REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411092033
Gideon Dos Santos Costa1
Vinicius Silva Souza2
Rosiane Barbosa Pereira De Arruda3
Orientador (a): Profª. Me. Graciely Lima Ferraz4
RESUMO
INTRODUÇÃO: Segundo a secretaria de vigilância Sanitária (SVS) no Brasil a DPOC é a quinta principal causa de mortalidade, e quinta maior causa de internações no Sistema Único de Saúde (SUS) entre pessoas acima dos 40 anos somando cerca de 200 mil hospitalizações por ano. Nos estágios mais avançados a doença causa uma redução substancial na qualidade de vida dos pacientes devido às exacerbações que comumente causam insuficiência respiratória crônica associada a fadiga e intolerância a exercícios. O Treinamento Muscular Inspiratório (TMI) tem emergido como uma intervenção promissora para melhorar a função respiratória e a capacidade física em pacientes com DPOC. Estudos preliminares sugerem que o TMI pode resultar em benefícios significativos, incluindo aumento da força muscular inspiratória, melhoria na capacidade de exercício e alívio dos sintomas da dispneia. OBJETIVO: Analisar a literatura disponível para determinar a eficácia do TMI em melhorar a função pulmonar, a capacidade de exercício e a qualidade de vida em indivíduos com DPOC. METODOLOGIA: O presente estudo do tipo revisão sistemática, foi desenvolvido segundo as recomendações do PRISMA. Foi usada para elaboração da pergunta norteadora a estratégia PICO. Com as palavras chaves (Doença Pulmonar obstrutiva crônica, Treinamento muscular inspiratório, Capacidade funcional, Pressão Inspiratória Máxima exercício respiratório e dispneia). Os artigos foram buscados nas bases de dados Pubmed, SciELO, LILACS e Biblioteca Cochrane. Foram incluídos ensaios clínicos que abordaram os efeitos do TMI na PImáx de pacientes com DPOC, publicados entre 2017 e 2022. Além disso, os operadores booleanos “AND” e “OR” foram utilizados. RESULTADOS: A busca teve um resultado 726 artigos, 17 foram duplicados, restando 709 artigos dos quais 693 foram excluídos por leitura de títulos e resumos, foi feita a leitura de texto completo de 16 artigos dos quais, 7 foram incluídos nesta revisão. As amostras variavam de 16 a 219 participantes entre 62 e 70 anos. Todos os estudos incluídos demonstraram a eficácia do TMI no tratamento da DPOC, mostrando melhora na capacidade funcional. CONCLUSÃO: O Treinamento Muscular Inspiratório demonstra eficácia não apenas no incremento da Pressão Inspiratória Máxima, mas também na redução da dispneia.
Palavras-chave: Doença Pulmonar Obstrutiva crônica, Treinamento Muscular Inspiratório, Capacidade funcional, Pressão Inspiratória Máxima, exercício respiratório e dispneia.
ABSTRACT
INTRODUCTION: According to the Secretariat of Health Surveillance (SVS), Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) is the fifth leading cause of mortality in Brazil and the fifth leading cause of hospitalizations in the Unified Health System (SUS) among people over 40 years old, accounting for around 200,000 hospitalizations per year. In more advanced stages, the disease significantly reduces patients’ quality of life due to exacerbations, which commonly cause chronic respiratory failure associated with fatigue and exercise intolerance. Inspiratory Muscle Training (IMT) has emerged as a promising intervention to improve respiratory function and physical capacity in patients with COPD. Preliminary studies suggest that IMT can result in significant benefits, including increased inspiratory muscle strength, improved exercise capacity, and relief of dyspnea symptoms. OBJECTIVE: To analyze the available literature to determine the effectiveness of IMT in improving lung function, exercise capacity, and quality of life in individuals with COPD. METHODOLOGY: The present study, a systematic review, was developed following PRISMA recommendations. The guiding question was elaborated using the PICO strategy with the following keywords: Chronic Obstructive Pulmonary Disease, Inspiratory Muscle Training, Functional Capacity, Maximum Inspiratory Pressure, Respiratory Exercise, and Dyspnea. Articles were searched in the PubMed, SciELO, LILACS, and Cochrane Library databases. Clinical trials addressing the effects of IMT on PImáx in COPD patients, published between 2017 and 2022, were included. Boolean operators “and” and “or” were also used. RESULTS: The search yielded 726 articles, 17 of which were duplicates, leaving 709 articles. Of these, 693 were excluded after reading titles and abstracts. A full-text reading of 16 articles was conducted, and 7 were included in this review. Sample sizes ranged from 16 to 219 participants, aged between 62 and 70 years. All included studies demonstrated the effectiveness of IMT in treating COPD, showing improvements in functional capacity. CONCLUSIVO: Inspiratory Muscle Training has been shown to be effective not only in increasing Maximum Inspiratory Pressure but also in reducing dyspnea.
Keywords: Chronic Obstructive Pulmonary Disease, Inspiratory Muscle Training, Functional Capacity, Maximum Inspiratory Pressure, Respiratory Exercise, Dyspnea.
Introdução
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma condição respiratória debilitante caracterizada pela obstrução persistente do fluxo aéreo, frequentemente associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões a partículas ou gases nocivos. O tabagismo é sem dúvida um dos principais causadores da doença, estima-se que 15% a 25% dos tabagistas evoluirão para uma DPOC, sendo o tabagismo responsável por cerca de 80% dos casos. (Global Initiative for Chronic Lung Disease GOLD., 2023)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que com o aumento da prevalência da doença, ela assumiu o lugar no ranking como a terceira principal causa de óbito no mundo. Segundo a secretaria de vigilância Sanitária (SVS) no Brasil a DPOC é a quinta principal causa de mortalidade, e quinta maior causa de internações no Sistema Único de Saúde (SUS) entre pessoas acima dos 40 anos somando cerca de 200 mil hospitalizações e um gasto anual de aproximadamente 72 milhões de reais, resultando em uma carga significativa para os sistemas de saúde. Nos estágios mais avançados a doença causa uma redução substancial na qualidade de vida dos pacientes devido às exacerbações que comumente causam insuficiência respiratória crônica associada a fadiga e intolerância a exercícios.
O Treinamento Muscular Inspiratório (TMI) tem emergido como uma intervenção promissora para melhorar a função respiratória e a capacidade física em pacientes com DPOC. Segundo a American Thoracic Society e a European Respiratory Society o TMI consiste em exercícios específicos que visam fortalecer os músculos respiratórios, principalmente o diafragma, com o objetivo de melhorar a ventilação e reduzir a dispneia. Estudos preliminares sugerem que o TMI pode resultar em benefícios significativos, incluindo aumento da força muscular inspiratória, melhoria na capacidade de exercício e alívio dos sintomas da dispneia. Apesar do crescente interesse e das evidências emergentes, os resultados sobre a eficácia do TMI em pacientes com DPOC são variáveis, e uma compreensão consolidada de seus efeitos é necessária. Esta revisão sistemática tem como objetivo verificar a relação do TMI com a melhora da Pimáx em pacientes com DPOC.
Objetivo
Pretende-se analisar a literatura disponível para determinar a eficácia do TMI em melhorar a função pulmonar, a capacidade de exercício e a qualidade de vida desses indivíduos. Além disso, esta revisão irá explorar as metodologias utilizadas nos estudos, identificar possíveis lacunas na literatura e fornecer recomendações para futuras pesquisas. Através desta análise sistemática, esperamos fornecer uma visão clara e fundamentada sobre o papel do TMI no manejo da DPOC, contribuindo para a prática clínica e orientando o desenvolvimento de intervenções terapêuticas mais eficazes para esta população vulnerável.
Metodologia
Estratégia de pesquisa
O presente estudo do tipo revisão sistemática, foi desenvolvido segundo as recomendações dos Principais Itens para Relatar Revisões Sistemáticas e Meta-Análises (PRISMA). Na busca por aumentar a qualidade utilizando uma metodologia criteriosa de elaboração, a pesquisa foi conduzida por meio de consultas a diversas bases de dados online. As pesquisas foram realizadas sistematicamente obedecendo critérios de busca e seleção. Na National Library of Medicine (PubMed), foram utilizados os filtros “ensaios clínicos”; “teste controlado e aleatório”; “últimos sete anos-de publicação”; e “população adulta”. Na Cochrane Library, foram priorizados os modelos de estudo com terapêuticas de intervenção e os filtros “últimos sete anos de publicação” e “estudos publicados em inglês e português”. Na base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), foram selecionados os filtros “assunto principal doença pulmonar obstrutiva crônica”; “ensaios clínicos controlados”; “idiomas inglês e português”; e “últimos sete anos de publicação” e SciELO. A busca compreendeu o período de janeiro de 2023 a junho de 2024, e os descritores utilizados seguiram a descrição dos Medical Subject Headings (MeSH)/ Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), sendo eles: “pulmonary disease, chronic obstructive”; “breathing exercises”; “Inspiratory Muscle Training”; “funcional capacity” “exercise tolerance”; “maximum inspiratory pressure” e “dyspnea” com os operadores booleanos “AND/E” e “OR/OU”.
Critérios de inclusão e exclusão
Foram incluídos ensaios clínicos randomizados, nos quais o objeto de pesquisa eram indivíduos pertencentes à população adulta acima dos 18 anos, com diagnóstico de DPOC em estágio moderado a grave, a intervenções do grupo experimental deveria ser o TMI. Do mesmo modo, foram excluídas pesquisas cujo foco eram indivíduos diagnosticados com outros tipos de patologias respiratórias crônicas ou que estivessem em outro tipo de programa de reabilitação. Também foram desconsiderados estudos com títulos e resumos cujo assunto não se alinhava com a questão norteadora deste trabalho.
Extração de Dados
Na elaboração da questão norteadora, foi utilizada a estratégia População, Intervenção, Comparação e Outcome/Desfecho (PICO); na delimitação da população, foram consideradas pessoas com DPOC; quanto à intervenção aplicada, TMI; os estudos incluídos possuíam um grupo-controle e um grupo intervenção; e os principais desfechos analisados foram força e resistência muscular inspiratória, tolerância ao exercício e redução da dispneia. Os procedimentos de coleta ocorreram em quatro etapas, sendo elas identificação, seleção, elegibilidade e inclusão.
Todo o processo de revisão dos artigos identificados por meio da estratégia de busca foi realizado de forma independente, realizando-se primeiramente a leitura de títulos e resumos para avaliar os status dos artigos.
Esta revisão sistemática, teve como questão norteadora: “Relação do TMI com o aumento da Pimáx em pacientes com DPOC’’.
Quadro 1: Estratégia de pesquisa PICO
Acrônimo | Descrição | Definição |
P | Paciente | Paciente com diagnostico de DPOC. |
I | Intervenção | Treinamento muscular inspiratório (TMI). |
C | Controle | Indivíduos que não receberam nenhuma intervenção ou exercício respiratório. |
O | Outcome/Desfecho | Aumento da PImáx e melhora da capacidade funcional. |
Resultados
Na busca realizada nas bases de dados, foram identificados um total de 726 resultados, sendo 372 no Pubmed; 16 no LILACS; 338 na Scielo. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 64 artigos foram incluídos. Posteriormente foram excluídos 17 artigos por duplicidade. Após a leitura de títulos e resumos dos 47 artigos, 16 foram incluídos e feito leitura de texto completo, 7 destes foram incluídos nesta revisão sistemática de acordo com os critérios de elegibilidade. Desse modo, 7 Estudos somando um total de 434 indivíduos foram utilizados. Após a leitura foi aplicado a ficha de extração para coletar os dados principais de cada estudo – Autor, ano, tipo de estudo, amostra, grupos, intervenção e resultados.
No quadro 2 é possível encontrar de maneira resumida os principais dados extraídos dos artigos selecionados para este estudo.
Quadro 2: Aspectos gerais dos artigos selecionados.
Autor Ano | Tipo de estudo | Amostra | Grupo s | Intervenção | Resultados |
Buran Cirack et al. (2022) | Estudo prospectivo , randomizad o, controlado e simplescego | Homens:4 9 Mulheres: 11 Idade: < 62 anos | GTMI (30) GC (30) | Tempo de treino: 15min/dia. Frequência: Todos os dias. Tempo total da intervenção: 12 semanas. Dispositivo: threshold IMT. Carga utilizada: 40% PImáx inicial. GC: Não recebeu intervenção, foi avaliado antes e depois das 12 semanas. | GTMI apresentou melhora da Pimáx após 12 semanas se comparado ao GC. A PImáx dos participantes do estudo antes da intervenção era +55cmH2O; após a intervenção, a PImáx foi para +92cmH2O. Notou-se diminuição da dispneia usando a escala de dispneia nos dois grupos, porém o GTMI apresentou maior diminuição da dispneia. |
Anerdillo et al. (2020) | Estudo clínico randomizado | 16 pacientes Gênero: NR Idade : ≥65 | GTMI (7) GC1 (5) GC2 (4) | Tempo de treino: 60 min/sessão. Frequência: 3x/semana. Tempo total de intervenção: 8 semanas. Dispositivo utilizado: dispositivo de restrição nasal, para TMI denominado Feelbreath, associado a um programa de RP composto por 3 fases, aquecimento, fase principal e fase de recuperação. Carga utilizada: NR GCs: GC1 recebeu a mesma RP que o GTMI, porém sem o TMI (feelbreath). GC2 recebeu recomendações médicas padrão para pacientes com DPOC. | GTMI alcançou um aumento notável da PImáx em relação ao GC 1 e GC2. Melhorou a tolerância aos exercícios, testado pelo teste de caminhada de 6 minutos. |
Xu et al. (2018) | Estudo clínico randomizado | Homens: 82 Mulheres: 5 | GTMI (21) GC A (22) GC B (22) GC C (22) | Tempo de treino: 48min/sessão, 3min de treino e 2min de descanso. Frequência: 7x/semana. Tempo total de intervenção: 8 semanas. Dispositivo: Threshold IMT e Threshold PEP. Carga utilizada: NR. O GTMI realizou oito séries de TMI por dia, e oito series de Treinamento Muscular Respiratório sem carga por dia. GCs: GC A realizou diariamente 16 séries de treinamento, combinadas com um ciclo respiratório. GC B realizou oito séries de TMI e oito séries de TME separadamente em diferentes ciclos diários. GC C realizou 16 séries de Treinamento Muscular Respiratório sem nenhuma carga diariamente. | A PImáx do GTMI, GC A e GC B foi significativamen te maior que o GC C (único grupo que não recebeu Intervenção com TMI). |
Cutrim et al. (2019) | Estudo clínico randomizado | Homens: 17 Mulheres: 5 | GTMI (11) GC (11) | Tempo de treino: 30min/dia. Frequência: 3x/semana. Tempo total da intervenção: 12 semanas. Dispositivo: POWERbreathe Medic. Carga utilizada: 30% PImáx inicial. GC: Não recebeu intervenção, foi avaliado antes e depois das 12 semanas. | GTMI apresentou melhora significativa da PImáx quando comparado ao GC, após 12 semanas de treino. Antes da intervenção a PImáx dos participantes do GTMI era + 62cmH2O. Após a intervenção a PImáx aumentou para + 84cmH2O. |
Chuang et al. (2017) | Estudo clínico randomizado | Homens: 36 Mulheres: 19 Idade: ≥66 anos | GTMI (27) GC (28) | Tempo de treino: 20 a 30min/dia particionado como 1 ciclo de TMI de 2min e 1min de descanso, seguidos de 7 ciclos repetidos. Frequência: 5x/semana. Tempo total da intervenção: 8 semanas. Dispositivo: NR Carga utilizada: NR GC: foi prestado apenas tratamento médico e atendimento de rotina, sem intervenção. | GTMI apresentou melhora não só do PImáx mas também na dispneia e tolerância ao exercício, quando comparado ao GC. GTMI teve aumento da PImáx (- 17,6+18cmH2O) enquanto o GC foi de (- 2,21+0,4cmH2O ). No teste de caminha de 6 metros para testar a tolerância ao exercício o GTMI aumentou a distância em 47,8+1,46 metros, enquanto o GC foi de 5,6+1,1. |
Langer et al. (2018) | Estudo clínico randomizad o | Homens: 7 Mulheres: 13 Idade: ≥ 70 anos | GTMI (10) GC (10) | Tempo de treino: 5min/sessão 2 a 3x/dia. Frequência: 4 a 7x/semana. Tempo total da intervenção: 8 semanas. Dispositivo: POWERbreath KH2. Carga utilizada: carga inicial + 40% da PImáx base, e aumentando progressivament e ate 40% a 50% da PImáx atual GC: realizou três sessões/dia com carga fixa de 10% da PImáx inicial. | GTMI apresentou melhora exponencial da PImáx após a intervenção: valor inicial (-76 cmH2O). valor após intervenção com TMI: – 80+15 cmH2O. Também apresentou melhora significativa na tolerância ao exercício e dispneia quando comparado ao GC. |
Charususi n et al. (2018) | Estudo clínico randomizado | Homens: 95 Mulheres: 124 Idade≥ 65 anos | GTMI (85) GC (89) | Tempo de treino: 60min/sessão. Frequência: 3 a 5 sessões/seman as. Tempo total da intervenção: 20 a 36 sessões. Dispositivo: POWERbreath KHP2. Carga utilizada: NR GC: Ambos os grupos realizaram um programa de treinamento com parâmetros de tempo, frequência e dispositivo idênticos, porém, a intensidade do GTMI foi definida inicialmente como 50% da PImáx da boca, enquanto o GC teve sua carga fixada em 10% da PImáx basal e manteve-se inalterada por todo o tempo de treinamento. | GTMI apresentou aumento de força na musculatura inspiratória avaliada pelos valores da carga de treino inicial na primeira semana que era 47+2% com evolução para 84+4% da sua PImáx basal na 12ª semana de intervenção. |
Qualificação Metodológica
A qualidade metodológica dos artigos foi realizada através da escala PEDro (Quadro 3), cujo objetivo é auxiliar os pesquisadores a identificar com brevidade se os artigos selecionados seguiram o rigor metodológico adequado para um ensaio clínico.
Quadro 3. Avaliação pela escala PEDro.
Critérios | Buran Cirack et al. (2019) | Anerdillo et al. (2020) | Xu et al. (2018) | Cutrim et al. (2019) | Chuang et al. (2017) | Langer et al. (2018) | Charususin et al. (2018) |
Os critérios de elegibilidade foram especificados. | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 |
Os sujeitos foram aleatoriamente distribuídos em grupos (em estudo cruzado, os sujeitos foram colocados em grupos de forma aleatória de acordo com o tratamento recebido). | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 |
A alocação dos sujeitos foi secreta. | 1 | 0 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 |
Inicialmente, os grupos eram semelhantes no que diz respeito aos indicadores de prognóstico mais importantes. | 1 | 1 | 1 | 1 | 0 | 1 | 1 |
Todos os sujeitos participaram de forma cega do estudo. | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 | 1 |
Todos os terapeutas que administraram a terapia fizeram-no de forma cega | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
Critérios | Buran Cirack et al. (2019) | Anerdillo et al. (2020) | Xu et al. (2018) | Cutrim et al. (2019) | Chuang et al. (2017) | Langer et al. (2018) | Charususin et al. (2018) |
Todos os avaliadores que mediram pelo menos um resultadochave fizeram-no de forma cega | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 1 | 1 |
Mensurações de pelo menos um resultadochave foram obtidas em mais de 85% dos sujeitos inicialmente distribuídos nos grupos | 1 | 0 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 |
Todos os sujeitos a partir dos quais se apresentaram mensurações de resultados receberam o tratamento ou a condição de controle conforme a alocação ou, quando não foi esse o caso, fez-se a análise dos dados de pelo menos um dos resultados-chave por “intenção de tratamento” | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 |
Os resultados das comparações estatísticas intergrupos foram descritos para pelo menos um resultado-chave | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 |
O estudo apresenta tanto medidas de precisão como medidas de variabilidade para pelo menos um resultadochave | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 |
Escore total da escala PEDro | 8 | 6 | 8 | 9 | 8 | 10 | 11 |
Discussão
Com os dados reunidos no presente estudo, pode-se observar a resposta positiva do TMI em pacientes com DPOC. Por vezes pessoas acometidas por esta patologia sofrem uma diminuição significativa da força muscular, que atinge diretamente a musculatura respiratória, comprometendo todo o ciclo ventilatório e respiratório (Global Initiative for Chronic Lung Disease GOLD., 2022).
Segundo Richardson et al em pacientes com DPOC há uma perda considerável de fibras do tipo I que são ricas em mitocôndrias. Isso acaba culminando em perda ou diminuição da capacidade oxidativa do sistema músculo esquelético destes indivíduos, diminuindo a força muscular, levando a perda da capacidade máxima inspiratória, perda da complacência e elastância em decorrência da fisiologia da doença.
No estudo de Langer et al 2018 o uso do powerbreath no treinamento muscular inspiratório de 2 a 3 vezes ao dia por 4 a 5 min, 7 dias por semana, durante 8 semanas, gerou uma melhora significativa não só na força muscular, mas também no desfecho secundário a diminuição da dispneia durante exercícios como Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M), e uma ativação reduzida do diafragma em relação ao máximo. Chuang et al 2017 observou em pacientes com DPOC estágio II a IV um ganho expressivo, na PImáx, e na diminuição da dispneia durante exercício e melhora no resultado do TC6M.
De acordo com Pedro Caruso et al a Pressão Inspiratória Máxima (PImáx) é o índice de força da musculatura inspiratória e é o método mais usado para mensurar a maior pressão gerada durante a inspiração com oclusão da via aérea ou não. Avalia-se através da manovacuometria, que pode ser digital ou analógico. Encontramos frequentemente em indivíduos acometidos pela DPOC esta força reduzida, o que resulta em uma ventilação inadequada que leva a dispneia e/ou outros desfechos.
Em 2019 Charussin et al analisou 219 indivíduos com DPOC para documentar os efeitos do TMI nessa população e após 12 semanas de intervenção foi observado que, no GTMI a PImáx aumentou de 47cmH2O para 84cmH2O.
Em uma meta análise feita por Gosselink et al de 32 ensaios clínicos randomizados, demonstra que o aumento da PImáx dos pacientes para 13cmH2O após o treinamento esteve associado a uma melhora clínica. Beumont et al 2015 aponta que, para pacientes com a PImáx acima de 60% não há ganhos consideráveis, apesar de apontar melhora da dispneia durante exercícios. Beumont et al 2018 aborda em outro trabalho uma perspectiva diferente, apontando que talvez o TMI não seja tão eficaz sozinho no tratamento da dispneia em indivíduos com DPOC.
É possível observar em indivíduos com DPOC, a perda substancial de massa muscular em membros superiores e inferiores, o que leva a redução da aptidão física, fadiga durante exercícios, redução e dificuldades na realização de atividades diárias. (Global Initiative for Chronic Lung Disease GOLD., 2022). Em alguns casos o agravo causado pela doença pode levar a diminuição da participação social, que pode evoluir para problemas ainda mais profundos, como a depressão. Chuang et al, correlacionou o aumento de 47,8 metros no TC6M, ao protocolo feito durante 8 semanas com o TMI. O que contribui diretamente na funcionalidade, participação social e qualidade de vida.
O ensaio clínico randomizado de Arnedillo et al. com 16 participantes com idade maior ou igual a 65 anos, sem definição de gênero dos participantes, apontou um aumento da força muscular inspiratória após oito semanas de treinamento. Entretanto, o grupo que não recebeu a intervenção não apresentou nenhuma alteração nessa variável, o que permite inferir que o TMI de fato aumenta a força dos músculos inspiratórios, tendo como consequente a melhora clínica.
Apesar dos importantes achados nessa revisão sistemática, em relação ao TMI e a seus resultados da PImáx em indivíduos com DPOC. Se faz necessário destacar algumas fragilidades do presente estudo, como: tamanho da amostra dos estudos e quantidade de estudos disponíveis para o tema. Também é um fator limitante o grau da DPOC, os estudos abordam apenas os graus II a IV, impossibilitando a extrapolação dos dados para os outros níveis da doença.
Conclusão
Após uma análise da literatura disponível sobre o tema, conclui-se que o Treinamento Muscular Inspiratório demonstra eficácia não apenas no incremento da Pressão Inspiratória Máxima, mas também na redução da dispneia. Além disso, como desfecho dinâmico, observa-se uma melhoria significativa na realização das Atividades de Vida Diária (AVD’s). Embora sejam necessários mais estudos para validar com maior rigor a eficácia do TMI na atenuação da dispneia, é imperativo exercer cautela ao desconsiderar os benefícios potenciais do TMI nesse aspecto. As evidências atuais posicionam o TMI como uma ferramenta de grande relevância no manejo da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), sobretudo quando o foco terapêutico é o aprimoramento da pressão inspiratória máxima. Diante disso, a incorporação do TMI nos protocolos de reabilitação pulmonar revela-se indispensável para a otimização da prática clínica, proporcionando uma abordagem mais eficaz e precisa no tratamento dos pacientes. Sobretudo deixamos o apelo para que mais estudos nesse sentido sejam produzidos, para o aumento do nosso lastro de evidências.
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