AGROECOLOGIA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA AMAPAENSE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411081921


Ester Chaves de Souza1
Orientadora: Patrícia Helena Turola Takamatsu2


RESUMO

A Amazônia, por ser um dos ecossistemas mais ricos do planeta, enfrenta desafios significativos relacionados ao desenvolvimento sustentável e à preservação ambiental. O estudo analisa essas duas abordagens na Amazônia Amapaense e busca compreender como práticas de agroecologia e de desenvolvimento sustentável podem ser absorvidas sem comprometer a integridade ambiental. A pesquisa teve por base a revisão bibliográfica de teóricos que integram as abordagens estudadas. Constatou-se que, é possível avançar em direção a um modelo de desenvolvimento que respeite os limites da natureza, mas isso requer um comprometimento genuíno das partes interessadas, investimentos em educação ambiental e uma governança participativa que inclua as vozes das comunidades locais. 

Palavras-chave: Agroecologia; Amazônia Amapaense; Conservação ambiental; Desenvolvimento sustentável.

INTRODUÇÃO

A Amazônia Amapaense é uma região de grandiosa relevância ecológica, social e econômica. O repto em requerer o desenvolvimento sustentável sem que haja comprometimento da preservação ambiental é primordial para a discussão sobre o futuro da região. A crescente pressão sobre os sistemas agrícolas devido à urbanização, mudança climática e degradação ambiental requer novas abordagens que respeitem a biodiversidade e garantam a segurança alimentar. A agroecologia surge como uma alternativa viável, integrando conhecimentos tradicionais e científicos para promover um sistema agrícola mais resiliente. 

A escolha do tema se justifica pela necessidade urgente de encontrar alternativas sustentáveis para a agricultura na Amazônia, uma vez que a região é vulnerável a práticas agrícolas convencionais que promovem desmatamento e degradação. A agroecologia não só promove a conservação ambiental, mas também é uma ferramenta para fortalecer a segurança alimentar, a justiça social e a valorização das culturas locais. Assim, estudar a agroecologia no Amapá é fundamental para contribuir com estratégias que visem um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.

Esta pesquisa investiga a relação entre a agroecologia e o desenvolvimento sustentável na região, buscando entender como as práticas agroecológicas podem contribuir para um futuro mais sustentável.

Este trabalho tem como objetivo principal: analisar a contribuição da agroecologia para o desenvolvimento sustentável na Amazônia Amapaense. E como objetivos específicos: contextualizar a Amazônia Amapaense nos seus aspectos geográficos, históricos e culturais no desenvolvimento da Região com vistas à agroecologia; entender o conceito de agroecologia e desenvolvimento sustentável na interação do homem com a natureza e os desafios da preservação ambiental e as principais ameaças à biodiversidade.

Face à natureza da pesquisa, optou-se pelo estudo teórico-bibliográfico, que segundo Marconi e Lakatos (2015, p. 35) “[…] é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. A investigação orientou-se no paradigma qualitativo que para Minayo (2019, p. 7) “se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações […] que não podem ser reduzidos às operacionalizações de variáveis”.    

O artigo possui a seguinte estrutura: no primeiro tópico contextualizamos a Amazônia Amapaense, e, ressaltamos sua relevância geográfica, histórica e cultural na abordagem do tema; o segundo tópico apresenta conceitos relevantes da área da agroecologia, preservação ambiental, conservação ambiental e desenvolvimento sustentável e a relação direta do ser humano com a natureza que o cerca.

1. AMAZÔNIA AMAPAENSE E OS ENTRELACES: geográfico, histórico e cultural.

A Amazônia Amapaense, localizada no estado do Amapá, é uma região rica em biodiversidade e cultura. Faz parte da maior floresta tropical do mundo, e abriga uma diversidade impressionante de espécies vegetais e animais. A Amazônia Amapaense é caracterizada por sua vasta cobertura vegetal, rios, igarapés e áreas de várzea. Os rios desempenham um papel categórico na ecologia da região, influenciando o clima e a vida local. A sua população é composta por várias comunidades, incluindo povos indígenas, remanescentes de quilombolas e ribeirinhos, e, tem profunda relação com a terra e seus recursos. Sua cultura reflete a diversidade étnica das tradições, danças, festivais e culinária.

Assim sendo, no campo antropológico, a cultura se constrói a partir das necessidades do homem, que cria instrumentos para manter sua sobrevivência na natureza. Dessa forma, a cultura é capaz de manter-se viva nas identidades e nas manifestações do dia a dia ressignificando a própria existência do homem. Neste caso, a cultura do homem amazônico. João Paes Loureiro ressalta:

Uma cultura de profunda relação com a natureza, que perpetua, fortalece e enriquece poeticamente o imaginário de indivíduos isolados e dispersos ao longo do rio […]. Nesse contexto, ou seja, no contexto de discórdia em torno do ordenamento urbano, o homem amazônico, o caboclo, busca desvendar os segredos de seu mundo, apoiando-se principalmente em mitos e estéticas (LOUREIRO, 1995, p. 32).

Na concepção do autor, a cultura amazônica é:

Signo de uma natureza tida como única, original e irrepetível, em contraposição com uma época de reprodução da natureza […] é necessário compreender-se que algumas formas artísticas da cultura amazônica, mesmo originárias de fontes perdidas na memória coletiva, assumiram características de uma arte regional, de arte popular, capazes de manterem suas significações mesmo transferidas para outros contextos socioculturais (LOUREIRO, 1995, p. 62).

Loureiro (1995) aponta a cultura com a abrangência das diversidades nas suas manifestações, sejam indígenas, ribeirinhas e quilombolas caboclas. Todas essas diversas culturas encontram um ponto em comum com significados na sua própria existência e relação com a natureza. A partir dessa relação que os aspectos geográficos, históricos e culturais se encontram e se mantêm vivos intrinsecamente ligados, enriquecendo a todos que moram na região.

Assim sendo, a cultura amazônica se mostra como uma arte que tem raízes na sua história, nas tradições e que carrega em sua essência a resiliência de um povo, em seus cenários únicos, e seu mais profundo relacionamento com a natureza.

Sendo a Amazônia, esse bioma com uma “heterogeneidade Ambiental, é constituída por um conjunto de ecossistemas que vão das florestas aos não-florestais, tecendo complexas e ricas teias de biodiversidade” (CORRÊA; HAGE, 2011, p. 4). O homem amazônico está inserido nessa heterogeneidade e biodiversidade influenciando diretamente nas questões ambientais, colaborando para aspectos de responsabilidade socioambiental com exploração de madeira, garimpo ilegal, mineradoras, grilagem de terras e o próprio capital. 

No estado do Amapá, os aspectos históricos e culturais não estão dissociados do restante da Região Norte. A manifestação da religiosidade/espiritualidade, das danças, da comida e bebida são linguagens de representação que complementam os saberes formais, desse homem que luta para evidenciar seus valores. Os povos da Amazônia Amapaense desempenham papel primordial no desenvolvimento da Região, preservação e na conservação ambiental, na direção de um desenvolvimento sustentável. 

Os sujeitos amazônicos edificam suas identidades sociais e culturais na variedade dos seus ambientes e das suas experiências que moldam os saberes locais na capacidade de observar a natureza com suas múltiplas facetas e esforçar-se para compreender o diverso, em uma dinâmica de disseminação cultural.

Observando toda essa dinâmica, a Amazônia é, do ponto de vista do desenvolvimento sustentável, uma região, segundo Lima et al (2020), que influencia diretamente no modo de vida daqueles que a habitam.

2. AGROECOLOGIA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUA RELAÇÃO COM A AMAZÔNIA AMAPAENSE

A Amazônia, reconhecida como um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo, enfrenta desafios significativos relacionados à degradação ambiental, mudanças climáticas e pressões econômicas. O Amapá, com sua vasta extensão de florestas e rios, é um microcosmo desses desafios, mas também representa uma oportunidade para práticas agrícolas sustentáveis. A agroecologia surge como uma alternativa viável, promovendo a produção de alimentos de maneira ecologicamente responsável e socialmente justa. 

Segundo Gliessman (2014) a agroecologia emerge como uma abordagem holística que busca integrar práticas agrícolas com princípios ecológicos e sociais. Este modelo propõe uma agricultura sustentável, que respeite os limites dos ecossistemas e promova a justiça social, contribuindo para a segurança alimentar e a conservação da biodiversidade. 

A agroecologia é definida por diversos autores, como Altieri (2004), que a descreve como uma ciência que estuda as interações entre os componentes ecológicos, sociais e econômicos nas práticas agrícolas. A abordagem agroecológica enfatiza o uso de conhecimentos locais, a diversidade biológica e a minimização do uso de insumos químicos (WANDERLEY, 2009).

No contexto da Amazônia Amapaense, a agroecologia parte da vivência das práticas orientadas pelo viés do desenvolvimento rural, no qual se busca a permanência das famílias no campo e a valorização de seus saberes. Desse modo, os sujeitos amazônidas tornam-se produtores na obtenção de um retorno econômico para o sustento de suas famílias. 

Nessa direção Duarte (2009) traz a seguinte reflexão:

Para produção de agroecossistemas sustentáveis, a agroecologia, como ciência e prática, utiliza princípios da agricultura tradicional camponesa e conhecimentos e métodos ecológicos modernos. A agroecologia entra, neste sentido, para fortalecer o desenvolvimento rural, fundamentando-se na perspectiva de transformação da sociedade para mudar as relações de produção no campo (DUARTE, 2009, p. 104).

Nota-se que há uma intrínseca relação da questão técnica dos agricultores familiares com a proposição política, visto que toda a operacionalização vai além da logística de produção e de força no campo. Sévilla Gúzman (2000, p. 58) traz um conceito de amplitude no qual “os agricultores, baseando-se em suas experiências, seus conhecimentos locais sobre as culturas […] orientam sua ação política e suas práticas produtivas de forma mais autônoma e sustentável”.

Torna-se essencial compreender a possibilidade dessas práticas oportunizar aos agricultores a comercialização de seus produtos no ambiente urbano em uma relação de consumo. As feiras locais são espaços dessa comercialização, geralmente, fomentadas por governos municipais e estaduais conferindo aos agricultores lugar de fala, de autonomia e de troca de experiências.

Meireles (2004) apresenta uma proposta de comercialização, uma vez que atravessadores podem interferir nessa dinâmica, encarecendo o produto e tirando o acesso do espaço democrático.

Democratizar, popularizar e massificar o consumo de produtos ecológicos;
Encurtar a distância entre produtores e consumidores, estimulando relações solidárias entre eles;
Valorizar os serviços socioambientais gerados;
Fazer com que os benefícios da comercialização sejam compartilhados entre todos os envolvidos;
Promover a cooperação, a transparência e a complementaridade entre os agentes do processo de comercialização;
Possibilitar uma crescente inclusão de agricultores e consumidores no mercado (MEIRELES, 2004, p. 52)  

A sustentabilidade, por sua vez, é um conceito que se refere à capacidade de um sistema de se manter ao longo do tempo, equilibrando as dimensões econômica, social e ambiental (WEID, 2010). A integração entre agroecologia e sustentabilidade é observada em práticas que promovem a resiliência dos sistemas agrícolas e o fortalecimento das comunidades rurais.

A vida peculiar do homem amazônida se entrelaça com sua cultura e maneira tradicional na valorização do conhecimento e das condições locais. Nesse sentido, a sustentabilidade na região está muito ligada às práticas culturais: conhecimento tradicional e iniciativas de manejo sustentável. Na perspectiva de Corrêa e Hage (2011) às práticas de manejo são necessárias para a conservação da biodiversidade, da economia local e da resiliência comunitária, no fortalecimento da identidade cultural e sustentabilidade proporcionando maior resistência às mudanças climáticas e pressões externas, na exploração dos recursos naturais.

Observa-se o quanto é relevante pensar em todos esses paradigmas que estão envoltos na Amazônia Amapaense. A agroecologia aliada ao desenvolvimento sustentável na contemporaneidade parte do homem para o homem. E, na concepção de Altieri (2004) as práticas agrícolas sustentáveis necessitam de direcionamento para uma educação ambiental que faça valer os dispositivos jurídicos e as iniciativas do homem da Amazônia Amapaense com seus conhecimentos da floresta.

Lousada et al (2020, p. 96) aborda que:

A educação amazônica deve considerar o pluralismo cultural que molda muitas identidades. Nesse espaço sociocultural, a existência da educação do campo, da educação indígena, da educação quilombola e da educação urbana pode ser considerada como eixo da educação escolar na Amazônia. Esta região é composta por uma diversidade sociocultural e inclui muitos grupos étnicos identificados pelas sociedades vizinhas como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e caboclos (LOUSADA, et al, 2020, p. 23). 

O embate sobre a educação ambiental na Amazônia Amapaense faz referência a diversidade de vozes e perspectivas. A construção de uma abordagem eficaz requer considerar os contextos locais, a inclusão de saberes diversos e o enfrentamento dos desafios econômicos e sociais da região. Assim, a colaboração entre os mais diferentes setores da sociedade torna-se imprescindível para avançar na importante questão que o mundo inteiro discute: a sustentabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A agroecologia se apresenta como uma alternativa viável e necessária para o desenvolvimento sustentável na Amazônia Amapaense. A promoção de políticas públicas que incentivem práticas agroecológicas é essencial para enfrentar os desafios contemporâneos da região. A pesquisa destaca a importância de valorizar os conhecimentos locais e promover a inclusão social, garantindo que a transição para a agroecologia beneficie a todos. Recomenda-se a realização de mais estudos e iniciativas que integrem a agroecologia às políticas de desenvolvimento regional.

Os achados sugerem que a agroecologia não é apenas uma prática agrícola, mas uma estratégia de desenvolvimento que pode abordar questões sociais e ambientais de maneira integrada. No entanto, os desafios incluem a falta de apoio institucional e a necessidade de educação continuada sobre práticas sustentáveis.

A agroecologia é uma abordagem essencial para promover o desenvolvimento sustentável, oferecendo soluções práticas para os desafios contemporâneos da agricultura. Seus benefícios se estendem além do meio ambiente, impactando positivamente as comunidades e a economia. Para garantir a continuidade desse movimento, é fundamental investir em pesquisa, educação e políticas públicas que incentivem práticas agroecológicas.

REFERÊNCIAS

ALTIERI, Miguel. Agroecologia: A dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 5ª edição. Editora: UFRGS, 2004.

CORRÊA, S.; HAGE, S. Amazônia: a urgência e necessidade da construção de políticas e práticas educacionais inter/multiculturais. Revista Nera, Presidente Prudente, n. 8, jan/jun. 2011.

DUARTE, M. S. Agroecologia e desenvolvimento sustentável: olhares. São Paulo: Atlas, 2009. 

GLIESSMAN, Stephen R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre: UFRGS, 2014.

LIMA, T. F. et al. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: avanços, lacunas e desafios. Revista Debates em Educação. v. 12, n. 25, 2020.

LOUREIRO, J. de J. P. Cultura amazônica: Uma poética do imaginário. Belém: Cejup, 1995.

LOUZADA, Eliane et al. Leitura e Produção Técnicos e Acadêmicos. São Paulo: Loyola, 2020.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. 12ª ed. São Paulo: Atlas, 2015.

MEIRELES, L. Soberania alimentar, agroecologia e mercados locais. Revista Agriculturas: Experiências em Agroecologia, v. 1, p. 14, 2004.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2019. 

SEVILLA GÚZMAN, E. Ética ambiental e Agroecologia: elementos para uma estratégia de sustentabilidade. UFRJ, 2000.

WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. O mundo rural como um espaço de vida: reflexões sobre a propriedade da terra, agricultura familiar e ruralidade. UFRGS Editora, 2009.

WEID, Jean Marc von der. Agricultura Familiar: sustentando o insustentável? Revistas Agriculturas: Experiência em Agroecologia. Leisa Brasi, v. 7, n. 2, p. 4-7, jul, 2010.


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