HISTÓRIA E MEMÓRIA DA COLÔNIA ALEXANDRA: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL PARA O LITORAL DO PARANÁ

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411251644


Juliana Gomes Nunes; Prof.ª Orientadora: Erica Piovam de Ulhôa Cintra


Resumo

O presente artigo de pesquisa em história da educação, vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas Histedice, procura debruçar-se sobre a vicejante história da Colônia Alessandra, hoje bairro Alexandra de Paranaguá e apresentar uma proposta de educação patrimonial que coopere para a construção da memória e manutenção da história desse patrimônio cultural um tanto obliterado do litoral do Paraná. São poucos os que conhecem a importância da “Colônia Alessandra” antes da ligação rodoviária da capital com o porto de Paranaguá. História desconhecida até mesmo para os que moram em Paranaguá, a 15 km de distância. Compreender essa história, bem como o potencial turístico que ali existe, como região de acesso, em solo, aos município de Morretes e de Antonina, e pelo mar, via presença do antigo “Portinho”, ao conjunto aquífero da região, e mesmo, reconhecer outras expressões culturais locais ali ainda existentes, como a Estação Ferroviária marco central do vilarejo, é o esforço da presente investigação que vislumbra a defesa de um projeto de educação patrimonial para o litoral paranaense. Para isso, investimos em uma ampla pesquisa sob referenciais bibliográficos diversos, fotos antigas, reportagens de jornais, arquivos digitais de acervos particulares e memórias de habitantes para montar essa peculiar história e os caminhos possíveis de torná-la ponto histórico, turístico e de permanente educação da memória de um povo e lugar. Nesse sentido, o presente texto encontra-se assim encaminhado: na primeira parte, trata de um breve histórico da origem da Colônia Alessandra, depois Alexandra; na segunda parte, os desafio educativos de Alexandra; e, na terceira parte, a proposta de educação patrimonial de Alexandra para o litoral paranaense.

Palavras-chave: Educação Patrimonial, História e Memória, Educação, Identidade.

1. A origem da Colônia Alexandra

Figura 1. Estação de trem de Alexandra, litoral do PR. Foto: s/inf.

Fonte: Arq.digital Prof.Wistuba[online], 2024.

A antiga “Colônia de Alessandra”, criada em 1871, e situada a 16 quilômetros do marco zero da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, é denominada hoje de Alexandra, e considerada um bairro pertencente ao município de Paranaguá, região portuária no litoral do Paraná.

Com 8 mil habitantes, e contrando a maior parte da atividade agrícola de Paranaguá no cultivo da mandioca e da banana, possui um contexto histórico diferenciado ao que se refere à sua ocupação. É comprovado espaço de trânsito humano desde os longínquos períodos pré-históricos haja visto os inúmeros sambaquis existentes na região, como o Sambaqui do Macedo, objeto de pesquisa da Universidade Federal do Paraná, citado no livro intitulado “História de Paranaguá”, do professor Waldomiro Ferreira de Freitas:

(…) Localizado a 520m a noroeste do distrito de Alexandra, município de Paranaguá – PR (…) O sítio tem forma de colina e foi datado entre 3.700 e 1.660 a.C.. (FREITAS, 1999, p 36)

A Colônia passou oficialmente a existir quando se tornou espaço para implantação de uma colônia agrícola para imigrantes italianos. Assim como as demais colônias criadas no Paraná para abrigar a imigração européia no período “do sonho americano”, Alexandra também foi uma das primeiras experiências relacionadas à imigração de italianos no Paraná. (MACHADO, 2024, p.24):

O Reino de Itália passava por guerras pela Unificação Italiana. Com o fim destas guerras, a economia italiana se encontrava debilitada, com altas taxas de crescimento demográfico e de desemprego. Os Estados Unidos passaram a criar barreiras para a entrada de estrangeiros. Tais fatores levaram, a partir de 1870, ao início da maciça imigração de italianos para o Brasil. (…) A imigração italiana para o Brasil tornou-se significativa a partir da década de 1870 e transformou-se num fenômeno de massa entre 1887 e 1902, influenciando decisivamente no aumento da população do Brasil. Entre 1880 e 1924, entraram no Brasil mais de 3,6 milhões de imigrantes, dos quais 38% eram italianos. Considerando-se a faixa de tempo entre 1880 e 1904, os italianos representam 57,4% dos imigrantes.

A então Colônia passou à responsabilidade do sr. Savino Tripoti, conforme cita Jussara Nena Cavanha, em seu livro intitulado “Colônia Alessandra”:

A Colônia Alessandra pertenceu a Savino Tripoti de 7 de junho de 1871, data da assinatura do contrato com o governo imperial para a implantação de uma colônia agrícola particular, até treze de abril de 1877, quando o decreto assinado pela princesa imperial regente rescindiu o contrato acarretando o encerramento das atividades da colônia. (CAVANHA, 2012, p 39).

A Colônia não progrediu como se esperava, pois vários fatores levaram à maioria dos imigrantes buscar outros locais de ocupação, desde o clima quente e úmido do litoral, as dificuldades de plantar no terreno até doenças transmitidas por insetos então desconhecidos dos europeus. Contudo algumas famílias permanecem na região que passa a se chamar Alexandra – inicialmente a denominação Alessandra foi em homenagem à irmã do sr. Savino.

A localidade é cortada pela histórica Estrada de Ferro Curitiba -Paranaguá, de 110 km, construída entre os anos de 1880 e 1885 e em relatos mais recentes em jornais mostra a vinculação da colônia com a construção da ferrovia.

“O distrito nasceu em virtude da construção da ferrovia Curitiba-Paranaguá, entre 1880 e 1885. Era uma colônia eminentemente de italianos que surgiu pela necessidade da ferrovia, e é considerada a primeira colônia italiana do Paraná. O cemitério, por exemplo, foi muito usado para enterrar aqueles ferroviários que morriam, muitos de malária, de picadas de cobra, até porque estavam desbravando uma mata virgem. O distrito tem uma importância histórica no contexto da construção desta linha ferroviária.” (Kallil Assad in: JBLitoral, 2022). 

No quilômetro 16 foi erguida uma estação: a Estação Ferroviária de Alexandra, inaugurada em 17 de novembro de 1883.

O tráfego regular do trecho Paranaguá – Morretes foi inaugurado no dia 17 de novembro de 1883, dia de festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário do Rocio (…). Durante os dias de festa foram vendidas 4.400 passagens. (FREITAS, 1999, p. 328–329).

A estação, localizada bem no centro comercial da entrada de Alexandra, conserva ainda hoje as características originais. Atualmente, o edifício encontra-se desativado e sem manutenção, resiste como símbolo monumental da comunidade.

Figura 2 – A preservada Estação Ferroviária de Alexandra.

Foto: s/inf. Fonte: JBLitoral [online], 2022.

Diversas atividades econômicas já foram desenvolvidas na região, desde a produção de tijolos e artefatos para construção em argila, eternizados nas ruínas de suas chaminés até uma pedreira desativada desde a conclusão das obras que originaram a BR-277 no trecho Curitiba-Paranaguá.

Figura 3 – Vista aérea de Paranaguá, em 1932.

Foto: Jorge Kfuri. Fonte: Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha [online], 2019.

A localidade também conta com pequenas propriedades rurais, e uma comunidade de pescadores artesanais. Deste complexo social ainda derivam espaços como a Igreja erguida nos anos trinta, a escola erguida nos anos 1950 e até mesmo a bicicletaria que funciona há 60 anos numa casa em madeira de 1980, onde o dono já passado dos 70 e ali trabalhou desde a inauguração até seu falecimento recente.

2. Desafios educativos de Alexandra, ontem e hoje

A educação formal em Alexandra tem um histórico desafiador, o primeiro registro encontrado sobre a construção de uma escola está em um relatório produzido pelo então proprietário da Colônia Alessandra, o agrimensor Savino Tripoti, datado de 5 de outubro de 1875, remetido ao então Presidente da Província do Paraná e reproduzido na obra de Jussara Nena Cavanha, preservada a grafia original:

Não é de esperar que um importante núcleo de colonos, dotado de actividades, de hábito ão trabalho e ambição de bem-estar, possa fixar-se estavelmente, em um lugar, se este não appresenta as proporções precizas para verificar aquella actividade, remunerar aquele trabalho febril, adquerir aquelle tão ambicionado bem-estar, e por fim offerecer aquelles gozos e satisfações morães que a civilização rende agora endispensaveis, mesmo a vida solitária do labrador: entendo falhar das vias de communicações e dos edifícios para a instrução, o culto e a saúde pública.(CAVANHA, 2012, p.88).

No mesmo relatório queixoso Tripoti ainda especifica um orçamento detalhado do projeto para um espaço escolar:

Uma escola com 20 metros de cumprimento por 8 de largura, divididos em 2 secções com soalho de madeira de lei, com paredes de pedra, cal até dous metros de altura do chão e ripas com barros rebocados com cal, até 3,30 metros do chão com portas, janellas com idrazas, coberto de telhas. (Idem, p.91).

Porém, com a decisão do Ministro dos Negócios, da Agricultura, Comércios e Obras Públicas do Império, sr. Thomaz José Coelho d`Almeida: “restou esclarecido que caberia a Savino Tripoti construir os edifícios necessários aos diversos serviços de utilidade pública(…)”. (Ibid. p 92). Com esta terminativa, a escola acabou por não ser construída.

Mesmo com a desintegração da Colônia Alessandra em 1877, o núcleo populacional manteve-se firme, Segundo Freitas “Com a estrada de rodagem ligando Paranaguá-Morretes e a inauguração da estrada de ferro Paranaguá – Curitiba, em 1885, o distrito de Alexandra conseguiu dilatar as possibilidades econômicas e sobreviver socialmente(…).” (Ibid., p 124). Mas ainda sem registro de um espaço de educação formal.

Somente na primeira metade do século XX encontramos relatos da existência dos chamados “Grupos Escolares”, com turmas multisseriadas em precárias salas de madeira, onde a profissional da educação, além das atribuições como professora, acumulava as funções de secretária e serviços gerais.

Em Alexandra, as salas de aula ficavam no terreno onde recentemente foi inaugurado o Complexo Educacional de Alexandra.

E, apenas em 1950, 74 anos após a solicitação de Savino Tripoti foi construída e inaugurada, pelo governo do Estado do Paraná, uma escola em alvenaria com 6 salas de aula, 2 banheiros e 3 espaços administrativos, onde finalmente a educação formal passa a contemplar esta comunidade. O prédio cedido à prefeitura municipal de Paranaguá desde então viria a receber o nome de Escola Municipal Tiradentes. Como dualidade administrativa desde 2008, é integralmente devolvido à Secretaria Estadual de Educação em 2024 devido à inauguração do Complexo Educacional de Alexandra.

Boa parte dos profissionais da educação que atuavam na região estavam em início de carreira e vinham de fora da comunidade, muitas vezes não davam sequência ao trabalho pedagógico, não compreendiam as complexidades do local e muitas vezes até incentivavam a saída da comunidade. Outros, porém, eram naturais da região e tiveram que superar grandes desafios para adquirir uma formação externa adequada. O fato é que o ambiente formal de educação de Alexandra nunca desenvolveu um trabalho efetivo de educação patrimonial com o objetivo de estabelecer fortes vínculos entre os educandos, a comunidade local, a comunidade externa e o desenvolvimento sustentável trazendo a riqueza cultural centenária da comunidade para o centro do processo. Aliás, uma reclamação até os tempos atuais, em relato a materia jornalistica de comemoração dos 151 anos de Alexandra, um antigo morador, reclama:

“Nosso lugar poderia ser muito melhor se não fôssemos desunidos. Para comemorar esses 151 anos, eu peço que os moradores daqui sejam mais unidos e, assim, com certeza, vamos conquistar muito mais para o nosso bairro. Aquela união que existia na época dos primeiros imigrantes, hoje não vemos mais”. (JBLitoral, 2022 [online])

3 – Proposta de educação patrimonial para o litoral do Paraná

Quais seriam os elementos que despertam no indivíduo o pertencimento ao local de nascimento? Quais as características que levam alguém a desejar pertencer a uma localidade? Como um lugar pode desenvolver ambientes educativos e desenvolver toda uma comunidade? Aqui procuramos apontar caminhos na busca da preservação e compartilhamento de características existentes no bairro de Alexandra, exercício de memória e história local.

Alexandra poderia ser considerada apenas mais um local periférico, fadada ao crescimento urbano desorganizado ou entregue a zona de interesse portuário. Porém, hoje, no alto dos 153 anos da comunidade, o bairro acumula uma construção histórica robusta, elementos de identidade e processos culturais que transformam o espaço em um ambiente muito além do território.

Segundo Dora Dimenstein em sua monografia Educação Patrimonial, Memória e Cidadânia – A Experiência dos Professores de História da Rede Municipal de Jaboatão dos Guararapes:

“Dentro desse processo Edudação Patrimonial deve levar em conta também os territórios como espaços educativos. Nesse sentido, o patrimônio cultural de uma comunidade não se restringe aos seus bens edificados (…), mas se expande para além (…) como um documento vivo, passível de leitura e interpretação por meio de multiplas estratégias educacionais” (DIMENTEIN 2017, P. 19)

No entanto, infelizmente, não existe em Alexandra um projeto contínuo de educação patrimonial, um espaço de memória e uma mobilização com o objetivo de preservar e contar as muitas histórias desta comunidade às futuras gerações. “Embora a legislação brasileira oriente o fomento de ações de respeito e reconhecimento da diversidade cultural do país, essas acontecem de maneira acanhada e isolada”. (DIMENSTEIN, 2017 p. 32) E quem não preserva, ou o que não se preserva, perde – sendo o movimento oposto que propomos.

Um dos pontos mais sensíveis que motivaram o presente trabalho trata exatamente das mudanças que o cotidiano local tem sofrido. Vários elementos do tempo presente, mudanças contemporâneas, acabam com comportamentos, hábitos e atividades que balizaram a identidade de um povo e lugar. Situação abordada por Hobsbawm no livro Sobre História, capítulo O Sentido do Passado:

“Enquanto a mudança rápida em algum lugar do sistema não alterar as instituições e as relações internas de maneira para as quais o passado não forneça nenhuma orientação, as mudanças localizadas podem ocorrer rapidamente.” (1998, p 25).

A urbanização, a ocupação territorial irregular, o êxodo da população economicamente ativa, alterações das atividades econômicas, o conceito de cidade dormitório e o falecimento dos idosos parecem enquadrar a citação acima com a realidade vivida na localidade de Alexandra.

Não se pretende negar as presentes mudanças, ou se levantar uma cruzada contra elas. O objetivo aqui é abrir um debate sobre o quanto essas podem ressignificar comportamentos, símbolos e memórias respeitando a construção histórica local.

Assim:

“Quando os equipamentos culturais exercem sua função social dentro de uma comunidade as pessoas passam a perceber e aceitar que aqueles espaços também lhes pertencem e que podem e deve ser utilizado de varias formas e maneiras, para explorar a capacidade criativa, motivadora e exploradora de conhecer sua história que também é a história daquela localidade” (DIMENSTEIN P. 31 2017)

Para Hobsbawm, “isso implica uma transformação do próprio passado. Ele agora se torna, e deve se tornar, uma máscara para inovação, pois já não expressa a repetição daquilo que ocorreu antes, mas ações que são por definição diferentes das anteriores.” (1998, p. 26). A proposta é levar, através da ação educativa patrimonial, elementos sociais de permanências a grupos sociais que a priori não conhecem seu contexto e significação, visando promover mudanças qualitativas em relação a preservação da história local e traçar um plano para a sua realização. ”A partir de uma proposta pedagógica que envolve quatro etapas progressivas de apreensão concreta de objetos e fenômenos culturais, a saber: Observação, registro, exploração e apropriação” (DIMENSTEIN, 2017 p. 15)

Na prática podemos citar três ações relacionadas com Educação Patrimonial que já foram realizadas em Alexandra: A primeira foi o curso de Educação Patrimonial, oportunizado pela Secretária de Cultura do Municipal de Paranaguá em parceria com a extinta “Casa de Convivência”, ministrato pela professora Rubia Stein no segundo semestre de 2017 e inicio de 2018. O segundo foi a “Caminhada com História”, promovida pela iniciativa Paranaguá Criativa (hoje Instituto ECOE) em 2019, onde se recebeu um grupo de caminhantes e através de um roteiro foi apresentado elementos materiais e imateriais da comunidade. O Terceiro é uma prática pedagógica desenvolvida pelo professor de História Hermes Goldenstein Junior do Colégio Estadual do Campo de Alexandra, que leva os alunos do sexto ano para aula de campo visando conceituar patrimônio histórico material, patrimônio histórico imaterial e patrimôpnio natural.

Nosso plano pretende organizar e unir ações na comunidade referente à Educação Patrimonial sob uma organização pedagógica que possa atingir de forma sistemática e continua um número cada vez maior de moradores e entusiastas de nossas riquezas culturais. Tomando a experiência da professora Dora Dimenstein em Jaboatão dos Guararapes “A proposta era inserir dentro do programa de formação continuada dos professores de História da Secretaria de Educação, conhecimentos acerca dos patrimônios materiais e imateriais do município onde, muitos deles não conheciam nem a história da cidade”. (DIMENSTEIN 2017 P. 29) Assim ofereceremos à Secretaria Municipal de Educação de Paranaguá uma proposta de formação profissional aos professores da rede que atuam nas instituições do bairro de Alexandra, abrindo espaço inclusive para educadores da rede estadual. Em um total de quatro encontros de forma prática e lúdica iremos abordar 1 – conceitos gerais para educação patrimonial; 2 – identificação e acesso aos equipamentos culturais dos patrimônios locais; 3 – imersão aos elementos do patrimônio material e imaterial da comunidade; 4 – Construção de uma prática pedagógica com os educandos que leve os conceitos da educação patrimônial, a cultura local e a sua preservação para o chão da escola.

Outra ação será adotada no ambiente da educação não formal onde promoveremos, junto a uma rede integrada de empreendedores locais, eventos de valorização da memória e do patrimônio local da comunidade. Com o auxílio de roteiros temáticos levaremos as pessoas interessadas em conhecer a região a uma experiência imersiva, com a funbdamentação histórica da região, rodas de conversa com os moradores mais antigos e degustação dos empreendimentos locais. Sob o ponto de que: “As iniciativas educativas devem ser encaradas como um recurso fundamental para valorização da diversidadecultural e para o fortalecimento da identidade local fazendo uso de estratégias e situações de aprendizagem construídas coletivamente”. (DIMENSTEIN 2017 P. 18) Para tanto já integramos uma iniciativa chamada “Rede Empresarial Segredos da Serra da Prata”, organizado pelo SEBRAE, que vem acessorando iniciativas empreendedoras da região valorizando a identidade local. Fazendo parte atividades econômicas como pousadas/hotel, restaurantes, produtores rurais/propriedades com rios e cachoeiras, parque aquático, roteiros turísticos e turismo religioso.

Como última proposta de ação incentivaremos as intervenções pela preservação da memória local, em atos coletivos levar a comunidade o debate de como a memória local e nossos patrimônios materiais ou imateriais estão sendo tratados e reinvindicar que os espaços cultuturais do bairro sejam preservados e equipamentos culturais que a população não tem acesso sejam disponibilizado. “Através da Educação Patrimonial, o processo de ensino e aprendizagem pode ser dinamizado e ampliado, muito além do ambiente escolar, onde toda a comuniade escolar pode estar envolvida”. (DIMENSTEIN 2017 P. 35) Neste ponto temos a experiência de dois “abraços na Estação” – 2017 e 2018 onde a comunidade solicitava a restauração do nosso patrimônio histórico material mais significativo. Infelizmente ainda em completo abandono.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao revisitar a construção histórica do Bairro de Alexandra muitos sentimentos apareceram, mas o principal é de pertencimento. Ter nascido na localidade, conhecer as pessoas que nela sempre moraram ou que escolheram como lar, a familiaridade com as ruas, construções e monumentos. Sofrer com a falta de estrutura centenária sobre certos aspectos e mesmo assim perceber elementos únicos que motivam a constuir família, criar filhos e participar da comunidade.

Ao produzir este artigo, a cada referencial, foto, texto, livro, reportagem eramos transportados para outras épocas, momentos e desafios que nossos antepassados enfrentaram e construir a realidade do tempo presente. Ora ficamos surpresos com as informações que encontrávamos, ora revoltados com decisões arbitrárias de poderosos ou mesmo o descaso deles. Porém houve resistência, pessoas de diferentes raças, credos e formação, que ao seu modo, mantiveram em pé as características que transformam Alexandra num espaço nem melhor, nem maior, mas especial.

Ao entender os desfios que Alexandra enfrenta atualmente com o desenvolvimento urbano, econômico e a possível desconstrução de sua identidade histórica encontramos uma missão fundamentada nos conceitos da educação patrimonial como feramenta para resignificar elementos da cultura local e inserir cada vez mais a comunidade numa luta/construção de novos paradigmas na defesa do modo de ser e viver em nosso bairro.

Experiências como da professora Dora Dimenstein em Jaboatão dos Guararapes – PE, mostra caminhos de como a educação patrimonial pode ser transformadora. Inspirados nela e em outras experiências criamos um plano que agora precisa ser colocado em prática, então o presente artigo não pode ser um ponto de conclusão, mas o início de uma nova jornada. Esperando através do fomento da educação patrimonial no bairro de Alexandra fortalecer os laços de identidade da comunidade levando a mesma a um desenvolvimento sustentável. Bem como servir de referência para outras ações em toda a região do Litoral do Paraná.

FONTES E REFERÊNCIAS

Arq.digital Prof.Wistuba [online], Estação de trem de Alexandra, 2024.

Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha. Vista de Paranaguá na viagem de Santa Catarina a Santos. Fotografia de Jorge Kfuri. 02/02/1932. Inserido por Marcia Prestes Taft, em 05/08/2019. Disponível em: <https://www.arquivodamarinha.dphdm.mar.mil.br/index.php/vista-de-paranagua-na-viagem-de-santa-catarina-a-santos-2> Acesso em: 07/07/2024.

JBLitoral. 1ª colonia italiana no Paraná: Alexandra completa 151 anos de fundação. Por Luiza Rampelotti. Pulicado em 14/02/2022. Disponível em: <https://jblitoral.com.br/dia-a-dia/1a-colonia-italiana-no-parana-alexandra-completa-151-anos-de-fundacao/> Acesso em 17/11/2023.

CAVANHA, Jussara Nena. Colônia Alessandra. Araucária, PR: Ed. Progressiva, 2012.

FREITAS, Waldomiro Ferreira de. História de Paranaguá: das origens à atualidade. Paranaguá: Instituto Histórico e Geográfico de Paranáguá, 1999, 557 p.

HOBSBAWM, Eric. O sentido do passado. In: Sobre História.

MACHADO, Milaine Martins. Il sogno chiamato America: uma homenagem às Famílias Giusti e Mocellin, Darù e Manozzo. Clube de Autores, 2024, 560 p.. Disponível em: <https://clubedeautores.com.br/livro/il-sogno-chiamato-america> Acesso em 06/09/2024.