A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO PRÉ ANESTÉSICA EM PACIENTES HOSPITALIZADOS

THE IMPORTANCE OF PRE-ANESTHETICS ASSESSMENT IN HOSPITALIZED PATIENTS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411112159


Danilo Marques de Aquino¹; Luisa Lobo Sousa¹; José Matos de Oliveira Neto²; Guilherme Groto Santos³.


Resumo

Introdução: a Avaliação Pré-Anestésica (APA) é essencial para o preparo do paciente cirúrgico. Por meio dela o médico anestesiologista tem conhecimento sobre a condição clínica do enfermo e pode se então planejar de forma segura a melhor técnica anestésica. Objetivo: muito se fala em APA para procedimentos eletivos, no entanto, o objetivo desse estudo é destacar a importância da APA para pacientes hospitalizados. Metodologia: trata-se de um estudo de revisão de literatura evidenciado a importância da APA. Considerações finais: a APA é crucial para o paciente cirúrgico, pois ela permite otimizar a condição clínica e estabelecer medidas que são fundamentais para a segurança do paciente e de certa forma reduzir a morbimortalidade, melhorar o prognóstico do paciente operado e reduzir os custos com o preparo pré-operatório.

Palavras-chave: avaliação pré-anestésica, desfecho cirúrgico, paciente hospitalizado, anestesia.

Abstract

Introduction: Pre-Anesthetic Assessment (PAA) is essential for preparing surgical patients. Through it, the anesthesiologist has knowledge about the patient’s clinical condition and can then safely plan the best anesthetic technique. Objective: much is said about PAA for elective surgical procedure, however, the objective of this study is to highlight the importance of PAA for hospitalized patients. Methodology: this is a literature review study highlighting the importance of PAA. Final considerations: PAA is crucial for the surgical patient, as it allows optimizing the clinical condition and establishing measures that are fundamental to patient safety and, in a certain way, reducing morbidity and mortality, improving the prognosis of the operated patient and reducing costs with surgery pre-operative preparation.

Keywords: pre-anesthetic assessment, surgical outcome, hospitalized patient, anesthesia.

1. Introdução

A avaliação pré-anestésica (APA) é fundamental para o planejamento pré-operatório e está diretamente relacionada com o desfecho anestésico e cirúrgico. Por meio dela, é possível que riscos e complicações sejam minimizados durante o procedimento (1).

Durante a APA, o médico anestesiologista obtém dados que são cruciais para o planejamento anestésico, como idade, peso, altura, comorbidades, histórico de eventos adversos com uso de medicações, medicamentos em uso, histórico de cirurgias, hábitos de vida, avaliação de exames pré-operatórios, bem como através do exame físico observar dados que ajudam diretamente no planejamento anestésico como preditores de via aérea difícil e condições que permitem estabelecer a escolha da melhor técnica anestésica para determinado procedimento cirúrgico (1, 2).

É através de toda avaliação clínica do paciente que se pode classificar o estado físico do paciente, de acordo com a classificação da Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA) (1) (tabela 1).

Essa classificação de estado físico da ASA já está em uso há cerca de 60 anos e seu objetivo é avaliar e informar as patologias pré-anestésicas de um paciente, no entanto, essa classificação isolada não antevê os riscos perioperatórios, mas quando usado com outros fatores como o tipo de cirurgia e fragilidade pode ser útil na predição de riscos perioperatórios (3).

Embora a APA seja aplicada, em sua maioria, para pacientes com procedimentos eletivos, deve-se levar em consideração os pacientes que estão hospitalizados e necessitam ser submetidos a procedimentos cirúrgicos ou até mesmo pacientes em caráter de cirurgia de urgência e, ou emergência.

2. Objetivo

Descrever a importância da avaliação pré-anestésica para estabelecer um planejamento anestésico em pacientes hospitalizados e que necessitam ser submetidos a anestesia para procedimentos cirúrgicos.

3. Metodologia

Este estudo foi realizado através de analises bibliográficas publicadas nas plataformas Scientific eletronic library online (scielo), pubmed, Guidline ASA e Resoluções do Conselho Federal de Medicina. Foram consultados artigos originais e de revisão sobre o tema, utilizando-se os seguintes descritores: “avaliação pré-anestésica, desfecho cirúrgico, paciente hospitalizados, anestesia”.

4. Resultados e Discussão

A Resolução nº 1802/2006, publicada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), dispõe sobre a prática do ato anestésico (4). O artigo 1º estabelece aos médicos anestesiologistas que “antes da realização de qualquer anestesia, exceto nas situações de urgência, é indispensável conhecer, com a devida antecedência, as condições clínicas do paciente.” Os incisos deste artigo normatizam ainda que: a) a avaliação pré-anestésica  seja realizada em consulta médica antes da admissão na unidade hospitalar para os procedimentos eletivos e, b) na avaliação pré-anestésica, baseada na condição clínica do paciente e procedimento proposto, o médico anestesiologista solicitará, ou  não, exames complementares e/ou avaliação de outras especialidades(5).

 Sendo assim, é durante a APA que se tem a oportunidade de fortalecer o vinculo médico-paciente com a finalidade de otimizar e viabilizar um melhor planejamento para o ato anestésico cirúrgico e consequentemente diminuir a chance de eventos indesejáveis.

Estudos mostram que cerca de 11% dos incidentes pós-operatórios têm relação direta com uma má avaliação pré-cirúrgica (6). O Conselho Federal de Medicina (CFM), por meio da Resolução n◦1.802/06.1, tornou indispensável a APA e recomendou que  seja  feita  antes  da  admissão hospitalar. Entretanto, deve-se levar em consideração pacientes que já estão hospitalizados e que serão submetidos a procedimento cirúrgicos. Por isso, o ideal é que esses também sejam submetidos a APA a fim de otimizar as condições clínicas do paciente (4).

Nessas condições, o médico anestesiologista deverá checar com o paciente dados como antecedentes pessoais, uso de medicamentos e reações alérgicas, comorbidades associadas, deverá solicitar e checar resultados de exames, solicitar avaliação de outras especialidades quando necessário. Além disso, deverá ser discutido com o paciente sobre a possibilidade de transfusões sanguíneas, necessidade de cuidados pós operatório em unidade de terapia intensiva. Em um estudo realizado na Austrália observou-se que 14% das complicações anestésicas e cirúrgicas e 39% das mortes foram atribuídas a anestesia e relacionava-se com uma avaliação pré-anestésica mau executada (7).

No Brasil a APA é obrigatória e é um direito do paciente, de acordo com a Sociedade Brasileira de Anestesiologia e tem como objetivo prevenir eventos adversos.

Embora a maioria dos pacientes que são submetidos a APA seja em caráter de procedimento eletivos, deve-se ter atenção especial com paciente hospitalizados, pois atenção com a otimização clínica-laboratorial deve ser levada em consideração antes da indicação cirúrgica (8).

Medidas como reserva de leito em unidade de terapia intensiva, realização de tipagem sanguínea para possível necessidade de hemotransfusão, reserva de hemoderivados e hemocomponentes, conhecer também sobre a crença do enfermo, visto que alguns não aceitam transfusão sanguínea, são cruciais para o sucesso da anestesia.

Dessa forma, muito se fala em APA para procedimento eletivos, no entanto é se suma importância que pacientes hospitalizados sejam avaliados pelo médico anestesiologista a fim de melhorar a condição clínica e estabelecer medidas de cuidados pré e perioperatório para se adequar a segurança do paciente, contribuindo assim para um melhor desfecho anestésico-cirúrgico.

5. Conclusão

Sob essa perspectiva, foi possível ressaltar que há consenso na importância da rotina de aplicação da APA em todos os serviços de cirurgia. A realização dessa avaliação está relacionada ao sucesso do desfecho clínico-cirúrgico, bem como do prognóstico do paciente operados. Quando bem executada, a APA também permite a redução de custos envolvidos no procedimento. Ainda nessa ótica, com uma correta avaliação do paciente, é possível evitar que exames complementares sejam realizados de maneira desnecessários à sua condição clínica.

6. Referências bibliográficas

  1. American Society of Anesthesiologists -ASA. ASA physical status classification system. ASA House of Delegates, 2014.
  2. Issa MR, Isoni NF, Soares AM, Fernandes ML. Preanesthesia evaluation and reduction of preoperative care costs. Rev Bras Anestesiol. 2011 Jan-Feb;61(1):60-71. doi: 10.1016/S0034-7094(11)70007-1. PMID: 21334508.
  3. Murakawa, DH, Teixeira, LM, Teran, RWR, Castro, L, Vieira, CJA. “Planejamento anestésico em Intubação Orotraqueal em Via Aérea Difícil: A importância da Avaliação Pré Anestésica”, International Journal of Development Research, 11, (10), 51160-51163.
  4. Conselho federal de Medicina. Resolução n° 1.802/2006, de 20 de dezembro de 2006, Seção I, pg. 160. Dispõe sobre a prática do ato anestésico. Revoga a Resolução CFM n. 1363/1993. Disponível em: https://sistemas.cfm.org.br 1802_2006.pdf
  5. De A Filho, G; Borges HTF; Barreiro RT. Consulta pré-operatória anestésica e seus benefícios. Anesthesiology Preoperative consultation and their benefits. Revista Caderno de Medicina Vol 2. No 1 (2019).
  6. Magalhães Filho, LL et al. Impacto da avaliação pré-anestésica sobre a ansiedade e a depressão dos pacientes cirúrgicos com câncer. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 56, p. 126-136, 2006.
  7. Oliveira AR, Mendes FF, Oliveira M -Os Clientes e a Avaliação Pré-Operatória Ambulatorial. Rev Bras Anestesiol 2003; 53: 1: 83 –88.
  8. Santos ML, Novaes CO, Iglesias AC. Perfil epidemiológico de pacientes atendidos no ambulatório de avaliação pré-anestésica de um hospital universitário, Rev Bras Anestesiol. 2017;67(5):457-467.
  9. Soares, JM, Queiroz AGV, Queiroz, VKP, Falbo, AR, Silva, MN, Couceiro, TCM, Lima, LC, Conhecimento dos anestesiologistas sobre transfusão de concentrado de hemácias em pacientes cirúrgicos. Brazilian Journal of Anesthesiology, volume 67, issue 6, 2017, pages 584-591, ISSN 0034-7094, https://doi.org/10.1016/j.bjan.2016.09.011.

¹Médico Residente em Anestesiologia da Fundação Santa Casa de Misericórdia de Franca – SP
²Médico Anestesiologista da Fundação Santa Casa de Misericórdia de Franca – SP
³Médico Anestesiologista, Título Superior em Anestesiologia pela SBA, Coordenador do Programa de Residência Médica da Fundação Santa Casa de Misericórdia de Franca – SP