REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411192349
Rogério Galvão de Carvalho
RESUMO
O artigo tem como objetivo fundamentar o novo paradigma, sobre a “hipótese da racionalidade econômica” voltada para os problemas e dilemas econômicos do terceiro milênio. A proposta é iniciar de forma definitiva, uma avaliação sobre a aplicabilidade da hipótese convencional da racionalidade econômica, descrita por diversas teorias de decisão econômica dos agentes, adequada aos problemas socioeconômicos do século XXI. O ponto principal desse artigo é sedimentar o trajeto para uma “alternativa”, no que se refere aos processos econômicos (da produção, do consumo, ou da regulação) das escolhas dos agentes (empresas, consumidores e governos). Para isso, o artigo se valeu das críticas epistemológicas associadas ao paradigma da maximização do auto-interesse como única e exclusiva forma de racionalidade econômica possível; das predições sobre os desafios socioeconômicos do século XXI; da ineficiência preditiva de modelos econométricos especialmente no curto prazo; da Agenda 2030 da ONU, como framework, e da formulação do constructo do “nível de racionalidade econômica”, das escolhas dos agentes, com base na “aplicabilidade da hipótese da racionalidade” econômica, utilizando três das teorias de decisão econômica: A da Escolha Racional; a da Racionalidade Limitada; e a do Prospecto.
Classificação JEL: C44, D01, O15, Q01
Palavras-chave: Racionalidade Econômica, Escolha Racional, Racionalidade Limitada, Teoria do Prospecto, Desenvolvimento Econômico.
INTRODUÇÃO
A partir da fragilidade epistemológica da “hipótese da racionalidade econômica” cuja ideia central é a maximização do auto-interesse de cada um dos agentes econômicos, relatada na pesquisa, pode-se estabelecer a necessidade da construção mais bem fundamentada de uma nova hipótese da racionalidade econômica. Por esse motivo, o artigo pretende contribuir para propiciar pesquisas empíricas a respeito dos desafios socioeconómicos do século XXI, cujas respostas não são suportadas pelo pensamento econômico convencional.
A contribuição desse artigo é a elaboração do constructo do nível de racionalidade econômica dos agentes; que seja útil, para que a Hipótese da Racionalidade Econômica – HRE, seja considerada como uma hipótese e não como uma premissa. Já que hipótese, por definição, é uma suposição que pode ser testada por meio de experimentação. Na metodologia científica, de acordo com GIL (2008) as hipóteses são declarações provisórias sobre a reação entre duas ou mais variáveis. Além disso, são formuladas com base em observações preliminares, teorias existentes, ou intuições do pesquisador. Sua principal característica, ainda segundo o autor, é a de poder ser testável e passível de ser confirmada ou refutada, mediante coleta de dados.
Por outro lado, segundo Gil (2008), uma premissa é uma proposição que serve de base para um argumento e que sustentam a estrutura lógica de uma teoria, ou hipótese. Diferente da hipótese, que precisa ser testada, as premissas são frequentemente aceitas sem a necessidade de teste direto, pois são pontos de partida do raciocínio. Como a hipótese da racionalidade econômica não é (ou não deveria ser) uma premissa, ainda que milenar, deve ser colocada como hipótese nula, nos experimentos científicos do século XXI.
A construção dessa estrutura conceitual pretende ser capaz de fornecer uma base teórica e metodológica que oriente pesquisas futuras, ajudando a organizar e interpretar informações de maneira coerente e sistemática, no que tange ao propósito científico apresentado, isto é, demonstrar a fragilidade da referida hipótese.
A partir da avaliação da aplicabilidade da hipótese tradicional de racionalidade econômica (com foco na maximização do auto-interesse do agente ao tomar decisões econômicas), cuja finalidade será, principalmente subsidiar estudos empíricos a respeito: a) da crítica de Amartya Sen à hipótese da racionalidade económica convencional (baseada na maximização do auto-interesse); (b) dos problemas sociais econômicos e ambientais reais do século XXI, contidos na Agenda 2030 da ONU; (c) do prenúncio de Yuval Noah Harari; e (d) das perspectivas epistemológicas de Thomas Kuhn e Karl Popper.
Além disso, é visível que a maximização do auto-interesse, contida naquela hipótese convencional, tem pouca aplicabilidade para as problemáticas, do início do terceiro milênio estabelecidas, por exemplo, nas 169 (cento e sessenta e nove) metas globais, referentes aos 17 (dezessete) Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), dispostos em 05 (cinco) pilares (pessoas, planeta, prosperidade, paz e parcerias) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), cujo número de países signatários é de 183 (cento e oitenta e três).
REFERENCIAL TEÓRICO
De forma sumarizada, segundo Popper (1934) e Toulmin (1958), uma hipótese é uma proposição especulativa que se aceita provisoriamente como ponto de partida de uma investigação. Sua característica é ser mais flexível, podendo ser ajustada ou descartada com base em novos dados. Geralmente, é apresentada nos artigos científicos como uma pergunta, que pode ser validada ou não utilizando o método científico de investigação.
Por outro lado, uma premissa é uma afirmação que serve como base para um argumento ou raciocínio. É uma proposição que se supõe verdadeira para chegar a uma conclusão, sendo fundamental para a lógica e o processo de inferência. Diferentemente das hipóteses, as premissas não são necessariamente provisórias; muitas vezes, são consideradas verdades estabelecidas. Assim, enquanto as hipóteses são suposições iniciais a serem testadas, as premissas sustentam um argumento ou raciocínio em si.
As escolhas ótimas, são definidas pela Teoria da Escolha Racional, cujo nível de racionalidade dos agentes seria alto. Segundo Downs (1999), para a Teoria da Escolha Racional, há dois momentos importantes: (1) a descoberta de quais objetivos o agente econômico que toma a decisão está perseguindo; e (2) a análise de quais são os meios mais razoáveis para alcançá-los. Segundo o autor, o termo “racional” refere-se a este segundo momento, cuja concepção de um “agente racional” está relacionada àquele que se move em direção às metas estabelecidas gastando o mínimo de recursos possíveis. A premissa é que o agente econômico (consumidor, empresário ou governamental) “racional” tenha um desempenho superior ao agente econômico “irracional”, pois o primeiro tende a ser mais eficiente que o segundo.
Becker (1976), em sua obra The Economic Approach to Human Behavior, apresenta uma ideia denominada “abordagem econômica do comportamento humano”, na qual estabelece que o comportamento otimizador dos indivíduos (maximizar benefícios e minimizar custos) não se aplica apenas às escolhas relacionadas ao consumo de bens e serviços econômicos, mas pode ser aplicado a aspectos da vida como, por exemplo: saúde, educação, prestígio e desejos em geral.
Ainda de acordo com Becker (1976), apesar do conceito teórico “ciência da alocação de recursos escassos para a satisfação de necessidades” atribuído à ciência econômica, esses recursos não devem ser entendidos apenas como recursos materiais, nem as necessidades apenas como necessidades materiais. Essa abordagem econômica assume que o comportamento otimizador (maximizar benefícios e minimizar custos) do indivíduo não está restrito aos “bens e serviços econômicos”, cujas preferências individuais são estáveis ao longo do tempo, ou seja, não se referem exclusivamente à concepção de mercado. Na abordagem, a economia não analisa condutas racionais, mas afirma que toda conduta racional é um tipo de comportamento econômico. Portanto, qualquer tipo de conduta ou comportamento pode se tornar objeto de análise econômica.
No que diz respeito à consolidação da Teoria da Escolha Racional, para as aplicações na ciência econômica, de acordo com Fernandez e Bèrni (2014), a Teoria da Escolha Racional se baseia na hipótese de racionalidade econômica, que consiste em uma série de premissas que tratam da criação de um “fragmento” do Homo sapiens, uma espécie de Homo economicus, que para fazer suas escolhas, durante o processo econômico decisório, obedece a uma série de pressupostos, que garantem que essas escolhas sejam sempre uma “escolha ótima”.
Segundo Arrow (1987), por exemplo, em seu artigo “Economic Theory and the Hypothesis of Rationality”, onde analisa algumas das formas em que a hipótese da racionalidade é aplicada na teoria econômica. Demonstra-se que a racionalidade adquire sua força e significado do contexto social em que está inserida e é mais plausível em condições ideais.
Os outros dois níveis são definidos ou pela Teoria da Racionalidade Limitada, cujas escolhas dos agentes seriam razoáveis e o nível de racionalidade de moderado; ou pela Teoria do Prospecto, escolhas ruins e nível de racionalidade baixo.
Segundo Simon (1978), o processo de escolha de um agente econômico envolve três fases: (1) determinar as estratégias possíveis no momento; (2) enumerar as possíveis consequências dessa escolha; (3) e escolher a melhor alternativa ponderando as escolhas e suas possíveis consequências. O autor destaca que é impossível que o agente econômico otimize a escolha de forma recursiva, precisamente porque se requer de forma instantânea e exige um conhecimento prévio de todas as alternativas e consequências.
Assim, essa teoria aborda as escolhas individuais dos agentes econômicos em situações complexas e incertas. Mas, apesar das limitações cognitivas que os impedem de processar todas as informações disponíveis e tomar decisões completamente racionais, os agentes buscam soluções satisfatórias, ou seja, aquelas que atendem às suas necessidades imediatas, levando em consideração as limitações de tempo, recursos e conhecimentos. Essa perspectiva teórica reconhece a simplificação do processo de tomada de decisão, o uso de heurísticas e a minimização da influência de fatores emocionais e sociais nas escolhas.
Com o tempo, a evolução cognitiva e o uso de novos processos tecnológicos nos permitiram compreender essas limitações, o que nos ajuda a melhorar nossos processos de tomada de decisão e a alcançar resultados mais eficazes, mesmo que não coincidam com os previstos pela Teoria da Escolha Racional.
A Teoria do Prospecto, por sua vez, aborda diretamente as más escolhas, com um baixo nível de racionalidade econômica, que são consideradas ruins porque não representam o que os economistas pretendiam que os seres humanos fizessem. Também se escolheu esta teoria pela mesma razão que as demais: é a teoria que finaliza o raciocínio para elaborar — formulando um construto baseado nessas três teorias e de acordo com a hipótese de racionalidade econômica — o conceito de nível de racionalidade das escolhas econômicas (especialmente as feitas instantaneamente), e este conceito será tratado mais adiante neste texto.
As escolhas são marcadas pelo viés e pela assimetria de informações. Completar o modelo econômico da pesquisa: o modelo em que a escolha econômica pode ser: (1) ótima, segundo a Teoria da Escolha Racional; (2) satisfatória, segundo a Teoria da Racionalidade Limitada; ou (3) ruim, segundo a Teoria das Perspectivas.
Na primeira, a hipótese de racionalidade econômica é plenamente aplicável (em todo o conteúdo de cada uma das oito premissas). Na segunda, aplica-se com reservas, ou seja, as escolhas são satisfatórias (sem viés de escolha, mas sujeitas à assimetria de informações). Na terceira, a do prospecto, as escolhas são ruins (porque são fortemente influenciadas por aspectos comportamentais e éticos), portanto, para essa corrente, a aplicação dessa hipótese para representar as escolhas econômicas não é factível: inaplicabilidade da hipótese de racionalidade econômica e de suas premissas.
Nesse sentido, a Teoria do Prospecto, proposta por Daniel Kahneman e Amos Tversky (1979), sugere que os indivíduos tomam decisões com base em heurísticas e vieses cognitivos, levando em consideração perdas e ganhos potenciais. Assim, nesse caso, as escolhas econômicas seriam subótimas, pois além da assimetria de informações haveria viés na escolha, sendo, portanto, consideradas “ruins”. Propõe a inaplicabilidade da hipótese de racionalidade para os mesmos fins, no mesmo contexto.
Ao longo dos anos, Tversky e Kahneman (1981), Dosi e Egidi (1991) e Kreps (1990) demonstraram, em seus estudos, que a premissa central da Teoria da Escolha Racional não pode ser considerada um pressuposto válido para descrever ou explicar plenamente o comportamento econômico do homem em termos de escolha nos processos decisórios. Segundo os autores, essa é uma razão mais que suficiente para questionar a validade de uma hipótese.
Segundo Kahneman et al. (1986), conforme descrevem no artigo “Fairness and the Assumptions of Economics”, a Teoria do Prospecto (ou Teoria Prospectiva) era a teoria alternativa à Teoria da Escolha Racional quanto à aplicabilidade da “hipótese de racionalidade econômica”, no que realmente funciona, para entender, descrever ou explicar a “escolha” real dos agentes (consumidores, produtores ou governos) no processo econômico decisório e não como os economistas pensavam que os agentes deveriam escolher.
Pode-se deduzir, portanto, que as teorias econômicas do Prospecto, da Racionalidade Limitada e da Escolha Racional, associadas à tomada de decisão dos agentes econômicos, oferecem abordagens distintas e complementares para compreender como as pessoas escolhem. A Teoria do Prospecto destaca a influência dos fatores psicológicos, enquanto a Teoria da Racionalidade Limitada reconhece as limitações cognitivas associadas essencialmente ao tempo necessário para realizar uma escolha, que não corresponde ao tempo suficiente para analisar todas as possibilidades, sendo necessário escolher entre as disponíveis para cada agente. Por outro lado, na Teoria da Escolha Racional, o agente maximiza o interesse próprio de forma lógica. Portanto, a aplicabilidade da hipótese de racionalidade econômica varia conforme a teoria considerada.
Segundo Sen (1999), existe um problema lógico na premissa de que a maximização do interesse próprio seja a única e exclusiva forma de racionalidade econômica. A maximização do interesse próprio refere-se à busca deliberada de ações destinadas a aumentar o próprio benefício ou satisfação pessoal. Essa perspectiva não é a única abordagem na teoria econômica, mas, infelizmente, segundo o autor, é o pensamento dominante entre os economistas. Há, no entanto, outros pontos de vista que consideram compromissos, identidades sociais e raciocínios públicos, entre outros aspectos.
De acordo com o autor, a premissa de que a maximização do interesse próprio implica em racionalidade econômica está correta e é inquestionável. O problema, em sua visão, é a inexistência de uma prova de que toda racionalidade econômica provenha única e exclusivamente da maximização do interesse próprio, ou seja, toda maximização do interesse próprio implica racionalidade econômica, mas o inverso não foi comprovado. Por exemplo, questões coletivas que não maximizam o interesse próprio, segundo Sen (1987), são reais e não estão contempladas na premissa do pensamento econômico convencional sobre o processo decisório.
Trata-se da falácia da generalização inadequada, ou seja, fez-se uma ampla generalização a partir de um exemplo concreto, ignorando nuances ou exceções na complexidade filosófica da ética em particular. Assim, investigações e reflexões sobre questões morais, princípios, valores e comportamento humano foram ignoradas. Esse tipo de raciocínio simplista pode levar a conclusões erradas e distorcer a compreensão de um conceito, conforme defende Sen (1987). Um dos principais problemas dessa falácia é a suposição de que um único caso represente toda uma categoria. Por exemplo, “toda racionalidade econômica está associada à maximização do eu” baseada em alguns poucos casos é uma generalização inadequada. A racionalidade econômica existe sem a maximização do interesse próprio, mas a falácia da generalização ignora essa diversidade.
Segundo Harari (2021), o terceiro milênio inaugura a era em que os maiores Desafios Socioeconômicos são: (1) será vital, na agenda global, a inclusão do debate sobre o agravamento das mudanças climáticas; (2) a desigualdade socioeconômica na economia datacentrista é um desafio ainda maior, pois, nesse contexto, amplia-se a lacuna entre os que têm acesso aos dados e os que não têm; (3) o avanço da inteligência artificial e da automação apresenta a possibilidade real do desemprego estrutural da inteligência humana no processo produtivo, uma vez que a superioridade cognitiva e de análise de dados da Inteligência Artificial sobre a Inteligência Homo sapiens provocará o emprego do insumo mais eficiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Já que que a hipótese da racionalidade econômica tradicional define que os agentes econômicos são racionais se, e somente se, valerem nas suas decisões instantâneas da maximização do auto-interesse, conforme preconiza, por exemplo, a Teoria da Escolha Racional, de Gary Becker.
Então, elaborou-se uma construção teórica, um constructo de diferentes níveis de racionalidade econômica no que tange as escolhas dos agentes no processo econômico decisório: Nível alto; Nível moderado; Nível Baixo. Esses níveis estão relacionados a três das teorias econômicas da decisão: Teoria da Escolha Racional; Teoria da Racionalidade Limitada; e Teoria do Prospecto. Além disso, associadas a três tipos de escolhas de acordo com a Hipótese da Racionalidade Econômica HRE: “ótimas”, “satisfatórias” e “ruins”.
Com base na Teoria da Escolha Racional cada agente econômico, faz sua escolha focado na maximização do auto-interesse; livre de viés de escolha e contando com informações completas, isto é, aplicabilidade plena da HRE. Nesse caso a escolha é “ótima” e o nível de racionalidade econômica será “alto”.
Por outro lado, com base na Teoria da Racionalidade Limitada, cada agente econômico, faz sua escolha focado na maximização do auto-interesse; livre de viés de escolha, mas sendo limitada por assimetria de informações, isto é, aplicabilidade parcial da HRE. Nesse caso a escolha é “satisfatória” e o nível de racionalidade econômica será “moderado”.
No entanto, há a possibilidade da escolha com base na Teoria do Prospecto, que apesar de o agente econômico fazer sua escolha focado na maximização do auto-interesse, ela contém viés e conta com assimetria de informações (ou informações incompletas), isto é, inaplicabilidade da HRE. Nesse caso a escolha é “ótima” e o nível de racionalidade econômica será “baixo”.
Dado os níveis de racionalidade econômica distintos, pode-se inferir que existem outras questões além da maximização do auto-interesse que deveriam ser investigados como possibilidades para um novo paradigma acerca desse pensamento econômico convencional.
Por outro lado, a hipótese da racionalidade econômica alternativa, priorizaria a maximização do interesse coletivo ético global, em detrimento do que preconiza a hipótese da racionalidade econômica convencional. Uma vez que é curioso a incompatibilidade do nível de racionalidade econômica convencional, com o foco na maximização do auto-interesse, com o desenvolvimento nas suas três dimensões: econômica, social e ambiental.
Se adotarmos um modelo ceteris paribus, para o nível de racionalidade econômica das escolhas dos agentes, com dois insumos: 1) a Inteligência Homo Sapiens (para aqueles que fazem escolhas ruins ou satisfatórias); e 2) a Inteligência Homo Economicus (aqueles que só fazem escolhas ótimas), no longo prazo teremos dois possíveis cenários do ponto de vista econômico, social e ambiental: um harmônico quanto deles forem complementares; ou um caótico quando eles forem substitutos (no tempo infinito, longo prazo, haverá só decisões econômicas eficientes do ponto de vista da maximização do auto-interesse de cada agente econômico).
No cenário hipotético: 1). IHS (Inteligência Homo Sapiens) – racionalidade humana, emoções, valores; 2. IHE (Inteligência Homo Economicus) – lógica econômica, eficiência, maximização de lucro (das empresas) de utilidade (do consumo) e dos interesses governamentais.
Quando os insumos forem substitutos (Cenário Caótico) haverá: aumento de sucessivo de IHE, associada à recursiva redução de IHS. Dessa forma as decisões econômicas seriam baseadas apenas em lógica econômica, ignorando aspectos sociais e ambientais. Com isso, as consequências, ceteris paribus no longo prazo seriam: desigualdade socioeconômica e degradação ambiental. Além disso, instabilidade financeira, desemprego estrutural e uma série de indicadores socioeconômicos ruins.
Por outro lado, quando forem complementares, haverá propensão para um cenário Harmônico, porque com o aumento recursivo da combinação dos insumos, as decisões econômicas serão equilibradas, considerando lógica econômica, valores humanos e sustentabilidade, cujas consequências poderiam ser: desenvolvimento econômico sustentável; justiça social e igualdade; preservação ambiental; estabilidade financeira.
No cenário hipotético, a relação entre IHS e IHE determina o resultado econômico, social e ambiental. Se forem substitutos, o cenário será caótico. Se forem complementares, o cenário será harmônico. Dessa forma, constitui-se numa forte premissa para a incompatibilidade da racionalidade com o foco na maximização do auto-interesse.
Para efeito dos níveis de racionalidade, aborda-se nesse artigo três das teorias econômicas da decisão: 1) a Teoria da Escolha Racional; 2) a da Racionalidade Limitada e a Teoria do Prospecto, cujas racionalidades econômicas do ponto de vista da hipótese da racionalidade econômica (convencional), possuem níveis distintos, respectivamente: alto, moderado e baixo, proporcionando aos agentes econômicos escolhas: ótimas, razoáveis ou ruins.
É provável que a hipótese da racionalidade econômica com foco na maximização do auto-interesse, não se aplica a cada um desses objetivos e metas da Agenda 2030, pelo simples motivo de que esse plano é pautado no interesse coletivo e a partir de aspectos éticos que devem ser maximizados. Desse modo é vital que se busque alternativas para o pensamento econômico científico no terceiro milênio.
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