrevista de Devolutiva

Essa entrevista ocorre ao final de um processo avaliativo e tem como objetivo apresentar ao paciente os resultados obtidos e discutir as implicações das conclusões alcançadas. De acordo com Trindade e Cerveny (2020), a devolutiva deve ser conduzida de forma clara e empática, promovendo o entendimento e a aceitação das informações compartilhadas.

  • Entrevista de Acompanhamento

Realizada ao longo de um processo terapêutico, essa entrevista visa monitorar o progresso do paciente e ajustar intervenções conforme necessário. Noronha e Tavares (2021) destacam que ela é especialmente importante para avaliar a eficácia das estratégias terapêuticas implementadas.

Os diferentes tipos de entrevista psicológica refletem a diversidade de objetivos e demandas da prática profissional. Independentemente do formato adotado, a habilidade do entrevistador em estabelecer um vínculo terapêutico, conduzir a conversa de forma ética e adaptar-se às necessidades do entrevistado é fundamental para o sucesso do processo.

Aspectos Éticos da Entrevista Psicológica na Clínica

A prática da entrevista psicológica na clínica está intrinsecamente ligada a questões éticas que orientam a conduta profissional e garantem o respeito aos direitos e à dignidade do paciente. De acordo com Trindade e Cerveny (2020), os aspectos éticos não apenas sustentam a relação de confiança entre psicólogo e paciente, mas também protegem ambos contra potenciais conflitos ou prejuízos decorrentes da prática clínica inadequada.

Entre os princípios éticos fundamentais aplicáveis à entrevista psicológica, destacam-se:

  • Confidencialidade

A confidencialidade é um dos pilares da prática psicológica e se aplica a todo o conteúdo compartilhado durante a entrevista. Noronha e Tavares (2021) destacam que o psicólogo deve garantir que as informações obtidas sejam utilizadas apenas para os fins acordados e protegidos contra acessos não autorizados. Em situações específicas, como risco iminente à vida ou demanda judicial, a quebra de confidencialidade pode ser necessária, mas deve ser conduzida com cautela e sempre fundamentada em orientações éticas e legais. Segundo Mezzalira (2018), “a confidencialidade é indispensável para a construção de um vínculo de confiança entre o paciente e o psicólogo, funcionando como base para a interação clínica e para a proteção da privacidade”.

  • Consentimento Informado

Antes de iniciar qualquer procedimento, é essencial obter o consentimento informado do paciente. Esse processo implica explicar, de maneira clara e acessível, os objetivos da entrevista, os métodos utilizados, a destinação das informações coletadas e os limites da confidencialidade (Trindade & Cerveny, 2020). O consentimento deve ser documentado e renovado caso as condições ou os objetivos do trabalho sejam alterados. Cavalcante (2019) reforça que o consentimento informado também promove a autonomia do paciente, permitindo-lhe compreender e controlar o processo terapêutico ao qual está sendo submetido.

  • Respeito à Autonomia do Paciente

A entrevista psicológica deve ser conduzida de forma a respeitar a autonomia do paciente, permitindo que ele participe ativamente do processo e tome decisões informadas sobre o que deseja compartilhar. Noronha e Tavares (2021) ressaltam que o entrevistador deve evitar posturas impositivas ou invasivas, promovendo um ambiente acolhedor e seguro para a expressão genuína do paciente.

  • Neutralidade e Não-Julgamento

O psicólogo deve manter uma postura ética de neutralidade, evitando julgamentos que possam interferir na relação terapêutica. Como apontam Trindade e Cerveny (2020), essa atitude é essencial para criar um espaço de confiança e respeito mútuo, permitindo que o paciente se sinta livre para abordar temas sensíveis ou potencialmente estigmatizados. Também conforme Bock, Furtado e Teixeira (2021), a neutralidade do psicólogo é fundamental para que o paciente perceba o ambiente clínico como um espaço acolhedor e não ameaçador, favorecendo a abertura e a honestidade no relato.

  • Competência Profissional

A entrevista psicológica exige habilidades técnicas e interpessoais que só podem ser desenvolvidas por meio de formação contínua e supervisão profissional. Segundo Noronha e Tavares (2021), o psicólogo tem o dever ético de atuar dentro dos limites de sua competência, evitando práticas para as quais não esteja devidamente qualificado. Além disso, Mezzalira (2018) destaca que “a competência do psicólogo reflete diretamente na qualidade do processo terapêutico, exigindo um compromisso com o aprendizado constante e com a ética profissional”.

  • Cuidado com Relações de Poder

O ambiente clínico pode gerar assimetrias de poder, e cabe ao psicólogo minimizar esses efeitos por meio de uma abordagem empática e colaborativa. Trindade e Cerveny (2020) enfatizam que o psicólogo deve estar atento ao uso de linguagem acessível e evitar comportamentos que reforcem a hierarquia entre entrevistador e paciente.

A observância dos aspectos éticos na entrevista psicológica não apenas preserva a integridade da prática clínica, mas também contribui para a eficácia do processo terapêutico. Ao priorizar princípios como confidencialidade, consentimento informado e neutralidade, o psicólogo cria um espaço seguro que favorece o autoconhecimento e o enfrentamento das questões trazidas pelo paciente.

O Papel da Entrevista na Avaliação Psicológica na Clínica

A avaliação psicológica na clínica é um processo complexo e multidimensional, que visa compreender o funcionamento psicológico do indivíduo em seus diferentes aspectos. Nesse contexto, a entrevista e a observação destacam-se como ferramentas fundamentais para acessar informações qualitativas e subjetivas, que complementam outros instrumentos avaliativos.

A entrevista psicológica é uma das primeiras etapas da avaliação clínica e desempenha um papel central na coleta de dados. Conforme Trindade e Cerveny (2020), ela proporciona ao psicólogo a oportunidade de explorar a história de vida, as queixas apresentadas e os aspectos emocionais do paciente. Além disso, a entrevista cria um espaço para o estabelecimento de uma aliança terapêutica, essencial para o engajamento do paciente no processo avaliativo e terapêutico.

Noronha e Tavares (2021) destacam que, durante a entrevista, o psicólogo pode aplicar diferentes tipos de perguntas — abertas, fechadas, exploratórias — para obter informações que vão desde detalhes objetivos, como eventos específicos, até aspectos mais subjetivos, como percepções e sentimentos. A flexibilidade desse método permite que ele seja ajustado às necessidades do paciente, sendo útil tanto para a triagem inicial quanto para o acompanhamento de intervenções.

De acordo com Cavalcante (2019), a entrevista não apenas coleta informações, mas também cria um espaço para reflexões compartilhadas entre o paciente e o psicólogo. Esse processo ajuda a identificar aspectos latentes da narrativa do paciente, fornecendo uma visão integrada e mais profunda sobre suas condições emocionais e psicológicas.

Além de ser uma fonte rica de dados qualitativos, a entrevista psicológica promove um espaço para o estabelecimento do rapport, essencial para a formação de um vínculo terapêutico. Esse vínculo não apenas facilita o acesso a informações mais detalhadas e genuínas, mas também contribui para a adesão do cliente ao processo terapêutico, ampliando as possibilidades de intervenções eficazes (Straub, 2005; Baum & Posluszny, 1999). 

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2021), a entrevista desempenha um papel integrador, funcionando como uma ponte entre diferentes ferramentas e técnicas da avaliação psicológica. Por meio dela, é possível contextualizar os resultados obtidos em testes psicológicos, alinhando-os às experiências e narrativas do paciente. 

Além disso, a entrevista permite identificar elementos subjetivos, como motivações, crenças, expectativas e emoções, que frequentemente não são captados por instrumentos padronizados (RSD Journal, 2021; APA, 2005).

No contexto clínico, sua aplicação é ampla, abrangendo desde o diagnóstico de transtornos psicológicos até a avaliação de estados emocionais, habilidades sociais e recursos de enfrentamento. Essa abrangência reforça sua importância como um componente essencial da prática clínica e da construção de intervenções baseadas em evidências (SciELO, 2021). 

Conforme Anastasi e Urbina (2000), “a entrevista clínica é uma ferramenta indispensável, pois permite ao psicólogo correlacionar os dados quantitativos obtidos por meio de testes com os dados qualitativos derivados da interação direta com o paciente”.

Portanto, a entrevista psicológica é uma ferramenta multifacetada, indispensável para a compreensão do cliente em sua totalidade, permitindo não apenas a coleta de dados relevantes, mas também a construção de um ambiente seguro e acolhedor para o desenvolvimento do processo terapêutico.

Resultado e Discussões

A entrevista psicológica emerge como um dos pilares fundamentais na prática clínica, desempenhando um papel indispensável na avaliação e no diagnóstico psicológico. Sua relevância transcende a coleta de dados, abrangendo aspectos como o estabelecimento do vínculo terapêutico, a identificação de comportamentos, crenças e emoções, e a contextualização dos achados obtidos por outros instrumentos de avaliação psicológica (Minayo, 2022; Bardin, 2016).

No contexto da avaliação psicológica, a entrevista oferece uma abordagem flexível que se adapta às especificidades de cada caso clínico. Ela não apenas complementa os dados quantitativos obtidos em testes padronizados, mas também possibilita a identificação de elementos subjetivos e emocionais que muitas vezes passam despercebidos em outras ferramentas (Flick, 2021). Segundo Bardin (2016), a entrevista permite ao profissional acessar a subjetividade do paciente, construindo uma compreensão mais ampla e profunda do indivíduo.

A metodologia qualitativa, utilizada neste estudo para embasar as reflexões, reforça a relevância de explorar as experiências vividas e os significados atribuídos pelos pacientes e profissionais às práticas clínicas. De acordo com Gil (2020), o método qualitativo é essencial para investigações que demandam interpretações complexas, como as envolvidas na análise das interações humanas e das práticas terapêuticas. Além disso, a pesquisa bibliográfica possibilitou a identificação de uma base teórica sólida e atualizada, destacando diferentes perspectivas sobre a entrevista psicológica, suas aplicações e implicações éticas (Giorgi, 2021; Minayo, 2022).

A análise das práticas e dos tipos de entrevista psicológica evidenciou que cada modalidade possui suas peculiaridades e aplicações específicas. A entrevista inicial, por exemplo, se destaca por estabelecer o vínculo inicial e direcionar o processo terapêutico, enquanto a entrevista de devolução desempenha um papel crucial na integração dos achados e na condução do paciente para a próxima etapa do tratamento (Bordin, 2021).

Do ponto de vista ético, a entrevista psicológica exige um cuidado rigoroso por parte do profissional. É fundamental garantir a confidencialidade, o respeito à autonomia do paciente e a transparência em relação ao propósito e ao uso das informações coletadas. O Código de Ética do Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2022) fornece as diretrizes para o manejo ético da entrevista, reforçando a importância da empatia e do respeito na relação terapêutica.

O estudo também destacou o papel integrador da entrevista na avaliação psicológica, unindo elementos subjetivos e objetivos em um contexto clínico. Straub (2005) argumenta que essa integração é fundamental para compreender as relações entre fatores psicológicos e físicos no bem-estar do indivíduo, uma perspectiva que se alinha às abordagens contemporâneas da psicologia clínica e da saúde.

Por fim, a análise qualitativa dos dados coletados permitiu identificar a importância de uma abordagem sistemática e reflexiva na condução da entrevista psicológica. Como aponta Flick (2021), a análise qualitativa não apenas organiza os dados em categorias significativas, mas também promove uma interpretação profunda e fundamentada das práticas psicológicas, ampliando o entendimento sobre a relevância da entrevista no contexto clínico.

Considerações Finais

A presente pesquisa evidenciou que a entrevista psicológica é uma ferramenta central na prática clínica, desempenhando funções que vão além da coleta de informações. Por meio dela, o psicólogo estabelece um vínculo inicial, compreende as nuances subjetivas do paciente e articula dados qualitativos e quantitativos para a formulação de hipóteses diagnósticas e intervenções terapêuticas. Sua aplicação requer não apenas competência técnica, mas também habilidades interpessoais e éticas que sustentem a prática responsável e eficaz.

No contexto clínico, a entrevista psicológica demonstra sua versatilidade ao integrar diferentes abordagens e demandas, sendo essencial tanto na construção de um diagnóstico preciso quanto no acompanhamento terapêutico. As modalidades de entrevista, como inicial, devolutiva ou de acompanhamento, se complementam e atendem a diferentes etapas do processo clínico, reforçando sua importância como um recurso multifacetado (Bardin, 2016; Bordin, 2021).

A pesquisa bibliográfica também destacou os aspectos éticos e técnicos que norteiam a condução da entrevista psicológica. A ética, fundamentada no Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2022), exige atenção especial à confidencialidade, ao respeito à autonomia do paciente e ao manejo adequado das informações coletadas. Tais princípios são indispensáveis para a construção de uma relação terapêutica sólida e para a proteção dos direitos do paciente.

Ademais, a abordagem qualitativa revelou-se adequada para explorar a complexidade do papel da entrevista psicológica no contexto clínico, permitindo uma análise aprofundada das práticas e significados associados a esse instrumento. A integração entre as perspectivas teóricas e práticas identificadas na literatura demonstra que a entrevista psicológica é indispensável na avaliação clínica, promovendo uma compreensão holística do indivíduo e facilitando intervenções baseadas em evidências (Flick, 2021; Giorgi, 2021).

Este estudo contribui para a reflexão sobre a prática psicológica, enfatizando a importância da entrevista como recurso essencial na avaliação clínica. Contudo, reconhece-se a necessidade de pesquisas futuras que explorem mais detalhadamente as experiências dos profissionais na condução das entrevistas e as possíveis adaptações em contextos culturais e clínicos específicos.

Assim, conclui-se que a entrevista psicológica é um instrumento insubstituível na prática clínica, representando não apenas uma técnica, mas um processo complexo e ético que sustenta o trabalho do psicólogo no cuidado à saúde mental.

Referências

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1Especialista em Saúde Mental, Professor de Psicologia-Uninassau Palmas. E-mail: 011210812@prof.uninassau.edu.br
2Estudante de Psicologia – Uninassau –Palmas. E-mail: tercilenes@gmail.com
3Estudante de Psicologia – Uninassau –Palmas. E-mail: rosenilton.aires@gmail.com