A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE CRIANÇAS COM TEA: UMA ANÁLISE CRÍTICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10241112306


Davi Milan1
Gislaine Schon2
Aline Vieira Fernandes3
Ana Rita de Cassia Vieira de Moraes Moreira4
José Adnilton Oliveira Ferreira5
Edmaury Vieira Fabri6
Adriano Ricardo de Campos7
Herica Pimenta Redlinski8
Marilene Santana de Almeida9
Mário Luiz Amorim da Silva10
Maria Aparecida Fernandes11
Arlindo Gomes de Paula12
Luiz Carlos Costa Ferreira13
Diego Leme de Oliveira14
Fabíola de Fátima Andrade Frimaio15


Resumo

Este estudo investiga a influência das políticas públicas no processo de alfabetização e letramento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil, destacando o impacto dessas políticas na promoção de inclusão e equidade educacional. Com o objetivo central de analisar criticamente as iniciativas governamentais para a alfabetização e o letramento de crianças com TEA, o estudo avalia a eficácia dessas políticas e os desafios enfrentados em sua implementação. A metodologia adotada é qualitativa, baseada em uma revisão bibliográfica e análise documental de políticas públicas e dados educacionais, incluindo documentos oficiais, relatórios de programas e estudos recentes. Os resultados indicam que, embora as políticas de alfabetização tenham ampliado o acesso à educação básica, ainda existem lacunas significativas no que diz respeito à qualidade do ensino e ao suporte específico para crianças com TEA. Identificou-se que fatores como desigualdade regional e a descontinuidade de programas públicos dificultam o progresso no letramento funcional para esses estudantes. A conclusão sugere que uma alfabetização e letramento mais eficazes requerem o fortalecimento de políticas públicas integradas, com maior atenção às especificidades regionais e acompanhamento contínuo das práticas pedagógicas, visando atender às necessidades específicas de crianças com TEA e garantir uma inclusão educacional efetiva.

Palavras-chave: Políticas públicas; educação básica; letramento funcional

Introdução

O processo de alfabetização e letramento é uma das etapas mais fundamentais da educação, sendo essencial para o desenvolvimento das habilidades necessárias à formação de cidadãos críticos e participativos. Este artigo investiga a influência das políticas públicas nesse processo, considerando como as diretrizes e programas governamentais moldam a prática pedagógica nas escolas. A análise se concentrará nas políticas adotadas no Brasil e em seus reflexos na realidade educacional, buscando entender como as estratégias públicas impactam diretamente o ensino e a aprendizagem da leitura e escrita de crianças atípicas em diferentes contextos. A compreensão desse tema é vital, uma vez que a alfabetização e letramento são pré-requisitos para o acesso ao conhecimento e à informação, contribuindo para a formação de indivíduos mais autônomos e capazes de interagir de maneira eficaz em sociedade.

A justificativa para esta pesquisa se baseia na necessidade de um olhar crítico sobre as políticas públicas relacionadas à educação, especialmente em um país como o Brasil, onde as desigualdades sociais e regionais afetam diretamente o acesso à educação de qualidade. A importância de discutir este tema se intensifica diante dos desafios enfrentados por escolas em contextos vulneráveis, onde a falta de recursos e a ausência de políticas eficazes podem comprometer o processo de alfabetização. Além disso, é fundamental compreender como as políticas públicas podem ser aliadas no enfrentamento dessas dificuldades, promovendo uma educação inclusiva que atenda às necessidades de todos os alunos, independentemente de sua origem socioeconômica.

O objetivo deste estudo é analisar criticamente as políticas públicas implementadas para a alfabetização e letramento de crianças com TEA no Brasil, identificando suas contribuições e limitações. A pesquisa busca examinar se as diretrizes estabelecidas têm realmente se traduzido em práticas pedagógicas eficazes e se elas promovem a equidade no acesso à educação. Além disso, pretende-se compreender como essas políticas se articulam com as demandas sociais e educacionais do país, contribuindo para o aprimoramento do processo educativo.

Em termos de recorte metodológico, a pesquisa adota uma abordagem qualitativa, que inclui uma revisão bibliográfica detalhada e análise documental das políticas públicas relevantes. A coleta de dados se concentrará em leis, diretrizes e relatórios educacionais que abordam a alfabetização e letramento, permitindo uma compreensão mais aprofundada das estratégias implementadas e de seus impactos nas escolas.

O recorte teórico-conceitual considera a intersecção entre alfabetização, letramento e políticas públicas, buscando um embasamento nas teorias educacionais contemporâneas. Será dada atenção especial a conceitos que sustentam a análise crítica das práticas pedagógicas e suas implicações na formação de alunos letrados.

Por fim, as seções do texto estão organizadas da seguinte forma: a primeira parte apresenta a fundamentação teórica sobre alfabetização e letramento de crianças atípicas, especificamente as crianças autistas, abordando suas definições e importância; a segunda parte discute as políticas públicas implementadas e seus impactos no processo educativo; a terceira parte apresenta a análise dos dados coletados, culminando em considerações finais que ressaltam as principais descobertas e recomendações para futuras ações na área educacional.

1. Avaliação das Políticas Públicas na Educação Inclusiva para Crianças com TEA: Desafios e Oportunidades no Processo de Alfabetização

A análise crítica das políticas públicas voltadas à alfabetização e letramento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) evidencia avanços e desafios significativos. Embora legislações como a Política Nacional de Educação Especial (PNEE) e o Plano Nacional de Educação (PNE) estabeleçam diretrizes para a inclusão, há lacunas consideráveis na implementação efetiva desses princípios nas escolas públicas. Esses desafios incluem a falta de infraestrutura adequada, a ausência de materiais didáticos adaptados e a escassez de capacitação dos professores para lidar com as particularidades do TEA no processo de alfabetização. Apesar desses obstáculos, as políticas públicas representam uma base importante para garantir o direito à educação inclusiva, mas demandam revisões e adaptações para serem verdadeiramente eficazes. Este tópico busca explorar como essas diretrizes impactam diretamente o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita de crianças com TEA, destacando a importância de uma abordagem individualizada e centrada nas necessidades específicas desses alunos.

A avaliação das políticas públicas voltadas para a educação inclusiva de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil destaca tanto avanços quanto desafios consideráveis no processo de alfabetização e letramento. A Política Nacional de Educação Especial (PNEE) e o Plano Nacional de Educação (PNE) configuram diretrizes que asseguram o direito à educação inclusiva, contemplando o desenvolvimento educacional e social de crianças com TEA (De Oliveira et al., 2022). Contudo, essas diretrizes frequentemente encontram limitações em sua implementação nas escolas públicas, revelando barreiras que dificultam a tradução dos princípios inclusivos em práticas concretas e eficazes no ambiente escolar (Cabral; Marin, 2017). De acordo com Pereira (2023), a pandemia agravou tais dificuldades, principalmente pela falta de adaptações tecnológicas e metodológicas que garantissem o progresso dos estudantes com TEA durante o ensino remoto, demonstrando que as políticas públicas ainda precisam de maior adaptabilidade para atender às necessidades específicas dessa população. Assim, embora exista um arcabouço normativo que promova a inclusão, as práticas de alfabetização e letramento inclusivos enfrentam obstáculos estruturais que impactam diretamente a aprendizagem das crianças com TEA.

Um dos desafios centrais identificados é a escassez de formação e capacitação específica dos professores para trabalhar com alunos com TEA. Estudos apontam que a maioria dos professores não se sente preparada para atender às demandas educacionais de crianças com TEA, o que afeta a qualidade das práticas pedagógicas e limita o desenvolvimento pleno das habilidades de leitura e escrita desses alunos (Whalon; Hart, 2011). A falta de formação também é acompanhada por uma deficiência de recursos pedagógicos adaptados, um problema apontado por LaBarbera e Soto-Hinman (2009), que defendem a necessidade de materiais específicos e metodologias de ensino diferenciadas para o contexto inclusivo. O ensino de alfabetização para crianças com TEA, portanto, requer não apenas uma adaptação curricular, mas também um investimento em capacitação continuada dos educadores, visando o desenvolvimento de competências que lhes permitam atuar de forma mais eficaz nesse processo (Soares, 2023). Fengshunyu e Chen (2023) sugerem que, sem esses recursos e preparo, o ambiente escolar pode não ser suficientemente acolhedor, impactando negativamente a adaptação e o desenvolvimento dos alunos com TEA.

Apesar dos desafios, as políticas públicas para a educação inclusiva oferecem oportunidades importantes, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento das necessidades educacionais específicas de crianças com TEA. Ao focar na individualização das práticas pedagógicas e no acompanhamento sistemático dos avanços de cada estudante, é possível promover uma alfabetização mais eficaz e inclusiva (Cabral; Marin, 2017). A implementação de intervenções mais direcionadas e adaptadas, como recomendado por Fengshunyu e Chen (2023), representa uma oportunidade de transformar a sala de aula em um espaço mais acessível e estimulante para estudantes com TEA. Assim, ao adotar uma abordagem centrada nas necessidades desses alunos e apoiada por políticas públicas que incentivem o treinamento e o uso de materiais inclusivos, o sistema educacional pode contribuir significativamente para o desenvolvimento das habilidades de letramento e alfabetização, ampliando as perspectivas de aprendizagem e inclusão social para as crianças com TEA.

Além dos aspectos já discutidos, é fundamental reconhecer a importância de uma abordagem interdisciplinar na formulação e implementação das políticas públicas voltadas à alfabetização e letramento de crianças com TEA. Profissionais de áreas como a psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional podem fornecer conhecimentos e práticas que potencializam o processo de ensino-aprendizagem para esses alunos. Ao integrar especialistas de diferentes áreas no desenvolvimento das políticas e nas práticas pedagógicas, é possível criar intervenções mais eficazes e ajustadas às necessidades sensoriais, cognitivas e comportamentais das crianças com TEA, o que contribui para um ambiente de aprendizagem mais inclusivo e acessível. Como aponta a pesquisa de Whalon e Hart (2011), intervenções que levam em conta a multidimensionalidade das necessidades educacionais e terapêuticas têm mostrado resultados positivos, reforçando que a educação inclusiva para alunos com TEA não pode ser responsabilidade apenas dos educadores, mas sim de uma equipe colaborativa que trabalhe para desenvolver um plano de ensino individualizado e focado no potencial de cada aluno.

Outro ponto relevante para a discussão é a necessidade de políticas públicas que priorizem a continuidade e a avaliação constante das práticas inclusivas. A falta de continuidade nas políticas públicas de alfabetização e letramento para crianças com TEA é um obstáculo frequentemente apontado em estudos recentes (Pereira, 2023; DE Oliveira et al., 2022), pois sem uma política consistente e com diretrizes de longo prazo, torna-se difícil alcançar resultados significativos na educação inclusiva. A continuidade é essencial para que os avanços obtidos possam ser mantidos e aprimorados ao longo dos anos, sem interrupções que prejudiquem o desenvolvimento dos estudantes. Além disso, as avaliações regulares das práticas pedagógicas e dos programas implementados são fundamentais para adaptar as estratégias de ensino às necessidades reais dos alunos, evitando que as diretrizes estabelecidas pelas políticas públicas se tornem ultrapassadas ou inadequadas. Soares (2023) destaca que uma política pública inclusiva eficaz deve contemplar mecanismos de monitoramento e avaliação, permitindo que ajustes e melhorias sejam feitos conforme a realidade educacional e as demandas dos alunos evoluam, assegurando que o processo de alfabetização e letramento seja contínuo, adaptável e verdadeiramente inclusivo.

2. Impacto das Políticas de Formação Continuada de Professores na Alfabetização e Letramento de Crianças com TEA

A formação continuada de professores é um fator crucial no sucesso do processo de alfabetização de crianças com TEA, e as políticas públicas desempenham um papel vital em promover essa capacitação. No entanto, há uma carência de programas de formação específicos que preparem os professores para entender as complexidades do TEA e adaptar estratégias pedagógicas eficazes para o letramento. Este tópico propõe uma análise crítica da efetividade dos programas de capacitação oferecidos pelas políticas públicas, questionando se eles realmente abordam as práticas inclusivas necessárias para o processo de alfabetização de crianças autistas. Além disso, investiga-se o impacto de abordagens como o uso de tecnologias assistivas, metodologias ativas e estratégias diferenciadas para o ensino de leitura e escrita. Esse tema enfatiza como a formação de educadores, apoiada por políticas públicas adequadas, pode transformar o ambiente educacional, proporcionando um processo de alfabetização mais inclusivo e eficaz para estudantes com TEA.

Para o tópico “Impacto das Políticas de Formação Continuada de Professores na Alfabetização e Letramento de Crianças com TEA,” o referencial teórico deve considerar a formação contínua de professores como elemento fundamental para garantir a eficácia no ensino de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esse processo de capacitação é apoiado por políticas públicas que visam preparar os educadores para aplicar metodologias inclusivas e desenvolver estratégias de ensino que atendam às especificidades do TEA. No entanto, a efetividade dessas políticas ainda é limitada. Segundo Soares (2023), muitos programas de formação continuada carecem de conteúdos específicos para o ensino de crianças autistas, abordando pouco as metodologias ativas e a aplicação de tecnologias assistivas no ambiente escolar. Assim, o impacto das políticas públicas na formação continuada para a alfabetização e letramento de crianças com TEA depende diretamente da qualidade e da relevância dos conteúdos oferecidos nesses cursos de formação.

A ausência de uma formação especializada no contexto das políticas públicas brasileiras reflete-se nas dificuldades enfrentadas pelos professores para implementar práticas inclusivas. Estudos como o de De Oliveira et al. (2022) destacam que a maioria dos programas de capacitação são voltados para práticas de inclusão em um contexto geral, deixando de abordar as nuances específicas do TEA. Consequentemente, muitos educadores se veem desamparados ao lidar com os desafios de adaptação curricular e metodológica necessários para o letramento dessas crianças. A literatura aponta que abordagens inclusivas eficazes requerem uma formação que vá além do básico, capacitando os professores a identificar, adaptar e aplicar estratégias de ensino de leitura e escrita que respeitem as particularidades do desenvolvimento cognitivo e comportamental das crianças com TEA (Robledo, 2017).

Outro ponto relevante é o papel das tecnologias assistivas, que, quando integradas às práticas pedagógicas, promovem um ambiente de aprendizagem mais acessível e estimulante. Conforme LaBarbera e Soto-Hinman (2009), o uso dessas ferramentas no processo de alfabetização e letramento é potencializado pela formação continuada dos professores, que precisam ser capacitados para utilizá-las com eficácia. No entanto, as políticas públicas ainda são limitadas em sua capacidade de incluir a formação em tecnologias assistivas de maneira abrangente e prática. Professores sem treinamento específico tendem a sentir dificuldades ao introduzir essas tecnologias, limitando, assim, seu potencial no apoio ao desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita em crianças com TEA (Whalon, 2018).

Além disso, as metodologias ativas, como a gamificação e a aprendizagem baseada em projetos, têm demonstrado eficácia no ensino de crianças com TEA, mas sua aplicação ainda é incipiente na maioria das escolas públicas brasileiras (Haungs, 2018). A formação continuada que inclui essas metodologias pode criar um ambiente de aprendizado mais interativo e focado nas necessidades individuais dos estudantes. Contudo, a implementação dessas práticas depende de políticas públicas que incentivem e apoiem financeiramente a capacitação dos professores. No contexto atual, muitos educadores enfrentam barreiras para adotar essas metodologias, resultando em uma alfabetização e letramento menos inclusivos e, em alguns casos, ineficazes.

Por fim, a continuidade e a atualização das políticas de formação são essenciais para acompanhar as novas descobertas sobre o ensino de crianças com TEA. Estudos recentes sugerem que a formação deve ser dinâmica, adaptando-se às mudanças na compreensão sobre o desenvolvimento de habilidades de letramento em crianças com TEA (Lee et al., 2022). A ausência de políticas que promovam uma formação continuada e atualizada contribui para a defasagem das práticas educacionais, limitando o alcance e a eficácia das iniciativas inclusivas. Portanto, a análise crítica do impacto dessas políticas evidencia a necessidade de revisões e melhorias nos programas de formação continuada, de modo a capacitar os professores para enfrentar os desafios do ensino inclusivo e garantir uma alfabetização e letramento de qualidade para crianças com TEA.

3. Importância do Currículo Adaptado na Alfabetização e Letramento de Crianças com TEA

Esse tópico propõe uma análise crítica sobre como o currículo adaptado pode impactar a alfabetização e o letramento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A inclusão de alunos com TEA no ensino regular exige adaptações curriculares que respeitem tanto as especificidades cognitivas e comportamentais quanto as necessidades de socialização desses alunos. Políticas públicas que incentivem a flexibilização curricular e a elaboração de planos educacionais individualizados (PEI) podem tornar o processo de alfabetização mais acessível e eficiente para estudantes com TEA (Pereira, 2023). Pesquisas indicam que o currículo adaptado permite a criação de um ambiente de aprendizagem que considera o ritmo e as habilidades individuais, o que favorece o engajamento e o progresso no aprendizado de crianças com TEA (Soares, 2023; Colombo, 2023). Além disso, o uso de estratégias de ensino diferenciadas, como o aprendizado baseado em habilidades funcionais e atividades práticas, pode potencializar o desenvolvimento de competências linguísticas e comunicativas, facilitando o processo de letramento e alfabetização (Robledo, 2017).

A formação continuada de professores tem um papel central na construção de práticas inclusivas eficazes para a alfabetização e letramento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). As políticas públicas que promovem o desenvolvimento profissional contínuo buscam ampliar o conhecimento dos educadores sobre as especificidades do TEA e sobre as estratégias pedagógicas que favorecem o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita desses alunos (Gonçalves et al., 2024). Estudos indicam que professores capacitados conseguem adaptar o currículo de modo a atender às necessidades individuais de estudantes com TEA, aumentando assim suas chances de inclusão e sucesso acadêmico. Através da formação continuada, os educadores se familiarizam com práticas baseadas em evidências, como técnicas de leitura adaptadas e estratégias de ensino visual, que promovem o engajamento e a compreensão dos conteúdos por parte desses alunos (Whalon; Hart, 2011). Esse conhecimento é crucial para a criação de um ambiente de aprendizado mais inclusivo e efetivo para estudantes com TEA.

Outro aspecto relevante das políticas de formação continuada é a capacitação dos professores para realizar adaptações curriculares que respeitem as diferenças cognitivas e comportamentais dos alunos com TEA (Schmitz; MartinS, 2018). A adaptação curricular, feita de forma planejada e individualizada, permite que o conteúdo seja acessível e relevante para esses estudantes, atendendo tanto ao desenvolvimento acadêmico quanto às habilidades sociais e comunicativas. Uma análise da Childhood Autism Rating Scale, por exemplo, pode guiar a escolha das adaptações pedagógicas mais adequadas para cada aluno, possibilitando que os conteúdos sejam apresentados de forma compatível com suas capacidades e interesses (Schmitz; Martins, 2018). Nesse sentido, políticas públicas que incentivem a formação continuada dos professores para a realização de adaptações curriculares fundamentadas em avaliações específicas, como essa, são essenciais para a efetividade da inclusão de alunos com TEA no ensino regular.

Além disso, a formação continuada promove o uso de estratégias pedagógicas baseadas na experiência prática e na pesquisa científica, fundamentais para o progresso na alfabetização e letramento de crianças com TEA (Lenz; Crespo; Camargo, 2020). Essas estratégias incluem o uso de suportes visuais, o ensino estruturado e o reforço positivo, que auxiliam no desenvolvimento da leitura e da escrita de forma mais engajadora. A implementação dessas práticas, aliada ao apoio de políticas de formação continuada, contribui para a criação de um currículo inclusivo, que valoriza a diversidade e promove o aprendizado de todos os alunos (Mesquita, 2017). Assim, o fortalecimento das políticas de formação continuada é essencial para que os professores possam desenvolver práticas pedagógicas que efetivamente atendam às particularidades de alunos com TEA, fomentando seu desenvolvimento integral.

No que tange à elaboração de um currículo inclusivo, as políticas de formação continuada auxiliam os educadores a compreenderem melhor o papel do currículo adaptado no desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com TEA (Colombo, 2023). O currículo inclusivo não apenas facilita o acesso aos conteúdos escolares, mas também promove a construção de habilidades sociais e emocionais essenciais para o desenvolvimento integral dos alunos. Pesquisas destacam que a formação continuada capacita os professores a identificar as necessidades individuais dos estudantes e a adaptar as atividades pedagógicas para que estas se tornem mais significativas para alunos com TEA. Dessa forma, políticas de formação continuada que incentivam a adaptação curricular inclusiva são fundamentais para uma educação que promova a equidade e a participação de todos.

Por fim, o fortalecimento das políticas públicas de formação continuada para educadores tem o potencial de transformar o processo de alfabetização e letramento de crianças com TEA, pois permite uma abordagem pedagógica mais adaptada e responsiva às suas necessidades. As políticas que promovem o desenvolvimento de um currículo inclusivo e a capacitação para o uso de estratégias pedagógicas específicas criam um ambiente escolar que acolhe e valoriza as particularidades dos alunos com TEA, facilitando o aprendizado e a inclusão (Pereira, 2023). A formação continuada, portanto, emerge como uma ferramenta essencial para a construção de uma prática educacional inclusiva, que reconhece e valoriza a diversidade como um aspecto fundamental para o processo de ensino-aprendizagem, promovendo assim o desenvolvimento acadêmico e pessoal dos alunos com TEA.

Conclusão

As considerações finais desta pesquisa ressaltam a importância de uma abordagem crítica e abrangente para avaliar o impacto das políticas públicas de formação continuada de professores no processo de alfabetização e letramento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os resultados sugerem que, embora existam iniciativas e políticas voltadas para a inclusão educacional, ainda há um longo caminho a percorrer para que essas práticas sejam efetivamente implementadas e alcancem as especificidades de aprendizagem dos estudantes com TEA.

Um dos principais pontos abordados é a necessidade de políticas de formação que contemplem conteúdos específicos para o ensino de crianças com TEA, incluindo o uso de tecnologias assistivas e metodologias ativas que promovam um ambiente de aprendizagem inclusivo. Como discutido ao longo da pesquisa, a capacitação contínua dos educadores é essencial para que possam adaptar suas práticas pedagógicas, utilizando ferramentas e estratégias que respeitem o ritmo e as particularidades dos estudantes autistas. Nesse sentido, a formação continuada precisa ser atualizada constantemente, acompanhando novas pesquisas e práticas educativas voltadas para a inclusão, como sugerido por autores como Soares (2023) e De Oliveira et al. (2022).

Outro aspecto relevante identificado é o papel das tecnologias assistivas e metodologias ativas no apoio ao letramento de crianças com TEA. A formação dos professores para utilizar essas ferramentas de maneira eficaz é fundamental para que possam facilitar o desenvolvimento da leitura e escrita de seus alunos. No entanto, as limitações das políticas públicas em incluir tais capacitações no currículo de formação continuada ainda são um entrave, deixando os professores desamparados e, em muitos casos, despreparados para atender às necessidades específicas desses estudantes. A superação dessas barreiras depende de uma revisão das políticas de formação, bem como de um compromisso maior das instituições em fornecer apoio e recursos adequados para a implementação dessas práticas.

As limitações encontradas na literatura e a falta de estudos empíricos robustos também evidenciam a necessidade de mais pesquisas que investiguem a aplicabilidade e eficácia das metodologias de ensino voltadas para a alfabetização e letramento de crianças autistas, especialmente no contexto brasileiro. A partir de estudos futuros, será possível compreender melhor os desafios e possibilidades da formação continuada e propor estratégias que realmente atendam às necessidades dos educadores e alunos, contribuindo para a construção de um sistema educacional mais inclusivo.

Em conclusão, para que as políticas públicas de formação continuada de professores possam impactar positivamente o processo de alfabetização e letramento de crianças com TEA, é imprescindível um esforço conjunto entre governo, instituições de ensino e pesquisadores. Apenas com uma abordagem colaborativa e comprometida será possível garantir que as práticas inclusivas se tornem uma realidade em sala de aula, promovendo o desenvolvimento acadêmico e social de todos os alunos. Assim, esta pesquisa busca contribuir para a reflexão e o aprimoramento das políticas de formação, com vistas a uma educação que valorize e respeite as diferenças, promovendo uma inclusão verdadeira e eficaz no ambiente escolar.

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1 Mestrando em Educação
 Universidade Estadual Paulista (UNESP) – câmpus de Marília
Quintana-SP, Brasil
davimilan145@gmail.com

2 Doutoranda em Educação
 UNADES: Paraguai
ltgpsh@gmail.com

3 Mestrado em História
PPGH-UFPB
João Pessoa – PB, Brasil
alinevieira_f5@hotmail.com

4 Mestranda em Relações Internacionais
Universidade Federal do ABC
São Bernardo do Campo – SP, Brasil
ana.rita@ufabc.edu.br

5 Doutor em educação pela universidade de brasília – UNB
Prof. Adjunto da Universidade do Estado do Amapá – UEAP
joseadnilton_ap@yahoo.com.br

6 Mestrando em Tecnologias Emergentes de Educação
MUST University
edmaury@hotmail.com

7 Bacharel em direito
UNIRIOS Paulo Afonso
Paulo Afonso-Bahia, Brasil
adrianorc@hotmail.com

8 Pós Graduação em Libras e Educação Inclusiva – IFMT
Rondonopolis, MT, Brasil
herica.pimenta1@gmail.com

9 Pedagoga
Fael (Faculdade educacional da Lapa
Rondonópolis-MT, Brasil
marileneufmt@hotmail.com

10 Dr. h.c. em Cultura Popular Brasileira (CSAEFH)
São Borja/RS, Brasil
 dr.h.c.silva@gmail.com

11 pós graduada em Alfabetização e Letramento  UNINTER
Rondonópolis-MT, Brasil
cyda_fernandes@hotmail.com

12 mestrando em educação
UNEATANTICO-Universidade Europeia del Atlântico
Belém-Pará, Brasil
arlindogomesdepaula@gmail.com

13 Mestrando   em   Ciências   da   Educação
Universidad   Europea   del   Atlântico,Santander  Espanha
luiz@cff.org.br

14 Mestrado em Engenharia de Produção
UNIARA – Universidade de Araraquara
Passo fundo-RS, Brasil
diego.leme.o@gmail.com

15 Doutora   em   Educação  
   Universidade   Metodista   de   São   Paulo 
Santo André, São   Paulo, Brasil 
 faandradefrimaio@gmail.com