EXPLORANDO AS DIMENSÕES PSICOLÓGICAS DA DANÇA DO VENTRE: UMA ANÁLISE INICIAL DESSA EXPRESSÃO ARTÍSTICA E SEUS EFEITOS PSICOLÓGICOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411141305


 Jéssica Pinheiro Leite1; Eunara Eugênia Lopes Lima2; Daniel Rocha Diniz3; Emirlan Melo de Lima4; Samira Borges Ferreira5; Fabrício da Cunha Moraes6; Weider Silva Pinheiro7; Paulo Wuesley Barbosa Bomtempo8; Liz Marina Corrêa Ferreira9; Sara Lourenço Ramos Rosa10; Paula Jaqueline Peixoto Junqueira11; Camila Mendonça Lima12; Lavínia Bianca Lima Kruk13


RESUMO

A prática da dança do ventre tem sido objeto de estudo, revelando uma gama diversificada de benefícios em suas dimensões psicológicas, emocionais e sociais. Este estudo busca integrar teorias psicológicas, estudos culturais e perspectivas acadêmicas, proporcionando uma compreensão abrangente dos efeitos transformadores dessa forma artística de expressão. Dessa forma, a presente pesquisa tem como objetivo aprofundar a compreensão dos impactos psicológicos da dança do ventre, destacando-a como um catalisador de empoderamento pessoal. A mesma emprega uma abordagem qualitativa, empregando métodos mistos para a coleta e análise de dados. Durante minha jornada na dança do ventre, deparei-me com narrativas enriquecedoras que destacam seus benefícios emocionais, físicos e sociais. A prática transcende estigmas iniciais e proporciona transformações profundas, como observei ao acompanhar alunas maduras superando preconceitos. A dança do ventre emerge como ferramenta de empoderamento, promovendo bem-estar emocional e autoconfiança, conforme evidenciado em relatos que ressaltam sua influência positiva na percepção do corpo. Apesar de reconhecer as experiências individuais, é crucial abordar criticamente a generalização dessas vivências, enquanto exploramos a relação única entre a dança, a sensualidade e a expressão corporal, conforme exemplificado por uma instrutora que buscou desvincular a prática de estereótipos, promovendo uma compreensão mais profunda e respeitosa dessa forma de arte. Em suma, a análise aprofundada dos impactos psicológicos da dança do ventre revela sua natureza transformadora e empoderadora, superando estigmas iniciais. A integração de teorias psicológicas, estudos culturais e perspectivas acadêmicas oferece uma compreensão abrangente dos efeitos dessa prática única, evidenciando-a como uma ferramenta poderosa de transformação pessoal. 

Palavras-chave: Dança do Ventre; Empoderamento Feminino; Psicologia Corporal. 

INTRODUÇÃO 

A prática da dança do ventre tem sido objeto de estudo, revelando uma gama diversificada de benefícios em suas dimensões psicológicas, emocionais e sociais. Este estudo busca integrar teorias psicológicas, estudos culturais e perspectivas acadêmicas, proporcionando uma compreensão abrangente dos efeitos transformadores dessa forma artística de expressão.

Ao longo de anos de envolvimento pessoal com a dança do ventre, a minha experiência própria proporcionou vivências enriquecedoras que ressaltam a influência positiva dessa prática nas vidas dos participantes. Este conjunto de experiências destaca a dança do ventre como uma ferramenta multifacetada capaz de catalisar transformações profundas, indo além do estigma inicial que erroneamente a percebe como desafiadora ou inadequada para determinadas faixas etárias.

No contexto dessa prática, observei ao longo do tempo um fenômeno interessante: a superação de preconceitos iniciais por parte de alunas mais maduras que, movidas pela curiosidade, se apaixonaram pela dança do ventre desde o primeiro dia. Esse fenômeno destaca a capacidade única dessa forma artística de transcender estereótipos e conquistar corações, independentemente da idade, demonstrando sua acessibilidade e apelo universal.

Além disso, minha própria vivência de transformação pessoal significativa utilizando a dança do ventre como catalisador para superar períodos marcados por introversão, depressão e vergonha do corpo revelou, não apenas, a aceitação do próprio corpo, mas também, o cultivo de um amor genuíno por si mesmo. Os resultados dessas experiências pessoais são corroborados por inúmeros relatos de praticantes que encontraram na dança do ventre uma fonte contínua de felicidade e leveza. Esses testemunhos evidenciam a dança do ventre, não apenas como uma atividade física, mas sim, como uma poderosa ferramenta para a transformação corporal e a aceitação pessoal.

A justificativa para este artigo reside na necessidade de aprofundar o entendimento sobre os impactos psicológicos da dança do ventre, bem como destacar sua importância como catalisador de empoderamento pessoal. A prática dessa forma artística tem demonstrado uma gama diversificada de benefícios nas dimensões psicológicas, emocionais e sociais, conforme evidenciado por estudos anteriores e experiências pessoais.

Ao considerar a integração de teorias psicológicas, estudos culturais e perspectivas acadêmicas, este estudo visa preencher lacunas no conhecimento existente, proporcionando uma compreensão abrangente dos efeitos transformadores da dança do ventre. A observação de fenômenos interessantes, como a superação de preconceitos iniciais por parte de alunas maduras, ressalta a singularidade dessa forma artística em transcender estereótipos, consolidando sua acessibilidade e apelo universal.

A relevância deste estudo reside na contribuição para o enriquecimento do conhecimento sobre a dança do ventre como uma prática terapêutica, indo além de sua concepção inicialmente estigmatizada. Compreender a fundo esses aspectos, não apenas, promove o bem-estar psicológico dos praticantes, mas também, a destaca como uma valiosa ferramenta na construção de identidade pessoal. Assim, este visa preencher uma lacuna no entendimento acadêmico, proporcionando uma base sólida para a apreciação da dança do ventre como uma forma integral de expressão artística e terapêutica.

Nesse cenário, a presente pesquisa tem como objetivo aprofundar a compreensão dos impactos psicológicos da dança do ventre, destacando-a como um catalisador de empoderamento pessoal. Busca-se analisar de maneira crítica as narrativas compartilhadas pelos praticantes, explorando os benefícios observados, como o aumento da confiança, aceitação pessoal, influência na percepção da sexualidade, e os mecanismos psicológicos subjacentes a essas transformações. Este estudo pretende contribuir para o enriquecimento do conhecimento sobre a dança do ventre como uma prática, não apenas, artística, mas também, terapêutica, destacando sua relevância na promoção do bem-estar psicológico e na construção de identidade pessoal.

METODOLOGIA 

A presente pesquisa sobre os efeitos psicológicos da dança do ventre emprega uma abordagem qualitativa, empregando métodos mistos para a coleta e análise de dados. O propósito metodológico é compreender, de maneira abrangente, as experiências individuais dos praticantes, explorando a interação entre a prática da dança do ventre e suas dimensões psicológicas. A amostra, composta por participantes voluntários, principalmente, mulheres com idades entre 18 e 60 anos, engaja-se regularmente na mesma por um período mínimo de seis meses. A seleção criteriosa dos participantes visa representar uma diversidade de experiências e trajetórias na prática dessa atividade.

No que diz respeito aos procedimentos de coleta de dados, a pesquisa incorpora entrevistas semiestruturadas individuais, com perguntas abertas que abordam temas como autoestima, percepção do corpo, transformações psicológicas e influência na vida cotidiana. As entrevistas são gravadas em áudio para análise detalhada. Além disso, há participação ativa em aulas de dança do ventre para obter uma compreensão contextual e vivencial da prática, envolvendo observação sistemática de interações sociais, dinâmicas de grupo e expressões emocionais. A pesquisa também realiza a análise de documentos, incluindo registros pessoais, diários de prática e reflexões escritas dos participantes, bem como registros de aulas e eventos relacionados à mesma.

Quanto aos procedimentos de análise de dados, a pesquisa prevê a transcrição das entrevistas e a categorização dos dados por meio da análise de conteúdo. A identificação de temas recorrentes e padrões nas narrativas dos participantes é essencial. A triangulação de dados, através da comparação entre entrevistas, observações e análise de documentos, é realizada para garantir a validade e confiabilidade dos resultados. A codificação de dados envolve a atribuição de códigos às unidades de significado emergentes, utilizando software de análise qualitativa para facilitar a organização e categorização dos dados.

Considerações éticas são integralmente incorporadas à pesquisa, assegurando o consentimento informado dos participantes, anonimato e confidencialidade das informações coletadas. Na observação das aulas, são respeitadas as normas éticas, evitando qualquer interferência nas dinâmicas naturais do ambiente.

BREVE HISTÓRICO DA PSICOLOGIA CORPORAL

A origem da Psicologia Corporal remonta aos trabalhos pioneiros de Wilhelm Reich, um psicanalista que se desvinculou da abordagem convencional de Freud para desenvolver sua própria perspectiva. Reich concebeu uma abordagem única que via o organismo como uma unidade energética, na qual mente, psiquismo, e corpo, soma, são processos interdependentes. Sua teoria, distante da psicanálise tradicional, explorou a inter-relação entre mente e corpo, destacando a energia orgone como um elemento fundamental (Volpi, 2003).

Inspirado pelos estudos de Reich, outros teóricos seguiram explorando a interconexão mente-corpo e a energia orgone, contribuindo para o desenvolvimento de suas próprias correntes teóricas. Reich, originário da Psicanálise, identificou os interesses sexuais subjacentes a comportamentos como sucção e mordida, relacionando-os ao desejo de ser amado e a hábitos anais, entre outros. Sua teoria, focada no restabelecimento da potência orgástica, afirmava a existência de uma única energia sexual que busca satisfação nas diversas zonas erógenas e ideias psíquicas (Reich, 1975).

A distinção qualitativa entre genitalidade e pré-genitalidade foi crucial em sua teoria, afirmando que apenas o aparelho genital podia proporcionar orgasmo e a descarga da energia biológica. A pré-genitalidade, por outro lado, era vista como geradora apenas de aumento das tensões vegetativas. Reich destacou que a excitação sexual sem a devida descarga se transforma em angústia, enfatizando a importância de compreender as causas dessa conversão para efetuar o trabalho adequado de liberação energética (Reich, 1975).

Enfrentando barreiras conceituais, Reich explorou as manifestações da energia não liberada no corpo humano, manifestações que se apresentavam como problemas cardíacos ou dermatológicos. O conceito de couraça preencheu a lacuna conceitual, representando as couraças de caráter responsáveis por gerar resistências psicológicas e emocionais, observáveis no corpo como manifestações biológicas (Reich, 1975).

O caráter, conforme delineado por Reich, é moldado ao longo da vida em resposta aos bloqueios resultantes de estresses nas diversas etapas do desenvolvimento psicoemocional. Volpi (2003) complementam essa ideia, destacando que um estresse em uma ou mais etapas determina o tipo de caráter e a forma de funcionamento da pessoa perante a vida.

A teoria da Economia Sexual de Reich evoluiu para uma organização mais sólida, estabelecendo uma relação lógica entre a estrutura e o desenvolvimento das neuroses. A Análise do Caráter levou ao conceito de couraça muscular, representando as alterações corporais adquiridas em resposta a fatores estressantes. Essa abordagem de integração entre o trabalho psicológico e físico resultou na técnica da Vegetoterapia Caracteriológica, inicialmente chamada de Orgasmoterapia por Reich (Volpi, 2003).

Ao longo do tempo, Reich desenvolveu um mapeamento do corpo humano baseado nos tipos de couraças musculares, identificando sete segmentos. O processo de desencouraçamento, realizado por meio de movimentos específicos chamados actins, busca restabelecer a musculatura e promover um saudável fluxo do movimento energético. As pesquisas de Reich resultaram na descoberta da orgone, uma forma de energia. Com a expansão dessas pesquisas e a possibilidade de manipulação da energia orgone, a teoria de Reich foi, posteriormente, conhecida como Orgonoterapia, sistematizada por Federico Navarro, neuropsiquiatra italiano, a pedido de Reich e com intermédio de Ola Raknes (Volpi, 2003).

RELEVÂNCIA CULTURAL E ARTÍSTICA DA DANÇA DO VENTRE

De acordo com Assunção (2021), a Dança do Ventre é reconhecida como uma arte por sua elegância, movimentos fluídos e ritmos envolventes, com uma história fascinante que remonta a diversas culturas e regiões. Apesar das teorias variadas sobre suas origens, a dança é multifacetada e transcende fronteiras geográficas, acreditando-se ter começado na antiga Mesopotâmia, com o Egito desempenhando um papel crucial em seu desenvolvimento e popularização durante o Império Otomano. 

A fusão de influências culturais conferiu à dança uma identidade única, destacada por movimentos sinuosos e ondulatórios, cuja graciosidade e sensualidade são admiradas. Apesar da estigmatização no Ocidente, a Dança do Ventre possui raízes espirituais e mitológicas, contando histórias por meio de seus movimentos e buscando preservar sua autenticidade em expressões contemporâneas. A globalização desempenhou um papel significativo em sua disseminação, celebrando-a como uma forma artística culturalmente rica e singular, que transcende fronteiras, promovendo a apreciação da diversidade cultural e um diálogo global sobre suas raízes históricas e impacto na sociedade contemporânea (Assunção, 2021).

Determinar a origem precisa da dança do ventre em um passado distante é desafiador, dada a complexidade e dinâmica das manifestações culturais ao longo do tempo. Em vez de vê-la como algo que simplesmente “surgiu” em um ponto específico, é mais apropriado entendê-la como um fenômeno que se desenvolveu gradualmente por meio de intrincados processos de intercâmbio cultural, influências recíprocas e transformações ao longo dos séculos. Embora movimentos sinuosos do abdômen e batidas de quadril possam ter sido presentes em danças de civilizações antigas, medievais e modernas, é crucial ressaltar que esses elementos isolados não definem o conjunto abrangente de códigos corporais, valores estéticos e expressões associadas à dança do ventre contemporânea. Em vez de uma origem fixa, a evolução da dança do ventre deve ser vista como um processo contínuo, moldado por interações culturais ao longo dos séculos, exigindo uma apreciação das complexidades das trocas culturais que contribuíram para sua formação (Assunção, 2021). 

NUANCES DA DANÇA DO VENTRE

A prática da dança se revela como uma atividade agradável que proporciona diversão e oportunidades para socialização. O aspecto motivador reside no fato de que as pessoas se engajam nessa atividade sem perceberem o fluxo do tempo. Em meio a uma realidade de multitarefas, na qual a pressão por produtividade é constante, a dança emerge como uma fonte de descontração, relaxamento e expressão de emoções e sentimentos reprimidos.

Ao examinar a abordagem adotada pelos profissionais na condução das aulas, torna-se evidente a enfática valorização da singularidade de cada aluna. Cada participante é reconhecido como um ser humano distinto, repleto de emoções, crenças, limitações, desafios e facilidades. O ambiente das aulas é meticulosamente construído com o propósito de despertar o potencial máximo de cada indivíduo, fomentando a empatia e o respeito pela trajetória e pela fase de vida específica de cada participante. A coesão entre as mulheres, mesmo diante de suas divergências, é ressaltada como um influente agente catalisador (Fragra, 2020).

A complexidade associada à dificuldade em admirar e apoiar outras mulheres é destacada, ressaltando que essa atitude provém de uma desconexão com a verdade interior. A sociedade, ao incentivar a competição e o conflito, revela uma falta de harmonia com a denominada “alma superior” e o conceito do sagrado feminino (Marconato, 2016).

Os estudos de Oliveira, Marques e Souto (2015), corroboram os achados sobre os benefícios da dança. Aspectos como superação da timidez, bem-estar físico e mental são destacados. A prática da dança do ventre é apontada como capaz de proporcionar desinibição, descontração, sensibilidade sexual, percepção corporal, relaxamento e melhoria da saúde, além de energizar e purificar os neurônios. A autoestima surge como uma das principais palavras citadas, indicando uma transformação positiva na relação das mulheres consigo mesmas. A prática regular da dança do ventre promove o amor próprio, a aceitação da imagem refletida no espelho e o cuidado com a aparência. A elevação da autoestima reflete em maior confiança perante a vida, habilidade para enfrentar desafios com resiliência e adaptação facilitada a diferentes situações (Serreti, 2015).

O estímulo à autoestima é evidenciado nas aulas, especialmente, nos exercícios de improvisação, os quais proporcionam às alunas a liberdade de decidir seus passos. A melhora da autoestima é também destacada em estudos anteriores, como o de Mendes et al. (2018), que aborda a relação entre imagem corporal e dança.

A dança, com seus movimentos e ritmos, emerge como uma prática multifacetada, contribuindo para a redução do estresse, o aprimoramento da autoestima e a prevenção de doenças relacionadas à vida moderna, como a depressão. Além disso, seus objetivos se estendem a áreas como emagrecimento, prevenção de problemas articulares, aumento do convívio social, melhora da capacidade respiratória e circulatória, postura e fortalecimento muscular (Mendes et al., 2018).

De acordo com Nuray (2018), a dança do ventre, como expressão artística, destaca a íntima ligação entre corpo e mente, promovendo uma consciência corporal aguçada por meio de movimentos fluidos e ondulatórios. Durante a prática, a atenção é voltada para a região abdominal e pélvica, na qual emoções intensas e associadas a experiências passadas, frequentemente, residem. Essa focalização propicia a liberação de tensões e emoções reprimidas, criando um espaço seguro para a expressão pessoal sem julgamentos.

A interação entre ritmo, respiração e música acentua as diversas facetas da dança do ventre. A sincronização dos movimentos com a música e a atenção à respiração facilitam a liberação emocional, proporcionando uma experiência de catarse intensa e libertadora. A progressiva liberação emocional ocorre à medida que os praticantes se tornam mais familiarizados com a prática, explorando emoções mais profundas ao longo do tempo (Nuray, 2018).

Nuray (2018), ainda preconiza que participar regularmente da dança do ventre influencia positivamente a autoestima e confiança dos praticantes. Ao dominar os movimentos e desenvolver uma apreciação pela própria beleza e habilidades, as mulheres experimentam impactos benéficos em outras áreas da vida. O envolvimento em aulas ou grupos de dança do ventre, por sua vez, promove uma transformação positiva.

Durante as sessões de dança, os participantes são encorajados a se entregarem à experiência, movendo-se intuitivamente em resposta às emoções emergentes. O ambiente é enriquecido por uma trilha sonora envolvente, criando uma atmosfera propícia à transformação emocional. Ao término de cada sessão, destaca-se um momento dedicado à reflexão e integração das experiências, incentivando os participantes a compartilhar percepções e emoções. Isso consolida a conexão entre corpo e mente, contribuindo para uma abordagem holística e enriquecedora da prática da dança do ventre (Nuray, 2018).

EFEITOS PSICOLÓGICOS DA DANÇA DO VENTRE

Durante minha jornada na prática da dança do ventre, deparei-me com diversas narrativas enriquecedoras que destacam a influência positiva dessa forma artística nas vidas das participantes. Essas experiências revelam uma ampla gama de benefícios emocionais, físicos e sociais, demonstrando sua capacidade multifacetada de desencadear transformações profundas.

Ao explorar minuciosamente a influência transformadora que a dança do ventre teve em minha vida, percebo que a primeira impressão sobre essa expressão artística, frequentemente, resulta em mal-entendidos. Inicialmente, considerada desafiadora ou inadequada para certas faixas etárias, tais preconceitos desaparecem quando nos abrimos para experimentar essa prática em qualquer fase da vida. Ao observar alunas maduras participando das aulas movidas pela curiosidade, constatei como a mesma transcende estereótipos, conquistando corações independentemente da idade.

Ao longo dos anos de experiência na sala de aula, deparei-me com inúmeros relatos semelhantes de indivíduos que encontraram na dança do ventre uma fonte de felicidade e leveza. Muitos expressaram a impossibilidade de imaginar suas vidas sem essa forma de expressão artística. Esses testemunhos reforçam a ideia de que a mesma não é apenas uma atividade física, mas uma ferramenta poderosa para a transformação corporal e a aceitação pessoal.

Analisando essas narrativas, percebe-se que a dança do ventre desempenha um papel fundamental na promoção do bem-estar emocional e na construção da autoconfiança. Os relatos enfatizam a sensação de transformação, feminilidade e confiança que essa prática proporciona. Para muitos, essa prática não é apenas uma atividade recreativa, mas uma fonte gratificante de beleza e encanto. Essa expressão artística é desejada como uma parte constante da vida, evidenciando a profunda gratidão e apreço que ela inspira.

No universo das narrativas compartilhadas por praticantes da dança do ventre, destaca-se uma convergência singular de vivências que ressalta o potencial intrinsecamente terapêutico desta forma única de expressão artística. A assertiva inicial revela a habilidade distintiva da dança como um agente catalisador eficaz na superação de desafios psicológicos, como a depressão, não apenas, proporcionando alívio emocional, mas também, instigando uma afinidade previamente não explorada com a arte da dança. A elevação da autoestima, tanto física quanto psicológica, confirma a influência positiva da dança do ventre na percepção do corpo e no domínio emocional, sublinhando ainda o papel crucial desempenhado na celebração do sagrado feminino.

A narrativa subsequente delineia uma transformação pessoal mais abrangente, com a dança do ventre emergindo como um agente catalisador para a metamorfose espiritual e o florescimento do amor próprio. O reconhecimento da própria importância e o cultivo diário do amor próprio sugerem uma ligação profunda entre a prática da dança do ventre e o desenvolvimento pessoal. A formação de relações significativas e duradouras com outras mulheres na comunidade da dança ressalta o aspecto social e de apoio inerente a essa prática, enquanto as referências ao autoconhecimento e autorrespeito apontam para uma jornada interna contínua.

No entanto, é crucial abordar de maneira crítica a generalização dessas experiências, reconhecendo a subjetividade inerente às vivências individuais. Apesar de os relatos indicarem uma influência profundamente positiva da dança do ventre na vida desses praticantes, é fundamental investigar como fatores contextuais e individuais podem moldar essas percepções. Esta análise crítica propicia uma compreensão mais abrangente das implicações psicossociais inerentes à prática da mesma.

Explorando os impactos psicológicos da dança do ventre por meio de relatos pessoais, esta análise destaca a prática como um catalisador de empoderamento. Participantes relatam transformações marcantes, incluindo aumento de confiança e aceitação pessoal. A dança do ventre, mais que movimentos coreografados, promove uma jornada de autodescoberta, fortalecendo a identidade pessoal pela integração corpo-mente.

Segundo Nuray (2018), além do empoderamento, a dança do ventre influencia positivamente a percepção da sexualidade, permitindo uma expressão livre e consciente. Os movimentos específicos não só aprimoram a técnica, mas também, servem como ferramenta terapêutica, liberando emoções reprimidas. Ritmo, respiração e catarse emocional, associados à prática, transcendem o físico, impactando dimensões emocionais e psicológicas.

A autoestima e vaidade são resultados significativos, refletindo uma transformação interna progressiva. O domínio dos movimentos e a aceitação do corpo contribuem para uma apreciação mais profunda da própria beleza. A prática repetitiva e consciente aprimora o conhecimento do corpo, fomentando uma relação mais respeitosa e uma compreensão completa de si mesmo. Assim, a dança do ventre se revela, não apenas, como uma atividade física, mas como um caminho íntimo de autodescoberta e reconexão com o eu interior, reforçando sua importância na promoção do bem-estar psicológico (Nuray, 2018).

A análise qualitativa dessas experiências destaca um notável aumento na confiança, autonomia e aceitação pessoal. Os movimentos fluidos e ondulatórios promovem uma profunda integração entre corpo e mente, resultando em uma sensação tangível de domínio sobre a própria vida. Essa jornada transcende a coreografia, transformando-se em uma busca contínua de autodescoberta, culminando em uma identidade pessoal fortalecida (Nuray, 2018).

A influência positiva da dança do ventre na percepção da sexualidade e na reconexão com o corpo é evidente nos resultados obtidos. Os movimentos específicos estimulam uma expressão consciente da sensualidade, proporcionando uma oportunidade única para explorar a complexidade da sexualidade de forma livre e aceitadora. Além dos movimentos coreografados, elementos como ritmo, respiração e catarse emocional, desempenham um papel crucial. Os participantes relatam, não apenas, uma melhoria técnica, mas também, um alívio emocional e uma sensação de leveza após as sessões, evidenciando a abrangência emocional e psicológica da prática (Nuray, 2018).

A prática consistente da dança do ventre impacta positivamente a autoestima e a vaidade dos participantes. O domínio progressivo dos movimentos e a aceitação do próprio corpo durante a dança contribuem para uma apreciação mais profunda da beleza e habilidades individuais. A conscientização única dos movimentos corporais, resultado da prática repetitiva e consciente, torna-se um componente crucial nessa jornada de transformação.

Recordo-me nitidamente de uma experiência singular que marcou profundamente meu envolvimento nas aulas regulares de dança do ventre. Um episódio notável que se destaca é o relato envolvente compartilhado por uma instrutora que, em meio às várias abordagens discutidas previamente, salientou a importância do aspecto cultural árabe como um elemento fundamental em sua abordagem pedagógica.

Durante uma de minhas aulas regulares de dança do ventre, uma professora daquela época compartilhou uma experiência recorrente em sua trajetória profissional. Ao desempenhar o papel de educadora nessa forma de expressão artística, frequentemente, ela se deparava com reações que equivocadamente associavam a prática a uma sensualidade estereotipada. Suas alunas reagiram de maneira empática, compartilhando risos e comentários que ecoavam experiências semelhantes. Ficou claro entre elas que tanto homens quanto mulheres, frequentemente, interpretam erroneamente as praticantes dessa forma de dança como estando envolvidas em estereótipos relacionados à facilidade feminina.

Para desconstruir essa associação entre a dança do ventre e a sensualidade, a professora optou por abordar o conceito de sensualidade por meio de uma definição extraída de um dicionário. Ela enfatizou que a sensualidade não se limita à prática da dança do ventre, mas é uma característica intrínseca a todas as formas de dança. Destacou que a dança, de maneira geral, representa um meio de sensibilizar novamente o corpo, explorando movimentos, música e estímulos sensoriais de uma forma que se diferencia do cotidiano.

Minha professora concentrou sua atenção especificamente na dança do ventre, explicando que essa forma de expressão exige um profundo envolvimento da pélvis e articulações. Salientou a importância de mergulhar na música e se entregar aos movimentos, enfatizando que essa abordagem proporciona uma experiência única de expressão corporal e conexão com a arte da dança. A aula progrediu com uma série de exercícios intencionais, concebidos para desvincular as alunas da técnica, permitindo que experimentassem a música e se entregassem à dança. Essa abordagem visava induzir o que ela denominou de escuta profunda, um estado no qual a música liberta emoções profundas, silenciando a mente e conduzindo a reações que variam desde o choro até o transe.

Ao concluir a aula, minha professora enfatizou que, em apresentações, as mulheres, frequentemente, expressam maior entusiasmo do que os homens, estabelecendo um canal de empatia e comunicação ao transmitirem a alegria da dança. Redefinindo a sensualidade, ela a afastou de estigmas de vulgaridade ou sexualidade, destacando que a dança do ventre é um meio de comunicação entre mulheres, transcendendo a objetificação para se tornar uma expressão intersubjetiva por meio da dança.

CONCLUSÃO

A análise aprofundada dos impactos psicológicos da dança do ventre revela sua natureza transformadora e empoderadora, superando estigmas iniciais. A integração de teorias psicológicas, estudos culturais e perspectivas acadêmicas oferece uma compreensão abrangente dos efeitos dessa prática única, evidenciando-a como uma ferramenta poderosa de transformação pessoal. As experiências compartilhadas destacam a universalidade da dança do ventre, evidenciando sua acessibilidade, especialmente, para alunas maduras, que superam preconceitos iniciais. Esses relatos pessoais ressaltam que a prática vai além dos movimentos coreografados, sendo um caminho íntimo de autodescoberta.

A dança do ventre emerge como catalisadora de empoderamento pessoal, influenciando positivamente a confiança, aceitação pessoal e percepção da sexualidade, promovendo bem-estar psicológico ao transformar, não apenas, o corpo, mas também, a mente e as emoções. No entanto, é crucial abordar criticamente as limitações do estudo, reconhecendo a subjetividade das experiências individuais e a importância de considerar variações culturais na interpretação da dança do ventre. Ao fortalecer a base acadêmica, este estudo contribui para enriquecer o conhecimento sobre a dança do ventre, destacando sua relevância como ferramenta terapêutica na construção da identidade pessoal, incentivando pesquisas futuras para explorar, ainda mais, seus aspectos transformadores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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SERRETI, A. N. M. Dança do ventre e feminilidade: análise dos relatos de praticantes. Dissertação de Mestrado – Universidade Estadual Paulista. 2015. 

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VOLPI, J. H. A prática da vegetoterapia. In: Volpi, J. H.; Volpi, S. M. Revista de Psicologia Corporal. 2003.


1Graduação: Psicóloga – Instituição: Centro de Ensino Unificado do Distrito Federal – E-mail: jessicaapinheiro@live.com
2Graduação: Médica Veterinária – Instituição: Universidade Federal do Piauí (UFPI) – E-mail: eunara_lima@hotmail.com
3Graduação: Pós-Graduando em Linguística Aplicada e Ensino de Línguas – Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – E-mail: danielrochadiniz@gmail.com
4Graduação: Licenciatura em Artes Visuais – Instituição: Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) – E-mail: limaemirlanmelo@gmail.com
5Graduação: Mestra em Educação – Instituição: Universidade Federal de Catalão (UFCAT) – E-mail: samira.borges.ferreira@gmail.com 
6Graduação: Mestre em Enfermagem – Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul  (UFRGS) – E-mail: fabricio.enfo@gmail.com
7Graduação: Doutor em Business Administration  – Instituição: LOGOS University International. – E-mail: weider@cartoriobruno.not.br
8Graduação: Enfermeiro  – Instituição: Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) – E-mail: paulo.bomtempo@hotmail.com
9Graduação: Pós-Graduada em Urgência e Emergência e UTI Geral – Instituição: Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (EBSERH) – E-mail: liz.ferreira@ebserh.gov.br 
10Graduação: Especialista em Oncologia, Especialista em Preceptoria em Saúde e Especialista em Enfermagem em UTI Neonatal e Pediátrica – Instituição: Hospital das clínicas de Goiânia (EBSERH – UFG) – E-mail: sara.rosa@ebserh.gov.br
11Graduação: Pós-Graduada em Saúde Pública e da Família – Instituição: Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC – UFG – EBSERH) – E-mail: paulajaquelinepeixoto@hotmail.com
12Graduação: Enfermeira Especialista em Enfermagem Oncológica – Instituição: Hospital das Clínicas (UFG – EBSERH) – E-mail: camila.lima.2@ebserh.gov.br
13Graduação: Acadêmica em Fisioterapia- Instituição: Universidade Federal de Jataí (UFJ) – E-mail: lavinia.kruk@gmail.com