REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411150355
Jone Clay Custódio Borges1
RESUMO
Os lugares distantes dos centros de maior movimentação geralmente são esquecidos quanto ao atendimento público. As dificuldades de se chegar pode ser um dos motivos que podem ficar esquecidos. Há uma necessidade de se criar condições para amenizar as relações desses lugares. Pode se voltar a melhor distribuição de condições como a estrutura rodoviária. Por muitos anos, até décadas, os caminhos aos lugares não eram de fácil acesso. No Brasil uma indústria automobilística começa já nas décadas de 1950 a 1970 nem todos tinham acesso, a não falar das dificuldades de locomoverem nas estradas, eram raras, e quando existiam eram bastante precárias. Obstáculos naturais como rios também dificultavam a chegada de novos moradores ou visitantes. A região do Distrito de Santo Antônio do Rio Verde era um desses lugares. Difícil acesso e não havia estradas. O caminho mais fácil era a proximidade com as Minas Gerais. Do município de Catalão a passagem era dificultada pelo rio São Marcos, que poderia acontecer em uma simples balsa de madeira. A construção de uma ponte e da rodovia José Matias ampliou as possibilidades de desenvolvimento do lugar, o que vem a poder dizer que Rio Verde se torna o celeiro de Catalão. Histórias marcam essa região contadas por todos como a vivência de Caetanhinha na região e assim o lugar esquecido passa a ter uma notoriedade pelas suas características próprias de um lugar que faz parte não só da economia catalana, mas da economia nacional e quiçá mundial.
Palavras-chave: Distrito, esquecido, transformação.
ABSTRACT
Places far from the busiest centers are generally forgotten in terms of public service. The difficulties in getting there may be one of the reasons why they may be forgotten. There is a need to create conditions to ease relationships in these places. It can be aimed at better distribution of conditions such as the road structure. For many years, even decades, the roads to places were not easily accessible. In Brazil, the automobile industry began in the 1950s to 1970s, not everyone had access, not to mention the difficulties in getting around on the roads, they were rare, and when they did exist they were quite precarious. Natural obstacles such as rivers also made it difficult for new residents or visitors to arrive. The Santo Antônio do Rio Verde District region was one of these places. Difficult to access and there were no roads. The easiest way was the proximity to Minas Gerais. From the municipality of Catalão, passage was made difficult by the São Marcos River, which could have happened on a simple wooden raft. The construction of a bridge and the José Matias highway expanded the development possibilities of the place, which means that Rio Verde became Catalão’s breadbasket. Stories mark this region told by everyone such as Caetanhinha’s experience in the region and thus the forgotten place becomes famous for its own characteristics of a place that is part not only of the Catalan economy, but of the national and perhaps global economy.
Keywords: District, forgotten, transformation.
1. INTRODUÇÃO
2. Distrito de santo antônio do rio verde
Santo Antônio do Rio Verde é um distrito pertencente ao município de Catalão, localizado a cerca de 80 quilômetros da sede. Com cerca de 6.000 habitantes, este distrito tem como principal fonte econômica a agricultura comercial. O Distrito tem sido nos últimos anos esquecido pelo poder público. E devido a essa questão há uma precariedade de benefícios que visam atender a população.
Tendo como via de acesso a BR-050 passando pelo entroncamento de Pires Belo e seguindo a GO -506, o Distrito faz a ligação pela GO – 457 à Minas Gerais, podendo chegar ao município de Guarda -Mor.
Por ser uma região de atividades agrícolas, há uma contínua onda migratória, é um lugar de idas e vindas constantes aproveitando-se dos períodos de geração de emprego, seja nas lavouras de soja, milho ou outras. Pode-se dizer que quanto ao emprego há uma oferta significativa, nas lavouras de soja, na granja do Hélio Benício, na Cocari e nas atividades comerciais locais.
O que pode ser caracterizado como preocupante no Distrito é a validação das ofertas de bem público e em especial a saúde, mesmo passando por um processo de reconstrução, é defasada e em casos de emergência pouco pode se fazer. Outro fator importante é o atendimento com atividades que venham atingir o público jovem, estes sem muito o que te vão pelo mau caminho chegando ao mundo das drogas. É um fato bastante reais adolescentes vivendo essa violação dos direitos da criança e do adolescente.
O contexto histórico é marcado por uma história violenta e cheia de intrigas e desafetos, como exemplo a história da Caetaninha. (explorar o livro do professor Alexandre)
Transformações socioeconômicas do Distrito de Santo Antônio do Rio Verde
O Distrito de Santo Antônio do Rio Verde tem suas origens antes mesmo da formação do que hoje é a área central do município de Catalão. No decorrer do século XVI e XVII há indícios da região onde hoje é o distrito de aventureiros que por ali passavam à procura de pedras preciosas, também de atividades escravas nas fazendas da região.
O tempo passou e o lugar não se desenvolveu como o esperado, ficando esquecido por tempos, e somente a partir dos anos 1970-1980 inicia verdadeiramente uma exploração real das terras da região, fato esse ocorrido pela expansão do capital agropecuário. A chegada de migrantes do sul adquirindo as terras do cerrado a preço barato caracterizou uma significativa transformação econômica do lugar. Como relata SILVA,
Até meados da década de 1970 predominava a ideia de que o Cerrado não possuía capacidade de produção agrícola que atendesse aos interesses comerciais, prestando-se, exclusivamente, à pecuária extensiva de baixa intensidade e ao extrativismo, principalmente, de madeira, destinada para a produção de carvão. Somente a partir desse período foram implementadas políticas públicas de incentivo ao setor agropecuário que resultaram em avanços tecnológicos, possibilitando novas formas de exploração do Cerrado. SILVA, 2019
As terras do cerrado até então eram vistas sem nenhum valor aquisitivo e serviam apenas para a criação de gado. Ou também a exploração vegetal com destino a produção de carvão. Viam-se muitas áreas de carvoarias pelas paisagens do cerrado. No entanto, essa paisagem começa a se modificar.
A paisagem do cerrado se modifica com a intensificação da atividade agrária relacionada principalmente à chegada dos migrantes vindos do Sul, com tradições europeias incorporando suas tradições para a exploração das novas terras. Estes vieram devido principalmente ao sistema de distribuição de terras e ocupação no Sul não ocorrer da maneira que esperavam. Saíram à procura de novas terras, novas oportunidades e novos conhecimentos.
Alves em seu texto explica que:
O fato de possuírem uma forte ligação com a terra facilitou, sobremaneira, o cumprimento dos objetivos traçados para essa colonização. O pouco aprimoramento, em terras brasileiras, dos métodos agrícolas trazidos da Europa e a incorporação de outros, também rudimentares, resultaram num rápido esgotamento do solo e, em consequência, tornou-se necessário avançar sobre novas áreas para continuar produzindo. migração do colono para novas terras diz respeito ao tamanho dos lotes concedidos pelo governo brasileiro, variando de 25 a 30 hectares normalmente em relevo irregular, o que era considerado insuficiente para as características das famílias de imigrantes. ALVES, 2005.
O conhecimento dos colonos com a terra, a falta de acesso a ela e a existência de recursos mais técnicos, não permitindo alcançarem melhores resultados levaram estes a buscar novos lugares e o caminho escolhido foi direcionar ao Norte.
O maior fluxo de expansão ocorre a partir dos anos 1970 com a implantação pelos governos militares de expansão e modernização do campo brasileiro, visando melhor acompanhar o desenvolvimento industrial em ocorrência no Sudeste. Esse fator contribuiria para o avanço industrial no Sudeste, e a demanda de novas aberturas de terras em abastecimento a esta região.
A expansão da modernização da agricultura no Brasil, a partir na década de 1970, teve por intuito aumentar a produção, a produtividade e ampliação do mercado nacional para as indústrias multinacionais de máquinas, implementos, dentre outros, sendo favorecida pelo Estado, por meio de investimentos em pesquisas científicas, com a criação de órgãos como a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária (Embrapa), programas e créditos agrícolas. Todavia, esse processo se caracteriza como desigual, ou seja, privilegiou os produtos voltados para exportação (soja e milho) e para o mercado interno (cana-de-açúcar), os grandes produtores rurais e as regiões Sul e Sudeste. (SILVA, 2019)
A expansão agrícola se fez para ampliar o desenvolvimento econômico do Brasil, e ao mesmo tempo se fez atender aos interesses do capital internacional, com uma ideia de demandar recursos ao crescimento industrial do Sul-Sudeste viu o crescimento gigantesco das grandes áreas do cerrado no mercado internacional.
As áreas do cerrado nesse caminho passam a ser totalmente transformadas, estradas são construídas ou reconstruídas buscando a entrada dos caminhões a levarem insumos para o desenvolvimento da lavoura de soja principalmente. A rotina dos lugares modifica-se pois o comércio local altera-se com construção de novas lojas visando abastecer uma nova demanda, principalmente em locais mais distantes da sede municipal, como o Distrito de Santo Antônio do Rio Verde.
A ocupação do cerrado goiano se fez por uma diáspora sulista, estes chegavam à procura de terras maiores para se enriquecerem e realizar o que praticavam de melhor – a produção agrícola.
Ao longo dos últimos quarenta anos, o Rio Grande perdeu muita gente que foi em busca de um pedaço maior de terra nas novas fronteiras agrícolas que estavam sendo abertas na região dos cerrados e das grandes florestas. Com sua extraordinária experiência agrícola e com sua profunda dedicação ao trabalho, esses pioneiros gaúchos enfrentaram inúmeros desafios e acabaram transformando em celeiro o que antes era terra devoluta.
A ocupação das terras do Cerrado se fez pela Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, este ocupado como um caminho entre o nordeste e as terras do sul de Mato Grosso e Minas Gerais. Ocupando o Sul e o Sudeste Goiano elevou as cidades ao entorno do crescimento agrícola, formando aí uma nova caracterização do lugar. Rodovias construídas, passagens que interligam.
Pensar a ocupação do Centro Oeste, em síntese a ocupação do chapadão do município de Catalão – GO é pensar no grupo familiar oriundos do Paraná e São Paulo principalmente, chegaram a partir dos anos 1980, e com a política do governo goiano de ampliar as estradas ligando as regiões de acesso precário para a passagem de caminhões que levassem a quantidade de insumos necessários para o crescimento da atividade agrícola. Até mesmo porque o cerrado necessitava de agentes de correção do solo para o plantio visando o mercado internacional.
No município de Catalão o caminho realizado passava pela BR-050 e nessa situação estabeleceu a abertura de rodovias que interliga a BR às regiões do chapadão. Nessas aberturas a construção da GO-506, ligando a BR-050 ao Distrito de Santo Antônio do Rio Verde.
O isolamento do Distrito de Santo Antônio do Rio Verde, o não aproveitamento das terras do cerrado favoreceram o não desenvolvimento do lugar. Tendo uma história mais antiga que a sede do município de Catalão o distrito não se desenvolveu. Somente a partir da abertura de terras de rodagem iniciadas no governo de Iris Rezende Machado que se viu maior possibilidade de interligação ao distrito.
Até então a passagem se dava por uma estrada simples, e passava pelo rio São Marcos em balsa comandada pela família Carapina. Foi nos anos 1980 que em parceria com o governo de Goiás e a Prefeitura de Catalão que se fez a Ponte dos Carapinas, facilitando aí a passagem até as regiões do entorno do Distrito de Santo Antônio do Rio Verde. (figura 1)
Figura 01
Fonte: Mutirão pag. 3(setembro 1985)
Foi através de um grande evento em comemoração aos 126 anos do município de Catalão a entrega da Ponte dos Carapinas à comunidade catalana. O nome foi uma homenagem à Família Carapinas que veio em meados de 1842 para fazer fortuna nos garimpos de Goiás e depois de muitas tentativas em outras áreas se instalaram no barranco do rio São Marcos. Foi por essa família que se construiu uma balsa (jangada) por onde atravessavam de um lado para o outro. Construí ali seu legado, adquirindo novas terras e formando pastos para a criação de gado. Foto 2 e 3.
Foto 02
Fonte: Borges, J.C.C 2019
Foto 03
Fonte: BORGES, J.C.C 2019
As duas imagens resgatam a importância da construção da passagem do Distrito de Pires Belo ao Distrito de Santo Antônio do Rio Verde, a construção e o momento que a mesma estava sendo inundada pela barragem construída no rio São Marcos.
O caminho construído nos anos 1930 tornou-se o traçado para a rodovia José Matias e para a construção de uma balsa de cabo de aço para seguir rumo a Santo Antônio do Rio Verde. O difícil acesso e a falta de recursos para ampliar os caminhos levaram a perigos e acidentes pelos que se aventuraram a viajar pelas estradas da região.
Foi pelo dinamismo e pela grande visão econômica do então prefeito Haley Margon que se aposentou a velha balsa e as estradas velhas para construir a rodovia Jose Matias e a Ponte dos Carapinas. Mas que não aposentou a tradição histórica e sim aumentou em uma grande homenagem a Família Brás Corinto e a todos que se beneficiaram com a tão importante obra.
As terras desvalorizadas, esquecidas passaram a ter um significado diferente recebendo agricultores de regiões como o Sul, e buscando experiências com o solo para o cultivo da soja, começaram a chegar outros e mais agricultores fazendo da região um grande celeiro agrícola de Catalão. Mas ainda estava faltando alguma coisa a acontecer, melhorar os caminhos e também uma ponte que ligasse a região do chapadão. A visão desenvolvimentista do então prefeito Haley Margon promoveu uma das mais importantes obras daquele município.
As iniciativas de desenvolvimento transformaram a história esquecida do até então pobre distrito de Santo Antônio do Rio Verde, hoje é visto de maneira diferente, imensas áreas cultivadas, riquezas geradas, crescimento urbano com uma intensa atividade comercial, escolas, postos de saúde, atividades bancárias marcam a realidade atual do distrito.
Seus quase duzentos anos de história podem contar vários problemas e entraves de desenvolvimento, mas o fato da construção de uma rodovia e depois sua pavimentação junto a uma ponte que servia como travessia no rio São Marcos tornou-se um fator fundamental para a atividade agrícola crescer significativamente.
Por volta dos anos 2009, a reconstrução da Ponte dos Carapinas, fato esse que ocorreu devido a formação do Lago da Serra do Facão pelo qual inundou uma vasta área inclusive a antiga ponte, e como garantia da passagem ao Distrito de Santo Antônio do Rio Verde, um novo trajeto foi construído e uma nova ponte, essa com duas pistas evitando possíveis acidentes já que a antiga era de pista simples, correndo o risco para acidentes ou mesmo um automóvel aguardar a passagem para poder atravessar. Foto 04.
Figura 04 – atual Ponte dos Carapinas
Fonte: BORGES, J.C.C.
A construção tanto da Ponte dos anos 1980 como sua reconstrução nos anos 2000 significaram grandes melhorias de vida para a região do Distrito de Santo Antônio do Rio Verde. Nos anos 1980 a chegada dos migrantes sulistas nas aberturas de terras para o plantio de soja, para isso necessitava de caminhos que pudessem levar os insumos necessários para o sucesso da cultura da soja no cerrado.
Considerações finais
Os acontecimentos como a construção da rodovia GO-506 e a Ponte dos Carapinas sobre o rio São Marcos avançaram nas condições para o desenvolvimento do Distrito de Santo Antônio do Rio Verde – Catalão/GO. A atividade da agricultura tem na região uma das maiores fontes de riqueza do município. Geram empregos contribuindo para o avanço da atividade comercial na sede do Distrito que avançam quanto a promover e atender os recursos aos habitantes e proprietários de terras que fazem da terra o seu bem maior.
Santo Antônio do Rio Verde hoje é um lugar de grande relevância para o município de Catalão, sua produtividade no campo é uma das principais riquezas gerando emprego e garantindo o crescimento do lugar. Há uma série de atividades comerciais que abastece não só os moradores urbanos quanto os da zona rural, atende as necessidades da lavoura sojicultura com oficinas e lojas agropecuárias.
Há uma educação de qualidade que atende desde o berçário até o Ensino Médio, com redes municipal e estadual. Um Posto de Saúde com presença de médicos durante a semana e traslado para Catalão em casos mais emergenciais.
REFERÊNCIAS
ALVES, Vicente Eudes Lemos. A Mobilidade Sulista e a Expansão da Fronteira Agrícola Brasileira. Agrária, São Paulo, Nº 2 2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. 2. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2023.: elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
BORGES, J.C.C. As Encruzilhadas do Tempo na Dinâmica Espacial do Distrito de Pires Belo – Catalão/GO. Dissertação Mestrado – Universidade Federal de Goiás, Unidade Acadêmica Especial de Geografia, Programa Pós-Graduação em Geografia, Catalão, 2019.
MELO, Michele. P. análise da Paisagem do Distrito de Santo Antônio do Rio Verde, em Catalão (GO). Dissertação Mestrado – Universidade Federal de Goiás, Unidade Acadêmica Especial de Geografia, Programa Pós-Graduação em Geografia, Catalão, 2019,
SILVA, Juniele Martins. Dinâmica Socioeconômica no Espaço Agrário do Município de Catalão (GO). Revista Formação (online) v. 26 n. 47, jan-abr;2019. P. 141-158
1Professor da Rede Estadual de Educação de Goiás atuando como Gestor no Colégio Estadual de Educação do Campo Gilberto Arruda Falcão, Mestre em Geografia pela UFG – Campus Catalão em 2019.