COMPETITIVE INTELLIGENCE AND INTERNATIONALIZATION: STRATEGIES FOR EXPANDING COMPANIES
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch1020241124110424
Abimael Ortiz Barros1;
William Rodrigo Joanico2;
Natacia Regina Fidelis Marinho Ferraz3
Resumo
A internacionalização, definida pela expansão das empresas para além das fronteiras nacionais através de produtos, serviços ou investimentos, emerge como um elemento essencial para as corporações em resposta a um ambiente de mercado global unificado e altamente competitivo. Este estudo visa explorar a dinâmica da internacionalização empresarial, destacando as principais forças propulsoras, obstáculos e táticas vinculadas a este fenômeno. Adotando uma abordagem qualitativa e descritiva, a pesquisa é fundamentada em uma revisão de literatura abrangente. O estudo revela diversas perspectivas — econômicas, comportamentais e culturais — que moldam os motivos e os métodos adotados pelas empresas em sua jornada de expansão internacional, além de examinar várias estratégias de internacionalização, incluindo exportação, licenciamento e a criação de subsidiárias no exterior. Geralmente, as empresas buscam a internacionalização para capitalizar suas vantagens competitivas, ampliar receitas ou diminuir despesas. Contudo, a insuficiência de conhecimento sobre os mercados internacionais e os desafios inerentes ao processo de internacionalização podem representar barreiras significativas à sua expansão global. A conclusão sublinha que, diante dos desafios e oportunidades do comércio global, a internacionalização surge como uma estratégia vital para as empresas buscarem maior competitividade no cenário econômico mundial contemporâneo.
Palavras-chave: Internacionalização; Estratégias de Internacionalização; inteligência competitiva.
Abstract
Internationalization, defined by the expansion of companies beyond national borders through products, services or investments, emerges as an essential element for corporations in response to a unified and highly competitive global market environment. This study aims to explore the dynamics of business internationalization, highlighting the main driving forces, obstacles and tactics linked to this phenomenon. Adopting a qualitative and descriptive approach, the research is based on a comprehensive literature review. The study reveals several perspectives — economic, behavioral and cultural — that shape the motives and methods adopted by companies in their international expansion journey, in addition to examining various internationalization strategies, including exporting, licensing and the creation of subsidiaries abroad. Generally, companies seek internationalization to capitalize on their competitive advantages, increase revenues or reduce expenses. However, insufficient knowledge about international markets and the challenges inherent in the internationalization process can represent significant barriers to global expansion. The conclusion highlights that, faced with the challenges and opportunities of global trade, internationalization emerges as a vital strategy for companies to seek greater competitiveness in the contemporary global economic scenario.
Keywords: Internationalization; Internationalization Strategies; competitive intelligence.
1 INTRODUÇÃO
O avanço tecnológico das últimas décadas intensificou a interatividade, não apenas no âmbito pessoal, mas também no empresarial. Pequenas e médias empresas começaram a explorar oportunidades de crescimento além dos mercados locais, atingindo consumidores globais. Esse movimento contribuiu significativamente para o processo de internacionalização, mostrando que a exportação e atividades correlatas não dependem do tamanho da empresa, mas da cultura organizacional e das estratégias adotadas.
Para o sucesso na internacionalização, são necessários estudos comparativos e análises detalhadas do setor de atuação da empresa, incluindo a compreensão de concorrentes, clientes e consumidores. Nesse contexto, a Inteligência Competitiva (IC) é crucial para o planejamento estratégico e a tomada de decisões, mitigando incertezas e aumentando a competitividade. A IC é um processo sistemático que antecipa movimentos de mercado e protege o conhecimento gerado.
No Brasil, micro e pequenas empresas desempenham um papel crucial, representando 99% dos negócios e uma parte significativa da produção nacional e geração de empregos (ApexBrasil, 2023). A internacionalização, antes vista como exclusiva de grandes corporações, agora é uma realidade para esses menores empreendimentos, que são incentivados a se reinventar e buscar novos nichos de mercado, aumentando sua competitividade. Em 2019, a ApexBrasil revelou que essas empresas contribuíram com 32% das exportações brasileiras (ApexBrasil, 2023).
No entanto, o sucesso na internacionalização exige um planejamento estratégico bem articulado, investimento em tecnologia, avaliação da capacidade produtiva e clareza nos objetivos empresariais. A Inteligência Competitiva é uma ferramenta estratégica que possibilita uma estruturação mais eficaz do plano de internacionalização. Este estudo ilustra como a IC pode facilitar a internacionalização de micro e pequenas empresas, propondo um mecanismo de apoio, especialmente para as associadas à Microempa. Este trabalho também incita futuras pesquisas acadêmicas sobre o uso da IC por micro e pequenas empresas, ampliando o entendimento dessa ferramenta estratégica.
2 PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES
O processo de internacionalização das empresas é crucial no atual contexto econômico global. Este fenômeno é impulsionado por diversos fatores internos e externos que influenciam as decisões estratégicas das organizações em expandir suas operações além das fronteiras nacionais (Fleury, 1997).
A internacionalização é um processo complexo que envolve a adaptação das operações da empresa aos ambientes internacionais em que pretende atuar (Oviatt & McDougall, 1999). Esse processo pode se manifestar de várias formas, como a exportação de produtos, a prestação de serviços em mercados estrangeiros e o estabelecimento de investimentos diretos no exterior (Pasin, 2003; Meyer, 1996).
A decisão de internacionalizar não deve ser apenas operacional, mas estratégica, exigindo análise cuidadosa da alta administração (Martín & López, 2015).
Melin (1992) destaca a importância das estratégias empresariais no processo de internacionalização, enfatizando que é por meio delas que as organizações determinam a direção e a continuidade de suas atividades internacionais. A internacionalização representa uma dimensão significativa do quadro estratégico das empresas, influenciando objetivos, ações e orientações gerenciais.
Portanto, a internacionalização das empresas é um fenômeno multifacetado que envolve fatores internos e externos, além de decisões estratégicas complexas que impactam diretamente o sucesso e a sustentabilidade das organizações em um contexto globalizado.
2.1 ANÁLISE E PERSPECTIVAS
A internacionalização empresarial é um campo de estudo complexo, que abrange dimensões econômicas, comportamentais e culturais. A perspectiva econômica, como descrito por Carneiro e Dib (2006), sugere que as empresas buscam a internacionalização principalmente para maximizar lucros e retornos financeiros, baseando-se em teorias como a do Poder de Mercado de Hymer (1960), a Teoria da Internalização de Buckley e Casson (1976) e o Paradigma Eclético de Dunning (1977). Esses modelos enfatizam a eficiência operacional, a exploração de vantagens competitivas e a gestão de custos de transação como elementos centrais para a expansão internacional.
A perspectiva comportamental, fundamentada nos trabalhos de Johanson e Vahlne (1977), argumenta que o processo de internacionalização também considera a experiência adquirida e a redução de riscos percebidos no ambiente internacional. Este enfoque destaca a importância das percepções, atitudes e comportamentos dos gestores na formulação de estratégias de internacionalização, vendo-a como um processo evolutivo e incremental.
A dimensão cultural, influenciada pelos estudos de Parkhe (1991), examina como as diferenças culturais afetam as práticas gerenciais e as estratégias de internacionalização. Essa perspectiva sublinha a necessidade de entender e se adaptar às nuances culturais dos mercados-alvo.
A convergência dessas três perspectivas — econômica, comportamental e cultural — ilustra a complexidade da internacionalização, exigindo das empresas uma abordagem holística. A inteligência competitiva surge como uma ferramenta vital, permitindo às empresas identificarem oportunidades, antecipar desafios e adaptar-se às dinâmicas dos mercados internacionais (Costa & Santos, 2011; Bemvindo, 2014). Por meio da análise de informações estratégicas, a inteligência competitiva capacita as empresas a tomar decisões informadas, mitigando riscos e explorando vantagens competitivas.
A evolução no campo da internacionalização empresarial é marcada por estudos que exploram tanto perspectivas econômicas quanto comportamentais, refletindo uma diversidade de abordagens para entender as motivações, estratégias e desafios enfrentados pelas empresas. Carneiro e Dib (2006) destacam a importância do conhecimento e do envolvimento progressivo das empresas nos mercados internacionais, ressaltando o papel das fases de comprometimento que podem levar à formação de joint ventures, licenciamento ou subsidiárias.
Modelos comportamentais como o Modelo de Uppsala (Johanson & Wiedersheim-Paul, 1975; Johanson & Vahlne, 1977), a Teoria das Redes (Johanson & Mattsson, 1986) e o Empreendedorismo Internacional (McDougall, 1989; Oviatt & McDougall, 1994) fornecem uma compreensão profunda sobre como as empresas aumentam gradualmente seu compromisso com os mercados internacionais. Esses estudos sublinham a importância dos relacionamentos de longo prazo e das redes de negócios no suporte às decisões e atividades de internacionalização.
O conceito de Born Globals, introduzido no início dos anos 90, desafia as abordagens tradicionais de internacionalização, mostrando como essas empresas emergem com uma orientação global desde sua concepção. Bemvindo (2014) explora esse fenômeno, destacando comportamentos peculiares que não se encaixam nos modelos tradicionais, sugerindo a necessidade de abordagens teóricas inovadoras.
A inteligência competitiva é crucial nesse contexto, proporcionando às empresas insights valiosos para a tomada de decisões estratégicas. A capacidade de coletar, analisar e aplicar inteligência de mercado pode significar a diferença entre o sucesso e o fracasso em ambientes internacionais competitivos. Portanto, a inteligência competitiva apoia a estratégia de internacionalização e capacita as empresas a anteciparem mudanças no mercado, identificar novas oportunidades e responder dinamicamente aos desafios globais.
3 MOTIVAÇÕES DO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO
A internacionalização das empresas é um fenômeno complexo impulsionado por diversas motivações e enfrentando várias barreiras ao longo do processo. As motivações podem surgir de fatores internos e externos, refletindo a dinâmica do ambiente econômico global (Craig; Douglas, 1995; Lemaire, 2013). Fatores externos incluem influências políticas, econômicas, sociais e tecnológicas, além de questões setoriais como exigências de marketing, custos de transporte e desenvolvimento de novos produtos (Craig; Douglas, 1995). Competitividade, ameaça de novos entrantes, interdependência competitiva e pressões de acionistas também são considerações importantes (Craig; Douglas, 1995).
Estratégias de internacionalização incluem exploração de vantagens competitivas, redução de custos e expansão de mercado (Dunning, 1980; Porter, 1980). Redução de vulnerabilidade frente a fornecedores e mercados, busca por tecnologias e conhecimento, e posicionamento em mercados potenciais são outras motivações (Dunning, 1980; Porter, 1980; Madsen, 1998). A saturação do mercado doméstico também impulsiona a busca por novos mercados (Johanson; Vahlne, 1977; Dunning, 1980).
Barreiras enfrentadas incluem diferenças culturais, regulatórias e falta de conhecimento do mercado-alvo (Craig; Douglas, 1995), além de desafios de gestão, coordenação de operações internacionais e riscos financeiros (Lemaire, 2013). A literatura classifica motivações em categorias proativas e reativas (Deresky, 2008), e sugere uma perspectiva mista onde motivações podem ser tanto proativas quanto reativas (Brito; Lorga, 1999).
Simões (1997) oferece uma classificação detalhada das motivações, dividindo-as em cinco categorias: endógenas, características dos mercados, motivos relacionais, acesso a recursos no exterior e incentivos governamentais. Teorias como o Modelo de Uppsala, a Teoria das Redes, e o empreendedorismo internacional oferecem perspectivas sobre o fenômeno (Carneiro; Dib, 2006). A teoria do Poder de Mercado destaca a busca por controle de mercado e exploração de imperfeições como motivadores econômicos (Carneiro; Dib, 2006).
A internacionalização das empresas é um processo multifacetado, impulsionado por uma variedade de motivações categorizadas de diversas maneiras. As teorias de internacionalização refletem diferentes perspectivas, destacando a complexidade e diversidade dos fatores que influenciam esse processo, oferecendo uma compreensão mais completa das razões e desafios enfrentados pelas empresas ao buscarem oportunidades além das fronteiras nacionais.
3.1 ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO
As estratégias de internacionalização são fundamentais para as decisões estratégicas das empresas, influenciando diretamente suas ações e planos para alcançar objetivos em ambientes competitivos (Atsumi et al., 2007). Diferentes fatores, como tipo de empresa, produto, localização e recursos disponíveis, determinam a escolha da estratégia de internacionalização (Fernandes, 2013; Martín; López, 2015).
A exportação é uma das estratégias mais comuns, ocorrendo de forma direta ou indireta. Na exportação direta, a empresa controla todo o processo, oferecendo maior controle e experiência no mercado global, mas com maiores investimentos e riscos (Simões, 1997; Viana e Hortinha, 2005). A exportação indireta, utilizando intermediários, apresenta menos riscos e demanda menos recursos, mas resulta em menor controle e menos oportunidades de aprendizado (Simões, 1997; Viana e Hortinha, 2005).
Outra modalidade é a importação, que permite que as empresas melhorem a qualidade e variedade dos seus produtos, diversifiquem fornecedores e reduzam custos de produção importando matérias-primas e tecnologia (Sousa, 2011).
O licenciamento internacional permite que uma empresa conceda a outra o direito de usar seu know-how e explorar direitos de propriedade, como marcas e patentes. Esse modelo, embora transferindo parte dos riscos à empresa licenciada, pode levar à perda de controle sobre a tecnologia e ao risco de surgimento de concorrentes (Hill, 2011; Martín; López, 2015).
Já as franquias envolvem a concessão do direito de uso de uma marca e operação de acordo com um modelo de negócios estabelecido. Apesar de apresentarem custos e riscos de desenvolvimento mais baixos, elas requerem que a empresa franqueada siga rigorosamente as diretrizes da franqueadora (Hill, 2011).
Uma outra possibilidade é o Investimento Estrangeiro Direto (IED), que inclui criação de novas empresas ou participação acionária em empresas existentes, é crucial para estimular a economia a longo prazo (Santana, 2009; Wolffenbüttel, 2006). Este investimento pode ocorrer de várias formas, como subsidiárias, joint ventures e aquisições (Freire, 2008; Simões, 1997). Embora o IED ofereça vantagens como redução de riscos de transação e acesso a recursos críticos, ele também apresenta desafios como instabilidades políticas e custos operacionais elevados (Hill, 2011).
As Joint Ventures envolvem a criação de um novo negócio independente por meio de um acordo entre duas ou mais empresas para compartilhar lucros e riscos. Embora facilitem a entrada em mercados difíceis, combinando conhecimento local com capital e tecnologia, elas podem enfrentar disputas de poder e problemas de comunicação (Punnet; Shenkar, 1995; Bateman; Snell, 1988).
A inauguração de subsidiárias e filiais, controladas por uma empresa-mãe, permitem controle total das operações internacionais, mas requerem altos custos de investimento e enfrentam desafios culturais (Hill, 2011). Filiais, subordinadas a uma empresa-mãe estrangeira, oferecem benefícios como melhor aprendizado no mercado de destino, mas também apresentam riscos e custos elevados (Souza, 2006).
Do mesmo modo que as Fusões e Aquisições, que envolvem a união de empresas para formar uma nova corporação, enquanto aquisições permitem entrada rápida no mercado-alvo aproveitando recursos e conhecimentos da empresa adquirida. Ambas as estratégias apresentam desafios significativos, incluindo altos investimentos e vulnerabilidades (Bateman; Snell, 1988; Tanure; Cançado, 2005).
Por fim, temos as Sole Ventures e Contratos de Representação Comercial, que garantem controle total sobre operações no exterior, mas também estão sujeitas a altos investimentos e riscos. Contratos de representação comercial oferecem baixo custo e flexibilidade, mas limitam o controle sobre a promoção da marca no exterior (Simões, 1997; Cateora; Vassalo, 2015).
Essas diversas estratégias demonstram a complexidade da internacionalização, cada uma com suas próprias vantagens e desafios. A escolha da estratégia adequada depende das características específicas da empresa e dos mercados-alvo, bem como das condições econômicas e regulatórias envolvidas.
4 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NO AVANÇO DAS EMPRESA
A internacionalização é vista como resultado da globalização, refletindo a necessidade das empresas de manterem sua competitividade (Maçães, 2017; Culpi, 2020). Esta expansão pode ocorrer sem presença física no exterior, através de exportação, multinacionalização e globalização (Maçães, 2017).
As empresas, ao decidirem internacionalizar-se, escolhem o modelo de entrada no mercado externo com base em sua estratégia, objetivos e características dos países-alvo, como riscos políticos e potencial de mercado (Culpi, 2020). Kotler (1998) destaca diversos modelos, incluindo exportação direta e indireta, licenciamento, franchising, alianças estratégicas, joint ventures e investimento direto.
As teorias sobre internacionalização podem ser agrupadas em abordagens econômica e organizacional (Culpi, 2020). O Modelo de Internacionalização de Uppsala, por Johanson & Wiedersheim-Paul (1975), propõe quatro estágios de envolvimento progressivo em operações internacionais. Já a Internacionalização baseada na Inovação Organizacional foca na introdução de novas práticas e tecnologias nas operações da empresa (Maçães, 2017).
No Brasil, a internacionalização teve início com a exportação de matérias-primas e a importação de bens industrializados, evoluindo com a industrialização pós-Segunda Guerra Mundial e políticas de proteção e incentivo (Dalla Costa & Santos, 2011). A crise econômica dos anos 1980 impulsionou empresas brasileiras a buscarem oportunidades externas como forma de sobrevivência e crescimento (Dalla Costa & Santos, 2011).
Micro e pequenas empresas (MPEs), representando a maioria dos negócios e empregos no Brasil, têm ganhado destaque na internacionalização devido à globalização e avanços tecnológicos. O reconhecimento do valor das MPEs levou diversos países a incentivar sua internacionalização, impulsionando tanto o crescimento dessas empresas quanto a economia nacional. No Brasil, as MPEs são responsáveis por uma parcela significativa das exportações (Dau, 2021). Programas de incentivo, como os desenvolvidos pela ApexBrasil e SEBRAE, têm sido fundamentais, fornecendo ferramentas como o Sistema de Inteligência Competitiva Setorial (SICS) para capacitar e auxiliar as MPEs no processo de internacionalização (ApexBrasil, 2021; SEBRAE, 2013).
Na década de 1980, obras como “Competitive Strategy” de Michael Porter destacaram a análise da concorrência, impulsionando o desenvolvimento da IC. No Brasil, a prática da IC ganhou destaque na década de 1990, com cursos especializados e associações dedicadas ao tema, evidenciando sua importância no contexto empresarial (Mendes, Marcial, & Fernandes, 2010).
A IC é um campo multidisciplinar que fornece insights estratégicos, permitindo decisões informadas e vantagem competitiva. Envolve a coleta, análise e interpretação de informações sobre o ambiente competitivo e os concorrentes (Marcial, 2011). Tarapanoff (2001) descreve a IC como um processo sistemático que transforma dados dispersos em conhecimento estratégico. Kahaner (1996) a vê como um sistema de coleta e análise de dados para orientar metas organizacionais.
Coelho (1999) destaca a IC como a coleta ética e sistemática de dados processados para embasar decisões. Gomes e Braga (2004) salientam que a IC deve ser sistemática, ética e formalizada, com um plano para a utilização das informações. Moreira (2020) distingue entre o processo de IC e o produto da IC, que são os insights e relatórios resultantes.
A IC diferencia-se da Inteligência Competidora e do Business Intelligence (BI), focando em informações públicas sobre competidores e orientando decisões estratégicas. A utilização eficaz da IC pode transformar os negócios, permitindo que as organizações antecipem mudanças e se adaptem a novos desafios, independentemente do porte da empresa (Gomes & Braga, 2004).
O processo de IC compreende várias etapas. Tarapanoff (2006) divide-o em cinco etapas: procura por recursos de informação, seleção desses recursos, identificação dos critérios de monitoramento, monitoramento e determinação das ações baseadas nas informações. Mendes, Marcial e Fernandes (2010) propõem quatro etapas: planejamento, coleta, análise e difusão. Gomes e Braga (2004) acrescentam uma quinta etapa: avaliação, crucial para garantir a eficácia contínua da IC.
De modo geral, a IC visa assegurar que informações relevantes cheguem aos tomadores de decisão no momento certo, possibilitando uma análise adequada e adoção de estratégias competitivas eficazes. Em um contexto de incerteza e rápida mudança, o uso inteligente das informações é essencial para a sobrevivência e competitividade das organizações (SEBRAE, 2013).
5 METODOLOGIA
A problemática central do estudo é compreender as principais motivações, obstáculos e estratégias no processo de internacionalização das empresas de pequeno porte, que frequentemente enfrentam barreiras significativas. Propõe-se investigar como a IC pode ser empregada como um mecanismo facilitador, fornecendo suporte às empresas na superação desses desafios e na exploração de novas oportunidades de mercado.
O objetivo geral deste estudo é elucidar o papel da IC como suporte à internacionalização de micro e pequenas empresas. Os objetivos específicos incluem: mapear o cenário atual da internacionalização e seus desafios; descrever o conceito e a aplicabilidade da IC; identificar o processo de internacionalização nessas empresas; e analisar a aplicação prática da IC como facilitador desse processo.
Metodologicamente, este estudo adota uma abordagem qualitativa e descritiva, fundamentada em uma revisão sistemática da literatura, integrando teorias de internacionalização, estratégias de mercado global e marketing internacional, além de estudos de caso que exemplifiquem a aplicação prática da IC na internacionalização de micro e pequenas empresas.
A relevância social do estudo está na contribuição para o fortalecimento da competitividade das micro e pequenas empresas no cenário global, destacando a IC como uma estratégia viável para superar barreiras e explorar oportunidades de mercado internacional, beneficiando não apenas o setor empresarial, mas também a economia nacional.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo destacou a importância da Inteligência Competitiva (IC) como uma ferramenta estratégica essencial para empresas, especialmente aquelas em processo de internacionalização. Em mercados externos, organizações de diversos portes enfrentam uma série de desafios e oportunidades. A IC torna-se crucial para superar barreiras e maximizar vantagens competitivas, proporcionando uma melhor compreensão do ambiente global de negócios, identificação de riscos e potencialidades.
A pesquisa centrou-se em como a IC pode influenciar positivamente o processo de internacionalização, particularmente para micro e pequenas empresas. Estas, frequentemente limitadas em recursos e conhecimento sobre o mercado global, podem beneficiar-se significativamente da IC, superando obstáculos inerentes à expansão internacional. A IC possibilita uma análise aprofundada dos mercados-alvo, concorrentes, potenciais parceiros e regulamentações locais, mitigando riscos e potencializando oportunidades.
Para abordar essa problemática, o estudo propôs a implementação de estratégias de IC adaptadas às necessidades e capacidades das micro e pequenas empresas. Isso inclui a realização de análises de mercado, monitoramento de concorrentes, avaliação de tendências e riscos, além de adaptação cultural e identificação de canais de distribuição eficazes. Tais ações visam preparar as empresas para entrar e permanecer nos mercados internacionais com maior segurança e competitividade.
As hipóteses levantadas foram validadas por meio da análise de casos concretos e dados secundários, demonstrando que a IC contribui significativamente para o sucesso da internacionalização empresarial. Empresas que adotam práticas de IC tendem a realizar movimentos estratégicos mais assertivos e adaptados às dinâmicas dos mercados internacionais, resultando em desempenho superior comparado àquelas que não utilizam tais práticas.
A pesquisa confirmou que a internacionalização apoiada pela IC não só facilita a entrada em novos mercados, mas também contribui para a sustentabilidade e crescimento de longo prazo das empresas no cenário global. Isso se deve ao aprimoramento contínuo de estratégias e operações baseadas em informações precisas e atualizadas sobre mercado, concorrência e tendências econômicas.
Os objetivos do estudo foram plenamente alcançados, revelando que a IC desempenha um papel crucial na internacionalização das empresas. Os participantes perceberam a IC como um diferencial competitivo que capacita as organizações a navegar com mais eficácia no complexo ambiente de negócios internacionais, permitindo uma expansão mais segura e estratégica.
A pesquisa validou a relevância da IC como um recurso valioso para empresas que buscam a internacionalização. Em um mercado global cada vez mais competitivo e complexo, a capacidade de antecipar tendências, compreender o comportamento do consumidor e avaliar a concorrência internacional é fundamental.
Embora significativos, os achados do estudo apontaram limitações, como a amostra restrita e o foco em setores específicos. Essas limitações sugerem a necessidade de pesquisas futuras com amostras mais amplas e diversificadas, abrangendo uma gama maior de setores e contextos geográficos. Além disso, dificuldades como o acesso a dados confiáveis e a integração da IC nas estratégias empresariais ressaltam a importância de desenvolver competências internas para a gestão eficaz da IC, implicando em investimentos em formação, tecnologia e criação de uma cultura organizacional que valorize aprendizagem e inovação contínuas.
Por fim, o estudo sugere a continuidade da pesquisa, abordando questões futuras como o impacto da tecnologia e da inteligência artificial na IC, além do desenvolvimento de modelos de IC adaptados a diferentes contextos empresariais e culturais. Isso enriquecerá a compreensão sobre a IC e a internacionalização, ajudando as empresas a se adaptarem às rápidas e imprevisíveis mudanças do mercado global.
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¹Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação (PPGGI/UFPR), e-mail: Abimael.adv@hotmail.com;
²Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação (PPGGI/UFPR), e-mail: willrodj@gmail.com;
³Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação (PPGGI/UFPR), e-mail: nataciaferraz@ufpr.br