FINANCIAL VIABILITY OF BRS SOL DO CERRADO PASSION FRUIT FOR SMALL PRODUCERS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411161453
Thalyta Pereira Leao1
Rayane Souza Santos1
Brenda Rodrigues de Souza2
Resumo:
O estudo teve como objetivo avaliar a introdução da cultivar BRS Sol do Cerrado, desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), visando adaptar-se ao clima e ao solo da região do Cerrado. Realizado em Sanclerlândia – Goiás, o experimento foi iniciado em novembro de 2023 com 102 mudas plantadas em uma área de 900 m². Para melhorar a polinização, foi desenvolvido um equipamento específico, possibilitando uma reprodução controlada. O projeto mostrou-se relevante para a economia local, promovendo conhecimento técnico, gerando empregos e abrindo novas oportunidades para o cultivo e comercialização do maracujá na região, além de oferecer materiais reutilizáveis, caracterizando um investimento de longo prazo.
Palavras-chave: Clima, produção, inovação, capacitação, melhoramento
Abstract:
The study aimed to evaluate the introduction of the BRS Sol do Cerrado cultivar, developed by Embrapa, aiming to adapt to the climate and soil of the Cerrado region. Carried out in Sanclerlândia, Goiás, the experiment began in November 2023 with 102 seedlings planted in an area of 900 m².To improve pollination, specific equipment was developed, enabling controlled reproduction. The project proved to be relevant to the local economy, promoting technical knowledge, generating jobs and opening new opportunities for the cultivation and commercialization of passion fruit in the region, in addition to offering reusable materials, representing a long-term investment.
Keywords: Climate, production, innovation, training, improvement
INTRODUÇÃO
O maracujá (Passiflora edulis) é uma fruta tropical amplamente apreciada por seu sabor distintivo e suas propriedades nutricionais. Nos últimos anos, a introdução de novas cultivares, como o BRS Sol do Cerrado, tem se destacado pela adaptação a diferentes condições climáticas e de solo, especialmente nas regiões do Cerrado brasileiro. O BRS Sol do Cerrado é resultado de um trabalho de melhoramento genético promovido pela Embrapa, com o objetivo de desenvolver uma variedade que se adapte bem ao clima e à qualidade do solo dessa região, que é caracterizada por longas estiagens e altas temperaturas (EMBRAPA, 2020).
O maracujá BRS Sol do Cerrado apresenta diversas características que o tornam uma opção promissora para agricultores, como o sabor azedo, que contém altas dosagens de vitaminas (B,B1,B2,C, cálcio e fósforo). (CAMPOS, G. A., SANTOS, D, 2011). Uma das principais vantagens é sua resistência a doenças, como a antracnose e a mancha bacteriana, que são comuns na cultura do maracujá (CARVALHO, 2023).
Além disso, essa cultivar possui uma produtividade superior em relação a outras variedades, com a capacidade de produzir frutos de qualidade elevada, tanto para o consumo in natura quanto para a indústria. Estudos indicam que a cultivar BRS Sol do Cerrado pode alcançar uma produtividade média de até 20 toneladas por hectare, o que é bastante competitivo em comparação com outras cultivares disponíveis no mercado (SILVA, 2019).
A planta também é adaptável a diferentes tipos de solo, embora se destaque em solos bem drenados e com pH adequado. O manejo adequado, incluindo irrigação e adubação, é fundamental para maximizar seu potencial produtivo. Pesquisas demonstram que a cultivar é promissora em termos de qualidade e aceitação no mercado (CARVALHO, 2023).
A adoção do maracujá BRS Sol do Cerrado tem implicações significativas para a agricultura familiar e para a economia regional. Essa cultivar não só aumenta a rentabilidade dos pequenos agricultores, mas também contribui para a diversificação da produção, o que é crucial para a segurança alimentar. O maracujá é uma fruta rica em vitamina C, fibras e compostos antioxidantes, e seu consumo está associado a diversos benefícios à saúde, como a redução do estresse e a melhora da digestão (OLIVEIRA & FIGUEIREDO, 2021).
O cultivo do maracujá também pode gerar empregos e incentivar o desenvolvimento de cadeias produtivas locais, desde a produção até o processamento e a comercialização dos produtos. Além disso, o interesse crescente por frutas tropicais no mercado interno e externo torna o maracujá uma cultura promissora para a exportação, especialmente em um cenário onde há uma valorização crescente por produtos orgânicos e sustentáveis (MARTINS & LIMA, 2022).
O maracujá BRS Sol do Cerrado representa uma importante inovação no setor agrícola, oferecendo oportunidades tanto para a sustentabilidade econômica quanto para a promoção da saúde pública. Através de práticas de cultivo adequadas e a adoção dessa cultivar, é possível não apenas melhorar a produtividade agrícola, mas também fortalecer as comunidades rurais e contribuir para o desenvolvimento econômico das regiões do Cerrado.
Material e métodos
Primeiro ciclo
O projeto foi iniciado em novembro de 2023 com a escolha da variedade de maracujá BRS Sol do Cerrado, utilizando 102 mudas. Selecionamos um local adequado para o plantio, considerando que o maracujazeiro necessita de sol pleno e solo bem drenado.
Utilizamos uma área de aproximadamente 900 metros quadrados. (Figura 1)A limpeza do local foi realizada com uma roçadeira elétrica, mantendo as plantas existentes baixas para proteger o solo contra erosões. A marcação foi feita com espaçamento de 4 metros entre plantas e 2 metros entre linhas. As covas foram abertas com dimensões de 40 cm de largura, comprimento e profundidade. Em seguida, implementamos o coroamento ao redor das covas e preparamos a adubação inicial com 50g de adubo 20-00-20 e 1 litro de cama de frango, misturados com a terra em cada cova, e irrigamos com cerca de 10 litros de água.
Figura 1: Tamanho da área utilizada.
Utilizamos o sistema de condução conhecido como espaldeira vertical com fio de arame, empregando 116 postes de eucalipto tratado e 450 metros de fio de arame número 12. O transplante das mudas foi realizado centralizando-as nas covas. Para o tutoramento, utilizamos barbante, amarrando-o no pecíolo da folha para evitar o estrangulamento do caule (Figura 2).
Duas semanas após o transplante, iniciamos as podas de brotações, mantendo apenas duas guias levadas até o arame, uma para cada lado. Após atingir o arame, medimos cerca de 1,5 metros e cortamos a ponta da guia para o início do crescimento de novos brotos, formando uma cortina de guias. Essa poda foi feita semanalmente.
Realizamos uma adubação com 100g de adubo 05-25-15 por cova. Outra adubação com 100g de sulfato de amônio foi feita a cada 30 dias.
A polinização manual começou com a criação de um equipamento específico, utilizando um cano de 50mm de largura e 5cm de comprimento, com furos feitos por uma furadeira, através dos quais passamos barbante de algodão (Figura 3). A polinização manual foi realizada diariamente à tarde, quando as flores se abriam no período mais quente do dia.
Figura 3:Equipamento criado pela produtora do estudo de caso.
Para criar o polinizador, a produtora utilizou um cano de 50 mm com a largura adequada para os estigmas das flores, usando uma furadeira com uma broca bem fina para fazer muitos furos ao redor do cano, posicionando-os bem próximos uns dos outros.
Depois, foi passado um barbante, pelos buracos do cano, colando o lado de fora e cortando as pontas do barbante do lado de dentro para ajustar o tamanho e evitar que os estigmas se quebrassem. Esse ajuste é algo que pode ser adaptado conforme necessário.
Foi monitorado rigorosamente a presença de formigas cortadeiras e aplicado 25ml de barragem em 20 litros de água como medida preventiva. Para controlar o ataque das lagartas (Figura 4), utilizou 4ml do inseticida Vertimec 84 SC em 20 litros de água.
Figura 4: Lagarta do maracujazeiro
A primeira colheita foi realizada no mês de abril com frutos pesando entre 400g a 600g cada, colhemos aproximadamente 10 frutos por dia. No segundo mês, a colheita foi de 15 a 20kg de frutas a cada dois dias.
Figura 5: Maracujá pesado
Segundo ciclo
No início de julho, realizamos a poda de renovação das plantas de maracujá, um procedimento que visa remover as brotações que já haviam produzido. Esta intervenção é essencial para estimular a emissão de novos brotos, que serão responsáveis pela próxima safra de frutos. A poda de renovação é uma técnica importante, pois ela elimina as partes da planta que já passaram pelo ciclo produtivo, permitindo que a planta se concentre em novas produções, além de melhorar a ventilação e a exposição à luz das partes internas da planta, o que favorece a fotossíntese e o crescimento.
A adubação também foi um ponto crucial para o bom desenvolvimento das plantas após a poda. Utilizamos uma mistura de 150g de adubo 05-25-15 por planta, que possui uma composição equilibrada de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), essenciais para o crescimento saudável e a frutificação do maracujazeiro.
Além do adubo químico, aplicamos 10 litros de cama de frango por planta, uma fonte de nutrientes orgânicos rica em nitrogênio e matéria orgânica, que contribui para o aumento da fertilidade do solo e melhora a estrutura do solo.
Após a realização da poda de renovação e a adubação adequada, o desenvolvimento das plantas foi monitorado, e os primeiros frutos foram colhidos em outubro, um total de 48 kg. Esse período é indicativo de que as plantas responderam bem às práticas adotadas, com a emissão de novos brotos e a formação de frutos de qualidade dentro do esperado para o ciclo de cultivo.
O destaque desse ciclo, porém, foi que, após a implementação dessas técnicas, a produção foi inteiramente de lucro, sem custos adicionais significativos. Não houve gastos com novos insumos ou intervenções externas além dos já utilizados na manutenção das plantas, o que significa que a colheita do primeiro fruto em outubro gerou apenas retornos positivos.
Custos e receitas
Primeiro Ciclo
Tabela 1. Despesas de Materiais para construção da estrutura.
Material | Valor unitário | Quantidade | Valor total |
Poste de eucalipto Tratado | R$16,00 | 116 unidades | R$ 1856,00 |
arame galvanizado | R$00,59/Metro | 422 metros | R$ 248,98 |
Fitilho para condução de plantas | R$67,50 | 1 unidade | R$67,50 |
Alicate de poda | R$ 37,00 | 1 unidade | R$ 37,00 |
Total | R$ 2209,48 |
Tabela 2. Despesas de produtos usado para proteção de plantas.
Produto | Valor unitário | Quantidade | Valor total |
Barrage | R$ 60,00/L | 1 Litro | R$ 60,00 |
fipronil | R$12,00/Kg | 1 Kg | R$ 12,00 |
Vertimec | R$ 200,00/L | 1 Litro | R$ 200,00 |
Total | R$ 272,00 |
Tabela 3. Materiais para Preparação de mudas.
Material | Valor unitário | Quantidade | Valor total |
Mudas de Maracujá | R$ 0,65 | 250 unid | R$ 162,50 |
Sacos para mudas | R$ 0,05 | 270 unid | R$ 13,50 |
Substrato Comercial | R$ 30,00 | 2 sc de 25kg | R$60,00 |
Esterco animal | R$ 300,00/ton | 30 Kg | R$ 9,00 |
Total | R$ 245,00 |
Tabela 4. Materiais para adubação.
Material | Valor unitário | Quantidade | Valor total |
Fertilizante mineral misto (20-00-20) | R$150,00 | 1 saca de 50 Kg | R$ 150,00 |
Fertilizante mineral misto (05-25-15) | R$150,00 | 1 saca de 50 Kg | R$ 150,00 |
Fertilizante mineral Sulfato de amônia | R$ 200,00 | 1 saca de 50 Kg | R$ 200,00 |
Esterco animal cama de aviário curtida | R$ 300,00/tonelada | 970 kg | R$ 291,00 |
Total | R$ 791,00 |
Tabela 5. Receitas da realização de feiras
Material | Valor unitário | Quantidade | Valor total |
Fruta in natura | R$7,5 | 108kg | R$ 810,00 |
Polpa | R$27,00 | 23Kg | R$ 621,00 |
Total | R$ 1.431,00 |
Segundo Ciclo
Tabela 6. Receitas da realização de feiras
Material | Valor unitário | Quantidade | Valor total |
Fruta in natura | R$10,00 | 60 kg | R$ 600,00 |
Polpa | R$27,00 | 0 Kg | R$ 0 |
Total | R$ 600,00 |
Resultados e discussão
Durante a fase inicial, no primeiro ciclo, a produtora teve alguns gastos a mais, ficando assim no vermelho.
Tabela 7. Resultado do primeiro ciclo
Custos | 3.427,48 |
Receitas | 1.432,00 |
Total | – 1.996,48 |
No entanto, com o tempo, adquiriu conhecimento e melhorou os processos. Agora, possui muitos dos materiais necessários já em estoque, o que reduz a necessidade de novos investimentos e, assim, os custos adicionais.
Essa estratégia mostra que o projeto está funcionando bem e que o planejamento está garantindo mais economia e sustentabilidade para o futuro. A mudança para a segunda fase do plantio demonstra compromisso com a eficiência e prova que o investimento inicial foi importante para obter resultados duradouros.
Tabela 8. Resultado do segundo ciclo
Custos | 0 |
Receitas | 600,00 |
Total | + 600,00 |
Foi necessário cessar a produção de polpa de maracujá no segundo ciclo porque a demanda era baixa e o tempo e o esforço para produzi-la eram grandes, além da produção que foi menos por conta do período da seca. Com menos demanda, o esforço para produzir a polpa não valia a pena financeiramente.
A venda local tem sido bem-sucedida, permitindo que atendamos diretamente à comunidade e ajustemos a oferta rapidamente conforme a demanda. O sucesso foi evidente pela venda rápida dos frutos. Com o auxílio das redes sociais, através de postagens.
Em resumo, esse projeto mostra como combinar inovação, boas estratégias de marketing, uma rede eficaz de fornecedores e uma compreensão das necessidades dos consumidores pode criar um modelo de sucesso.
Conclusão
Através do estudo de caso realizado, torna – se explicito o quanto a produção de maracujá foi rentável e positiva para a população da cidade de Sanclerlândia, de modo que seus resultados eminentes, proporcionou além de frutos saborosos produzidos na região, trouxe a oportunidade de novos empregos para a população.
Constatamos que o método de polinização manual adotado foi um grande sucesso. Conseguimos não apenas aplicar a técnica com eficiência, mas também ensinar várias pessoas a replicá-la, compartilhando o conceito por trás do processo. Aqueles que aprenderam conosco demonstraram grande interesse e habilidade, o que se refletiu na qualidade do produto. A melhor parte é que não houve gastos com o polinizador, pois todos os materiais foram reciclados, com produtos encontrados na própria residência.
Embora o maracujá tenha apresentado uma produção inferior no segundo ciclo, em razão das condições climáticas adversas, como a seca, o cultivo resultou em um lucro ainda maior. Isso ocorreu porque, ao contrário do primeiro ciclo, não houve a necessidade de novos gastos com insumos, como adubos ou tratamentos fitossanitários adicionais. Com a realização da poda de renovação e a adubação correta no início do ciclo, conseguimos maximizar os recursos já disponíveis, sem precisar de investimentos extras durante esse período crítico. Assim, mesmo com a redução na quantidade de frutos produzidos, a economia nos custos operacionais resultou em um retorno financeiro mais vantajoso, evidenciando que, em situações como essa, o controle de custos e a adoção de práticas sustentáveis podem gerar lucros mais altos, mesmo quando a produção é menor.
Assim, é indubitável o quanto a produção de maracujá é excelente para aprimorar a economia local, evidente a sua rentabilidade positiva, e a oportunidade para os produtores alcançarem o êxito com técnicas simples, e eficientes. Além de uma grande oportunidade para expandir a produção de maracujá na região, aumentando a produção do fruto em nossa região.
Referências
CARVALHO, D. F. “Análise de qualidade de frutos de maracujá BRS Sol do Cerrado.”HorticulturaBrasileira,41(2),234-240.doi:10.1590/S0102-05362023000200012(2023)
EMBRAPA. “Maracujá: Cultivo e manejo.” Embrapa. 2020.
MARTINS, T. F., & LIMA, J. S. “Potencial econômico do maracujá no Brasil: uma análise do mercado.” Revista Brasileira de Fruticultura, 44(1), 123-135. doi:10.1590/0100-29452022123 (2022)
OLIVEIRA, D. C., & FIGUEIREDO, J. R. “Cultura do maracujá: características, manejo e potencial econômico.” Revista Brasileira de Agricultura, 96(2), 213-225. doi:10.32871/rba. v96n02.07 (2021)
SILVA, A. F., “Desempenho produtivo de cultivares de maracujá em condições de Cerrado.” Científica, 47(3), 307-316. doi:10.28951/cientifica. v47n3.1811 (2019)
CAMPOS, G. A., SANTOS, D. “Maracujá: guia técnico. Embrapa. 2011
1 Graduandas do curso de Engenharia Agronômica, Centro Universitário UniBRAS Montes Belos, São Luís de Montes Belos, Goiás, Brasil.
2 Engenheira Florestal, doutora em agronomia, docente do curso de Engenharia Agronômica, centro universitário UniBRAS Montes Belos, São Luís de Montes Belos, Goiás, Brasil