FAMILY-SCHOOL RELATIONSHIP AND ITS IMPACTS ON DEVELOPMENT AND LEARNING: AN ANALYSIS BASED ON URIE BRONFENBRENNER’S BIOECOLOGICAL THEORY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411211322
Caroline Maria de Menezes Santos1
Iarê Sandra Cooper2
Resumo
O presente estudo aborda a teoria bioecológica de Urie Bronfenbrenner e, especificamente, delimita-se a identificar como a influência dos espaços no sistema ecológico, principalmente o familiar, impacta a aprendizagem do indivíduo. Com base na temática exposta, a pesquisa propõe destacar a relevância do envolvimento familiar na educação. Além de expor seus benefícios, objetiva-se contribuir com o campo da Educação, fornecendo embasamento teórico para que educadores possam apoiar suas práticas docentes no fortalecimento da relação entre a família e a escola. Para tanto, foi escolhida a revisão bibliográfica como metodologia, o que permitiu concluir que a relação entre a família e a escola, quando embasada em um envolvimento contínuo e estratégico e, portanto, não episódico, contribui para o desenvolvimento infantil de forma integral, abrangendo aspectos sociais, cognitivos, intelectuais, emocionais e outros fatores essenciais ao desenvolvimento. Embora existam desafios a serem enfrentados por parte das instituições familiares e escolares, determinadas práticas são viáveis e benéficas para os principais atores dessa relação: as crianças.
Palavras-chave: Teoria Bioecológica. Relação família-escola. Desenvolvimento infantil. Aprendizagem
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa é fruto das observações feitas durante a experiência docente ao longo do período acadêmico, do curso de Licenciatura em Pedagogia, combinadas com as teorias e os estudos dos pesquisadores analisados nesse mesmo período. Tais experiências foram responsáveis pelo desejo de compreender como o ambiente familiar pode impactar a aprendizagem dos estudantes, especialmente em um contexto em que as diferenças socioeconômicas, emocionais, cognitivas, culturais e evolutivas são marcantes.
Tanto no ambiente acadêmico, quanto na práxis docente, constatou-se que as dinâmicas familiares influenciam no desenvolvimento humano e cognitivo das crianças e, diante disso, o presente estudo visa contemplar a seguinte tríade: o ambiente familiar, o desenvolvimento humano e a aprendizagem escolar.
Os estudos sobre o desenvolvimento humano abrangem uma ampla área de conhecimentos, como a psicologia, a sociologia, a biologia, e a educação, dentre outras, nas quais todas as áreas visam compreender como os seres humanos crescem, aprendem e se adaptam ao longo de suas vidas, do nascimento à vida adulta.
Neste estudo, optou-se por debruçar-se sobre pesquisas que abordam o sistema ecológico de Bronfenbrenner, cujo a teoria reconhece o desenvolvimento humano, não como fatos isolados, mas como uma teia formada por uma rede complexa de interações entre o indivíduo e o ambiente em que está inserido (Silva et al., 2011).
Diante da abordagem supracitada, compreende-se que os espaços nos quais os seres humanos se socializam interferem gradativamente em suas ações, isto é, desde o primeiro contato da maioria dos indivíduos, tem-se a família como sendo responsável por boa parte das influências, ações, pensamentos, comportamentos e costumes (Roos e Truculo, 2021). Ao longo do crescimento e da fase de interação com as demais camadas da sociedade, o desenvolvimento percorre e se interfere por âmbitos como a escola, a comunidade e as demais esferas sociais.
A partir desse recorte, é importante ressaltar a educação como parte de todo o processo de desenvolvimento, seja ela informal ou formal, bem como o referido espaço se caracteriza a partir das relações interpessoais (Roos e Truculo, 2021). Nesse contexto, se levanta o seguinte questionamento: como a influência dos espaços no sistema ecológico, especialmente o familiar, afetam e moldam o desenvolvimento e a aprendizagem do indivíduo? O presente trabalho, então, expõe a relevância da presença da família, considerando seu impacto no processo de aprendizagem escolar.
Assim sendo, este estudo tem, como objetivo geral, identificar como a influência dos espaços no sistema ecológico, especialmente o familiar, afetam e moldam o desenvolvimento e a aprendizagem do indivíduo. Tem-se, ainda, como objetivos específicos, fornecer embasamento teórico para educadores adicionarem, em suas práticas pedagógicas, estratégias assertivas e aplicáveis que incorporem a participação familiar no processo educativo efetivamente, visto a relevância do conceito em questão, posteriormente abordada nesse estudo; a fomentação de dados teóricos que evidenciam a importância do envolvimento familiar na educação e nas práticas pedagógicas e, por fim; contribuir com o campo de pesquisa das áreas inter-relacionadas.
A Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, do psicólogo e pesquisador Urie Bronfenbrenner, fundamentam esse estudo, uma vez que demonstra como os vários níveis do ambiente familiar, incluindo o microssistema (interações imediatas), o mesossistema (interações entre diferentes contextos) e o exossistema (influências externas indiretas) impactam os ambientes de interações e exploram profundamente essa relação entre o sistema familiar e o processo de ensino-aprendizagem.
Tratando-se do viés pedagógico, a temática aqui abordada se revela importante, pois examina como diferentes aspectos, tais quais, o suporte parental, a comunicação familiar, e as práticas educativas dos pais ou responsáveis, e a dinâmica familiar, causam reflexos no desenvolvimento e na aprendizagem escolar e social de crianças e adolescentes. Conforme Bronfenbrenner (1996), esse sistema concêntrico se inicia desde o microssistema imediato, como a família, até o microssistema mais amplo, como a cultura e a sociedade, e dessa forma, a ecologia do desenvolvimento humano destaca a importância de considerar o ambiente familiar como um contexto fundamental que desempenha um papel importante para a psicologia e a relação família-escola.
Uma vez que os profissionais de instituições educacionais possam compreendam os conceitos brevemente aqui expostos, cria-se um vínculo fundamental, primordial ao desenvolvimento emocional e psicológico da criança durante a sua vivência, o que, por outro lado, caso a função de participação e responsabilidade ao longo do período escolar por ambos os espaços não seja instrumentalizada, a aprendizagem do estudante pode ser prejudicada (Valle e Coronel, 2021). Assim, criar um ambiente de apoio escolar e familiar precede o estímulo para o desenvolvimento integral dos estudantes, uma vez que uma base familiar sólida e engajada proporciona melhores resultados acadêmicos e fortalece o emocional dos indivíduos (Rosa, Magalhães e Silveira, 2024).
Diante da justificativa pedagógica, surge a justificativa social desse estudo, em que a consolidação do vínculo familiar desempenha um papel primordial na criação do ser humano e o caracteriza positivamente a partir de comportamentos e habilidades socioemocionais e intelectuais favoráveis. Diante da carência de estratégias pedagógicas, cujo papel é somar família e processo de aprendizagem, a justificativa torna-se ainda mais relevante.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A Teoria Bioecológica de Bronfenbrenner
Urie Bronfenbrenner foi um renomado psicólogo do desenvolvimento cujo trabalho revolucionou nossa compreensão sobre como os seres humanos se desenvolvem ao longo da vida. Nascido em 1917, e falecido em 2005, Bronfenbrenner é conhecido especialmente pela teoria da Ecologia do Desenvolvimento Humano, um marco na psicologia, que enfatiza a interação dinâmica entre indivíduos e os diversos ambientes nos quais vivem (Valle e Coronel, 2021).
A Ecologia do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner propõe que o desenvolvimento de uma pessoa não pode ser compreendido isoladamente, mas, sim, deve ser considerado em um contexto de sistemas concêntricos de influência ambiental. No cerne dessa teoria está o conceito de “ecossistema”, responsável por abranger, desde os ambientes mais próximos e imediatos, como família e escola (microssistema), até as influências mais amplas e distantes, como as políticas governamentais e os valores culturais (macrossistema) (Silva et al., 2011).
Em seus estudos, o pesquisador explorou como os diferentes níveis de ambiente interagem entre si para moldar o desenvolvimento humano. A partir do referido recorte, Bronfenbrenner argumentava que mudanças em um nível de ambiente podem ter impactos significativos em outros níveis, afetando, assim, o crescimento e as experiências de vida de um indivíduo. A teoria em questão, não apenas transformou a maneira como os psicólogos e educadores entendem o desenvolvimento infantil e humano, como, igualmente, influenciou políticas públicas e práticas de intervenção social (Bronfenbrenner, 2011).
Segundo o autor, a pessoa em desenvolvimento “molda-se, muda e recria o meio no qual se encontra, bem como os múltiplos ambientes também exercem influências no seu desenvolvimento” (Machado, Yunes e Silva, 2014, p. 5) Fruto de suas pesquisas. Urie Bronfenbrenner, um dos principais teóricos do desenvolvimento humano, propôs a teoria bioecológica, destacando a importância de múltiplos ambientes e suas inter-relações no desenvolvimento da criança. Sua teoria define quatro níveis de sistemas ecológicos, descritos a seguir.
2.1.1 Microssistema
O microssistema é o ambiente imediato no qual a criança vive e interage diretamente, portanto, trata-se do nível mais interno, em que se sucedem os processos proximais (Monti, 2015). Fazem parte desse sistema: a família, a escola, os grupos de amigos e a vizinhança.
A exemplo do contexto familiar, revela-se as interações diretas com os pais, irmãos e outros membros da família ligados diretamente à criança. Nesse contexto, as dinâmicas de apego, suporte emocional e estilos parentais são cruciais para o desenvolvimento da criança.
Bronfenbrenner (2011) infere que o microssistema familiar consiste em um ambiente no qual surgem as primeiras interações, aprendizagem de conceitos, regras e práticas culturais com o papel de embasar, formar e fundamentar os processos de socialização dos indivíduos. Quanto à escola, como um espaço de interação social, representa a segunda etapa de formação e informação da criança, no qual elas se relacionam com seus pares e docentes, formando, entre o meio familiar e escolar, laços à frente do desenvolvimento infantil. Face a isso, se compreende como as intervenções família-escola contribuem significativa e positivamente com o processo de ensino e de aprendizado.
Ao corroborar com Bronfenbrenner, Valle e Coronel (2021), reiteram que a criança se constitui por meio da imersão das engrenagens sociais, composta, majoritariamente, pelo meio familiar e escolar, em que os indivíduos constroem suas relações, aspectos linguísticos, culturais, econômicos, dentre outros. Sabe-se que ambos seios sociais se organizam entre diferentes configurações, isto é, não se moldam em um padrão, o que leva às diversas formações pessoais individuais.
Para Bronfenbrenner (2011), a educação moldada pelas famílias influencia os seres por ela educados, inclusive na fase adulta. Em sua teoria bioecológica, o pesquisador descreve esse fenômeno como o processo em que as crianças se tornam isomórficas com seu ambiente social, em razão da interação entre os participantes nesse núcleo ecológico, o que, então, ressalta a importância das relações familiares na formação do indivíduo. “Ela tem, portanto, um impacto significativo e uma forte influência no comportamento dos indivíduos, especialmente das crianças, que aprendem as diferentes formas de existir, de ver o mundo e construir as suas relações sociais.”(Dessen e Polonia, 2007, p.2).
2.1.2 Mesossistema
O mesossistema refere-se às interações entre dois ou mais microssistemas nos quais a criança participa e, por interação, se entende a relação entre família e escola, entre a família e a comunidade religiosa, e demais possibilidades. De acordo com Bronfenbrenner (2011), concernente à relação familiar, a interação se estende à colaboração entre os pais e professores, a influência dos amigos da família, e como essas relações se interconectam para influenciar o desenvolvimento da criança. Ainda, segundo o autor:
Um mesossistema se caracteriza pelas ligações e processos que acontecem entre dois ou mais ambientes que contêm a pessoa em desenvolvimento. Atenção especial é dada aos efeitos sinergéticos criados pela interação das características e processos desenvolvimentalmente instigativos ou inibidores presentes em cada ambiente (Bronfenbrenner, 1993, p. 22).
Os estudos que permeiam as relações do mesossistema, conforme afirma Bronfenbrenner e Crouter (1983), compreendem que o comportamento e o desenvolvimento são funções de processos de dois ou mais ambientes, bem como da interação entre eles. A conexão entre os microssistemas, no que diz respeito à dualidade família-escola, pode ser concebido nas visitas dos pais à escola, nos momentos de entrada e saída dos estudantes, na troca de ideias e informações, na presença em reuniões e eventos e, quanto ao processo de ensino, especialmente refere-se ao engajamento em atividades escolares e na vida escolar dos estudantes como um todo.
Roos e Truccolo (2021) atestam a parceria entre a escola e a família como fundamental, devido aos seus vieses educadores. Por um lado, o papel formador dos familiares diz respeito ao acolhimento, promoção e contribuição a individuação e pertencimento, oferta de limites, partilha e valores de ideias. Em outra ponta dessa linha, à escola, cabe a socialização do conhecimento produzido.
Embora toda transição bioecológica resulte em consequências evolutivas, uma das principais transições, ou seja, a inserção do indivíduo em um novo espaço, dá-se em sua entrada na escola. Revalidando os conceitos teóricos de Bronfenbrenner, as autoras, Bhering e Sarkis (2009, p. 14), ressaltam a relevância das transições, “pois envolvem uma mudança de papel e o papel desempenhado pela pessoa altera o modo como os outros a tratam, como agem com ela, o que fazem e até mesmo como eles pensam e se sentem.”.
O microssistema e o mesossistema, isolados e em conjunto, colaboram com o desenvolvimento, mas conforme Bronfenbrenner (2011), outros dois contextos têm influência no processo dos indivíduos de forma indireta, sem a participação direta no espaço: o exossistema e o macrossistema, descritos a seguir.
2.1.3 Exossistema
O exossistema compreende ambientes nos quais a criança não está diretamente envolvida, mas que afetam indiretamente o seu desenvolvimento. Os núcleos, embora a criança não esteja inserida diretamente, como no ambiente escolar, a afeta de modo indireto por tratarem-se de espaços com ligação passível de afetá-la, como o trabalho dos pais, a rede de apoio social de seus cuidadores e as políticas públicas governamentais (Bronfenbrenner, 1993).
Faz-se oportuno expor o conceito de exossistema sintetizado por Bhering e Sarkis, em pesquisa relacionada à contribuição de Bronfenbrenner para a Educação Infantil:
O exossistema se refere à relação e processos que ocorrem entre dois ou mais ambientes, sendo que em um deles, pelo menos, a pessoa em desenvolvimento não está inserida. Apesar disso, os eventos que nele ocorrem afetam indiretamente os processos no ambiente imediato no qual a pessoa vive (Bhering e Sarkis, 2009, p. 15).
No que concerne ao objeto deste estudo, a relação familiar, o exossistema tange a qualidade de vida familiar, a partir do momento em que ela é afetada pelas condições de trabalho dos pais, pela disponibilidade de serviços de apoio, e por políticas sociais que se estendem à família.
Silva et al. (2011) apontam o exossistema como estruturas sociais formais, como as instituições, ou informais, como a rede de amigos e a vizinhança. Tais estruturas moldam, limitam e, por vezes, determinam as experiências e as oportunidades encontradas pelos indivíduos, capazes de impactar seu desenvolvimento.
Ainda a exemplo da família, as condições de trabalho dos pais, portanto, a relação indireta de uma estrutura formal, influencia o tempo e a qualidade de interação com seus filhos. Exemplo clássico: o trabalho dos pais se refere ao exossistema representante da síntese do que se sucede em todas as instituições sociais que tomem decisões que impactam a funcionalidade das famílias, ou seja, qualquer instituição, com a referida autoridade, trata-se de um exossistema.
2.1.4 Macrossistema
O macrossistema conglomera o padrão de aspectos do micro, do meso e do exossistema de uma determinada cultura, subcultura ou estrutura social. Face a sua definição, o macrossistema é composto por padrões culturais, valores, leis e recursos sociais que permeiam os outros sistemas, como a cultura nacional, as políticas governamentais, crenças, recursos, oportunidades, estilos de vida e os sistemas econômicos.
Conforme Bronfenbrenner (2005), o conceito se simboliza por meio de padrões semelhantes de estilos de vida e ideologias referentes a um determinado grupo social e a maneira como eles se comportam. Do âmbito socioeconômico ao religioso, todas as diferentes comunidades têm condutas moldadas pelas práticas de socialização características de seus valores (Bhering e Sarkis, 2009).
Todos os conceitos anteriores a este precedem-no para a formação de crenças, valores, costumes e sistemas sociais políticos e econômicos, estes, que formam o macrossistema (Monti, 2015), em razão disso, ainda conforme Bronfenbrenner (2011), todas as esferas de sua teoria levam a essa última.
A relação familiar no macrossistema dá-se pela cultura na qual a família está inserida, a qual influencia crenças sobre educação, disciplina e expectativas de comportamento. As políticas públicas, fundamentais na esfera em questão, podem proporcionar ou restringir recursos e apoio para as famílias (Valle e Coronel, 2021). Dessa forma, os aspectos socioeconômico-culturais dos indivíduos adultos, interferem no desenvolvimento infantil daquele que se encontra sob sua tutela.
2.1.5 Cronossistema
O cronossistema refere-se às mudanças e continuidades no desenvolvimento da criança ao longo do tempo, incluindo eventos significativos e transições ao longo da vida. Mudanças na estrutura familiar, eventos históricos, transições de desenvolvimento são alguns dos exemplos e, na relação familiar, consistem em eventos como divórcio, mudanças de residência, ou o nascimento de um irmão.
Essas e demais mudanças podem ter um impacto profundo e duradouro no desenvolvimento da criança. Bronfenbrenner (1986) divide as alterações do curso da vida em duas: as normativas, eventos naturais e intrínsecos à evolução, como as fases escolares e as transições das etapas da própria vida (infância/puberdade e puberdade/adultez etc.); e não-normativas, os rompimentos de ciclos não esperados, como maior exemplo, o divórcio.
Para o desenvolvimento, Bhering e Sarkis (2009) compreendem o cronossistema como fundamental, uma vez que as renovações têm potencial de impulsionar a mudança desenvolvimental, especialmente no que tange os processos familiares.
Em um novo ambiente escolar, por exemplo, a criança altera certos padrões, inclusive no seio familiar. Tais mudanças, podem ter um impacto mais significativo no desenvolvimento da criança do que a própria entrada no novo ambiente, considerando que novas maneiras de se relacionar podem surgir em resposta às experiências vividas nesse contexto.
2.2 A importância do contexto familiar
O contexto familiar é um dos mais importantes microssistemas no desenvolvimento da criança. A qualidade das interações familiares, as práticas parentais, o suporte emocional e a estabilidade do ambiente familiar são fundamentais para o seu desenvolvimento emocional, social e cognitivo, isso porque a família não apenas fornece suporte direto, mas ainda interage com outros sistemas, como a escola e a comunidade, influenciando ainda mais o desenvolvimento infantil.
Por desenvolvimento, Bronfenbrenner elucida o fenômeno como:
Mudança duradoura na maneira pela qual uma pessoa percebe e lida com o seu ambiente. (…) É o processo através do qual a pessoa desenvolvente adquire uma concepção mais ampliada, diferenciada e válida do meio ambiente ecológico, e se torna mais motivada e mais capaz de se envolver em atividades que revelam suas propriedades, sustentam ou restituem aquele ambiente em níveis de complexidade semelhante ou maior de forma e conteúdo (Bronfenbrenner, 1996, p. 5).
Ao tecer críticas aos modelos tradicionais de estudos relacionados ao desenvolvimento humano, o pesquisador julgou tais formas de pesquisa como descontextualizadas, por focarem o indivíduo em um ambiente estático e restrito e, especialmente, por desconsiderarem a influência de conjunções externas passíveis de moldar a evolução individual (Martins e Szymanski, 2004).
Como forma de reconstituir os modelos clássicos, os estudos de Bronfenbrenner e Morris (1998) trouxeram à luz o conceito de processos proximais, o cerne da teoria bioecológica do desenvolvimento humano e o qual refere-se às interações regulares e próximas entre indivíduo e ambiente, relações, essas, consideradas como os principais motores da evolutividade humana. No recorte familiar, a análise das conexões deve considerar os processos proximais, pois a vivência humana se baseia em interações contínuas e prolongadas entre os seres, os objetos e os símbolos ao seu redor.
Martins e Szymanski (2004) exemplificam a configuração supracitada por meio dos cenários de alimentação do bebê, interação com parentes, contação de histórias, brincadeiras com pares da mesma idade, execução de tarefas complexas, e as mais variadas atividades. Quando nos referidos contextos, desempenham, nas palavras das pesquisadoras, atividades envoltas por processos proximais. Para as crianças, os maiores responsáveis pela criação de bases interacionais são os pais, parentes, professores e pares e, no tocante à família, as atividades colaboram mais significativamente com o melhoramento de aspectos do desenvolvimento infantil.
Mudanças familiares de quaisquer níveis apresentam influência na evolução e no comportamento das crianças, o que Bronfenbrenner aponta como efeito de segunda ordem, como nos casos em que a relação entre mãe e filho se modifica na presença de uma terceira pessoa. Consoante a Bronfenbrenner (1996), a análise do parâmetro familiar faz-se indispensável à compreensão do desenvolvimento, frente ao fato de que a vida real está sujeita às variantes e às mais diversas influências conforme tempo e espaço, circunstância que se inflama tratando-se da infância, afinal:
De acordo com Bronfenbrenner (2011, p. 282), é no microssistema familiar onde ocorrem as “primeiras e principais interações sociais da criança, onde se inicia a aprendizagem de conceitos, regras e práticas culturais que fundamentam os processos de socialização dos indivíduos”, sendo considerada a primeira fonte de informação para a criança. (Roos e Truccolo, 2021, p. 4)
Silva, Alencar, Chamon e Souza (2011) validam as afirmações acima postas e autenticam a família como a maior responsável pelo ensinamento de habilidades sociais, transmissão e construção de conhecimentos, de condições básicas de sobrevivência, de desenvolvimento cognitivo, afetivo e outros processos. Em seus estudos, os autores citam as crianças como aprendizes da conduta habitual, forma de interpretar o mundo e de atuar, com os adultos próximos a elas. Tendo isso em vista, a família e suas redes de interações desempenham um papel essencial, assegurando a continuidade biológica, as tradições, os modelos de vida e os significados culturais ao longo do tempo.
2.3 A teoria bioecológica, nas relações família-escola
A integração da teoria bioecológica de Bronfenbrenner com as dinâmicas das relações família-escola permite uma compreensão mais profunda dos fatores que moldam o ambiente educacional de crianças e adolescentes. Os estudos indicam que a estrutura familiar e as práticas educativas desempenham um papel crucial no desempenho escolar e comportamental dos estudantes (Dessen e Polonia, 2007).
A presença de apoio familiar e hábitos de estudo podem facilitar uma melhor adaptação e sucesso acadêmico, ademais, a teoria bioecológica enfatiza a importância do mesossistema, destacando a colaboração entre família e escola como um fator determinante para mitigar desafios educacionais, como evasão e repetência escolar, pois a integração de práticas educativas familiares nos projetos pedagógicos escolares pode enriquecer a aprendizagem formal.
Dessen e Polonia (2007) concebem a família como a matriz da aprendizagem humana e, como consequência, tal núcleo é capaz de introduzir traços favorecedores ou dificultadores à progressão escolar. A depender da situação e da relação criança-família, os estudantes podem alcançar o êxito ou distanciar-se do mesmo, quando há distanciamento nas relações.
Escola e família são corresponsáveis por oferecer às crianças convivência familiar e educação formal sem prejuízo ao desenvolvimento infantil. Ambas instituições têm atribuições distintas, porém, em um ponto, se complementam. A relação entre elas é, embora indispensável, complexa e desafiadora, mas primordial ao desenvolvimento da criança. Pelo seu caráter complementar, a junção forma os menores de forma integral (Monti, 2015). No entanto, o vínculo entre o âmbito escolar e o familiar, assim como pontua Luisa Monti (2015), não consiste unicamente da participação em eventos comemorativos, mas deve abranger uma cultura participativa, portanto, uma participação contínua, integral, assistencialista e interativa.
Como parte inerente dessa discussão, se argumenta sobre quem são os agentes incumbidos da aproximação família-escola. Para Monti (2015), todos os indivíduos da escola devem exercer o papel de mediador e incentivar a participação de maneira plena a partir de uma percepção da comunidade em que a escola está inserida, e o conhecimento, por parte dos professores e da gestão pedagógica, do histórico dos estudantes, suas famílias e culturas em que se inserem.
A aproximação, quando feita por meio da valorização e do senso de pertencimento, torna-se uma facilitadora da relação. Por outro lado, se os funcionários não estão em completa consonância com a comunidade e não pontuam seus interesses, a relação entre escola e família se fragiliza.
Como bem esclarece Silva (2009), uma equipe pedagógica consciente das reflexões mencionadas promove um ambiente propício para o engajamento da comunidade (famílias) e forma profissionais responsáveis pelo processo de estreitamento da relação com o núcleo familiar por meio da composição de ideias e soluções para fortalecer os vínculos.
Sob a ótica de Bronfenbrenner, Monti (2015) esclarece que:
pessoas que vivem em ambientes diferentes (microssistemas) são levadas a se relacionar por conta do indivíduo que transita entre estes dois ambientes, onde o indivíduo seria a criança transitando pelos contextos da família e da escola. Para o teórico, a reunião escolar é uma das formas de estreitar vínculos entre as instituições, o que é benéfico ao desenvolvimento infantil. (págs. 5-6).
Complementando o excerto acima, o rendimento desenvolvimental aumenta à medida que a ligação entre os atores dos diferentes ambientes se fortalecem (nesse caso, a escola e a família). “Assim, a condição menos favorável para o desenvolvimento é aquela em que os vínculos suplementares ou não são apoiadores ou estão completamente ausentes – quando o mesossistema está fragilmente vinculado.” (Bronfenbrenner, 2002, p. 165).
O modo com que o vínculo se apresenta tem relevância para sua concretização e eficiência. Para Bronfenbrenner (2002, p. 168), a confiança deve ser bilateral, com objetivos mútuos e poderes balanceados, permanentemente voltado à benesse do desenvolvimento infantil. A brecha aberta pela falta de reciprocidade distancia as instituições e debilita suas relações ao embasá-las em hierarquia e falta de confiança.
A relevância da relação escola e família é posta à luz por Bronfenbrenner paralelamente aos desafios dessa díade. O contexto ecológico no qual os cuidadores estão inseridos traz consigo uma complexidade, especialmente concernente à globalização, responsável pela diminuição da eficácia, tanto do relacionamento pai-filho, quanto da família-escola. As interações são prejudicadas pelo contexto devido à fadiga laboral, ao tempo escasso de descanso, às múltiplas obrigações e ao uso da tecnologia como entretenimento e como suprimento da ausência dos pais.
A problemática mencionada leva à inevitabilidade dos professores estarem inteirados aos cenários familiares dos estudantes, pois devem considerá-los e entendê-los como um dos influenciadores (positiva ou negativamente) da aquisição de conhecimento e participação no processo escolar (Bronfenbrenner, 2011).
Uma exemplificação da lógica da teoria bioecológica é relativa às condições sociais e econômicas dos pais. Uma família com baixo nível de escolaridade, em vulnerabilidade social, enfrenta maiores dificuldades em auxiliar os filhos, enquanto pais mais abastados saem-se melhor ao apoiá-los nas atividades escolares. Defrontar desafios como esse, além dos demais associados ao micro, meso e exossistema, é uma ação indispensável à escola. Em contraste, quando os pais têm conhecimento das dificuldades da instituição acadêmica, sentem-se propensos a coadjuvar com o melhor andamento dela (Valle e Coronel, 2021).
Em uma conjuntura na qual os desafios são vencidos, percebe-se uma integração benéfica ao progresso escolar dos estudantes a nível social, cognitivo, afetivo e outros aspectos de sua personalidade. O bom relacionamento entre o núcleo escolar e familiar resulta no desenvolvimento integral de crianças e jovens, criando, assim, a junção de dois microssistemas com grande potencial desenvolvimental.
Dessa forma, dentre as diversas funções do papel social familiar, o educar e o cuidar vêm sendo compartilhados com escola, o que tem tornado a relação de ambas reflexiva para aqueles que se preocupam com a educação, com o desenvolvimento humano e para onde caminha a sociedade (Valle e Coronel, 2021, p. 333).
Cabe ressaltar um ponto-chave que colabora com o enfraquecimento da vinculação aqui referida. De acordo com Bronfenbrenner (2011), existe uma resistência, por parte dos profissionais da escola, em compreender os pais e de assumir a responsabilidade de apoiá-los. O teórico referencia o resultado dessa postura e cita os episódios de criminalidade, fracasso escolar, discentes vítimas de negligência e de relacionamentos problemáticos e outras tendências advindas da falta de entendimento e intervenção dos docentes perante ao microssistema familiar.
A falta de integração efetiva entre família e escola ainda representa um desafio significativo, transformações culturais nas instituições educacionais são necessárias para incorporar de maneira mais eficaz as contribuições familiares no processo educativo. Para lidar com as crises educacionais contemporâneas, como violência escolar e falta de apoio comunitário, é essencial implementar políticas educacionais que promovam uma parceria eficaz entre família e escola.
Como enfrentamento aos impasses, “os estudiosos podem tentar corrigir ou ao menos amenizar esses problemas, partilhando os seus conhecimentos com as decisões políticas, como cidadãos e realizando pesquisas que orientem e avaliem novas políticas e práticas.” (Bronfenbrenner, 2019, p. 221).
Ainda ressaltando a abordagem bioecológica do desenvolvimento humano, é válido destacar que ela fornece uma compreensão abrangente e integrada dos múltiplos fatores que influenciam o desenvolvimento da criança. Desse modo, reconhecer a interconexão entre os diferentes sistemas nos quais a criança está inserida permite a criação de ambientes mais favoráveis e estratégias de intervenção mais eficazes, promovendo um desenvolvimento saudável e equilibrado.
Propondo uma dinâmica de enfrentamento às adversidades anteriormente explanadas, Dessen e Polonia (2007) indicam a autoanálise dos dois microssistemas em questão. A relação, então, deve ser identificada, analisada e aprendida, objetivando um entendimento mais claro das características desses ambientes. Na prática, compreender a ecologia do desenvolvimento humano permite a criação de intervenções e políticas que visam melhorar os ambientes de desenvolvimento da criança.
A teoria bioecológica de Bronfenbrenner oferece um arcabouço teórico robusto para entender as interações complexas, integrando a perspectiva com a análise das relações familiares e escolares, sendo possível desenvolver estratégias mais eficazes para promover um ambiente educacional inclusivo e de sucesso para todos os estudantes, e este marco teórico ilustra como a teoria bioecológica de Bronfenbrenner pode ser aplicada para enriquecer a compreensão das dinâmicas entre família e escola, contribuindo para práticas educacionais mais integradas e colaborativas.
Algumas aplicações incluem: Programas de apoio parental: oferecer recursos e treinamento para melhorar as práticas parentais e o ambiente doméstico; Parcerias entre escola e família: promover a comunicação e a colaboração entre pais e professores para apoiar o desenvolvimento acadêmico e social da criança; Políticas públicas: desenvolver políticas que proporcionem suporte financeiro, acesso a serviços de saúde e educação de qualidade para as famílias.
Rosa, Magalhães e Silveira (2024, págs. 7-8), fomentam as práticas de estreitamento de relação família-escola com as seguintes práticas:
a comunicação transparente, a participação dos pais em projetos de forma frequente, como coorganizadores em parceria com os professores, em feira de ciências, gincanas e atividades socioculturais, por exemplo.
Outros estudos acerca da importância do mesossistema família-escola, como os de Roos e Truccolo (2021), enfatizam a indispensável relação de parceria mútua entre ambos, considerando que eles têm papéis de educadores a serem cumpridos, cada qual com suas funções específicas: acolher e ofertar limites e valores (grupo familiar) e compartilhar conhecimento curricular e promover a socialização com os pares (grupo escolar).
Sob a perspectiva da aprendizagem, Silva, Alencar, Chamon e Souza (2011), entendem que os conhecimentos da vivência familiar podem embasar e contribuir com a aquisição de conhecimentos dos componentes curriculares, e por isso, “é fundamental que sejam implementadas políticas que assegurem a aproximação entre os dois contextos, de maneira a reconhecer suas peculiaridades e também similaridades, sobretudo no tocante aos processos de desenvolvimento.” (Dessen, 2005, p. 29).
Reforçando a pesquisa de Saraiva-Junges e Wagner (2016), segundo Rosa, Magalhães e Silveira (2024, p. 2):
o papel da família como facilitadora do processo de desenvolvimento escolar, seu envolvimento e engajamento como fortalecedora da relação família-escola e as formas de comunicação e participação familiar são vistos como preditores de sucesso escolar; entretanto, as autoras apontam a dificuldade de se estabelecer essa parceria tão necessária.
As pesquisadoras ainda afirmam que, como primeira fonte de transmissão de capital cultural, a família, núcleo que Bronfenbrenner conceitua como microssistema, se incumbe da educação informal, enquanto a escola, outro microssistema, encarrega-se da educação formal, formando um mesossistema comprovadamente ligado à vivência escolar da criança e do adolescente.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo que tem como objetivo, e reconhecer os modos como os espaços no sistema ecológico, especialmente o familiar, influenciam e moldam o desenvolvimento e a aprendizagem do indivíduo. Intenta, ainda, fornecer embasamento teórico para educadores incluírem, em suas práticas pedagógicas, práticas que integrem a participação familiar no processo educativo.
Isso posto, a pesquisa utiliza, como metodologia, a revisão bibliográfica, tendo, como principais fontes de pesquisa, sites de banco de dados científicos, repositórios de universidades e demais plataformas científicas eletrônicas, tendo sido escolhidas por razões de confiabilidade e conteudista, pois tais plataformas indexam pesquisas escolhidas, aprovadas e expostas por revistas científicas comprometidas com a relevância da temática acadêmico-científica dos trabalhos.
Para garantir a qualidade e a expressão do presente estudo, foram incluídas pesquisas que validassem as afirmações apresentadas sobre a temática abordada. Assim, as pesquisas escolhidas impreterivelmente corroboram significativamente com o contexto aqui tratado, devido aos seus conteúdos embasarem, de maneira científica clara e fundamentada, especialmente quanto às teorias de Bronfenbrenner, este estudo.
Por outro lado, foram excluídos artigos cujo conteúdo não se alinhava aos objetivos desta pesquisa e/ou não apresentavam méritos substantivos suficientes para desenvolver um estudo devidamente apoiado em pesquisas robustas, as quais pudessem fundamentar teorias e conclusões com clareza. Em outros termos, excluiu-se pesquisas consideradas pouco fundamentadas e que não contribuem com os objetivos desta.
Os principais descritores utilizados para compor o presente estudo foram “Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano”, “relação entre escola e família” “bioecologia do desenvolvimento humano” e “importância da família no contexto escolar.” Desse modo, foram lidas 32 pesquisas, escolhidas por meio do resumo, o qual devia relacionar-se às teorias e às finalidades deste estudo, mas escolhidos apenas 19 fontes de pesquisa, entre livros e artigos de revistas científicas, considerados com conteúdo suficiente para embasar, clara e substancialmente, os principais objetivos descritos na introdução deste trabalho, especialmente a influência da relação família-escola e seus impactos na aprendizagem do estudante, conforme a teoria de Bronfenbrenner.
Contudo, excluíram-se os artigos cuja qualidade acadêmica foi desconsiderada abaixo do esperado ou não fundamentam as temáticas do referencial teórico aqui apresentado, e em razão disso, esta pesquisa não utilizou de critérios referente aos anos de publicação, pois, comparando pesquisas mais atuais de anos anteriores, se considerou a última opção como de melhor qualidade e relevância aos objetivos do presente estudo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para entender a qualidade da educação e os fatores que impactam o desempenho escolar, é essencial analisar estudos que forneçam uma visão detalhada das dinâmicas envolvidas. Nesse contexto, o Laboratório Latinoamericano de Avaliação da Qualidade da Educação (LLECE), intitulado “Terceiro Estudo Regional Comparativo e Explicativo” (TERCE), avaliou, em 2013, o desempenho escolar de alunos do 4º e 7º Ano do Ensino Fundamental nas disciplinas de matemática, linguagem e ciências naturais e como (ou se) os pais influenciam os resultados.
Em 25 estados brasileiros, o envolvimento dos pais culminou em um resultado favorável, com média e desempenho escolar satisfatórios. Por outro lado, aqueles em maior vulnerabilidade econômica e relações sociais desfavorecidas, a performance foi significativamente menor. “Além disso, esse estudo demonstra o papel da expectativa e acompanhamento parental sobre o desempenho acadêmico dos filhos, pois quando ela é alta, em decorrência os resultados obtidos são melhores (Relatório Nacional, 2015).” (Rosa, Magalhães e Silveira, 2024).
Todos os pesquisadores abordados na concepção deste estudo fundamentam e atestam a relevância de integrar a família ao ambiente acadêmico. Conforme discutido por Rosa, Magalhães e Silveira (2024), a parceria entre familiares e profissionais da educação impactam o sucesso escolar a partir do aumento das chances de um aprendizado mais eficiente e exitoso, com destaque para a ascendência dos níveis cognitivos, afetivos, sociais e de personalidade aos estudantes, além de motivar, segundo Machado, Yunes e Silva (2014), a formação continuada dos professores, por meio dos processos proximais, que são considerados mecanismos importantes para o desenvolvimento humano, tanto dentro da escola, quanto em outros contextos sociais, pois o engajamento dos professores e a regularidade das atividades formativas são fatores que favorecem discussões coletivas cada vez mais complexas, promovendo o crescimento dos indivíduos envolvidos nesse processo.
Em concordância com o fato exposto, Andrade e Raitz (2012) avaliaram os motivos que levaram duas escolas (uma no estado do Paraná e outra em Santa Catarina), a alcançarem os melhores resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2009. Segundo a investigação, as pesquisadoras encontraram um ponto especial em comum, relevante à conquista das duas instituições: a participação e a divisão de responsabilidades entre família, docentes e estudantes, e os esforços da gestão escolar, professores, pais e comunidade quanto ao aumento e o mantimento da qualidade do ensino.
Esse recorte científico-educacional manifesta e atesta a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano desenvolvida por Bronfenbrenner (1979), por comprovar, que ainda que a escola disponha de um bom programa curricular, os processos de ensino e aprendizagem são mais efetivos quando se tem a interação, apoio e atenção dos familiares. Com a influência de tal ambiente ecológico, o maior responsável pelo desenvolvimento humano, as crianças estão mais propensas à evolução escolar e demais aspectos relacionados à educação, como o desenvolvimento cognitivo, a formação de habilidades sociais, a construção da identidade, a internalização de normas sociais etc. Assim, o autor reforça que os ambientes familiares e escolares, quando bem integrados, potencializam o desenvolvimento de habilidades cognitivas, afetivas e sociais dos estudantes, contribuindo para seu sucesso acadêmico.
Reiterando os conceitos e as elucidações acerca da importância da família até aqui expostas, deve-se ressaltar o papel da escola como a principal encarregada em promover a aproximação e a participação dos pais e desapegar-se da ideia de que a interação deve partir, primeiramente, dos pais. Na contração desse ideal, a instituição acadêmica deve se valer de seu preparo e conhecimentos para desempenhar o papel de interlocutor entre os dois microssistemas. Os pais, por sua vez, se recompensam com o sucesso de seus filhos e se sentem mais motivados a continuarem e fortalecerem a parceria escola e família (Rosa, Magalhães e Silveira, 2024).
Os estudo supracitados, destacam a importância do apoio familiar como fator facilitador no processo de aprendizagem e a teoria bioecológica de Bronfenbrenner reflete os resultados encontrados ao longo desta pesquisa, e anteriormente mencionados, em vista do destaque dado ao mesossistema, o entrosamento entre o ambiente escolar e o familiar, como uma relação essencial ao desenvolvimento infantil integral.
Os estudos de Valle e Coronel (2021) e Rosa, Magalhães e Silveira (2024) enfatizam que tal associação faz-se proveitosa para a aprendizagem curricular, mas ainda alcança aspectos desenvolvimentais pessoais e sociais das crianças.
Embora os benefícios sejam consensuais entre os pesquisadores, vale ressaltar que, como bem pontuado por Luisa Monti (2015), a colaboração entre o conjunto familiar e acadêmico não deve ser superficial ou ocasionais, conforme demandas esporádicas. O envolvimento da família deve se efetivar a ponto de tornar-se uma cultura de envolvimento contínuo. Nesse cenário, a instituição escolar, conforme Monti (2015), precisa desempenhar um papel maior do que o de mediador de organização de eventos ou de reuniões previstas no calendário. A equipe multiprofissional escolar deve favorecer a participação integral no cotidiano, a partir de determinadas ações, como as que esclarecem Dessen e Polonia (2007) em relação aos programas de apoio parental, visando oferecer recursos e treinamento para melhorar práticas parentais. Para Rosa, Magalhães e Silveira (2024), outras sugestões referem-se à comunicação transparente, a participação ativa dos pais em projetos escolares e o co-organizamento de eventos socioculturais.
Por outro lado, segundo Silva (2009), caso os profissionais da gestão e os docentes não estiverem preparados para compreender as diferentes realidades das famílias por meio de uma visão empática, não serão capazes de envolver-se ativa e eficazmente com elas. Quando isso ocorre, Bronfenbrenner esclarece que o desempenho escolar é desfavorecido. Uma relação dificultosa ou debilitada entre família e escola propicia a fragilização do desempenho escolar. Conforme os estudos de Valle e Coronel (2021), isso ocorre especialmente em famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica.
Consoante aos estudos dos pesquisadores, há uma lacuna, em questão de êxito acadêmico, entre as diferentes classes sociais, no qual os mais vulneráveis são os maiores prejudicados. Isso deve-se ao fato de que pais de famílias com baixa escolaridade ou em situação de vulnerabilidade social têm mais dificuldade em auxiliar os filhos nas atividades escolares.
Para superar desafios como esse, Dessen e Polonia (2007), reiteram a importância de fortalecer a relação família-escola, e em razão disso, destacam a necessidade de compreender as particularidades e as demandas de ambos microssistemas. Ademais, as pesquisas em questão reforçam a capacitação dos profissionais das instituições escolares acerca do entendimento da diversidade familiar e de estratégias de trato e acolhimento delas.
Os resultados da pesquisa evidenciam o impacto positivo da relação entre família e escola. Nesse contexto, a literatura revisada expõe a necessidade de promover uma boa comunicação e colaboração entre ambos núcleos, a fim de promover a progressão do desenvolvimento acadêmico e social. Juntos, os ambientes domésticos e acadêmicos favorecem a aprendizagem, e cabe ressaltar que colaboram com o desenvolvimento humano em sua totalidade.
5. CONCLUSÃO
Como conclusão, tem-se a clareza de que os objetivos propostos neste artigo foram alcançados, pois foi possível responder ao questionamento norteador deste estudo, que consistiu em compreender como a influência dos espaços no sistema bioecológico, especialmente o familiar, afeta e molda a aprendizagem do indivíduo. Desse modo, as análises aqui apresentadas esclarecem que o bom relacionamento entre escola e família impacta positivamente o desempenho escolar das crianças, bem como o desenvolvimento social delas, conforme a teoria bioecológica de Bronfenbrenner.
Os microssistemas escola e família formam um mesossistema essencial para o desenvolvimento infantil. Por um lado, um contexto familiar embasado em suporte emocional e em outros aspectos que favorecem a estabilidade integral da criança é primordial para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo dela. O microssistema familiar ganha ainda mais destaque na infância, pois, conforme a teoria bioecológica, ele se refere às primeiras e principais interações sociais da criança, ambientes nos quais ela se espelha para moldar seu comportamento diante de conceitos, regras e práticas. É, portanto, o núcleo em que se iniciam os processos de socialização.
Por outro lado, o microssistema escolar, responsável pela função educacional e conteudista, igualmente desempenha e aprimora funções sociais, considerando a troca cotidiana com pares de diferentes realidades e personalidades. A união entre os dois microssistemas em questão, forma um mesossistema rico em contextos capazes de promover e aperfeiçoar aspectos sociais, cognitivos e afetivos. Nesse quadro, as duas instituições atuam complementarmente, visto que são, cada uma em sua perspectiva, responsáveis pelo desenvolvimento humano.
A teoria bioecológica, ao reconhecer os variados fatores que impactam o desenvolvimento infantil e a associação entre os sistemas, possibilita a criação de intervenções assertivas para o progresso dos indivíduos, como no desempenho escolar. Entendê-la é compreender família e escola como ambientes fundamentais, embora complexos e desafiadores, para promover uma vivência escolar bem-sucedida, a partir de determinadas práticas. Por exemplo, conclui-se que programas de apoio parental, diálogo transparente, escuta ativa, envolvimento em projetos escolares e co-organização de eventos socioculturais reforçam a referida parceria.
Adicionalmente, a gestão escolar e os docentes devem compreender as diferentes realidades familiares, para que a relação parta de um princípio humanizador e empático. Isso se revela ainda mais fundamental nos casos de famílias social e economicamente vulneráveis, diante da maior dificuldade que estas enfrentam em auxiliar as crianças em atividades escolares.
A proatividade das escolas deve ultrapassar a comunicação feita em eventos pontuais, como festas comemorativas e reuniões de devolutivas acadêmicas, oferecendo espaços de diálogo contínuo e de ações conjuntas. A relação, portanto, deixa de ser episódica e passa a ser fortalecida como uma cultura contínua, baseada na colaboração cotidiana, capaz de promover a aprendizagem e o desenvolvimento infantil integral: social, cognitivo e intelectual.
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1Discente do Curso Superior de Licenciatura em Pedagogia, da Universidade Estadual do Paraná, Campus Paranaguá. e-mail: caroline.mmsantos63@gmail.com
2Docente Colaboradora do Colegiado de Pedagogia, da Universidade Estadual do Paraná, (UNESPAR) – Campus Paranaguá. Doutora em Educação em 04/2017 (PPGE/UFPR). e-mail: iare.cooper@unespar.edu.br